6. Dá-nos um Rei! (I Samuel 8:1-22)
Introdução
Ao ler o capítulo 8 de I Samuel, lembro-me de uma divertida série de acontecimentos na vida de Jacó, descrita em Gênesis 30 e 31. Jacó foge para Padã-Harã, em parte para procurar uma esposa entre seus parentes, e em parte para fugir da raiva de seu irmão, Esaú. Ele não tem dinheiro para pagar o dote por uma esposa, por isso, acaba trabalhando para Labão, seu sogro, durante 14 anos, em pagamento do dote de suas duas esposas, Lia e Raquel. Depois de cumprir 14 anos de serviço, eles negociam um novo “acordo”, estipulando um salário pelos próximos serviços de Jacó. Eles combinam que este salário será composto de todas as cabras listradas, malhadas e salpicadas, e de todos os cordeiros negros. O acordo terá início com um rebanho de tais animais retirado do gado de Labão.
Jacó não se contenta com os poucos exemplares que nascerão dessas cabras ou cordeiros; assim, ele inicia uma manobra que tornará suas chances mais favoráveis. O processo todo se baseia na premissa de que a cor dos descendentes do rebanho de Labão possa ser influenciada pelo ambiente onde forem concebidos e criados. Assim, ele se ocupa descascando varas. Removendo a casca em linhas abertas, a brancura das varas é exposta. As varas descascadas são depois colocadas nos lugares onde os rebanhos pastam, bebem e procriam.
Parece realmente funcionar! Os rebanhos de Jacó estão crescendo, enquanto os de Labão não. Jacó trabalha cada vez mais em seu projeto, sempre com sucesso. Ele parece sinceramente crer que Deus esteja abençoando seus esforços “de descascar varas”. Labão e seus filhos percebem, e não gostam nada disso. Jacó ouve os comentários e vê a raiva dos filhos de Labão. Deus lhe diz para deixar Padã-Harã e voltar à terra de seus pais. Ao tentar convencer suas esposas de que devem deixar o lugar, Jacó lhes conta o sonho que teve. No sonho, ele vê um rebanho de cabras na época do acasalamento e percebe que os machos são listrados, malhados e salpicados. O anjo de Deus chama sua atenção, dizendo-lhe que foi Ele quem o fez ser bem sucedido com seus rebanhos.
Fico me perguntando quanto tempo leva para isto ficar claro para Jacó. A prosperidade de seus rebanhos nada tem a ver com as varas que ele descascou e cuidadosamente colocou para que os animais concebessem e procriassem. As crias dos rebanhos de Labão são listradas, malhadas e salpicadas porque Deus fez com que os machos listrados, malhados e salpicados acasalassem. A prosperidade de Jacó não é fruto de suas mãos; na verdade, todo o seu descascamento de varas foi pura perda de tempo. Jacó prospera porque Deus o faz prosperar, e Ele o faz induzindo os machos listrados, malhados e salpicados a acasalar mais do que os outros.
Não é de admirar que Deus mude o nome de Jacó para Israel. Este homem, Jacó, está prestes a se tornar um dos pais da nação de Israel. Mais do que isto, Israel, xará de Jacó, demonstrará ser exatamente como seu antepassado. Eles também tentarão experimentar diversas formas de “descascamento de varas”, na tentativa de manipular as bênçãos de Deus e ser bem sucedidos.
Nos primeiros capítulos de I Samuel, os israelitas acham que podem empregar a Arca de Deus como “descascador de varas”. Depois de serem derrotados pelos filisteus, eles tomam a Arca e a levam junto com eles para a batalha, certos de que ela lhes dará a vitória. Como sabemos isto não acontece. Agora, no capítulo 8, não é na Arca, mas num rei que os israelitas depositarão sua confiança e esperança. Seu desejo por um rei nada mais é do que outro capítulo de uma longa história de “descascamento de varas”. Vamos prestar atenção às mudanças importantes que este capítulo traz à história de Israel, ansiosos para entender as lições que eles demoraram tanto para aprender.
Observações Importantes
Antes de iniciarmos nossa exposição de I Samuel 8, algumas observações muito importantes devem ser feitas, tendo em vista que afetam consideravelmente a maneira de entendermos e aplicarmos nosso texto.
Primeiro, Deus Se faz rei de Israel no Êxodo. Quando Deus liberta os israelitas do cativeiro egípcio e lhes dá a Sua lei, Ele estabelece a Si mesmo como rei de Israel. A disputa com faraó, na realidade, é entre um Rei e outro. Só depois de atravessarem o Mar Vermelho é que os israelitas percebem o fato, expressando-o num hino de louvor:
“Sobre eles cai espanto e pavor; pela grandeza do teu braço, emudecem como pedra; até que passe o teu povo, ó SENHOR, até que passe o povo que adquiriste. Tu o introduzirás e o plantarás no monte da tua herança, no lugar que aparelhaste, ó SENHOR, para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram. O SENHOR reinará por todo o sempre.” (Êxodo 15:16-18, ênfase minha)
Deus é o Único que promete “ir adiante” (e depois) de Seu povo, como faria um rei (ver Êxodo 23:23; Isaías 45:2, 52:12). Estudiosos do Velho Testamento observaram que a outorga da Lei, firmando o pacto entre Deus e Israel de Êxodo a Deuteronômio, segue a mesma forma dos tratados ou pactos feitos entre os reis daquela época e seus súditos. O povo daquele tempo reconheceria imediatamente a implicação - que Deus estava firmando as bases da aliança para o Seu governo como rei de Israel. Isto é claramente indicado em outros lugares.
“Esta é a bênção que Moisés, homem de Deus, deu aos filhos de Israel, antes da sua morte. Disse, pois: O SENHOR veio do Sinai e lhes alvoreceu de Seir, resplandeceu desde o monte Parã; e veio das miríades de santos; à sua direita, havia para eles o fogo da lei. Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras. Moisés nos prescreveu a lei por herança da congregação de Jacó. E o SENHOR se tornou rei ao seu povo amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel.” (Deuteronômio 33:1-5, ênfase minha; Êxodo 19:3-6; Levítico 20:26; 25:23)
No Salmo 74, Asafe considera os feitos de Deus durante o êxodo como evidências de que Ele é o Rei de Israel:
“Ora, Deus, meu Rei, é desde a antiguidade; ele é quem opera feitos salvadores no meio da terra. Tu, com o teu poder, dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a cabeça dos monstros marinhos. Tu espedaçaste as cabeças do crocodilo e o deste por alimento às alimárias do deserto. Tu abriste fontes e ribeiros; secaste rios caudalosos.” (Salmo 74:12-15, ver também Salmo 47:2-3)
Segundo, depois de libertar os israelitas do cativeiro egípcio, Deus os prepara para o fato de que terão um rei. Em Gênesis 49:8-12, fica claro que um descendente de Judá governará sobre Israel. Na profecia de Balaão em Números 24:15-19, uma predição semelhante fala de um dos descendentes de Jacó governando e derrotando os inimigos do povo de Deus. Em Deuteronômio 17:14-20 Deus indica que haverá uma época em que Israel pedirá um rei. Mais tarde, mais coisas serão ditas a respeito desta profecia, no entanto, deve ser salientado que aqui, em I Samuel 8, é seu cumprimento literal.
Terceiro, esta é a primeira das três vezes em I Samuel que Deus fala aos israelitas por meio de Samuel sobre o perigo de exigirem um rei (ver também 10:17-19; 12:6-18). O capítulo 8 é a primeira narrativa da exigência de um rei feita por Israel, das respostas de Samuel e de Deus, e da advertência de Samuel ao povo. Contudo, vamos nos lembrar de que este assunto será retomado nos capítulos 10 e 12. Para entendermos I Samuel 8, precisamos estudá-lo à luz dos capítulos 10 e 12.
Quarto, a ênfase do capítulo 8 não está no perigo da rejeição de Israel a Deus e sua idolatria (embora isto seja mostrado); a ênfase recai sobre os altos custos de um rei (versos 10-18). O “princípio da proporcionalidade” é sempre uma dica importante para o significado e interpretação de um texto. Em nosso capítulo, sabemos que a exigência de Israel por um rei é idolatria, idolatria do mesmo tipo que Israel vem praticando desde o êxodo (8:7-9). Sabemos que quando Samuel fala ao povo, ele lhes diz “todas as palavras de Deus” (verso 10), mas o que está escrito e preservado para nós é o conteúdo dos versos 10-18, que é uma descrição detalhada dos custos de um reino. O custo de um reino é a ênfase das palavras de Samuel neste capítulo.
Quinto, a exigência por um rei não vem apenas dos anciãos de Israel (verso 4), mas de todo o povo (ver versos 7, 10, 19, 21-22). À primeira vista, parece que apenas os anciãos estejam exigindo um rei. À medida que o capítulo se desenrola, fica bem claro que todo o povo de Israel está por trás do movimento. Para mim, isto indica que Israel está funcionando mais ou menos como uma democracia. Seus anciãos são mais representantes do que líderes do povo.
Sexto, repare que, conforme passamos do capítulo 7 para o capítulo 8, passamos do início do “governo” de Samuel como juiz no capítulo 7 para um aparente “final” de seu governo no capítulo 8. Grande parte de seu ministério é ignorada em I Samuel. Talvez seja porque o autor quer que vejamos mais claramente o contraste entre a maneira como seu “governo” começou e a maneira como o povo quer que termine. Samuel, na verdade, é o último de uma geração em extinção - os juízes. No entanto, vamos relembrar o que o autor do livro de Juízes diz no início de sua obra:
“Suscitou o SENHOR juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam. Contudo, não obedeceram aos seus juízes; antes, se prostituíram após outros deuses e os adoraram. Depressa se desviaram do caminho por onde andaram seus pais na obediência dos mandamentos do SENHOR; e não fizeram como eles. Quando o SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam. Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores do que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorando-os eles; nada deixavam das suas obras, nem da obstinação dos seus caminhos.” (Juízes 2:16-19, ênfase minha)
O que me fascina é que “nos bons tempos” dos juízes, o povo de Deus seguia o Senhor durante toda a vida do juiz. Só depois que o juiz morresse é que Israel se afastava de Deus e se corrompia. Mas no caso de Samuel, ele ainda não está morto. Simplesmente está velho e parcialmente aposentado. E eles já estão ansiosos para se verem livres dele. É impressionante.
Sétimo, de forma alguma nosso texto sugere que Samuel seja outro Eli, um líder fraco e patético. Em toda a história de Israel não houve nenhum juiz mais importante do que Samuel. Com freqüência, ele fala da parte de Deus ao povo. Não há registro de nenhuma profecia de Eli. Na verdade, ele recebe suas revelações em segunda-mão (ver 2:27-36; 3:1-18). Samuel é um grande homem de oração (ver 7:5; 8:6, 21; 15:11). Não lemos orações de Eli. Samuel é um líder decisivo, que age quando Saul não o faz (I Samuel 15:32-33). Eli não poderia ser chamado de decisivo, e alguns talvez nem mesmo o chamem de líder. Samuel é de grande valia na derrota militar dos filisteus (7:13), mas Eli é associado a um período de derrota militar (compare 4:9 e 7:13-14). Samuel é um homem de grande integridade pessoal (ver 12:1-5), enquanto o mesmo não pode ser dito de Eli, que parece ter engordado com a carne mal-adquirida de seus filhos (ver 2:29). A morte de Samuel é ocasião de luto nacional (25:1; 28:3), mas não é assim com a morte de Eli (4:12-22). Vamos deixar que as próprias Escrituras façam um resumo da vida de Samuel:
“Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias do profeta Samuel; e nenhum dos reis de Israel celebrou tal Páscoa, como a que celebrou Josias com os sacerdotes e levitas, e todo o Judá e Israel, que se acharam ali, e os habitantes de Jerusalém.” (II Crônicos 35:18)
“Moisés e Arão, entre os seus sacerdotes, e, Samuel, entre os que lhe invocam o nome, clamavam ao SENHOR, e ele os ouvia.” (Salmo 99:6)
“Disse-me, porém, o SENHOR: Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclinaria para este povo; lança-os de diante de mim, e saiam.” (Jeremias 15:1)
“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas,” (Hebreus 11:32)
O fato puro e simples é que Samuel é o maior juiz de todos os tempos. Durante o período de seu serviço, Israel alcança um de seus “pontos espirituais mais altos”.
Oitavo, os motivos dos israelitas quererem um rei nos versos 1-4 não nos contam toda a história, que é revelada conforme os acontecimentos dos capítulos seguintes vão sendo descritos. Não é somente a idade de Samuel e a corrupção de seus filhos que fazem os israelitas exigirem um rei. De acordo com o capítulo 12, ficamos sabendo que a ameaça militar feita por Naás, o rei de Amom, talvez seja a razão principal para eles desejarem um rei. A Arca de Deus está fora de serviço, Samuel em breve também estará, e os israelitas querem um rei em quem possam depositar sua confiança.
Dá-nos um Rei!
(8:1-5)
“Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre Israel. O primogênito chamava-se Joel, e o segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito. Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações.”
A maior parte da vida e do ministério de Samuel é ignorada até o capítulo 8, onde o encontramos já avançado em idade, talvez ansiando por sua aposentadoria. Seus dois filhos são constituídos por ele como juízes “sobre Israel”, estabelecidos na cidade fronteira de Berseba. Não creio que Samuel tenha nomeado seus filhos como seus substitutos, nem que ele o faça. Samuel não é apenas sacerdote e juiz, ele é também profeta. Não temos nenhuma indicação de que Deus, por isso, tenha capacitado seus filhos; assim, como um ou ambos poderia ocupar o lugar de seu pai? Como os outros anciãos e líderes da nação, eles podem ser juízes. No entanto, a esfera de seu ministério e autoridade é limitada e, quando fica patente que eles são corruptos, a inferência talvez seja de que Samuel resolva a questão. Nada mais é dito sobre sua corrupção ou ministério. No capítulo 12, Samuel fala de seus filhos como estando junto ao povo (verso 2). Ele afirma não ter cometido nenhuma injustiça e não ser culpado de corrupção, um fato que o povo confirma. Como ele poderia falar deste modo se não tivesse tratado da corrupção de seus próprios filhos? Seus dois filhos não são piedosos como o pai; eles não “andam nos seus caminhos”.
No entanto, as coisas não são como parecem ou como os anciãos as apresentam. Eles parecem sugerir que Samuel esteja “praticamente morto”, que sua liderança esteja no fim. Não é bem isto que nosso texto mostra. Ele ainda tem muitos anos de ministério pela frente. Creio que podemos dizer com segurança que os anos em que Samuel conduz a nação depois do capítulo 8 sejam mais importantes do que anos anteriores (os anos que o autor preferiu não incluir nesta narrativa). Além do mais, a ameaça que seus filhos representam é exagerada. Seus filhos não são seus substitutos, e eles não têm um papel importante a desempenhar no futuro da nação. Não creio que os anciãos ou o povo estejam tão preocupados com os líderes que vêem diante deles quanto com os líderes desconhecidos que não podem ver. Quem irá conduzir o povo depois de Samuel? Eles querem um homem em seu lugar. Por isso, eles exigem - não pedem - um rei como o de outras nações.
De qualquer forma, a solução proposta pelos anciãos é absurda. Pense na loucura de sua lógica, que é mais ou menos esta:
“Samuel, você está ficando velho e seus filhos (que, com certeza, ficarão em seu lugar) são corruptos. Não podemos ter um futuro brilhante se nossos líderes forem corruptos. Vamos estabelecer uma ordem inteiramente nova e ter um rei, como as outras nações. Deixe que ele nos julgue. E que haja uma dinastia, a fim de que seus filhos governem em seu lugar após sua morte.”
O papel de Samuel como juiz não é uma dinastia. Deus levantou os juízes; Ele não criou uma dinastia de juízes, cujos filhos os substituam. Se os filhos de Samuel são corruptos, eles podem ser afastados, como de fato o são. No entanto, propor uma dinastia é pedir um sistema onde os filhos do rei governem em seu lugar, quer sejam ímpios ou justos. A emenda é pior do que o soneto!
Parece que os anciãos e a nação não estejam buscando uma mudança radical, mas apenas recomendando uma limpeza do sistema atual, um “ajuste” administrativo. Eles querem justiça. Querem um juiz que decida suas questões legais. Querem simplesmente um rei como juiz em vez de um juiz como Samuel. Parece bom, mas, de forma alguma, é uma simples mudança. Eles querem uma reforma total do sistema de justiça de Israel. Querem se livrar do sistema de juízes e ser governados e julgados da mesma maneira que as nações ao seu redor. Não querem ser uma nação distinta, separada das outras nações. Eles não estão simplesmente tentando demitir Samuel como seu juiz; estão procurando demitir Deus como seu rei. Deus deixa isto bem claro nos versos seguintes.
As Respostas de Samuel e de Deus
(8:6-9)
“Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos governe. Então, Samuel orou ao SENHOR. Disse o SENHOR a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele. Segundo todas as obras que fez desde o dia em que o tirei do Egito até hoje, pois a mim me deixou, e a outros deuses serviu, assim também o faz a ti. Agora, pois, atende à sua voz, porém adverte-o solenemente e explica-lhe qual será o direito do rei que houver de reinar sobre ele.”
Samuel não fica nada satisfeito com a proposta dos anciãos. Embora seja verdade que eles estejam procurando substituí-lo, não creio que seu desagrado seja porque leve isto de forma pessoal e esteja na defensiva. Literalmente, o texto nos diz que isto é “mal à vista de Samuel”. Em termos bem simples, Samuel sabe que o pedido é errado e que é pecado.
Além do mais, sua resposta confirma seu caráter piedoso. Ele não explode, despejando raiva e indignação sobre os anciãos. Ele se achega a Deus em oração, como sempre faz. A resposta de Deus à oração de Samuel confirma sua avaliação da situação, com um novo ângulo. Samuel está sendo rejeitado pelo povo; há poucas dúvidas de que isto seja verdade. Como um homem piedoso, talvez ele se torture achando que seja devido a alguma falha de sua parte. Deus lhe diz que, no fim das contas, é Ele e não Samuel quem está sendo rejeitado. A rejeição de Deus por Israel certamente não é culpa de Deus; por que, então, Samuel deveria se torturar com sua própria rejeição? Se Samuel está sendo rejeitado pelas mesmas razões que Deus está, ele deveria, então, tomar isto como elogio.
Conforme observado anteriormente, Deus se faz Rei de Israel na época do êxodo. Agora, Deus relembra Samuel de que a rejeição atual de Israel não é algo novo, mas apenas outro episódio de uma série sucessiva que teve início no êxodo (verso 8). Esta rejeição de Deus por um rei “como o de outras nações” nada mais é do que idolatria. O que realmente eles querem é um rei que seja seu ”deus”, uma questão que será retomada com mais inteireza posteriormente. Após mostrar a origem do problema, Deus diz a Samuel para atender o povo e ceder à sua pressão (verso 9a.). Embora Samuel deva conceder ao povo o seu pedido, ele também deve lhes mostrar o “direito” do rei que “reinará sobre eles” (verso 9b).
O Costume (Custo) de um Rei
(8:10-18)
“Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei, e disse: Este será o direito do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará no serviço dos seus carros e como seus cavaleiros, para que corram adiante deles; e os porá uns por capitães de mil e capitães de cinqüenta; outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes; e outros para fabricarem suas armas de guerra e o aparelhamento de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará o melhor das vossas lavouras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus servidores. As vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus servidores. Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos. Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei que houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia.” (ênfases minhas)
As palavras registradas nos versos 10-18 não são a soma de tudo o que Samuel diz ao povo nesta ocasião. Elas são o que autor desejou enfatizar para nós, leitores. O verso 10 indica que Samuel “falou todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedira um rei”. Samuel, portanto, diz ao povo aquilo que Deus lhe diz nos versos 7-9, e talvez ainda outras palavras ditas por Deus e que não foram registradas no texto. Mas o autor quer que nos concentremos nas palavras dos versos 10-18. Elas parecem ser a essência do texto - ou, pelo menos, uma parte significativa da mensagem de Samuel aos israelitas que exigem um rei.
Nosso Senhor tinha muitos supostos “voluntários” que se ofereciam para ser Seus seguidores. A resposta de nosso Senhor a tais pessoas era um alerta. Ele os advertia a “pensarem nas conseqüências” (ver Lucas 9:57-62; 14:15-35). Samuel faz a mesma coisa em nosso texto: ele recomenda aos israelitas que “pensem nas conseqüências” de ter um rei. A essência das palavras de Samuel pode ser resumida numa única frase: “Ele tomará...”
Israel está exigindo um tipo de governo muito dispendioso. Samuel procura mostrar em detalhes o custo de um reino, e que é incrivelmente caro. Para que avaliemos os altos custos de se ter um rei, primeiro precisamos refrescar nossa memória quanto ao funcionamento das coisas no governo dos juízes. No livro de Juízes vemos que não há rei, nem palácio, nem exército permanente. Quando Israel é atacado, um exército voluntário é convocado. Este exército, em parte, é formado pelas famílias daqueles que vão à luta (ver I Samuel 17:17-22). Não há conselho “administrativo”, consultores, empregados e quadro de funcionários para dar suporte e facilitar o governo do rei. Em resumo, o sistema é informal, ad hoc, e muito barato. Com Deus como seu rei, o sistema funciona, conforme vemos no livro de Juízes e em I Samuel 7, por exemplo.
Em contraste com um sistema de “baixo orçamento” para governar a nação, o que os israelitas estão exigindo é caro demais. Ter um rei que vá adiante deles e os lidere na guerra é ter um exército permanente. Uma vez que Israel seja governado por um rei, a vida no campo jamais será a mesma. O rei empregará seus filhos no serviço militar para conduzir seus carros ou como cavaleiros, ou como infantaria. Alguns serão separados como oficiais. Um exército permanente também deve ter suprimentos. Os filhos dos israelitas serão usados para plantar e ceifar as colheitas e construir e manter o equipamento militar (sem mencionar todos os suprimentos não militares exigidos). Não serão somente os jovens que o rei empregará em seu serviço. As filhas dos israelitas, que antes se sentavam à mesa e serviam seus pais, agora servirão à mesa do rei. Elas serão perfumistas, cozinheiras e padeiras.
O alto custo de um rei inclui a perda dos filhos e filhas para o serviço do rei. Mas o preço é ainda maior. O rei consumirá uma enorme quantidade de alimentos, alimentos da melhor qualidade. Isto exigirá que ele tribute tudo o que é cultivado em Israel. O melhor de seus grãos irá para o rei, junto com o melhor de suas vinhas e lavouras. Boa parte das coisas que uma família rural israelita antes apreciava agora irá ser consumida pelos servos do rei. Os servos do rei precisam viver, e o povo também pagará por esta despesa. Um décimo de suas sementes e de suas videiras será dado aos servos do rei para plantarem em seus campos (ou na terra que o rei tomar do povo).
O rei precisará de empregados para servi-lo; portanto, tomará o que Israel tem de melhor a oferecer em matéria de servos e servas. Certamente ele precisará de gado, e jumentos para arar os campos, e tudo será suprido pelo povo. Em resumo, quando o rei for concedido ao povo, será para dominá-lo, e ele dominará. Esta gente que antes conhecia a liberdade, agora será escrava do rei. E quando, finalmente, perceberem o que fizeram a si mesmos, será tarde demais para mudar o curso da história. Um dia os israelitas clamarão a Deus por causa da opressão de seu próprio rei, mas Deus não ouvirá seu lamento, pois eles estão indo para o cativeiro com os olhos bem abertos.
Os Israelitas Conseguem o Que Querem
(8:19-22)
“Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: Não! Mas teremos um rei sobre nós. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós e fazer as nossas guerras. Ouvindo, pois, Samuel todas as palavras do povo, as repetiu perante o SENHOR. Então, o SENHOR disse a Samuel: Atende à sua voz e estabelece-lhe um rei. Samuel disse aos filhos de Israel: Volte cada um para sua cidade.”
A nação de Israel quer um rei; Samuel os adverte de que isto lhes trará um enorme sistema político com um preço exorbitante. Mas isto não interessa. O povo está determinado a ter seu rei. O povo (não só os anciãos) se recusa a dar ouvidos a Samuel ou às suas advertências. Eles insistem em ter seu rei, mas agora são mais honestos quanto ao que esperam dele. Eles querem um rei que os governe e que vá adiante deles na guerra. Na verdade, eles querem um rei que tome suas decisões e lute por eles.
Samuel ouve tudo o que o povo diz e vai a Deus repetir todas as suas palavras (verso 21). Esta afirmação é muito interessante. Não ficamos surpresos quando lemos que Samuel diz ao povo o que o Senhor lhe disse (verso 10). Mas, por que Samuel sente a necessidade de dizer a Deus tudo o que o povo lhe disse? Será que Deus não ouve o que o povo está dizendo? É claro que ouve. Por que precisamos orar, se Deus já conhece todas as nossas necessidades? (ver Mateus 6:32) Não é que Deus precise nos ouvir para ser informado; é que nós precisamos de Deus. Precisamos partilhar nossos fardos com Ele. Samuel diz a Deus tudo o que o povo diz, não porque Deus precise ser informado, mas porque Samuel precisa da intimidade com Deus.
Em resposta à oração de Samuel, Deus, uma vez mais, o instrui a dar ao povo o que eles querem. Por isso, sem saber quem será este rei, Samuel despacha os israelitas para suas casas até que Deus mostre a identidade de seu novo rei (verso 22).
Conclusão
Já enfatizei bastante o mal e a tolice de Israel exigir um rei. Algumas pessoas podem querer protestar, mencionando o texto de Deuteronômio 17. Deus não disse que seria certo Israel ter um rei? Se já havia sido profetizado que os israelitas exigiriam um rei, por que Deus, então, é tão severo quando o fazem? Vamos dar uma olhada no texto de Deuteronômio:
“Quando entrares na terra que te dá o SENHOR, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de mim, estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o SENHOR, teu Deus, escolher; homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim um dentre eles. Porém este não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos disse: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem multiplicará muito para si prata ou ouro. Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas sacerdotes. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir. Isto fará para que o seu coração não se eleve sobre os seus irmãos e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel.”
Este texto é uma profecia, e podemos ver que ela é rigorosamente cumprida quando os israelitas exigem um rei, exatamente como o de outras nações. O fato de alguma coisa ser profetizada não é prova de que aquilo que é predito seja bom ou justo. A traição de Judas foi predita, assim como a rejeição de Israel ao Messias. Isto não significa que Judas, ou os incrédulos israelitas, estivessem certos ao fazer o que fizeram. Significa apenas que Deus quer que conheçamos uma parte de Seu plano eterno.
Sugiro que, ainda que Deus prenuncie em Deuteronômio os acontecimentos descritos em I Samuel 8, há muito mais do que uma simples profecia ali. Se Deuteronômio 17:4 é uma profecia sobre a exigência de Israel por um rei, os outros versículos do capítulo são as instruções de Deus para evitar que este rei seja como o de outras nações. As instruções que Deus estabelece por meio de Moisés são o que torna Seu rei distinto das outras nações.
O rei deve ser israelita. Ele não deve ser escolhido por voto popular, mas divinamente designado e empossado. O rei de Deus não deve multiplicar para si cavalos ou esposas. Isto é o que os reis pagãos fazem, pois lhes dá poder político e militar. O rei de Deus não deve confiar em seus próprios recursos, em sua própria força, mas em Deus. Creio que seja por esta razão que a contagem das tropas israelitas por Davi seja algo tão ruim e que resulte num castigo tão severo (ver I Crônicas 21). Davi parece estar cheio de si e a contagem das tropas lhe dá sensação de poder. Por isso, Deus o trata, e ao povo, com tanta severidade. O rei não deve ter o desejo de acumular fortuna ou riquezas, pois isto também é poder. O rei deve confiar em Deus e obedecê-Lo e desafiar a nação de Israel a fazer o mesmo.
Davi é este tipo de rei quando enfrenta Golias, mas os anos de poder e prosperidade colocam sua vida à prova. Afinal, mesmo os melhores reis de Israel estão bem longe dos padrões estabelecidos por Deus em Deuteronômio 17. As falhas de Davi e Salomão nestas áreas são bastante óbvias. Enfim, só existe uma pessoa com todas estas qualificações, nosso Senhor Jesus Cristo. Ele foi rico, mas Se fez pobre por amor de nós. Ele não teve, nem empregou poderes terrenos para estabelecer Seu reino. Ele certamente não multiplicou poderes militares ou esposas. E é por isso que Cristo e somente Cristo pode ser o Rei de Deus, para reinar sobre a terra para todo o sempre.
“Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram.” (Apocalipse 5:11-14)
A principal lição que este texto nos ensina é aquilo que podemos chamar de “economia do pecado”. Se estou certo em minha avaliação, a ênfase principal do texto recai sobre o custo exorbitante de uma monarquia, sobretudo se comparado ao custo mínimo do governo dos juízes. Os israelitas estão errados em exigir um rei, pois o que eles realmente querem é substituir Deus por um ídolo humano. No entanto, deixando de lado os problemas bíblicos e morais associados à sua exigência, existe também um problema econômico muito claro. Em termos bem simples, ser governado por um rei não vale seu preço.
Recentemente, fui com minha esposa Jeanette a uma comemoração estadual em Des Moines, Iowa. Fomos com nossos amigos Brenda e Smith, que me lembrou de uma afirmação que fiz há alguns anos atrás em Six Flags (um parque de diversões perto de Dallas, Texas). Enquanto pensava na longa espera e no preço pago pelas entradas, observei: “Este passeio é exatamente como o pecado... o preço é alto e o passeio é curto!” É exatamente desse jeito que Samuel quer que os israelitas pensem a respeito de ter um rei. O preço vai ser muito alto.
Os israelitas não vêem desse modo, pois estão mais do que dispostos a pagar o preço detalhado por Samuel. Creio que possa entender por que. O preço da sujeição a seus inimigos é muito alto, como vemos em Juízes 6:
“Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o SENHOR; por isso, o SENHOR os entregou nas mãos dos midianitas por sete anos. Prevalecendo o domínio dos midianitas sobre Israel, fizeram estes para si, por causa dos midianitas, as covas que estão nos montes, e as cavernas, e as fortificações. Porque, cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como também os povos do Oriente, subiam contra ele. E contra ele se acampavam, destruindo os produtos da terra até à vizinhança de Gaza, e não deixavam em Israel sustento algum, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Pois subiam com os seus gados e tendas e vinham como gafanhotos, em tanta multidão, que não se podiam contar, nem a eles nem aos seus camelos; e entravam na terra para a destruir. Assim, Israel ficou muito debilitado com a presença dos midianitas; então, os filhos de Israel clamavam ao SENHOR.” (Juízes 6:1-6)
Para os israelitas, o preço que irão pagar por seu rei é considerado bem menor do que aquele que irão pagar pela sujeição a outras nações. O que eles não entendem é que Deus os protegerá sem custo algum se simplesmente se arrependerem de seus pecados, clamarem por libertação e O servirem de todo o coração. Receio que este seja o preço que eles consideram alto demais. Eles não querem abandonar seus ídolos pagãos. Não querem servir somente a Deus. Não querem que Deus seja seu rei. Por isso, procuram substituir tanto a Deus, quanto a Samuel, tendo um rei como as outras nações.
Ao discutir este texto, um amigo meu observou o seguinte: “Se for pagar por um deus, 10% não é muito caro”. Ele tem razão. Se você conseguisse um ”Deus” de verdade sem pagar caro por ele, seria vantajoso. Mas o fato é que, ao pagar caro por um rei, Israel recebe muito pouco em troca. Os israelitas pensam que seu rei tomará (julgará) suas decisões por eles, dizendo-lhes o que fazer, e que lutará suas batalhas. Uma recapitulação de Deuteronômio 28-32 deveria relembrar aos israelitas de que não é seu rei quem lhes dá paz e prosperidade; é seu Deus. Não é seu rei que é digno de sua fé, confiança e obediência (somente); é Deus. Eles esperam que um rei faça por eles o que só Deus pode fazer, com ou sem rei. Eles estão dispostos a pagar caro por algo que não vale a pena.
O pecado também é assim, e Satanás sempre procura nos convencer a pecar de um jeito que faria um vendedor trapaceiro de carros usados chorar de inveja. Ele procura supervalorizar nossa avaliação dos benefícios do pecado, ao mesmo tempo em que se esforça para nos convencer de que o preço é irrisório. No Jardim do Éden, Satanás fez Eva acreditar que realmente podia ser como Deus, e que comer o fruto proibido não resultaria realmente na morte. Quando pecamos, estamos acreditando na mentira de Satanás. Achamos que podemos “usar” o pecado enquanto tivermos controle sobre ele. A realidade é que o pecado rapidamente ganha o controle sobre nós e nos tornamos seus escravos. Não importa o quanto sejamos tentados e contemplemos o caminho do pecado, vamos nos lembrar do que a Bíblia nos ensina sobre sua economia: o preço é muito caro e o percurso é muito curto. O pecado não compensa.
Por que, então, mesmo depois que Samuel adverte os israelitas sobre os custos da monarquia, eles não lhe dão ouvidos e exigem seu rei? Por que os homens estão dispostos a pagar tanto por tão pouco? Creio que saiba a resposta, e que ela esteja claramente implícita em nosso texto. Os homens detestam a graça. A graça é detestável e repugnante porque é caridade. A graça não massageia nosso ego; ela produz humildade. Quando pagamos por alguma coisa (com trabalho ou dinheiro), achamos que somos donos dela. Achamos que quando pagamos, estamos no controle. Quando recebemos a graça, não estamos no controle. Deus está no controle. A graça é concedida soberanamente, por isso, não podemos ditar como e quando ela nos será concedida por Deus; não podemos controlar seus benefícios. Mas as boas e velhas obras forçam Deus a nos abençoar (como erroneamente supomos). Quando fazemos as coisas certas, Deus deve responder da forma que esperamos. Estamos no controle. Deus se torna nosso servo. Por isso, os homens preferem pagar - e pagar muito - para manter seu orgulho e sensação de controle. Esta é a razão pela qual os homens preferem os ídolos a Deus, mesmo que tenham que carregá-los. Eles crêem que servir aos ídolos faz com estejam no controle do seu “deus”. Que tolice!
Acho muito interessante que os israelitas queiram um homem como seu deus. Jamais funcionará, e o preço dessa tentativa será bem alto. O jeito de Deus é fazer-Se homem, Deus-Homem, para salvar o homem de seus pecados e governar sobre a terra como Rei, o Messias Prometido. Este Rei prometido que foi anunciado para ser Deus e homem não é nenhum outro senão o Senhor Jesus Cristo.
Ainda precisamos aprender uma última lição deste texto: Às vezes Deus nos dá aquilo que queremos e até mesmo exigimos, mesmo que isto venha a ser doloroso para nós. Lembro-me de uma passagem em Salmos que fala da queixa dos israelitas por não terem carne, fazendo com que Deus os deixe de barriga cheia. É esta:
“E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma.” (ARA)
“Deu-lhes o que pediram, mas mandou sobre eles uma doença terrível.” (NVI)
Existe uma persistência na oração e na súplica que não é evidência de fé, mas evidência de torpe ganância. Existe uma perseverança na oração que, de forma alguma, é santa. É possível que, se persistirmos em pedir aquilo que não é bom, Deus nos atenda. Será doloroso se isto acontecer, mas ao nos dar aquilo que tanto desejamos, Deus nos disciplina para que aprendamos a deixar estas coisas em Suas mãos. Em termos bíblicos, devemos nos concentrar em buscar primeiro a Deus, e confiar Nele para que todas as coisas nos sejam acrescentadas (Mateus 6:33). Vamos ter cuidado para que nossas petições a Deus não sejam exigências. Aprendamos com os israelitas do passado para que não andemos nos caminhos que eles andaram.
7. A Constituição do Primeiro Rei de Israel (I Sam. 9:1 - 11:13)
Introdução
Há mais de quarenta anos atrás, meus pais moravam num pequeno povoado que tinha vista para Puget Sound, no Estado de Washington (a vista era tão espetacular que meu pai construiu uma ala da casa no alto da colina, de frente para a paisagem e para a estrada). Um domingo à tarde, enquanto meus pais estavam tirando uma soneca, minha irmã e eu brincávamos junto à estrada, quando um carro parou ao nosso lado e o motorista perguntou se tínhamos visto um porco. Ele nos contou que o porco dera um jeito de escapar de seu cercado e estava andando à solta em algum lugar das proximidades. Decidindo que a caça ao porco seria uma grande atividade para a tarde, minha irmã e eu entramos no carro para ajudar a procurar o porco.
O motorista nos avisou que a serra no assoalho traseiro acabara de ser afiada, mas o aviso veio tarde demais. Minha irmã já passara a perna nos dentes afiados, produzindo vários cortes profundos. O motorista entrou em pânico, enrolando um trapo nada esterilizado em seu tornozelo para diminuir o sangramento. O hospital mais próximo ficava a 8 ou 10 milhas de distância, e ele nos levou para lá tão rápido quanto pôde. Foi do hospital que liguei para meus pais, que ainda dormiam. Pensando que Ruth e eu estávamos ali fora, eles levaram um choque ao saber que eu estava ligando do hospital e que minha irmã tinha um grande número de pontos na perna.
Essa foi uma caçada ao porco que saiu às avessas. Aquilo que parecia ser uma aventura excitante revelou-se não apenas uma aventura mal sucedida, mas extremamente dolorosa e dispendiosa. Nosso texto nos fala de uma caçada que acabou saindo exatamente o contrário. Ela começa com várias jumentas vagando perdidas, com Saul e seu servo em seu encalço. De fato, eles jamais encontraram os animais perdidos, mas, como veremos, a jornada em busca destes animais errantes bem valeu o esforço. Aquilo que talvez tenha começado como uma tarefa quase irritante termina com uma revelação que deve ter feito a cabeça de Saul girar de surpresa e excitação.
O estado de ânimo da maioria dos Israelitas é de grande expectativa. Os anciões da nação, fortemente apoiados pelo povo, tinham vindo a Samuel para exigir um rei que os governasse, como em todas as nações ao seu redor. Samuel não se agrada. Ele sente que isto não foi movido por fé e obediência a Deus, e Deus confirma suas suspeitas enquanto o conforta da afronta feita pela exigência dos anciões. Como no passado, os Israelitas ainda se voltam para os ídolos. O povo não está rejeitando Samuel como juiz; eles estão rejeitando a Deus como seu rei. A despeito de seu pecado em pedir um rei, Deus instrui Samuel a avisar o povo sobre os altos custos de um rei, informando-os a seguir que eles realmente terão um rei (8:22).
Esquecidos dos avisos e da seriedade de seu pecado, os Israelitas ficam empolgados com seu futuro rei. Como Deus já instruíra em Deuteronômio 17:15, o rei deve ser alguém de Sua escolha. Certamente isto significa que Samuel será aquele que nomeará o escolhido de Deus. Todos os olhos estão sobre Samuel. Cada homem que cruza o caminho deste juiz e profeta é visto como candidato a rei. Não é de estranhar que o tio de Saul esteja tão interessado naquilo que Samuel tem a lhe dizer (10:14-16).
Ninguém jamais teria imaginado como Deus faria conhecida Sua escolha. Os capítulos 9 a 11 de I Samuel nos dizem. Os acontecimentos destes três capítulos têm um propósito muito importante, pois demonstram enfaticamente que Saul é o escolhido de Deus como rei de Israel, e que Deus o capacitou totalmente para desempenhar esta tarefa. Os acontecimentos do capítulo 9 deixam claro a Samuel que Saul é o escolhido de Deus. Os capítulos 9 e 10 descrevem os acontecimentos que devem convencer Saul de que ele é escolhido de Deus. E os capítulos 10 e 11 registram o sorteio, a designação de Saul, e a grande vitória militar sobre Naás e os amonitas, que convencem os Israelitas de que Saul é seu rei. Estas três passagens da transmissão de cargo podem ser ilustradas desta maneira:
9:1 9:17
Para o benefício de Samuel
9:1 9:18 10:9
Para o benefício de Saul
9:1 10:10 11:13
Para o benefício de Israel
Samuel Entende a Mensagem: Saul Será o Rei de Israel
(9:1-17)
Havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, benjamita, homem de bens. Tinha ele um filho cujo nome era Saul, moço e tão belo, que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima, sobressaía a todo o povo. Extraviaram-se as jumentas de Quis, pai de Saul. Disse Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, dispõe-te e vai procurar as jumentas. Então, atravessando a região montanhosa de Efraim e a terra de Salisa, não as acharam; depois, passaram à terra de Saalim; porém elas não estavam ali; passaram ainda à terra de Benjamim; todavia, não as acharam. Vindo eles, então, à terra de Zufe, Saul disse para o seu moço, com quem ele ia: Vem, e voltemos; não suceda que meu pai deixe de preocupar-se com as jumentas e se aflija por causa de nós. Porém ele lhe disse: Nesta cidade há um homem de Deus, e é muito estimado; tudo quanto ele diz sucede; vamo-nos, agora, lá; mostrar-nos-á, porventura, o caminho que devemos seguir. Então, Saul disse ao seu moço: Eis, porém, se lá formos, que levaremos, então, àquele homem? Porque o pão de nossos alforjes se acabou, e presente não temos que levar ao homem de Deus. Que temos? O moço tornou a responder a Saul e disse: Eis que tenho ainda em mãos um quarto de siclo de prata, o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho. (Antigamente, em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia: Vinde, vamos ter com o vidente; porque ao profeta de hoje, antigamente, se chamava vidente.) Então, disse Saul ao moço: Dizes bem; anda, pois, vamos. E foram-se à cidade onde estava o homem de Deus. Subindo eles pela encosta da cidade, encontraram umas moças que saíam a tirar água e lhes perguntaram: Está aqui o vidente? Elas responderam: Está. Eis aí o tens diante de ti; apressa-te, pois, porque, hoje, veio à cidade; porquanto o povo oferece, hoje, sacrifício no alto. Entrando vós na cidade, logo o achareis, antes que suba ao alto para comer; porque o povo não comerá enquanto ele não chegar, porque ele tem de abençoar o sacrifício, e só depois comem os convidados; subi, pois, agora, que, hoje, o achareis. Subiram, pois, à cidade; ao entrarem, eis que Samuel lhes saiu ao encontro, para subir ao alto. Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. Quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo.
Ainda que os acontecimentos deste texto sejam para o benefício de Saul e de todo Israel, seu benefício primário é para Samuel. Afinal de contas, por instrução de Deus, Samuel prometeu um rei a Israel, e agora ele deve compreender exatamente quem pode ser esse rei. Os acontecimentos de nosso texto levam Saul ao contato com Samuel de um jeito que faz este profeta ter certeza de que ele é o escolhido de Deus.
Quis, o pai de Saul, é um homem de certa reputação da tribo de Benjamim. Nosso texto nos informa que ele é um homem de bens (9:1). Esta expressão pode ser entendida como se referindo à coragem de um homem, seu sucesso e suas habilidades militares, ou mesmo à sua riqueza. Por uma razão ou outra, ele é um homem de renome. Saul vem de uma boa descendência. E ainda que Saul não tenha estabelecido sua própria reputação, ele tem todos os atributos físicos que o tornarão extremamente útil ao povo. Em resumo, ele é aquilo que nossas adolescentes chamariam de um gato. É alto (mais alto quer qualquer outro Israelita), moreno (como as pessoas daquela parte do mundo - e, uma vez que ele trabalha no campo, deveria ter um bronzeado espantoso), e lindo. No entanto, será necessário muito mais do que isto para que Saul cumpra seu chamado como rei.
E assim é que alguns animais do rebanho de Quis se perdem. Não sabemos como as jumentas se soltaram, mas, de alguma forma elas fugiram de sua fazenda. Quis manda seu filho, Saul, atrás dos animais perdidos, instruindo-o a levar consigo um dos servos para ajudar. Os dois partem para uma busca mal sucedida, até que as jumentas perdidas se transformam numa preocupação, mas algo que, de certa forma, acaba sendo proveitoso. Nos três dias seguintes eles cobrem uma grande área, mas não encontram as jumentas. Saul está prestes a jogar a toalha e desistir de tudo. Com toda a certeza seu pai começará a se preocupar mais com eles do que com as jumentas.
O jovem servo de Saul não tem tanta certeza. Ele sabe que chegaram muito próximo do lugar onde vive o homem de Deus. Parece que nem o servo, nem Saul conhecem este homem de Deus pelo nome, e que o servo sabe muito mais sobre ele do que Saul. Este homem de Deus é um vidente, nome antigamente usado para designar um profeta. O servo conhece Samuel por sua reputação, não pelo nome. Ele é um homem muito estimado, cujas palavras se cumprem - um verdadeiro profeta. Talvez possam lhe perguntar sobre sua jornada e descobrir o paradeiro das jumentas.
Saul parece gostar da idéia, mas levanta um problema muito prático - eles não têm nada para oferecer ao vidente. Suas reservas estão completamente vazias. Eles consumiram todos os seus suprimentos e sequer têm pão para comer. Como podem solicitar seus serviços sem nada lhe oferecer em troca? O servo também tem solução para este problema. Ele tem uma moeda que prata que será suficiente. Com este incentivo, Saul consente em pedir ajuda ao homem de Deus, ao que parece, completamente esquecido de quem ele é ou a que isto pode levar.
Quando Saul e o servo alcançam as imediações da cidade, encontram algumas jovens indo buscar água, e indagam se o vidente está lá. Elas dizem que o homem realmente está lá e que, se eles se apressarem, podem pegá-lo enquanto ainda está disponível. Ele está para abençoar o sacrifício e então celebrar a refeição com alguns convidados. Logo que tudo comece, Saul e seu servo terão que esperar algum tempo, uma vez que não são convidados e não ousariam interromper o sacrifício e a celebração. Este é o momento certo, mas precisam se apressar.
Saul e seu servo continuam subindo em direção à cidade. Quando se aproximam, Samuel os vê chegando. É neste ponto que encontramos outro parêntese, descrito nos versos 15 e 16. Do ponto de vista meramente humano, a chegada de Saul é improvável (eles vagueavam por lá, mal sucedidos em encontrar os animais perdidos, e agora estão sem comida e ansiosos por voltar prá casa). Do ponto de vista das jovens, eles estavam com sorte. Do ponto de vista divino eles eram esperados, como veremos a seguir. Um dia antes Deus falou com Samuel, indicando que ele encontraria o novo rei no dia seguinte. Será alguém da tribo de Benjamim e deve ser ungido por Samuel. Este rei é um gracioso presente de um Deus misericordioso, que ouviu o clamor de Seu povo e está levantando este homem para livrar Israel das mãos dos filisteus. Quando Samuel levanta os olhos e vê Saul e seu servo chegando à cidade, Deus lhe diz que este é o homem. Dessa forma Samuel sabe que aquele que vem em sua direção é o escolhido de Deus como rei de Israel.
Saul é Informado e Transformado
(9:17 - 10:9)
Quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo. Saul se chegou a Samuel no meio da porta e disse: Mostra-me, peço-te, onde é aqui a casa do vidente. Samuel respondeu a Saul e disse: Eu sou o vidente; sobe adiante de mim ao alto; hoje, comereis comigo. Pela manhã, te despedirei e tudo quanto está no teu coração to declararei. Quanto às jumentas que há três dias se te perderam, não se preocupe o teu coração com elas, porque já se encontraram. E para quem está reservado tudo o que é precioso em Israel? Não é para ti e para toda a casa de teu pai? Então, respondeu Saul e disse: Porventura, não sou benjamita, da menor das tribos de Israel? E a minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com tais palavras? Samuel, tomando a Saul e ao seu moço, levou-os à sala de jantar e lhes deu o lugar de honra entre os convidados, que eram cerca de trinta pessoas. Então, disse Samuel ao cozinheiro: Traze a porção que te dei, de que te disse: Põe-na à parte contigo. Tomou, pois, o cozinheiro a coxa com o que havia nela e a pôs diante de Saul. Disse Samuel: Eis que isto é o que foi reservado; toma-o e come, pois se guardou para ti para esta ocasião, ao dizer eu: Convidei o povo. Assim, comeu Saul com Samuel naquele dia. Tendo descido do alto para a cidade, falou Samuel com Saul sobre o eirado. Levantaram-se de madrugada; e, quase ao subir da alva, chamou Samuel a Saul ao eirado, dizendo: Levanta-te; eu irei contigo para te encaminhar. Levantou-se Saul, e saíram ambos, ele e Samuel. Desciam eles para a extremidade da cidade, quando Samuel disse a Saul: Dize ao moço que passe adiante de nós, e tu, tendo ele passado, espera, que te farei saber a palavra de Deus. Tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Não te ungiu, porventura, o SENHOR por príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel? Quando te apartares, hoje, de mim, acharás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no território de Benjamim, em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste procurar, e eis que teu pai já não pensa no caso delas e se aflige por causa de vós, dizendo: Que farei eu por meu filho? Quando dali passares adiante e chegares ao carvalho de Tabor, ali te encontrarão três homens, que vão subindo a Deus a Betel: um levando três cabritos; outro, três bolos de pão, e o outro, um odre de vinho. Eles te saudarão e te darão dois pães, que receberás da sua mão. Então, seguirás a Gibeá-Eloim, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, precedidos de saltérios, e tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão profetizando. O Espírito do SENHOR se apossará de ti, e profetizarás com eles e tu serás mudado em outro homem. Quando estes sinais te sucederem, faze o que a ocasião te pedir, porque Deus é contigo. Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer. Sucedeu, pois, que, virando-se ele para despedir-se de Samuel, Deus lhe mudou o coração; e todos esses sinais se deram naquele mesmo dia.
Enquanto Samuel sabe que Saul é o escolhido de Deus como rei de Israel, Saul não tem este conhecimento. A próxima seção é amplamente dedicada ao processo usado por Deus para informar e transformar Saul como novo rei. Fica evidente pelo nosso texto que Saul não conhece Samuel. Quando chega à entrada da cidade, Saul se volta para a primeira pessoa que vê e pergunta o caminho para a casa do vidente. Samuel é aquele a quem Saul faz a pergunta. Ele o informa que é o vidente. Antes mesmo de Saul poder deixar escapar sua pergunta, Samuel lhe diz palavras que ele nunca pensou que ouviria. Samuel o instrui a subir à sua frente ao alto, onde o sacrifício e a refeição cerimonial estão prestes a serem realizados. Saul deve comer com Samuel nesse dia, e depois passar a noite. Na manhã seguinte Samuel lhe dirá tudo quanto está no seu coração e depois o despedirá. Tendo dito isto, Samuel prossegue dizendo algo que deve deixar Saul espantado: Quanto às jumentas que há três dias se te perderam, não se preocupe o teu coração com elas, porque já se encontraram. E para quem está reservado tudo o que é precioso em Israel? Não é para ti e para toda a casa de teu pai? (9:20)
Saul nem mesmo tem que fazer a pergunta, pois Samuel já sabe o que ele quer saber. Sem Saul nem mesmo perguntar, Samuel lhe diz o que está faltando, há quanto tempo estão procurando, e o que foi encontrado. Se isto surpreende Saul, mais surpresas ainda estão por vir. Samuel disse a Saul que lhe contaria tudo quanto estava em seu coração... no dia seguinte (verso 19). Se esta questão das jumentas perdidas não é o que está em seu coração, então, o que é? Creio que são as coisas ditas a seguir por Samuel a Saul, no verso 20: E para quem está reservado tudo o que é precioso em Israel? Não é para ti e para toda a casa de teu pai? As palavras que Saul diz em resposta a Samuel, registradas no verso 21, são a essência daquilo que Saul terá em seu coração a partir de agora, uma vez que a questão das jumentas já foi resolvida. O que significam as palavras de Samuel? E por que Samuel as diz a Saul? Como pode ser isto, se ele nem mesmo é de uma tribo ou família importante? Creio que isto seja o que Samuel coloca na cabeça de Saul, e que ele explicará mais detalhadamente na manhã seguinte. E assim será.
Samuel, Saul e seu servo seguem seu caminho para o alto, onde Samuel lhes dá o lugar de honra à cabeceira da mesa dos convidados. Samuel é um homem de fé. Quando Deus o informa que o rei virá no dia seguinte (9:16), ele deixa reservado para Saul o lugar do convidado de honra na refeição cerimonial (9:23-24). Ele separou uma porção escolhida, dizendo ao cozinheiro para servi-la quando instruído a fazê-lo (tão logo surgisse o rei prometido). Quando Saul e seu servo se assentam, Samuel instrui o cozinheiro a trazer a porção que estava reservada, à espera de sua chegada. O homem que parece ser um visitante inesperado é, na realidade, esperado, e nenhum outro senão o convidado de honra.
Há mais uma conversa entre Samuel e Saul sobre o eirado antes que Saul se prepare para a noite. Logo cedo na manhã seguinte, Samuel desperta Saul para despachá-lo em particular antes que o povo esteja circulando e observando com grande curiosidade e interesse. Quando eles estão deixando a cidade, Samuel instrui Saul a enviar seu servo adiante para que possa lhe falar em particular. Quando ele faz isto, Samuel toma seu vaso de azeite e unge sua cabeça, beijando-o, e informando que Deus de fato o escolheu para governar sobre todo Israel.
Sem dúvida, esta é uma bomba para Saul. Pelos acontecimentos dos dias anteriores e pelas misteriosas afirmações que Samuel lhe fez, era evidente que ele só poderia estar falando de Saul como o futuro rei. Mas agora não há lugar para mal-entendidos. As palavras e as ações de Samuel (a unção) deixam muito claro que Saul foi designado e ungido para ser o rei. Mas Saul é um homem que precisa de algum convencimento (ver 10:22). Então Samuel profetiza a respeito dos acontecimentos que ocorrerão nas próximas horas. Primeiro, na estrada para o túmulo de Raquel, eles encontrarão dois homens que os informarão sobre aquilo que Samuel já lhes dissera, ou seja, que as jumentas perdidas foram encontradas, e que o pai de Saul estava agora preocupado com seu filho.
Mais adiante, quando alcançarem o carvalho de Tabor, irão encontrar três homens subindo para adorar a Deus em Betel. Um dos homens terá três cabritos, o outro três pedaços de pão, e o terceiro um odre de vinho. Estes três não somente saudarão a Saul e seu servo, eles lhes darão dois pedaços de pão, que eles devem pegar. Este pão servirá como mantimento pelo restante do caminho prá casa.
Os versos 14 a 16 do capítulo 10 são parte da confirmação particular de Deus a Saul de sua escolha como rei de Israel. O escritor descreve os acontecimentos seguintes ao encontro de Saul com Samuel em ordem cronológica; assim, a chegada de Saul em sua casa, e seu diálogo com o tio, vêm depois dele se tornar profeta por algum tempo (versos 10-13). Mas, para seguir com o argumento, a conversa com o tio é parte da confirmação particular de Saul.
Quando Saul chega em casa, seu tio lá está para saudá-lo e questioná-lo sobre o que ele fez nos últimos dias. Saul dá apenas um resumo dos fatos, para que a questão da sua unção não seja levantada ou discutida. Talvez o silêncio de Saul tenha apenas estimulado seu tio, pois, certamente ele está interessado no que aconteceu, especialmente por saber que Saul se encontrou com Samuel. Saul está disposto a lhe dizer somente a parte referente às jumentas; assim, terá que ser Samuel aquele que apresentará publicamente Saul como rei de Israel, o que acontece na próxima seção.
O Rei é Apresentado a Israel
(10:10 - 11:13)
Chegando eles a Gibeá, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles. Todos os que, dantes, o conheciam, vendo que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos outros: Que é isso que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas? Então, um homem respondeu: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas? E, tendo profetizado, seguiu para o alto. Perguntou o tio de Saul, a ele e ao seu moço: Aonde fostes? Respondeu ele: A buscar as jumentas e, vendo que não apareciam, fomos a Samuel. Então, disse o tio de Saul: Conta-me, peço-te, que é o que vos disse Samuel? Respondeu Saul a seu tio: Informou-nos de que as jumentas foram encontradas. Porém, com respeito ao reino, de que Samuel falara, não lho declarou. Convocou Samuel o povo ao SENHOR, em Mispa, e disse aos filhos de Israel: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Fiz subir a Israel do Egito e livrei-vos das mãos dos egípcios e das mãos de todos os reinos que vos oprimiam. Mas vós rejeitastes, hoje, a vosso Deus, que vos livrou de todos os vossos males e trabalhos, e lhe dissestes: Não! Mas constitui um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o SENHOR, pelas vossas tribos e pelos vossos grupos de milhares. Tendo Samuel feito chegar todas as tribos, foi indicada por sorte a de Benjamim. Tendo feito chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, foi indicada a família de Matri; e dela foi indicado Saul, filho de Quis. Mas, quando o procuraram, não podia ser encontrado. Então, tornaram a perguntar ao SENHOR se aquele homem viera ali. Respondeu o SENHOR: Está aí escondido entre a bagagem. Correram e o tomaram dali. Estando ele no meio do povo, era o mais alto e sobressaía de todo o povo do ombro para cima. Então, disse Samuel a todo o povo: Vedes a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então, todo o povo rompeu em gritos, exclamando: Viva o rei! Declarou Samuel ao povo o direito do reino, escreveu-o num livro e o pôs perante o SENHOR. Então, despediu Samuel todo o povo, cada um para sua casa. Também Saul se foi para sua casa, a Gibeá; e foi com ele uma tropa de homens cujo coração Deus tocara. Mas os filhos de Belial disseram: Como poderá este homem salvar-nos? E o desprezaram e não lhe trouxeram presentes. Porém Saul se fez de surdo. Então, subiu Naás, amonita, e sitiou a Jabes-Gileade; e disseram todos os homens de Jabes a Naás: Faze aliança conosco, e te serviremos. Porém Naás, amonita, lhes respondeu: Farei aliança convosco sob a condição de vos serem vazados os olhos direitos, trazendo assim eu vergonha sobre todo o Israel. Então, os anciãos de Jabes lhe disseram: Concede-nos sete dias, para que enviemos mensageiros por todos os limites de Israel e, não havendo ninguém que nos livre, então, nos entregaremos a ti. Chegando os mensageiros a Gibeá de Saul, relataram este caso ao povo. Então, todo o povo chorou em voz alta. Eis que Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: Que tem o povo, que chora? Então, lhe referiram as palavras dos homens de Jabes. E o Espírito de Deus se apossou de Saul, quando ouviu estas palavras, e acendeu-se sobremodo a sua ira. Tomou uma junta de bois, cortou-os em pedaços e os enviou a todos os territórios de Israel por intermédio de mensageiros que dissessem: Assim se fará aos bois de todo aquele que não seguir a Saul e a Samuel. Então, caiu o temor do SENHOR sobre o povo, e saíram como um só homem. Contou-os em Bezeque; dos filhos de Israel, havia trezentos mil; dos homens de Judá, trinta mil. Então, disseram aos mensageiros que tinham vindo: Assim direis aos homens de Jabes-Gileade: Amanhã, quando aquentar o sol, sereis socorridos. Vindo, pois, os mensageiros, e, anunciando-o aos homens de Jabes, estes se alegraram e disseram aos amonitas: Amanhã, nos entregaremos a vós outros; então, nos fareis segundo o que melhor vos parecer. Sucedeu que, ao outro dia, Saul dividiu o povo em três companhias, que, pela vigília da manhã, vieram para o meio do arraial e feriram a Amom, até que se fez sentir o calor do dia. Os sobreviventes se espalharam, e não ficaram dois deles juntos. Então, disse o povo a Samuel: Quem são aqueles que diziam: Reinará Saul sobre nós? Trazei-os para aqui, para que os matemos. Porém Saul disse: Hoje, ninguém será morto, porque, no dia de hoje, o SENHOR salvou a Israel.
Finalmente Saul e seu servo alcançam o monte de Deus, onde a tropa dos filisteus está acampada, e onde ocorre o terceiro sinal. O terceiro sinal é diferente dos dois primeiros em pelo menos duas coisas. Primeiro, é testemunhado publicamente e, pelo menos parcialmente compreendido como algo importante. Já fomos informados sobre a profecia que Samuel deu a Saul a respeito dos dois homens que ele encontraria e depois dos três homens a caminho de Betel, mas não temos um relato completo de como estas coisas ocorrem. Apenas temos a informação geral de que todos esses sinais se deram naquele mesmo dia (10:9). Mas, quando chega a terceira profecia - aquela que fala sobre o Espírito vindo sobre Saul - temos um relato que inclui o impacto que isto tem sobre a nação. Os dois primeiros sinais são quase inteiramente para o benefício exclusivo de Saul. Somente a ele foi dito que estas coisas aconteceriam. Qualquer um que presenciasse o cumprimento destas duas profecias não entenderia que são sinais, pois ignoraria sua predição detalhada. Mas este terceiro sinal é algo que chama a atenção do povo, tanto que se transforma em provérbio.
Segundo, o que acontece a Saul no monte de Deus não é normal, é sobrenatural. O Espírito de Deus desce sobre ele e ele profetiza, junto com aqueles que são conhecidos como profetas. Não há dúvida por parte daqueles que testemunham este acontecimento surpreendente - Saul está entre os profetas. Então, por que isto é importante? É importante porque é uma demonstração pública de que Deus capacitou Saul para julgar a nação. Em Êxodo 18, Jetro, o sogro de Moisés, o aconselha a distribuir o peso do trabalho de julgar a nação. A indicação daqueles 70 juízes é descrita em Números 11, onde todos os 70 profetizam diante dos olhos da nação, demonstrando que o Espírito de Deus está sobre eles, capacitando-os a servirem como juízes. A mesma coisa está acontecendo agora com Saul. O Espírito de Deus veio sobre ele, capacitando-o a julgar a nação como seu rei. Este acontecimento é claramente sobrenatural, e é público. De fato, a mudança de Saul se torna proverbial, para que mesmo aqueles que não testemunhem este sinal possam ouvir falar sobre ele. Esta é a primeira indicação pública de que Saul deve ser o rei de Israel.
A próxima indicação será muito mais notória. Samuel convoca todo o Israel a Mispa (o lugar onde se arrependeram e se voltaram para Deus no início do ministério de Samuel - ver capítulo 7), onde ele se defronta com uma audiência muito ansiosa. Em todo o seu entusiasmo e otimismo pelo que está por vir, Samuel uma vez mais relembra aos Israelitas que sua exigência por um rei é uma manifestação de desobediência e incredulidade. Samuel indica que isto foi (no capítulo 8), e ainda é neste mesmo dia, uma rejeição a Deus. Este Deus, que eles trocaram por um rei humano, é o Único que os livra de todas as suas dificuldades. Não é o seu novo rei quem os livrará delas, pois foi Deus quem sempre os livrou, e quem continuará a livrá-los. A despeito do pecado de Israel, Deus está prestes a lhes dar graciosamente o rei que estão exigindo.
O rei, como visto em Deuteronômio 17:15, deve ser um homem da escolha de Deus, e esta escolha será indicada por sorteio. A primeira restrição é para a linhagem de Benjamim e então, finalmente, para Saul, exatamente aquele que Deus já indicou previamente a Samuel, aquele que Samuel já ungiu como rei. Mas este processo é para o benefício das pessoas da nação, para que sejam convencidos de que Saul é o escolhido de Deus.
Quando Saul é indicado por sorteio, ele não pode ser encontrado em parte alguma. Ninguém parece saber dele ou de seu paradeiro. É por meio de mais uma indagação ao Senhor que Ele indica que Saul está escondido entre a bagagem. O povo corre até lá, encontra Saul e o traz a Samuel. Quando as pessoas olham para Saul, ficam muito impressionadas. Eis um homem que já sabemos que é muito bonito (9:2), e uma vez mais é dito que ele é mais alto que qualquer outro israelita. De fato, Saul é o Golias de Israel, um gigante, e, fora isto, um homem extremamente atraente. De uma perspectiva meramente física, Saul é material de primeira.
Samuel mostra ao povo o que a escolha extremamente agradável de Deus faz. Deus não faz e não dá nenhuma tranqueira. Saul é um magnífico espécimen humano. Ninguém poderia ter pedido melhor. E assim o povo começar a gritar: Viva o rei!’ (verso 24). Neste ponto Samuel esclarece todas as regras que fazem parte do governo real, escrevendo isto num livro que coloca diante de Deus. E então despede o povo para casa.
Da mesma forma, Saul vai para sua casa, acompanhado por um grupo de homens valentes cujos corações Deus tocou. Estes homens parecem ser algo como o serviço secreto de Saul, acompanhando-o aonde quer que vá, protegendo-o de qualquer um que possa querer prejudicá-lo. Estes valentes são mais uma evidência de que Saul, de fato, é o escolhido de Deus como rei de Israel.
No entanto, nem todo o povo entende desta forma, pois nosso texto nos informa que há um grupo - de desordeiros - que não vê Saul como seu libertador. Será que estes homens conhecem o velho Saul tão bem? Eles o desdenham por ter se escondido em meio à bagagem? Ele não é o seu tipo de líder? Realmente não sabemos porque eles olham Saul com desprezo, mas seu pecado mais grave é duvidar e discutir a escolha de Deus. Enquanto todos os outros trazem presentes para Saul, estes desordeiros não. Seu desdém por Saul é óbvio. Todavia, Saul prefere ficar em silêncio e não fazer nada com eles por enquanto. No entanto, eles aparecerão outra vez em nosso texto.
O que os israelitas realmente querem é um rei que os livre de seus inimigos. Eles querem um rei que vá adiante deles na guerra (8:19-20). E, especificamente, eles querem um rei que lide com Naás, o rei dos amonitas (12:12). A prova da realeza de Saul será conclusiva se ele puder liderá-los na guerra com sucesso. O capítulo 11 é justamente sobre tudo isto.
Naás, o rei amonita, sitiou a cidade israelita de Jabes-Gileade. O povo está prestes a desistir e pedir a Naás que declare seus termos de paz. As pessoas de Jabes-Gileade estão dispostas a lhe serem sujeitas; eles parecem realmente não ter escolha. Mas os termos de paz do rei são severos. Ele não apenas quer que a cidade israelita se renda, mas insiste em vazar o olho direito de cada um deles. Isto causará pelo menos duas coisas: 1) humilhará os israelitas; 2) os incapacitará, fazendo com que lutem com grande dificuldade. (Já tentou apontar uma arma ou mirar um arco e flecha sem o olho direito?)
O povo de Jabes pede a Naás sete dias para pedir auxílio a seus irmãos judeus. Se ninguém vier em seu socorro, eles prometem que se sujeitarão a ele. Mensageiros são enviados por todo o Israel, pedindo auxílio. Parece que nada está sendo feito, e que ninguém pretende se envolver. Mas, finalmente, a mensagem chega a Gibeá de Saul, e quando chega, o povo daquela cidade começa a chorar. Saul está vindo do campo e observa o lamento e pergunta o que aconteceu. Quando lhe dizem, fica furioso. Ele mata uma junta de bois (seus bois, ou de algum espectador indiferente?), parte-os em pedaços e envia os pedaços por todo o território de Israel, avisando que, qualquer um que se recuse a se reunir para a guerra, encontrará seus bois mortos da mesma forma. Parece que alguns estavam se desculpando em vir em auxílio de seus irmãos por não poderem se ausentar de suas fazendas naquele momento. As ações de Saul deixam claro que eles não terão nada com que trabalhar em suas fazendas se eles se recusarem a ajudar seus irmãos. Ele ameaça lhes tirar o equivalente a seus tratores.
Um grandioso montante de 300.000 soldados se reúne, 30.000 dos quais são homens de Judá. Uma mensagem é enviada ao povo de Jabes, assegurando-lhes que a ajuda está a caminho. Os homens de Jabes informam a Naás que no dia seguinte irão se entregar. Naás acha que isto significa que eles pretendem se render. O povo de Jabes espera que isto signifique que irão se entregar à luta. E assim, quando os irmãos israelitas atacam os amonitas no dia seguinte, eles realmente se entregam lutando, e o resultado é uma derrota devastadora dos amonitas. Como o texto indica não ficaram dois deles juntos (verso 11).
Saul vira herói num instante. Uma coisa para Saul é estar entre os profetas; ainda outra coisa é ele ser escolhido rei por sorteio. Mas, quando ele é aquele que pode reunir toda a nação e assim derrotar os amonitas, esta é toda a prova que o povo precisa ou quer. E agora, o povo pergunta, Quem são aqueles que diziam: Reinará Saul sobre nós? Deixem que sejam trazidos à frente e tratados por nós!
O momento mais admirável de Saul não é ao reunir a nação para a guerra, nem ao obter a impressionante vitória sobre os amonitas. Seu momento mais admirável é quando trata daqueles de seu próprio povo que falaram contra ele. Saul pode se vingar, e assim fazendo, trazer grande contentamento ao povo, assim como a si mesmo. Mas Saul se recusa a arrefecer o entusiasmo do dia com tal atitude. Foi o Senhor quem salvou a Israel (verso 13), e assim Saul não levantará a mão contra aqueles que desdenharam dele. Israel verdadeiramente tem seu rei, e alguém bom nisso.
Conclusão
Esta última observação provavelmente é a mais inesperada, ou seja, Saul é um bom rei. Infelizmente, antes disso eu só havia considerado Saul em retrospectiva. Não podia olhar para Saul sem primeiro pensar em Davi. E quando pensava em Saul à luz de Davi, Saul sempre ficava em segundo plano, e com boas razões. Além disso, descobri que sou culpado de ver o início de Saul como rei de Israel apenas sob a luz de seus últimos dias, dias que o colocaram sob uma luz bem obscura.
No entanto, se tomarmos este texto como ele se apresenta, precisamos olhar de modo diferente para Saul, à luz dos seguintes fatos: 1) Saul é um gracioso presente de Deus a Seu povo, a despeito de sua exigência pecaminosa em ter um rei. Deus dá Saul a Israel como seu rei por misericórdia e compaixão, pois notou as calamidades e o sofrimento da nação, e mandou Saul livrar o povo, da mesma forma que fez desde o êxodo (9:16; 10:18). 2) Saul não é dado a Israel porque Deus quer que ele fracasse, escolhendo assim a pior espécie humana possível para dar à nação como rei. Deus escolhe um homem fisicamente superior, cuja aparência e estatura parecem se ajustar perfeitamente à tarefa que lhe está sendo dada. 3) Deus sobrenaturalmente capacita Saul, colocando nele Seu Espírito, para habilitá-lo a julgar e a liderar com sabedoria e poder. Qualquer fraqueza que Saul tenha como homem, Deus a trata sobrenaturalmente, para que ele se torne um outro homem (ver 10:6, 9). 4) E, finalmente, Deus identifica Saul de tal forma que ninguém, exceto alguns tolos desordeiros, negam que ele seja o rei indicado.
Deus não está tentando sabotar o reinado de Saul, ainda que certamente Ele saiba que seu reinado fracassará. As falhas de Saul não são devido à sabotagem de Deus, mas ao seu fracasso pessoal em andar nos caminhos de Deus, ao seu fracasso de confiar em Deus e obedecê-Lo. Saul falha em tomar posse dos recursos que Deus graciosamente lhe deu para capacitá-lo a governar com justiça e retidão. Saul não é um rei de segunda classe, dado por um Deus despeitado; ele é um rei de primeira linha, completamente equipado para sua tarefa, e totalmente responsável por suas falhas. Este rei, sem dúvida, não é um Davi, mas também não é um fracassado. Para mim, este é um novo pensamento, mas um pensamento ensinado em nosso texto.
Como Deus é gracioso conosco, apesar de nosso pecado. Deus dá um rei a Israel, mas este rei não é como o rei das outras nações. Este rei é o ser humano mais magnífico disponível, um homem transformado no coração e sobrenaturalmente capacitado pelo Espírito de Deus. Quando Saul anda no Espírito, age como o libertador do povo de Deus. Quando anda no Espírito, reconhece que as vitórias sobre seus inimigos são vitórias de Deus, não suas. Ele é um homem marcado por humildade e graça. Isto mudará, e bem depressa. Mesmo que saibamos que esta mudança ocorrerá, vejamos quão magnífico é este rei, pelo menos por algum tempo.
A vitória militar dos israelitas liderada por Saul (capítulo 11) não é devido a Israel ter um rei, nem a qualquer mérito por parte de Israel, mas unicamente devido à graça e misericórdia de Deus, que ouve o clamor de Seu povo e uma vez mais vem para salvá-lo. Os israelitas depressa abraçam este novo rei. Ele é o tipo de rei que eles querem. Quando Jesus vem como Rei de Israel, Ele não é nenhum Saul. Não tem uma aparência impressionante, que atrai os homens, e não é abraçado entusiasticamente como o Filho de Deus:
Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do SENHOR? Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. (Is. 53:1-3)
Seus seguidores, e mesmo Seus discípulos mais próximos, querem que Jesus seja um rei como Saul, mas Jesus se recusa. Ele não vem para acabar com o governo romano, mas para dar Sua vida em resgate de muitos. Ele vem a um mundo pecaminoso, e suporta a pena de homens vis, para que possam ter seus pecados perdoados e se tornem filhos de Deus. Este é o tipo de rei que muitos rejeitam hoje. Eles gostariam de um rei mais parecido com Saul. Saul é o primeiro rei de Deus, e no início é um bom rei. Mas, na verdade, há somente um único grande rei, e este é Jesus, o Rei dos judeus, que veio à terra como filho do homem (sem deixar Sua divindade), viveu uma vida sem pecado, e foi crucificado por causa do pecado dos homens, e ressurgiu da morte ao terceiro dia. Este é o mesmo Rei que irá voltar, e então, todos O reconhecerão, e todo joelho se sobrará diante Dele. Ele subjugará todos os Seus inimigos e então governará sobre a terra em perfeita justiça. Este é o Rei pelo qual esperamos.
Finalmente, este texto é uma passagem fascinante no que se refere a conhecer a vontade de Deus. Deus revelou através do profeta Samuel que Ele daria um rei a Israel (I Samuel 8). E então, providencialmente (de forma circunstancial) leva Saul e seu servo ao exato lugar onde está Samuel, e à festa onde Saul é um desconhecido (de nome), mas esperado, convidado de honra. Deus revela diretamente a Samuel que o rei chegará no dia seguinte. Quando Samuel vê Saul pela primeira vez, Deus lhe diz que este é o convidado prometido, que deve ser o rei de Israel. E então, por meio de sinais sobrenaturais, por sorteio, e por uma vitória militar espetacular, Ele indica a Saul e a toda a nação de Israel que este homem deve ser seu rei.
Não vemos Saul buscando o reinado, nem mesmo buscando a Deus em oração. Ele está disposto a encontrar Samuel para pedir orientação divina a fim de encontrar suas jumentas, mas isto somente depois que seu servo dá a idéia e se oferece para pagar por isto. Saul é designado como rei de Israel quando cuida dos afazeres diários da vida. Quem pensaria que este homem começaria procurando jumentas e acabaria sendo apontado como o rei de Israel?
Parece também que Samuel obtém a orientação divina ao cuidar do curso normal de sua vida e ministério. Samuel está ministrando como sempre faz, quando Deus lhe diz que o rei chegará no dia seguinte. Samuel compreende a vontade de Deus a respeito do rei de Israel, quando desempenha fielmente seus deveres como profeta e juiz de Israel. Deus tem um jeito de tornar clara Sua vontade para nós, quando nos é necessário conhecê-la. Ele não tenta esconder Sua vontade, e quando é seu intento revelá-la, não podemos evitá-la. A vontade de Deus não é um segredo que precisa de uma técnica especial para ser conhecido.
Quando você se levantar amanhã de manhã, pense neste texto e no que ele implica. Que tarefa irritante estará em seu caminho? Será procurar jumentas perdidas? Provavelmente não, mas haverá algumas tarefas cotidianas e irritantes, que parecem consumir sua vida com pouco significado. Deus tem um modo de usar tais tarefas irritantes como meios para fins muito maiores.
Israel ansiosamente aguarda a chegada de seu rei. Cada ação, cada palavra de Samuel é vista com grande expectativa e interesse. Se estes antigos israelitas aguardavam tão ansiosamente seu primeiro rei, quanto mais ansiosos devemos estar pela vinda do Rei dos reis, nosso Senhor Jesus Cristo? Será que iniciamos cada dia nos perguntando se este é o dia? Estamos cuidando fielmente de nossas obrigações, ansiosos em agradar ao Rei que vem? Vamos começar cada dia com senso de ansiosa antecipação, sabendo que a vinda de nosso Rei pode ser hoje.
8. Renovando o Reino (I Samuel 11:14 -12:25)
Introdução
Na semana passada, eu e minha esposa Jeanette tivemos uma nova experiência - tornamo-nos avós pela primeira vez! Depois de 25 horas de trabalho de parto (de minha filha), nasceu Taylor Nicole. Há sempre uma sensação de alegria e otimismo no nascimento de uma criança, tal como numa festa de casamento. Mas você e eu sabemos que esta alegria, com o tempo, será vista por outro ângulo. Um pequeno recém-nascido, adorável e indefeso, logo fará dois anos e então será um adolescente! Tempos difíceis virão para seus pais, e todos nós que somos pais sabemos disto. Tempos difíceis virão também para os recém-casados.
Quando penso em nosso texto de I Samuel, lembro-me de um retrato que tirei anos atrás, quando estava no colégio. Nossa família tinha ido acampar... Nosso primeiro e único acampamento. O retrato foi tirado nas montanhas do Parque Nacional Glacier em Montana. Na foto, o céu está azul, com poucas nuvens. Meus pais, minhas duas irmãs e meu irmão caçula estão sentados à frente de nossa barraca, todos com um sorriso no rosto. Que coisa maravilha é acampar! Como podíamos ter perdido tais prazeres até agora? Poucas horas depois, o retrato é completamente diferente - um retrato que só existe na minha cabeça, pois as coisas ficaram caóticas demais para tirar fotos, no meio da noite, em meio a uma tempestade das montanhas, com uma barraca enfiada numa poça d’água de quase cinco cm. (Por que será que ninguém nos falou para armar a barraca num lugar alto com a porta para o lado oposto ao vento?)
As coisas nem sempre terminam do jeito que começam, como vemos com Saul, o novo rei de Israel. Em I Samuel 8, o povo exige um rei para governá-los, como todas as nações. Isto dá a entender que Samuel vai se aposentar e ser substituído. Samuel não gosta daquilo que ouve, e com razão. Ele adverte o povo sobre os altos custos de um rei, e os israelitas dizem que estão dispostos a pagar o preço. Assim, Samuel manda o povo de volta para casa, com a promessa de que terão seu rei. Os capítulos 9 e 10 descrevem os acontecimentos que levam à designação pública de Saul como rei de Israel. O capítulo 11 fala sobre Naás, o amonita, que sitia Jabes-Gileade e exige a rendição desta cidade israelita, anunciando que, quando se renderem, ele vazará o olho direito de cada inimigo derrotado. O povo da cidade pede tempo para buscar ajuda com seus irmãos, algo que Naás parece entender de modo diferente. Quando os mensageiros são enviados de Jabes-Gileade com o pedido de socorro, a notícia sobre estes irmãos israelitas em apuros chega a Gibeá de Saul. Quando Saul volta do campo, fica sabendo da situação e se enfurece pelo Espírito do Senhor. Ele dilacera uma junta de bois, enviando os pedaços por todo o território de Israel, com o aviso de que, qualquer um que não se ajunte para guerrear encontrará seus bois do mesmo jeito. Todo o Israel se ajunta - 330.000 homens. Deus dá uma grande vitória sobre os amonitas, libertando o povo de Jabes-Gileade de sua tirania.
No que diz respeito ao povo, esta é uma prova positiva de que Saul é o tipo de rei que eles querem. Ele é o homem! A grande comemoração que se segue é mais ou menos como a comemoração de um time vencedor do Super Bowl (torneio de boliche). É como um comercial de cerveja, onde um israelita se vira para outro e diz: “Cara, não tem nada melhor do que isto!” É como um candidato presidencial recebendo a notícia de sua eleição na sede de sua campanha eleitoral. Se os israelitas tivessem uma banda, eles tocariam “Os dias felizes voltaram...”
Neste exato momento, Samuel convoca o povo para ir a Gilgal, onde eles “renovarão o reino” (11:14). Saul é constituído rei, sacrifícios são feitos perante o Senhor e os “homens de Israel muito se alegram” (11:15). Mas que negócio é este de “renovar o reino”? Se Saul é o primeiro rei de Israel, então ele é o “novo” rei. Como, então, eles podem “renovar o reino”, proclamando Saul como rei?
Cheguei à conclusão de que Samuel não está falando sobre a ”renovação” do novo reino que acaba de ser inaugurado com a investidura de Saul como rei, mas da “renovação” do reino de Deus, com Deus como Rei, como já fora estabelecido no êxodo. Existem duas razões muito fortes para isto. Primeiro, há toda a mensagem e ênfase do capítulo 12, que iremos considerar por alguns instantes. Segundo, a “renovação” deve acontecer em Gilgal, não em Mispa (ver 7:5 e ss). Gilgal é a cidade que está daquém (a oeste) do Jordão. É o lugar onde os israelitas cruzaram o rio Jordão pela primeira vez e entraram na terra prometida, o lugar onde foi construído o memorial de 12 pedras. É o lugar onde os israelitas (a segunda geração) foram circuncidados e onde Israel renovou sua aliança com Deus (ver Josué 4 e 5). Gilgal é o lugar aonde o “anjo do Senhor” veio relembrar aos israelitas a sua libertação no êxodo, sua aliança com Deus e a razão para guerrear com as nações à sua volta (Juízes 2:1-5). É também uma das cidades do circuito de Samuel (I Samuel 7:16) e o lugar onde ele diz para Saul esperá-lo (I Samuel 10:8); Gilgal é a cidade que tem maior ligação com a aliança entre Deus e Israel.
A Inocência de Samuel e a Culpa de Israel
(12:1-5)
Então, disse Samuel a todo o Israel: Eis que ouvi a vossa voz em tudo quanto me dissestes e constituí sobre vós um rei. Agora, pois, eis que tendes o rei à vossa frente. Já envelheci e estou cheio de cãs, e meus filhos estão convosco; o meu procedimento esteve diante de vós desde a minha mocidade até ao dia de hoje. Eis-me aqui, testemunhai contra mim perante o SENHOR e perante o seu ungido: de quem tomei o boi? De quem tomei o jumento? A quem defraudei? A quem oprimi? E das mãos de quem aceitei suborno para encobrir com ele os meus olhos? E vo-lo restituirei. Então, responderam: Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma das mãos de ninguém. E ele lhes disse: O SENHOR é testemunha contra vós outros, e o seu ungido é, hoje, testemunha de que nada tendes achado nas minhas mãos. E o povo confirmou: Deus é testemunha.
Neste parágrafo, Samuel coloca a si mesmo em julgamento diante de Deus e de todo o povo. Creio que seja por causa das acusações que Israel faz ou insinua contra ele no capítulo 8, e que eles consideram ser motivo suficiente para sua substituição por um rei. Em vez de ficar constrangido pelas acusações, Samuel as expõe publicamente, desafiando quem quer que seja a acusá-lo de má conduta, especialmente em relação a seus deveres oficiais.
Várias alegações são feitas no capítulo 8, as quais são consideradas por Samuel em nosso texto. A primeira coisa que Samuel diz ao povo é que ele os ouviu e lhes concedeu o que pediram. Não espere isto de um rei. Samuel não foi insensível aos seus desejos, nem indiferente. Segundo, ele chama a atenção para a sua idade, dizendo-lhes que está “velho e cheio de cãs”. No capítulo 8 eles insinuaram que ele estava velho demais para desempenhar suas tarefas de julgar a nação. Que conclusão absurda! Será que a idade é de alguma forma incompatível com a habilidade de julgar sabiamente? Dê uma olhada na Suprema Corte dos Estados Unidos. Será que é melhor ter uma corte cheia de jovens recém saídos do colégio ou da Faculdade, ou com pessoas que tenham sido amadurecidas por anos de experiência? Samuel não está velho demais para desempenhar seu chamado como juiz. Ele ainda continuará a servir este povo por algum tempo. Ele não está com o “pé na cova”.
O ministério de Samuel é público, e seus filhos estão lá entre os israelitas. Sua integridade e generosidade devem ser visíveis, assim como seus defeitos. No capítulo 8, os israelitas chamam a atenção para a conduta dos filhos de Samuel. Eles os acusam de não “andar nos caminhos de seu pai” (ver 8:5), e as acusações são verdadeiras (ver 8:1-3). A questão é se Samuel lidou com seus filhos da maneira como deveria. Tudo indica que ele não tem culpa, ao contrário de seu predecessor, Eli.
Se Samuel não tem culpa quanto à sua família, será que ele tem culpa quanto ao seu ministério? Será que Samuel de alguma forma falha em serviço, para que os israelitas peçam sua demissão e substituição por um rei? A resposta é muito clara “não!” Samuel afirma sua inocência e integridade no ministério sob três aspectos. Primeiro, ele não defraudou ninguém. Ele não cometeu nenhuma injustiça para que as pessoas fossem defraudadas devido à distorção ou abuso no processo judicial. Segundo, ao contrário de seus filhos, ele não recebeu suborno para distorcer a justiça em seus julgamentos (ver 8:3). Terceiro, ele garante que não oprimiu ninguém. Ele não abusa de seu poder para oprimir aqueles a quem julga. Ele é “servo”, não “senhor”. Finalmente, Samuel não “tomou o boi ou o jumento de ninguém”. Não creio que ele esteja falando sobre furto. Creio que ele queira dizer que não tomou bois ou jumentos como os reis farão:
“Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu trabalho.” (I Sam. 8:16)
Como o apóstolo Paulo, Samuel não cobra por seu ministério. Certamente ele vive de sua porção dos sacrifícios, mas não cobra um alto preço por isto. Seus encargos, com toda a certeza, não são tão dispendiosos quanto serão os encargos do rei.
Se Samuel “não é culpado” das acusações feitas pelos israelitas contra ele, então, por inferência, Israel deve ser culpado por fazer acusações infundadas. Os cinco primeiros versos do capítulo 12 demonstram que Samuel é qualificado para julgar Israel e, desta forma, qualificado para julgar o caso de Deus contra eles nos versos seguintes. Samuel é inocente, conseqüentemente, Israel procura injustamente sua destituição. Samuel é inocente, por isso, pode chamar esta nação rebelde a prestar contas de seu pecado contra ele e contra Deus.
Uma Lição da História de Israel
(12:6-11)
“Então, disse Samuel ao povo: Testemunha é o SENHOR, que escolheu a Moisés e a Arão e tirou vossos pais da terra do Egito. Agora, pois, ponde-vos aqui, e pleitearei convosco perante o SENHOR, relativamente a todos os seus atos de justiça que fez a vós outros e a vossos pais. Havendo entrado Jacó no Egito, clamaram vossos pais ao SENHOR, e o SENHOR enviou a Moisés e a Arão, que os tiraram do Egito e os fizeram habitar neste lugar. Porém esqueceram-se do SENHOR, seu Deus; então, os entregou nas mãos de Sísera, comandante do exército de Hazor, e nas mãos dos filisteus, e nas mãos do rei de Moabe, que pelejaram contra eles. E clamaram ao SENHOR e disseram: Pecamos, pois deixamos o SENHOR e servimos aos baalins e astarotes; agora, pois, livra-nos das mãos de nossos inimigos, e te serviremos. O SENHOR enviou a Jerubaal, e a Baraque, e a Jefté, e a Samuel; e vos livrou das mãos de vossos inimigos em redor, e habitastes em segurança.”
Aqui vemos outro exemplo de “pensamento histórico” na Bíblia. Samuel leva os israelitas de volta ao início do “reino”, o qual foi estabelecido por Deus no êxodo, e traça brevemente sua história até o presente. Seu objetivo é demonstrar que sua exigência em ter um rei como as demais nações nada mais é senão outro caso de rebelião contra Deus - como a rebelião característica de seus antepassados.
A história de Israel como reino começa no êxodo. A primeira coisa enfatizada por Samuel aos israelitas de seus dias é que, em última análise, não foram Moisés e Arão quem os libertou do cativeiro egípcio - foi Deus (verso 7). Foi Deus quem “designou Moisés”, e foi Deus quem “tirou seus pais da terra do Egito”. Desde o princípio, nunca foram os homens - nem mesmo os grandes homens como Moisés - que libertaram Israel, foi Deus. Deus levanta líderes e Deus liberta Seu povo. Deus usa os homens, é verdade, mas os homens não salvam o povo de Deus.
Com base nesta verdade central – de que foi Deus o libertador de Israel e não os homens - Samuel convoca os israelitas a se colocarem diante do Senhor (verso 7). Os israelitas estão sob julgamento e Samuel é o promotor. A História é a primeira testemunha contra Israel. A história de Israel não é sobre sua retidão e as bênçãos recebidas; a história de Israel é sobre os feitos justos de Deus, realizados em seu benefício, sempre num contexto de pecado de Israel. Foi a justiça de Deus que libertou os antepassados daqueles israelitas que estão diante de Samuel em Gilgal.
Brevemente, Samuel delineia a história de Israel desde o dia do nascimento da nação no êxodo até o presente momento, quando Israel tem o rei exigido. Citando ilustrações dos principais períodos (o êxodo e a peregrinação de Israel no deserto, a posse da terra sob Josué e o período dos juízes, terminando com Samuel), Samuel procura demonstrar um padrão constante no comportamento de Israel, e no trato de Deus com Seu povo. Embora Deus dê graciosamente a Seu povo a libertação de seus inimigos, Israel se esquece de Deus e se volta para outros deuses. Deus entrega a nação a seus vizinhos, que são inimigos de Israel e que oprimem e afligem o povo de Deus. Os israelitas, então, reconhecem seu pecado e clamam a Ele por libertação, o que Ele graciosamente concede. Eles reconhecem sua idolatria e a abandonam, prometendo servir a Deus se Ele os livrar novamente.
A Lição da História e da Exigência de Israel por um Rei
(12:12-18a)
“Vendo vós que Naás, rei dos filhos de Amom, vinha contra vós outros, me dissestes: Não! Mas reinará sobre nós um rei; ao passo que o SENHOR, vosso Deus, era o vosso rei. Agora, pois, eis aí o rei que elegestes e que pedistes; e eis que o SENHOR vos deu um rei. Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e lhe atenderdes à voz, e não lhe fordes rebeldes ao mandado, e seguirdes o SENHOR, vosso Deus, tanto vós como o vosso rei que governa sobre vós, bem será. Se, porém, não derdes ouvidos à voz do SENHOR, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do SENHOR será contra vós outros, como o foi contra vossos pais. Ponde-vos também, agora, aqui e vede esta grande coisa que o SENHOR fará diante dos vossos olhos. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao SENHOR, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o SENHOR, pedindo para vós outros um rei. Então, invocou Samuel ao SENHOR, e o SENHOR deu trovões e chuva naquele dia...”
No verso 12, Samuel relaciona a história que acaba de contar com o tempo presente. Como os antigos israelitas, o povo de Deus uma vez mais está sendo oprimido por uma nação vizinha. Desta vez Naás lidera os amonitas. A reação dos israelitas da época de Samuel à ameaça dos amonitas não é como a reação descrita por ele nos versos anteriores. Quando oprimidos por seus inimigos, os israelitas dos tempos passados viam sua situação à luz da Aliança Mosaica, especialmente à luz de Deuteronômio 28-32. Eles compreendiam que a opressão sofrida às mãos de seus inimigos era devido ao seu pecado. Os antigos israelitas se arrependiam de seus pecados e clamavam a Deus por libertação. Não é assim com estes que estão diante de Samuel em Gilgal. Este pessoal não reconhece que a razão de suas tribulações é o pecado. Eles atribuem seus problemas à “má liderança”, especificamente à “má liderança” de Samuel e seus filhos. Sua solução não é se arrepender de seus pecados e clamar a Deus por libertação; sua solução é se livrar de Samuel e conseguir um rei exatamente como o de outras nações.
Quando Samuel fala sobre Naás e os amonitas no verso 12, ele mostra a verdadeira razão dos israelitas quererem um rei. Eles não reconhecem seu pecado, nem confiam em Deus para libertá-los. Não é que Samuel realmente esteja tão velho, velho demais para continuar julgando. Não é que realmente seus filhos sejam corruptos. É que os israelitas estão com medo da ameaça feita pelo inimigo e não reconhecem que a raiz do problema seja seu próprio pecado. Eles jogam a culpa na má liderança, e por isso se sentem justificados em ter um rei que querem de qualquer jeito.
Anos atrás, dei aulas numa prisão de segurança média que possibilitava aos internos obter seu diploma do segundo grau. Um dia, surgiu o assunto da teoria da evolução, e mostrei que creio na criação, não na evolução. Jamais me esquecerei do que disse um dos internos: “Vou lhe dizer por que acredito na evolução”, disse ele com ousadia, “é porque não acredito em Deus”. Receio que os israelitas dos dias de Samuel fossem como este sujeito. Repare no “não” do começo de sua resposta a Samuel no verso 12. Eles não querem a liberdade do jeito de Deus; querem do seu jeito. Eles realmente querem a liberdade, mas de um jeito que exclua a Deus. Não é de admirar que Deus diga a Samuel que o povo não rejeitou a ele e sim a Deus.
A despeito do pecado de Israel em pedir um rei, Deus é gracioso para com Seu povo, mostrando-lhes “uma saída” nos versos 13-15 (ver I Co. 10:13). A primeira coisa que Samuel diz ao povo sobre este rei é que ele é seu rei, não Seu rei. Este rei é aquele que eles escolheram, que eles pediram (verso 13). Deus lhes dá este rei, mas ele é seu rei. Os versos 14 e 15 devem dar muito que pensar aos israelitas. Será que eles consideram que este rei seja seu libertador? Será que eles põem toda a sua confiança neste homem, ou em qualquer outro (simples) homem? Se for assim, as palavras de Samuel devem ser um choque.
Parece que os israelitas dos dias de Samuel têm a mesma visão de liderança que é tão popular hoje em dia, ou seja:
“Tal líder, tal nação”.
Há certa verdade nisto. Reis corruptos geralmente tendem a levar a nação ao pecado. Líderes justos tendem a levar a nação a praticar a justiça. Mas aqui Samuel está dizendo uma coisa bem diferente. Será que os israelitas estão vendo seu rei como um “deus”, alguém que eles pensam que será seu salvador? Será que eles pensam ter o homem certo para lhes garantir a vitória militar sobre seus inimigos, trazendo paz e prosperidade? Samuel parece dizer que a obediência da nação aos mandamentos do Senhor é que é a chave para a paz e prosperidade nacional - não as proezas de seu líder. Se o povo “temer ao SENHOR, e o servir, e lhe atender à voz, e não lhe for rebelde ao mandado, e seguir o SENHOR, seu Deus, tanto eles (literalmente “vocês”) como o seu rei que governa sobre eles, bem será. (verso 14)
O rei não é a chave para o sucesso de Israel. A chave é Israel confiar em Deus e obedecê-Lo. Uma nação ímpia terá um rei ímpio. Uma nação justa terá um rei justo. Absolutamente nada mudou com a designação de um rei sobre Israel. O princípio dominante ainda é a Aliança Mosaica, resumida em Deuteronômio 28-32. Israel será abençoado enquanto confiar em Deus e obedecer aos Seus mandamentos e, da mesma forma, será amaldiçoado por se afastar de Deus e de Suas leis. Se a nação confiar em Deus e obedecê-Lo, Israel terá um rei justo e provará as bênçãos prometidas. Se a nação se afastar de Deus, seu rei certamente não a salvará do julgamento divino. As condições de Deus para Suas bênçãos são as mesmas que eles sempre tiveram e ter um rei não mudará nada. Deus não abdicou de ser o rei de Israel. Sua aliança ainda é a constituição do país.
No auge do sucesso de Israel sob a liderança de seu novo rei, Deus põe os pingos nos is. A mesma aliança, a Aliança Mosaica, ainda rege os tratos de Deus com Seu povo. Samuel informa aos israelitas a gravidade de seu pecado em pedir um rei como fizeram. Ainda assim, suas palavras não causam o efeito desejado; por isso, ele ressalta a seriedade de seu pecado à vista de Deus invocando a disciplina divina. De certo modo, mais ou menos como Elias, Samuel anuncia o julgamento divino como indicação da seriedade do pecado de Israel em pedir um rei. Ele deixa claro que o juízo virá em relação à colheita do trigo, que é iminente. Embora não seja época de tempestade ou chuva de granizo, em resposta à oração de Samuel, um grande temporal desaba sobre o país. Esta questão do rei é muito séria para Deus, e agora também para Seu povo.
O temporal faz o povo se lembrar de que Samuel é profeta de Deus, e que rejeitá-lo não é uma boa idéia. O temporal dá grande ênfase às palavras de Samuel, as quais mostram que a exigência por um rei é pecado. Talvez, mais do que qualquer outra coisa, isto faça Israel se lembrar de uma verdade muito importante: tanto a calamidade quanto a bênção vêm de Deus:
“Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Isaías 45:5-7, ênfase minha)
Os israelitas consideram seu rei como seu libertador. Na cabeça deles, este rei é a chave para o sucesso. Eles acreditam que ele os livrará de seus opressores e que levará a nação à prosperidade. Basicamente, Deus faz Israel se lembrar de que Ele é tanto a fonte de seu sofrimento, quanto de suas bênçãos. A calamidade vem sobre a nação por causa do seu pecado. As bênçãos não vêm sobre a nação devido à sua justiça, mas por causa da graça e da misericórdia de Deus. Sua prosperidade não é porque Israel faz o bem, mas porque quando está sofrendo, ele clama a Deus por libertação. A devoção de Israel a Deus e seu serviço a Ele são frutos da graça de Deus, não a fonte de Suas bênçãos. Em nosso texto esta verdade é claramente transmitida.
Maravilhosas Palavras de Vida
(12:18b -25)
“... pelo que todo o povo temeu em grande maneira ao SENHOR e a Samuel. Todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao SENHOR, teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei. Então, disse Samuel ao povo: Não temais; tendes cometido todo este mal; no entanto, não vos desvieis de seguir o SENHOR, mas servi ao SENHOR de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são. Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo. Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei.”
Os israelitas investiram demais no novo rei e as palavras e atitudes de Samuel colocam as coisas no lugar certo. Em conseqüência de sua pregação - e, especialmente, do temporal - o povo “...temeu em grande maneira ao SENHOR e a Samuel” (verso 18b). É assim que deve ser. Embora não seja dito expressamente, creio que podemos deduzir que a opinião do povo sobre o rei diminui, enquanto seu conceito sobre Samuel e Deus aumenta. Agora, o povo está começando a compreender a enormidade de seu pecado, especialmente o pecado de exigir um rei. Parece que eles temem mais disciplina. Eles rogam a Samuel que ore por eles. As palavras de Samuel em resposta ao seu pedido são realmente “maravilhosas palavras de vida”. Vamos destacar alguns elementos neste parágrafo.
Primeiro, repare que o povo não olha para o rei para ser liberto, mas para Samuel. Agora os israelitas reconhecem que seu principal problema não é a “liderança” política, mas o pecado. Eles entendem perfeitamente que merecem a ira de Deus. Eles sabem que a libertação de que mais precisam não é a de seus vizinhos, mas da justa ira do Deus que eles rejeitaram. Eles sabem que não são dignos da libertação e sentem a necessidade de um intercessor. Por isso, suplicam a Samuel que ore por eles ao Senhor (verso 19).
Segundo, observe que Samuel estimula o povo de Israel a confiar em Deus em vez de confiar nos homens. Suas palavras são cheias de misericórdia, graça e esperança. Sua mensagem não é a das ”uvas azedas” por ter sido rejeitado pelo povo. Ele lhes diz para não temer. O temor que ele procura afastar não é aquele temor saudável de Deus, mas o temor doentio da desesperança, um temor que poderia levar ao desespero. Os israelitas parecem estar a ponto de concluir que seu fracasso tenha sido tão grande que não haja nenhuma esperança de restauração. Sem diminuir a gravidade do pecado, Samuel lhes dá boas razões para ter fé, esperança e paciência. Eles não devem “se desviar de seguir o SENHOR” (verso 20), mas, com toda certeza, deixar de seguir as “coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco podem livrar” (verso 21). A libertação de Israel de seus pecados, e sua esperança para o futuro, requer que o povo pare de adorar e servir seus ídolos para adorar e servir somente a Deus. Especificamente, a ”coisa vã que não beneficia ou liberta Israel” é um rei em quem confiem e sirvam em lugar de Deus. Ter um rei, em si mesmo, não é errado. O que é errado é confiar em qualquer homem para salvação e libertação da culpa pelo pecado. Somente Deus pode verdadeiramente salvar e libertar.
Terceiro, a salvação de Israel não se fundamenta na sua fidelidade ou nas suas boas obras, mas na graça de Deus. Em lugar algum Samuel incentiva Israel a “se esforçar mais” ou a fazer o bem para receber as bênçãos de Deus. Samuel lhes diz para confiar em Deus, cuja fidelidade é a base para sua esperança e salvação. A obediência de Israel e seu serviço a Deus são considerados como conseqüências da graça de Deus, não a sua causa.
“Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez.” (I Sam; 12:24)
Quando Samuel recapitula a história da nação desde o êxodo até seus dias, ele enfatiza de forma consistente os pecados dos israelitas e a graça e misericórdia de Deus. Jamais Samuel fala da salvação de Deus como resposta às boas obras de Seu povo. Deus vem em socorro de Seu povo pecador porque eles “clamam” (12:8, 10) a Ele por libertação, não porque sejam dignos disso. Deus os salva por Sua graça.
Este é um ponto importante que deve ser muito bem esclarecido e enfatizado à luz da Aliança Mosaica. Samuel deixa claro neste capítulo que ter um rei não muda as bases do trato de Deus com Seu povo. A Aliança Mosaica fala das bênçãos e maldições condicionais de Deus (ver Levítico 26; Deuteronômio 28-32). Nesta aliança, muito menor ênfase é dada às promessas de bênçãos por obediência às leis de Deus do que às promessas de maldição por desobediência. Há uma boa razão para isto, como Paulo mostra em Romanos 3:
“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”
A Lei de Moisés (portanto, a Aliança Mosaica) jamais foi dada aos homens como meio de salvação. Ela, sem dúvida, foi um recurso de Deus para mostrar a pecaminosidade do homem. A Lei condena todos os homens como pecadores, dignos da ira eterna de Deus. Cumprir a Lei não salva o homem, pois nenhum homem jamais conseguiu cumprir toda a Lei. Quando Samuel fala da Aliança Mosaica aos israelitas, ele o faz para mostrar que o julgamento de Deus (entregando-os à opressão de seus vizinhos) é devido ao seu fracasso em cumprir Sua lei. Mas, quando fala da esperança de Israel, Samuel não incentiva o povo a tentar ganhar as bênçãos de Deus cumprindo Sua Lei. Antes, eles os incentiva a confiar na graça e misericórdia de Deus, que os escolheu como Seu povo e que lhes trará salvação para a Sua glória.
Eis o fundamento para a esperança, confiança e serviço de Deus. A Sua fidelidade:
“Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo.” (12:22)
Antes mesmo que o Senhor desse a Lei aos israelitas, eles já tinham se afastado Dele e de Moisés, como vemos em Êxodo 32. Como Samuel, Moisés intercedeu por eles. Ele não apelou para Deus com base em que povo se esforçasse mais, que guardasse Sua Lei. Ele apelou para Deus com base no Seu caráter e na Sua natureza. Deus escolhera esta nação, e propusera e prometera levá-los à Terra Prometida. Sua reputação e Sua glória estavam em jogo no destino de Israel. Por isso, podemos confiar que Deus termina aquilo que começa - não por causa daquilo que somos - mas por causa de quem Ele é. A Lei pode apenas mostrar que os homens são pecadores, dignos do juízo divino. É a graça que salva e santifica. É a graça que capacita e dá fé e obediência. E é a graça, a graça de Deus, que Samuel proclama a este povo cheio de culpa, garantindo-lhes que a salvação de Deus é certa por causa de quem Ele é.
Esta salvação é pela graça - para aqueles que pela Sua graça “temem o Senhor e O servem de todo coração”, com base em “tudo aquilo que Deus fez por eles” (verso 24). Mas, para aqueles que rejeitam esta graça, o juízo divino é tão certo quanto a salvação:
“Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei.” (verso 24)
Se o povo rejeitar a graça de Deus e seguir seus próprios caminhos, eles serão levados para o cativeiro prometido na Aliança Mosaica (ver Levítico 26:33-39; Deuteronômio 28:63-68).
Se Deus é gracioso e fiel em Sua aliança com Israel, Samuel também é. O povo agora lhe pede para interceder por eles junto a Deus, apesar de terem rejeitado sua liderança sobre eles. Como Deus, Samuel age graciosamente e de acordo com seu caráter. Ele garante ao povo que não pecará contra Deus deixando de orar por eles e de ensiná-los “o caminho bom e direito” (verso 23). Como no Novo Testamento, “orar e ministrar a Palavra” (ver Atos 6:4) são prioridades para os líderes espirituais. Samuel não tem nenhuma intenção de pecar contra Deus abandonando seu ministério.
Conclusão
Nosso texto tem muita coisa a dizer aos homens de nossa época, exatamente como tem dito aos homens de todas as épocas. Uma das coisas que ele nos ensina é a termos cuidado para não secularizar o pecado. Os israelitas dos dias de Samuel não conseguem entender que seus problemas (a opressão que sofrem das nações vizinhas) são de origem divina, e que a disciplina divina é conseqüência (e correção) de seus pecados. Eles vêem sua sujeição aos governos estrangeiros como conseqüência de uma liderança inadequada. Deus mostra que o verdadeiro problema é o pecado. Receio que façamos a mesma coisa. Definimos um problema resultante de pecado em termos seculares e depois buscamos uma solução secular.
A igreja de Jesus Cristo está quase acostumada a definir o pecado em termos seculares e a procurar a solução por meios humanos. Quando a igreja trata de suas finanças, busca os mesmos métodos e os mesmos homens que levantam grandes somas de dinheiro para causas seculares. Quando a igreja trata de sua organização e estrutura, busca os mesmos modelos seculares empregados por grandes corporações. Quando a igreja se propõe a evangelizar, busca a mesma estratégia de marketing usada pela Madison Avenue para vender sabonete e creme de barbear. E quando a igreja procura solucionar problemas particulares e pessoais busca terminologia e metodologia psicológica secular. Quando definimos o “pecado” em termos seculares e buscamos sua solução por meios seculares nos metemos numa grande encrenca.
Que grande comentário temos neste texto sobre o caráter de Deus e de Seu servo, Samuel. Não é de admirar que a rejeição a Samuel seja rejeição a Deus. Nem é de se estranhar que a fidelidade de Deus ao povo de Israel tenha seu paralelo na fidelidade de Samuel em ministrar a este povo. O caráter de Samuel é como o caráter de Deus e sua origem está em Deus. Que Deus gracioso nós temos, que nos disciplina quando pecamos, a fim de que nos voltemos novamente para Ele em fé, obediência, amor e gratidão.
Nosso texto fala sobre liderança e sobre como algumas pessoas idolatram seus líderes. A liderança é de vital importância, seja na vida de uma nação, seja na família ou na igreja. Líderes piedosos são exemplos (ver I Timóteo 3, Tito 1, Efésios 5:22-23). No entanto, os líderes sempre correm certo perigo. Deus é o nosso supremo e derradeiro líder; Ele é tudo. Satanás jamais ficará satisfeito com seu papel. Ele quer mais. Ele quer ser “como Deus”, para estar na posição que somente Deus é digno de estar. Alguns cristãos elevam seus líderes acima dos padrões adequados. Erroneamente podemos “idolatrar” nossos líderes e colocar neles a nossa fé em vez de colocá-la em Deus. Foi isto que os israelitas fizeram com Saul, e é por isso que o pecado de Israel é tratado em termos tão dramáticos. Este é um perigo que está sempre diante de nós. Que jamais demos aos homens aquilo que pertence somente a Deus. Que jamais pensemos que “um homem” possa nos salvar e que o nosso futuro ou o futuro de nossa igreja ou de nosso país dependam de um homem. É deveras importante que nos lembremos disto nas eleições presidenciais. Os homens jamais devem ser idolatrados. Deus é a fonte suprema de nossas provações, tribulações e correção, e Deus é a fonte suprema de nossa salvação e bênção. Na melhor das hipóteses, os homens são apenas instrumentos de Deus.
Nosso texto fica como uma palavra de alerta para aqueles que parecem ser bem sucedidos. Certamente o texto coloca o aparente “sucesso” de Saul dentro da perspectiva correta. O povo fica radiante após a vitória sobre os amonitas, mas tende a considerar seu “sucesso” como conseqüência da liderança de Saul. Na verdade, este livramento, como todos os demais antes dele, é reflexo da graça de Deus, não evidência de uma liderança magnífica. Aqueles que parecem ser bem sucedidos devem tomar cuidado com sua definição de sucesso, assegurando-se de atribuir todo sucesso humano à graça divina, não à habilidade e sabedoria humana.
Nosso texto mostra uma palavra de esperança e encorajamento para aqueles que são arruinados por seus pecados e deixam de viver de acordo com os padrões de Deus. Muitos pensam que fracassaram de forma irreversível, que não haja nenhuma esperança de futuro para eles, e por isso ficam tentados a abandonar sua vida cristã. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23). Pelos padrões de Deus, nenhum homem é bem sucedido, todos falham e merecem a ira eterna de Deus. Nossa esperança de salvação não se baseia em nosso desempenho, mas na graça de Deus. Enfim, não somos nós que escolhemos a Ele, é Ele quem nos escolhe, a fidelidade não é nossa, é Dele. Deus é fiel. Deus é misericordioso. Deus é gracioso. Deus é a nossa salvação. Jesus Cristo não veio ministrar para os justos, mas para salvar pecadores. Que todos aqueles que conhecem suas falhas pensem nesta maravilha.
Este texto fala sobre salvação. Os israelitas dos dias de Samuel confiam em Saul (seu rei) para sua salvação, sua libertação. Eles consideram a salvação em termos militares e monetários, não em termos espirituais. Nosso texto nos diz que nenhum “rei” humano pode salvar ou libertar os homens de seus pecados. O que o “rei” de Israel não pode fazer o “Rei” de Deus já fez - a salvação para os homens pecaminosos que clamam por Sua graça. Todos os “reis” de Israel falharam, mesmos os melhores - Davi, Salomão e outros. Os israelitas são tentados a tomar um homem, nomeá-lo como rei e confiar nele como seu deus. Esse rei não pode salvar. Mas Deus enviou o Seu próprio Filho, Jesus Cristo, para ser o “Rei dos Judeus”, para todos os que crêem Nele. Deus (a segunda pessoa da Trindade) Se fez homem, vindo a primeira vez para viver uma vida perfeita, morrer pelos pecados dos homens e ser ressuscitado dos mortos e ascender aos céus. Este, Jesus Cristo, é o Rei de Deus. Ele veio para salvar os homens de seus pecados e em breve voltará para estabelecer Seu reino. Ele é a nossa esperança! Ele é a nossa salvação! Aquilo que um rei dos homens jamais poderia fazer, o Rei de Deus já realizou.
Você não tem que ser bom o bastante para Deus salvá-lo. Você já é ruim o suficiente para estar qualificado para a Sua graça. Se você ainda não reconheceu seu pecado como seu maior problema, como algo que merece a ira eterna de Deus, eu recomendo que o faça agora. E, quando reconhecer seu pecado, confie Naquele que veio para suportar a penalidade de seu pecado, Jesus Cristo. Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Ele ressuscitou dos mortos e está assentado à destra de Deus nos céus. Em breve Ele virá para abençoar Seus santos e derrotar Seus inimigos. Olhe para este Rei e só para Ele para a salvação de seus pecados, e para a esperança de viver para sempre em Seu reino.
9. Saul Sacrifica Seu Reino (I Samuel 13:1-14)
Introdução
Um grande amigo meu e sua esposa decidiram que era hora de vender seu carro antigo e comprar uma minivan nova. Embora o carro antigo lhes servisse muito bem, precisava cada vez mais de reparos. Craig e Grace conversaram muito sobre as vantagens e desvantagens de comprar um novo carro em vez de um usado, decidindo, finalmente, que um carro novo seria melhor. Mesmo concordando que isto aumentaria um pouco seu orçamento, eles cuidariam bem do carro e ele duraria muito tempo. Com menos de 10.000 milhas, a correia de transmissão da minivan quebrou - aquela por onde passa praticamente tudo, da direção hidráulica ao alternador e à bomba d’água. O carro superaqueceu e, mesmo depois que a correia foi trocada, Craig e Grace ainda passaram maus bocados. Depois, quando estavam caminho de casa após um picnic da igreja, desabou um súbito temporal, atingindo o carro com pedras de granizo. Mais incrível ainda, a caminho do centro da cidade, alguém bateu na traseira do carro. Depois destes desastres, Craig confessou, meio irônico: “Nem mesmo lavamos o carro.”
Algumas coisas começam muito bem - e então, de repente, terminam em desastre. Com certeza, foi o que aconteceu a meu amigo, Craig. Durante algum tempo aquela minivan brilhante, reluzente e mecanicamente perfeita foi muito legal, até que graves problemas começaram a surgir. Quando vejo nosso texto, o reinado de Saul me faz lembrar daquela experiência com o carro novo. Seu reinado começa muito bem, vitorioso. Após sua escolha e indicação, ele lidera os israelitas numa impressionante vitória sobre os amonitas (I Sam. 11). Então, no auge da euforia, o povo é trazido de volta à realidade pela dolorosa reprimenda de Samuel no capítulo 12, ratificada pelo próprio Deus, que provoca uma tempestade devastadora no exato momento em que o trigo está pronto para a colheita. Agora, ainda no capítulo 13 de I Samuel, chegamos a um incidente que custa à descendência de Saul a esperança de governar para sempre em lugar de seu pai.
Se formos realmente honestos conosco e com nosso texto, precisamos admitir que a atitude de Saul não parece tão ruim assim. Aparentemente, parece que Samuel está atrasado e que a sobrevivência de Saul e da nação é incerta, a menos que alguém faça alguma coisa bem depressa, e que Saul, com certeza, parece ser o homem para tal. O que há de tão errado com a atitude de Saul, dada a demora de Samuel e a ameaça dos filisteus? Deus, no entanto, leva as ações e atitudes de Saul muito a sério, e nós também devemos levar. Ao estudarmos este texto, procuraremos entender porque isto é tão ruim aos olhos de Deus e averiguar o que aconteceu com Saul. Vamos ainda procurar aprender e aplicar os princípios e as lições que nosso texto traz aos cristãos, pois o pecado de Saul é importante o suficiente para lhe custar o reino, e a seus descendentes, para sempre.
Um Problema Numérico
Os estudiosos da Bíblia apontam vários problemas em relação aos números de nosso texto. Os dois primeiros são encontrados no verso um que, literalmente, diz:
Saul {é} filho de um ano em seu reinado, sim, dois anos ele reinou sobre Israel (Tradução Literal de Young).
Retirando as palavras em itálico (adicionais) da versão NASB, o verso diz:
Saul tinha ... anos quando começou a reinar, e reinou ... dois anos sobre Israel.
Obviamente, temos aqui um problema. Creio que a melhor solução é tirar o máximo sentido das palavras que temos, em vez tentar decidir quais delas aplicar para dar sentido ao texto. A nova versão King James parece fazer isto da melhor forma possível:
Saul reinou um ano, e quando reinara dois anos sobre Israel, Saul escolheu para si 3.000 homens de Israel... (13:1-2a).
Alguns alegam haver um problema numérico no verso 5, onde lemos que 30.000 carros filisteus são despachados para Israel para pelejar contra os israelitas, junto com 6.000 cavaleiros e um exército de soldados a pé como as areias à beira-mar. Eles acham que 30.000 seja um número grande demais, indicando que o termo para 30.000 é muito parecido com o termo para 3.000, sugerindo que 3.000 talvez seja um número mais razoável. Eles também apontam que, tendo em vista haver muito mais carros do que “condutores”, o número deve estar errado. Gosto da maneira como a versão NASB trabalha com isto. Os 6.000 não são “condutores”, mas “cavaleiros”. Embora 30.000 seja um número bastante grande, não é um número impossível, e devemos aceitar o texto como ele se apresenta. O autor está tentando impressionar o leitor com a impossibilidade da situação do ponto de vista dos israelitas. Os números fornecidos são coerentes com o sentido de desesperança que o autor descreve.
Outro Problema:
A Presença dos Filisteus
Devo confessar que enquanto leio I Samuel fica difícil entender exatamente o que está acontecendo. Os filisteus estão por toda parte em Israel. Sabemos por I Samuel 4:9 que os israelitas são, em certo sentido, escravos dos filisteus. No capítulo 4, os filisteus prevalecem sobre eles na guerra, mesmo os israelitas levando consigo a Arca de Deus. No capítulo 10, quando Saul é informado por Samuel que ele é o escolhido de Deus como rei de Israel, ele profetiza numa cidade israelita - que é também um posto avançado dos filisteus (10:5). Apesar disto, o capítulo 11 fala sobre o ataque dos amonitas e a grande vitória israelita. Como os israelitas podem se reunir para a guerra quando seu território está ocupado pelas tropas filistéias? E como Saul mantém um exército permanente de 3.000 homens sem nenhum protesto dos filisteus?
Creio que estou começando a entender um pouco melhor a situação. Em primeiro lugar, devemos nos lembrar que a nação de Israel é cercada de terra por todos os lados, e que esta terra está dividida entre diversos reinos:
“Tendo Saul assumido o reinado de Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, os filhos de Amom e Edom; contra os reis de Zobá e os filisteus; e, para onde quer que se voltava, era vitorioso. Houve-se varonilmente, e feriu os amalequitas, e libertou a Israel das mãos dos que o saqueavam.” (I Sam. 14:47-48)
Os filisteus habitam na Filistia, que fica na costa do Mediterrâneo, ao sul e a oeste de Israel. A batalha que eles travam no capítulo 4 é na fronteira ocidental de Israel, como seria de se esperar. A arca é levada para a Filistia e depois devolvida para a cidade de Bete-Semes, que fica junto à fronteira israelita-filistéia. No entanto, os amonitas estão localizados do outro lado do rio Jordão, a leste de Israel. O ataque à cidade de Jabes-Gileade é a noroeste de Israel, a aproximadamente 20 milhas da fronteira de Amom, e longe da Filistia, que fica do lado oposto de Israel.
Não creio que os filisteus pretendam ou desejem destruir totalmente os israelitas, mas apenas mantê-los sob jugo. Afinal, os israelitas estão prestes a comerciar sua tecnologia, especialmente nas coisas feitas de ferro (ver 13:19-23). Israel também pode servir como escudo entre os filisteus e outras nações mais agressivas. Quando os israelitas se juntam para lutar contra os amonitas, parece que isto é de grande interesse para os filisteus. Se os israelitas forem enfraquecidos pela guerra não serão ameaça para eles. E, se eles vencerem os amonitas, os filisteus terão um domínio ainda maior, pois os israelitas ainda estão sob seu domínio. O fato de Saul manter uma pequena força de homens como exército permanente também não é nenhuma ameaça aos filisteus. O que um mísero exército de 3.000 homens pode fazer a uma nação cujas forças podem ser contadas como as areias à beira-mar? Sendo assim, Israel pode iniciar uma guerra contra os amonitas enquanto continua sob o domínio dos filisteus.
O Terror no Coração dos Israelitas e de seu Rei
(13:1-7)
“Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano de seu reinado sobre o povo, escolheu para si três mil homens de Israel; estavam com Saul dois mil em Micmás e na região montanhosa de Betel, e mil estavam com Jônatas em Gibeá de Benjamim; e despediu o resto do povo, cada um para sua casa. Jônatas derrotou a guarnição dos filisteus que estava em Gibeá, o que os filisteus ouviram; pelo que Saul fez tocar a trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam isso os hebreus. Todo o Israel ouviu dizer: Saul derrotou a guarnição dos filisteus, e também Israel se fez odioso aos filisteus. Então, o povo foi convocado para junto de Saul, em Gilgal. Reuniram-se os filisteus para pelejar contra Israel: trinta mil carros, e seis mil cavaleiros, e povo em multidão como a areia que está à beira-mar; e subiram e se acamparam em Micmás, ao oriente de Bete-Áven. Vendo, pois, os homens de Israel que estavam em apuros (porque o povo estava apertado), esconderam-se pelas cavernas, e pelos buracos, e pelos penhascos, e pelos túmulos, e pelas cisternas. Também alguns dos hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade; e o povo que permaneceu com Saul, estando este ainda em Gilgal, se encheu de temor.”
O reinado de Saul em Israel começa com grande alarde. Sob sua liderança, Deus livra muitos israelitas da rendição humilhante a Naás, líder do exército amonita, que ameaçava os habitantes da cidade de Jabes-Gileade. Para tanto, um exército voluntário de 330.000 israelitas é convocado (11:8). Após a vitória, os voluntários retornam às suas casas e Saul fica com um pequeno exército permanente de 3.000 homens.
Por que Saul mantém um exército tão pequeno? O texto não nos diz, mas parece que podemos deduzir que um exército de 3.000 homens seria tolerado pelos filisteus, enquanto um exército maior, não. Saul mantém estes homens porque é o tanto que ele pode manter sem precipitar a ira e a reação dos filisteus. Saul também não parece disposto a “tumultuar as águas” mantendo muitos soldados na ativa ou tomando qualquer atitude a respeito da guarnição(ões?) dos filisteus acampada em Israel.
Jônatas muda tudo, sem o consentimento ou permissão de seu pai. Saul dividiu suas tropas. Ele mantém 2.000 homens com ele em Micmás e na região montanhosa da Judéia; os 1.000 restantes são colocados sob o comando de Jônatas em Gibeá. Desconhecemos as razões para Jônatas atacar a guarnição dos filisteus; só é dito que ele o faz. Pelo que já conhecemos de Jônatas, parece que suas ações são movidas pela fé. Afinal, Deus deu esta terra aos israelitas e os instruiu a expulsar os povos que habitam nela. A sujeição às nações estrangeiras é descrita em Levítico 26 e Deuteronômio 28 a 32, como castigo divino para a incredulidade e desobediência de Israel. O rei não deve facilitar a sujeição dos israelitas às nações circunvizinhas, mas deve ser usado por Deus para livrá-los de suas algemas (ver 14:47-48). Isto não ocorrerá a menos que os israelitas tomem uma atitude para remover aqueles que ocupam sua terra. Saul parece relutante e indisposto a “mexer no vespeiro”.
Jônatas não parece disposto a aceitar as coisas como estão, por isso lidera seus homens num ataque à guarnição dos filisteus em Geba, situada aproximadamente 6 milhas (?) ao norte de Jerusalém, a meio caminho entre Gibeá ao sul e Micmás ao norte. Esta cidade pode muito bem ser a mesma diante da qual Saul profetiza junto com outros profetas (ver 10:5, 10:13).
A reação dos filisteus a este ataque é previsível, fazendo com que nos perguntemos se Jônatas queria e esperava por isso. Deixe-me tentar descrever a reação dos filisteus em termos atuais. Há alguns anos atrás os Estados Unidos (junto com alguns aliados) atacou e derrotou as forças do Iraque que ocupavam o Kwait. Suponhamos que após esta vitória os Estados Unidos colocassem várias companhias de nossas tropas dentro da fronteira do Iraque, para garantir que não houvesse mais ataques ofensivos. Suponhamos então que Saddam Hussein lançasse um ataque com armas químicas a uma destas companhias americanas dentro do Iraque. Chegam à América notícias sobre centenas, talvez milhares, de mortos, e de muitos outros gravemente feridos. Como americanos, nos sentiríamos justificados em empregar uma ação militar maciça contra o Iraque.
Esta reação é muita parecida com a reação dos filisteus ao ataque de Jônatas contra a guarnição em Geba. Os filisteus derrotaram os israelitas tempos atrás e lhes deram considerável liberdade (até mesmo para iniciar uma guerra contra os amonitas). No entanto, eles ainda têm tropas em Israel, para prevenir qualquer tentativa de libertação da opressão de seu cativeiro. Quando Jônatas ataca esta guarnição, tal ação é vista como um ataque contra a Filistia, e como um terrível insulto. Conforme é dito em nosso texto: “e também Israel se fez odioso aos filisteus” (verso 4). Os filisteus estão vindo e estão doidos! Eles vão fazer Israel pagar por isso - eles pretendem fazer um estrago enorme em Israel. Eles vêm com 30.000 carros, 6.000 cavaleiros, e tantos soldados a pé quanto as areias à beira-mar. Eles se levantam contra Israel, acampando em Micmás, onde Saul recentemente acampara com seus soldados.
Parece que a reação de Saul ao ataque de Jônatas e à chegada dos filisteus é induzida pela necessidade. Em resumo, Saul parece não ter outra opção, a não ser tentar se defender do ataque dos filisteus. Tentando dar a melhor aparência possível à situação, ele faz soar a trombeta que reúne toda a nação uma vez mais para a batalha. A “chamada” de Saul poderia ser: “Saul ataca a guarnição dos filisteus”. De uma perspectiva administrativa, é claro, Jônatas está sob a autoridade de Saul; no entanto, parece que Saul não quer admitir sua passividade, enquanto Jônatas assume o controle da situação.
No capítulo 13, a situação parece ser totalmente diferente daquela descrita no capítulo 11. No capítulo 11, Saul está capacitado pelo Espírito Santo quando fica furioso e conclama energicamente todo o Israel para lutar contra os amonitas. Aqui não é dito que ele esteja capacitado pelo Espírito e, com certeza, não é nenhum pouco enérgico quando conclama a nação para a guerra. Os israelitas são convocados, mas parece que são bem menos que os 330.000 reunidos anteriormente. E aqueles que se apresentam estão hesitantes. Quando o tamanho do exército filisteu é conhecido, os israelitas ficam apavorados. O povo começa a desertar, escondendo-se em cavernas e moitas, penhascos, buracos e cisternas. Tal situação já ocorrera antes (ver Juízes 6:1-6), o que não torna esta situação mais tolerável.
Quando Saul procura juntar seu exército, ele convoca o povo para se reunir em Gilgal, segundo as instruções que Samuel lhe dera quando disse que ele seria rei de Israel.
“Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer.” (I Sam. 10:8)
As instruções de Samuel são muito específicas: Saul deve ir a Gilgal e esperar que ele chegue. Até lá serão 7 dias. Samuel oferecerá o holocausto e as ofertas pacíficas. Aí, então, dirá a Saul o que ele deve fazer.
Durante este período de espera, Saul, em agonia, observa seu exército se encolhendo, quando os soldados vão se evaporando de medo. Todos os dias, à medida que a situação fica cada vez mais perigosa, os soldados fogem, procurando se salvar. Alguns procuram se salvar atravessando o rio Jordão (verso 7). Outros, aparentemente, estão dispostos a se juntar aos filisteus (ver 14:21). Aqueles que ficam com Saul estão tremendo de medo.
A Tolice de Saul e a Repreensão de Samuel
(13:8-15)
“Esperou Saul sete dias, segundo o prazo determinado por Samuel; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo se foi espalhando dali. Então, disse Saul: Trazei-me aqui o holocausto e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto. Mal acabara ele de oferecer o holocausto, eis que chega Samuel; Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar. Samuel perguntou: Que fizeste? Respondeu Saul: Vendo que o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas nos dias aprazados, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás, eu disse comigo: Agora, descerão os filisteus contra mim a Gilgal, e ainda não obtive a benevolência do SENHOR; e, forçado pelas circunstâncias, ofereci holocaustos. Então, disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o SENHOR, teu Deus, te ordenou; pois teria, agora, o SENHOR confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Já agora não subsistirá o teu reino. O SENHOR buscou para si um homem que lhe agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou. Então, se levantou Samuel e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim. Logo, Saul contou o povo que se achava com ele, cerca de seiscentos homens.” (I Sam. 13:8-15)
Saul consegue esperar durante seis dias e a maior parte do sétimo. Mas, quando o sétimo dia começa a chegar ao fim, ele está tão atormentado que não sabe o que fazer. Até posso imaginar o que se passa em sua cabeça. “Onde será que está esse homem, e o que será que está fazendo? Ele não sabe que estamos em perigo? Será que não compreende a urgência da situação e a necessidade de agir rapidamente? Vou dar a ele mais 30 minutos, depois vou ter que continuar sem ele.”
Como o povo continuasse a debandar, Saul começa a tratar do assunto pessoalmente. Pelo que parece é o próprio Saul quem oferece o holocausto. Ele dá ordens para que lhe sejam trazidos o holocausto e as ofertas pacíficas. Não há menção de algum sacerdote fazendo parte da cerimônia. Saul parece dar muita importância a esta oferta, e acho que sei porque. Em I Samuel 7, todo o Israel se reúne em Mispa para se arrepender e renovar sua aliança com Deus. Os filisteus interpretam mal este ajuntamento, presumindo que haja algum propósito militar por trás. Eles cercam os israelitas e estão prestes a atacar. Quando o ataque está para começar, Samuel está ocupado oferecendo o holocausto:
“Tomou, pois, Samuel um cordeiro que ainda mamava e o sacrificou em holocausto ao SENHOR; clamou Samuel ao SENHOR por Israel, e o SENHOR lhe respondeu. Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus chegaram à peleja contra Israel; mas trovejou o SENHOR aquele dia com grande estampido sobre os filisteus e os aterrou de tal modo, que foram derrotados diante dos filhos de Israel.” (I Sam. 7:9-10)
Como seria fácil ver esta oferta como um meio de livrar Israel. Da mesma forma que os israelitas viram a Arca da Aliança como uma espécie de arma secreta, talvez agora Saul veja o holocausto como um meio para garantir a ação de Deus em favor de Israel. Se for assim, não é de se estranhar que Saul esteja tão ansioso para fazer com que o sacrifício seja oferecido, com ou sem Samuel.
No exato momento em que Saul termina o sacrifício do holocausto, Samuel chega. Parece claro que, se Saul tivesse esperado só mais alguns minutos, Samuel teria chegado na hora e ainda a tempo de oferecer tanto o holocausto quanto as ofertas pacíficas. Saul sai para cumprimentá-lo e sua saudação revela sua culpa. Não é Saul quem fica ali com as mãos na cintura, censurando Samuel por estar tão atrasado, mas é Samuel quem lhe pergunta o que foi que ele fez. A explicação de Saul não convence. Ele diz a Samuel que o povo estava desertando e que o profeta não veio dentro do prazo combinado. Ele mostra que os filisteus estão se reunindo para a guerra em Micmás e que sua atitude foi necessária para não ser atacado em Gilgal. Embora ele realmente não quisesse fazer o que fez, simplesmente tinha que fazê-lo e, assim, se viu forçado a oferecer o holocausto.
Samuel não fica impressionado, como demonstram suas palavras duras e diretas. A atitude de Saul foi uma tolice - pois desobedeceu deliberadamente ordens claras e diretas de Samuel. Também foi tolice porque teve efeito exatamente oposto ao que ele pensou. Com toda certeza Saul deve ter pensado que esperar por Samuel (e por suas instruções) era uma tolice. Ele estava errado. Sua desobediência lhe custará sua dinastia. Mesmo que seu reinado não acabe imediatamente, seus filhos jamais se sentarão em seu trono. Se ao menos Saul tivesse obedecido a ordem de Deus, seu reinado teria durado para sempre. Agora, seu reinado morrerá com ele. Deus já buscou e escolheu um homem cujo coração se ajusta ao Seu para substituí-lo. Tudo isto é conseqüência direta de sua desobediência.
A partida de Samuel é completamente diferente daquela descrita em I Samuel 15:24-31. Aqui, parece que Saul não fica abalado com as palavras de Samuel e, com certeza, não está arrependido. Se Saul fosse um adolescente de nossos dias, sua resposta à bronca de Samuel seria “Qual é.” Saul se ocupa com a contagem de seu parco e desgrenhado exército, agora composto de cerca de 600 homens, e Samuel se levanta e parte para Gibeá.
Conclusão
Este incidente não é o “começo do fim” para Saul; é o fim. Seu reinado durará alguns anos, mas não sobreviverá à sua morte. Dois anos de reinado e a dinastia de Saul está selada. Ao lermos estes versos, a maioria de nós talvez admita que a atitude de Saul é quase compreensível e que a resposta de Deus parece muito dura. Por que todo este estardalhaço sobre este incidente, esta asneira? Vamos considerar primeiro a gravidade da atitude de Saul e depois algumas implicações e aplicações que nosso texto oferece.
Primeiro, precisamos entender esta passagem à luz daquilo que Deus declarou sobre os reis no livro de Deuteronômio:
“Quando entrares na terra que te dá o SENHOR, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de mim, estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o SENHOR, teu Deus, escolher; homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim um dentre eles. Porém este não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos disse: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem multiplicará muito para si prata ou ouro. Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas sacerdotes. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir. Isto fará para que o seu coração não se eleve sobre os seus irmãos e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel.” (Dt. 17:14-20)
Observe especialmente os versos 18 a 20. Quando o rei subir ao trono, deve escrever uma cópia da lei para si mesmo - deve fazer isto na presença dos levitas sacerdotes. Parece que isto implica numa “divisão de poderes” muito clara. O rei tem grande autoridade mas, com relação à lei, ele não apenas está sujeito a ela, como também deve ouvir os levitas sacerdotes quanto ao seu significado. Os livros da lei do Velho Testamento são o manual do rei, e os levitas sacerdotes seus professores ou tutores. Esta lei deve ser seu guia constante, a base de seu governo. Ele deve lê-la e relê-la todos os dias da sua vida. Isto não apenas dá ao rei sabedoria para governar e princípios para seu reino (a constituição do reino), mas também resguarda o rei de se ensoberbecer e se elevar acima de seus irmãos (verso 20). Esta leitura constante da lei prolongará os dias do rei, dele e de seus descendentes (verso 20).
Será que isto não explica a gravidade da resposta de Deus à desobediência de Saul? Saul não deu atenção a estas instruções registradas em Deuteronômio e, muito provavelmente, reiteradas e esclarecidas por Samuel:
“Então, disse Samuel a todo o povo: Vedes a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então, todo o povo rompeu em gritos, exclamando: Viva o rei! Declarou Samuel ao povo o direito do reino, escreveu-o num livro e o pôs perante o SENHOR. Então, despediu Samuel todo o povo, cada um para sua casa.” (I Sam. 10:24-25)
Além destas instruções gerais para Saul como rei de Israel, há ainda as instruções específicas (“a ordem”) de I Samuel 10:8. Saul não tem nenhuma desculpa; seu sacrifício é um ato deliberado de desobediência, pelo qual ele perde seu reinado.
Vamos passar de Saul e sua desobediência às lições que este texto tem para cada um de nós hoje. Resumiremos as lições importantes na forma de princípios:
(1) Como Saul, quando não temos noção da nossa vocação, somos conduzidos pelos problemas. O povo quer um rei para governá-los e, em última instância, isto significa que querem um rei para libertá-los do cativeiro das nações ao seu redor. Samuel faz esforços consideráveis para transmitir a Saul o que Deus lhe designou para fazer, mas não parece ir muito longe antes do sentido de vocação de Saul ficar confuso. Em nosso texto parece faltar a Saul um profundo senso daquilo a que foi chamado a fazer, ou falta o compromisso para fazê-lo - ou talvez ambos. Quando considero os escritos do apóstolo Paulo, vejo um homem com um profundo senso de sua vocação e um grande compromisso para realizá-la (ver Rm. 1:1, I Co. 1:1, Gl. 1:15, II Tm. 4:7-8). Paulo também fala bastante a respeito de nosso chamado, e nos desafia a viver de acordo com ele - tanto com relação ao chamado comum (a que todo cristão é chamado - ver Rm. 1:6-7, 8:28/30, I Co. 1:2/9, Gl. 5:13, Ef. 4:1, I Ts. 4:7, II Ts. 1:11), quanto com relação ao chamado individual (I Co. 7:17). Saul parece não ter muita noção daquilo para o que Deus o chamou. Grande parte de suas escorregadelas vistas nos capítulos de I Samuel parece ser conseqüência de seu fracasso em compreender exatamente aquilo a que foi chamado a fazer.
Todos os cristãos foram “chamados”, e cada um de nós tem um “chamado” específico. Não estou falando de um ”chamado” especial para um “ministério em tempo integral” ou para “o trabalho missionário”. Estou falando de chamado no sentido individual, de acordo com o qual o cristão tem uma noção geral do porque Deus o(a) salvou, e uma noção mais específica de seu trabalho e contribuição no corpo de Cristo. Há cristãos demais que parecem ter perdido a noção de sua vocação e, como Saul, parecem estar se “escondendo na bagagem” da igreja e seu ministério, em vez de fazer sua parte.
2) As ordenanças de Deus servem como testes para nossa fé e obediência. Saul recebeu instruções específicas para ir a Gilgal e esperar por Samuel. Este é o seu teste de fé e obediência. As ordenanças da Bíblia são dadas por boas razões. Uma delas é que são testes específicos para nossa fé. Ouço muitos cristãos reagindo a qualquer tipo de ênfase nas ordens divinas e na nossa necessidade de obediência. “Isso é legalismo”, ouço alguns dizerem. Algumas pessoas podem obedecer a Deus de modo legalista, e esse é o problema. Mas, longe dos crentes julgarem as ordens de Deus tão levianamente. Jesus instruiu Seus discípulos a “ensiná-los a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt. 28:20). Quantas ordens de Cristo você leva à sério hoje?
3) Os privilégios cristãos também são um teste para nossa fé e amor a Deus. No capítulo 10, verso 7, Samuel instrui Saul:
“Quando estes sinais te sucederem, faze o que a ocasião te pedir, porque Deus é contigo.” (I Sam. 10:7)
O que, então, impede Saul de enfrentar os filisteus que ocupam Israel e oprimem o povo de Deus? Por que ele não faz o que obviamente precisa ser feito, confiando que, ao fazê-lo, Deus estará com ele? Não só a maioria de nós não consegue obedecer às ordens de Deus, também não conseguimos exercer nossos direitos como deveríamos. Direitos, como a lei, são testes onde muitas vezes somos reprovamos.
4) As emergências não são desculpas para desobedecer às ordens de Deus, mas um teste para nossa fé e obediência. Deus muitas vezes nos testa levando-nos ao limite. É desse jeito que testamos os produtos que fabricamos. A Ford não testa seus carros andando vagarosamente em volta de obstáculos. Eles são colocados na pista de teste, que golpeia a suspensão ininterruptamente e gira e pressiona o motor com superaquecimento, frio intenso, e longas distâncias. Deus também nos testa levando-nos ao limite, levando-nos ao ponto de exaustão.
Quando chegamos ao “limite”, nossa fé em Deus se torna evidente. Quando chegamos ao fim de nossas forças, aí precisamos confiar em Deus. Deus leva Saul “ao limite” retardando a chegada de Samuel até o último minuto, mas Saul não consegue esperar. Ele está convencido de que sua situação é uma “emergência” e, como tal, as regras podem ser descartadas. Nessas horas - quando somos pressionados até o limite - nossa fé e obediência são testadas para ver se guardamos ou não as leis de Deus, se obedecemos ou não a Ele.
O livro de Provérbios fala duas vezes sobre o “leão no caminho” (ver Pv. 22:13, 26:13). Esta é razão que faz o preguiçoso evitar a tarefa que ele realmente não quer fazer. Afinal, quem sairia para cortar a grama se realmente houvesse um leão lá fora? Situações emergenciais, onde o desastre parece iminente e quebrar as regras parece ser a solução, podem ser nada mais do que leões no caminho. Pode ser que estejamos dispostos a fazer exceções às ordens de Deus, mas Deus não. Vamos ter cuidado em não permitir que a crise vire desculpa para nossa desobediência.
Duvido que a desobediência de Saul ao fazer o sacrifício do holocausto seja um acontecimento isolado. Antes, é mais provável que seja o clímax, o ápice, de uma longa história de desobediência. Como demonstramos anteriormente, Saul sabe que seu dever como rei de Israel é lutar contra os filisteus e com as nações circunvizinhas que oprimem o povo de Deus. Dia após dia, mês após mês, Saul parece fechar os olhos ao sofrimento de seu povo e à presença dos filisteus em Israel. A desobediência de Saul com relação aos sacrifícios em Gilgal não é um pecado fortuito - um completo imprevisto. É a conseqüência lógica, quase inevitável de uma vida de desobediência. Esta crise apenas mostra Saul como ele é (ou como não é). Conosco é da mesma forma.
Não posso deixar de notar que não há nenhuma evidência de espiritualidade em Saul antes dele se tornar rei, nem depois. No entanto, Davi é um jovem que aprendeu a confiar em Deus quando ainda jovem pastor, a sós com seu rebanho. Davi aprendeu a confiar em Deus e a adorá-Lo. Ele andava com Deus antes de se tornar rei, e continua andando depois. Saul não tem nenhuma disciplina religiosa em sua vida, e demonstra isto, especialmente em Gilgal, quando se depara com os testes da fé.
5) O julgamento de Deus pode ser pronunciado bem antes de suas conseqüências serem visíveis. Deus pode pronunciar um julgamento muito tempo antes de concretizá-lo. Deus rejeitou Saul como rei. Isto é, o reinado de Saul não continuará (ver 13:14). Depois que isto é dito, Saul ainda reina por muitos anos antes de sua morte. Podemos ter certeza de que o julgamento de Deus é certo, mesmo que seja em alguma época por vir. É assim com Saul e é assim com a ira vindoura de Deus. A condenação de Satanás já havia sido pronunciada e, no entanto, ainda o veremos se opondo ao nosso Senhor e à Sua igreja. Apesar disso, o julgamento de Deus é certo, mesmo que não seja imediato.
6) Deus trabalha por meio de pessoas imperfeitas e que não são ideais. Não me canso de ficar maravilhado diante do tipo de pessoas que Deus usa para realizar Seus propósitos e cumprir Suas promessas. Saul é uma dessas pessoas. A despeito de todas as suas fraquezas e pecados, Deus usa Saul para libertar Israel do cativeiro das nações circunvizinhas (ver 14:47-48). Ao longo da história, Deus escolhe usar as coisas “fracas e tolas” deste mundo, confundindo os sábios e trazendo glória a Si mesmo. Se Deus pode usar um homem como Saul, podemos ter certeza de que Ele pode nos usar também. Como deveríamos ser agradecidos por Deus não se limitar a usar somente pessoas perfeitas. Isto não desculpa nossas imperfeições ou nossos pecados, mas nos dá esperança de que Deus pode e usa pessoas fracas e pecaminosas para realizar Seus propósitos.
10. Saul, Jônatas e os Filisteus (I Samuel 13:15 --14:15)
Introdução
Tenho uma foto tirada no ano passado quando participava de uma pescaria com três amigos que retrata muito bem minhas recordações desse passeio. A foto foi tirada de cima prá baixo, quando meu amigo Bart Johnson estava no topo mais alto de uma montanha. A primeira coisa que você vê é a ponta das botas de Bart - depois, seus olhos podem captar um declive acentuado que, na realidade, é a encosta de um rochedo - até o lago embaixo. Não subi até lá com Bart e seu irmão Randall. Mas também estava no topo de uma espécie de rochedo - seguramente aninhado debaixo de uma árvore - e a descida era de apenas uns 20 a 25 pés (6 a 7 metros) até a água. Lançando meu anzol sem entusiasmo, via as trutas observarem minha isca, beliscando de vez em quando - até levei a isca para perto de alguns peixes bem interessantes - do meu cantinho debaixo da árvore.
Meus amigos Bart e Randall não pescaram com segurança e conforto. Quando perguntaram aos guardas florestais sobre a pesca em determinado lago, um deles respondeu: “Oh, eu não tentaria pescar naquele lago. É um lago afastado, e vocês têm que andar 600 metros montanha acima e depois descer outro tanto para chegar até lá.” Isso era tudo o que Bart e Randall precisavam ouvir; eles empacotaram suas coisas e se puseram a caminho. Disseram que a pescaria ali foi tão boa que, quase todas as vezes em que lançaram o anzol, pegaram alguma coisa. Talvez sim, mas vi suas fotos no topo daquele penhasco íngreme e cortante que eles tiveram que subir e descer para voltar. Não fiquei triste por ter ficado no meu refúgio de pesca favorito, poucos metros acima da água.
Ler a narrativa da campanha pessoal de Jônatas contra os filisteus neste texto me faz lembrar da foto de Bart e Randall encarapitados no topo daquele penhasco. Exatamente como fiz na pescaria, Saul descansa tranqüilamente à sombra de uma árvore, enquanto Jônatas e seu escudeiro escalam um sólido rochedo para lutar com a guarnição dos filisteus. Nem a subida, nem as chances impressionantes a favor dos filisteus impedem Jônatas de lutar com estes inimigos de Israel. Mas, como veremos, há muito mais nesta história do que apenas uma escalada perigosa. Conforme estivermos considerando atentamente esta passagem, aprenderemos muito mais sobre Saul e Jônatas - e sobre confiar em Deus.
Revisão
Israel exige um rei e Deus promete atender seu pedido (I Samuel 8). Mediante uma série de acontecimentos, Deus designa Saul como rei de Israel (capítulos 9 e 10). Quando Naás e os amonitas ameaçam Jabes-Gileade, Saul está possuído pelo Espírito de Deus e abate uma junta de bois, enviando os pedaços por toda a terra, ameaçando fazer o mesmo aos bois de qualquer um que se recuse a defender seus irmãos. Isto resulta numa tropa de 330.000 israelitas para guerrear contra os amonitas e numa grande vitória israelita (capítulo 11). Samuel avisa os israelitas para não ficarem otimistas demais com o novo rei, lembrando-lhes que é Deus, não os homens, quem tem livrado Seu povo ao longo da história de Israel. Se os israelitas se rebelarem contra Deus, não confiando e obedecendo a Ele, eles, junto com seu rei, serão entregues a seus inimigos. Se eles realmente temerem a Deus, então Deus terá misericórdia deles e de seu rei (capítulo 12).
Agora, no capítulo 13, as coisas rapidamente começam a azedar para Israel e para Saul, seu rei. O ataque de Jônatas à sua guarnição deixa os filisteus muito irritados e ocasiona um aumento maciço de suas tropas em Israel. À medida que o capítulo se desenrola, as coisas parecem ir de mal a pior. Saul é obrigado a reunir os israelitas para a guerra depois de ter acabado de mandá-los prá casa. Os voluntários são poucos e esparsos e, quando percebem o tamanho do exército filisteu, começam a desertar, escondendo-se em qualquer lugar. Quando Samuel demora a chegar, Saul assume seu papel, oferecendo o holocausto e pretendendo oferecer as ofertas pacíficas. Samuel chega logo após o holocausto, rejeitando as desculpas esfarrapadas de Saul e censurando-o por sua tolice. Além disso, ele anuncia a Saul que, devido à sua desobediência, seu reino não subsistirá, pois Deus escolheu como rei um homem cujo coração está em sintonia com o Seu (13:1-14).
Missão: Impossível
(13:15-23)
“Então, se levantou Samuel e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim. Logo, Saul contou o povo que se achava com ele, cerca de seiscentos homens. Saul, e Jônatas, seu filho, e o povo que se achava com eles ficaram em Geba de Benjamim; porém os filisteus se acamparam em Micmás. Os saqueadores saíram do campo dos filisteus em três tropas; uma delas tomou o caminho de Ofra à terra de Sual; outra tomou o caminho de Bete-Horom; e a terceira, o caminho a cavaleiro do vale de Zeboim, na direção do deserto. Ora, em toda a terra de Israel nem um ferreiro se achava, porque os filisteus tinham dito: Para que os hebreus não façam espada, nem lança. Pelo que todo o Israel tinha de descer aos filisteus para amolar a relha do seu arado, e a sua enxada, e o seu machado, e a sua foice. Os filisteus cobravam dos israelitas dois terços de um siclo para amolar os fios das relhas e das enxadas e um terço de um siclo para amolar machados e aguilhadas. Sucedeu que, no dia da peleja, não se achou nem espada, nem lança na mão de nenhum do povo que estava com Saul e com Jônatas; porém se acharam com Saul e com Jônatas, seu filho. Saiu a guarnição dos filisteus ao desfiladeiro de Micmás.” (I Sam. 13:15-23)
Voltamos à história com Samuel deixando Saul em Gilgal e subindo para Gibeá e, ao que parece, sem “mostrar-lhe o que deveria fazer” (10:8). Samuel não dá a Saul nenhuma orientação de como ele deve lidar com a invasão em massa dos filisteus, resultante do ataque de Jônatas à sua guarnição em Geba (13:3, ver também 10:5). Preparando-se para a guerra, Saul conta suas tropas, descobrindo que há 600 homens com ele prontos para lutar. Tendo em vista os milhares de soldados das tropas filistéias, as chances se acumulam contra Israel e seu novo rei.
Talvez imaginemos uma espécie de distância entre o exército filisteu, acampado em Micmás, e as forças israelitas sob o comando de Saul e Jônatas, acampadas em Geba (13:16). Mas este não é bem o caso. Enquanto o exército principal dos filisteus parece estar entrincheirado em Micmás, três destacamentos de “saqueadores” são enviados por todo Israel (13:17, 14:15). Um é enviado para o norte em direção a Ofra, outro para oeste em direção a Bete-Horom, e o terceiro para leste em direção ao deserto (os israelitas estão ao sul). Estas tropas de saqueadores, ou destruidores, parecem ser ”forças especiais” cuja função é matar, queimar ou destruir a vida humana, o gado, as construções ou a colheita. Quanto mais longe puderem ir, destruindo tudo pelo caminho, pior será para Israel. Se os filisteus não forem derrotados e expulsos, haverá muitos problemas para a nação.
Brutalmente excedidos em número, os israelitas estão tão apavorados que desertam em bandos. Saul imprudentemente ofereceu o holocausto e foi censurado por Samuel. As tropas de saqueadores estão percorrendo a terra, deixando atrás de si um rastro de destruição. E agora, os poucos remanescentes das tropas israelitas estão mal equipados, se comparados aos filisteus. Para estes, pelo menos, a Idade do Ferro já chegou. Sua tecnologia permite que tenham espadas e lanças de ferro e carruagens com rodas de ferro. Seus agricultores têm ferramentas afiadas e que não se quebram com facilidade. Os israelitas não possuem a tecnologia dos filisteus. Os filisteus vendem implementos agrícolas de ferro aos israelitas, mas não armas de ferro, e nem permitem que eles fabriquem ou possuam tais armas. Isto dá aos filisteus um avanço decisivo (perdão pelo trocadilho) sobre israelitas. O escritor nos fala deste “avanço” e que somente Saul e Jônatas possuem espadas (13:22). As coisas não parecem boas para Israel.
Nas questões agrícolas, os israelitas praticamente dependem dos filisteus. Eles precisam comprar suas ferramentas deles e depois pagar para afiá-las. Todos os dias os israelitas são relembrados de sua sujeição aos filisteus. Militarmente falando, as coisas parecem sem solução. Os filisteus têm um vasto e bem equipado exército e destacamentos de saqueadores que percorrem Israel à vontade, levando morte e destruição. Israel tem um pequeno exército de homens apavorados, muitos dos quais estão desertando, com alguns até mesmo se juntando aos filisteus (ver 14:21). Na melhor das hipóteses, o rei de Israel está desanimado. Com uma tecnologia infinitamente inferior, os israelitas estão num beco sem saída.
Lembro-me da “guerra dos seis dias” entre Israel e seus vizinhos, em junho de 1967. Lembro-me bem desta guerra porque minha esposa e eu estávamos nos preparando para partir para o seminário em Dallas, Texas. Nós nos perguntávamos se o Senhor viria antes de chegarmos lá. Ouvíamos as notícias de que Israel era inferior em homens e em armas e, por isso, vulnerável. Como estavam erradas as estimativas das chances de sucesso de Israel! Como a guerra terminou rapidamente; tudo, creio, devido ao cuidado providencial de Deus para com Seu povo.
A Estupidez de Saul e a Fé de Jônatas
(14:1-15)
“Sucedeu que, um dia, disse Jônatas, filho de Saul, ao seu jovem escudeiro: Vem, passemos à guarnição dos filisteus, que está do outro lado. Porém não o fez saber a seu pai. Saul se encontrava na extremidade de Gibeá, debaixo da romeira em Migrom; e o povo que estava com ele eram cerca de seiscentos homens. Aías, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Finéias, filho de Eli, sacerdote do SENHOR em Siló, trazia a estola sacerdotal. O povo não sabia que Jônatas tinha ido. Entre os desfiladeiros pelos quais Jônatas procurava passar à guarnição dos filisteus, deste lado havia uma penha íngreme, e do outro, outra; uma se chamava Bozez; a outra, Sené. Uma delas se erguia ao norte, defronte de Micmás; a outra, ao sul, defronte de Geba. Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura, o SENHOR nos ajudará nisto, porque para o SENHOR nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos. Então, o seu escudeiro lhe disse: Faze tudo segundo inclinar o teu coração; eis-me aqui contigo, a tua disposição será a minha. Disse, pois, Jônatas: Eis que passaremos àqueles homens e nos daremos a conhecer a eles. Se nos disserem assim: Parai até que cheguemos a vós outros; então, ficaremos onde estamos e não subiremos a eles. Porém se disserem: Subi a nós; então, subiremos, pois o SENHOR no-los entregou nas mãos. Isto nos servirá de sinal. Dando-se, pois, ambos a conhecer à guarnição dos filisteus, disseram estes: Eis que já os hebreus estão saindo dos buracos em que se tinham escondido. Os homens da guarnição responderam a Jônatas e ao seu escudeiro e disseram: Subi a nós, e nós vos daremos uma lição. Disse Jônatas ao escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o SENHOR os entregou nas mãos de Israel. Então, trepou Jônatas de gatinhas, e o seu escudeiro, atrás; e os filisteus caíram diante de Jônatas, e o seu escudeiro os matava atrás dele. Sucedeu esta primeira derrota, em que Jônatas e o seu escudeiro mataram perto de vinte homens, em cerca de meia jeira de terra. Houve grande espanto no arraial, no campo e em todo o povo; também a mesma guarnição e os saqueadores tremeram, e até a terra se estremeceu; e tudo passou a ser um terror de Deus.”
Quando estava no seminário, numa aula do Dr. Bruce Waltke, ele fez uma comparação entre Jacó e Isaque e descreveu Jacó dizendo: “Se Isaque era uma brisa; Jacó era um furacão!” Devo admitir que, quanto mais leio sobre Saul, menos gosto dele. Vamos rever aquilo que dissemos a seu respeito. No capítulo 8, o povo exige um rei. Nos capítulos 9 e 10, Saul é divinamente designado como rei de Israel. Mais, Saul é divinamente capacitado para ser rei de Israel pelo Espírito Santo que desce sobre ele. Estou particularmente interessado na descida do Espírito sobre Saul e nas implicações desse acontecimento conforme dito por Deus por meio de Samuel:
“Então, seguirás a Gibeá-Eloim, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, precedidos de saltérios, e tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão profetizando. O Espírito do SENHOR se apossará de ti, e profetizarás com eles e tu serás mudado em outro homem. Quando estes sinais te sucederem, faze o que a ocasião te pedir, porque Deus é contigo. Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer. Sucedeu, pois, que, virando-se ele para despedir-se de Samuel, Deus lhe mudou o coração; e todos esses sinais se deram naquele mesmo dia. Chegando eles a Gibeá, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles.” (I Sam. 10:5-10)
Os dois primeiros sinais são apenas para Saul, para convencê-lo de que as palavras de Samuel são palavras de Deus. A poderosa descida do Espírito sobre Saul é sinal para ele e para as pessoas que testemunham o fato (10:11-12). As palavras de Samuel para Saul, conforme registrado no verso 7, são muito importantes. Quando estes sinais forem realizados, Samuel diz a Saul que ele deve “fazer o que a ocasião pedir”, confiando que Deus estará com ele em tudo o que fizer. No verso 8, então, Samuel lhe dá instruções específicas a respeito de ir a Gilgal e esperar durante sete dias, quando ele oferecerá o holocausto e as ofertas pacíficas, e “declarará o que ele há de fazer”. Por que dois anos, ou mais, separam a descida do Espírito sobre Saul e sua viagem a Gilgal? Por que não ouvimos falar de nenhuma ação de Saul nesses anos intermediários entre sua capacitação e sua ida a Gilgal?
Temos que admitir que Saul realmente conclama os israelitas a irem à guerra contra os amonitas, para proteger seus irmãos em Jabes-Gileade (capítulo 11). Conforme leio o texto, vejo que esta não é uma decisão tomada conscientemente por Saul, mas uma manifestação imediata do Espírito agindo sobre ele de maneira incomum - Saul não age até que o Espírito aja. Enfim, nem mesmo é Saul quem inicia a guerra contra os amonitas; é o Espírito de Deus.
Anteriormente Deus havia levantado juízes para livrar os israelitas de seus inimigos:
“E clamaram ao SENHOR e disseram: Pecamos, pois deixamos o SENHOR e servimos aos baalins e astarotes; agora, pois, livra-nos das mãos de nossos inimigos, e te serviremos. O SENHOR enviou a Jerubaal, e a Baraque, e a Jefté, e a Samuel; e vos livrou das mãos de vossos inimigos em redor, e habitastes em segurança.” (I Sam. 12:10-11)
É evidente que os israelitas querem (exigem) um rei para liderá-los na guerra (ver 8:19-20). Há um acréscimo muito interessante no texto da Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento) no capítulo 10, verso 1. Numa nota à margem do verso 1, a Nova Versão King James nos diz o que foi acrescentado:
LXX, Vg. acréscimo - E livrarás Seu povo das mãos de todos os seus inimigos em derredor. E isto te será por sinal de que Deus te ungiu para seres príncipe.
Mais à frente, no capítulo 14, a administração de Saul como rei de Israel é resumida desta maneira:
“Tendo Saul assumido o reinado de Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, os filhos de Amom e Edom; contra os reis de Zobá e os filisteus; e, para onde quer que se voltava, era vitorioso. Houve-se varonilmente, e feriu os amalequitas, e libertou a Israel das mãos dos que o saqueavam.” (I Sam. 14:47-48)
Se entendo corretamente o texto, Israel exige um rei que os livre dos inimigos ao seu redor como fizeram os juízes anteriormente. Deus lhes dá Saul como rei, o qual deve livrá-los de seus inimigos, sendo que, tanto ele quanto a nação devem confiar em Deus e obedecer aos Seus mandamentos. O Espírito de Deus desce sobre Saul, como fez com Sansão e tantos outros, para capacitá-lo a conduzir os israelitas vitoriosamente contra seus inimigos. Assim que o Espírito desce sobre ele, Samuel lhe dá instruções, e ele deve agir de forma apropriada, confiando que Deus estará com ele para livrar Israel de seus inimigos.
Parece que Saul não é um homem espiritual. Apesar de Samuel ser conhecido por seu tio (10:14-16) e por seu servo (10:5-10), aparentemente ele é desconhecido para Saul, e isto numa época em que a profecia é muito rara (3:1). O ponto mais distante do circuito das viagens de Samuel (8:16-17) não fica a mais de 15 milhas da cidade de Saul, Gibeá. E sua casa em Ramá fica aproximadamente a 3 milhas de Gibeá, a cidade de Saul. Como pode um homem espiritualmente sensível nada saber a respeito de Samuel?
A situação só piora. Sabemos que, devido a ameaça a Jabes-Gileade, Saul se vê “forçado” a agir e reúne um exército de 330.000 israelitas. Já que os amonitas estão derrotados, por que Saul não vai em frente, expulsando também os filisteus? Afinal, é para isto que ele foi designado. Em vez disto, Saul manda os soldados de volta prá casa, ficando apenas com um exército esquelético, uma pequena força de 3.000 homens, e que está dividido em duas companhias. É como se ele não quisesse enfrentar os filisteus e só quisesse viver de seu status. Não é a iniciativa de Saul, mas a de seu filho, Jônatas, que provoca o confronto com os filisteus, levando-os à derrota.
Não é de se admirar que Samuel faça tanto esforço para relembrar aos israelitas que sempre foi Deus quem os livrou de seus inimigos. Também não é de se admirar que Samuel chame a nação ao arrependimento por colocar mais fé em seu rei do que em seu Deus. O capítulo 13 se concentra na nação de Israel e na ameaça dos filisteus, que não só ocupam Israel, mas que também ameaçam destruí-lo. O capítulo 14 se concentra em Saul e em seu filho Jônatas, de forma a retomar o contraste feito pelo autor entre os dois iniciado no capítulo 13.
Os filisteus, finalmente, estão em vantagem na região montanhosa de Judá e Benjamim, estabelecendo sua base principal em Micmás (13:16), ao que parece, no pico das montanhas que separam as planícies do vale do Jordão e as planícies litorâneas onde vivem. Cerca de 600 soldados ficam com Saul e Jônatas, enquanto o restante deserta escondendo-se dos filisteus ou juntando-se a eles (13:6-7; 14:20-22). Saul e seu “exército” estão acampados em Geba (13:16), e no capítulo 14 em Gibeá, um pouco mais ao sul e mais distante dos filisteus, que ainda estão em Micmás, ao norte.
Que contraste nosso autor faz entre Saul e seu filho, Jônatas. A nação de Israel está em guerra, desesperadamente excedida em número e miseravelmente equipada. E, mesmo assim, Saul se encontra debaixo “da romeira em Migrom” (14:2). Enquanto Saul fica fora do sol e à salvo, fora do alcance dos filisteus, seu filho Jônatas está prestes a enfrentar muitos deles, acompanhado por seu escudeiro. Esta é uma investida particular. Jônatas não pede a permissão de seu pai, nem o informa, e também não deixa que ninguém mais saiba de sua partida. Acho que ele sabe o que seu pai pensará de qualquer atitude agressiva contra os filisteus. Saul não quer ter problemas com eles, e Jônatas não quer mais que Israel seja atormentado por eles.
Eis Saul sentado à sombra de uma árvore (pelo que parece). Saul tem uma das duas únicas espadas de Israel. Junto com ele está Aías, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Finéias, e neto de Eli (14:3). Aías veste (ou carrega com ele) a estola sacerdotal, um dos meios para discernir a vontade de Deus (ver I Sam. 23:9-12, 30:6-8). Saul não consegue obter instruções de Samuel em Gilgal devido à sua desobediência (13:1-14), e agora ele tem a estola sacerdotal e um sacerdote com ele; contudo, não pergunta a Deus o que deve fazer.
Jônatas, no entanto, tem uma noção definida da vontade de Deus que o faz agir. Primeiro, ele conhece muito bem a vontade de Deus pela história de Israel e pela natureza do próprio Deus. Suas palavras a seu escudeiro são cheias de fé e senso de dever. São palavras que explicam sua confiança e ação e que incentivam a lealdade de seu escudeiro:
“Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura, o SENHOR nos ajudará nisto, porque para o SENHOR nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos.” (14:6)
Os filisteus são “incircuncisos”, eles não possuem um relacionamento pactual com Deus como os israelitas. A aliança feita por Deus com Israel lhes dá a garantia de Sua presença e de Sua proteção contra seus inimigos. Deus os tirou da escravidão do Egito e lhes prometeu dar a terra de Canaã e a liberdade das nações ao seu redor. Com certeza, Israel não tem esta liberdade. As guarnições dos filisteus ocupam a terra e os israelitas não podem sequer cultivá-la sem ter que comprar as ferramentas e obter sua manutenção dos filisteus. Jônatas entende que Deus não pretende que Seu povo seja escravizado pelas nações ao seu redor. Ele entende que agora é responsabilidade do rei liderar o povo na guerra contra os inimigos de Israel e seu Deus. Ele também entende, pela natureza de Deus e pela história de Israel, que a vitória de Israel não depende do “braço da carne”, da quantidade de tropas ou do tipo de armas que possuem. Deus deu a vitória sobre os midianitas quando Gideão liderava 300 homens na batalha (ver Juízes 7). Se é da vontade de Deus que Israel prevaleça sobre seus inimigos, não são necessários 600 homens - podem ser apenas dois.
A questão na cabeça de Jônatas não é se Deus pode entregar os filisteus nas mãos dos israelitas, mas se isto é, ou não, da vontade de Deus. Saul tem o sacerdote e a estola sacerdotal, mas não se importa em perguntar a Deus. Ele prefere sentar-se à sombra de uma árvore! Por isso, Jônatas determina outra maneira de discernir a vontade de Deus com relação à sua intencionada investida contra a guarnição dos filisteus.
Jônatas busca um sinal de Deus que indique se ele e seu escudeiro devem atacar os filisteus. Micmás e Gibeá são dois pontos elevados do local. O acesso a Micmás é através do passo de Micmás, uma passagem muito estreita, aparentemente o curso de uma pequena correnteza. Os filisteus parecem ter uma pequena companhia de soldados em cima do passo, onde podem avistar e parar qualquer um que tente atravessá-lo. O plano de Jônatas é descer a face rochosa de um dos penhascos e tornar sua presença visível aos filisteus no topo do penhasco do outro lado da passagem. Se os filisteus demonstrarem que vão descer para atacá-lo e a seu escudeiro, eles não tentarão subir o penhasco onde eles estão. Se, no entanto, os soldados os desafiarem a subir, este será o sinal de que Deus quer que eles façam a perigosa escalada até o posto de observação dos filisteus e de que Ele dará a vitória a Israel.
Com total apoio de seu escudeiro, estes dois valentes israelitas se tornam visíveis, ao que parece quando descem a face do penhasco até o passo embaixo. Os sentinelas filisteus os avistam e supõem que estejam saindo de seu esconderijo nas rochas. Os filisteus, então, convidam os dois para subir, e Jônatas e seu escudeiro recebem isto como sinal de Deus de que Ele lhes dará a vitória.
Jamais poderia imaginar que os filisteus pudessem dizer tal coisa. Por que não jogam pedras e rochas sobre Jônatas e seu ajudante? Por que não despacham as tropas até o passo para matá-los? Por que, quando eles estão mais vulneráveis, enquanto escalam o penhasco rochoso, os filisteus não se aproveitam de sua vulnerabilidade e os matam com rapidez e facilidade? Acho que a resposta está no texto. Os filisteus convidam os dois para subir para “lhes dizer alguma coisa”. A princípio, pensei que isto fosse um desafio, e acho que poderia ser. Talvez as coisas estejam maçantes e enfadonhas, e os filisteus queiram uma pequena contenda; por isso, pretendem deixá-los vir ao topo, onde podem se engajar com eles.
Agora, estou inclinado a uma explicação diferente. Creio que os filisteus deixam Jônatas e seu escudeiro subirem para que se entreguem e se juntem a eles contra Israel. Os filisteus sabem que têm a vantagem. Sabem que possuem armas superiores e superam em muito os 600 soldados que seguem Saul. Sabem que podem enviar saqueadores por todo o país com pouquíssima resistência por parte dos israelitas. E eles já acrescentaram um certo número de israelitas às suas próprias tropas (14:21). Por que não permitir que estes dois israelitas assustados, que estão rastejando prá fora de seus buracos, se dêem por vencidos e se juntem ao exército vencedor? Com certeza, não é seguro para os filisteus assumirem esta posição, mas este é um sinal convincente, pelo menos na cabeça de Jônatas. E assim eles escalam esse penhasco íngreme e rochoso até os filisteus.
Os filisteus não barganharam pelo que veio a ocorrer. Jônatas começa a usar sua espada com destreza, e aqueles que ele deixa vivos atrás de si são despachados por seu escudeiro. Em pouco tempo e num pequeno espaço, o grupo de sentinelas é morto, tornando possível aos israelitas atravessarem o passo até Micmás e perseguirem os filisteus.
Mas, espere - como diz um comercial de TV de R$ 40,00 - tem mais! Se Deus está com Jônatas em seu ataque ao posto dos filisteus, agora Ele está prestes a mostrar Seu braço poderoso, dando a Israel a vitória sobre a guarnição dos filisteus em Micmás. Amo o jogo de palavras que se encontra nos capítulos 13 e 14:
“E os hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade; e, estando Saul ainda em Gilgal, todo o povo veio atrás dele, tremendo...” (I Sam. 13:7)
“Houve grande espanto no arraial, no campo e em todo o povo; também a mesma guarnição e os saqueadores tremeram, e até a terra se estremeceu; e tudo passou a ser um terror de Deus.” (I Sam. 14:15)
Não era Elvis Presley que cantava: “Estou todo sacudido, uh, uh, uh...”? Bem, Deus “sacudiu” os filisteus. Tudo começa com as tropas israelitas que seguem Saul. Eles percebem como é fraca sua posição contra os filisteus. Eles também devem sentir a fraqueza da liderança de Saul. Eles estão com sérios problemas - como nosso autor nos informa, eles estão “sacudidos” (13:7). Isto impede Deus de dar a vitória a Israel? Claro que não! Deus passa a “sacudir” os filisteus.
Imagine, se puder, a presunçosa sensação de segurança que os filisteus devem sentir enquanto estão ocultos em Micmás. Para chegar até eles, o minúsculo exército israelita precisa atravessar o passo de Micmás, e uns vinte homens podem facilmente rechaçá-los. A segurança dos filisteus está numa estreita passagem, num ponto elevado das montanhas, protegido por rocha maciça, o que funciona muito bem, até ocorrer um terremoto. Agora, este lugar anteriormente seguro se transforma no lugar mais perigoso do mundo. Saul e suas sentinelas observam enquanto o exército filisteu se agita de um lado para o outro, provavelmente em sincronia com o solo, que se encrespa como os vagalhões do mar durante uma tormenta. Todas as coisas que antes pareciam garantir sua vantagem sobre os israelitas se tornam desvantagens. Em pânico e em movimento, eles matam uns aos outros com suas espadas, não os israelitas. Seus carros e cavalos são inúteis, uma vez que os animais aterrorizados se recusam a obedecê-los; fendas escancaram-se no solo e pedras rolam de todos os lados acima do passo. Em todos os lugares prevalece o pânico absoluto, impedindo qualquer ataque e atrapalhando qualquer retirada. Os filisteus se tornam seus próprios e piores inimigos, matando uns aos outros na insanidade daqueles momentos.
Conclusão
Que texto incrível, de onde se extraem muitos princípios e implicações para nós, cristãos da atualidade.
A primeira área de instrução e aplicação que salta desta passagem é a questão da liderança. Nos círculos cristãos atuais, a questão da liderança é a área principal das meditações, escritos e discussões. Infelizmente, muitas coisas ensinadas sobre liderança nos chamados círculos cristãos é simplesmente teoria secular, requentada e sacralizada. Uma vez que há uma infinidade desse material, não precisamos repetir o conceito secular de liderança. Saul e Jônatas proporcionam exemplos de liderança espiritual positiva e negativa. As palavras confiar e obedecer talvez não resumam tudo o que há para ser dito sobre a vida cristã mas, com certeza, descrevem as duas dimensões de maior importância. Saul é um homem quase sem fé. A palavra “medo” parece caracterizá-lo melhor. Ele teme dizer a seu tio que Samuel o ungiu como rei de Israel. Ele se esconde na bagagem quando sabe que será publicamente eleito como rei. Ele tem medo de perder suas tropas e por isso se vê forçado a oferecer o holocausto. E, parece que ele teme tanto enfrentar os filisteus, que faz o mínimo possível para atacá-los ou provocá-los.
O “Saul” que vemos no capítulo 11 é o “novo Saul”, que Deus faz surgir quando o Espírito desce poderosamente sobre ele. Mas este Saul não parece ir além do capítulo 11. É o “velho Saul” que encontramos em outros lugares. É o “velho Saul” que vemos descrito nos capítulos 13 e 14. Quando o “novo Saul” reúne os israelitas para a guerra, 330.000 se apresentam. Quando o “velho Saul” reúne Israel para ir a Gilgal, apenas uma pequena fração deste número se apresenta, e muitos deles desertam de medo. O medo de Saul é contagioso. Uma vez que ele não confia em Deus, nem O obedece, seus seguidores não confiam nele, nem o obedecem.
Como Jônatas é diferente - eis um homem de fé. Ele confia que Deus lhe dará a vitória sobre a guarnição dos filisteus no capítulo 13. Ele está disposto a enfrentar os filisteus no passo de Micmás, mesmo que isto envolva ter que escalar um penhasco íngreme com sua armadura, seguido unicamente por seu servo. Este é um homem que confia em Deus apesar da aparência das circunstâncias. E eis um homem que seu escudeiro está disposto a seguir na batalha, mesmo que isto pareça suicídio. Por que? Creio que é porque Jônatas não é apenas um homem de fé, mas um homem cuja fé é contagiosa. Os que estão com Saul tremem porque ele treme. Os que estão perto de Jônatas confiam em Deus porque ele confia.
Isto leva a uma definição muito simples de liderança espiritual:
Liderança espiritual começa com fé em Deus, a qual compele um homem a agir obedientemente, a despeito dos obstáculos e das circunstâncias adversas, e faz com que outros o sigam em sua obediência.
Enfim, liderança espiritual não é uma questão de aparência, charme ou técnicas de administração e motivação. Liderança espiritual é uma questão de homens e mulheres que confiam em Deus e obedecem à Sua palavra e, desta forma, levam outros a confiarem e a obedecerem com eles. Saul não é um líder espiritual, Jônatas é.
Uma segunda aplicação diz respeito à nossa avaliação do êxito dos líderes. Deixe-me tentar afirmar isto como princípio:
Quando os líderes são bem sucedidos, em última análise, é devido à graça de Deus e, muitas vezes, pode ser conseqüência da fidelidade de outras pessoas cujos ministérios de apoio não sejam tão evidentes.
Considere estes versos que falam sobre o êxito da liderança de Saul:
“Tendo Saul assumido o reinado de Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, os filhos de Amom e Edom; contra os reis de Zobá e os filisteus; e, para onde quer que se voltava, era vitorioso. Houve-se varonilmente, e feriu os amalequitas, e libertou a Israel das mãos dos que o saqueavam.” (I Sam. 14:47-48)
Não desejo tirar todo o crédito de Saul, mas realmente creio que nosso texto deixa bem claro que ele só é bem sucedido devido à graça de Deus, não devido à sua própria habilidade, coragem ou poder. E a vitória de Israel sobre os filisteus não é devido à sua iniciativa, mas devido à iniciativa de seu filho. Quantas vezes são aclamados como grandes líderes os que recebem as glórias pertencentes àqueles que, por detrás dos panos, os tornam grandes? São muitos os que procuram os refletores. Bem-aventurados aqueles que fazem seus superiores parecerem bem, enquanto se afastam dos refletores.
Uma terceira área de aplicação é a relação entre fé e ação. Pelo contraste entre ambos, Jônatas e Saul ilustram a maneira como a fé se comporta. Às vezes, a fé é demonstrada pela nossa espera, não pelo nosso trabalho. A fé espera quando nosso trabalho seria fruto de nossa desobediência. Abraão deveria ter esperado pelo filho prometido ao invés de tê-lo com Agar. Saul deveria ter esperado ao invés de oferecer o holocausto. Quando não existe maneira de agirmos com fé e obediência, devemos esperar que Deus aja de maneira que supra as nossas necessidades.
Em outras ocasiões, somos inclinados a esperar quando a fé deveria ser demonstrada pelas nossas obras. Saul, que não poderia esperar por Samuel (mesmo tendo sido ordenado a isso), está mais do que disposto a esperar para livrar Israel do cativeiro dos filisteus, que não só ocupam sua terra (suas guarnições), mas também oprimem economicamente os israelitas com o monopólio da exploração do ferro. Um agricultor não poderia sequer sustentar-se sem pagar caro por suas ferramentas, e depois pagar muitas outras vezes para mantê-las (afiadas). Saul parece ter intenção de manter seu status junto aos filisteus. Ele pode (e aparentemente o faz) esperar indefinidamente para expulsá-los de Israel. Eis uma ação necessária que requer fé; no entanto, Saul quer esperar. Seus ataques às suas guarnições provocam um confronto militar que resulta na derrota dos filisteus - e na glória de Deus. Quantas vezes esperamos quando deveríamos agir e agimos quando deveríamos esperar. Como saber quando agir? Quando a palavra de Deus nos instrui a isso. Quando esperar? Quando a palavra de Deus nos instrui a tal, e quando agir demonstra nossa falta de fé e nossa desobediência.
Quarto, como muitos outros, o nosso texto nos dá uma perspectiva inteiramente nova das situações que parecem impossíveis. Aqui, como em outros lugares, Deus conduz Seu povo a circunstâncias aparentemente impossíveis. Vemos novamente um princípio muito importante ilustrado em nosso texto:
Deus intencionalmente leva os homens a situações “impossíveis” para deixar perfeitamente claro que não podemos salvar a nós mesmos, e que Ele nos liberta de forma que toda a glória seja dada a Ele.
Em outro lugar na Bíblia lemos:
“Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura.” (Isaías 42:8)
Diversas vezes na Bíblia Deus coloca os homens em situações impossíveis a fim de poder salvá-los de maneira a receber toda a glória por isso. Ele prometeu um filho a Abrão e Sarai, os quais, humanamente falando, estavam “mortos” com relação a poder ter filhos (ver Romanos 4:19), e eles tiveram um filho. Jesus sabia que Lázaro estava doente mas, deliberadamente esperou que ele estivesse morto para ir ao seu túmulo (ver João 11), a fim de poder demonstrar Seu poder sobre a morte ao ressuscitá-lo de entre os mortos.
Deus ama mostrar Sua força através das nossas fraquezas. O capítulo 13 de I Samuel mostra Israel e Saul em toda a sua fraqueza. Os soldados israelitas estão completamente inferiorizados em número e totalmente ultrapassados em suas armas. A despeito do que parece ser uma situação sem esperança, Deus lhes proporciona uma importante vitória sobre os filisteus. E isto acontece porque dois homens (um sem espada) confiam em Deus o suficiente para enfrentar os filisteus. Deus transforma o tremor dos israelitas no tremor de um terremoto, tão poderoso que traz confusão e caos às fileiras filistéias e, a maior parte dos que morrem ao fio da espada, morrem pelas mãos de seus irmãos filisteus.
Muitos cristãos parecem ter fé somente quando a vitória parece ser possível devido a esforços humanos, mas desmoronam quando as circunstâncias parecem impossíveis. Precisamos aprender com Jônatas que a vitória de Deus não depende das nossas forças, e com o apóstolo Paulo que a Sua força é manifestada através das nossas fraquezas (ver I Samuel 14:6; II Coríntios 12:9-10).
A ênfase nos círculos seculares (e, infelizmente, também nos círculos evangélicos) está no “poder do pensamento positivo”. Talvez haja ali um elemento de fé, mas há também um erro muito grave. Deus não é limitado por nossas habilidades, como demonstra a libertação de Saul, Jônatas e Israel dos filisteus. E Deus não é limitado pela nossa imaginação, nem pelos nossos pensamentos.
“mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (I Co. 2:9)
“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef. 3:20-21)
Deus leva os pecadores ao ponto do desespero e da desesperança (em suas condições, em seu “fanatismo” e em seus pecados) para que deixem de confiar em si mesmos e se voltem para Ele. O que nenhum homem jamais foi capaz de fazer para salvar a si mesmo, Jesus Cristo o fez na cruz do Calvário. Ele viveu uma vida de perfeita obediência a Deus. Ele morreu, não por seus próprios pecados, mas pelos pecados dos homens. Jesus pagou a pena pelos nossos pecados e oferece aos homens pecaminosos e indignos o dom da Sua justiça e da vida eterna. Jesus pagou por tudo. Tudo o que precisamos fazer é admitir nosso pecado, nossa corruptibilidade e nossa total incapacidade de salvar a nós mesmos. O que é impossível aos homens é possível para Deus:
“Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.” (Lc. 18:27)
Você já chegou ao seu limite? Já percebeu que receber o favor de Deus e alcançar o céu são coisas humanamente impossíveis? Se já, isto é uma bênção, se confia em Jesus Cristo para sua salvação.
Vamos concluir nosso estudo louvando a Deus junto com o apóstolo Paulo por Sua sabedoria em realizar coisas que achamos impossíveis, por meios que jamais poderíamos imaginar:
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:33-36)
27. Isaac Suit les Pas de Son Père (Genèse 26:1–35)
Introduction
Il y a une grande différence entre une rediffusion et un ralenti. Une rediffusion est simplement revoir la même chose dans son intégralité. Un ralenti est revoir quelque chose, mais pas la chose tout entière. C’est revoir certains passages, généralement plus attentivement. Les critiques ont tendance à voir Genèse 26 comme une rediffusion, et pas une bonne en plus. Ils sont, bien sur, corrects en reconnaissant les similarités entre les expériences d’Isaac dans ce chapitre et ceux dans la vie d’Abraham dans le chapitre précédent. Cependant, ils interprètent mal les similarités, dans le sens qu’ils suggèrent qu’elles ne soient pas importantes en ce qui nous concerne.215 En effet, ils questionnent même l’existence de ces évènements dans la vie d’Isaac.216
J’aimerai que nous concentrions notre attention sur le chapitre 26 comme s’il était un ralenti. C’est le seul chapitre dans le Livre de Genèse qui est exclusivement dévoué à Isaac. Bien qu’il soit mentionné dans d’autres chapitres, il n’en est pas l’acteur principal. Ici, la vie d’Isaac est résumée dans les évènements décrits, qui ont tous un parallèle frappant avec la vie de son père Abraham.
Une Réitération de l’Alliance avec Abraham (26:1-6)
Au début de la vie d’Abraham, une famine a mis en mouvement une série d’évènements qui a grandement formé la vie du patriarche. De même, une famine arriva dans le récit de la vie d’Isaac :
«A cette époque-là, il y eut de nouveau une famine dans le pays, comme naguère au temps d'Abraham. Alors Isaac se rendit à Guérar chez Abimélek, roi des Philistins. » (Genèse 26:1)
Cette famine est une qui est différente que celle qui arriva durant la vie d’Abraham. Prenant cela pour la vérité, nous ne pouvons pas être d’accord avec les critiques, qui ne voient qu’une seule famine qui est racontée plusieurs fois. En essayant de protéger sa fortune, sous la forme d’un troupeau impressionnant, Isaac est allé à Guérar pour éviter la famine. Pendant qu’il était là ou peut-être même avant, il décida d’aller plus loin vers le sud en Egypte, juste comme son père Abraham avait fait (Genèse 12:10.) Ce n’était pas selon le plan que Dieu avait pour Isaac, et IL lui apparut avec ces paroles d’instruction et une promesse :
« ---Ne descends pas en Egypte! Fixe-toi dans le pays que je te désignerai.
Séjourne dans ce pays-ci. Je serai avec toi et je te bénirai. Car c'est à toi et à ta descendance que je donnerai tous ces territoires. J'accomplirai ainsi le serment que j'ai fait à ton père Abraham.
Je rendrai ta descendance aussi nombreuse que les étoiles du ciel et je lui donnerai tous ces territoires ci, et tous les peuples de la terre seront bénis en ta descendance.
Je le ferai parce qu'Abraham m'a obéi et qu'il a observé mes prescriptions, mes commandements, mes préceptes et mes lois. » (Genèse 26:2-5)217
Dans le troisième verset, Dieu commanda Isaac de rester à Guérar pendant un certain temps. Dans le verset 2, je comprends que Dieu avait promit à Isaac de le guider vers le pays où il devrait aller en temps voulu par Dieu. Le reste de la révélation de Dieu est une répétition de l’alliance avec Abraham. Pour nous, ces mots ne sont pas seulement familiers mais presque répétitifs. A plusieurs reprises, nous avons vu Dieu confirmer et clarifier Son alliance avec Abraham (Genèse 13:14-17 ; 15:1,18-21 ; 17:1 ; 21:12 ; 22:17-18), mais ne négligeons pas le fait que, pour autant qu’on nous dit, cela est la première fois que Dieu parla comme ça à Isaac. Pour lui, cela n’était pas un récital monotone, mais l’assurance excitante que ce que Dieu avait promis à Abraham, IL le promettait maintenant à son fils. Ceci est l’alliance avec Isaac.
Le verset 5 nous rappelle que les bénédictions de l’alliance sont, jusqu'à un certain point, le résultat de la fidélité et de l’obéissance d’Abraham à Dieu. Et sûrement, sinon plus, la réalisation des promesses de l’alliance est basée sur la fidélité de Dieu à Abraham. Isaac est un témoin de cela (chapitre 22.) Sous-entendu dans le verset 5 est la nécessité pour Isaac de croire en la promesse de Dieu, de l’accepter comme une relation personnelle, et de vivre dans l’obéissance, comme son père l’avait fait. Le premier pas dans cette vie d’obéissance était de rester à Guérar, ce qu’Isaac fit (verset 6.)
Il est significatif que Moïse, qui a enregistré dans le Pentateuque (les cinq premiers Livres de la Loi) le don de la Loi, utilise les termes « mes prescriptions, mes commandements, mes préceptes et mes lois » en parlant de la relation d’Abraham avec Dieu. Je suis d’accord avec Leopold, qui remarque :
« Par l’usage de ces termes, Moïse qui les utilise tout exprès très fréquemment dans ses Livres plus tard, indique que les « les lois, commandements, prescriptions et préceptes » ne sont rien de nouveau mais étaient déjà de rigueur dans la religion patriarcale.218
La Répétition du Péché d’Abraham (26:7-11)
Quoi ? Encore ? J’en ai bien peur. Aussi étrange que ça puisse paraître, pour la troisième fois dans le chapitre 26, le même vieux péché de déception refait surface. Si rien d’autre, cela le prouve – Isaac est le fils de son père. Ayant peur pour sa sécurité, Isaac succombe à la tentation de faire passer sa femme pour sa sœur. En le faisant, il risqua la pureté de Rebecca comme prix de sa protection personnelle.
Les similarités entre le péché d’Isaac et celui de son père Abraham sont nombreuses. Tous les deux ont péché devant Abimélek, et tous les deux sont réprimandés par le roi des Philistins. Tous les deux avaient des femmes très séduisantes et avaient peur pour leur propre sécurité, pensant qu’ils pourraient être tués pour que quelqu’un puisse marier leur femme. Tous les deux mentirent en disant que leur femme était leur sœur. Il semblerait aussi qu’aucun d’eux n’ait réalisé la gravité de leur péché ou n’en se soit complètement repenti.
Les différences entre le péché d’Abraham et celui d’Isaac ne peuvent pas être négligées. Les différences démontrent le fait que deux déceptions différentes auraient eu lieu dans le pays des Philistins : Une par Abraham et l’autre par son fils. Il semblerait qu’il y ait peu de doutes qu’il y ait eu deux « Abimélek » différents dans ces chapitres de Genèse. Beaucoup d’années ont passé depuis qu’Abraham ne se soit tenu, sans excuse valable, devant Abimélek. Il serait assez certain d’assumer que le terme « Abimélek » est un titre de dignitaires, tout comme « Pharaon », plutôt que le nom d’une personne. On pourrait dire la même chose du terme « Pikol. » Une autre considération est que les fils étaient souvent nommés après leurs grands-pères.219 Les deux possibilités pourraient expliquer le fait que les noms « Abimélek » et « Pikol » (verset 26) se trouvent à la fois dans le chapitre 20 et dans le chapitre 26.
La politique de déception d’Abraham était simplement ça : Une politique établie avant qu’un danger n’arrive (Genèse 12:11-13 ; 20:13.) Depuis le tout début, Abraham introduisit Sara comme sa sœur. Isaac, cependant, attendit jusqu'à qu’il soit questionné à propos de Rebecca. A ce point, il perdit sa confiance, et eut recours à un mensonge :
« Lorsque les hommes de l'endroit s'enquéraient au sujet de sa femme, il répondait:
---C'est ma sœur.
Il ne disait pas qu'elle était sa femme: il avait peur que les gens de l'endroit le tuent à cause d'elle, car elle était très belle. » (Genèse 26:7)
On ne nous dit pas quelle part Rebecca joua dans tout ça. Il est possible qu’elle refusa de coopérer activement, créant ainsi des suspicions dans les esprits des Philippins. Sara a été prise comme épouse deux fois, mais l’intimité physique fut divinement restreinte. Dans le cas de Rebecca, personne ne l’a prise pour épouse. Dieu avertit vivement Abimélek quand il prit Sara, mais ici Abimélek se rendit compte de la déception en observant la conduite d’Isaac avec Rebecca. Il ne la traitait pas comme une sœur, mais comme une épouse. Il y aurait très bien pu déjà avoir un soupçon de doute dans l’esprit d’Abimélek et d’autres Philistins, car quand il vit Isaac caressant220 Rebecca, il dit,
« ---C'est sûrement ta femme. Pourquoi as-tu dit: «C'est ma sœur »? » (Verset 9.)221
L’éthique d’Abimélek apparaît être basée sur un standard plus élevé que celle d’Isaac. Ici Dieu n’a pas menacé Abimélek comme IL l’avait fait quand Sara fut emmenée au harem du roi philistin. Là, il fut dit à Abimélek qu’il était « un homme mort » (Genèse 20:3) s’il touchait un cheveu de Sara. Il n’y avait pas ici d’épée de Damoclès proverbialement suspendue au-dessus de la tête d’Abimélek. Néanmoins, il regardait le fait de prendre la femme d’un autre homme comme un péché, un de grandes conséquences. La pureté conjugale semblait être plus sacrée pour Abimélek que pour Isaac.
Après avoir découvert la déception d’Isaac, Abimélek ordonna que personne ne touche Isaac ou sa femme (Genèse 26:11.) Isaac n’a pas été ordonné de partir, ni a-t-il été encouragé à rester. Il a simplement été toléré.
Retour à l’Endroit des Bénédictions (26:12-25)
Dans le verset 2 Dieu avait promit de guider Isaac à un endroit où il devrait s’installer. Isaac n’avait aucune idée comment Dieu allait le ramener à l’endroit de Sa promesse et de sa présence. Pour la plupart, ce fut par des moyens d’adversité et d’opposition.
Au premier abord, l’opposition semble être la dernière chose qu’Isaac ait connue. Restant à Guérar après qu’Abimélek l’ait confronté, Isaac connut une récolte exceptionnelle :
« Isaac fit des semailles dans le pays et récolta cette année-là le centuple de ce qu'il avait semé. L'Eternel le bénissait.
Isaac devint un personnage important. Son importance s'accrut encore et il devint même un homme très puissant.
Il possédait des troupeaux de moutons, de chèvres et de bovins, et beaucoup de serviteurs, de sorte que les Philistins devinrent jaloux de lui. » (Genese 26:12-14)
En dépit des déceptions d’Isaac, Dieu l’a comblé de bénédictions. Pour des raisons qu’on discutera plus tard, Abimélek négligea de reconnaître que la prospérité d’Isaac venait de Dieu. Tout ce qu’il savait c’était qu’Isaac était un homme puissant – un dont il ne voulait pas comme ennemi. Abimélek savait aussi que les Philistins dans le pays devenaient mal à l’aise autour Isaac.
Isaac était plutôt personnellement menaçant, non seulement à cause de sa prospérité et son pouvoir, mais à cause de son père Abraham :
« Ils comblèrent tous les puits que les serviteurs de son père Abraham avaient creusé du vivant de ce dernier en les remplissant de terre. » (Genèse 26:15)
Creuser un puits était considéré équivalent à exiger d’être reconnu comme le propriétaire du terrain sur lequel le puits se trouvait.222 Il permettait à un homme de s’installer là et de soutenir un troupeau. Plutôt que de reconnaître cette demande, les Philistins ont cherché à les effacer en comblant les puits creusés par Abraham. Leurs désirs de rejeter toutes demandes sur leur pays étaient si intenses qu’ils préféraient combler le puits, un atout de grande valeur dans un pays si aride, plutôt que de permettre cette demande de rester incontestée.
Les sentiments de Philistins furent très précisément exprimés dans la suggestion brusque d’Abimélek qu’Isaac parte de Guérar (verset 16.) Plutôt que de se battre pour la possession de cette propriété, Isaac se retira. L’humble hériterait le pays, mais seulement quand Dieu le décidera.
Il semblerait qu’Isaac avait développé une stratégie par laquelle il avait défini où il allait s’installer. En fait, il refusait de rester là où il y avait des conflits et de l’hostilité. Etant un homme ayant à s’occuper de beaucoup d’animaux, il avait besoin d’un endroit avec une source abondante d’eau. Non seulement il rouvrit les puits qui avaient été creusés par son père, mais il en creusa d’autres. Si un puits avait été creusé, avait de l’eau et son usage était sans risque de conflit, Isaac avait tendance de rester à cet endroit.
Bien qu’Isaac n’ait pas réalisé ça pendant un certain temps, ce furent les disputes, concernant qui était le propriétaire des puits qu’il avait creusé ou rouvert, qui l’on guidées vers le pays promis. Pour Isaac, ces puits étaient une nécessité pour survivre, mais pour les Philistins ils représentaient des titres de propriété du pays. L’opposition était donc humainement expliquée, mais c’était aussi un moyen de guidage, divinement ordonné.
Dans la vallée de Guérar Isaac creusa un puits qui produisit de l’ « eau vive », qui est, de l’eau qui venait d’une source – de l’eau courante, pas simplement de l’eau contenue dans le puits. Les bergers philistins se querellaient avec les bergers d’Isaac à propos de ça, alors Isaac partit plus loin. Il creusa un autre puits, et il y eut encore une autre dispute (verset 21.) Finalement, un puits fut creusé qui n’amena pas d’opposition. J’imagine que cela a été du à la distance qu’Isaac avait mit entre lui et les Philistins. Ce puits fut appelé « Rehoboth », signifiant « Larges Espaces », l’espoir d’Isaac que ce pays était l’endroit où Dieu voulait qu’il reste.
Le parallèle entre la vie d’Isaac et celle de son père est à nouveau évident dans ce récit des disputes à propos des puits et la réponse d’Isaac. A cause de leurs prospérités, Abraham et Isaac avaient besoin de beaucoup de territoire pour leurs troupeaux et d’une source d’eau. La prospérité amena des histoires entre les bergers de Loth et ceux d’Abraham (Genèse 13:5) tout comme elle apporta des problèmes entre les bergers d’Isaac et ceux de Guérar. Isaac, comme son père, choisit de garder sa paix en donnant le choix à l’adversaire.
Je vois les versets 23-25 comme la clef de l’interprétation du chapitre 26. Ici, il arrive quelque chose de très étrange. Jusqu'à présent, la décision d’Isaac, concernant où il devrait s’installer, dépendait d’où il trouvait de l’eau et l’absence d’hostilité. Mais maintenant, ayant creusé un puits qui n’était pas contesté, nous nous serions attendus à ce qu’il se soit installé là. Mais au lieu de ça, on nous dit qu’il continua jusqu'à Beer-Chéba, sans explication:
« De là, il remonta à Beer-Chéba. » (Verset 23)
Je crois qu’un changement important s’est produit dans le processus de réflexion d’Isaac. Auparavant, les circonstances avaient formé la plupart de ses décisions, mais maintenant quelque chose de plus profond et de plus noble semble lui donner les directions dans sa vie. Beer-Chéba fut le premier endroit où Abraham soit allé avec Isaac après être descendu du Mont Morija (Genèse 22:19.) Isaac savait que Dieu avait juré de lui donner la terre promise à son père Abraham (26:3-5.) Je crois qu’il a finalement réalisé que, par toute l’opposition à propos des puits qu’il avait creusés, Dieu le ramenait vers la terre promise, vers les endroits où Abraham avait eu une relation personnelle avec Dieu. Je crois personnellement qu’Isaac alla à Beer-Chéba car il sentit, au niveau spiritual, que c’était là que Dieu le voulait. Si Dieu avait conduit Isaac par l’opposition, maintenant, Isaac était d’accord pour LE suivre.
La décision fut la bonne, car Dieu parla immédiatement des mots rassurant :
« La nuit de son arrivée, l'Eternel lui apparut et lui dit:
---Je suis le Dieu de ton père Abraham. Sois sans crainte car je suis avec toi; je te bénirai et je te donnerai une nombreuse descendance à cause d'Abraham, mon serviteur. » (Genèse 26:24)
Le verset 25 a un intérêt particulier. Remarquez spécialement l’ordre dans lequel Isaac s’installa à Beer-Chéba :
« Isaac bâtit un autel à cet endroit, il y invoqua l'Eternel et y dressa sa tente. Les serviteurs d'Isaac y creusèrent un autre puits.» (Genese 26:25)
Auparavant, le moyen de connaître la volonté de Dieu avait été les circonstances – en particulier, Isaac restait là où il creusait un puits, trouvait assez d’eau et n’avait pas d’opposition. Cependant, dans ce verset, la série d’évènements est à l’envers. En premier, Isaac construit un autel ; Puis il vénère Dieu, et seulement après il plante sa tente. Et finalement il creuse un puits.
Je crois qu’il y a une grande leçon de foi et de guidage ici. L’endroit pour le peuple de Dieu est l’endroit où est la présence de Dieu. L’endroit d’intimité, de vénération, et de communion avec Dieu est l’endroit où vivre. Là nous devrions demeurer, et là nous devrions être assurer que Dieu nous fournira tout ce dont nous aurons besoin. Les besoins matériels sont donc considérés en dernier, pendant que les besoins spirituels sont les tous premiers. N’est ce pas ce que notre Seigneur veut dire quand IL nous dit :
« Faites donc du règne de Dieu et de ce qui est juste à ses yeux votre préoccupation première, et toutes ces choses vous seront données en plus. » (Matthieu 6:33)
Le Témoignage d’Abimélek (26:26-31)
De là, tout semble prendre une nuance différente. Auparavant, Isaac était plus dirigé par la providence, mais maintenant que ses priorités ont été réarrangées, les bénédictions et directions de Dieu sont bien plus évidentes dans sa vie.
Abimélek, Ahouzath, et Pikol sont tous allés rendre une visite officielle à Isaac. Son irritation, autant que sa curiosité, peut être remarquée dans sa question :
«---Pourquoi êtes-vous venus me trouver, alors que vous me détestez et que vous m'avez renvoyé de chez vous? » (Genese 26:27)
La situation était insolite. Quand il était très près d’Abimélek et des Philistins, les bénédictions de Dieu sur Isaac étaient présentes (verset 12.) La réponse des gens du pays était envie et animosité. Ils exigèrent qu’il parte de leur pays. Maintenant, ils étaient disposés à parcourir tout ce chemin simplement pour venir faire un traité avec Isaac. Qu’est ce qui a provoqué ce changement de cœur et d’esprit ?
La conduite d’Isaac pendant qu’il était avec eux était telle que son témoignage était loin d’être excellent. Il mentit à propos de sa femme, la faisant passer pour sa sœur. Les Philistins ne pouvaient imaginer que sa prospérité soit le résultat d’une bénédiction divine, mais plutôt ils l’attribuèrent simplement à la chance. Maintenant que les priorités d’Isaac avaient changées, et que sa vie marchait selon des directives spirituelles, la bénédiction de Dieu était évidente. Il avait été compris, au moins dans un sens pratique, que l’alliance que Dieu avait faite avec Abraham, avait été passée à son fils. Abimélek avait réalisé que Dieu était avec Isaac et qu’une relation favorable avec lui serait des plus bénéficière.
« Ils lui répondirent:
---Nous avons bien vu que l'Eternel est avec toi, et nous nous sommes dit: Nous devrions nous engager, nous et toi, par serment! Nous voudrions donc faire alliance avec toi.
Promets-nous, en le jurant, de ne pas nous faire de mal, comme nous ne t'avons pas fait de mal, car nous t'avons toujours bien traité et nous t'avons laissé partir sain et sauf. A présent tu es béni par l'Eternel.
Isaac leur fit préparer un grand festin; ils mangèrent et burent » (Genèse 26:28-29)
La prospérité d’un homme pieux peut très bien être facilement vue comme étant une bénédiction de Dieu. Maintenant, contrairement é des fois précédentes, cela semble être vrai d’Isaac.
Le Témoignage du Puits (26:32-33)
La meilleure place où être pour Isaac était certainement Beer-Chéba. Premièrement, Dieu a parlé d’une telle façon qu’IL a confirmé la décision d’Isaac, un témoignage divin de la sagesse de déménager. Puis, Abimélek et deux de ses plus hauts officiers ont témoigné d’une manière ambigue de la bénédiction de Dieu à Beer-Chéba. Finalement, il y a le témoignage du puits. L’endroit où Dieu veut que nous soyons est aussi l’endroit où Il nous fournira tout ce dont nous aurons besoin :
« Or, ce même jour, les serviteurs d'Isaac vinrent lui annoncer qu'ils avaient trouvé de l'eau dans le puits qu'ils étaient en train de creuser.
Alors Isaac appela ce puits Chibea (Serment). C'est pour cela que la ville se nomme Beer-Chéba (le Puits du serment) jusqu'à ce jour. » (Genèse 26:32-33)
Ce qui était une fois son souci le plus important, était maintenant son moindre, bien que l’eau soit encore très essentielle pour survivre avec un troupeau si grand. Dieu ne laisserait pas son serviteur sans ce qu’il avait besoin pour prospérer, alors tous les efforts qu’ils faisaient pour creuser des puits furent récompensés et ils trouvèrent de l’eau. N’oubliez jamais : l’endroit où la présence de Dieu est, est aussi là où IL fournira tout ce qui est nécessaire.
Les Misères Dues Aux Mariages d’Esaü (26:34-35)
Servir Dieu n’est pas une garantie d’une vie sans problèmes ou d’une vie en rose. Il y eut encore des chagrins de cœur pour Isaac et Rebecca ; Esaü fut la cause de beaucoup de leurs chagrins et douleurs:
« A l'âge de quarante ans, Esaü épousa Judith, fille de Beeri le Hittite, et Basmath, fille d'Elôn le Hittite.
Elles rendirent toutes deux la vie amère à Isaac et à Rébecca. » (Genèse 26:34-35)
Ces versets nous aident à réaliser que même quand nous avons une relation juste avec Dieu, les problèmes feront tout de même partie de notre vie. Ces épreuves peuvent être le résultat d’un de nos propres péchés ou de celui qui est commun à l’humanité. Ces versets nous fournissent la toile de fond du drame du chapitre 27, qui sera notre prochaine leçon.
Conclusion
Ce chapitre souligne les deux genres de direction les plus communs qui sont à la disposition des Chrétiens de tous les temps : vivre par les principes ou par la providence. Quand nous marchons selon la conformité des principes décrits dans la Parole de Dieu, nous marchons plus près de LUI. Quand nous marchons selon la providence, nous arriverons bien où Dieu veut que nous soyons, mais sans la joie d’être un participant actif dans l’opération. Au lieu de ça, nous sommes l’objet passif que Dieu bouge d’un point à l’autre par les circonstances. Il y a peu de joie ou d’intimité avec Dieu dans cette façon.
Peut-être la leçon la plus importante de ce chapitre est celle qui est enseignée par la caractéristique la plus évidente du chapitre. Le chapitre, qui résume la vie d’Isaac, le fait d’une façon qui montre qu’il suivait l’exemple de son père, Abraham. Les critiques libéraux de la Bible notent bien cette similarité, mais ils concluent de ça, que le chapitre n’a pas grand chose d’original ou d’authentique, et à cause de ça, ce chapitre est largement ignoré.
Heureusement, ce n’est pas le cas pour le Chrétien sérieux. Je crois que Dieu a beaucoup à nous apprendre en nous permettant d’observer que la vie d’Isaac est une répétition des expériences de son père avec Dieu. Dieu a fait une alliance avec Abraham ; IL l’a confirmée avec Isaac. Abraham a menti à Abimélek à propos de sa femme ; Isaac a répété ce péché devant un autre Abimélek. Le premier Abimélek a recherché un traité avec Abraham, voyant que Dieu était avec lui ; Puis, des années plus tard, Abimélek fit la même chose avec Isaac. Et les similarités semblent continuer et continuer.
Puis-je vous suggérer que cela devrait nous dire quelque chose de très important, concernant notre propre expérience chrétienne. C’est un mécanisme, un mécanisme long et approfondi, que Dieu utilise pour amener une personne, premièrement à LUI et puis à sa maturité. Cela commence quand cet individu entre dans une alliance, une relation avec Dieu. Pour Abraham et Isaac, l’alliance fut l’alliance avec Abraham. For les Chrétiens d’aujourd’hui, c’est la Nouvelle Alliance instituée par notre Seigneur Jésus Christ, quand IL versa son sang sur la croix du Calvaire pour que nous soyons pardonnés de nos péchés et pour notre salût :
« Ensuite il prit du pain, remercia Dieu, le partagea en morceaux qu'il leur donna en disant:
---Ceci est mon corps [qui est donné pour vous. Faites cela en souvenir de moi.
Après le repas, il fit de même pour la coupe, en disant:
---Ceci est la coupe de la nouvelle alliance conclue par mon sang qui va être versé pour vous.... » (Luc 22:19-20)
Tout le monde doit commencer sa relation au même endroit, l’endroit de la relation personnelle avec Dieu en acceptant l’alliance. IL a offert. Et de ce commencement, nous nous embarquons dans un voyage spirituel qui est, dans beaucoup de façons, très similaire à ceux de saints qui nous ont précédés. Quand nous pourrons regarder en arrière sur nos vies, avec l’avantage de l’éternité, je suspecte que nous serons ébahis par la similarité entre notre chemin et ceux des autres qui sont passés avant nous ou qui nous suivrons. Il n’y a pas de raccourcis sur le chemin de la sanctification.
Pour ceux qui sont parents, cela a une très grande importance. Nos enfants doivent suivre notre exemple, s’ils veulent faire partie du royaume de Dieu. Nos enfants doivent commencer au même point que nous avons commencé. Ils doivent avoir une relation personnelle avec Dieu à travers notre Seigneur Jésus Christ. Puis, il doit leur être permis de faire les mêmes erreurs que nous avons faites pour que leur foi devienne mature et qu’ils apprennent à faire totalement confiance en le Dieu Qui les a appelés.
Si vous êtes comme moi, vous préfèreriez que vos enfants ne fassent pas les mêmes erreurs que vous avez faites, et j’espère que ce ne sera pas nécessaire. Je veux juste faire remarquer le fait qu’Isaac a suivit un chemin pratiquement identique à celui de son père. Soyons prêts à permettre à nos enfants d’échouer et de grandir comme Dieu veuille qu’ils grandissent. Bien qu’on préfèrerait que le contraire arrive, nos enfants ne peuvent pas commencer à établir une relation avec Dieu au niveau auquel nous sommes nous-même. Ils doivent commencer au tout début. C’est juste comme ça.
Laissez moi équilibrer un peu cela en disant que la meilleure façon d’aider nos enfants est d’être certain que nos empreintes soient telles que nous voudrions que nos enfants les suivent. Si la vie d’Isaac fut, jusqu'à un certain point, une réflexion de la vie de son père, quelle pensée effrayante ! Si les vies de nos enfants sont les miroirs des nôtres, quelle responsabilité impressionnante avons-nous, comme parents, d’obéir et de nous soumettre à la volonté de Dieu.
Finalement, laissez moi partager avec vous une explication possible pour la façon que Dieu a traité les péchés d’Abraham et de son fils Isaac. Je suis désappointé et désemparé par la pensée que Dieu n’ait pas punit ces hommes plus durement pour leur déception peu chevaleresque concernant leurs épouses. Je me serai attendu à ce que Dieu les confronte sévèrement pour leurs péchés. Si j’avais été un aîné dans l’église, j’aurai fortement préconisé une action disciplinaire. Pourquoi, alors, est-ce que Dieu n’a pas réagi plus fortement ?
Je pense que je commence, lentement, à comprendre la raison. La déception est un péché, et Dieu déteste la langue qui ment (Proverbes 6:17.) Mais mentir ici était un péché symptomatique, pas le vrai problème. Dieu n’a pas détruit le clignotant d’avertissement (la déception) car IL était plus concerné par détruire le vrai problème. Et le vrai problème, comme je le comprends, était l’incrédulité ou le manque de foi. Dans chaque cas de déception, Abraham et Isaac ont menti car il avait peur (12:11-13 ; 20:11 ; 26:7.) Cette peur était le produit d’une comprehension insuffisante de Dieu. Ils n’ont pas comprit la souveraineté ou l’omnipotence de Dieu ; Ils n’ont pas cru que Dieu pouvait les protéger en toutes circonstances. Ayant résolu le problème de trop peu de foi, le péché de déception ne sera plus un problème pour l’avenir.
C’est mon opinion personnelle que, des fois, nous sommes préoccupés avec des « péchés symptomatiques », nous dépêchant d’essayer de, comme quelqu’un à notre église a dit, les piétiner comme des cafards. Pendant que le péché devrait toujours être prit au sérieux, beaucoup de nos péchés seront résolus par une compréhension adéquate de Qui Dieu est. Le péché fondamental est celui de l’incrédulité, pas seulement pour les gens qui ne sont pas sauvés, mais aussi pour ceux qui le sont vraiment.
215 “This chapter finds little elucidation in various expositions. It is not touched upon in Understanding Genesis nor in Expositor’s Bible. By others it is rather a casual intrusion that does little to further the story or make any contribution to the development of thought after chapter 25.” Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), D. 211.
216 “It is sometimes wondered how it was that Isaac did exactly what his father before him had done, and the similarity of the circumstances has led some to think that this is only a variant of the former story. Would it not be truer to say that this episode is entirely consonant with what we know of human nature and its tendencies? What would be more natural than that Isaac should attempt to do what his father had done before him? Surely a little knowledge of human nature as distinct from abstract theory is sufficient to warrant a belief in the historical character of this narrative. Besides, assuming that it is a variant of the other story, we naturally ask which of them is the true version; they cannot both be true, for as they now are they do not refer to the same event. The names and circumstances are different in spite of similarities.” W. H. Griffith Thomas, Genesis: A Devotional Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1946), p. 239.
217 Kidner says further, “The heaped-up terms (cf., e.g., Dt. 11:1) suggest the complete servant, responsible and biddable. They also dispel any idea that law and promise are in necessary conflict (cf. Jas. 2:22; Gal. 3:21)”. Derek Kidner, Genesis (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 153.
218 H. C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), II, p. 720.
219 “Naming sons after grandfathers (‘papponymy’) was customary at various times. In a nearly contemporary example from Egypt the royal house and a provincial governing family retained this pattern side by side for four generations, so that Ammenemes I appointed Khnumhotep I, and his grandson Ammenemes II appointed Khnumhotep II. Alternating with them, Sesostris I and II appointed Nakht I and II, and certain negotiations were repeated as well.” Kidner, Genesis, p. 154, fn. 1.
220 The word used here, which is rendered “caressing” by the NASV, is interesting because its root is the same word from which the name Isaac is derived. Isaac (to laugh) was caressing (“sporting,” KJV) Rebekah. In Genesis 39:17 and Exodus 32:6 this word is employed by Moses to refer to “play,” which has rather obvious sexual overtones.
221 “The king’s mode of stating the case implies suspicions that he has held right along: ‘Look (here), she certainly is thy wife,’ a shade of thought caught by Meek when he renders: ‘So she really is your wife.’” Leupold, Genesis, II, p. 722.
222 “The digging of wells was a virtual claim to the possession of the land, and it was this in particular that the Philistines resented.” Griffith Thomas, Genesis, p. 240.
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22. Qu’Arrive-t-il Quand Les Chrétiens Font Des Erreurs ? (Genèse 21:1–34)
Introduction
Dans un de ses films, Julie Andrews chante une très belle chanson, une de mes favorites, mais la théologie est abominable. Les paroles sont : « Rien ne vient de rien, rien ne pourrait. Alors quelque part dans ma jeunesse ou mon enfance, j’ai du faire quelque chose de bien. » Beaucoup de Chrétiens semblent avoir ce même genre de théologie. Ils croient que les bonnes choses qui arrivent dans la vie sont le résultat de quelques chose de bien qu’ils ont fait. Tout comme les amis de Job, ils pensent que tout ce qui leurs arrivent de désagréable est le résultat de mauvaises choses qu’ils ont fait.
Je ne veux pas contester le fait que l’obéissance amène les bénédictions, car en fin de compte, elle les amène toujours. Cependant, Dieu amène souvent des afflictions dans la vie d’un Chrétien fidèle pour promouvoir croissance et maturité. Dieu amène aussi des bénédictions dans la vie chrétienne en dépit de ce qu’on a fait, plus qu’à cause de tout le bien qu’on ait fait. C’est la grâce – une faveur qu’on ne mérite pas. Le chapitre 21 de Genèse est la preuve de ce genre de bénédictions dans la vie d’un Chrétien.
La toile de fond de Genèse 21 est une qu’Abraham aurait préféré que Moïse oublie d’enregistrer sans les Écritures Saintes. Pendant qu’il était à Guérar, Abraham a fait passer, une fois de plus, sa femme pour sa sœur. Le résultat ne furent pas très plaisant, car Abraham fut réprimandé par un roi païen. La vraie tragédie est qu’il a semblé qu’il y ait eu une vraie tristesse ou repentance pour le péché qui avait été commit. Pour autant qu’on puisse dire, Abraham n’était pas au point le plus haut de sa vie spirituelle quand l’ « enfant de la promesse », Isaac fut né de Sara. C’était à ce point faible de la spiritualité d’Abraham, que Dieu a réalisé une des bénédictions promises dans sa vie.
La Naissance du Fils Promis (21:1-7)
Les évènements des versets de 1 à 7 peuvent être vus dans trois dimensions différentes. Dans les versets 1 et 2, nous voyons la dimension divine en la naissance d’un fils, comme un cadeau de Dieu. Les versets de 3 à 5 enregistrent la réponse d’Abraham à la naissance de son fils. Finalement, dans les versets 6 et 7, nous avons la réjouissance de Sara à cause de l’arrivée de l’enfant, si longtemps attendu, qui est la joie de sa vie.
Un Acte de Dieu (1-2)
J’ai un ami qui est assureur, et il me dirait bien vite qu’un « acte de Dieu » dans son métier est une catastrophe que l’homme ne peut contrôler. Isaac fut un « acte de Dieu » dans un sens très différent. Il fut le résultat de l’intervention divine dans les vies d’Abraham et Sara, tous les deux étant trop vieux pour avoir des enfants. C’était l’accomplissement de la promesse, faite longtemps avant la naissance de l’enfant, et souvent réitérée à Abraham (Genèse 12:2 ; 15:4 ; 17:15 ; 18:10) :
« L'Eternel intervint en faveur de Sara comme il l'avait annoncé et il accomplit pour elle ce qu'il avait promis.
Elle devint enceinte et, au temps promis par Dieu, elle donna un fils à Abraham, bien que celui-ci fût très âgé. » (Genèse 21:1-2)
Plusieurs choses sont choquantes dans ce passage. Premièrement, nous ne pouvons pas manquer la note d’assurance calme. Il n’y a pas eu de suspense. L’évènement vient sans surprise, relatant que rien d’autre n’aurait pu arriver, excepté ça. Et, bien sur, c’est tout à fait normal.
Deuxièmement, il y a un accent sur l’accomplissement. La naissance d’Isaac est arrivée sans surprise simplement car ce que Dieu avait promis arriverait. Trois fois en ces deux versets, l’élément d’accomplissement est accentué (« comme il l'avait annoncé », « ce qu'il avait promis », verset 1 ; « au temps promis par Dieu », verset 2). C’était Dieu Qui avait promis l’enfant ; C’était Dieu Qui a réalisé Sa parole. Et ce fut fait exactement quand IL l’avait dit. Les buts de Dieu ne sont jamais retardés, juste comme ils ne sont jamais battus par le péché de l’homme. Les buts de Dieu sont certains. Ce que Dieu promet, IL livrera.
Troisièmement, le fils semble être donné presque plus pour le bénéfice de Sara que pour celui d’Abraham. Moïse écrit, « L'Eternel intervint en faveur de Sara… et il accomplit pour elle » (verset 1). Je ne pense pas qu’il serait allé trop loin que de suggérer que Sara voulait ce fils plus qu’Abraham. Vous vous souvenez qu’Abraham a imploré Dieu pour Ismaël, apparemment pour l’accepter comme le fils de la promesse (17:18). Il semblerait qu’Abraham n’ait pas pris la promesse d’un fils très sérieusement quand il était d’accord de soumettre Sara aux dangers du harem d’Abimélek juste quand elle était presque prête à concevoir le fils de la promesse (17:21 ; 18:14). Et bien qu’Abraham n’ait pas eu le désir pour cet enfant autant que sa femme, Dieu a tenu sa promesse.
Acceptance distante (3-5)
Les versets suivants semblent confirmer ma suspicion qu’Abraham n’était pas extasié à propos d’Isaac, du moins pas autant que sa femme :
« Il appela ce fils qui lui était né de Sara: Isaac (Il a ri).
Il le circoncit à l'âge de huit jours, comme Dieu le lui avait ordonné.
Abraham avait cent ans au moment de la naissance d'Isaac. » (Genèse 21:3-5)
Sa réponse à la naissance d’Isaac pourrait être décrite comme « respectueuse ». Obéissant aux instructions qui lui avaient été données dans Genèse 17, Abraham appelle le bébé « Isaac » et le circoncit le huitième jour. Abraham suivit toutes les instructions de Dieu à la lettre, mais peut-être sans la joie qui aurait pu être éprouvée.
On nous rappelle qu’Abraham avait maintenant 100 ans. Dans un sens, Abraham et Sara étaient plus des grands-parents pour Isaac que des parents. Qui d’entre nous aurait été super heureux de la naissance d’un enfant à cet age ? Quand Abraham aurait pu être à la retraite depuis 35 ans, il est devenu un parent. Et à l’age de 113 ans, il entrerait dans les années d’adolescence avec son fils.
L’extase de Sara (6-7)
Si la réponse d’Abraham à la naissance de cet enfant est, au plus, respectueuse, celle de Sara est délirante :
« Sara dit alors:
---Dieu m'a donné une occasion de rire, et tous ceux qui l'apprendront riront à mon sujet.
Elle ajouta: Qui aurait dit à Abraham qu'un jour Sara allaiterait des enfants? Et cependant, je lui ai donné un fils dans sa vieillesse. » (Genèse 21:6-7)
Le nom Isaac veut dire « rire ». Abraham et Sara, tous les deux, quand il leurs a été annoncé qu’ils auraient un fils, ont ri (17:17 ; 18:12). Plus que tout, leur rire a été provoqué par l’absurdité de cette pensée d’avoir un enfant si tard dans la vie. Mais maintenant, le nom Isaac prit une nouvelle signification, car il était le ravissement de sa mère, qui éprouvait les plaisirs maternels si tard dans sa vie.
Ismaël est chassé (21:8-21)
Le manque d’enthousiasme d’Abraham à propos de son fils Isaac pourrait sembler très conjectural, et nous devons admettre cela sincèrement, mais les évènements des versets 8-21 semblent certainement renforcer cette impression à propos d’Abraham et son attitude envers son fils.
Le jour où Isaac fut sevré, Abraham prépara une grande fête. Cela semble avoir fourni l’occasion pour célébrer en ce temps là. Nous devrions garder à l’esprit que le sevrage d’un enfant arrivait souvent bien plus tard qu’il arriverait aujourd’hui. Isaac aurait facilement pu être trois ou quatre ans ou même plus agé.
La présence du fils d’Agar pendant la fête a détruit toute la joie que Sara aurait du avoir. Dans ce temps là, Ismaël aurait été un adolescent et aurait probablement reflété le dédain de sa mère pour Sara et son fils. A savoir si Ismaël se moquait actuellement d’Isaac ou simplement jouait et s’amusait bien, est dur à déterminer dans le contexte puisque le mot employé dans le verset 9 pourrait décrire les deux. Cependant, le commentaire de Paul dans Galates 4:29 nous informe que la moquerie était le sens que Moïse avait l’intention de nous transmettre.193 Sara décida que quelque chose allait devoir être faite une fois pour toutes. Avec vigueur, elle donna un ultimatum à Abraham :
«---Chasse cette esclave et son fils, car celui-ci ne doit pas partager l'héritage avec mon fils Isaac.» (Genèse 21:10)
C’était totalement « pas comme elle » d’exiger quelque chose comme ça. Quelle description différente de Sara dans l’épître de Pierre comparé à celui de Moïse :
« Recherchez non pas la beauté que donne une parure extérieure: cheveux habilement tressés, bijoux en or, toilettes élégantes,
mais celle qui émane de l'être intérieur: la beauté impérissable d'un esprit doux et paisible, à laquelle Dieu attache un grand prix.
Car c'est ainsi que se paraient autrefois les saintes femmes qui plaçaient leur espérance en Dieu, et elles étaient soumises à leur mari.
Tel était, par exemple, le cas de Sara: dans son obéissance à Abraham, elle l'appelait: mon seigneur. C'est d'elle que vous êtes les filles, si vous faites le bien sans vous laisser troubler par aucune crainte. » (1 Pierre 3:3-6)
Sara n’est certainement pas à son mieux dans le chapitre 21, mais Abraham ne l’est pas non plus. Certains on essayait d’applaudir Sara pour sa profonde intuition spirituelle concernant le fait qu’Isaac serait l’héritier, pas Ismaël. Personnellement, je crois que son motif principal était la jalousie et un instinct protecteur pour être sûre que son fils recevrait tout ce à quoi il avait droit.
Sara, comme tous Chrétiens que j’ai connu, a eu des moments qu’elle aurait préféré complètement oublier. Celui-là en aurait probablement été un. L’usage de Sara par Pierre comme exemple d’humilité et de docilité démontre que cet évènement est sûrement la proverbiale exception à la règle. D’une façon similaire, l’auteur d’Hébreux parlait d’Abraham et de Sara comme ceux dont la foi devrait être imitée. Leurs erreurs et péchés n’étaient pas mentionnés car ils ont été traités une fois pour toutes avec le sang du Christ. De plus, leurs péchés ne sont pas le point de l’auteur d’Hébreux, mais plutôt leur foi. Les péchés des hommes sont décrits dans les Écritures pour nous rappeler que les hommes et femmes de l’ancien temps, n’étaient pas différents de nous et pour nous servir d’avertissement et d’instruction pour ne pas répéter leurs erreurs (1 Corinthiens 10:11).
Abraham était profondément peiné par la décision qu’il devait prendre (Genèse 21:11). Du chapitre 17, nous savons qu’il était très attaché à son fils, Ismaël, et qu’il aurait été satisfait pour que cet enfant soit son héritier par lequel les promesses de Dieu seraient réalisées. Cela était, cependant, impossible car Ismaël était le résultat d’efforts humains, dénués de foi (Galates 4:21).
L’attachement d’Abraham pour son fils, Ismaël, était si grand qu’une crise dut survenir avant qu’il puisse venir aux prises avec la situation. Bien que nous ne puissions justifier les motivations de Sara pour son ultimatum, je crois personnellement que cela a du arriver pour forcer la main d’Abraham à écarter ses aspirations pour ce fils.
Dieu rassura Abraham qu’aussi douloureux et déplaisant que la situation soit, chasser Ismaël était juste. Dans ce cas, il devrait écouter sa femme :
« Mais Dieu lui dit:
---Ne t'afflige pas à cause du garçon et de ta servante. Accorde à Sara tout ce qu'elle te demandera. Car c'est par Isaac que te sera suscitée une descendance. » Genese 21:12)
Nous devrions remarquer que c’était tous les deux, Agar et le garçon, qui étaient prêts du cœur d’Abraham. Jusqu’ici Agar ne fut référée que comme la servante de Sara, mais ici, elle est appelée « ta servante » par Dieu. Sara, nous nous rappelons, était intensément jalouse d’Agar et de son fil (Genèse 16:5). Il est impossible pour un homme dans une relation intime, telle que celle d’Abraham et Agar, de simplement couper les ponts. Sara le savait, et Dieu aussi. Plus que juste physiquement, Abraham était devenu uni avec Agar, et Ismaël était la preuve de cette union.
Dans le chapitre 17, Dieu a refusé d’accepter Ismaël comme l’héritier d’Abraham. Isaac, IL avait insisté, serait l’héritier de la promesse (17:19). Il était donc nécessaire pour Ismaël d’être chassé et éliminé pour toujours du statut d’héritier. Pour cette raison, les demandes de Sara devaient être réalisées, et Ismaël devait être chassé. Pourtant les promesses que Dieu avait faites à Agar (16:10-12) et à Abraham (17:20) concernant Ismaël seraient honorées :
« Néanmoins, je ferai aussi du fils de l'esclave l'ancêtre d'une nation, car lui aussi est issu de toi. » (Genèse 21:13)
Le renvoi du fils d’une concubine n’était pas sans précédent à cette époque. Dans le Code d’Hammourabi, Loi 146, les enfants des esclaves, qui n’étaient pas reconnus comme héritiers, devaient être libérés en compensation de cela.194 Le renvoi d’Ismaël par Abraham va très bien dans cette pratique. En lui donnant sa liberté, il indiquait qu’Ismaël n’avait aucun droit à son héritage, qui appartenait exclusivement à Isaac.
Abraham se leva de bonne heure pour chasser Agar et Ismaël. Cela peut prouver sa volonté de s’acquitter d’une besogne déplaisante, comme le suggère Derek Kidner.195 Pendant que cela n’est pas aussi spirituel, je me demande si Abraham ne l’a pas fait pour d’autres raisons. Sûrement, un départ de bonne heure était prudent dans le désert, puisque le début du voyage se ferait dans la fraîcheur de la journée. Et aussi, avec un départ de bonne heure, il serait plus facile de dire au revoir, sans l’interférence de Sara. Je pense qu’Abraham voulait exprimer son amour profond pour tous les deux, Agar et Ismaël, sans une audience hostile.
Certains ont suggéré qu’Agar s’est perdue dans le désert et que cela explique pourquoi elle « partit à l'aventure » (verset 14). Pourquoi n’est-elle pas retournée en Egypte, puisqu’il semblait que c’est là qu’elle se dirigeait quand elle s’est enfuit de Sara (16:7) ? Plus tard, elle choisirait une femme d’Egypte comme épouse pour Ismaël (verset 21). Je crois qu’Agar n’est pas retournée en Egypte car elle croyait que Dieu réaliserait ses promesses concenant Ismaël à l’endroit où elle avait choisi de s’égarer. Dans ce sens, elle séjourna dans le désert, tout comme Abraham, faisant confiance à Dieu pour les bénir là.
Eventuellement, les provisions qu’Abraham leurs avaient données furent épuisées, et la mort semblait proche. Le garçon n’était pas un bébé ici, comme on pourrait supposer, mais un adolescent, car il avait presque quatorze ans de plus qu’Isaac (17:25). Ne voulant pas le voir mourir, Agar laissa Ismaël à quelque distance d’elle sous le peu d’ombre qu’un buisson donnait. Puis elle se lamenta bruyamment.
Ce ne sont pas les pleurs d’Agar qui attira l’attention de Dieu, mais ceux du garcon.196 Etant un descendant d’Abraham, Ismaël était l’objet de grand soin de Dieu. Ses pleurs apporta une intervention divine :
« Dieu entendit la voix du garçon et l'ange de Dieu appela Agar du haut du ciel et lui dit:
---Qu'as-tu, Agar? N'aie pas peur, car Dieu a entendu le garçon là où tu l'as laissé.
Lève-toi, relève le garçon et prends-le par la main, car je ferai de lui une grande nation. » (Genèse 21:17-18)
La solution du problème d’Agar était déjà présente. A travers ses larmes, elle ne pouvait pas voir le puits près d’elle. Plus que probable, ce n’était pas une structure distincte, mais simplement une petite source d’eau cachée dans les buissons. Dieu alors lui permit de voir les choses comme elles étaient vraiment, et elle et le garçon furent rafraîchis et ravivés.
Le travail de Dieu dans la vie d’Agar peut nous sembler dur, mais je comprends qu’il était tel que Ses promesses ont été réalisées. Vous vous souvenez quand Ismaël devait être comme un « âne sauvage », en butte à ses frères, et un esprit libre. Ce genre d’homme ne pouvait pas être élevé dans une ville, avec toutes les commodités et avantages. Apprendre à survivre dans le désert, à dominer les éléments hostiles était juste ce qu’il fallut pour faire un homme d’Ismaël.
Abimélek Signe un Traité Avec Abraham (21:22-34)
Les versets 22 jusqu’à 34 décrivent un incident particulier dans la vie d’Abraham. Le traité qui fut fait entre Abraham et Abimélek est important pour tous, Abraham et nous. Par implication, il dit beaucoup des peurs et de la foi d’Abraham.
La rencontre entre ces trois personnes était une de grande importance. Abraham était reconnu comme un homme d’influence et de pouvoir. Plus que ça, il était connu comme étant l’objet de la protection et de l’amour divin. Abimélek et Pikol sont venus à Abraham ; ils ne l’ont pas invité dans un palais. Ils sont venus à lui pour signer un traité :
« A la même époque, Abimélek accompagné de Pikol, chef de son armée, vint trouver Abraham et lui dit:
---Dieu fait réussir tout ce que tu entreprends.
Maintenant donc, jure-moi ici par le nom de Dieu de ne trahir ni moi, ni mes enfants, ni ma descendance, mais d'agir envers moi et envers ce pays où tu séjournes avec la même bonté dont j'ai usé envers toi. » (Genèse 21:22-23)
C’est difficile d’imaginer l’embarras intense que cette requête aurait pu amener à Abraham. Ici étaient le roi du pays où Abraham vivait et le chef de son armée venant le voir, voulant faire un traité. Ils reconnaissent que leur motivation était largement basée sur le fait qu’Abraham était aimé de Dieu. En essence, ces hommes étaient au courant, par leurs propres expériences, de l’Alliance de Dieu avec Abraham :
« Je ferai de toi l'ancêtre d'une grande nation; je te bénirai, je ferai de toi un homme important et tu deviendras une source de bénédiction pour d'autres.
Je bénirai ceux qui te béniront et je maudirai ceux qui t'outrageront. Tous les peuples de la terre seront bénis à travers toi. » (Genèse 12:2-3)
Abimélek voulait un traité avec Abraham car il ne voulait pas, jamais, être en guerre avec lui. Attaquer Abraham, c’était attaquer le Dieu d’Abraham et lutter contre LUI. D’un autre coté, avoir un traité avec Abraham, c’était avoir Dieu de son coté. Pas étonnant qu’Abimélek soit si anxieux de négocier un tel traité !
Mais voyez-vous la leçon que cela aurait du apprendre Abraham ? Abraham avait menti à Abimélek à propos de Sara, car il avait pensé que personne ne révèrait Dieu, donc, aucune protection pour lui, dans un pays païen (20:11). Dieu a réprimandé son incrédulité par son témoignage des lèvres d’Abimélek.
En outre, la déception d’Abraham fut réprimandée. Qu’auriez-vous ressentit si un roi et le chef de ses armées vous complimentaient, en reconnaissant que Dieu était avec vous d’une façon spéciale, et puis vous faisaient promettre de ne plus leurs mentir ? Abimélek respectait le Dieu d’Abraham, mais il n’était pas trop sûr à propos de la crédibilité d’Abraham. En exigeant une promesse d’Abraham, Abimélek cherchait à éliminer le problème des mensonges. Une fois auparavant, il avait presque perdu sa vie à cause d’un mensonge d’Abraham (20:3), il ne voulait pas vraiment que ça arrive à nouveau.
Une fois que le traité fut signé, Abraham amena sur la table une demande spécifique qui pouvait être accommodée par les termes justes discutés. Abraham se plaint à Abimélek d’un puits que ses servants avaient creusé, seulement pour être confisqué par les servants d’Abimélek (verset 25). Abimélek nia non seulement toute connaissance de cet incident, mais sembla reprocher légèrement à Abraham de mettre ça sur le tapis (verset 26). Une alliance spéciale fut faite concernant ce puits, sept agnelles étant le gage de l’accord (versets 28-31). Abimélek et Pikol s’en allèrent, et Abraham commémora sa vénération du Seigneur, LE remerciant pour le traité en plantant un arbre, un tamaris. Et Abraham resta dans ce pays des Philistins pendant quelque temps.
La leçon qu’Abraham a apprit de cela fut choquante. Il avait eu peur pour sa vie et pour sa femme parmi ces « païens » (20:11). Dieu lui a montré qu’Abimélek avait reconnu son statut favori avec son Dieu et qu’Abimélek ne lui aurait pas fait corporellement de mal pour ça. Non seulement, Abimélek ne prendrait pas une femme qui n’était pas la sienne, il ne prendrait même pas un puits qui ne lui appartenait pas. Les peurs d’Abraham semblent totalement absurdes après cet incident !
Conclusion
Plusieurs leçons émergent de cette page d’histoire de la vie d’Abraham. Premièrement, nous devons conclure que les bénédictions de Dieu continuent à arriver dans les vies de Ses gens, même pendant les périodes quand leur foi est faible. Ni Abraham, ni Sara n’ont été vus sous leurs meilleurs angles dans ce chapitre ; et pourtant Dieu leur a donné le fils promis, IL a préservé la vie d’Agar et d’Ismaël, et IL a arrangé une alliance avec un roi païen qui a donné à Abraham une position privilégiée.
De peur que nous n’allions conclure que la sainteté n’est pas importante, il doit aussi être dit que la désobéissance a ses douloureuses conséquences. Bien qu’il se soit passé des années après l’union d’Abraham et Agar, une union qui a nié le pouvoir de Dieu d’accomplir les promesses de Son Alliance, Abraham a du faire face à ce qu’il avait fait de mal et chasser son fils bien-aimé. Tôt ou tard, les conséquences du péché sont récoltées par le pécheur. Alors, là, la laideur de Sara, la séparation larmoyante d’Abraham et l’escarmouche avec la mort dans le désert résultaient de l’acte impétueux d’Abraham avec Agar.
Deuxièmement, nous devrions nous rappeler que quelque fois, une bonne chose arrive pour de mauvaises raisons. Je ne crois pas que Sara ait été exposée sous son meilleur angle dans ce chapitre. Je ne vois pas un esprit calme et soumis dans sa confrontation avec Abraham. Néanmoins, nous devons conclure, des instructions de Dieu à Abraham d’obéir sa femme, que la bonne chose à faire était de chasser Ismaël, une fois pour toutes. Cela préparait le chemin pour le « sacrifice d’Isaac » dans le chapitre suivant, car seulement maintenant Dieu pourrait-il dire à Abraham,
« ---Prends Isaac, ton fils unique, que tu aimes, lui dit Dieu, et va au pays de Morija. Là, tu me l'offriras en sacrifice… » (Genèse 22:2)
Partout à travers la Bible, nous voyons que les bonnes choses sont souvent le résultat de mauvaises raisons. Par exemple, Joseph a été envoyé en Egypte pour préparer le chemin du salût de la nation d’Israël, mais il est arrivé là-bas par la traîtrise des ses frères, qui avaient pensé qu’ils se débarrasseraient de lui en le vendant comme esclave. Satan a affligé Job pour démontrer que les croyants ne faisaient confiance à Dieu qu’à cause de tous les bénéfices qu’ils pourraient tirer de LUI. Cependant, Dieu a permit Job d’être tester pour enseigner à Satan (et à nous) une leçon de foi.
Etes-vous dans une situation difficile ou douloureuse ? Peut-être est-ce arrivé à cause de la déception ou de la malveillance de quelqu’un d’autre. Ca n’a vraiment pas d’importance, en ce qui vous concerne. Si vous croyez en un Dieu qui est vraiment souverain, vraiment au contrôle, vous devez alors accepter le fait que Dieu vous ait amené au correct endroit pour la mauvaise raison. Les raisons ne sont peut-être pas dignes d’éloges, mais vous pouvez être sûrs que Dieu vous a au bon endroit pour une bonne raison.
Troisièmement, nous apprenons que la grande majorité de nos peurs ne sont pas justifiée. Abraham avait peur pour sa vie et pour sa femme. Il croyait que Dieu serait obéi et Ses gens protégés seulement où IL était connu et révéré. Il allait apprendre à travers ce traité avec Abimélek que Dieu prend soin des Siens. Si Abimélek ne prendrait pas un puits, il ne prendrait pas une femme ou une vie. Tous les complots d’Abraham ont été pour rien. La foi peut se reposer sur les promesses de l’alliance de Dieu ; la peur n’a aucune fondation du tout.
Finalement, la réponse de Dieu à notre problème est souvent la solution qui était là depuis le début, mais notre anxiété nous a empêché de la voir. J’aime beaucoup le fait qu’Agar ait vu le puits qui était là depuis le début. Seules ses larmes et ses peurs l’empêchaient de le voir. Les pleurs et lamentations de ceux qui appartiennent à Dieu L’atteingnent toujours, mais les réponses ne sont pas toujours spectaculaires ou miraculeuses, comme souvent nous espérons ou demandons. Souvent la réponse sera celle qui est évidente.
LUI appartenez-vous, mes amis ? Si vous êtes arrivés à faire confiance au travail que Jésus Christ fait pour votre salût, alors, oui, vous LUI appartenez. Et si vous LUI appartenez, Dieu prends soin de vous. Ceux qui appartiennent à Dieu n’ont pas besoin d’avoir peur, car IL est avec eux ; Effectivement, IL est en eux. Et, IL nous traite avec grâce. Même dans nos heures les plus sombres, IL reste fidèle et Ses promesses restent vraies.
193 RSV’s ‘playing’ (implying that Sarah was insanely jealous) is unfair: it should be translated ‘mocking’ (AV, PV). This is the intensive form of Isaac’s name-verb ‘to laugh,’ its malicious sense here demanded by the context and by Galatians 4:29 (‘persecuted’)! Derek Kidner, Genesis (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 140.
194 The Code of Hammurabi declares that children of slaves not legitimized, though not sharing in the estate, must be set free [Law 171]. Harold Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 185.
195 Kidner, Genesis, p. 140.
196 It is no coincidence that the name “Ishmael” means “God hears” (cf. Genesis 16:11)
14. Loth Fait Attention Pour le Numero 1 (Genèse 13:5–18)
Introduction
Cette semaine, comme je me préparais pour ce message, je me suis souvenu d’un livre très populaire titré, Faire Attention Pour le Numéro Un. Pensant que ce livre pourrait me donner du matériel explicatif, je suis allé à la bibliothèque pour voir s’il y était. Tous les livres étaient déjà sortis. Ça me dit qu’aujourd’hui beaucoup de gens sont intéressés à agir sur ce principe.
Loth n’a jamais lu de livre sur ce sujet, mais il savait le pratiquer comme un chef, comme nous pouvons le voir dans le récit de Moïse dans le chapitre 13 de Genèse. Ici, le temps de se séparer est venu pour Loth et Abram. Dans leur séparation nous trouvons un contraste entre ces deux saints dans leurs motifs et leurs actions, un contraste qui sert comme avertissement pour ceux qui pensent que Dieu bénit ceux qui font attention à eux-mêmes au détriment des autres.
La Relation Est Tendue (13:5-7)
Quand ils sont partis d’Ur avec Térah, Abram et Loth semblaient inséparable, même quand Dieu avait ordonné Abram de quitter sa famille.
«L'Eternel dit à Abram:
---Va, quitte ton pays, ta famille et la maison de ton père pour te rendre dans le pays que je t'indiquerai. » (Genèse 12:1)
Mais finalement, le bond entre eux s’est affaiblit. Essentiellement, leur séparation a été causée par trois facteurs qui sont enregistrés dans les versets 5-7:
« Loth, qui accompagnait Abram, avait aussi des moutons, des chèvres, des bovins et des tentes,
et le pays ne suffisait pas pour qu'ils puissent habiter ensemble, car leurs troupeaux étaient trop nombreux,
et, de plus, les Cananéens et les Phéréziens habitaient alors le pays. Alors, les bergers d'Abram se disputèrent avec ceux de Loth. » (Genèse 13:5-7)
Le premier problème était le succès des deux hommes comme gardiens de troupeaux. Tous les deux, Abram (13:2) et Loth (13:5), avaient prospéré. Maintenant leurs troupeaux étaient devenus si grands qu’ils ne pouvaient plus rester ensemble (13:6). Cela était spécialement vrai pour des membres d’une tribu nomades qui devaient voyager cherchant des pâturages pour leurs moutons et bétails.
Le deuxième problème était la bagarre qui semblait grandir continuellement entre les hommes d’Abram et de Loth (13:7). Les employés de chaque homme cherchaient de l’eau et le meilleur pâturage pour les animaux de leur maître. Cette compétition inévitablement conduisit à un conflit entre les gens de Loth et d’Abram.
Il ne serait probablement pas faux de suggérer que des éclats de voix aient été entendus entre Abram et loth. Cela pourrait très bien être impliqué par les mots d’Abram dans le verset 8. Cela pourrait aussi être vrai dans la vie. Chaque fois qu’il y a des disputes entre des employés, il y a le plus souvent aussi disputes entre les chefs.
Si le premier problème est le succès des deux hommes, et le second est les disputes qui en résultent, le troisième est le fait que le pays dans lequel ils séjournaient était partagé avec des autres ; à savoir les Cananéens et les Phéréziens (13:7).
Cette remarque en apparence fortuite du crayon de Moïse ne nous rappelle pas seulement qu’Abram était un hôte passager, séjournant dans un pays qui un jour appartiendrait à ses descendants, mais il peut aussi suggérer que la dispute qui existait entre lui et Loth était un pauvre modèle pour ceux qui regardaient avec intérêt. De plus, Abram et Loth non seulement devaient partager les pâturages entre eux, mais étaient à la merci de ceux qui avaient une revendication précédente de la terre.
Je souris en lisant ces versets, car Dieu utilise des façons étranges et quelquefois humoristiques pour accomplir Sa volonté. Longtemps avant, Dieu avait dit à Abram de quitter son pays et sa famille. A cette époque, laisser Loth était simplement une question de principe. Abram aurait du le faire parce que Dieu l’avait ordonné. Maintenant, des années plus tard, Abram, à contre cœur, se rend compte que la séparation doit arriver, non pas par principe, mais car cela était une opportunité pratique.
Mes amis, d’une manière ou d’une autre la volonté de Dieu va être faite. Elle aurait pu être faite par Abram à Ur, mais il ne l’a pas fait. Dieu, providentiellement, a amené une rancœur et une compétition entre Abram et Loth qui a forcé la séparation à arriver. Tôt ou tard, les buts de Dieu vont se réaliser. Si nous ne voyons pas le besoin d’obéissance, Dieu le créera. Vous pouvez y compter !
Une Demande Est Faite (13:8-9)
Il n’y a pas de doute que le problème qui a causé la séparation d’Abram et de Loth avait été évident depuis longtemps. J’imagine qu’Abram l’avait fréquemment discuté avec Saraï, sa femme. Le texte ne nous dit rien de tout cela, mais je suspecte que les mots de Saraï à Abram sont les mêmes mots que la plupart des femmes ont dit à leur mari: « Je te l’avais bien dit ! »
Souvent une action qui est inévitable est évidente à notre compagne/on bien avant qu’on ne veuille accepter la réalité de nos circonstances. Saraï aurait bien pu proposer une solution différente que celle qu’Abram a choisi. Elle aurait pu dire à Abram, « Dis à Loth d’aller voir ailleurs si on y est. Dieu n’a pas appelé Loth à Canaan, mais toi. Laisses le partir ! » Tout cela, bien sur, est pure supposition de ma part. Mais n’importe quel étudiant de nature humaine devrait trouver là au moins une possibilité réalistique.
La solution d’Abram ne pouvait pas être plus gracieuse ou pieuse. Sa motivation semble être basée sur la morale et non pas sur l’économie.
Puis Abram a dit à Loth,
« Abram dit à Loth:
---Nous sommes de la même famille. Il ne faut donc pas qu'il y ait dispute entre moi et toi, entre mes bergers et les tiens.
Séparons-nous plutôt. Tout le pays est à ta disposition. Si tu vas à gauche, j'irai à droite, et si tu vas à droite, j'irai à gauche. » (Genèse 13:8-9)
Plus que tout, Abram voulait maintenir la paix et résoudre le conflit qui était survenu entre lui-même et Loth. Le principe le plus important est que l’union fraternelle doit être préservée. Etrangement, bien que très pratique, cette union devra être protégée par la séparation. Quelqu’un doit partir, soit Abram ou Loth.
En apparence, il était évident qu’ils devaient se séparer. La seule question était qui partirait, et où irait-il ? Abram a laissé cette décision à Loth. Le chemin qu’il choisirait, Abram irait de l’autre coté. L’offre donnait l’avantage à Loth, et laissait Abram vulnérable.
Une Résolution et Son Résultat (13:10-13)
Il semble que les deux hommes étaient sur un point haut duquel tout le terrain autour d’eux était visible quand Abram a fait son offre à Loth. La décision de Loth a été prise basée sur des calculs froids. Avec les yeux d’un expert, il a regardé au terrain, pesant les avantages et les inconvénients de ses options :
« Alors Loth regarda et vit toute la plaine du Jourdain qui s'étendait jusqu'à Tsoar: avant que l'Eternel eût détruit Sodome et Gomorrhe, elle était comme le jardin de l'Eternel, comme la terre d'Egypte.
Loth choisit donc pour lui toute la plaine du Jourdain et il se dirigea vers l'est. Ainsi, ils se séparèrent l'un de l'autre. » (Genèse 13:10-11)
Etant père de 5 enfants, je peux apprécier ce qu’il est passé dans l’esprit de Loth quand il a jeté un coup d’œil sur le terrain autour d’eux. N’importe lequel de mes enfants pourrait travailler pour le Bureau des Standards. Avec un simple coup d’œil chacun peut facilement déterminer la quantité de soda dans des verres. Sans effort apparent, ils essayent d’attraper le verre le plus rempli, et le plus rapide arrive toujours à l’attraper. Ce même genre de calcul était évident dans les yeux de Loth.
Il fixe ses yeux sur la vallée magnifique du Jourdain. Sa magnifique couleur verte etait l’évidence même de la présence abondante des eaux du Jourdain pour l’irrigation. Les collines sèches et poussiéreuses plus loin avait peu d’intérêt. Il n’y avait pratiquement pas d’eau là.
Littéralement, la plaine du Jourdain était un paradis. C’était juste comme ce « jardin du Seigneur » (13:13). Lui aussi semble avoir été créé par l’irrigation, plutôt que par la pluie (Genèse 2:6, 10). La plaine du Jourdain était aussi comme le pays d’Egypte. Quelqu’un n’a pas à vivre par la foi dans un tel endroit car l’eau était abondante, et il n’avait pas besoin d’attendre de la pluie de Dieu.
Alors, le choix de Loth était fait, clairement une décision intelligente, apparemment un choix qui lui a donné l’avantage dans la compétition entre lui et Abram. C’était, d’après moi, une décision égoïste – une qui a prit tout le meilleur et a laissé Abram avec tout ce qui ne valait rien.
La séparation la plus simple et la plus équitable aurait été de faire de la rivière Jourdain la frontière entre les deux hommes. Qu’est ce qui aurait été plus équitable que d’avoir choisi un coté de la rivière pour y vivre et de laisser l’autre coté à Abram ? Mais Loth a choisit « toute la plaine du Jourdain » (verset 11). Il a fait un travail de maître, faisant attention pour le No. 1, lui-même. Il aurait pu écrire un livre sur ce sujet.
Abram et Loth sont maintenant séparés. Abram vit à Canaan, pendant que Loth se glisse de plus en plus prêt de Sodome.
Abram s’est installé au pays de Canaan, pendant que Loth s’est installé dans les villes de la plaine, et a déménagé ses tentes jusqu'à Sodome (Genèse 13:12).
Loth avait considéré très attentivement les facteurs économiques dans sa décision, mais il a totalement négligé les dimensions spirituelles. Dieu avait promit de bénir Abram, et les autres par lui quand ces autres le béniraient (Genèse 12:3). Quand Loth est parti sur son chemin, je suis sûr qu’il se sentait malin d’avoir roulé le vieux Abram. Abram a du être un peu gaga d’avoir donné un tel avantage à Loth, et Loth était juste assez malin d’en tirer avantage. Mais en chemin, Loth n’a pas bénit Abram, mais l’a humilié. C’était maudire, pas bénir (Genèse 12:3).
En plus, Loth n’avait pas considéré les conséquences de vivre dans les villes de la plaine. Le sol était fertile et l’eau abondante, mais les hommes de ces villes étaient pervers. Le coût spiritual de la décision de Loth était très cher. Et, à la fin, les bénéfices matériels sont devenus des pertes aussi.
Loth n’avait pas l’intention, je crois, de vivre vraiment dans les villes de la plaine. En premier, il était simplement parti dans cette direction (verset 11). Mais une fois que notre direction est fixée, notre destination est aussi déterminée car c’est maintenant seulement une question de temps. Bien que Loth ait vécut dans ses tentes pour un moment, avant longtemps, il les a échangées pour un pavillon à Sodome (19:2,4,6). Il se peut qu’il ait vécut dans la banlieue en premier, mais en dernier il vivait au centre ville (19:1).
Des fois, certaines décisions ne semblent pas être très significatives, mais elles nous mettent sur un chemin particulier pour nos vies. La décision ne semble pas être très importante, mais son résultat final peut être terrifiant et tragique. Et souvent l’apparence est que ce choix est celui qui est certain d’être à notre avantage. La prospérité matérielle ne devrait jamais être recherchée au prix de péril spirituel.
Combien le temps peut changer notre perspective de prospérité ! Quand la décision a été prise de s’installer dans la plaine du Jourdain, c’était virtuellement un paradis (13 :10). Moïse, cependant, a inclut une remarque, entre parenthèses, qui peut mettre cette beauté sous un angle différent :
« … avant que l'Eternel eût détruit Sodome et Gomorrhe » (Genèse 13 :10)
Combien différentes les choses peuvent apparaître après un jugement divin. Un paradis magnifique, et il était – jusqu'à ce que Dieu ait fait tomber une pluie de soufre enflammé par un feu qui venait du ciel (19:24). A partir de ce jour, il est devenu une déchetterie.
Bien plus que la perte de ses possessions et sa prospérité, Loth a payé un prix terrible pour son plaisir de courte durée. Selon Pierre, l’âme de Loth fut continuellement contrariée par ce qu’il a vu dans cette ville (2 Pierre 2:7). Même quand le saint est entouré de plaisir sensuel, il ne peut pas apprécier le péché pour longtemps. Et plus tragique que n’importe quoi, Loth a payé dans sa famille pour sa décision. Sa femme a été tournée en sel parce qu’elle était encore attachée à Sodome (19:26). Ses filles ont séduit Loth et lui ont causé de commettre l’inceste, sans aucun doute : Un reflet des valeurs morales de Sodome (19 :30)
Réconfort Pour Abram (13:14-17)
C’est intéressant que Dieu n’ait pas parlé à Abram (du moins, c’est ce que les Ecritures nous disent) jusqu’après qu’il ait prit sa décision de se séparer de Loth. Ce fait n’est pas accidentel, mais fondamental, car nous lisons,
« L'Eternel dit à Abram après que Loth se fut séparé de lui, … » (Genèse 13:14)
L’appel de Dieu à Abram (12:1-3), pour autant que nous sachions, était à Abram seul. Ainsi que la confirmation dans le chapitre 13. Dieu a ordonné à Abram de quitter sa famille (12:1). La bénédiction et le réconfort ne pourraient venir que par l’obéissance à la volonté révélée de Dieu. Humainement parlant, la seule chose qui entravait le chemin de la bénédiction divine était la désobéissance humaine. Dieu a enlevé cette barrière en séparant providentiellement Loth, et maintenant la promesse de Dieu est réaffirmée.
« … Lève les yeux et regarde depuis l'endroit où tu es, vers le nord, le sud, l'est et l'ouest:
tout le pays que tu vois, je te le donnerai, à toi et à ta descendance pour toujours.
Je rendrai ta descendance aussi nombreuse que les grains de poussière de la terre; si l'on peut compter les grains de poussière de la terre, alors on pourra aussi compter ta descendance.
Lève-toi, parcours le pays en long et en large car je te le donnerai. » (Genèse 13:14b-17)
Loth avait « levé ses yeux » (verset 10) et vu la terre devant lui avec les yeux d’une promesse financière, Abram a été ordonné de regarder la promesse de Dieu avec les yeux de la foi.
Abram a du être à un endroit élevé, admirant le pays qui lui appartenait, et peut-être aussi le pays que Loth avait choisi d’occuper. Si j’avais été dans les chaussures d’Abram, j’aurai eu beaucoup de doutes. Ne venais-je pas d’abandonner une occasion en or ? Saraï ne penserait-elle pas que j’avais agit comme un idiot ? Ne l’ai-je pas désappointée ? N’ai-je pas désappointé Dieu dans ma décision ? Un coup d’œil au vert luxurieux de la plaine du Jourdain contre la nudité brune des collines desséchées a pu inspirer de telles pensées.
Cependant Dieu a assuré Abram que tout la terre qu’il pouvait voir allait lui appartenir. Loth a pu choisir de vivre à Sodome, mais Dieu ne lui avait pas donné la ville, ni n’allait-IL la lui donner. Loth devait être un visiteur à Sodome (19:9) et pas non plus pour longtemps. Donner l’avantage à Loth n’était pas abandonner ses espoirs pour le futur, car c’est, en dernier, Dieu Qui apporte les bénédictions aux hommes par Son choix souverain.
Comme Abram continuait à admirer le pays, il pouvait peut-être voir la riche terre noire de la plaine du Jourdain vers laquelle Loth se dirigeait. Il pouvait voir la poussière qui volait autour de lui, représentant typiquement le pays où il vivrait. Mais Dieu utilisa cette même poussière comme témoignage des bénédictions à venir. Ses descendants seraient aussi nombreux que la poussière qui dominait le pays où il vivait. Il n’avait plus besoin de regarder cette poussière avec des doutes, mais avec de l’espoir, car c’était le symbole de la bénédiction future.
Le mot final de Dieu à Abram dans cette visitation était d’arpenter le pays qui un jour serait à lui. Pour l’instant, il ne devait pas le posséder, mais juste l’inspecter avec l’œil de la foi. La promesse, « … car je te le donnerai. » (Verset 17) est pour l’avenir. Ce n’était pas avant l’occupation du pays par les Israélites, sous Josué, que cette promesse serait accomplit. Les promesses de Dieu prennent du temps pour être réalisées, et c’est parce que Dieu les a prévues comme ça.
Comme c’est gracieux à Dieu de dire des mots de réconfort et de soutien quand toutes les apparences des bénédictions semblent si loin ! Que ça fait du bien d’être rappelé qu’on peut dépendre de la parole de Dieu et que Ses promesses sont aussi certaines qu’IL est souverain !
La Réponse d’Abram (13:18)
La réponse d’Abram révèle une foi grandissante en le Dieu Qui l’avait appelé. Il bougea ses tentes vers Hébron, s’installant près des chênes de Mamré. C’était un morceau de terre qui appartenait à un autre, pas Abram (14:3), mais c’était là que Dieu voulait qu’il soit. A cet endroit, Abram construisit un autel et vénéra son Dieu.
Les chemins de ces deux hommes furent si différents après qu’ils se furent séparés. L’un se rapprochant imperceptiblement de plus en plus près de la ville de Sodome, pour vivre parmi des hommes impies et pervers, et tout ça pour le gain financier. L’autre vivait la vie d’un oiseau de passage, vivant dans ces collines désertées, avec son espoir dans les promesses de Dieu. Un vit dans ses tentes et construit un autel de vénération ; l’autre échange ses tentes pour un appartement au milieu d’une ville d’hommes pervers. Cela a été une décision qui pesa lourd sur la destinée des deux hommes, mais, bien plus, sur la destinée de leurs enfants.
Conclusion
Les décisions prises par Abram et Loth sont les mêmes que celles qui confrontent chaque Chrétien. Nous devons décider soit de faire confiance à la souveraineté de Dieu ou à nos propres arrangements et moyens. Nous devons déterminer soit de faire confiance à l’incertitude de la richesse ou à un Dieu Qui « nous dispense généreusement toutes ses richesses. » (1 Timothée 6:17). Nous devons décider soit d’investir dans les « plaisirs temporaires du péché » ou dans la « récompense » future qui est promise par Dieu.(Hébreux 11:25-26).
Ces décisions sont vraiment différenciées dans la séparation de Loth et Abram. Loth a choisi d’agir sur la base de l’utilité ; Abram sur la base de l’unité. Pour l’unité, Abram, volontairement, a accepté que Loth prenne avantage de lui (1 Corinthiens 6:1-11, spécialement verset 7).
Abram a agit sur sa foi en Dieu Qui a promit de lui fournir tout ce qu’il aurait besoin. Loth a choisi de diriger sa vie sur la fondation incertaine de la sécurité financière. Abram a été bénit infiniment, Loth a tout perdu.
Lot a choisi de vivre dans une ville qui semblait être un paradis (13:10), mais qui été remplie de pécheurs. Abram a décidé de vivre dans un endroit déserté, mais où il pourrait vénérer librement son Dieu.
Abram illustre magnifiquement la vérité de deux faits du Nouveau Testament. Premièrement, il fournit un commentaire sur ces paroles prononcées par Dieu :
« Heureux ceux qui sont humbles, car Dieu leur donnera la terre en héritage.
Heureux ceux qui répandent autour d'eux la paix, car Dieu les reconnaîtra pour ses fils. » (Matthieu 5:5, 9)
Abram était un homme d’humilité. Il n’était pas un homme de faiblesse, comme le chapitre 14 démontre. Il n’avait pas à prendre par la force les bienfaits, mais pieusement attendre qu’ils viennent de la main de Dieu. Il a été donné à la paix, plutôt que de la sacrifier pour la prospérité.
Et aussi, nous trouvons cet incident éducatif dans la vie d’Abram quand il est comparé à ces mots de l’apôtre Paul :
« N'avez-vous pas trouvé dans le Christ un réconfort, dans l'amour un encouragement, par l'Esprit une communion entre vous? N'avez-vous pas de l'affection et de la bonté les uns pour les autres?
Rendez donc ma joie complète: tendez à vivre en accord les uns avec les autres. Et pour cela, ayez le même amour, une même pensée, et tendez au même but.
Ne faites donc rien par esprit de rivalité, ou par un vain désir de vous mettre en avant; au contraire, par humilité, considérez les autres comme plus importants que vous-mêmes;
et que chacun regarde, non ses propres qualités, mais celles des autres.
Tendez à vivre ainsi entre vous, car c'est ce qui convient quand on est uni à Jésus-Christ. » (Phillipiens 2:1-5)
Abram a été victorieux car il était un servant. Il n’a pas avancé pas dans la vie en grimpant la colline du succès en piétinant la vie des hommes qui se sont trouvés sur son chemin. Il a été prospéré par Dieu car il a placé l’intérêt des autres avant le sien.
Il ne considérait pas Loth meilleur que lui-même, comme certaines traductions faussement suggèrent. Sûrement notre Seigneur, Qui est l’exemple suprême de l’humilité, ne considère pas des hommes tombés ou pécheurs meilleur que Lui, l’infini, pur Dieu. Plutôt, IL a demandé à assurer leur bénéfice à Son dépend. Il comptait sur Dieu pour la bénédiction et pour la justice (1 Pierre 2:23).
La façon du monde d’avancer est de faire attention pour le numéro un. C’était aussi la façon de Loth. La façon de Dieu pour bénir est de faire attention pour le numéro Un, et faire attention pour les autres (Matthieu 22:36-40). Une telle vie ne peut qu’être vécue par la foi. Une telle vie ne peut que causer notre foi en Dieu de grandir.
Le point de commencement pour chaque homme, femme et enfant est de regarder vers Dieu pour le salût. Nous ne pouvons pas, n’osons pas, avoir confiance en notre propre malice pour nous fournir le droit d’entrer dans le royaume de Dieu. Souvent ce que nous percevons comme « paradis » sera bientôt détruit par la colère divine. La foi reconnaît notre iniquité et a confiance en le travail de Jésus Christ sur la croix du Calvaire pour la sécurité éternelle et bénédiction. Nos meilleurs efforts sont destinés à la destruction. Seul ce que Dieu promet et fournit endureront.
Que Dieu permette à chacun de nous de Lui faire confiance, et non pas en nous-mêmes !
23. Les Derniers Examens (Genèse 22:1–24)
Introduction
Il y a quatorze ans j’ai posé ma candidature pour entrer au Séminaire de Théologie de Dallas. Remplissant mon application, je suis arrivé à quelques questions auxquelles je devais répondre. Une concernait un domaine d’interprétation biblique sur lequel beaucoup de Chrétiens ne sont pas d’accord. Je me rappelle très bien mettant sur mon application que bien qu’étant d’accord avec la position du séminaire, je ne le voyais pas prouvé par les passages cités en son support. Rien n’a été mentionné à ce propos pendant plus de trois ans. En ce qui me concernait, c’était oublié.
Juste avant ma dernière année au séminaire, j’ai été appelé au bureau du doyen pour une petite discussion. A ma grande surprise, le sujet de la différence entre ma position et celle de l’école fut soulevé. Vous pourriez être intéressés de savoir que ma position avait peu changé, même après des années d’études et après avoir appris un peu le langage original de la Bible. Etant un peu rassuré par mes réponses, le séminaire m’a permit de continuer mon éducation et d’être diplômé l’année suivante.
Le point de mon illustration est que bien que cette différence d’interprétation ait été autorisée de continuer, à un certain moment, elle est devenue un problème important. J’ai réalisé que souvent Dieu fait la même chose. IL permet à un problème particulier de continuer pour quelques temps, mais tôt ou tard, il devient un sujet d’importance et un qui doit être résolu.
Tel était le cas avec Abraham. Au tout début de sa relation avec Dieu, il lui a été donné un ordre concernant sa famille:
« L'Eternel dit à Abram:
---Va, quitte ton pays, ta famille et la maison de ton père pour te rendre dans le pays que je t'indiquerai. » (Genèse 12:1)
Nous savons, cependant, qu’il a fallut des années à Abram pour se séparer de son père ; Et quand c’est arrivé, ce fut le résultat de la mort, plutôt que d’obéissance délibérée. Ensuite ce fut Loth, dont Abram fut réticent de quitter. Dans le chapitre 21, il y avait l’acte douloureux de chasser Ismaël, un fils très aimé par Abraham. Dans le chapitre 22, Abraham arrive au test ultime. Abraham est un vieil homme, et Sara allait mourir bientôt. L’amour d’Abraham était maintenant concentré sur Isaac, qui après le chapitre 21, est son unique fils (22:2.) Dieu a amené Abraham au point où il doit donner priorité soit à sa foi ou soit à sa famille. Le plus grand test de sa foi confronte maintenant Abraham dans le chapitre 22 de Genèse.
L’ordre (22:1-2)
On ne nous dit pas quand précisément le test ultime dans la vie d’Abraham eut lieu, seulement que c’est arrivé après les évènements du chapitre 21. Personnellement, je crois que ce fut au moins dix ans plus tard, ce qui ferait d’Isaac un jeune homme d’au moins de l’age d’Ismaël quand il fut chassé. Cela donnerait assez de temps pour l’amour d’Abraham pour son premier fils d’être transféré à son second, Isaac. Isaac serait alors correctement appelé le « fils unique » et le fils qu’Abraham aime (verset 2).
Dieu a tenté Abraham pour démontrer sa foi en termes tangibles. Nous savons par les Écritures que bien que Dieu tentait les hommes pour prouver leurs caractères vertueux, comme des saints, IL ne leurs demandait jamais de pécher (Jacques 1:12-18.) Ainsi, dans le verset 2, l’apôtre peut pointer à cet évènement dans la vie d’Abraham comme une évidence d’une foi vivante:
« Abraham, notre ancêtre, n'a-t-il pas été déclaré juste à cause de ses actes, lorsqu'il a offert son fils Isaac sur l'autel? » (Jacques 2:21)197
L’ordre de Dieu à Abraham a du le prendre complètement par surprise:
« ---Prends Isaac, ton fils unique, que tu aimes, lui dit Dieu, et va au pays de Morija. Là, tu me l'offriras en sacrifice sur l'une des collines, celle que je t'indiquerai. » (Genèse 22:2)
La plus grande difficulté que je trouve dans ce chapitre n’est pas la conduite d’Abraham, mais l’ordre de Dieu. Comment un Dieu de sagesse, de pitié, de justice et d’amour peut-IL ordonner à Abraham d’offrir son fils unique en sacrifice ? Le sacrifice de nourrissons était pratiqué par les Cananéens, mais était condamné par Dieu (Lévitique 18:21 ; Deutéronome 12:31.) De plus, un tel sacrifice n’aurait aucune valeur réelle:
« L'Eternel voudra-t-il des milliers de béliers,
dix mille torrents d'huile?
Devrai-je sacrifier mon enfant premier-né pour payer pour mon crime,
le fils, chair de ma chair, pour expier ma faute? » (Michée 6:7)
De faire remarquer que Dieu a arrêté Abraham juste avant qu’il ne sacrifie Isaac, ne resout pas le problème. Comment est-il possible que Dieu ait donné l’ordre en premier lieu, si c’est immoral ? De croire que Dieu puisse donner l’ordre à Ses enfants de faire quelque chose de mal, même pour un test, est ouvrir la porte à toutes sortes de difficultés.
Plusieurs facteurs peuvent être considérés pour comprendre ce test. Premièrement, nous devons admettre que nous avons une forte partialité sur le sujet. Nous, qui sommes parents, sommes dégoûtés par la pensée de sacrifier nos enfants sur un autel. Par cela, nous projetons notre horreur sur Dieu et supposons qu’IL ne pourrait jamais non plus considérer une telle chose. Deuxièmement, nous voyons cet ordre du point de vue de la culture du jour, qui pratiquait le sacrifice des enfants. Si les païens le faisaient et Dieu condamnait leur pratique, cela doit être mauvais dans n’importe quels contextes.
Nous sommes forcés de conclure que le sacrifice d’Isaac ne pouvait pas être mal, soit tenté ou accomplit, car Dieu est incapable de mal (Jacques 1:13 ; 1 Jean 1:5.) Bien plus que ça, cela ne pourrait pas être mal de sacrifier un enfant unique car Dieu a sacrifié Son Fils unique:
« Nous étions tous errants, pareils à des brebis,
chacun de nous allait par son propre chemin:
l'Eternel a fait retomber sur lui les fautes de nous tous.
Mais il a plu à Dieu de le briser par la souffrance.
Bien que toi, Dieu, tu aies livré sa vie en sacrifice de réparation,
il verra une descendance.
Il vivra de longs jours
et il accomplira avec succès ce que désire l'Eternel. » (Ésaïe 53:6,10)
« Oui, Dieu a tant aimé le monde qu'il a donné son Fils, son unique, pour que tous ceux qui placent leur confiance en lui échappent à la perdition et qu'ils aient la vie éternelle. » (Jean 3:16 ; Matthieu 26:39,42 ; Luc 22:22 ; Jean 3:17 ; Apocalypse 13:8)
Dans ce sens, Dieu n’a pas requit qu’Abraham fasse quelque chose que LUI, LUI-MEME, ne ferait pas. Effectivement, l’ordre à Abraham était pour démontrer ce qu’IL ferait des siècles plus tard sur la croix à Calvaire.
Seulement en comprenant la signifiance typologique du « sacrifice d’Isaac », nous pourront comprendre et accepter que l’ordre de Dieu était sacré et juste et pur. La volonté d’Abraham d’abandonner son fils humainement illustrait l’amour de Dieu pour l’homme, ce qui LUI a causé de donner Son Fils unique. L’angoisse de cœur éprouvé par Abraham reflètait le cœur du Père à la souffrance de Son Fils. L’obéissance d’Isaac représente la submissivité du Fils à la volonté du Père (Matthieu 26:39,42).
Dieu a arrêté le sacrifice d’Isaac pour deux raisons. Premièrement, un tel sacrifice n’aurait eu aucuns bénéfices pour les autres. L’agneau doit être « sans imperfections », pur, innocent (Ésaïe 53:9.) C’était la vérité que Michée impliquait (6:7.) Deuxièmement, la foi d’Abraham était amplement prouvée par le fait qu’il avait vraiment l’intention d’obéir la volonté de Dieu. Nous n’avons aucuns doutes que si Dieu n’était pas intervenu, Isaac aurait été sacrifié. Dans l’esprit d’Abraham, Isaac était déjà sacrifié, alors l’acte n’était pas nécessaire.
Il y a une deuxième difficulté à propos du silence d’Abraham. Un de mes amis me l’a fait remarquer très clairement: « Pourquoi Abraham a-t-il intercédé avec Dieu pour Sodome, mais pas pour son fils Isaac ? » Nous devons savoir que les Écritures sont sélectives en ce qu’elles reportent, choisissant d’oublier ce qui n’est pas essentiel dans le développement des arguments du passage (Jean 20:30-31 ; 21:25.) Dans ce chapitre de Genèse par exemple, nous savons que Dieu devait indiquer l’endroit où le sacrifice devait avoir lieu (verset 2) et qu’Abraham y est allé (verset 9), mais on ne nous dit pas quand Dieu le lui a révélé.
Je crois que Moïse, sous la supervision du Saint Esprit, a oublié la réaction initiale d’Abraham à l’ordre de Dieu dans l’intention de stresser sa réponse finale – l’obéissance. Personnellement, (bien qu’il n’y ait aucunes Écritures pour supporter ma conjecture), je crois qu’Abraham a plaidé avec Dieu pour la vie de son fils, mais Dieu a choisi de ne pas enregistrer ce point dans la vie d’Abraham car cela n’aurait pas fait grand chose pour nous inspirer. Je sais que beaucoup d’entres nous ne voudraient pas que Dieu rapporte nos premières réactions à des situations déplaisantes non plus ; Ce sont nos réponses finales qui importent (Matthieu 21:28-31).
Cela m’aide quand je lis l’évaluation des saints du Vieux Testament dans le Nouveau Testament. Si cela n’avait pas été pour les paroles de Pierre, je n’aurai jamais considéré Loth être un homme vertueux (2 Pierre 2:7-8.) Dans Hébreux 11 et Romains 4, Abraham est dépeint comme un homme sans erreurs ou fautes, et cependant le Livre de Genèse rapporte clairement ses faiblesses. La raison, je crois, est que les auteurs du Nouveau Testament voient ces saints comme Dieu les voit. A cause de la mort sacrificielle du Christ sur la croix, les péchés des saints ne sont pas seulement pardonnés mais aussi oubliés. Le bois, le torchis de paille et le chaume du péché sont consumés, ne laissant seulement que l’or, l’argent et les pierres précieuses (1 Corinthiens 3:10-15.) Dieu passe sur leurs péchés ; ils sont couverts par le sang du Christ. Quand ces péchés sont enregistrés, c’est seulement pour notre correction et instruction (1 Corinthiens 10:1, et spécialement verset 11.)
L’Obéissance d’Abraham (22:3-10)
Malgré tout les luttes qui ne sont pas rapportées, Abraham se leva de bonne heure pour commencer le voyage le plus long de sa vie:
« Le lendemain, Abraham se leva de grand matin, sella son âne et emmena deux de ses serviteurs ainsi que son fils Isaac; il fendit du bois pour l'holocauste, puis il se mit en route en direction de l'endroit que Dieu lui avait indiqué. » (Genèse 22:3)
J’ai dit avant que, pendant que « de bon matin » pourrait refléter la décision d’Abraham de faire la volonté de Dieu, cela pourrait aussi contenir quelques facteurs humains. Premièrement, j’imagine que le sommeil avait complètement échappé Abraham cette nuit là, spécialement après que Dieu lui ait clairement ordonné le sacrifice d’Isaac. Certains gens se lèvent de bonne heure car ils espèrent que le sommeil ne viendra plus. Là aussi, je n’aurai pas voulu faire face à Sara avec mes plans pour les jours à venir. Pendant qu’Abraham est résigné à faire la volonté de Dieu, Sara n’est pas informée de ce test (d’après ce que les Écritures disent).
Après un douloureux voyage de trois jours, la montagne du sacrifice fut en vue. A ce point, Abraham laisse ses serviteurs derrière et continua seul avec Isaac:
« Alors il dit à ses serviteurs:
---Restez ici avec l'âne; le garçon et moi, nous irons jusque là-bas pour adorer Dieu, puis nous reviendrons vers vous.
Abraham chargea le bois de l'holocauste sur son fils Isaac; il prit lui-même des braises pour le feu et le couteau, puis tous deux s'en allèrent ensemble. » (Genèse 22:5-6)
Au milieu d’une grande angoisse spirituelle, il y a une expression magnifique d’espoir et de foi dans le verset 5:
« Restez ici avec l'âne; le garçon et moi, nous irons jusque là-bas pour adorer Dieu, puis nous reviendrons vers vous. »
Je ne crois pas que ces mots furent prononcés futilement, mais qu’ils reflétaient une profonde confiance intérieure en Dieu et Ses promesses. Le Dieu Qui avait ordonné le sacrifice d’Isaac avait aussi promis de produire une nation par lui (17:15-19 ; 21:12).
Comme tous les deux, seuls, escaladaient la montagne vers l’endroit du sacrifice, Isaac posa une question à son père qui a du lui briser son cœur:
«---Voici le feu et le bois, dit-il, mais où est l'agneau pour l'holocauste? » (verset 7)
La réponse était douloureusement évidente pour Abraham, et cependant il y a dans sa réponse non seulement une ambiguïté délibérée, mais aussi un élément d’espoir:
« ---Mon fils, Dieu pourvoira lui-même à l'agneau pour l'holocauste. » (verset 8)
A chaque pas, Abraham a du espérer un changement de plans, un plan d’action différent. L’endroit atteint, l’autel construit, et le bois fut coupé et arrangé. En dernier, il n’y avait plus rien à faire, excepté attacher Isaac et le placer sur le bois et plonger le couteau dans son cœur.
La Provision de Dieu (22:11-14)
C’est seulement quand le couteau fut levé haut, brillant au soleil, que Dieu a restreint Abraham, l’empêchant d’offrir son fils:
« A ce moment-là, l'*ange de l'Eternel lui cria du haut du ciel:
---Abraham! Abraham!
---Me voici, répondit-il.
L'ange reprit:
---Ne porte pas la main sur le garçon, ne lui fais pas de mal, car maintenant je sais que tu révères Dieu puisque tu ne m'as pas refusé ton fils unique. » (Genèse 22:11-12)
A un cheveu de la mort, il était évident qu’Abraham aurait renoncé à tout, même à son fils, son fils unique, pour Dieu. Bien que Dieu connaissait le cœur d’Abraham, le respect d’Abraham était maintenant évident par ses actions.
Et aussi au point d’obéissance totale est venue la provision de Dieu. Dieu n’a pas arrêté l’acte du sacrifice ; IL a fournit un bêlier pour substituer à Isaac:
«Alors Abraham aperçut un bélier qui s'était pris les cornes dans un buisson. Il s'en saisit et l'offrit en holocauste à la place de son fils. » (verset 13)
Par cette expérience, il fut vu que la foi d’Abraham, que Dieu fournirait l’offrande sacrificielle (verset 8), fut honorée et que Dieu, effectivement, fournit:
« Abraham appela ce lieu-là: Adonaï-Yireéh (le Seigneur pourvoira.) C’est pourquoi on dit aujourd’hui: Sur la montagne du Seigneur, il sera pourvu. » (verset 14)
La Promesse de Dieu (22:15-19)
En plus de l’intervention de Dieu pour empêcher le sacrifice du fils d’Abraham, il y eut la confirmation des promesses de Dieu à Abraham par son fil:
« et lui dit:
---Je le jure par moi-même, parole de l'Eternel, puisque tu as fait cela, puisque tu ne m'as pas refusé ton fils, ton unique,
je te comblerai de bénédictions, je multiplierai ta descendance et je la rendrai aussi nombreuse que les étoiles du ciel et que les grains de sable au bord de la mer. Ta descendance dominera sur ses ennemis.
Tous les peuples de la terre seront bénis à travers ta descendance parce que tu m'as obéi.» (Genèse 22:16-18)
Il y a peu de chose dans cette confirmation divine qui est nouveau,198 bien qu’il y ait un changement choquant. Auparavant, ces promesses furent faites inconditionnellement (12:1-3 ; 15:13-16, 18-21.) Maintenant les bénédictions sont promises à Abraham car il a obéi Dieu dans ce test (22:16, 18).
Le changement n’est pas aussi dramatique qu’il paraisse, cependant. Dans le chapitre 17, Dieu réaffirme Ses promesses, commencant avec ces mots:
« ---Je suis le Dieu tout-puissant. Conduis ta vie sous mon regard et comporte-toi de manière irréprochable!
Je conclurai une alliance avec toi... » (verset 1-2)
En outre, Abraham fut instruit de,
« tu observeras les clauses de mon alliance » (17:9,10,11)
Puis au chapitre 18, nous lisons:
« Il deviendra l'ancêtre d'une grande et puissante nation et une source de bénédictions[g] pour tous les peuples de la terre.
Car je l'ai choisi pour qu'il prescrive à ses descendants et à tous les siens après lui de faire la volonté de l'Eternel, en faisant ce qui est juste et droit; ainsi j'accomplirai les promesses que je lui ai faites. » (18:18-19)
Nous devons réaliser que le choix d’Abraham de Dieu incluait, non seulement la fin que Dieu voulait (bénédictions), mais aussi les moyens (foi et obéissance.) Apres son test ultime sur le Mont Morija, Dieu peut dire que les bénédictions sont le résultat de l’obéissance qui vient de la foi. Cette même succession est évidente dans le Nouveau Testament:
« Car c’est par la ecla que vous êtes sauvés, par le moyen de la foi. Cela ne vient pas de vous, c’est un don de Dieu;
ce n’est pas le fruit d’œuvres que vous auriez accomplies. Personne n’a donc de raison de se vanter.
Ce que nous sommes, nous le devons à Dieu; car par notre union avec le Christ, Jésus, Dieu nous a créés pour une vie riche d’œuvres bonnes qu’il a préparées à l’avance afin que nous les accomplissions. » (Ephésiens 2:8-10)
« Nous savons en outre que Dieu fait concourir toutes choses au bien de ceux qui l’aiment, de ceux qui ont été appelés conformément au plan divin.
En effet, ceux que Dieu a connus d’avance, il les a aussi destinés d’avance à devenir conformes à l’image de son Fils, afin que celui-ci soit l’aîné de nombreux frères.
Ceux qu’il a ainsi destinés, il les a aussi appelés à lui; ceux qu’il a ainsi appelés, il les a aussi déclarés justes, et ceux qu’il a déclarés justes, il les a aussi conduits à la gloire. » (Romains 8:28-30)
Le travail de Dieu commence avec une promesse qui doit être acceptée par la foi. A la fin, cette foi, si elle est vraie, sera démontrée par des bons actes (Jacques 2.) Les promesses de Dieu sont sûres pour chaque croyant parce que Dieu est souverain à chaque pas – de la foi à l’obéissance à la bénédiction.
Conclusion
Cet incident dans la vie d’Abraham a eu plusieurs résultats pour le patriarche.
(1) Il traita avec un problème qui l’avait harcelé toute sa vie – un attachement malsain à la famille.
C’était ici qu’Abraham a du choisir entre Isaac et Dieu pour sa loyauté. Finalement, son obéissance a mit fin au problème.
(2) Son obéissance à la volonté révélée de Dieu a justifié sa profession de foi:
« Il en est ainsi de la foi: si elle reste seule, sans se traduire en actes, elle est morte.
Mais quelqu'un dira:
---L'un a la foi, l'autre les actes.
---Eh bien! Montre-moi ta foi sans les actes, et je te montrerai ma foi par mes actes.
Tu crois qu'il y a un seul Dieu? C'est bien. Mais les démons aussi le croient, et ils tremblent.
Tu ne réfléchis donc pas! Veux-tu avoir la preuve que la foi sans les actes ne sert à rien?
Abraham, notre ancêtre, n'a-t-il pas été déclaré juste à cause de ses actes, lorsqu'il a offert son fils Isaac sur l'autel?
Tu le vois, sa foi et ses actes agissaient ensemble et, grâce à ses actes, sa foi a atteint son plein épanouissement.
Ainsi s'accomplit ce que l'Ecriture déclare à son sujet: Abraham a eu confiance en Dieu, et Dieu, en portant sa foi à son crédit, l'a déclaré juste, et il l'a appelé son ami. » (Jacques 2:17-23)
Jacques ne diffère pas de Paul ici. Il est d’accord qu’un homme est sauvé par la foi, à part de travaux (Romains 4), mais Jacques insiste qu’une foi qui sauve est une foi qui au travail. Une foi qui est proclamée, mais non pratiquée est une foi morte. Bien qu’Abraham soit justifié devant Dieu, en croyant Sa promesse (Genèse 15:6 ; Romains 4:3), il a été justifié devant les hommes par son obéissance (Genèse 22, Jacques 2.) Dieu pouvait regarder au cœur d’Abraham et IL savait que sa foi était vraie ; Nous devons regarder à son obéissance pour voir que sa proclamation était véritable.
(3) L’obéissance d’Abraham résulta en une croissance spirituelle ainsi qu’un aperçu plus profond de la personne et les promesses de Dieu.
Aucune expérience dans la vie d’Abraham n’a fait la personne et le travail de Christ plus évident. C’est pourquoi notre Seigneur pouvait dire aux Juifs de Son jour:
« Abraham votre père a exulté de joie, rien qu'à la pensée de voir mon jour. Il l'a vu et en a été transporté de joie. » (Jean 8:56)
Les périodes d’épreuves sont aussi des périodes de croissance dans les vies des croyants aujourd’hui.
(4) L’épreuve d’Abraham sur le Mont Morija l’a préparé pour l’avenir.
C’est sans surprise que le chapitre suivant (23) traite avec la mort de Sara. Ce que nous devons imaginer c’est le fait que Dieu ait utilisé l’offrande d’Isaac pour préparer Abraham à la mort de sa femme. Nous savons par les mots d’Abraham (22:5) et par l’interprétation de l’auteur d’Hébreux (11:19) que la foi d’Abraham démontrée sur le Mont Morija était une foi en un Dieu Qui pouvait ressusciter les hommes et les femmes de la mort (Romains 4:19.) Bien qu’il n’ait pas eu à faire face à la mort avant le chapitre 23, il l’a confrontée dans le chapitre 22. Les tests de Dieu sont souvent prépareratoires pour de plus grandes choses à venir (Matthieu 4:1-11.)
A part de s’occuper d’Abraham, Dieu a utilisé cet incident sur le Mont Morija pour instruire la nation Israël, qui a reçu ce Livre et les quatre autres de la Loi de Moïse. Pour ceux qui venaient juste de recevoir la Loi avec son système sacrificiel complexe, cet évènement dans la vie d’Abraham leur a donné une compréhension plus profonde de ce que le sacrifice signifie. Ils devraient percevoir que le sacrifice était pour remplacer. L’animal mourrait à la place de l’homme, juste comme le bélier a été fournit pour prendre la place d’Isaac. Mais ils devraient aussi comprendre qu’ à la fin un Fils, un Fils unique, doit venir pour payer le prix du péché, un prix qu’aucun animal ne peut payer. Contre la toile de fond du sacrifice sur le Mont Morija, le système sacrificiel total de la Loi fut reconnue avoir une signifiance plus profonde et plus complète.
Cet incident dans la vie d’Abraham a été destiné à l’édification et à l’instruction (1 Corinthiens 10:6,11.) Permettez-moi de suggérer plusieurs choses que nous devrions retenir de la vie d’Abraham comme elle est décrite dans Genèse 22.
(1) Cet évènement est un prélude magnifique de la mort de notre Seigneur Jésus Christ.
Abraham représente Dieu, le Père, Qui par amour pour l’humanité a sacrifié Son Fils unique pour les pécheurs (3:16.) Isaac est un genre de Christ, Qui se soumet à la volonté de Son Père. Isaac porta le bois comme notre seigneur porta sa croix (Genèse 22:6 ; Jean 19:17.) Il s’est passé trois jours depuis le temps qu’Abraham quitta sa maison pour sacrifier son fils jusqu'à ce qu’ils retournèrent ensemble. Après trois jours, Abraham reçu son fils (Hébreux 11:19.) Après trois jour notre Seigneur fut ressuscité (Jean 20;1 Corinthiens 15:4.)
Même, en plus de tout ça, Isaac fut sacrifié au même endroit où notre Seigneur perdra Sa vie un siècle plus tard, sur le Mont Morija juste au dehors de Jérusalem. Nous savons par 2 Corinthiens 3:1, que c’était l’endroit où le Seigneur apparut à David, et où Solomon construisit le temple. Alors, ce fut Abraham qui a amené son fils sur le Mont près de Jérusalem pour l’offrir, au même endroit (ou presque) où notre Seigneur allait mourir des années plus tard. Quelle illustration magnifique de la sagesse infinie de Dieu et quelle inspiration des Écritures Saintes de Dieu !
(2) Ce passage nous rappelle aussi de l’importance de l’obéissance pour le chrétien.
C’était parce qu’Abraham a obéi Dieu que les bénédictions promises furent confirmées de nouveau au point culminant de ce passage (versets 15-18.) Pendant que les travaux de l’homme ne le sauveront jamais, la foi qui sauve doit être inévitablement manifestée par de bonnes actions (Ephésiens 2:8-10.) Confiance et obéissance sont les méthodes de vie du Chrétien.
(3) Nous voyons aussi que la vie chrétienne est paradoxale.
Il semblerait que c’est contradictoire. Abraham a gagne son fils en le donnant à Dieu. Nous avançons en nous mettant derrière les autres (Matthieu 23:11 ; Philippiens 2:5.) Nous dirigeons en servant ; nous sauvons nos vies en les perdant (Matthieu 16:25.) Les façons de Dieu ne sont pas les façons de l’homme.
(4) La vie chrétienne n’est pas vécue sans raison ou réalisme.
J’ai très peur que beaucoup de gens peuvent lire ce récit de la vie d’Abraham et conclure que Dieu nous teste en nous disant de faire ce qui n’est pas raisonnable.
Le danger est que nous aurons tendance à assumer que ce qui n’a pas de sens sera la volonté de Dieu. Beaucoup de critiques ont suggéré que les Chrétiens sont ceux qui enlèvent leurs chapeaux et leurs cerveaux à l’entrée de l’église. Ça ne pourrait être plus faux.
D’un autre coté, nous devons reconnaître que ce qu’Abraham avait été ordonné de faire ne semblait pas être raisonnable. Par Isaac, Abraham devait devenir le père de multitudes. Comment cela pourrait être si Isaac mourait ? Tuer son fils a du sembler être totalement contre la nature de Dieu. Dieu, ne demandait-IL pas à Abraham d’agir fidèlement sans raison? Remarquez que l’auteur d’Hébreux dit:
« Par la foi, Abraham a offert Isaac en sacrifice lorsque Dieu l'a mis à l'épreuve. Oui, il était en train d'offrir son fils unique, lui qui eu la promesse,
et à qui Dieu avait dit: C'est par Isaac que tu auras une descendance.
Dieu, estimait-il, est assez puissant pour ressusciter un mort. Et son fils lui a été rendu: c'est une préfiguration.» (Hebreux 11:17-19)
Le mot grecque ici, logizomai, exprime clairement le fait qu’Abraham a agit avec raison.199 Cela n’était pas un « saut de foi » aveugle, comme cela a, quelques fois, semblé. La foi agit toujours basée sur des faits et de la raison.
Mon point est simplement cela. Le monde aime croire qu’ils agissent avec raison, pendant que les Chrétiens agissent sans penser. C’est complètement faux. La vérité est qu’il y a deux sortes de raisonnements : le raisonnement humain et le raisonnement spirituel. Pierre, quand il reprocha à notre Seigneur de parler de Sa mort sacrificielle, pensait humainement :
« Mais Jésus, se retournant, lui dit:
---Arrière, « Satan »! Eloigne-toi de moi! Tu es un obstacle à ma mission, car tes pensées ne sont pas celles de Dieu; ce sont des pensées tout humaines. » (Matthieu 16:23)
Il y a deux états d’esprit : l’esprit humain et l’esprit spirituel.
« En effet, les hommes livrés à eux-mêmes tendent vers ce qui est conforme à l'homme livré à lui-même. Mais ceux qui ont l'Esprit tendent vers ce qui est conforme à l'Esprit.
Car ce à quoi tend l'homme livré à lui-même mène à la mort, tandis que ce à quoi tend l'Esprit conduit à la vie et à la paix.
En effet, l'homme livré à lui-même, dans toutes ses tendances, n'est que haine de Dieu: il ne se soumet pas à la Loi de Dieu car il ne le peut même pas.» (Romains 8:5-7)
L’appel de Paul, dans Romains 12, est adressé à la fois à nos émotions et à nos esprits :
« Je vous invite donc, frères, à cause de cette immense bonté de Dieu, à lui offrir votre corps comme un sacrifice vivant, saint et qui plaise à Dieu. Ce sera là de votre part un culte spirituel.
Ne vous laissez pas modeler par le monde actuel, mais laissez-vous transformer par le renouvellement de votre pensée, pour pouvoir discerner la volonté de Dieu: ce qui est bon, ce qui lui plaît, ce qui est parfait.
En vertu de la grâce que Dieu m'a faite, voici ce que je dis à chacun d'entre vous: ne soyez pas prétentieux; n'allez pas au-delà de ce à quoi vous devez prétendre, tendez au contraire à une sage appréciation de vous-mêmes, chacun selon la part que Dieu lui a donnée dans son œuvre régie par la foi.» (Romains 12:1-3)
Le sacrifice que nous sommes appelés à donner à Dieu est celui de nos corps vivants, et c’est notre action de vénération logique et rationnelle. C’est accomplit par le renouvellement de nos esprits (verset 2.) L’état complet de l’homme a été affecté par la chute : émotions, intelligence, et volonté. Toutes celles-ci doivent donc subir une transformation radicale pour que nous ressemblions à notre Seigneur Jésus Christ. Dans Romains 12:2, on nous dit de penser, penser, penser. C’est l’usage de notre esprit nouveau. Le Christianisme est rationnel, mais d’une sorte très différente de celui du monde.
Le raisonnement chrétien est basé sur la croyance présupposée qu’il y a un Dieu, Qui est à la fois, notre créateur et rédempteur (Hébreux 11:1.) Le raisonnement chrétien est basé sur la croyance que la Parole de Dieu est absolument vraie et fiable. Dieu a promis un fils, par Sara, par qui les bénédictions allaient être données. Abraham croyait Dieu pour cela (Genèse 15:6.) Dieu a aussi commandé à Abraham de sacrifier son fils. Abraham a cru Dieu et Lui a obéi bien que le raisonnement humain questionnait Sa sagesse.
Le raisonnement d’Abraham était aussi basé sur son expérience avec Dieu au cours des années. Dieu a continuellement prouvé qu’IL était son fournisseur et protecteur. La souveraineté du pouvoir de Dieu avait été démontrée plusieurs fois, même parmi les païens tel que Pharaon et Abimélek. Bien qu’Abraham et Sara étaient « aussi bons que morts » en ce qui concerne avoir des enfants, Dieu leurs a donné l’enfant promis (Romains 4:19-21.)
Abraham n’a pas compris pourquoi il devait sacrifier son fils, ni comment Dieu accomplirait Ses promesses s’il obéissait, mais il savait Qui lui avait ordonné ça. Il savait que Dieu était sacré, juste et pur. Il savait que Dieu était capable de ressusciter les morts. Sur la base de ces certitudes, Abraham a obéi Dieu, contrairement à la sagesse humaine, mais uniquement basé sur une raison pieuse. Une raison pieuse a sagesse. Il se peut que nous ne sachions ni comment, ni pourquoi, mais nous savons Qui et quoi. Et c’est assez !
(5) Il y a un principe merveilleux enseigné dans notre texte : « … Sur la montagne du Seigneur, il sera pourvu. » (Verset 14)
Dans le verset 8, Abraham rassure son fils que Dieu fournira un agneau, et IL l’a fait (verset 13). Le principe n’est pas que Dieu fournira à certains endroits, mais sous une certaine condition. Au point de foi et d’obeissance, au point d’impuissance et de dépendance, Dieu fournira ce dont on a besoin. Souvent, je crois, nous ne voyons pas la provision de Dieu car nous ne sommes pas au point de désespoir.
Je me souviens de l’histoire de deux marins qui seuls ont survécu un naufrage. Ils étaient à la dérive sur un radeau improvisé. Après que tout espoir de secours fut perdu, un demanda à l’autre s’ils ne devraient pas prier. Ils furent d’accord, et un venait juste de commencer à supplier Dieu de les aider, quand l’autre l’interrompit, « arrête, ne te commets pas, je crois que je vois une voile. »
Quelquefois, Dieu doit nous amener au point où nous trouvons Abraham sur le Mont Morija – totalement dépendant sur Dieu pour nous secourir. C’est là que nous devons reconnaître que Dieu a pourvu. C’est à ce point que les hommes et les femmes doivent arriver pour être sauvés. Ils doivent se voir, eux/elles-mêmes, comme pécheurs égarés, méritant la furie éternelle de Dieu. Ils doivent renoncer à toute foi en eux-mêmes et aux travaux qu’ils devraient faire pour gagner la grâce de Dieu. Ils ne doivent compter que sur Dieu pour fournir le pardon des péchés et la vertu requise pour le salût. La provision de Dieu a été faite par la mort de Son Fils innocent, Jésus Christ, au Calvaire il y a 2000 ans. Mettez tous vos espoirs en le Jésus Christ du Calvaire, et vous trouverez sûrement le salût.
(6) Finalement, ce passage a été utilisé pour un mal tragique, le sacrifice de nos fils et filles sous prétexte d’obéir à un ordre divin.
Dieu n’a jamais ordonné Ses saints de sacrifier leurs familles pour n’importe quels ministères ou appels. Nous devons mettre Dieu en tête, à la première place, c’est vrai (Matthieu 10:37), mais l’obéissance à Dieu nécessite une provision et une instruction de nos familles (1 Timothée 5:8 ; Ephésiens 6:4 ; 1 Timothée 3:4-5,12).
Beaucoup de parents, comme Abraham, voient leur avenir absorbé dans leurs enfants. Ils espèrent manipuler la vie des enfants pour qu’ils (les parents) puissent vivre leurs espoirs et rêves, à travers celle de leurs enfants. Nous devons donner nos enfants au Seigneur et les soumettre, comme nous-mêmes, à Sa garde et Ses soins. Alors seulement trouverons-nous, et eux, les bénédictions de Dieu.
Je dois tristement admettre que le problème d’Abraham est certainement étranger à notre monde aujourd’hui. Nous nous inquiétons si peu à propos d’attachement excessif à nos enfants, quand l’avortement est si dominant, et mères et pères abandonnent leurs familles pour un mode de vie plus frivole. En cela, nous voyons la prophétie des conditions pour la fin des temps étant réalisées maintenant :
« Sache bien que dans la période finale de l'histoire, les temps seront difficiles.
Les hommes seront égoïstes, avides d'argent, vantards et prétentieux. Ils parleront de Dieu d'une manière injurieuse et n'auront pas d'égards pour leurs parents. Ils seront ingrats, dépourvus de respect pour ce qui est sacré,
sans cœur , sans pitié, calomniateurs, incapables de se maîtriser, cruels, ennemis du bien;
emportés par leurs passions et enflés d'orgueil, ils seront prêts à toutes les trahisons. Ils aimeront le plaisir plutôt que Dieu.
Certes, ils resteront attachés aux pratiques extérieures de la religion mais, en réalité, ils ne voudront rien savoir de ce qui en fait la force. Détourne-toi de ces gens-là! » (2 Timothee 3:1-5)
Dans le verset 3, les premiers mots « sans cœur », veulent littéralement dire « sans amour de la famille. » Ceux-ci sont les jours quand l’affection paternelle naturelle devient rare. Sûrement, le retour du Seigneur est proche. Que Dieu nous permette d’aimer nos enfants autant que nous les commettons à la volonté de Dieu pour leurs vies !
197 In this chapter James is not debating Paul’s theology but is stressing a complementary truth: While works cannot save, only a faith that works does save. The justification of which James speaks in chapter 2 is not before God but before men. The faith a man has in his heart justifies him before God, but the faith a man demonstrates by his life justifies his claim to be saved before men.
198 Stigers’ remarks, however, are worthy of repetition: “The phrase ‘gates of their enemies’ (v. 17) is of far-reaching significance as to the future of God’s redemptive program. The other elements of the oath-promise, the innumerable descendants and the blessing to come upon the nations, are the same as those found in 12:1-3; however, the phrase ‘a land I will shew/give thee’ is now replaced by ‘possess the gate of their enemies.’ This enlarges the meaning of the promise of the land: that of assuming the place and power of the previous peoples. But the promise is not localized in any way; any enemy of any time is designated, unless Israel shall deny her God (cf. Ps. 89:30-33.) The phrase connotes the ultimate victory of holiness over all things, shared in by God’s people.” Harold Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), pp. 190-191.
199 “Hence, logizomai means: (a) reckon, credit, rank with, calculate; (b) consider, deliberate, grasp, draw a logical conclusion, decide.” J. Eichler, “Logizomai,” The New International Dictionary of New Testament Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1978), III, pp. 822-823.
28. Travailler Comme le Diable, Servant le Seigneur
Introduction
C. S. Lewis a écrit une fois, « un petit mensonge est comme être un petit peu enceinte. » Cette phrase résume exactement les évènements de Genèse 27. Isaac, avec la coopération d’Esaü, complote pour contrecarrer le but de Dieu, de réaliser son alliance avec Abraham par Jacob. Rébecca, aidée par son fils Jacob, cherche à manipuler Isaac et Esaü pour que Jacob garde le droit d’aînesse qu’il avait acheté d’Esaü.
Le compositeur séculaire de chansons (Bob Dylan) a capturé le vent de certain service chrétien et, sûrement, le rythme de ce chapitre dans la chanson titrée, « Working Like the Devil, Serving the Lord. » Il est difficile de discerner qui surpasse le reste dans cette toile de magouilles et de fourberies : Isaac, Rébecca, Jacob ou Esaü.223 L’unité de la famille a été divisée en deux factions, chacune contrôlée par un parent qui veut vivre ses propres espoirs à travers son fils, aux dépends de l’autre. C’est effectivement une histoire tragique, et cependant une histoire qui reflète bien la vie et révèle beaucoup ce que nous sommes aujourd’hui.
Le Complot d’Isaac et d’Esaü (27:1-4)
Il y a plusieurs thèmes prépondérants entrelacés dans ces quatre versets. Ces thèmes caractérisent les essais d’Isaac et d’Esaü de regagner les bénédictions de Dieu, comme elles avaient été promises à Abraham, dites à Isaac, et malhonnêtement accaparées par Jacob. Reconnaître ces thèmes nous aidera à capturer l’importance de ce tournant dans les vies de ces quatre membres de la famille patriarcale.
Le premier thème est celui de l’urgence. Il y a une hâte évidente dans ce qui arrive. Notre impression est qu’Isaac se tient avec un pied dans la tombe et l’autre sur la proverbiale peau de banane. Il est vieux, peut-être mourant, et la bénédiction doit être prononcée rapidement sur Esaü avant qu’il ne soit trop tard.
A première vue, cette urgence semble être bien fondée. Isaac est vieux, peut-être 137 ans si nos calculs sont justes.224 Ce n’est pas étonnant qu’Isaac souffre de quelques infirmités de vieil âge, comme la baisse de la vue (verset 1.) Isaac était loin des portes de la mort, car nous apprenons de Genèse 35:28 qu’il ne mourut que plus de quarante ans plus tard à l’âge de 180 ans ! Nous devrions noter que son demi-frère, Ismaël, mourut à l’âge de 137 (Genèse 25:17.) Peut-être qu’Isaac n’avait pas eu tort de considérer que ces jours étaient comptés, mais dans son désir de voir son fils favori recevoir les bénédictions de l’alliance avec Abraham, il eut recours à des actions non spirituelles.
La seconde impression que j’ai des versets 1-4 est celle de secret. Normalement, la bénédiction serait donnée devant la famille tout entière car c’était, en réalité, un testament oral qui déterminait légalement les dispositions de tout ce que le père possèdait.225 La distribution de la fortune et de la position de chef de la famille était mieux réalisée en présence de tous ceux qui étaient concernés. Ainsi plus tard, nous trouvons Jacob donnant sa bénédiction en présence de tous ses fils (Genèse 49.)
On ne peut sentir une telle atmosphère dans la conversation entre Isaac et Esaü. Ni Jacob, ni Rébecca n’étaient présent, et ce n’était pas une erreur. Si ça n’avait pas été pour l’oreille attentive de Rébecca, l’affaire aurait été apparemment complétée avec seulement 2 parties.
La troisième impression qu’on peut difficilement manquer est celle de la conspiration. Elle suit de près les talons des secrets déjà décrits. La conspiration et les secrets vont main dans la main. Il ne peut y avoir que peu de doutes qu’Isaac avait l’intention de donner sa bénédiction à Esaü lors du diner, à l’exclusion complète de Jacob. (Ce fut pourquoi Isaac n’avait plus de bénédictions à donner à Esaü, versets 37-38.)
Nous voyons ici un complot prémédité pour contrarier le plan et le but de Dieu pour Jacob. Il est inconcevable qu’Isaac est été ignorant de la révélation de Dieu à Rébecca :
« ... Il y a deux nations dans ton ventre,
deux peuples différents naîtront de toi.
L'un des deux sera plus puissant que l'autre,
et l'aîné sera assujetti au cadet. » (Genèse 25:23)
Si, pour aucune autre raison, la nature humaine de Rébecca (une maladie commune à tous) aurait dicté la divulgation de cette révélation divine. Pouvez vous imaginer dans ce concours permanent entre Rébecca et Isaac qu’elle n’aurait pas fait appel à cette révélation de Dieu comme la raison biblique pour le favoritisme montré à « son » fils Jacob ? Pour moi cela serait inconcevable.
Et encore, pouvez-vous imaginer qu’Isaac était ignorant de la vente du droit d’aînesse d’Esaü à son frère? N’en avait-il pas été informé pour la première fois quand Esaü avait crié en désespoir,
« ---Est-ce parce qu'on l'appelle Jacob (le Trompeur) qu'il m'a trompé par deux fois? D'abord il a pris mon droit d'aînesse et maintenant voilà qu'il m'enlève ma bénédiction! Et il ajouta: N'as-tu pas de bénédiction en réserve pour moi? » (Genèse 27: 36)
L’évidence finale et irrésistible de la disqualification d’Esaü pour la position de chef de famille spirituel est son mariage à deux femmes cananéennes :
« A l'âge de quarante ans, Esaü épousa Judith, fille de Beeri le Hittite, et Basmath, fille d'Elôn le Hittite. » (Genèse 26:34)
Dédaignant complètement la pureté spirituelle, Esaü n’a pas hésité à se mélanger et à épouser des femmes cananéennes. Les buts de Dieu pour Ses peuples ne pourraient jamais être achevés par une telle personne.
En dépit de tous ces éléments, Isaac a cherché à annuler le verdict de Dieu que l’aîné servirai le cadet. Il avait anticipé faire ça en utilisant la déclaration de sa bénédiction avant sa mort. Normalement, le droit d’aînesse appartenait au fils aîné. Cela lui permettait de recevoir une double part de la propriété, en plus du privilège d’assumer la position du père comme chef de famille. Pour les descendants d’Abraham, cela déterminait celui par qui les bénédictions de l’alliance seraient données.226
Dans certaines circonstances, celui qui possédait ce droit d’aînesse pouvait en être dépossédé. Un tel changement serait normalement formalisé à l’offre de la bénédiction orale au moment de l’approche de la mort. Ainsi, Jacob donna à Ephraïm priorité sur Manassé (Genèse 48:8), et il donna les droits de premier-né de Ruben à Juda car il avait mal utilisé sa position (Genèse 49:3.) Et ainsi, il apparaîtrait qu’Isaac avait l’intention de manipuler Dieu en renversant Son décret et la propriété légitime des droits du premier-né comme acheté (bien qu’immoralement) par Jacob. Il voulait faire cela en donnant sa bénédiction orale à Esaü :
«Que des nations te soient assujetties,
que, devant toi, des peuples se prosternent!
Sois le chef de tes frères,
que les fils de ta mère s'inclinent devant toi!
Maudit soit qui te maudira,
béni soit qui te bénira! » (Genèse 27:29)
Soit par un vrai ou un faux sens d’urgence, Isaac chercha à renverser secrètement la volonté de Dieu et la possession légitime de Jacob par un don clandestin d’une bénédiction orale. Par sa participation volontaire, Esaü a ignoré l'accord légal qu'il avait fait avec son frère. Dans les deux cas, un dîner fournit l’occasion pour une telle déception. D’être assis à la table d’Abraham (ou même de Loth) était d’être accordé hospitalité et protection, mais d’être assis à la table d’Isaac et de ses fils était faire face aux dangers de déception et de commerce malhonnete.227
La Contre-Conspiration de Rébecca et Jacob (27:5-17)
Notre Seigneur a dit une fois à Ses disciples, « … tous ceux qui se serviront de l'épée mourront par l'épée. » (Matthieu 26:52.) Il n’y a peut-être pas d’illustration plus claire de ce principe que ce qu’on peut voir dans Genèse 27:5-17. Isaac pensa promouvoir ses propres intérêts en utilisant des moyens sournois et le mensonge. La méthode de Dieu pour traiter ça était de donner à Isaac une femme qui était beaucoup plus douée à la manipulation que lui. Elle était un chef à la déception elle!
Rébecca avait les qualifications nécessaire pour un boulot avec la CIA. Elle travaillait comme contre-espion au service de son fils. Elle prétendait être la femme fidèle et amoureuse, mais sous tout ça, elle cherchait à encourager les intérêts de Jacob, même aux dépens de son mari Isaac. Rébecca, pas Jacob, était le cerveau derrière la « mission impossible » pour déjouer Isaac et pour obtenir sa bénédiction pour Jacob.
Rébecca n’a pas juste entendu par hasard les murmures d’Isaac et d’Esaü quand ils tramaient leur conspiration de diversion des promesses divines au fils aîné. Le texte nous dit qu’elle « écoutait.» La forme hébreuse qui fut utilisée dans le texte original suggère que c’était une habitude, un comportement normal, pas un hasard.228 Esaü était à peine sorti de la maison que Rébecca avait les roues qui tournaient déjà pour contrecarrer le complot d’Isaac avec son complot plus grand.
Quand vous y pensez, le plan était extraordinaire. Seul un sens de désespoir ou un esprit très dérangé (ou tous les deux !) pouvait espérer qu’un tel complot marcherait. Comment un fils avec une complexion et un physique totalement différent pourrait se débrouiller pour convaincre son père qu’il était son frère aîné ?
A mon avis, un tel plan n’a pas pu être conçu en un instant. J’ai tendance à penser que Rébecca avait pensé à cette possibilité depuis un moment et que la plupart des accessoires étaient déjà en place pour cette production théâtrale. Comment aurait-elle pu penser à de si petits détails, tels que les gants de peau de chèvre et la peau des chevreaux pour son cou, en si peu de temps ? Et comment, en quelques instants, auraient-ils pu être fabriqués d’une façon si experte, capable d’arriver à tromper Isaac ? Est-ce qu’il arriva par hasard qu’elle eut sous la main les vêtements d’Esaü, bien qu’il soit marié et qu’il ne vive plus à la maison? Rébecca était trop maligne pour laisser ces détails à la chance ou pour s’en occuper au dernier moment. Je crois que cette production a été montée bien avant la performance.
Je trouve les protestations de Jacob très intéressantes. Quelles est la base de ses objections ? Moïse les a enregistrées pour nous :
« Jacob répondit à Rébecca, sa mère:
---Esaü mon frère est couvert de poils et moi pas.
Si mon père me touche, il s'apercevra que j'ai voulu le tromper, si bien que j'attirerai sur moi une malédiction au lieu d'une bénédiction. » (Genèse 27:11-12)
Je suis choqué à l’absence de toute considération morale. Jacob ne rouspète pas sa mère pour la mauvaise chose qu’elle a proposée. Une simple phrase aurait résumé la question avec précision : « Ce n’est pas bien. » Mais aucun verdict moral n’est prononcé, et pire encore, il n’est même pas considéré. Il semblerait que les éthiques situationnelles se réduisent toujours à la prémisse que les urgences annulent les éthiques. Ce genre de raisonnement est désespérément diabolique.
Les objections de Jacob sont basées sur deux considérations, toutes les deux traitants avec le coté pratique au lieu du principe. La première est simplement qu’une telle intrigue est trop incroyable pour pouvoir marcher. La meilleure raison pour Jacob d’éviter l’intrigue de Rébecca était que ce complot allait sûrement échouer, mais Rébecca était trop maligne pour proposer une intrigue dont elle n’avait pas déjà tout arrangé, jusqu’aux plus petits détails. La deuxième objection était basée sur la considération de ce qu’il pourrait arriver si le complot échouait. En d’autres mots, Jacob était inquiet des conséquences d’un échec. Les hommes pieux prennent des décisions basées avant tout sur des principes, pendant que l’impie ne voit que le coté pratique. On dit que le crime ne paye pas, mais le criminel sait très bien qu’il paye, et c’est pourquoi le taux de crime continue à monter en flèche. La loi et le gouvernement qui la fait respecter sont les seules forces de dissuasion, car les sentences comptent bien plus que les principes pour ceux qui sont diaboliques (Romains 13:2-4 ; 1 Timothée 1:9.)
Rébecca avait une réponse toute prête pour cette objection. Elle promit d’assumer personnellement les conséquences négatives si quelque chose tournait mal. Et laissez-moi ajouter qu’elle dut souffrir énormément pour la part qu’elle a jouée dans cette intrigue. Cependant, ce que ni Rébecca, ni son fils, n’avait considéré étaient les conséquences de leur péché même s’ils réussissaient, et ils ont réussit. Leur plan marcha aux petits oignons, mais les résultats furent l’opposé de ce qu’ils avaient espéré.
Il reste encore une question : « Qu’est-ce que Rébecca aurait pu faire dans ces circonstances ? » Isaac a eu tort dans ce qu’il avait conspiré de faire. Jacob était le fils que Dieu avait choisit pour être l’ « héritier de la promesse. » Néanmoins, le mal ne doit pas être résister avec le mal ; il doit etre vaincu avec le bien (Romains 12:21.)
La première chose que Rébecca aurait du faire était de parler honnêtement et directement à son mari à propos du péché qu’il contemplait. La submissivité à l’autorité n’inclut jamais le silence envers le mal. Nous devons « exprimer la vérité dans l'amour » (Ephésiens 4:15), même à ceux qui ont autorité sur nous (Actes 16:35-40.)
Ayant rempli sa responsabilité d'avertir son mari des conséquences du mal qu'il avait projeté, elle aurait du être contente de laisser la disposition de ce problème à Dieu, Qui est tout-puissant et sage. Ses actions ont trahi son manque de foi en la souverainete de Dieu. Elle aurait du agir, comme le père de Gédéon a fait quand le people voulait mettre son fils à mort pour avoir détruit l’autel de Baal:
« ---Est-ce à vous de défendre la cause de Baal? Est-ce à vous de lui venir en aide? Celui qui prendra parti pour Baal sera mis à mort avant demain matin. Si Baal est dieu, qu'il se défende lui-même, puisqu'on a démoli son autel. » (Juges 6:31)
Si Dieu est Dieu, laissez LE agir comme IL veut, spécialement quand les moments quand nous ne pouvons pas agir selon Ses Paroles.
Jacob Avale le Grand Mensonge
Adolphe Hitler croyait en l’utilisation du « grand mensonge. » Des petites distorsions de la vérité et des petits mensonges peuvent éveiller le soupçon, mais le « grand mensonge » serait si incroyable que les gens assumeraient que ça doit être vrai. C’était Mark Twain, je crois, qui a dit que la fiction était croyable et que la non-fiction était incroyable. Quand Jacob posa comme son frère aîné, ce n’était rien de moins qu’une application ancienne du principe du « grand mensonge. »
Peut-être que Jacob n’avait jamais eu l’intention pour ce mensonge de devenir aussi grand, mais néanmoins, il est devenu de plus en plus grand avec chaque phrase qu’il prononça. Il commença avec les mots « Je suis Esaü, ton fils aîné » (Verset 19.) A partir de là, c’est mensonges après mensonges : « J'ai fait ce que tu m'as demandé » (verset 19) ; « mange de mon gibier » (verset 19.) En réponse à la question d’Isaac « Es-tu bien mon fils Esaü? », Jacob lui dit, « ---Oui. » (Verset 24.) Cependant, le mensonge qui me donne des frissons partout quand je le lis, se trouve dans le verset 20 :
« Isaac lui demanda:
---Comment as-tu fait, mon fils, pour trouver si vite du gibier?
Jacob répondit:
---C'est l'Eternel ton Dieu qui l'a mené sur mon chemin. »
Ne vous attendez-vous pas à ce qu’un éclair, descendant des cieux avec un grand « boum », désintègre ce menteur une bonne fois pour toute ? Et bien, avant que vous ne tombiez trop durement sur le dos de Jacob, réfléchissez combien les Chrétiens d’aujourd’hui font exactement la même chose. Jacob excuse son péché en déclarant que Dieu était son partenaire durant sa performance. Nous disons fréquemment, « Le Seigneur m’a guidé à … », quand souvent c’est quelque chose qu’on a toujours voulu faire et nous avons finalement trouvé le courage (ou la folie) de le faire. « Le Seigneur m’a dit de... », « le Seigneur nous a bénit avec… » Faites attention avec de telles phrases. Elles sont peut-être les preuves que nous avons le même genre de raisonnement qui a causé Jacob de dire à son père que Dieu l’avait bénit en lui donnant de la chèvre au lieu de gibier. Nous essayons de dissimuler nos péchés avec pleins de mots religieux.
Il y a quelque chose d’étrangement pathétique à propos d’Isaac dans ce chapitre. Il semble destiné à échouer, comme échouerait chaque homme essayant de magouiller les décisions de Dieu. Sa vulnérabilité est le résultat de plusieurs forces. Premièrement, Isaac était devenu vieux. Sa vue avait baissé (verset 1) au point qu’il ne pouvait plus distinguer entre ce qui était vrai et ce qui était artificiel. Ses sens étaient aussi un peu émoussés par son âge ou il semblait. Il n’a pas remarqué la différence de goût entre de la chèvre et du gibier. Il ne pouvait pas différencier entre la peau de chèvre et celle de son fils Esaü.
Et aussi, le bon sens d’Isaac semble avoir été diminué par sa hâte. Il était évident qu’Isaac voulait se débarrasser de ça aussitôt que possible. Il voulait que la bénédiction aille à Esaü, comme ça ce serait fait – finit. S’il n’y avait pas eu d’urgence, Isaac aurait insisté que son “autre fils” soit aussi présent pour la bénédiction. Le bon sens aujourd’hui, comme en ce temps là, disparaît quand on est pressé.
Nous ne pouvons oublier que la décision qu’Isaac a prise était basée sur ses cinq sens : La vue, le son, le touché, le goût et l’odeur. Les vêtements que Rébecca avait sous la main étaient ceux d’Esaü, et ils avaient aussi son odeur. Certains ont poliment suggéré que l’odeur était plus comme de l’eau de Cologne, mais j’en doute vraiment. Comme Dr J. Vernon McGee, je pense que c’était un autre genre d’odeur.229 Ce ne fut pas l’odeur du déodorant d’Esaü mais l’odeur du manque de ça qui l’a dénoncé. Même les sens émoussés d’Isaac ne pouvaient pas manquer l’odeur de son fils. Imaginez ça – Isaac, à la fin de sa vie, était guidé par son nez.
Je trouve l’erreur d’Isaac informative, vivant dans notre âge moderne qui insiste à prendre des décisions uniquement sur la base d’évidences prouvées par des moyens scientifiques. Si nous ne pouvons pas le voir, l’entendre ou le sentir, il n’existe pas. Laissez moi vous dire que la chute d’Adam et d’Eve dans le jardin (Genèse 3) a rendu tous les hommes des pécheurs. Chaque aspect de notre existence a été contaminé par le péché : l’intellect, les émotions, et la volonté. Un homme qui a un cœur haineux envers Dieu peut regarder des faits empiriques et arriver à une conclusion complètement fausse. Le problème n’est pas avec les faits ; le problème est avec l’homme, que la tête et le cœur induisent en erreur. Tel était le cas avec Isaac ; tel est le cas aujourd’hui.
Isaac apprend et Esaü Echoue (27:30-40)
La Bible est un livre merveilleux en ce qui est vrai peut aussi être beau. Pendant que les Écritures sont données pour nous édifier et pour nous exhorter, c’est fait par une littérature habilement écrite. Il y a un sens dramatique distinct dans ce récit. Ça nous est tellement familier que nous ne le remarquons même pas, mais il est quand même là. Nous sommes tenus en suspense jusqu’au dernier moment pour voir si Jacob peut survivre l’interrogation et l’inspection de son père. La bénédiction n’est pas donnée avant la dernière minute, ce qui nous fait craindre qu’à tout moment Esaü aille faire irruption dans la pièce, exposant la fraude de son frère, et attirant une malédiction sur lui, pendant qu’il recevrait la bénédiction pour lui-même. Moïse nous dit que Jacob venait juste de sortir quand son frère arriva avec le repas pour son père (verset 30.)
Pendant que Jacob adorait le goût du « gibier » de Jacob, Jacob, lui, savourait le goût de sa victoire sur Esaü. Il partit triomphant, laissant échapper un gros soupir. Esaü a du arriver au coté de son père avec beaucoup d’espoir, sentant que la bénédiction était presque dans sa poche. Quel sens pimpant de satisfaction et de revanche a du submerger Esaü ! Et Isaac ? A la fin, il a finalement été plus malin que sa femme et a bénit Esaü ou tout au moins c’est ce qu’il pensait.
Tout cela fut détruit quand Esaü approcha son père avec ces mots :
« ---Mon père, lève-toi, je te prie, et mange du gibier de ton fils, pour me donner ensuite ta bénédiction. » (verset 31)
Esaü a du être totalement déconcerté par le regard terrifié de son père et le fait qu’il tremblait violemment sur son lit. Qu’est-ce qui pouvait aller mal ? Un sens de terreur a du tombé lentement sur Esaü alors qu’il devenait de plus en plus clair que son frère l’avait eu une fois de plus. L’ironie de tout ça était que puisque Isaac avait essayé de tout donner à Esaü, il ne restait plus rien qui pouvait être considéré une bénédiction pour son fils favori, car tout avait été donné à Jacob.
Les conséquences pour Rébecca et Jacob sont notées dans les versets 41-45, mais les résultats tragiques de la conspiration d’Isaac et d’Esaü sont vus plus tôt. Isaac avait voulu tout donner à son fils favori Esaü aux dépens de Jacob. Au lieu de ça, il donna tout à Jacob aux dépens d’Esaü. Isaac voulait ce qui était contraire à la volonté de Dieu, et à cause de cela son monde s’est écroulé sous lui quand la volonté de Dieu a gagné. Esaü détestait les choses spirituelles et c’est pour cela qu’il avait vendu son droit d’aînesse pour un dîner. Puis il essaya de le reprendre en renonçant à son serment solennel et en conspirant avec son père pour récupérer malhonnêtement ce qu’il avait perdu par sa propre impiété. Esaü apprit qu’il vient un moment de non retour dans la vie de chaque homme quand le regret ne peut renverser les conséquences de décisions passées. Comme je comprends la Bible, tous ceux qui ont rejeté Christ comme Sauveur vivront avec des regrets et remords éternels, mais cela ne changera pas les conséquences de continuer à vivre avec leurs décisions de vivre une vie indépendante de Dieu (Luc 16:19-31 ; Philippiens 2:9-11 ; 2 Thessaloniens 1:6-10 ; Apocalypse 20:11-15.)
Rébecca et Jacob Doivent Payer (27:41-46)
Pour Rébecca et son fils Jacob le prix de leur succès fut aussi couteux que celui d’Isaac et d’Esaü pour leur défaite. Je n’ai jamais vu quelqu’un sortir des résultants finaux d’un péché avec un sourire sur leur visage. Le péché ne paye pas. Jacob et Rébecca peuvent en témoigner les larmes aux yeux.
Rébecca aimait Jacob, elle tenait à lui plus qu’à la vie et, apparemment, plus qu’à Isaac. Elle voulait que Jacob réussisse (ce qui parut être la volonté de Dieu) à n’importe quel prix, même déception et fourberie. Le prix qu’elle a payé fut la séparation de son fils, et il semble que cela a duré le reste de sa vie.230 Pour autant qu’on puisse dire, une fois que Jacob partit pour Harân, il ne revit plus sa mère. Rébecca sous-estima les conséquences de ce péché, car elle pensa que Jacob n’aurait besoin de s’éloigner que pour peu de temps – jusqu'à la mort d’Isaac (27:44.) Mais Isaac vécut encore une bonne quarantaine d’années et il mourut à l’ âge de 180 ans (35:28.)
Jacob a aussi du faire face aux résultats inévitables du péché. Il a du sentir une aliénation de son père, qu’il n’avait non seulement trompé mais aussi moqué (27:12.) Maintenant il avait un frère qui le méprisait et qui attendait avec impatience le jour quand il pourrait le tuer (verset 41.) Et le pire de tout, il dut quitter la mère qu’il adorait. Et en plus, tout ce qu’il avait gagné, dans le sens matériel, il fut incapable d’en profiter car il dut le laisser derrière quand il fuit pour sa vie. Le péché ne paye pas !
Conclusion
Plusieurs doctrines, qui sont illustrées dans ce chapitre, devraient être accentuées. Premièrement, nous apprenons plus à propos de la souveraineté de Dieu. Consistant avec d’autres passages des Écritures, nous voyons que Dieu a le contrôle total de Son univers, même quand les hommes essayent de contrecarrer Ses jugements :
« L'homme projette de suivre tel chemin,
et Dieu dirige ses pas. » (Proverbes 16:9)
« Un homme forme de nombreux projets,
mais c'est le dessein de l'Eternel qui se réalise. » (Proverbes 19:21)
« Car même la fureur des hommes tournera à ta gloire » (Psaumes 76:11)
De ce passage dans Genèse, un principe peut être formulé concernant la souveraineté de Dieu : Le péché de l’homme ne peut jamais frustrer la volonté de Dieu, mais il peut l’accomplir.
Le but de Dieu, comme il a été exprimé à Rébecca dans Genèse 25:23, fut parfaitement accomplit sans une seule altération. Les péchés d’Isaac, d’Esaü, de Rébecca et de Jacob n’ont pas du tout empêché que la volonté de Dieu soit faite. En fait, leurs péchés furent utilisés par Dieu dans un tel sens qu’ils participèrent à la réalisation de Sa volonté. Sa souveraineté n’est jamais contrecarrée par le péché de l’homme. Au contraire, Dieu est capable de réaliser Ses buts en utilisant les actes honteux de l’homme à l’avantage de Ses plans.
Cela ne veut pas dire que Dieu fait pécher les hommes pour réaliser Ses buts. Cela ne veut pas dire non plus que Dieu juge la désobéissance moins sérieusement parce qu’IL tourne le mal en bien. Les péchés de chaque personne dans ce chapitre ne sont pas poussés sous le tapis ou excusés. Personne n’a passé la responsabilité de leurs actions à Dieu. Personne ne peut mettre le fardeau de culpabilité sur le dos de Dieu à cause de Son décret. Le péché est du à la dépravation de l’homme.
S’ils avaient tous obéi, Dieu aurait utilisé d’autres moyens pour apporter les bénédictions sur Jacob au lieu d’Esaü. Dieu n’a pas crée la situation dans laquelle les hommes devaient pécher pour que Sa volonté soit faite. Non plus ne le fera-t IL jamais. Comme Chrétiens, nous n’avons jamais besoin de pécher (1 Corinthiens 10:13 ; Jacques 1:13.) Pendant que Dieu « fait concourir toutes choses au bien de ceux qui l'aiment » (Romains 8:28), IL ne crée pas le mal pour amener des bons résultats. Nous sommes responsables pour notre péché, pas Dieu. IL le permet ; IL l’utilise ; mais IL n’en a pas besoin.
Comment, alors, aurait-IL pu réaliser les bénédictions de Jacob s’il n’y avait pas eu les péchés de la famille patriarcale ? Laissez-moi dire franchement que je n’en ai aucune idée, et que je n’ai pas besoin de savoir. Mais je suis totalement sûr de ça : Isaac n’aurait pas plus pu prononcer une bénédiction pour Esaü, contraire à la volonte de Dieu, que Balaam aurait pu maudir Israël (Nombres 22-24.) Dieu ne permettra pas aux hommes de contrecarrer Ses plans.
Deuxièmement, nous apprenons la doctrine du péché. Le péché produit toujours la séparation. Il sépare les hommes des hommes et les hommes de Dieu (Jean 15:18 ; 2 Thessaloniens 1:5-10.)
Troisièmement, nous apprenons plus de choses sur la doctrine de la dépravation de l’homme. La méchanceté de l’homme est manifestée dans la distorsion qu’elle apporte dans chaque partie de sa vie : Son intellect, ses émotions et sa volonté. La méthode empirique est bonne, mais notre dépravation a touché notre intellect dans un tel sens qu’elle tourne notre opinion, pour que nous prenions des faits justes et en tirions de fausses conclusions. La méthode empirique, si elle est employée par de mauvais hommes, les détournera souvent du bon chemin.
Seulement quand notre vrai motif est de découvrir la volonté de Dieu et de lui obéir et quand nos esprits sont transformés (Romains 12:2) par Son Esprit à travers Sa Parole pouvons-nous espérer interpréter correctement les faits mis devant nous.
De Genèse 27, je suis convaincu d’une vérité que je n’avais jamais réalisée : Il est Possible de Pratiquer la Foi dans un Sens Incompatible avec Elle.
Généralement, nous supposerions tous que les actions basées sur la foi sont justes, pendant que ces choses qui sont faites loin de la foi sont mauvaises. Il y a certainement un élément de vérité ici, mais je pourrai difficilement croire ce que je lis dans le Livre d’Hébreux concernant la bénédiction de Jacob et d’Esaü par Isaac:
« Par la foi aussi, Isaac a béni Jacob et Esaü, en vue de l'avenir. » (Hébreux 11:20)
Auriez-vous pensé que la bénédiction d’Isaac pour Jacob et Esaü était un acte de foi ? Comment cela peut-il être vrai ? La déception et la désobéissance d’Isaac ne sont pas appelées « justes » par l’auteur de Hébreux. Comment ces évènements de Genèse 27 peuvent-ils, dans un sens, être des actes de foi pour Isaac ?
Je crois que je commence à comprendre la réponse à cette question. Regardez pendant un moment ce qui se trouve juste quelques versets plus loin dans Hébreux 11 :
« Par la foi, Rahab la prostituée n'est pas morte avec ceux qui avaient refusé d'obéir à Dieu, parce qu'elle avait accueilli avec bienveillance les Israélites envoyés en éclaireurs. » (Hébreux 11:31)
Rahab, comme nous le savons, avait menti à propos des deux espions (Josué 2:3-7.) Elle avait fait ça croyant que Dieu était avec eux et avec le pays d’Israël. Elle savait que Dieu prospèrerait Ses gens et détruirait ceux qui étaient leurs ennemis. Dans un sens, elle avait foi en le Dieu d’Israël et fut sauvée de la destruction. Son action de mentir ne fut pas louée par Dieu, ni ne devrait-elle pas être vue comme quelque chose de moins qu’un péché.231 Et cependant, il est provenu de sa foi. Sa foi en Dieu fut manifestée à un certain degré dans sa déception.
La même chose peut être dite d’Isaac. Il croyait en Dieu. Il croyait en les promesses de l’alliance de Dieu. Il croyait que celui sur lequel la bénédiction était prononcée serait effectivement bénit. Il y croyait avec tant de confiance qu’il était prêt à décevoir et même à désobéir pour que ces bénédictions tombent sur son fils favori Esaü.
Dans ce sens, Isaac bénit Jacob et Esaü dans la foi. Il prononça la bénédiction dans la foi que Dieu l’honorerait et que son récipiendaire serait bénit. Les actions d’Isaac provenaient de sa foi ; Mais, en même temps, elles n’étaient pas appropriées à cette foi.
Je crois que la même chose est possible (et probablement bien trop commune) pour les Chrétiens d’aujourd’hui. Notre foi en Dieu peut nous pousser à témoigner, mais nous pouvons utiliser des méthodes qui sont inconsistantes avec l’Évangile que nous proclamons. Notre foi peut nous causer à partager le chemin du salût, mais nous pouvons aussi corrompre cet Évangile pour ne pas offenser l’autre partie. Nous pensons servir la cause du Christ, mais nous corrompons l’Évangile, qui est « la puissance de Dieu par laquelle IL sauve tous ceux qui croient » (Romains 1:16.) Notre but peut être biblique (par exemple, le salût des autres), ainsi que notre motif (notre foi), mais nos moyens peuvent être complètement faux. Cela devrait nous donner beaucoup à réflechir.
Un mot final doit être dit à propos du sujet d’éthiques chrétiennes. Jacob était coupable de pratiquer des éthiques situationnelles. Il considérait le plan de sa mère de la position avantageuse du bénéficiaire, mais pas de la perspective de principe biblique. Il s’inquiétait à propos de si le plan allait marcher, mais pas de s’il était juste. Il s’est tourmenté à propos des conséquences si le plan échouait, mais pas à propos de sa moralité.
Je pense que nous trouvons un parallèle avec notre propre temps dans le sujet de conduite sexuelle et de moralité. La conduite sexuelle semble souvent être considérée seulement selon la disponibilité et l’opportunité, mais pas sous l’angle de la moralité biblique. L’immoralité sexuelle a souvent été découragée à cause des conséquences de maladies, de honte et de l’inconvénient des grossesses non prévues. Néanmoins, maintenant, la société a découvert la pénicilline et la pilule et, si tout échoue, il y a l’avortement. La génération plus jeune n’a que très peu de réticence à s’engager dans l’immoralité car ils sont assurés, comme Jacob l’était, qu’il n’y aura aucunes conséquences négatives. Nous devons apprendre à nos enfants ce qui est correct, et les aider à voir que le péché à toujours un prix qui est trop cher pour considérer sérieusement la désobéissance à Dieu.
223 “This makes all four participants in the present scene almost equally at fault. Isaac, whether he knew of the sale or not, knew God’s birth-oracle of 25:23, yet set himself to use God’s power to thwart it (see verse 29). This is the outlook of magic, not religion. Esau, in agreeing to the plan, broke his own oath of 25:33. Rebekah and Jacob, with a just cause, made no approach to God or man, no gesture of faith or love, and reaped the appropriate fruit of hatred.” Derek Kidner, Genesis (Chicago: InterVarsity Press, 1967), p. 155.
224 Stigers, after a consideration of Genesis 47:9; 45:11; 41:26-27; 41:46; 30:22ff.; and 29:18,27 calculates that Jacob would have been 77 years old when he left for Padan-Aram. If this is correct, Isaac would be 137 years old here, since we know he was 60 years old when the twins were born (25:26). Cf. Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 211.
225 “From excavations at Nuzu in central Mesopotamia we learn that the oral blessing or will had legal validity and would stand up even in the courts. Nuzu tablet P56 mentions a lawsuit between three brothers in which two of them contested the right of a third to marry a certain Zululishtar. The young man won his case by arguing that this marriage was provided for in his father’s deathbed blessing.” Howard Vos, Genesis and Archaeology (Chicago: Moody Press, 1963), p. 96. The information cited by Vos comes from Cyrus Gordon, “Biblical Customs and the Nuzu Tablets,” The Biblical Archaeologist, February, 1940, p. 8.
226 “The birthright was more than a title to the family inheritance; it involved a spiritual position. The place of the individual in the covenant status of Israel was part of the birthright and it was this aspect which made the foolishness of Esau so profound.” W. White, Jr. “Birthright,” The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids: Zondervan, 1975-1976), I, p. 617.
227 Leupold rightly comments, “He that knows the duplicity and treachery of the human heart will not find it difficult to understand how a man will circumvent a word of God, no matter how clear it be, if his heart is really set on what is at variance with that word.” H. C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), II., p. 737.
228 “The participle shoma’ath . . . indicates a continuing watchfulness on her part to protect Jacob’s interests.” Stigers, A Commentary on Genesis, p. 217.
229 Cf. J. Vernon McGee, Genesis (Pasadena: Through the Bible Books, 1975), II, p. 302.
230 Rebekah paved the way for Jacob’s exodus in verse 46, but we shall delay a more detailed comment on this verse until the message on chapter 28. Suffice it to say that she still persisted at the manipulation of her husband, which she does with great skill.
231 Some would differ here. There are those who would say that during war deception (lying) is not sin--and this was a time of war. Thus, Rahab was not guilty of sin in this instance. I happen to disagree with that conclusion, although I do believe that deception in a time of war is not considered sin. We must realize that the writer to the Hebrews spoke only of Rahab’s reception of the spies, not of her deception, when he wrote of her faith.
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