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From the series: 1 Samuel (Portuguese)

23. Uma Vez Mais (I Samuel 26:1-25)

Introdução

O raciocínio de alguns estudiosos, quando tratam de nosso texto, seria algo como: “Os acontecimentos do capítulo 26 são incrivelmente parecidos com os do capítulo 24. A semelhança pode ser explicada se presumirmos que os textos sejam apenas narrativas diferentes de um mesmo incidente.” É difícil chegar a esta conclusão sem pensar que o texto das Escrituras esteja de alguma forma corrompido e, por isso, não seja inerrante. É verdade que existem muitas semelhanças entre os dois capítulos. Por exemplo, em ambos os zifeus vão até Saul para informá-lo do paradeiro de Davi. Mas, por que é tão difícil entender os dois capítulos de forma literal e presumir que aquilo que os zifeus não conseguem da primeira vez, eles tentam na segunda?

Os estudiosos têm razão, creio, em apontar as semelhanças entre os dois capítulos. Eles não têm razão, em minha opinião, quando tentam explicar essas semelhanças baseando-se na suposição de que um dos dois, ou ambos os relatos bíblicos, tenham algum problema. Existe uma solução bem mais fácil (e melhor). E começa com a assunção de que a Bíblia é, tal como afirma ser, a Palavra inspirada de Deus, inerrante. Vamos admitir que a proximidade e a semelhança entre as duas narrativas do encontro de Saul com Davi sejam por desígnio divino. Vamos admitir também que o autor (Autor) coloca as narrativas bem perto uma da outra propositadamente, a fim de que notemos sua semelhança. E vamos supor ainda que o autor tenha a intenção de que percebamos tanto as semelhanças quanto as diferenças. Pode ser que as diferenças entre as duas narrativas seja a chave para o entendimento de ambas.

Deixe-me ilustrar o que estou sugerindo. No livro de Gênesis, lemos que os irmãos de José o vendem como escravo para o Egito. Eles o vendem porque estão com ciúmes dele e o odeiam porque é o filho favorito de Jacó. Eles não se importam com o fato de que a venda de José como escravo irá partir o coração de seu pai. Quando José, finalmente, se torna o segundo em comando de Faraó, seus irmãos descem ao Egito para comprar cereal, sem saber que ele é, na realidade, seu irmão. José, então, cria uma situação em que eles devem trazer o irmão mais novo, Benjamim, junto com eles, quando retornarem ao Egito para comprar mais cereal. Depois, ele cria um incidente que faz com que Benjamim pareça culpado de roubo. José dá a seus irmãos a oportunidade de trair seu irmão, Benjamim, deixando-o como escravo no Egito, e retornando a salvo para seu pai. Em resumo, José dá a seus irmãos a chance de, literalmente, reviver sua traição de aproximadamente 20 anos antes. O que importa nesta situação “semelhante” no Egito é a diferença na maneira como reagem os irmãos de José - especialmente Judá. A compaixão deles por Jacó e a preocupação com Benjamim mostram a José que eles realmente se arrependeram de seu pecado contra ele. Propositadamente, a situação é muito parecida com a traição cometida contra José, a fim de que o arrependimento de seus irmãos seja evidenciado nas diferenças entre o segundo e o primeiro incidentes.

Esta situação é bem parecida com a que o autor de I Samuel relata no capítulo 26. No capítulo 24, Davi está com a consciência culpada por ter cortado uma parte do manto de Saul. Embora ele faça muitas coisas certas ao tratar com Saul no capítulo 24, ele não aplica de forma consistente os mesmos princípios ao tratar com Nabal no capítulo 25. Só depois de ser gentilmente repreendido por Abigail é que ele deixa a vingança com Deus e desiste de seu plano de executar Nabal, junto com todos os seus servos. No capítulo 26, encontramos Davi em circunstâncias semelhantes àquelas do capítulo 24. Creio que Deus esteja lhe dando outra oportunidade, uma chance de “fazer a coisa certa”. E ele fará, como veremos. As semelhanças entre os capítulos 24 e 26 nos informam que Davi tem uma segunda chance. As diferenças entre os dois capítulos nos dizem como ele se saiu bem, uma vez mais.

Deja Vu
(26:1-5)

“Vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, e disseram: Não se acha Davi escondido no outeiro de Haquila, defronte de Jesimom? Então, Saul se levantou e desceu ao deserto de Zife, e com ele, três mil homens escolhidos de Israel, a buscar a Davi. Acampou-se Saul no outeiro de Haquila, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e, sabendo que Saul vinha para ali à sua procura, enviou espias, e soube que Saul tinha vindo. Davi se levantou, e veio ao lugar onde Saul acampara, e viu o lugar onde se deitaram Saul e Abner, filho de Ner, comandante do seu exército. Saul estava deitado no acampamento, e o povo, ao redor dele.”

Já vimos os zifeus antes. No capítulo 23 está escrito que eles foram até Saul em Gibeá, informando-o sobre o paradeiro de Davi e prometendo entregá-lo a ele (23:19-20). Saul queria ter certeza de que Davi não escorregaria pelo vão de seus dedos, por isso mandou a delegação dos zifeus de volta prá casa, com instruções para identificar todos os possíveis esconderijos de Davi, a fim de garantir sua captura na campanha seguinte (23:21-23). Eles voltaram prá casa e Saul prontamente saiu em intensa perseguição a Davi. Quando Davi soube de sua aproximação, ele se dirigiu mais para o sul, onde quase caiu na cilada armada por Saul na montanha do deserto de Maon. Não fosse pela chegada oportuna de um mensageiro, informando que os filisteus tinham atacado Israel, Saul o teria capturado (23:24-29).

Após seu retorno da perseguição aos filisteus, Saul retomou sua caça a Davi. Aconteceu que Saul fez uma parada para descanso justamente na mesma caverna em que Davi e seus homens estavam escondidos. Enquanto Saul estava na caverna, Davi, sem ser visto, cortou um pedaço de seu manto, mas não permitiu que ninguém lhe fizesse mal. Depois, ele se apresentou a Saul, demonstrando sua inocência ao lhe mostrar o pedaço do manto que acabara de cortar. Naquele momento Saul “se arrependeu” e os dois homens se separaram em paz (capítulo 24). Foi ali que Davi publicamente adotou a posição de que seria errado para ele (ou para qualquer outro) tirar Saul do trono, causando-lhe algum dano, uma vez que isto seria se opor ao ungido de Deus. Davi não faria mal a seu rei; ele buscaria somente o seu bem.

No capítulo 25, vemos que o compromisso assumido por Davi em relação ao bem estar de Saul era algo que ele não estava disposto a estender a Nabal. Davi havia enviado uma delegação de dez homens para pedir a Nabal uma contribuição em alimentos, pois este comemorava o período de tosquia. Rudemente, Nabal se recusa a ceder qualquer alimento, acrescentando à injustiça uma porção de ofensas a Davi e seus seguidores. Davi fica tão irado que se prepara para matar Nabal e todos os homens de sua casa. Devido à sábia intervenção de Abigail, a esposa de Nabal, Davi poupa a vida deste, sendo impedido, desta forma, de agir de forma insensata. Abigail, em seu apelo a Davi, o relembra dos princípios que ele adotou no capítulo 24.

Agora, uma vez mais, encontramos os zifeus denunciando Davi para Saul. Quando eles vão até Saul, este não está no deserto de Zife ameaçando a vida daqueles que poderiam reter informações sobre o paradeiro de Davi. Ele está em sua casa em Gibeá, tendo abandonado a perseguição a Davi, pelo menos por algum tempo. No entanto, com a chegada destes úteis informantes, Saul novamente é compelido a perseguir Davi. Os zifeus são descendentes de Calebe e, por isso, de Judá; eles são compatriotas de Davi, e mesmo assim, denunciam seu futuro rei a um benjamita como Saul.

Saul volta ao deserto de Zife, acompanhado por 3.000 de seus melhores soldados. Desta vez ele não pretende deixar Davi escapar. Saul assenta acampamento no outeiro de Haquila, perto da estrada. Davi permanece na parte mais remota do deserto. Desta vez as coisas vão ser bem diferentes do que na última vez em que os dois se encontraram neste lugar. Da primeira vez Davi procurava escapar, enquanto Saul avançava. Agora é Saul, com seus homens, que estão acampados, e Davi quem toma a iniciativa. Os espiões localizam o acampamento de Saul e informam Davi, que se aproxima com seus homens. Davi olha para baixo e vê Saul dormindo no meio do acampamento, facilmente identificado por seu tamanho, por sua armadura ou vestimenta e, com toda certeza, por sua lança. Ao lado de Saul está deitado seu tio e comandante do exército, Abner. Ao redor de Saul e Abner estão espalhados seus 3.000 soldados, dispostos em ondas concêntricas, tal como quando uma pedra é lançada numa lagoa tranqüila.

Um Pedido e Um Voluntário
(26:6-12)

“Disse Davi a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo. Vieram, pois, Davi e Abisai, de noite, ao povo, e eis que Saul estava deitado, dormindo no acampamento, e a sua lança, fincada na terra à sua cabeceira; Abner e o povo estavam deitados ao redor dele. Então, disse Abisai a Davi: Deus te entregou, hoje, nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de um só golpe; não será preciso segundo. Davi, porém, respondeu a Abisai: Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do SENHOR e fique inocente? Acrescentou Davi: Tão certo como vive o SENHOR, este o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto. O SENHOR me guarde de que eu estenda a mão contra o seu ungido; agora, porém, toma a lança que está à sua cabeceira e a bilha da água, e vamo-nos. Tomou, pois, Davi a lança e a bilha da água da cabeceira de Saul, e foram-se; ninguém o viu, nem o soube, nem se despertou, pois todos dormiam, porquanto, da parte do SENHOR, lhes havia caído profundo sono.”

Os observadores de Davi localizam o acampamento de Saul e, acompanhado por pelo menos dois de seus homens, Davi vai até lá. Dois parecem estar junto dele, Aimeleque, o hitita (não confundir com Aimeleque, o sacerdote, que foi morto por Saul), e Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe e Azael (II Samuel 2:18). Davi conversa com eles, pedindo que um dos dois desça com ele ao acampamento. Aimeleque parece ficar em silêncio, enquanto Abisai se oferece como voluntário.

Imagine por alguns instantes que você seja Abisai. Saul cuidadosamente se posicionou na parte mais interna do círculo feito por suas tropas. Abner, um heróico guerreiro e guarda-costas de Saul, está deitado bem ao lado do rei. Cuidadosamente, você abre caminho por entre esse labirinto de corpos humanos, temendo que, a qualquer momento, alguém acorde. Parece impossível que alguém dentre esses 3.000 homens não esteja de guarda. Você ouve um soldado roncando muito alto e se pergunta se deveria virá-lo de lado, para não acordar os outros. Você pisa num galho seco e ele estala - seu coração quase pára. Você mal pode acreditar que realmente esteja fazendo isso, enquanto está ali, ao lado de Davi, vendo Saul dormir tranqüilamente, com Abner a seu lado. Próximo à cabeça de Saul está sua lança fincada no chão, e sua vasilha d’água.

Se você fosse Abisai, não levaria muito tempo para compreender o que viria a seguir. Sabendo, pelo incidente na caverna, que Davi é sensível quanto à questão de matar Saul, Abisai sussurra: “Deus te entregou, hoje, nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de um só golpe; não será preciso segundo.” Abisai raciocina: “É bem verdade que Davi se recusou a matá-lo na caverna, mas, com certeza, agora ele aprendeu a lição. Se ele relutar, eu o farei. Com certeza, ele não pediu um voluntário para descer até aqui, só para olhar o rei e depois ir embora.” Que debate interessante deve ter havido entre Davi e Abisai, enquanto eles discutem violentamente, mesmo tentando desesperadamente impedir que Saul ou qualquer um de seus homens acordem.

Davi proíbe Abisai de matar Saul basicamente pelas mesmas razões que apresentou na caverna, no capítulo 24. Ninguém pode levantar a mão contra o ungido do Senhor sem incorrer em culpa. No verso 10, Davi vai ainda mais além do que havia dito anteriormente: “Tão certo como vive o SENHOR, este o ferirá”, ele assevera. Davi não sabe como, mas, depois de sua experiência com Nabal e Abigail, ele sabe que Deus pode realizar Sua vontade de diversas maneiras. Ele poderia ferir Saul de morte, Saul poderia morrer de causas naturais, ou ser morto em batalha. Estas são apenas algumas maneiras pelas quais Deus poderia tirar Saul do trono, mas, em todos os casos, isto não será pelas mãos de Davi, nem pelas mãos de qualquer um de seus homens.

Davi foi até lá por causa da lança de Saul e de sua vasilha d’água, e isso é tudo. Assim, ele pega a lança e a jarra, dizendo a Abisai para acompanhá-lo. Posso até ver Abisai balançando a cabeça, enquanto retornam pelo meio daquele labirinto de corpos humanos ao redor de Saul e, finalmente, se esgueiram para a segurança da escuridão. “Que missão suicida! Tudo isso só para pegar uma lança e uma vasilha d’água!” O autor de nosso texto nos informa que este não foi apenas um golpe de sorte, ou uma excelente manobra militar, soubessem eles, ou não. Deus, miraculosamente, fez com que estes 3.000 homens adormecessem. Davi e Abisai poderiam ter gritado um com o outro (será possível que tenham feito?), e ninguém teria acordado. Abisai poderia ter tropeçado e despencado em cima de alguns deles, e ainda assim estariam a salvo. Pergunto-me quantas vezes na história os homens admitiram ter realmente escapado por milagre, ou ter tido um desempenho fantástico em alguma empreitada, sem sequer saber que a mão de Deus estava por trás de tudo.

Um Brusco Despertar
(26:13-16)

“Tendo Davi passado ao outro lado, pôs-se no cimo do monte ao longe, de maneira que entre eles havia grande distância. Bradou ao povo e a Abner, filho de Ner, dizendo: Não respondes, Abner? Então, Abner acudiu e disse: Quem és tu, que bradas ao rei? Então, disse Davi a Abner: Porventura, não és homem? E quem há em Israel como tu? Por que, pois, não guardaste o rei, teu senhor? Porque veio um do povo para destruir o rei, teu senhor. Não é bom isso que fizeste; tão certo como vive o SENHOR, deveis morrer, vós que não guardastes a vosso senhor, o ungido do SENHOR; vede, agora, onde está a lança do rei e a bilha da água, que tinha à sua cabeceira.”

A mãe de Davi não criou nenhum tolo. Ele deixa para gritar depois de ter atravessado o que parece ser um vale. Então, estando no topo de uma montanha, longe do alcance de Saul, ele brada ao povo, em geral, e a Abner, em particular. Provavelmente ainda é noite escura, ou a meia claridade das primeiras horas da manhã. Os soldados de Saul, ao que parece, são despertados pelo som da sua voz. Sem distinguir quem está chamando, Abner não reconhece a voz de Davi.

Há uma razão para Davi gritar para os soldados e para Abner, em particular. Ele acusa o grupo todo de não proteger adequadamente seu rei. Por isso, ele insiste que esta falha deve lhes custar a vida. Ao lermos as palavras de Davi para Abner e para os outros, começamos a entender as razões por detrás da desconcertante invasão ao acampamento de Saul. Davi não foi até lá sem mais nem menos, como uma espécie de travessura impulsiva. Ele tinha um plano, que saiu exatamente como o esperado. Quando pediu um voluntário, Abisai se apresentou, tal como suspeito que Davi tenha previsto. Veja, Abisai era um de seus valentes, conforme descrito em II Samuel 23:18-19:

“Também Abisai, irmão de Joabe, filho de Zeruia, era cabeça de trinta; e alçou a sua lança contra trezentos e os feriu. E tinha nome entre os primeiros três. Era ele mais nobre do que os trinta e era o primeiro deles; contudo, aos primeiros três não chegou.”

Abisai é um soldado arrojado, um homem que não tem escrúpulos em tirar a vida dos outros. Davi o levou consigo, sabendo perfeitamente que ele queria matar Saul quando chegassem ao acampamento.

Aqueles a quem Davi se dirige são soldados. Eles estão ali para prender Davi, descrito por alguns como um perigoso fora-da-lei, determinado a matar Saul para se apossar de seu trono. Se fosse assim (ou mesmo se não fosse), eles fazem parte do serviço secreto de Saul. Davi lhes diz que eles falharam no cumprimento de seu dever mais importante - o de proteger o rei. Ele afirma que um suposto assassino foi bem sucedido em penetrar suas defesas e chegar ao rei, com toda intenção de lhe fazer o mal. O rei só respira porque Davi o deteve (a Abisai). Davi tem razão! Apesar de ele não ter se aproximado de Saul para lhe causar algum dano, com certeza esta era a intenção de Abisai. A única razão pela qual Abisai não matou Saul foi porque Davi o deteve. Se algum deles duvidava de que alguém pudesse chegar tão perto de Saul, que procurasse a lança do rei e sua vasilha d’água. Imagine o terror, especialmente de Abner, quando olham para o chão, a algumas polegadas da cabeça de Saul, e vêem o buraco onde a ponta da lança estava encravada e o lugar da vasilha d’água desaparecida e, talvez até um par de pegadas indo e voltando em direção à lança. Davi pede que a segurança de Saul envie um homem até ele para retirar os objetos subtraídos. Ele tem a lança, e prova o que disse.

Na verdade, Davi salvou a vida de Saul. Como comandante-em-chefe de suas forças, Abner é o responsável por esta terrível violação da segurança que pôs a vida do rei em perigo. Ele é o homem no comando. Foi na sua vigília, por assim dizer, que a vida do rei esteve em perigo. E era ele quem estava deitado ao lado do rei, ao alcance de quem o poderia ter morto. Abner é o soldado mais renomado do exército de Saul. Que mancha este incidente coloca em seu currículo! No entanto, a coisa é bem pior, pois falhar em proteger o rei é um crime punível com a morte. Neste caso, não apenas Abner, mas cada um dos 3.000 soldados é culpado de um pecado imperdoável.

Alguém me falou de uma notícia que ouviu no rádio. Ao que parece houve uma tentativa contra a vida do filho de Saddam Hussein. Ele não foi morto, mas, por falharem na sua proteção, todos os membros de sua equipe de segurança foram executados. Davi não está exagerando e, cada um dos soldados perto de Saul deve se perguntar qual será a reação do rei.

Davi Conversa com Saul
(26:17-20)

“Então, reconheceu Saul a voz de Davi e disse: Não é a tua voz, meu filho Davi? Respondeu Davi: Sim, a minha, ó rei, meu senhor. Disse mais: Por que persegue o meu senhor assim seu servo? Pois que fiz eu? E que maldade se acha nas minhas mãos? Ouve, pois, agora, te rogo, ó rei, meu senhor, as palavras de teu servo: se é o SENHOR que te incita contra mim, aceite ele a oferta de manjares; porém, se são os filhos dos homens, malditos sejam perante o SENHOR; pois eles me expulsaram hoje, para que eu não tenha parte na herança do SENHOR, como que dizendo: Vai, serve a outros deuses. Agora, pois, não se derrame o meu sangue longe desta terra do SENHOR; pois saiu o rei de Israel em busca de uma pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes.”

Lentamente Saul começa a despertar, sem dúvida ainda meio grogue, de sua soneca sobrenatural. Ele ouve meio indistintamente a conversa entre Abner e uma voz distante. Ele conhece essa voz; é a voz de nenhum outro que não Davi. Ele já ouviu o bastante para acalmá-lo. Não é a tua voz, meu filho Davi? Davi confirma que de fato é ele. Daqui em diante, Davi assume o comando, perguntando a Saul por que ele o está perseguindo novamente. Ele pergunta que mal fez a Saul que requeira tal atitude. Não há, é claro, nenhuma boa resposta.

O que se segue é ainda mais intrigante. Davi suplica que Saul ouça suas palavras e leve em consideração aquilo que vai dizer. Não é justo Saul procurar matá-lo, pois ele nada fez de errado ao rei. Na verdade, ele acabou de salvar sua vida. Depois disto, Davi vai mais a fundo na questão, do ponto de vista das implicações teológicas. Nos versos 19 e 20 Deus é enfatizado, bem como as conseqüências espirituais da perseguição de Saul a Davi.

É óbvio que Saul acredita que Davi seja culpado de alguma coisa para que tenha de ser caçado e eliminado. Davi mostra que só pode haver duas fontes para Saul chegar a essa conclusão. Por um lado, é possível que ele, Davi, tenha realmente pecado, e que o Senhor tenha induzido Saul a resolver o problema. Se for assim, Saul só precisa dizer qual é o pecado de Davi, para que ele possa expiá-lo, oferecendo um sacrifício aceitável a Deus. Se for assim, não há necessidade de Saul persegui-lo e puni-lo, visto que Deus já o perdoou.

Há ainda outra possibilidade. Se Davi é inocente, então, houve alguém que o acusou injustamente diante de Saul, descrevendo-o como um bandido perigoso, digno de morte. Se esta segunda possibilidade é verdadeira, então esses falsos acusadores estão debaixo da maldição do Senhor. Não é Davi quem é digno de morte, mas aqueles que o acusaram injustamente.

“O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro.” (Pv. 17:15)

“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” (Is. 5:20)

O pecado desses homens vai muito além de fazer falsas acusações contra Davi. Ao incitarem Saul a persegui-lo, eles obrigaram um homem inocente a fugir de sua pátria. Foram eles, ajudados por Saul, que expulsaram Davi de Israel. As implicações espirituais são imensas. Deixar a pátria, como Davi o fez, é “não ter parte na herança do SENHOR” (verso 19). Obrigar um verdadeiro israelita a deixar sua terra é o mesmo que dizer: “Vai, serve a outros deuses.” (verso 19)

Este ponto é muito importante, mas é bem mais difícil para nós entendermos do que o foi para os israelitas do Antigo Testamento, como Davi. Quando Deus criou o mundo e a raça humana, Ele colocou Adão e Eva num lugar especial, o Jardim do Éden. Era ali que Deus se relacionava com eles. Quando pecaram, eles foram expulsos desse lugar de bênção e companheirismo. Quando Deus chamou Abraão, Ele separou um homem a quem abençoaria, e cujos descendentes Ele também abençoaria. No entanto, Ele também estabeleceu um lugar de bênção. Foi para este lugar que Abraão foi instruído a ir, deixando para trás sua família e sua terra natal. Deus também escolheu a terra de Israel como o lugar onde habitaria de maneira especial.

Quando Jacó enganou seu irmão Esaú, ele, literalmente, foi obrigado a deixar este lugar especial, Israel. Ao deixar Israel (ou aquele lugar que se tornou a terra de Israel), em direção a Padã-Harã, Deus apareceu num sonho a Jacó:

“E sonhou: Eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Perto dele estava o SENHOR e lhe disse: Eu sou o SENHOR, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência. A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Eis que eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo que te hei referido. Despertado Jacó do seu sono, disse: Na verdade, o SENHOR está neste lugar, e eu não o sabia. E, temendo, disse: Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus. Tendo-se levantado Jacó, cedo, de madrugada, tomou a pedra que havia posto por travesseiro e a erigiu em coluna, sobre cujo topo entornou azeite. E ao lugar, cidade que outrora se chamava Luz, deu o nome de Betel. Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo. (Gênesis 28:12-22, ênfase minha)”

Neste sonho Deus transmitiu a Jacó uma mensagem muito importante. A mensagem era que Canaã era um lugar muito especial; era o lugar onde o céu e a terra se encontravam, um lugar onde Deus habitava de maneira especial. Foi esta mensagem que motivou Jacó a voltar a este lugar e a não continuar em Padã-Harã. Da mesma forma que Deus escolheu um povo, em meio ao qual Ele habitaria, Ele também escolheu um determinado lugar onde habitaria. É por isso que Jacó foi enterrado na terra prometida, mesmo tendo morrido no Egito (Gênesis 47:27-31; 49: 29-33). José, da mesma forma, deu instruções para que seus ossos fossem levados para essa terra, quando a nação de Israel voltasse para lá (Gênesis 50:22-26; Êxodo 13:19)

Quando os israelitas estavam prestes a entrar na terra prometida, Deus deixou bem claro que eles somente deveriam adorá-Lo no lugar determinado por Ele:

“Mas buscareis o lugar que o SENHOR, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis. A esse lugar fareis chegar os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos, e as ofertas votivas, e as ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. Lá, comereis perante o SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o SENHOR, vosso Deus. Não procedereis em nada segundo estamos fazendo aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos, porque, até agora, não entrastes no descanso e na herança que vos dá o SENHOR, vosso Deus. Mas passareis o Jordão e habitareis na terra que vos fará herdar o SENHOR, vosso Deus; e vos dará descanso de todos os vossos inimigos em redor, e morareis seguros. Então, haverá um lugar que escolherá o SENHOR, vosso Deus, para ali fazer habitar o seu nome; a esse lugar fareis chegar tudo o que vos ordeno: os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos, e toda escolha dos vossos votos feitos ao SENHOR, e vos alegrareis perante o SENHOR, vosso Deus, vós, os vossos filhos, as vossas filhas, os vossos servos, as vossas servas e o levita que mora dentro das vossas cidades e que não tem porção nem herança convosco. Guarda-te, não ofereças os teus holocaustos em todo lugar que vires; mas, no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos, ali oferecerás os teus holocaustos e ali farás tudo o que te ordeno. (Dt. 12:5-14)”

Obrigar Davi a fugir do território de Israel era obrigá-lo a fugir do lugar onde Deus habitava de maneira especial; era obrigá-lo a deixar o lugar que Deus providenciara para que os homens O adorassem. Portanto, obrigar alguém a fugir de Israel era mais ou menos como dizer: Vai, serve a outros deuses. Você se recorda da história de Rute? No livro que tem o seu nome, Noemi e seu marido deixam Israel na época da fome e vão para o território de Moabe. Quando seu marido e seus dois filhos morrem, Noemi decide voltar a Israel. Suas noras eram moabitas. Noemi pretendia deixá-las em sua própria terra, voltando sozinha para Israel. Repare no que ela lhes diz, e como Rute responde:

“Tornai, filhas minhas! Ide-vos embora, porque sou velha demais para ter marido. Ainda quando eu dissesse: tenho esperança ou ainda que esta noite tivesse marido e houvesse filhos, esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Abster-vos-íeis de tomardes marido? Não, filhas minhas! Porque, por vossa causa, a mim me amarga o ter o SENHOR descarregado contra mim a sua mão. Então, de novo, choraram em voz alta; Orfa, com um beijo, se despediu de sua sogra, porém Rute se apegou a ela. Disse Noemi: Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses; também tu, volta após a tua cunhada. Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.” (Rute 1:12-17)

Para todos os efeitos, dizendo-lhes para ficar em Moabe em vez de voltar com ela para Israel, ela as incentivou a servir seus deuses. Deixar Israel é deixar a terra onde se pode adorar a Deus (devido à Sua presença especial ali, particularmente junto à Arca da Aliança e, conseqüentemente, ao Templo).

No livro de II Reis, lemos sobre a cura e conversão de Naamã, o sírio. Quando estava prestes a retornar à sua própria terra, ele fez um pedido muito incomum ao profeta Eliseu:

“Disse Naamã: Se não queres, peço-te que ao teu servo seja dado levar uma carga de terra de dois mulos; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao SENHOR.” (II Re. 65:17)

Naamã percebeu que o Deus de Israel era o único e verdadeiro Deus. Ele também reconheceu que Deus habitava de forma especial em Israel, e que era ali que Ele devia ser adorado. O que fez, então, Naamã? Pediu um pouco de terra do solo israelita para levar consigo para a Síria, a fim de que pudesse adorar o Deus de Israel em solo israelita.

Tempos depois na história de Israel, Deus mandaria Seu povo para o cativeiro, para fora da terra. Este foi um golpe devastador, como pode ser visto em um dos Salmos escritos durante o cativeiro judaico na Babilônia:

“Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha? Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.” (Salmo 137:1-6)

Davi fugiu para Gate na Filistia (21:10-15), e depois para Moabe (22:3-4). Creio que ele estava fora do território de Israel quando o profeta Gade lhe apareceu, instruindo-o a deixar o lugar seguro e retornar para o território de Judá (22:5). O motivo não é dito no texto, e acho que também não foi dito a Davi. No entanto, creio que agora ele entenda por quê. Ele compreende uma verdade muito importante - que Israel é o lugar que Deus escolheu para habitar de forma especial e onde deve ser adorado. De fato, ali é o lugar onde o céu encontra a terra, tal como no sonho de Jacó. Davi também compreende as implicações desta verdade à medida que ela se aplica à perseguição feita por Saul e seus homens, obrigando-o a fugir do país. Aqueles que instigaram Saul contra Davi obrigaram-no a fugir de sua pátria, e, assim, é como se tivessem dito a ele: Vai, serve a outros deuses. Este crime é passível de morte:

“Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu amor, ou teu amigo que amas como à tua alma te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem teus pais, dentre os deuses dos povos que estão em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma até à outra extremidade da terra, não concordarás com ele, nem o ouvirás; não olharás com piedade, não o pouparás, nem o esconderás, mas, certamente, o matarás. A tua mão será a primeira contra ele, para o matar, e depois a mão de todo o povo. Apedrejá-lo-ás até que morra, pois te procurou apartar do SENHOR, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. E todo o Israel ouvirá e temerá, e não se tornará a praticar maldade como esta no meio de ti. (Dt. 13:6-11, ver também os versos 12 a 18)”

A acusação e perseguição a Davi são realmente um assunto muito sério. São injustas, pois Davi é inocente. Aqueles que o estão perseguindo se colocaram numa posição muito perigosa. Ao lado de quem estes homens supõem que Deus esteja? Davi conseguiu entrar e sair de seu acampamento. Ele conseguiu chegar perto de Saul e pegar sua lança, sem qualquer resistência. Se ele quisesse, poderia ter matado Saul. E, mesmo assim, é ele quem salva a vida do rei, não seus homens. Eles falharam na proteção ao rei! Eles, não Davi, são dignos de morte. E, uma vez que todos os soldados de Saul deixaram de protegê-lo, todos são culpados de uma ofensa capital. Eles merecem morrer. Eles merecem morrer não só nas mãos de Saul, mas nas mãos de Deus. Ao acusar Davi e obrigá-lo a fugir do país, eles promovem a adoração de falsos deuses. Eles são homens condenados. Eles estão encrencados, com seu rei e com seu Deus. Este incidente mostra que não é a vida de Davi que está em perigo, mas a daqueles que o perseguem, ou que falsamente o acusam. Parece que os culpados estão ali naquela noite. A lança de Saul não é arremessada, mas as palavras de Davi penetram o coração de cada homem.

No verso 20, Davi suplica a Saul que seu sangue não seja derramado fora de sua pátria, longe da presença do Senhor. Não há necessidade de Saul persegui-lo com tanta intensidade. Sair em busca de Davi é como sair em busca de uma pulga, como perseguir uma perdiz nos montes. É muito trabalho por pouca coisa. É trabalho sem sentido, prá não dizer perigoso. O rei deve abandonar sua perseguição e parar de dar ouvidos àqueles que o colocam contra Davi.

Saul Fala
(26:21-25)

“Então, disse Saul: Pequei; volta, meu filho Davi, pois não tornarei a fazer-te mal; porque foi, hoje, preciosa a minha vida aos teus olhos. Eis que tenho procedido como louco e errado excessivamente. Davi, então, respondeu e disse: Eis aqui a lança, ó rei; venha aqui um dos moços e leve-a. Pague, porém, o SENHOR a cada um a sua justiça e a sua lealdade; pois o SENHOR te havia entregado, hoje, nas minhas mãos, porém eu não quis estendê-las contra o ungido do SENHOR. Assim como foi a tua vida, hoje, de muita estima aos meus olhos, assim também seja a minha aos olhos do SENHOR, e ele me livre de toda tribulação. Então, Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás e, de fato, prevalecerás. Então, Davi continuou o seu caminho, e Saul voltou para o seu lugar.”

Davi não usa a lança de Saul contra ele, mas Saul capta a mensagem. Ele reconhece seu próprio pecado no relacionamento com Davi. Mas, a palavra mais importante é volta. Saul tomou parte no pecado de expulsar Davi do país, longe de poder adorar seu Deus? Então ele confessa seu pecado, e abandona sua perseguição, a fim de que Davi possa voltar em segurança ao lugar de adoração. Uma vez que Davi considera preciosa a vida de Saul, Saul promete considerar a vida de Davi da mesma forma. Ele confessa que pecou, e que, em seu pecado, se tornou culpado do terrível erro a que Davi se refere.

Em resposta à confissão de Saul e sua promessa de anistia, Davi grita: “Eis aqui a lança, ó rei; venha aqui um dos moços e leve-a.” Parece realmente que, como alguns já observaram, a lança, antigamente, era símbolo de autoridade. Davi não ousa manter aquilo que pertence a Saul, e assim ele pede que alguém vá buscá-la.

Será que alguns chamariam Davi de pecador, traidor e inimigo de Saul? Nos versos 23 e 24 Davi conclui sua defesa, expressando sua justiça. Ele relembra a seus perseguidores que é o Senhor quem retribuirá a justiça e lealdade de cada um. Deus o faz de forma individual (“cada um”). Embora o Senhor entregue Saul em suas mãos, Davi não lhe causa nenhum dano, pois Saul é o ungido do Senhor. Portanto, Davi espera que a recompensa por sua atitude nesta noite venha do Senhor.

Ainda que Saul e seus homens tenham se arriscado, acusando e perseguindo Davi como pecador e criminoso, Davi tem certeza de que sua vida está segura nas mãos de Deus. Da mesma forma que Davi deu muito valor à vida de Saul, ele sabe que Deus dá valor à sua vida e, por isso, tem certeza de que Deus de fato o livrará de todas as suas aflições (verso 24).

As palavras finais de Saul são de bênção sobre Davi, com a garantia de ele que fará grandes coisas e de que, finalmente, prevalecerá (verso 25). Com estas palavras, os dois homens se separam pela última vez. Eles não se encontrarão novamente, pois a época da morte de Saul se aproxima. Saul retorna a seu lugar, mas Davi prossegue em seu caminho. Davi sabe muito bem que o arrependimento de Saul não durará por muito tempo.

Conclusão

Eis aqui uma mensagem para aqueles que, como Saul e seus homens, acusaram Davi injustamente. Deus defende aqueles que são Seus. Não existe maneira do ungido de Deus ser afastado antes do tempo estabelecido por Ele. Isto foi verdade com relação a Saul; e também com relação a Davi. Deus defende o inocente, e Ele fará justiça ao aflito. Em pouco tempo Deus virou a mesa sobre os inimigos de Davi. Não era Davi quem corria grande perigo, mas aqueles que se opunham a ele. Que os inimigos dos eleitos de Deus tomem nota e que Seus eleitos tomem coragem.

Os acontecimentos deste capítulo são muito relevantes para a compreensão de Davi a respeito da fidelidade de Deus, e para sua aplicação em sua vida. Davi foi corajoso fora da caverna no capítulo 24, mas ele é ainda mais corajoso aqui no capítulo 26. Ele confia na proteção e no cuidado de Deus, e Nele, como aquele que recompensará sua justiça e julgará seus acusadores. Se no capítulo 24 vemos Davi repreendendo gentilmente seu rei, no capítulo 26 vemo-lo repreendendo aqueles que colocaram o rei contra ele. Agora, Davi vê sua fuga em termos de suas implicações espirituais.

Se Davi cresce espiritualmente devido aos acontecimentos do capítulo 24, e este crescimento é evidente no capítulo 26, devemos concluir que Abigail desempenha papel significativo nesse crescimento. As verdades ditas por Davi no capítulo 26 são exatamente as mesmas que ela lhe diz. Se ele tem alguma dúvida acerca de ser rei, Abigail lhe garante que ele será o rei de Israel (25:30). Embora ele queira se vingar de seus inimigos (quer dizer, de Nabal), ela o relembra de que a vontade de Deus cuidará melhor desse assunto, e que, deixando tudo em Suas mãos, evitará que ele se lamente (25:31). Davi teme ser morto? Ela lhe garante que sua vida está segura nas mãos de Deus (25:29). Dizem que, por trás dos grandes homens, há sempre uma grande mulher. Com certeza isso é verdade com relação a Davi e Abigail.

Os estudiosos se torturam porque o capítulo 26 é parecido demais com o capítulo 24? É parecido porque é uma espécie de reprise. Quando Deus quer nos ensinar alguma coisa, se não conseguimos aprender a lição na primeira vez, ele continuará a nos fazer passar por experiências que irão nos confrontar com o mesmo tipo de teste. Creio que a razão para haver um segundo incidente no capítulo 26, tão semelhante ao do capítulo 24, é que Deus queria que Davi fizesse o teste novamente a fim de receber uma nota maior.

Lembro-me de uma conversa que tive há alguns anos com um amigo que estava passando por algumas dificuldades. Enquanto conversávamos, meu amigo mencionou que, além dos problemas em questão, ele também enfrentara muitos outros. Sondei-o com algumas perguntas e ficou claro que, em todas as situações, os problemas e os casos eram muito parecidos. Então lhe perguntei: “Já lhe ocorreu que Deus continua levando-o de volta ao mesmo problema porque você ainda não lidou com ele como deveria?” Ele reconheceu que, provavelmente, era isso mesmo. Acho que talvez tenha acontecido o mesmo com Davi, e também aconteça conosco. Quando deixamos de tratar certas questões como deveríamos, Deus continua nos dando outra chance de fazer a coisa certa.

Finalmente, creio que haja algo para aprendermos sobre o “lugar da bênção” para os cristãos atuais. Para os santos do Antigo Testamento, como vimos, habitar no território de Israel era um privilégio e fonte de bênçãos. Lá eles poderiam oferecer sacrifícios e adorar a Deus com total liberdade. Em qualquer outro lugar Deus poderia ser adorado e servido, mas com certas restrições. É claro que alguns poderiam permanecer ali e distantes de Deus, devido à sua incredulidade e desobediência. E, da mesma forma, estar num lugar distante, mas ainda andando intimamente com Deus. No entanto, o ideal era viver em Israel, lugar da presença e das bênçãos de Deus.

O que isso quer dizer para nós, cristãos do Novo Testamento, que vivemos longe da terra prometida? A resposta do Novo Testamento é bem clara sobre esse assunto. Em João 1, Jesus Se apresenta como o Messias de Israel. Jesus chama Filipe para segui-Lo, e Filipe encontra Natanael, dizendo-lhe que o Messias prometido já veio e que é Jesus de Nazaré (João 1:43-44). Quando Natanael se aproxima de Jesus, o Senhor lhe diz “Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira” (1:48). Natanael é persuadido e diz a Jesus: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (1:49). As palavras de nosso Senhor a Natanael são fantásticas:

“Ao que Jesus lhe respondeu: Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” (João 1:50-51)

Com estas palavras, Jesus leva Natanael, e a nós também, de volta ao sonho de Jacó em Gênesis 28. Neste sonho Jacó vê os anjos subindo e descendo uma escada que vai até o céu, mas que está na terra. Jacó fica muito impressionado com o lugar onde a escada está - em Israel - e com a natureza especial deste lugar como o lugar da morada de Deus. Jesus agora retoma esta imagem enquanto conversa com Natanael. Natanael tinha acabado de se objetar a afirmação de Pedro, baseado somente no lugar de onde viera Jesus - Nazaré (João 1:46). Agora Jesus lhe diz que embora ele estivesse preocupado com o lugar onde estava a escada, Jesus é a escada! O lugar é importante, mas a Pessoa de Jesus é ainda mais importante. Jesus é o meio designado por Deus para unir o céu e a terra, para providenciar o acesso dos homens ao céu. Não era Israel, o lugar, mas Israel, a pessoa, que salvaria os homens de seus pecados e os levaria para o céu.

No evangelho de Mateus, lemos sobre o nascimento de nosso Senhor Jesus, e depois sobre a fuga de José, Maria e a criança para o Egito. Após a morte de Herodes, José traz sua família de volta a Israel. Quando ele o faz, Mateus escreve:

“Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: DO EGITO CHAMEI MEU FILHO.”

Estas palavras, DO EGITO CHAMEI MEU FILHO, são encontradas em Oséias 11:1. Elas se referem ao fato de Deus ter tirado Israel, Seu filho (ver Êxodo 4:22-23) do Egito. Agora, por inspiração, Mateus aplica estas palavras ao menino Jesus. Tal como Israel foi o filho de Deus, que Ele tirou do Egito, assim o menino Jesus é o Filho de Deus, que Ele também trouxe do Egito. Deus resumiu numa só Pessoa, o Senhor Jesus Cristo, todo o Israel e suas esperanças. Israel é o lugar onde Deus se encontra com os homens, mas Jesus é o Filho, a pessoa por meio de quem Deus salva os homens. Israel é o lugar aonde veio a pessoa do Messias. E agora que Ele veio, é Ele que deve ser importante, não o lugar.

Quando Jesus se encontra com a mulher samaritana, a questão sobre “lugar” de adoração é levantada. Quero que prestem bastante atenção ao que a mulher diz a Jesus e ao que nosso Senhor lhe diz em resposta:

“Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.” (João 4:19-26)

A mulher samaritana conhece muito bem as diferenças existentes entre samaritanos e judeus a respeito do lugar apropriado para adoração. Ela traz o assunto à baila em sua discussão com Jesus. Mas Jesus não conversa sobre o lugar apropriado. Ele lhe diz que, agora, a questão da adoração se concentra numa Pessoa, não num lugar. Aqueles que adoram a Deus em espírito e em verdade devem adorá-Lo por intermédio do Messias prometido. A mulher concorda, mas erroneamente supõe que Ele ainda não tenha vindo. Jesus lhe diz: Eu... sou Ele. Aqueles que adoram a Deus devem adorá-lo por intermédio de Jesus Cristo. Portanto, a adoração não é mais uma questão de estar no lugar certo, mas de adorar por intermédio da Pessoa certa.

Desde a vinda de Jesus Cristo, o Messias de Israel, adorar a Deus não é mais uma questão de estar no lugar certo, mas de estar na Pessoa certa. Em João 15, Jesus fala a Seus discípulos sobre permanecer Nele como o ramo permanece na videira. Nos capítulos 14 e 16 Jesus fala a Seus discípulos sobre a vinda do Espírito Santo. Jesus promete habitar em cada verdadeiro crente, por intermédio do Espírito Santo. E é desta forma que encontramos a salvação, a santificação e as bênçãos espirituais descritas como conseqüências de estar “em Cristo”, nas epístolas do Novo Testamento.

“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3:23-24, ênfase minha)

“Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” (Romanos 6:11, ênfase minha)

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 6:23, ênfase minha)

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1)

“Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8:38-39, ênfase minha)

“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (I Co. 1:2, ênfase minha)

“Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus.” (I Co. 1:4, ênfase minha)

“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.” (I Co. 1:30, ênfase minha)

“Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.” (I Co. 15:22, ênfase minha)

“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.” (II Co. 2:14, ênfase minha)

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (II Co. 5:17, ênfase minha)

“E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão.” (Gl. 2:4, ênfase minha)

Termino esta mensagem com uma nota um tanto triste, mas doce. Meu amigo e companheiro de Conselho, Lee Crandell, faleceu na semana que sucedeu a pregação desta mensagem. Lembro-me de suas últimas palavras. Ele ressaltou o quanto gostou da mensagem e, especialmente, de sua aplicação. Sei o que ele quis dizer. Lee amava o Senhor Jesus Cristo, e amava ouvir e proclamar a mensagem do evangelho. Ele sabia o que significava estar em Cristo. Lee morreu, em Cristo. Que consolo:

“Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” (I Ts. 4:13-18, ênfase minha)

Estar em Cristo é ser perdoado de nossos pecados. É ser nova criatura, as coisas velhas ficaram prá trás, e tudo se fez novo. Estar em Cristo é ter certeza da ressurreição da morte, de passar a eternidade na presença de Jesus Cristo. Meu amigo, Lee, estava em Cristo. Se estivesse aqui hoje, faria a você somente uma pergunta: Você está em Cristo? Ser salvo, ser cristão, ter certeza do perdão dos pecados e da vida eterna, não é uma questão de estar no lugar certo, mas de estar na Pessoa certa. A maneira de estar em Cristo é reconhecer seu pecado contra Deus e confiar somente em Jesus Cristo como o meio providenciado por Deus para a sua salvação. Pela fé em Cristo, Seu sofrimento e Sua morte pagam a penalidade por seus pecados. Pela retidão de Cristo e Sua ressurreição da morte, você é justificado e levantado em novidade de vida. Se você não confia na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus em seu favor, eu lhe digo que faça isso neste exato momento. Estar em Cristo é estar no lugar designado por Deus para salvação e bênção para sempre.

From the series: 1 Samuel (Portuguese)
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24. Um Passo Para Frente, Dois Para Trás (I Samuel 27:1-28:2)

O Que Um Homem Como Você Faz Num Lugar Como Esse?

Introdução

No ano passado encontrei-me fazendo coisas que jamais sonhei fazer. A saúde de uma antiga vizinha declinava rapidamente. Num determinado momento olhamos pela janela e a vimos sentada em sua cadeira, à mesa da cozinha. No instante seguinte, a cadeira estava vazia. Sabíamos que ela estava no chão e que eu teria que ir até lá para ajudá-la. À medida que o tempo passava, uma cadeira reclinável se tornou sua base de operações, e a seguir uma cama de hospital. Às vezes me encontrava numa mercearia comprando coisas de que mal ouvira falar.

Um dia, a enfermeira da casa de saúde veio lhe fazer a visita de costume. Vi seu carro e dei um pulo até lá para lhe perguntar como iam as coisas. Ela me informou que as coisas estavam piorando, e que teríamos que empregar o método de transferência total. Lancei-lhe um olhar confuso, sem saber exatamente o que ela queria dizer. Sem hesitação, ela respondeu: “Venha, vou lhe mostrar. Antes mesmo de saber o que estava acontecendo, eu estava em pé, ali na varanda da minha vizinha, com a enfermeira demonstrando o que era uma “transferência total. Ela colocou suas pernas por fora das minhas, e depois seus braços em volta do meu pescoço. Agora sei o que é uma transferência total, a qual, provavelmente, eu teria que usar para levar a paciente de um lugar para outro. Meu problema era que eu estava parado na varanda da minha vizinha numa posição que talvez parecesse bem diferente daquilo que realmente era. Posso até imaginar os vizinhos espreitando pela janela e correndo para pegar um binóculo ou uma câmera fotográfica! Como eu poderia explicar? O que eu fazia numa posição como aquela?

Quando leio a narrativa da fuga de Davi para Gate, e sua aliança com Aquis, o rei de Gate, preciso fazer a mesma pergunta. No final de nosso texto, encontramos Davi no exército, saindo com seu rei, pronto para batalhar. O problema é que Davi está no exército filisteu, e está saindo para batalhar com os israelitas. Lemos que ele garante ao rei filisteu que está pronto e disposto a mostrar o que ele e seus homens podem fazer, contra o povo de Deus. O que um cara como Davi está fazendo num lugar como esse? Esperamos conhecer a resposta para esta pergunta estudando esta intrigante passagem. Vamos pedir ao Espírito Santo de Deus que ilumine nosso coração e nossa mente, para que possamos entender as lições que Deus tem para nós.

Recapitulando

Davi é ungido por Samuel como o próximo rei de Israel no capítulo 16. No capítulo 17, ele se levanta contra Golias, o campeão filisteu da cidade de Gate, e o mata. No capítulo 18, Saul começa a ficar nervoso com a popularidade de Davi diante do povo e dá início aos planos para ocasionar sua morte. A princípio, ele quer que isso pareça um acidente, mas depois dá ordens expressas para que Davi seja morto. Finalmente, Davi é obrigado a fugir para salvar sua vida, vivendo como fugitivo da justiça.

A fuga de Davi começa com sua inesperada aparição em Nobe, onde ele inventa uma história para Aimeleque, o sacerdote, para explicar porque veio sem seus homens. A pedido de Davi, o sumo sacerdote lhe dá do pão sagrado e a espada de Golias. De Nobe, Davi foge para Aquis, rei de Gate. O rei está disposto a lhe dar proteção, até que alguns de seus servos o fazem recordar de que a reputação de Davi não deve ser negligenciada. Sabendo que está em perigo, Davi finge-se de louco, perambulando pela cidade, babando e arranhando os portões. Aquis não se sente ameaçado por um doido, mas também não vê nenhuma vantagem em lhe dar proteção, por isso expulsa Davi de Gate. Daí em diante, Davi começa a reunir um grupo de descontentes e é obrigado a se esconder nas regiões remotas de Judá, principalmente depois da exortação de Gade (22:5).

No capítulo 24, ocorre que Saul e Davi procuram a privacidade da mesma caverna. Os homens de Davi interpretam este encontro providencial como sinal de que Deus quer que eles matem Saul e acabem com seus problemas. Davi não pensa assim. Até mesmo cortar um pedaço do manto do rei faz Davi ficar com peso na consciência. Ele deixa Saul sair da caverna e então revela sua presença, mansamente repreendendo o rei por persegui-lo sem motivo. Davi lhe assegura que não tem intenção de lhe fazer mal, e que seu relacionamento com Saul está aos cuidados de Deus. Saul parece se arrepender, e os dois se separam pacificamente.

No capítulo 25, Davi é insultado por Nabal, um tolo descendente de Calebe que, de forma alguma, está à altura de sua herança. Davi parte atrás de Nabal, pretendendo tirar não só a sua vida, como a de todos os homens de sua casa. Somente pela intervenção sábia e abnegada de Abigail, a esposa de Nabal, Davi desiste de sua vingança impulsiva. Nesse encontro, Abigail assegura a Davi que ele será rei de Israel e que o melhor a fazer é deixar a vingança com Deus. Davi concorda, e os dois se separam pacificamente.

O capítulo 26 parece ser o ponto alto da vida espiritual de Davi. Uma vez mais, Saul está em sua perseguição. Davi é informado de sua presença e envia espiões, que localizam o local exato do acampamento de Saul. Davi e Abisai, então, entram no acampamento, enquanto os soldados de Saul dormem um sono profundo causado por um sedativo divino (26:12). Davi não permite que Abisai mate Saul, como é óbvio que ele pretende fazer (26:8-9,15). Em vez disto, apenas a lança e a vasilha d’água são levadas, como prova do quanto eles estiveram perto do rei, sem, contudo, serem detidos por qualquer um de seus homens.

Davi inicia o confronto censurando Abner, e depois o resto dos soldados, por permitirem que um assassino se aproximasse do rei. Davi faz com se lembrem de que este é um crime passível de morte, e depois lhes diz que foi ele quem salvou a vida do rei, não qualquer um deles. Como pode, pergunta Davi, alguém que salva a vida do rei ser caçado como assassino, enquanto dignos de morte são aqueles que procuram tirar sua vida?

Davi também tem uma palavra para o rei. Uma vez mais ele afirma sua lealdade a Saul e lhe pergunta por que procura tirar sua vida. Davi mostra ao rei que deve haver alguém que o está instigando contra ele, e injustamente. Ele não é nenhuma ameaça ao rei. Mas, em sua perseguição a Davi, o rei o está expulsando do país e, assim, do lugar de adoração a Deus e de Suas bênçãos. É como se o rei estivesse lhe dizendo para adorar outros deuses. Davi suplica que Saul não o obrigue a deixar sua pátria, para que seu sangue não seja derramado em solo estrangeiro (26:17-20). Saul confessa seu pecado e reconhece que Davi terá grandes realizações e certamente prevalecerá (26:25). Indiretamente, ele promete que cessará sua perseguição, e por isso, convida Davi a retornar (26:21). Acho que ele está dizendo a Davi para voltar a adorar, sem receio.

Contudo, apesar de todas as confirmações de que será o próximo rei de Israel, e de suas próprias declarações de fé, encontramos Davi deixando o país e voltando para Gate. Isto é realmente espantoso.

Melhor em Gate do Que no Túmulo
(27:1-4)

Disse, porém, Davi consigo mesmo: Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos de Saul; nada há, pois, melhor para mim do que fugir para a terra dos filisteus; para que Saul perca de todo as esperanças e deixe de perseguir-me por todos os limites de Israel; assim, me livrarei da sua mão. Dispôs-se Davi e, com os seiscentos homens que com ele estavam, passou a Aquis, filho de Maoque, rei de Gate. Habitou Davi com Aquis em Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua família; Davi, com ambas as suas mulheres, Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita. Avisado Saul de que Davi tinha fugido para Gate, desistiu de o perseguir.

O porém do verso 1 parece sugerir uma clara proximidade entre os acontecimentos do capítulo 26 e os do capítulo 27. Não temos a indicação de qualquer espaço de tempo significativo, nem a descrição de qualquer tipo de crise, que expliquem a repentina mudança de Davi. Justamente ele, que estava tão confiante na proteção de Deus à sua vida (24:15) e que fora assegurado disto por Abigail (25:29), agora fala de sua morte como uma coisa certa, caso ele não fuja para território filisteu, onde afirma ter segurança (27:1). Davi, que no capítulo anterior, disse ser Saul quem morreria, agora diz ser ele quem perecerá. E Davi, que suplica a Saul para não ser obrigado a deixar sua terra, agora se sente compelido a deixá-la, mesmo Saul tendo lhe dado certa garantia de segurança. Isto é ainda mais espantoso.

A palavra empregada por Davi (traduzida por “perecer na versão ARA) é significativa, principalmente porque ele conhece a Lei de Moisés. A palavra é empregada 18 vezes de Gênesis a Juízes - isto é, até Davi empregá-la em 26:10 e 27:1. Três dessas vezes ela é usada para se referir ao julgamento de Deus sobre os inimigos de Israel. Onze vezes se refere ao julgamento de Israel como inimigo de Deus, por desobedecê-Lo e desrespeitar Sua lei. Não é interessante que Davi, que acabara de falar de si mesmo como inocente e dos outros como culpados, agora use este termo para expressar o temor de que Saul o destrua? Davi realmente está perdido. Dale Ralph Davis escreve que: “... o pensamento que levou Davi a este ponto indica crises de enfraquecimento da fé (como são chamadas por H. L. Ellison):

Disse, porém, Davi consigo mesmo: Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos de Saul; nada há, pois, melhor para mim do que fugir para a terra dos filisteus; para que Saul perca de todo as esperanças e deixe de perseguir-me por todos os limites de Israel; assim, me livrarei da sua mão.” (27:1)

Não se passou muito tempo desde a primeira vez que Davi procurou refúgio em Gate. Isso foi um desastre tremendo para ele. Ele sobreviveu, mas foi expulso como um lunático babão e arranhador. Qualquer um teria pensado que, ao deixar os portões de Gate, Davi tenha dito a si mesmo: “Jamais farei isso de novo!” E, no entanto, hei-lo aqui, mas, desta vez, ele não está só. Desta vez ele tem 600 seguidores, mais suas mulheres e famílias (27:2-3). As duas mulheres de Davi também estão com ele.

Davi tem razão sobre uma coisa. Quando Saul fica sabendo que ele fugiu para Gate, não o procura mais. Será que isto significa que Saul teria tentado acuar Davi se este tivesse permanecido em território israelita? Realmente não é nenhuma surpresa que Saul não procure capturá-lo em território filisteu. Afinal, ele nunca foi muito enérgico na sua luta contra os filisteus. Jônatas, seu filho, é quem foi. No entanto, para ser “justo” a respeito da desistência de Saul, isto não significa que Davi esteja certo em fugir para lá, como acho que o Autor quer deixar claro.

Um Lugar Somente Seu
(27:5-7)

Disse Davi a Aquis: Se achei mercê na tua presença, dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite; por que há de habitar o teu servo contigo na cidade real? Então, lhe deu Aquis, naquele dia, a cidade de Ziclague. Pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje. E todo o tempo que Davi permaneceu na terra dos filisteus foi um ano e quatro meses.”

Pode imaginar o enorme impacto que Davi, os 600 guerreiros e suas famílias devem ter causado na cidade de Gate? No entanto, não é por consideração a Aquis, ou a Gate, que Davi faz um pedido ao rei. Ele se aproxima de Aquis com uma solicitação. Ele pede que, se puder, Aquis lhe dê uma cidade onde ele, seus seguidores e suas famílias possam viver, e que não seja muito próxima. Parece um pedido razoável, e Aquis dá a Davi a cidade de Ziclague. Esta cidade fica a aproximadamente 25 milhas ao sul e a leste de Gate. É um tanto fora de mão, da perspectiva dos filisteus, e não muito distante das cidades israelitas. Davi e seus seguidores recebem um “lugar somente seu”, numa região onde suas atividades não serão monitoradas por Aquis. É mais ou menos como se mudar longe o suficiente dos familiares para ter sua própria vida. Davi mora um ano e quatro meses na Filistia, mas a cidade de Ziclague se torna possessão permanente dos reis israelitas (versos 6 e 7).

Colocando uma Venda nos Olhos de Aquis
(27:8-12)

Subia Davi com os seus homens, e davam contra os gesuritas, os gersitas e os amalequitas; porque eram estes os moradores da terra desde Telã, na direção de Sur, até a terra do Egito. Davi feria aquela terra, e não deixava com vida nem homem nem mulher, e tomava as ovelhas, e os bois, e os jumentos, e os camelos, e as vestes; voltava e vinha a Aquis. E perguntando Aquis: Contra quem deste hoje? Davi respondia: Contra o Sul de Judá, e o Sul dos jerameelitas, e o Sul dos queneus. Davi não deixava com vida nem homem nem mulher, para os trazer a Gate, pois dizia: Para que não nos denunciem, dizendo: Assim Davi o fazia. Este era o seu proceder por todos os dias que habitou na terra dos filisteus. Aquis confiava em Davi, dizendo: Fez-se ele, por certo, aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para sempre.”

Davi e seus homens recebem um lugar para viver. Eles também precisam de meios de sobrevivência. A solução que Davi encontra para este problema é realmente engenhosa. Ele usa Ziclague como seu quartel-general, sua base de operações. Dali, ele e seus homens tomam conta da região, invadindo as cidades e os campos dos inimigos de Israel. Nós já conhecemos alguns desses povos, tais como os amalequitas. Mas, de outros, como os geruzitas, nada sabemos. De maneira geral, sabemos que estes são os povos que habitaram a terra nos tempos antigos. Por isso, talvez seja seguro concluir que todos sejam “cananeus”, os quais devem ser banidos da terra (ver Êxodo 23:23; Números 21:3; Deuteronômio 7:1-5; Juízes 1:17).

Se for assim (talvez tenhamos uma pequena dúvida quanto aos gersitas, por exemplo), então o massacre total desses “cananeus” parece justificado. No entanto, devo assinalar que, apesar de Davi matar todas as pessoas das vilas invadidas, incluindo as crianças, ele não mata todo o gado. Ele “tomava as ovelhas, e os bois, e os jumentos, e os camelos, e as vestes (versa 9). Se ele estiver atacando estes povos para obedecer à ordem de Deus, então ele não é mais obediente do que Saul, que deixou vivo apenas o rei e o melhor do gado. Por isso, parece que ele ataca estes povos por razões mais práticas, tais como providenciar alimento para a sua família e as de seus soldados. Ele mata todas as pessoas, sem deixar sobreviventes, não porque este seja um mandamento de Deus, mas porque é o único meio de continuar com sua fraude (verso 11).

Davi talvez esteja fazendo a coisa certa (isto é, aniquilando todos a quem Deus sujeitou ao banimento), mas por razões totalmente erradas. Muitas vezes Deus realiza Sua vontade por meio do interesse de homens que, só inconscientemente, fazem o que Deus determinou. Isto foi verdade em relação aos irmãos de José (ver Gênesis 50:20), e também parece ser em relação a Davi em território filisteu.

Davi pode não ter sido sábio ao se refugiar em território filisteu, mas, com certeza, ele é inteligente e perspicaz. O rei Aquis talvez se ache muito esperto, mas creio que seja simplório e ingênuo. Davi vai até ele como “desertor”, mas Aquis acha que Davi é um grande prêmio, um “verdadeiro achado”. A presença de Davi entre os filisteus lhe parece uma grande aquisição. Afinal, aparentemente, Davi está lutando ao lado dos filisteus contra os israelitas (27:10). Talvez isto signifique que os israelitas não o recebam de volta e, com certeza, não como seu rei (compare 21:11; 27:12). Em vez de consumir os recursos de Aquis, Davi contribui com ele. Após cada invasão, parece que Davi lhe faz um relatório e lhe dá uma parte dos despojos (27:9). Aquis pensa que tem Davi na palma da mão e que pode continuar ”usando-o” em seu próprio benefício.

Aquis não é muito perspicaz. Davi não está matando nenhum israelita, está matando os inimigos de Israel, e tudo de seu refúgio em Ziclague. Mesmo que este texto não diga, logo saberemos que Davi partilha os despojos de guerra com o povo que supostamente está matando - seus compatriotas:

Chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis para vós outros um presente do despojo dos inimigos do SENHOR: aos de Betel, aos de Ramote do Neguebe, aos de Jatir, aos de Aroer, aos de Sifmote, aos de Estemoa, aos de Racal, aos que estavam nas cidades dos jerameelitas e nas cidades dos queneus, aos de Horma, aos de Borasã, aos de Atace, aos de Hebrom e a todos os lugares em que andara Davi, ele e os seus homens. (I Sam. 30:26-31)”

Percebe o contraste teatral entre a maneira como Davi representa para Aquis e como ele realmente se conduz? Ele diz que está lutando contra seus irmãos israelitas, levando o rei filisteu a concluir que ”Fez-se ele, por certo, aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para sempre.” (27:12) A verdade é que ele está matando os inimigos de Israel, e depois partilhando os despojos com seus irmãos israelitas, fazendo visitas freqüentes às suas cidades (30:26-31). Davi ganha o favor dos israelitas, enquanto vive sob a proteção dos filisteus. Podemos dizer que ele está “jogando dos dois lados”.

Durante essa época, Davi deve ter mentalmente se cumprimentado: “não dá prá ser melhor”. Ele não tem de se esconder num deserto “abandonado por Deus” do território de Israel; pode ir livremente aonde quiser, com dignidade. Pode até fazer uma visitinha ao rei. Não precisa “implorar” uma esmola para seus homens; mas, pelo contrário, pode viver dignamente dos despojos de suas invasões. Não precisa temer que os israelitas o traiam, pois sempre visita suas vilas e povoados, levando presentes dos despojos de guerra aos seus líderes. E, se Saul não dá um jeito nos inimigos que rondam a nação, ele dá. Davi parece ter o melhor dos dois mundos (israelita e filisteu). Realmente parece, mas não por muito tempo. O castigo, como dizemos, está vindo a cavalo.

Epa! (28:1-2)

Sucedeu, naqueles dias, que, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Fica sabendo que comigo sairás à peleja, tu e os teus homens. Então, disse Davi a Aquis: Assim saberás quanto pode o teu servo fazer. Disse Aquis a Davi: Por isso, te farei minha guarda pessoal para sempre.”

Nos últimos meses, várias famílias decidiram que seus filhos participariam junto com elas da aula das 11 horas, onde este estudo é ministrado. Algumas semanas atrás, um de meus amiguinhos já havia contribuído para o título da lição. Ele também me deu de presente um desenho sobre ela. Quando estava entregando esta mensagem e cheguei a este ponto, uma jovenzinha da família exclamou: “Oh, oh!”. Ela tinha razão. Esta não foi uma boa hora para Davi. Por isso, dei o título de “Epa” aos dois primeiros versos do capítulo 28 .

Os filisteus estão continuamente em guerra com Israel, como temos visto em I Samuel. Parece que seus comandantes decidem que já é tempo de uma nova investida militar. Aquis fala sobre seus planos com Davi e o “honra” dizendo-lhe que decidiu torná-lo, e a seus homens, parte de sua divisão. Não sei o quanto Davi fica surpreso com a notícia, mas sua resposta ao rei certamente surpreende o leitor: “Assim saberás quanto pode o teu servo fazer.”

Isso parece conversa de macho. “Meu, vou te levar comigo prá guerra.” “Tudo bem, cara, você ainda não viu nada.” Será que Davi quis mesmo dizer o que disse? Será que ele realmente sabe o que significa? Duvido. Talvez esteja tão surpreso que mal saiba o que dizer. Certamente ele dá a resposta que Aquis quer ouvir, pois o rei reage à sua fanfarrice contando-lhe que pretende torná-lo seu guarda-costas pessoal. Que incrível! Davi, que já foi escudeiro de Saul (16:1), agora é designado como guarda-costas de um rei filisteu e está prestes a guerrear contra Israel. Com certeza o leitor é obrigado a se perguntar: “Mas o que é que um cara como você faz num lugar como esse?”

Conclusão

Para finalizar nosso estudo, a primeira coisa que devemos dizer é que o texto não termina aqui. O autor habilmente nos deixa coçando a cabeça, levando-nos a uma história ainda mais surpreendente (a consulta de Saul à médium de Endor em 28:3-25). A história que começa aqui no capítulo 27 é concluída nos capítulos 29 a 31. Mas não teremos respostas rápidas e fáceis; ficaremos com perguntas inquietantes, para nos fazer refletir. O autor não nos conta um conto de fadas de “final feliz”; ele conta uma história real, que confunde a nossa cabeça. Queremos que a Bíblia nos diga tudo, para não termos de sofrer ou pensar por nós mesmos? Não é assim, mesmo que isso seja aquilo que prefiramos. Muitas vezes a Bíblia nos diz coisas inquietantes e depois nos deixa pensando sobre elas. A Bíblia não faz todo o trabalho para nós; ela procura estimular nosso pensamento. Não devemos pensar independentemente da Palavra de Deus, mas com base Nela. O que o resto da Bíblia nos ensina a fazer com esta história?

Também aprendemos em nosso texto (e em muitos outros) que a Bíblia não procura nos tornar adoradores de heróis. Tanto nos círculos cristãos, quanto nos não cristãos, as pessoas são propensas a ter seus heróis. É isso o que Hollywood fornece para muitos de nossos jovens. Nós, adultos, gostamos de pensar que somos mais sofisticados. Muitas vezes os tele-evangelistas são os heróis daqueles que os assistem e lhes enviam fielmente ofertas para o seu sustento. Quando um de nossos heróis cristãos cai, ficamos arrasados. Temos vontade de jogar a toalha, completamente desiludidos por percebermos que nossos heróis não são aquilo que alegam ser. Se nossos líderes não podem viver à altura de nossos padrões, dizemos a nós mesmos, como alguém pode esperar que vivamos? O fracasso de um líder cristão famoso com freqüência tem efeito dominó na comunidade cristã.

A Bíblia não nos dá tais heróis, homens ou mulheres que tenham o toque de Midas, bem sucedidos em tudo o que fazem, que parecem nunca falhar. A Bíblia nos dá homens e mulheres com todas as suas falhas, homens e mulheres exatamente como nós, ou, como Tiago os chama, homens “semelhantes a nós (Tg. 5:17). Abraão, o homem que estava disposto a oferecer seu filho, Isaque, também estava disposto a “oferecer” sua esposa Sara, fazendo-a se passar por sua irmã (e mais de uma vez, ver Gênesis 12:13; 20:10-13). Jacó foi um homem que não preencheria nem os requisitos de vendedor de uma loja popular de carros usados, mesmo que seu “tio” fosse o dono da loja. Estamos começando a ver as fraquezas de Davi e, certamente conhecemos as fraquezas de homens como Gideão, Jonas e Pedro. Na Bíblia não existem maridos perfeitos, nem pais perfeitos, nem esposas perfeitas. Deus não deseja que “adoremos” os homens ou façamos deles nossos ídolos. Ele quer que nós O adoremos. Quando idolatramos os homens, não somos apenas tolos, mas também colocamos a nós mesmos, e aqueles a quem idolatramos, em sérios problemas.

Agora, vamos ao ponto principal. O que o autor pretendia ensinar com esta passagem aos leitores de sua época, e o que o texto diz para nós hoje? Vamos começar com a mensagem para a época do autor. Não sabemos exatamente quando o livro de I Samuel foi escrito, mas sabemos que foi algum tempo depois dos acontecimentos nele descritos, pois é dito, por exemplo, que alguém anteriormente chamado de “vidente era chamado de “profeta nos dias de seus leitores (I Samuel 9:9). Também é dito que a cidade de Ziclague, dada a Davi em I Samuel 27, permanece sob a posse dos reis de Israel até a época de seus leitores (I Samuel 27:6). Parece que os acontecimentos de nosso texto seriam muito instrutivos para os ”reis” daquela época. Será que eles perceberam o perigo das alianças com estrangeiros? Provavelmente sim, pois este foi um perigo constante na história de Israel. As lições que Davi aprendeu como “futuro rei” foram lições para todos os reis e “futuros reis”.

Há ainda muitas outras lições para as pessoas comuns daquela época, e que também se aplicam a nós hoje. Quando chegamos aos dois primeiros versos do capítulo 28, certamente precisamos perguntar: “Como é que Davi se meteu numa enrascada dessas?” Onde foi que ele errou? Onde falhou? Vamos meditar nestas questões cuidadosamente, em oração, pois meu ponto de vista é que os cristãos de hoje falham da mesma forma que falharam séculos atrás. Os problemas e soluções daquela época são os mesmos ainda hoje. Deixe-me sugerir alguns pontos onde Davi fracassou.

Antes de mais nada, Davi caiu na “síndrome da solidão”. Davi é beneficiado pelo ministério de várias pessoas. Havia Samuel, que não só o ungiu como o futuro rei de Israel, mas a quem Davi podia recorrer quando Saul o perseguisse (I Sam. 19:18-24). Havia também Abiatar, o único herdeiro sobrevivente de Aimeleque, e que se juntou a Davi, junto com a estola sacerdotal (I Sam. 22:20-23; 23:6). Depois houve Jônatas, que estava sempre ao seu lado, asseverando que ele seria o próximo rei (I Sam. 20:12-17,41-42; 23:15-18). E também Abigail, que o incentivou a fazer a coisa certa como futuro rei de Israel (I Sam. 25:26-31).

Embora estivesse junto de muitas pessoas, parece que, de certa forma, ele se havia se fechado em si mesmo. Sua conversa em 27:1 é consigo mesmo (literalmente, o texto nos informa que ele “disse consigo mesmo). Davi sofre daquilo que chamo de a “síndrome do patrulheiro solitário”. É aquela sensação enganosa de “estar sozinho” em sua luta espiritual, dor e sofrimento. Até o profeta Elias foi pego por esse mal:

Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida. (I Re. 19:9-10, ênfase minha)”

Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma voz e lhe disse: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Tenho sido em extremo zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.”

Sempre que pensamos estar sozinhos em nossas lutas espirituais, estamos enganando a nós mesmos e prontos a cair espiritualmente. Davi parece estar nesse estado de espírito de ”Patrulheiro Solitário”. Aqui, certamente, ele não está buscando um bom conselho ou a vontade de Deus, meios disponíveis se ele quisesse se valer deles.

Segundo, parece que Davi se esqueceu das coisas que deveria se lembrar. Este mal é realmente muito grave. O povo de Israel sempre se esquecia de como o Senhor os tinha fielmente conduzido e cuidado no passado, mesmo em seu passado recente. No livro de Deuteronômio, Moisés continuamente exorta os israelitas a “se lembrarem de tudo quanto Deus fizera por eles, dizendo-lhes para não “se esquecerem dessas coisas. Davi esqueceu-se bem depressa, preferindo fugir do território de Israel e buscar proteção e segurança em território filisteu. Ele esqueceu-se das palavras que o Senhor lhe disse por intermédio de Samuel e de muitos outros. Ele esqueceu-se de como o Senhor o salvou vezes e mais vezes de Saul. Ele esqueceu-se da instrução do profeta Gade para deixar o lugar seguro (aparentemente fora do território de Israel) e voltar para Judá (I Samuel 22:5). Ele esqueceu-se de suas próprias palavras, ditas há tão pouco tempo, sobre a bênção de estar em Israel, e a maldição de ser obrigado a partir (capítulo 26). Davi parece até ter se esquecido do desastre que foi quando fugiu para Aquis, o rei de Gate (21:10-15). O esquecimento (dos mandamentos, das promessas e da fidelidade de Deus) com freqüência é o ponto de partida para erros graves.

Terceiro, parece que Davi tem os olhos fechados para as implicações e conseqüências de seus atos, enquanto minimiza a gravidade de seu erro. Davi não tem intenção de falhar. Ele não pretende acabar no exército filisteu, indo para a batalha contra Saul, Jônatas e os demais soldados israelitas. Tudo que ele pretende fazer é deixar Israel por uns tempos, o suficiente para Saul desistir de sua perseguição. Mas o pecado tem um jeito de abrir caminho para outro pecado e depois outro. É isto o que acontece com Davi. A situação vai ficando de mal a pior, e Davi vai tão fundo que parece não haver saída. E tudo começa com o que parece ser um pequeno deslize na fé, mas que termina numa situação das mais graves, onde Davi se encontra prestes a assumir o lugar de Golias contra Saul e Israel.

Quarto, a decisão de Davi tem como base a “vista”, não a “fé”. Davi não vê a sua situação com os olhos da fé, mas com olhos humanos. Sua avaliação é meramente humana. Esse tipo de avaliação ignora a providência de Deus, Suas promessas ou Suas profecias. Davi olha com olhos humanos e tudo o que vê é a certeza da morte, se permanecer em Israel. Sua única “esperança” está na benevolência, no poder e nos recursos de um rei pagão. Aqui, não é sua fé, mas seu medo, que vence.

Quinto, o fracasso de Davi não ocorre devido a uma derrota esmagadora, uma tentação irresistível ou uma grande crise. Creio que tudo seria bem mais fácil se as decisões de Davi neste capítulo fossem tomadas em momentos de pânico, problemas monumentais, oposição ou tentação. O fato é que nosso texto não indica nada desse tipo. O fracasso de Davi no capítulo 27 vem logo após seu “sucesso” no capítulo 26. Acontece a mesma coisa com Elias, que literalmente se encaverna (desculpe o trocadilho) depois da grande vitória no Monte Carmelo.

O que, então, explica o fracasso de Davi no capítulo 27? Acho que sei a resposta. Um dos maiores inimigos enfrentados pelos cristãos - a fadiga. Ouça estas exortações sobre a fadiga:

E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. (Gl. 6:9)”

E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. (II Ts. 3:13)”

Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. (Hb. 12:3)”

Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. (Ap. 2:1-3)”

Creio que Davi simplesmente se cansou de fazer a coisa certa. Pense nisso. Ele está em fuga já há algum tempo. Saul oferece uma recompensa por sua cabeça. E agora, até mesmo aqueles que são de sua própria tribo, Judá (isto é, os zifeus) o denunciam para Saul. Indiretamente Davi é responsável pela morte dos sacerdotes e de suas famílias. Saul o afastou de seus filhos, Jônatas e Mical. Davi pôs em risco a vida de sua própria família, quando achou que devia deixá-los aos cuidados do rei de Moabe. Ele acumulou 600 seguidores, todos com esposas e famílias para se preocupar. Este tipo de fardo pode abater qualquer um. Davi não “estoura”, por assim dizer. Ele se “apaga”. Simplesmente ele desiste.

É errada, mas esta é a maneira como muitas pessoas do povo de Deus têm falhado ao longo dos séculos. No entanto, não precisa ser assim. Aqueles de nós que estão abatidos somente precisam buscar forças em Deus. Precisamos entender que é em nossa fraqueza que Deus demonstra Sua força:

Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento. Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. (Is. 40:28-31)”

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mt. 11:28-30)”

E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. (II Co. 12:7-10)”

Conheço muitos jovens cristãos que se comprometem com Jesus e se propõem a viver sua vida de forma agradável a Deus. Estas moças e rapazes dizem não à pornografia, ao sexo antes do casamento, a relacionamentos comprometedores e às drogas. Mas, um dia, de uma hora para outra, eles se cansam e jogam fora toda restrição e o compromisso de seguir a Deus. Talvez não seja uma queda imediata, mas um comprometimento, uma concessão, que levam ao desastre.

Conheço muitos casamentos que, neste exato momento, estão à beira do desastre. Maridos e mulheres ficam frustrados com seus companheiros e com seu casamento. Como Davi, eles afirmaram seu compromisso com os princípios bíblicos e reafirmaram que seu casamento é para sempre. Eles reconheceram e aceitaram o fato de que o casamento é uma representação de Cristo e Sua igreja. Mas, um dia, simplesmente se cansam da luta e desistem, jogando fora o compromisso com seu cônjuge, e até seu compromisso com Deus e Sua igreja. Muitos casamentos cristãos que tenho observado desmoronam-se em conseqüência da fadiga, de um ou de ambos os parceiros.

A mesma coisa acontece com os cristãos nos negócios. Estes crentes sabem que marcham num ritmo diferente do ritmo de seus concorrentes. Eles procuram não só obedecer às leis do país, mas viver de acordo com os princípios da Palavra de Deus. Quando oferecem um serviço, dão valores exatos, sabendo que seus concorrentes irão engabelar o cliente, só para extorqui-lo mais tarde. Mas, um dia, este profissional cristão se cansa de perder contratos, ou rendimentos, e começa a pensar e a conduzir seus negócios em termos humanos, em vez de agir com fé e obediência.

Meu amigo, vamos aprender com Davi que mesmo aqueles que têm um coração sincero diante de Deus nunca estão longe da possibilidade de falhar. As boas novas são: mesmo quando nossa fé falha, Deus permanece fiel:

Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo. (II Tm. 2:13)”

Lancemo-nos sobre Ele, que é fiel e dá força ao abatido. Reconheçamos nossas fraquezas e dependamos da Sua força.

From the series: 1 Samuel (Portuguese)
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25. Descobrindo a Vontade de Deus, do jeito "encantado" que puder (I Samuel 28:1-25)

Introdução

Recentemente, milhões de pessoas ficaram furiosas com a AOL (American On Line). Bem na época do Natal eles iniciaram um novo programa. Por US$ 19.95 ao mês (aproximadamente R$ 40,00), uma pessoa poderia ter acesso ilimitado à Internet através da AOL. O problema foi que todo mundo achou que esse era um “negócio da China”. As pessoas que já assinavam a AOL, começaram a usar ainda mais seus serviços - afinal, usar o provedor durante 15 horas por mês não custaria mais do que usá-lo por 5 horas. E muitas outras pessoas, ouvindo a respeito desse “negócio da China”, se tornaram novos assinantes. O resultado foi desastroso para quase todo mundo. Simplesmente havia gente demais tentando usar a AOL ao mesmo tempo.

Um dos computadores lá de casa está conectado pela AOL e, durante algumas semanas, por diversas vezes não conseguimos acessar o sistema. Não conseguíamos sequer checar nossos e-mails. Durante várias semanas houve uma porção de clientes descontentes, alguns dos quais ficaram bem mais do que descontentes. Eles se asseguraram de que a AOL soubesse disso. Ameaças foram feitas e ações foram ajuizadas; de modo geral, a coisa ficou bem feia durante algumas semanas, e tudo porque as pessoas não podiam fazer rapidamente, ou tão bem, aquilo que vinham fazendo poucos meses antes. Poucos pareciam se lembrar de que há alguns anos atrás ninguém sequer sonhava que poderia fazer tais coisas.

Se uma falha parcial de um provedor da Internet levantou tamanho furor, imagine o que seria perder a conexão com Deus. É exatamente isto o que acontece ao rei Saul. Em nosso texto ocorre uma série de acontecimentos que deixam Saul morto de medo. Ele tem um caso agudo de ”religião de trincheira” (quando os soldados começam a rezar ao ouvir o zunido das balas sobre suas cabeças). Ele procura “consultar o Senhor” para saber o que deve fazer para sair da confusão em que se meteu. Apesar de inúmeras tentativas, fracassam todos os seus esforços de consultar o Senhor. Deus está ali, mas está em silêncio. Em termos contemporâneos, Saul tenta desesperadamente se “conectar”, mas todos os “provedores” estão fora do ar. Saul está com sérios problemas e mesmo assim não consegue orientação divina que seja a chave para a vitória. O que ele fará? Resposta: fará algo que jamais fez antes, e que nem fará outra vez.

De longe, estes são os dias mais negros da vida de Saul. Logo veremos o quanto são negros e por que ele se encontra nesse dilema. Vamos procurar discernir as lições que encontramos aqui, tanto para os antigos israelitas, quanto para nós também. Prepare-se, pois este é um dos capítulos mais difíceis de I Samuel. Não é uma história de “final feliz”; na verdade, é justamente o contrário. Vamos ouvir e aprender, para que não venhamos nós mesmos a seguir os passos de Saul.

Deus Está Lá, Mas Está Em Silêncio
(28:1-7)

“Sucedeu, naqueles dias, que, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Fica sabendo que comigo sairás à peleja, tu e os teus homens. Então, disse Davi a Aquis: Assim saberás quanto pode o teu servo fazer. Disse Aquis a Davi: Por isso, te farei minha guarda pessoal para sempre. Já Samuel era morto, e todo o Israel o tinha chorado e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; Saul havia desterrado os médiuns e os adivinhos. Ajuntaram-se os filisteus e vieram acampar-se em Suném; ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa. Vendo Saul o acampamento dos filisteus, foi tomado de medo, e muito se estremeceu o seu coração. Consultou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas. Então, disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium.”

Todos nós temos um daqueles dias em que absolutamente tudo dá errado. Este é um desses dias para Saul (por acaso, o dia de Davi também não vai bem). Os problemas de Saul são incríveis. Primeiro, os filisteus estão guerreando contra os israelitas e, desta vez, estão levando a sério. Os filisteus sempre atormentaram os israelitas durante o reinado de Saul. Mas, desta vez, parece que os reis filisteus estão determinados a destruir o poderio militar de Israel de uma vez por todas. É isto o que eles pretendem ao reunir suas forças armadas em Afeca (29:1). Dali eles marcharão para o norte, através da planície de Esdraelon até Suném (28:3-5). Sua estratégia parece ser separar e conquistar Israel, dividindo a nação ao meio e depois operando na região norte e na região sul independentemente. Enquanto os filisteus lutarão com força total, os israelitas não. Os batedores de Saul o informam sobre a localização e o tamanho das forças filistéias. Os números são incríveis. Além de tudo, eles estão acampados em território mais baixo, a fim de fazer uso total de seus carros. Até posso ouvir Saul murmurando baixinho a gente já era.

Segundo, Saul pode muito bem ter ouvido que Davi está entre os filisteus que se reuniram para atacar Israel. Se Saul teme um confronto direto com o exército filisteu, talvez também esteja abalado por saber que Davi está entre eles. Nosso capítulo começa com a narrativa de Aquis, o rei filisteu, informando a Davi que ele e seus homens irão consigo para a batalha contra os israelitas. Davi lhe garante que se mostrará um aliado valioso, ao que Aquis responde informando que ele será seu guarda pessoal para sempre. Sabemos, pelo capítulo 29, que Davi e seus homens estão com Aquis em Afeca, e é aqui que eles serão instruídos a voltar para casa em Ziclague. Talvez os batedores de Saul tenham localizado Davi e seus homens entre os filisteus reunidos em Afeca. Você pode imaginar como Saul se sente levantando-se contra Davi, principalmente depois do que ele mesmo lhe disse?

Agora, pois, tenho certeza de que serás rei e de que o reino de Israel há de ser firme na tua mão. (I Sam. 24:20)

Então, Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás e, de fato, prevalecerás. Então, Davi continuou o seu caminho, e Saul voltou para o seu lugar. (I Sam. 26:25)

Terceiro, Saul está ciente do que perigo que corre e está apavorado. Lembra-se que Saul parece ter sido um medroso (ou, no mínimo, retraído) desde o princípio? Ele queria abandonar a procura pelas jumentas de seu pai (9:5). Ele não contou a seu tio (Abner?) o que Samuel lhe dissera (10:14-16). Ele se escondeu entre a bagagem quando a sorte foi lançada para identificar o rei (10:22). Pelo que lemos em I Samuel, ele jamais toma a iniciativa de atacar os filisteus, mesmo que a libertação de Israel de sua oposição seja uma parte importante de seu chamado como rei (9:16). Depois que o espírito maligno da parte do Senhor se apossou dele, ele ficou medroso, e às vezes apavorado (ver 16:14; 17:11; 18:12). Este ataque maciço e em larga escala dos filisteus tem todos os sinais de uma derrota devastadora para Saul e seu exército, e assim o autor nos informa que ele está morto de medo (verso 5).

Quarto, embora agora Saul procure desesperadamente consultar o Senhor, ele não consegue obter nenhuma resposta de Deus. Saul não é muito experiente em buscar a vontade de Deus, como nosso texto tem mostrado até este ponto. Diferentemente de Davi (ver I Sam. 22:10, 15), ele não está acostumado a procurar orientação divina. Não foi idéia sua procurar um vidente para saber onde estariam as jumentas perdidas de seu pai (I Sam. 9:5-9). No lançamento de sortes, para saber quem Deus escolhera como rei de Israel, ele não tomou parte do processo; estava escondido (10:22). Ele não procurava orientação divina para saber quando lutar com os filisteus. Não havia necessidade, pois geralmente era Jônatas quem tomava a iniciativa, atacando-os (tal como quando atacou sua guarnição em Geba - 13:3). Mais tarde, no capítulo 13, Saul se obrigou a ir prosseguir e oferecer o holocausto, em vez que de continuar esperando por Samuel. Ao fazer isto ele desobedeceu a ordem que ele lhe dera no capítulo 10, uma ordem relacionada à orientação divina:

Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer. (I Sam. 10:8, ênfase minha)

Saul é instruído a esperar por Samuel para obter orientação divina, mas ele não espera.

No capítulo 14, o ataque secreto de Jônatas provocou um terremoto e uma grande confusão entre os guerreiros filisteus. Saul vê tudo a distância e depois pede que a arca de Deus seja trazida a ele (14:18). Quando o sacerdote está consultando o Senhor, Saul observa que os filisteus estão fugindo, e assim interrompe o sacerdote no meio da consulta e começa a persegui-los (14:19 ss). Uma ordem insensata de sua parte atrapalha muito esta perseguição, fazendo com que muitos soldados israelitas pequem ao comer o sangue dos animais que devoram devido à sua fome (14:24-35). Depois que os homens se alimentam, Saul está pronto para começar a perseguição aos filisteus, mas o sacerdote insiste em que eles se cheguem a Deus (14:37). Quando não há respostas naquele dia, Saul conclui que é devido a pecado (de Jônatas) e ordena que a sorte seja lançada entre os israelitas de um lado, e ele e Jônatas de outro. Saul e seu filho são indicados. A sorte é lançada novamente entre ele e Jônatas. Jônatas é indicado; Saul pretende usar o lançamento de sortes para justificar a condenação de seu próprio filho à morte, e o teria feito se o povo não tivesse se recusado a permitir que isto acontecesse. Saul está bem longe de ser modelo de alguém que busca orientação divina.

Aqui também não parece que os motivos de Saul sejam puros em seu empenho para consultar o Senhor. Não parece que ele esteja realmente consultando o Senhor, no sentido de estar procurando conhecer Sua vontade para cumpri-la. Parece que esta é também a conclusão do autor de I Crônicas:

Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé. (I Cr. 10:13-14)

Está escrito que Saul consultou o Senhor (28:6), mas esta não é uma verdadeira consulta. Pelo contrário, é antes uma tentativa desesperada de conseguir que Deus o livre dos problemas em que ele mesmo se meteu. Encontramos no livro de Jeremias a descrição de uma tentativa semelhante de consultar o Senhor:

Palavra que veio a Jeremias da parte do SENHOR, quando o rei Zedequias lhe enviou Pasur, filho de Malquias, e o sacerdote Sofonias, filho de Maaséias, dizendo: Pergunta agora por nós ao SENHOR, por que Nabucodonosor, rei da Babilônia, guerreia contra nós; bem pode ser que o SENHOR nos trate segundo todas as suas maravilhas e o faça retirar-se de nós. (Jr. 21:12, ênfase minha)

A inquietação de Saul passa do medo para o terror e do terror para pânico absoluto. Ele precisa fazer alguma coisa drástica, já! É como se ele estivesse revivendo os acontecimentos do capítulo 13, só que desta vez a sensação de tragédia iminente é ainda maior. Os filisteus estão acampados em Suném, e Saul e seu exército em Gilboa (verso 4). Os filisteus estão posicionados para o ataque, e Saul sabe que não tem nenhuma chance. Ele precisa agir, e rápido - ou assim ele supõe. Portanto, ele toma uma decisão desesperada e muito perigosa. Uma vez que parece não conseguir a atenção de Deus de nenhuma forma convencional, ele decide que deve consultar uma médium.

Uma Voz do Além
(28:7-14)

“Então, disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium. Saul disfarçou-se, vestiu outras roupas e se foi, e com ele, dois homens, e, de noite, chegaram à mulher; e lhe disse: Peço-te que me adivinhes pela necromancia e me faças subir aquele que eu te disser. Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que fez Saul, como eliminou da terra os médiuns e adivinhos; por que, pois, me armas cilada à minha vida, para me matares? Então, Saul lhe jurou pelo SENHOR, dizendo: Tão certo como vive o SENHOR, nenhum castigo te sobrevirá por isso. Então, lhe disse a mulher: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel. Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher disse a Saul: Por que me enganaste? Pois tu mesmo és Saul. Respondeu-lhe o rei: Não temas; que vês? Então, a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que sobe da terra. Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou.”

Como não é capaz de se conectar com Deus de maneira convencional, Saul decide procurar uma forma bem diferente. Samuel é o único profeta que conhecemos que lhe dava instruções de Deus. Havia muitos outros profetas, mas eles não são mencionados no texto. Samuel está morto (verso 3), mas Saul tem uma idéia. Talvez ainda possa conversar com ele. Talvez possa persuadir uma médium a invocá-lo, para que possa falar lhe falar. Saul instrui seus servos a encontrarem uma mulher que seja médium. Eles conhecem uma que vive em En-Dor.

Esse negócio de consultar uma médium tem uma porção de problemas, os quais podemos ver em nosso texto.

Primeiro, Deus proibiu estritamente o uso de médiuns. Uma porção de textos do Velho Testamento proíbem a presença de médiuns e outros espíritas no território de Israel e também proíbem os israelitas de consultarem tais pessoas. Considere estas proibições na lei de Moisés:

Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus. (Lv. 19:31)

Quando alguém se virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu me voltarei contra ele e o eliminarei do meio do seu povo. (Lv. 20:6)

O homem ou mulher que sejam necromantes ou sejam feiticeiros serão mortos; serão apedrejados; o seu sangue cairá sobre eles. (Lv. 20:27)

Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti. Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus. Porque estas nações que hás de possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o SENHOR, teu Deus, não permitiu tal coisa. (Dt. 18:10-14)

O segundo problema é que, pelo menos uma vez, Saul fez a coisa certa: Saul havia desterrado os médiuns e os adivinhos. (verso 3b) Isto é realmente espantoso. Pelo menos uma vez, ao que parece, Saul realmente fez alguma coisa certa. Agora, na iminência de um ataque filisteu, ele deseja localizar uma médium e fazer aquilo que a lei do Velho Testamento proibia. O maior obstáculo a isto é sua própria obediência, que havia desterrado essas pessoas. Entenda: Saul agora lamenta uma das poucas coisas que parece ter feito direito.

Há ainda um terceiro problema, um problema logístico. Os filisteus estão acampados em Suném; Saul e os israelitas estão acampados em Gilboa. En-dor fica aproximadamente oito milhas ao norte de Gilboa, e para ir até lá, Saul tem que rodear os filisteus.

Há um quarto problema: Saul não pode se dar ao luxo de ser identificado. Saul não ousa ser identificado por qualquer um que encontre pelo caminho. Matar um rei oponente é meio caminho andado para vencer o inimigo, portanto, o rei é o alvo principal. Um rei poderia, como precaução, se disfarçar (ver I Re. 22:29-36). Além disto, Saul não deseja ser reconhecido pela médium. Se ela souber quem ele é certamente não concordará em invocar um morto, sabendo que foi Saul quem expulsou os médiuns e espíritas de Israel (ver verso 9). Sua solução é viajar à noite, disfarçando suas roupas. Ele não usará suas vestes reais nesta missão.

Quando Saul chega à casa da médium, ele vai direto ao assunto. Primeiro procura fazer com que ela se comprometa a invocar qualquer um que ele chame. Ela resiste, temendo que esta possa ser uma das ciladas de Saul. Ela não quer ser pega desobedecendo diretamente as ordens do rei. Afinal, estes homens são estrangeiros, ou ela pensa que sejam. Ironicamente, Saul jura pelo nome do Senhor que ela não será punida por fazer o que ele lhe pede (verso 10). Assim, ele pede que ela invoque Samuel. Ela não precisa pedir maiores esclarecimentos. Ela dá um berro quando vê Samuel. Ela não só o reconhece, mas agora também reconhece que aquele que lhe pede para invocá-lo é nenhum outro senão o próprio Saul. Quase posso ouvi-la exclamando eu já era.

Saul uma vez mais garante que não lhe fará mal, e depois pede que ela descreva a pessoa que vê diante de si. Sua reação ao ver Samuel, bem como sua descrição dele, parecem indicar que esta não é uma invocação comum. Ela diz a Saul que vê um ser divino (a versão ARA traduz por deus). O texto hebraico usa a palavra elohim (deus), e a Septuaginta usa a palavra grega theous (deus). O que ela vê não é exatamente um espírito, mas um ser divino. Não é de admirar que ela esteja apavorada. Ela descreve este ser divino para Saul como alguém que se parece com um ancião, envolto numa capa. Pela sua descrição deste ser divino Saul o identifica como Samuel. E assim Saul se prosta com o rosto em terra fazendo reverência a ele (verso 14).

Palavras do Túmulo
(28:15-19)

Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se desviou de mim e já não me responde, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso, te chamei para que me reveles o que devo fazer. Então, disse Samuel: Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo? Porque o SENHOR fez para contigo como, por meu intermédio, ele te dissera; tirou o reino da tua mão e o deu ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR e não executaste o que ele, no furor da sua ira, ordenou contra Amaleque, por isso, o SENHOR te fez, hoje, isto. O SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus.

Na época em que Saul e Samuel estavam vivos, Samuel falava diretamente com Saul por Deus. Samuel não lhe dizia o que ele queria ouvir. Na verdade, Samuel às vezes temia por sua vida quando fazia aquilo que sabia que enfureceria Saul (ver 16:2). Nos capítulos 13 e 15, Samuel repreendeu Saul por seus pecados e lhe disse que ele estava prestes a perder seu reino. À luz destas coisas, o que é que Saul espera que Samuel lhe diga agora? Se ele espera qualquer coisa diferente só porque uma médium invocara Samuel dos mortos, ele vai cair do cavalo.

Tenho cinco filhas, e algumas delas não são o que eu chamaria de “madrugadoras” (francamente, também não sou nenhum “madrugador”). Saul sabe que invocar Samuel dos mortos é como acordar uma de minhas filhas de manhã cedo. Pode ser como acordar uma ursa. Costumo brincar dizendo que para entrar no quarto é preciso cutucar a dorminhoca com uma varinha, sem chegar muito perto. De qualquer forma, Samuel parece um tanto “irritado”, se é que esta é a maneira correta de descrevê-lo: “Por que me inquietaste, fazendo-me subir?” Ele poderia ter dito isto porque não gostou de ser perturbado por Saul. (Por acaso, ele parece se sentir mais livre para “dar uma bronca” em Saul agora do que quando estava vivo. Agora não é preciso temer que ele o mate!) Ou, ele poderia ter dito isto como uma reprimenda a Saul, por fazer algo que não deveria ter feito - invocar o espírito de alguém que está morto. De qualquer forma, a desaprovação de Samuel é clara.

Saul soa como um colegial que acabou de ser pego com a mão no pote de biscoitos e ficou com os dedos presos. Ele procura justificar sua atitude dizendo a Samuel que está muito angustiado. Ele acrescenta que a razão é que os filisteus estão guerreando contra ele e que Deus se afastou e não responde mais suas consultas. É como se ele dissesse “Eu tinha que chamar você, Samuel. Você tem que me dizer o que fazer. Sei que é contra as regras, mas é uma emergência.”

Samuel não fica impressionado. Ele não diz a Saul o que fazer. Na verdade, ele repreende Saul por lhe pedir para fazer o que é impossível. Pedir a Samuel para falar por Deus, quando Deus o deixou, é como pedir a Balaão para amaldiçoar o povo de Deus, quando Deus escolhera abençoá-los. Samuel não pode e não dirá a Saul o que fazer. Saul está sozinho. Mas, uma vez que Saul se esforçou para invocá-lo, Samuel lhe dirá como as coisas estão entre ele e Deus, e o que o amanhã lhe reserva. A situação em que ele se encontra agora é exatamente aquela que Samuel lhe revelou quando falou por Deus nos capítulos 13 e 15. Saul agora vive o cumprimento das profecias de Samuel.

Em poucas palavras Samuel diz a Saul o que lhe acontecerá e por que. Conforme indicara anteriormente, Deus tirou o reino de suas mãos. Ele está dando esse reino a Davi, o companheiro” de Saul. Isto é devido à desobediência de Saul ao falhar em cumprir totalmente as instruções de Deus a respeito de Amaleque. Samuel diz ao rei que as palavras de sua profecia, ditas no capítulo 15, agora estão sendo cumpridas. No dia seguinte, Deus entregará Israel, Saul e seus filhos aos filisteus. Saul e seus filhos serão mortos. Samuel diz sem rodeios “Amanhã, você e seus filhos estarão comigo”. Estas notícias são inquietantes. Certamente não é o que Saul esperava ouvir. Ele invoca um profeta, e consegue um. Mesmo do túmulo, Samuel não muda o tom.

A Última Ceia de Saul
(28:20-25)

De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e faltavam-lhe as forças, porque não comera pão todo aquele dia e toda aquela noite. Aproximou-se de Saul a mulher e, vendo-o assaz perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos à tua voz, e, arriscando a minha vida, atendi às palavras que me falaste. Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva e permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para que tenhas forças e te ponhas a caminho. Porém ele o recusou e disse: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram; e atendeu. Levantou-se do chão e se assentou no leito. Tinha a mulher em casa um bezerro cevado; apressou-se e matou-o, e, tomando farinha, a amassou, e a cozeu em bolos asmos. E os trouxe diante de Saul e de seus servos, e comeram. Depois, se levantaram e se foram naquela mesma noite.

O que acontece a seguir não é uma visão muito bonita. Quando Saul chegou à casa da médium em En-Dor naquela noite ele estava com muito medo. Depois do que acaba de acontecer, literalmente ele tem um colapso. Seus joelhos se dobram ante as palavras de Samuel. Ele cai no chão como se tivesse sido fulminado por um raio paralizante. Em parte, é conseqüência dele não ter se alimentado. Além disto, ele está cansado da viagem de oito milhas ou mais desde o acampamento em Gilboa até En-dor. No entanto, a maior parte é por puro terror. Até posso imaginar que, a esta altura, a médium esteja começando a ficar preocupada e bastante ansiosa para que ele parta.

A mulher apela para Saul ouvi-la e aceitar seu conselho. Afinal, isto é o mínimo que ele pode fazer depois que ela arriscou a vida por sua causa. Ela implora ao rei que a deixe arranjar-lhe algo para comer, algo que lhe dê força suficiente para ir embora. Ele se recusa. Seu apetite se foi. Tanto a mulher, quanto os homens de Saul o persuadem a comer, não porque ele esteja com fome, mas porque deve ganhar forças para retornar ao acampamento. Como o pai do filho pródigo, a médium de En-dor mata e prepara um bezerro cevado (ver Lucas 15:22-24, 29), mas não é para nenhuma comemoração, ou porque o pródigo tenha se arrependido e voltado. É mais como um velório. Ela abate o bezerro e o prepara, junto com alguns pães. O rei come e depois parte noite a fora. Este é, até agora, o dia mais negro da vida de Saul; mas um dia ainda mais negro está por vir - o dia seguinte - quando as profecias de Samuel serão cumpridas.

Conclusão

Temos uma expressão que diz: “Tudo vai bem quando termina bem”. Se isto é verdade, tudo não vai bem, pelo menos no que se refere a Saul. Dale Ralph Davis intitula o capítulo de seu comentário deste texto das Escrituras “E Era Noite. Este título certamente foi propiciado pela dupla referência em nosso texto a acontecimentos que tiveram lugar na escuridão da noite (28:8, 25). Também parece ser um jogo com as palavras de João 13:30, onde é dito que Judas deixou nosso Senhor e os discípulos para consumar sua traição. Ali João nos diz veladamente: “e era noite”.

Sem dúvida, este é o dia mais negro da vida de Saul - até agora. O dia seguinte (e último) será ainda mais negro. Eis o rei de Israel, tão debilitado pela fome e pelo terror que mal consegue ficar em pé. Suas roupas são uma tentativa patética de disfarce, mas isto também falhou. Ele está na casa de uma médium, procurando consultá-la. E quando consegue falar com Samuel, o profeta só lhe diz uma antiga versão do “eu te disse”. E ainda diz mais: que Saul e seus filhos morrerão em batalha no dia seguinte. Ele não dá a Saul nenhum incentivo, nenhuma esperança, nenhuma chance para arrependimento. Simplesmente é tarde demais. Que trágico retrato de Saul vemos aqui.

Quarenta anos antes, Saul era um jovem governante promissor e um maravilhoso espécime físico que sobressaía dos ombros para cima a seus compatriotas israelitas (9:1-2). Ele iniciou sua carreira militar libertando o povo de Jabes-Gileade, com uma vitória estrondosa sobre os amonitas (capítulo 11). Como é que, então, as coisas ficaram tão ruins a ponto dele terminar como uma massa trêmula no chão de uma médium proibida? De acordo com Samuel, a resposta é muito simples - desobediência. A primeira grande falha de Saul (pelo que o texto nos diz) foi em Gilgal, quando ele não espera por Samuel para oferecer o sacrifício, como havia sido instruído (ver 10:7-8). Ao invés de esperar por Samuel para oferecer o sacrifício e lhe dizer o que devia fazer (por orientação divina), Saul foi em frente e ofereceu ele mesmo o sacrifício.

Sua segunda maior falha é quase insignificante, mas, como dizemos, é a gota d´água. Samuel lhe dá uma orientação muito clara da parte de Deus. Como rei de Israel, é dever de Saul aniquilar os amalequitas pela forma com que eles trataram Israel na época do êxodo. Todos os amalequitas devem ser mortos, incluindo o rei. Na verdade, Samuel deixa claro que o rei não deve ser poupado (15:1-3). Nem as crianças e o gado devem ser poupados também. A despeito desta ordem, Saul e povo poupam o rei Agague e melhor do gado. Samuel pressiona Saul para assumir a responsabilidade pessoal por seu pecado. Quando Saul procura minimizar seu pecado afirmando que estava poupando o melhor do gado amalequita para sacrificar ao Senhor, Samuel estabelece um princípío que ecoará pelo resto do Velho e do Novo Testamento:

Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (I Sam. 15:22-23)

Saul parece pensar que os sacrifícios dos homens são as coisas que Deus mais valoriza, mesmo que isto signifique desobedecê-Lo. Samuel entende exatamente o contrário. Deus Se deleita na obediência do homem, mais do que em seus sacrifícios. A obediência a Deus é a melhor coisa. Portanto, a desobediência, é a pior. Será que Saul supõe que Deus verá com bons olhos a desobediência que tornou tal sacrifício possível? Não verá. Na verdade, Deus considera tal rebelião da mesma forma que considera o pecado de advinhação, e a insubordinação da mesma forma que a iniqüidade e a idolatria. Saul pensa que Deus verá com prazer aquilo que ele e os israelitas fizeram. Samuel lhe diz que Deus considera suas ações como se fossem a coisa mais vil que ele pudesse fazer.

Embora não tenha pensado nisto antes, agora estou inclinado a ver I Samuel 15:22-23 à luz de I Samuel 28:3. Aqui o Autor nos diz que Saul já tinha livrado Israel dos médiuns e espíritas. Agora, relembrando o capítulo 15, estou inclinado a entendê-lo como a seguir. Saul já havia removido os médiuns e espíritas de Israel. Provavelmente ele se sente muito bem a este respeito, uma vez que fez o que a lei de Moisés ordenava. No entanto, algum tempo depois, ele é ordenado a livrar a terra dos amalequitas. Ele o faz pela metade, e, como lembrado anteriormente, obediência parcial, na verdade, é desobediência. Quando Deus o repreende por meio de Samuel, Ele diz ao rei que a desobediência dele é tão ofensiva quanto a idolatria e a feitiçaria. Será que Saul se sente satisfeito por ter removido os médiuns e espíritas? Será que ele concorda que essas pessoas e suas práticas são abomináveis? Sua desobediência é vista no mesmo nível que tais práticas. A magnitude de seu pecado de obedecer parcialmente a Deus, com relação à remoção dos amalequitas, é a mesma do pecado de feitiçaria.

Acho que as palavras de censura de Samuel no capítulo 15 vão ainda mais além. Ele insinua que, se Saul não se arrepender de sua desobediência e de sua rebelião, elas o levarão à idolatria e à feitiçaria. Em outras palavras, Samuel está profetizando que se Saul não se arrepender de seu pecado relativo aos amalequitas, ele será culpado dos mesmos “pecados” que acaba de condenar ao remover os médiuns e espíritas.

Os acontecimentos do capítulo 28 sucedem com a estranha sensação de que Saul falha em levar a sério o seu próprio pecado e a repreensão de Samuel. Vejo uma importante similaridade entre os capítulos 13 e 15. Nos dois capítulos Saul peca por desobedecer deliberadamente a ordem de Deus. Em ambos os casos, quando Samuel o confronta, ele tenta colocar a culpa (ou pelo menos parte dela) em alguém mais. No capítulo 13, ele se desculpa dizendo que Samuel está atrasado (a culpa é dele), e que o povo está indo embora (a culpa é deles). No capítulo 15 novamente ele procura se eximir da responsabilidade. Primeiro ele afirma ter obedecido totalmente a Deus; Samuel encerra rapidamente o assunto. Então ele culpa o povo, como se eles tivessem retido o melhor do gado sozinhos. Por fim ele admite ter ficado com medo do povo, mas, ainda assim não assume a responsabilidade que é sua como rei. Em ambos os capítulos Saul vê suas ações como exigidas por uma situação emergencial. Ele declarou mentalmente um “estado de emergência”, onde sua própria forma de “lei marcial” põe de lado as leis de Deus. Finalmente, depois que todas as suas desculpas esfarrapadas são descartadas, seu “arrependimento” mal chega à forma de “lamento”.

Assim, vemos o porquê das coisas acontecerem como no capítulo 28. Saul começou bem, mas bem depressa se tornou descuidado em obedecer aos mandamentos de Deus. Mesmo quando repreendido por seus pecados, ele não se arrepende totalmente, e, assim, a repetição desses pecados é inevitável. Considerando a declaração profética de Samuel no capítulo 15, é difícil nos surpreendermos por encontrar Saul em busca de orientação divina por meio de uma médium. Se uma pessoa acha que os mandamentos de Deus são repulsivos, também acha fácil rejeitá-los. Será estranho que ela se volte para os médiuns e feiticeiras (ou qualquer outro meio de direção), sendo que tais pessoas a “encaminham” da forma como sempre quis andar (compare II Tm. 4:3-4)? Vemos que o fim da vida de Saul é trágico, mas isto não deveria ser nenhuma surpresa. É a conseqüência lógica do caminho que ele escolheu.

Enquanto lemos esta história humilhante de Saul na casa da médium de En-dor, gostaríamos de nos consolar pensando que é uma situação estranha, bizarra, um caso fortuito. Insisto em que não é um caso fortuito. De fato, creio que o que vemos aqui é a regra. Saul é uma demonstração viva da “regra” e não da “exceção”. Saul é uma espécie de tipo da nação de Israel. Vemos em sua vida (e morte) um microcosmo, uma versão em miniatura da história de Israel. Israel, como Saul, não foi escolhido por sua posição, mas a despeito de não ter uma nobre descendência (compare Dt. 7:7-8, I Sam. 9:21, 10:22. 15:17). Como a nação de Israel, Deus levantou Saul para “destruir completamente os cananeus (comparece Dt. 7:12; I Sam. 15:1-3). Saul, como a nação de Israel, devia confiar em Deus e guardar Seus mandamentos, e não imitar os gentios (compare Dt. 7:2-5, 9:16; I Sam. 15:20-23). E, como Israel, Deus destruiria Saul por sua flagrante e persistente rebelião (compare Dt. 7:4; I Cr. 10:13-14). Repare como estes dois assuntos estão entremeados no capítulo 12:

Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e lhe atenderdes à voz, e não lhe fordes rebeldes ao mandado, e seguirdes o SENHOR, vosso Deus, tanto vós como o vosso rei que governa sobre vós, bem será. Se, porém, não derdes ouvidos à voz do SENHOR, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do SENHOR será contra vós outros, como o foi contra vossos pais. Ponde-vos também, agora, aqui e vede esta grande coisa que o SENHOR fará diante dos vossos olhos. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao SENHOR, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o SENHOR, pedindo para vós outros um rei. Então, invocou Samuel ao SENHOR, e o SENHOR deu trovões e chuva naquele dia; pelo que todo o povo temeu em grande maneira ao SENHOR e a Samuel. Todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao SENHOR, teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei. Então, disse Samuel ao povo: Não temais; tendes cometido todo este mal; no entanto, não vos desvieis de seguir o SENHOR, mas servi ao SENHOR de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são. Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo. Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei.

Finalmente, a nação de Israel foi escolhida por Deus para ser reino de sacerdotes (Ex. 19:6), mas seu governo como filhos de Deus não durou muito, devido à sua desobediência (ver Ex. 4:23). Depois foram os reis de Israel que deviam ser os filhos de Deus, governando a nação (ver II Sam. 7:14; Sl. 2:4-9). Enfim, há apenas um rei bom e perfeito, o único Filho de Deus, no qual podemos ser salvos de nossos pecados, e no qual podemos reinar (João 1:12, Rm. 8:14-25).

Saul não é apenas um tipo da nação de Israel, ele é um trágico exemplo do que pode acontecer a cada um e a todos nós. Aqueles que desejam conhecer e fazer a vontade de Deus a conhecerão, pois Deus lhes revelará (ver João 7:17). Mas, se nos rebelarmos obstinadamente contra Deus, Ele não ouvirá nossas orações e cessará Sua manifestação e a revelação de Sua vontade a nós (Ele não “lançará pérolas aos porcos”; ver também o Sl. 18:8; João 2:23-25; Marcos 4:20-25). Finalmente, aqueles que resistem e desobedecem a vontade de Deus e Sua Palavra (que apenas pode ser distinguida) acabam procurando em outros lugares o ensino dito “cristão”, ainda que não seja (ver II Tm. 3:1-13; 4:14).

Creio que haja um “ponto sem retorno” na vida de uma pessoa. Há uma determinada época em que Deus cessa de convencer o pecador de seus pecados, e em vez disso endurece seu coração, devido à persistente rejeição ao evangelho. Há uma determinada época em que, humanamente falando, é tarde demais. Aqueles que tolamente supõem que podem continuar a viver em pecado e rejeitar o evangelho, achando que Deus sempre “estará lá para ajudá-los”, estão errados.

E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus (porque ele diz: EU TE OUVI NO TEMPO DA OPORTUNIDADE E TE SOCORRI NO DIA DA SALVAçãO; eis, agora, O TEMPO SOBREMODO OPORTUNO, eis, agora, O DIA DA SALVAçãO)” (II Co. 6:1-2)

Também creio que haja um “ponto sem retorno” para um cristão que vive em constante e deliberada rebelião. Não é que esta pessoa vá perder sua salvação, mas ela perderá a “alegria” da salvação. Ela pode muito bem perder a segurança da salvação. Com toda a certeza perderá a sensação de intimidade e companheirismo que poderia e deveria ter com Cristo e Sua igreja. Talvez ele até perca sua vida, tal como Saul (ver I Co. 5:1-5: I Tm. 1:18-20; I Jo. 5:13-17).

Embora este não seja um pensamento reconfortante, somos mais parecidos com Saul do que gostaríamos de crer. Há muito de “Saul” em cada um de nós. É por isso que devemos habitar em Cristo e em Sua Palavra. É por isso que devemos orar para ter forças e não cair em tentação. É por isso que precisamos “não deixar de nos congregar” e admoestar os irmãos e irmãs crentes, e nos acautelar do pecado persistente e deliberado (Hb. 10:19-31).

Fica claro que nosso texto não é um conto de fadas. Saul não vive “um final feliz”, como as pessoas dos contos de fadas vivem. Nem qualquer um que falhe em confiar e obedecer a Deus. Sejamos humilhados e abatidos por Saul, reconheçamos nossas fraquezas, e dependamos exclusivamente da Sua força.

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26. De “jogando dos dois lados” para “num beco sem saída” (I Samuel 29:1-30:6)

Introdução

Tenho uma porção de jovens amigos de quem gosto muito. Recentemente, um deles fez uma visita ao meu gabinete enquanto eu terminava de imprimir o sermão do domingo anterior. Meu amiguinho de 9 anos de idade, Luke, perambulou pelo gabinete para ver o que eu fazia. “O que é isso na tela”, perguntou. “Esse é o meu sermão da semana passada”, respondi. “Meio longo, né?”, disse ele. “Bem, talvez seja”, respondi. Enquanto continuava a trabalhar em minha mensagem e passava para a página 10, Luke conversava e observava com um interesse despreocupado. “Espera aí, tio Bob!”, disse ele, “acho que vi alguma coisa. Poderia voltar um pouquinho - só um pouquinho?” Explorando meu monitor, Luke apontou para uma frase em meu sermão onde eu escrevera: “Saul comandante de mil, esperando que Davi fosse morto”. “É isso mesmo que o senhor queria dizer?”, perguntou. “Não”, admiti, um tanto embaraçado e completamente espantado. Arrumei a frase para a satisfação de Luke, e minha também, mudando-a para “Saul designou a Davi comandante de mil, esperando que ele fosse morto.” Enquanto Luke perdia o interesse e saía de meu gabinete, perguntei a mim mesmo “Com é que ele fez isso?”.

Às vezes recebemos ajuda de lugares inesperados. Com toda a certeza, esse é o caso de Davi em I Samuel 29. Ele consegue se meter numa verdadeira enrascada. Depois de ser liberto das mãos de Saul em diversas ocasiões, ele se cansa de viver como fugitivo. Num momento de desespero, ele acha que sua única esperança é fugir de Saul para o território dos filisteus. Davi está convencido de que, quando Saul souber onde ele está, desistirá de sua perseguição. Ele e seus 600 homens, acompanhados por suas esposas e filhos, encontram refúgio em território filisteu. Davi persuade Aquis, o rei filisteu, a permitir que eles deixem Gate e se estabeleçam em Ziclague, uma cidade bem distante dali. De sua base de operações, Davi faz uma série de ataques contra os inimigos de Israel. Em todos os casos, ele engana Aquis dizendo-lhe que acabou de invadir alguma das vilas de Israel ou alguma cidade das vizinhanças. Para garantir que ninguém informe Aquis sobre o que realmente aconteceu, ele cuidadosamente elimina todas as pessoas, não deixando nenhum sobrevivente. Davi parece dividir alguns despojos de guerra com Aquis (ver 27:9), enquanto também leva uma parte (pelo menos em uma ocasião) a seus irmãos israelitas (ver 30:26-31), as mesmas pessoas que Aquis pensa que ele esteja matando. Em resumo, Davi está jogando dos dois lados.

Davi parece estar escapando impune em sua farsa. De repente as coisas tomam um rumo inesperado, e agora parece que ele está num beco sem saída. O rei Aquis o informa que os comandantes filisteus estão unindo suas forças para fazer um ataque maciço contra Israel. Ele, então, diz a Davi que ele e seus 600 homens vão ter a honra de lutar por ele e com ele. Davi enerva o leitor de I Samuel 28 garantindo a Aquis que lutará valentemente pelos filisteus. Ele promete mostrar a Aquis toda a sua habilidade quando for para a batalha com ele. Aquis reage à assertiva de Davi oferecendo-lhe o que acredita ser uma grande recompensa por seus fiéis serviços - um emprego vitalício como seu guarda-costas pessoal. Quem sequer teria imaginado que Davi, que uma vez serviu como escudeiro de Saul, seria agora designado como guarda-costas de um rei filisteu?

A esta altura dos acontecimentos o autor nos deixa completamente aturdidos, enquanto volta nossa atenção para o rei Saul e a narrativa de sua visita à médium de En-dor. No capítulo 29, encontramos um Saul em pânico e aterrorizado. Ele não consegue mais ter a atenção de Deus, nem receber Suas instruções para livrá-lo e a seu exército de uma derrota certa às mãos dos filisteus. Em absoluto desespero, Saul busca conselho com uma médium que vive em En-dor. Quando fica sabendo que Deus não virá salvá-lo, mas vai entregá-lo, e a seus soldados, aos filisteus, ele perde a força e a coragem. Literalmente ele fica paralisado de medo. Finalmente, depois de ser persuadido a comer, ele recobra força suficiente para partir noite adentro e voltar para seus homens e para a batalha. Agora ele sabe como essa batalha terminará.

Durante toda esta angustiante experiência de Saul em En-dor, nossos pensamentos toda hora se voltavam para Davi, que se meteu numa situação das mais perigosas. Até parece um “ardil 22” (filme sobre pilotos da II Guerra que fazem de tudo para voltar prá casa), sem saída para ele e seus homens. Se Davi realmente lutar ao lado de Aquis, junto com os soldados filisteus, estará lutando contra seu próprio povo (os israelitas), seu rei (Saul), e seu querido amigo, Jônatas. Se ele não lutar ao lado dos filisteus, é quase certo que terá que se voltar contra eles na batalha. Isto também traz problemas quase insuperáveis. A intenção de Deus é entregar os israelitas aos filisteus e tirar a vida de Saul e de seus filhos na batalha. Se Davi lutar contra os filisteus, estará lutando (como se estivesse) contra os propósitos de Deus. O que ele deve fazer? Passar para o lado dos filisteus pareceu-lhe um movimento brilhante na primeira parte do capítulo 27. Ele conseguiu ficar a salvo, fora do alcance de Saul, e foi bem sucedido em agradar tanto aos filisteus quanto aos israelitas. Mas agora, de uma hora para outra, ele está num beco sem saída, sem nenhuma solução aparente. É neste exato momento que vem auxílio de uma fonte das mais improváveis - dos príncipes filisteus.

Observações Preliminares

Antes de tentarmos acompanhar os acontecimentos da história que nosso autor tão habilmente nos conta, vamos tomar nota de algumas coisas que poderão nos ajudar a entender melhor o texto.

Primeiro, repare que não é dito por que Davi faz o que faz. Por inspiração divina, nosso autor é perfeitamente capaz de nos dizer quais são os motivos e as intenções de Davi. Por exemplo, anteriormente em I Samuel é dito que Saul promove Davi à liderança e lhe oferece suas filhas em casamento. A razão talvez não seja evidente àqueles à volta de Saul, mas o autor de I Samuel informa a seus leitores os motivos e intenções dele: ele está com ciúmes e se sente ameaçado por Davi e pretende matá-lo, ficando, portanto, livre dele como rival ao trono. No capítulo 27 é dito o porquê de Davi fugir para Aquis, procurando se refugiar de Saul: ele está com medo e não crê que haja alguma outra forma de se salvar, a não ser buscando asilo na Filistia. Agora, na hora em que gostaríamos muito de saber o que ele planeja fazer e por que, nada é dito.

Uma coisa sabemos com certeza: o autor retém esta informação de propósito. Ele não deseja que saibamos o que Davi pretende fazer por várias razões: (1) O autor parece querer que adivinhemos o que Davi está pensando, o que aumenta o clima de mistério e suspense. Um bom escritor prende nossa atenção tanto pelo que retém quanto pelo que revela. (2) O autor não está tentando dizer que Davi é um santo, mas retratá-lo como um “homem sujeito às mesmas paixões, que tem dúvidas, medos, e que comete erros, tal como eu e você. (3) Se fosse dito o que Davi pretendia fazer e por que, facilmente concordaríamos com ele. Poderíamos desculpá-lo.

Vivemos numa época em que os princípios circunstanciais são muito comuns. Estes princípios não julgam uma atitude como sendo errada - dizer imoralidades, por exemplo - mas procuram distinguir o “que é certo” e o “que é errado” com base nos motivos. Se um homem cometer adultério, mas for por “amor” ou por se “importar” com a outra pessoa, então sua atitude não é errada. Embora haja um certo elemento de verdade nisto, algumas coisas simplesmente são erradas, e nossa motivação e atitude ao fazê-las não as tornarão certas. O autor não parece querer que “entendamos” porque Davi agiu como agiu, mas que soframos porque ele agiu dessa forma.

Segundo, nestes capítulos o autor deixa de lado a ordem estritamente cronológica. No capítulo 28, encontramos os israelitas acampados em Gilboa, enquanto os filisteus estão em Suném (28:4). Isto é ao norte e totalmente fora da verdadeira batalha entre os dois exércitos (31:1). Mas, no capítulo 29, os filisteus estão reunidos em Afeca, enquanto os israelitas estão em Jezreel. Isto é bem ao sul do lugar descrito no capítulo 28, o que significa que os acontecimentos do capítulo 29 precedem aqueles do capítulo 28. O autor propositadamente trocou a seqüência cronológica dos acontecimentos por uma seqüência mais temática. Ele está mais interessado em mostrar seu ponto de vista do que de nos dar uma ordem cronológica. Parece que a intenção do autor é revezar entre Saul e Davi com o propósito de estar sempre comparando estes dois homens.

Terceiro, o autor não prova seu ponto de vista dando muitas explicações, ou mesmo dando abertamente o crédito a Deus pelo que está acontecendo. Isto estragaria a trama da história e o propósito pelo qual ele a está contando desta forma. Há poucas “palavras de Deus” nesta passagem, e aquilo que “Deus fala” encontramos vindo de um rei pagão, não de Davi. Creio que o autor não queira insultar seus leitores dizendo-lhes o que devem pensar em cada momento da história. Ele espera que a leiamos como história sagrada, com a estrutura teológica estabelecida na lei de Moisés. Ele quer que o leitor pense por si mesmo e tire conclusões bíblicas.

Quarto, ainda que Davi seja o personagem principal - a estrela - da história, ele não é o orador principal. Davi fala pouco neste texto. Aquis e os príncipes filisteus têm a maioria das falas.

Uma Mosquinha na Tenda dos Filisteus
(29:1-5)

“Ajuntaram os filisteus todos os seus exércitos em Afeca, e acamparam-se os israelitas junto à fonte que está em Jezreel. Os príncipes dos filisteus se foram para lá com centenas e com milhares; e Davi e seus homens iam com Aquis, na retaguarda. Disseram, então, os príncipes dos filisteus: Estes hebreus, que fazem aqui? Respondeu Aquis aos príncipes dos filisteus: Não é este Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que esteve comigo há muitos dias ou anos? E coisa nenhuma achei contra ele desde o dia em que, tendo desertado, passou para mim, até ao dia de hoje. Porém os príncipes dos filisteus muito se indignaram contra ele; e lhe disseram: Faze voltar este homem, para que torne ao lugar que lhe designaste e não desça conosco à batalha, para que não se faça nosso adversário no combate; pois de que outro modo se reconciliaria como o seu senhor? Não seria, porventura, com as cabeças destes homens? Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares?”

Os filisteus escolheram Afeca como base para o agrupamento de seus exércitos na preparação para o ataque a Israel. Aqui, cada um dos cinco príncipes filisteus (ver capítulos 5 e 6) chegam com os homens a seu comando. (Parece também que cada um deles é o rei de uma das cinco principais cidades filistéias. Aquis é o rei de Gate, e assim comandante das tropas de sua área). As tropas são passadas em revista (por seus comandantes), por centenas e milhares. Quatro dos cinco comandantes ficam chocados e furiosos pelo que vêem.

Às vezes as pessoas dizem: “Gostaria de ter sido ’uma mosquinha’ para ouvir o que se passou quando...” Elas querem dizer que gostariam muito de ter estado presentes para ouvir ou ver o que aconteceu em certo lugar e em certa época. Por inspiração divina, é permitido que nos tornemos uma “mosquinha” virtual na tenda dos filisteus – a tenda onde os cinco comandantes mantêm uma calorosa discussão.

A “retaguarda” do exército filisteu não é outra senão Davi e seus homens. Levou algum tempo (e um certo empurrãozinho) para que eu compreendesse o significado disto, uma vez que não tenho nenhuma experiência militar. Você se recorda de que Aquis “honrou” Davi tornando-o seu guarda-costas pessoal. Entendo que, das cinco divisões de soldados que passaram por ali naquele dia, a quinta divisão é a que é liderada por Aquis. Davi está na retaguarda de todo o exército. Esta é uma posição crucial, pois sempre que for possível, o exército inimigo tentará flanquear o inimigo e depois atacá-lo pelas costas, assim como pela frente. Aqueles que ficam na retaguarda são os melhores, mais valentes e mais hábeis guerreiros. Esta honra é dada a Davi e seus homens.

Aquilo que Aquis considera uma “honra” é visto como um “horror” pelos outros príncipes filisteus. Apesar de não ser dito o que Davi está pensando ou planejando, é permitido que ouçamos a discussão entre Aquis e seus quatro colegas em comando durante esta reunião da alta cúpula militar. Os outros comandantes ficam lívidos. Eles mal conseguem imaginar como Aquis poderia ser tão ingênuo a ponto de levar Davi para a batalha com eles, e ainda colocá-lo na posição mais estratégica. Eles não estão nenhum pouco contentes com a situação e, sem perder tempo, intimam Aquis a dar satisfação de sua estupidez. Mas o que é que Davi e seus 600 guerreiros (hebreus) estão fazendo no exército filisteu?

Aquis vê exatamente o oposto dos outros comandantes. Ele considera Davi um trunfo, justamente por ele ser quem é. Davi é um desertor, um homem que é fiel a ele ao invés de Saul. Quem é que não percebe o valor de ter um dos homens mais confiáveis de Saul como aliado, depois que ficou evidente que ele realmente mudou de lado? Agora Davi é um deles. Não há possibilidade de ele voltar a Israel. Ele garante que não há absolutamente nada com que se preocupar. Durante todo o tempo, desde que Davi desertou de Saul, Aquis não achou nele nenhuma culpa. “Confiem em mim, camaradas, Davi é um dos nossos, e ele pode fazer muitas coisas boas para nós”. Os quatro comandantes não ficam nenhum pouco impressionados com a confiança de Aquis ou com suas garantias. De qualquer forma, a resposta de Aquis os deixa ainda mais furiosos. Como é que este homem pode ser enganado desse jeito por Davi? Como pode ser tão estúpido? Como não percebe o que Davi realmente é capaz de fazer? Davi é hebreu. É um hebreu no exílio. Fará qualquer coisa para ganhar o favor do rei Saul. Que melhor forma de fazer isto do que fingir lealdade aos filisteus, e depois se voltar contra eles no calor da batalha? Será que Aquis já se esqueceu da genialidade e da força militar de Davi, e de sua popularidade entre seu próprio povo? Que ele ouça mais uma vez a canção: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares.”

Os outros comandantes não dão nenhuma opção a Aquis. Eles lhe dizem para mandar Davi de volta prá casa - para Ziclague. Ele não vai mais se juntar a eles na batalha, ou para ser mais preciso, eles não vão mais se juntar a ele. Se Aquis quiser continuar oferecendo asilo a Davi em Ziclague, tudo bem. Esse lugar é tão remoto que Davi pode até causar alguns estragos por lá. Que seja mandado de volta a Ziclague, mas que não vá para a guerra com o exército filisteu. E ponto final.

Aquis se desculpa com Davi e o Manda de Volta prá Casa
(29:6-11)

Então, Aquis chamou a Davi e lhe disse: Tão certo como vive o SENHOR, tu és reto, e me parece bem que tomes parte comigo nesta campanha; porque nenhum mal tenho achado em ti, desde o dia em que passaste para mim até ao dia de hoje; porém aos príncipes não agradas. Volta, pois, agora, e volta em paz, para que não desagrades aos príncipes dos filisteus. Então, Davi disse a Aquis: Porém que fiz eu? Ou que achaste no teu servo, desde o dia em que entrei para o teu serviço até hoje, para que não vá pelejar contra os inimigos do rei, meu senhor? Respondeu, porém, Aquis e disse a Davi: Bem o sei; e que, na verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de Deus; porém os príncipes dos filisteus disseram: Não suba este conosco à batalha. Levanta-te, pois, amanhã de madrugada com os teus servos, que vieram contigo; e, levantando-vos, logo que haja luz, parti. Então, Davi de madrugada se levantou, ele e os seus homens, para partirem e voltarem à terra dos filisteus. Os filisteus, porém, subiram a Jezreel.”

Aquis agora tem a desagradável tarefa de “desapontar” Davi e lhe dizer que ele deve ir prá casa. Ele o faz usando uma linguagem que não se encaixa num verdadeiro pagão: “Tão certo como vive o SENHOR...” (29:6). Este não é o termo pagão para “deuses”, mas o termo hebraico Yaweh, para o único Deus verdadeiro, o Deus de Israel. Depois, no verso 9, este rei filisteu diz a Davi que ele é “como um anjo de Deus”. Realmente estas palavras são estranhas. Não é Davi quem está falando “palavras de Deus”, mas Aquis. Pode ser que ele esteja escolhendo cuidadosamente as palavras para se adequar à fé de Davi. Pode ser que a fé de Davi esteja fazendo efeito em Aquis.

É quase engraçado ler as coisas boas que Aquis diz sobre Davi. São tão lisonjeiras, e tão iludidas. Aquis lhe diz que ele tem sido agradável a seus olhos, que desde o primeiro dia em que chegou, não fez nada de errado contra ele. Será que Aquis se sentiria desse jeito e diria as mesmas coisas se soubesse o que Davi realmente estava fazendo, a quem ele estava saqueando e matando, e que seus relatórios eram falsos? Acho que não! Mas Aquis tem mais coisas boas a dizer sobre Davi. Ele lhe diz que ele é “como um anjo de Deus” a seus olhos (verso 9). Ele é completamente enganado por Davi, e a enormidade desta farsa fica clara nas palavras elogiosas deste rei pagão. Aquis não só o elogia, mas também lhe pede desculpas. Ele explica que, apesar dele querer que Davi o acompanhe na batalha contra Israel, seus colegas não estão de acordo com este plano. Davi e seus homens devem voltar a Ziclague pela manhã.

Davi não pára de me surpreender. Se eu estivesse em seu lugar, estaria dançando pelas ruas depois de ouvir o que Aquis acabou de dizer. No entanto, ei-lo aqui, na mesma situação aparentemente sem esperanças, num beco sem saída. Os quatro comandantes filisteus se recusam a permitir que ele vá com eles para a batalha, e Aquis acanhadamente lhe dá as “más notícias”. Más notícias? Isto é fantástico! Ele não tem que lutar contra os israelitas, com Saul ou com Jônatas. Nem tem que lutar contra Aquis ou qualquer outro filisteu. Tudo o que precisa fazer é ir para sua própria casa em Ziclague. Mas, ao invés de se submeter humildemente ao comando de Aquis e dos comandantes filisteus, ele protesta, como se tentasse dissuadi-los de sua decisão, como se fosse obrigado e estivesse determinado a ir para a guerra. Considerando ser “uma saída”, ele parece inverter a situação.

Dale Ralph Davis não perde o bom humor nesta troca de gentilezas entre Aquis e Davi, escrevendo:

Há muito mais do que um pouco de humor nesta cena (v. 6-8). Aquis fica ali se desculpando, ressaltando porque ele acha que Davi deveria ir com eles nesta campanha e exaltando sua fidelidade, a qual ele não tem nenhuma razão para exaltar. Por outro lado, Davi, com expressão incrédula e voz exasperada, protesta a rejeição contra a qual ele não tem nenhuma razão para protestar. O enganado defende seu enganador, e o aliviado discute seu alívio!”

Se as palavras de protesto de Davi são uma encenação, ele é um excelente ator. Graças a Deus, a opinião dos comandantes filisteus não pode ser mudada. Davi voltará a Ziclague pela manhã.

Logo cedo na manhã seguinte, tanto Davi quanto os guerreiros filisteus se levantam para seguir seu caminho. Os filisteus partem para Jezreel, onde os israelitas estão acampados, e Davi lidera a volta para Ziclague. Davi foi salvo, e isto devido à reação furiosa de quatro comandantes filisteus que rejeitam os planos de Aquis.

Problemas em Casa
(30:1-6)

Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado; tinham levado cativas as mulheres que lá se achavam, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão-somente os levaram consigo e foram seu caminho. Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos. Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar. Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita. Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus.”

Enquanto Davi e seus homens estão com Aquis em Afeca, os amalequitas estão saqueando Ziclague. Se aprendemos alguma coisa, é que falhar em cumprir totalmente a Palavra de Deus tem conseqüências devastadoras. O fracasso de Saul a respeito dos amalequitas está fazendo seu governo como rei chegar ao fim. Isto lhe custará sua própria vida e a vida de seus filhos. As invasões de Davi, enquanto estava em Ziclague, são contra os inimigos de Israel, entre os quais estão os amalequitas (ver 27:8). Será que esta invasão é uma retaliação? Por alguma razão, os amalequitas se aproveitam dos movimentos militares dos filisteus e atacam suas vilas e cidades indefesas. Dentre elas está Ziclague. A cidade é totalmente destruída e queimada. Providencialmente, todo o povo é poupado, junto com o gado. Davi não trata os amalequitas com tanta gentileza.

Para Davi e seus homens, a viagem de Afeca a Ziclague deve ter sido bem descontraída, meio parecida com um ônibus lotado de estudantes em férias a caminho das montanhas para um passeio de esqui. Posso imaginar o alívio que Davi e seus homens sentem quando deixam as tropas filistéias e voltam para Ziclague. Eles sobreviveram a esta estranha situação com dignidade, não com vergonha. Aquis ainda pensa muito bem a respeito de Davi, e os quatro comandantes filisteus ainda parecem temê-lo. Eles não têm que batalhar contra seus compatriotas israelitas, nem que se voltar contra os filisteus. Eles foram salvos. Nenhuma vida foi perdida em batalha. Tudo o que precisam fazer é voltar para Ziclague e desfrutar um pouco de tempo com suas famílias. Como diz o comercial da TV, como eles “soletram alívio”? Z I C L A G U E.

À medida que se aproximam de Ziclague, eles começam a ver, e talvez a sentir o cheiro, de fumaça. Um sentimento crescente de medo cai sobre este pequeno exército. Podemos imaginar que os olhares confusos se transformam em olhares de inquietação, a conversa cessa, substituída por um silêncio gelado. A cidade está em ruínas, totalmente queimada. Não há absolutamente nenhum sinal de vida. Nem qualquer corpo. Alguns ainda podem estar vivos, mas aqueles que estão vivos podem desejar que estivessem mortos.

Talvez este seja o dia mais negro da vida de Davi até aqui. Neste momento, ninguém parece pensar em perseguir aqueles que fizeram isto, quem quer que seja. As duas esposas de Davi foram levadas, e também todas as famílias de seus homens. Os homens ficam deprimidos. Eles não poderiam ter imaginado coisa pior. Todos choram até não terem mais forças.

Esta não é uma bela visão, mas fica ainda pior. À medida que a dura realidade começa a aparecer, os homens de Davi começam a pensar no que teria acontecido. Tudo é culpa de Davi. Eles os trouxe para Gate e depois para Ziclague. Ele os fez trazer suas famílias junto com eles. Ele ordenou os ataques contra povos como os amalequitas. Seus negócios escusos fizeram com que fossem promovidos no exército filisteu. Devido ao relacionamento de Davi com Aquis, todos estavam muito longe, em Afeca, quando suas famílias foram aterrorizadas e seqüestradas. Eles já tinham o suficiente de Davi e de sua liderança. Eles estão muito desgostosos e prontos para descarregar sua raiva. Um rumor sobre apedrejar Davi começa a circular entre eles.

Agora as coisas estão tão ruins quanto Davi pode imaginar. Ele fora rejeitado por Saul, e depois por muitos de seus compatriotas israelitas. Alguns de seus parentes estavam dispostos e prontos para entregá-lo a Saul para ser condenado à morte. Rejeitado por Saul e os israelitas, Davi foge para Aquis, que o recebe de braços abertos. Mas agora ele é rejeitado pelo exército filisteu e mandado de volta prá casa. E, quando chega em casa, descobre que sua família e as famílias de seus homens se foram, o gado tomado, e a cidade em ruínas. Além de tudo isto, agora ele está sendo rejeitado por muitos de seus próprios homens, que também gostariam de vê-lo morto. Tudo o que poderia dar errado aconteceu.

Conclusão

Fazendo uma pausa em nosso estudo desse momento negro da vida de Davi, vamos refletir sobre o que aconteceu e o que podemos aprender com isto.

A primeira lição que aprendemos (ou que vem à nossa mente) é que as conseqüências do pecado muitas vezes demoram, mas são inevitáveis. Aquilo que lemos em nosso texto é o resultado de uma péssima decisão que Davi tomou um ano antes. Essa decisão foi deixar Israel e fugir para Aquis, em território filisteu, para procurar segurança e proteção (27:1 ss). À luz das palavras de Davi para Saul no capítulo 26, poderíamos questionar esta decisão de levar seus homens e suas famílias para o território filisteu. No mínimo foi contrária às suas próprias convicções, declaradas com tanta paixão e clareza a Saul. O resultado imediato parecia favorável. Davi e seus homens poderiam estar com suas famílias. Eles foram bem recebidos por Aquis e viveram confortavelmente enquanto atacavam e saqueavam seus inimigos. Eles até conquistaram o favor de muitos israelitas (30:26-31). Eles estavam jogando dos dois lados, e tudo ia bem.

E então, como sempre, as conseqüências do pecado começam a aparecer. Davi ficou popular demais com Aquis. Em vez de ser um refugiado, um exilado, ele se torna o guarda-costas de um rei filisteu e líder de 600 homens no exército filisteu. Davi se encontra num beco sem saída. A época de por em prática aquilo que ele diz chegou. Agora ele é obrigado a travar batalha com o ungido do Senhor, e com seu filho Jônatas, seu querido amigo. O vôo de Davi para o lado dos filisteus, que tinha a intenção de “salvar” seus homens e suas famílias, e lhes dar tempo juntos, agora fez com que fossem capturados por invasores desconhecidos. Os homens de Davi, em cujo benefício aparentemente ele agiu ao fugir para a Filistia, agora estão prontos a apedrejá-lo. Como diz um certo provérbio “o castigo sempre vem a cavalo”. Aqui, com certeza.

Deus e Satanás são completamente diferentes. Deus deixa muito claras as conseqüências do pecado. Embora haja muitos detalhes, podemos resumir tudo na afirmação: “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Até quando são discipuladas – para seguir a Cristo - nosso Senhor quer que as pessoas saibam tanto o preço à vista, quanto a longo prazo. Deus não procura nos “tentar” a fazer o que é certo colocando uma etiqueta com o preço em letras miúdas. Satanás sim. Ele minimiza o custo do pecado e muitas vezes o nega completamente (por exemplo, “É certo que não morrereis - Gn. 3:4). Mas, esteja certo de que o pecado tem um preço muito alto.

Anos atrás, quanto nossa família esteve em Six Flags Over Texas (um parque de diversões), junto com uma outra família, algo me fez lembrar do custo do pecado. Depois de pagar um preço bem alto pela entrada e de ficar esperando na fila, conseguimos fazer um passeio bastante procurado. Depois do passeio, voltei-me para o pai da outra família e disse: “Esta é uma boa ilustração do pecado. O preço é alto, mas o passeio é curto!” E é assim. Para Davi, o passeio terminou. Agora é hora de pagar o preço.

O sábio é cauteloso e desvia-se do mal, mas o insensato encoleriza-se e dá-se por seguro. (Pv. 14:16)

Segundo, devemos perceber em nosso texto que as conseqüências prejudiciais de nossos pecados vão além de nós mesmos e, muitas vezes, causam dor e sofrimento àqueles que mais amamos. Tenho certeza de que Davi deve ter pensado que estava agindo no melhor interesse de sua família ao levá-los para a terra dos filisteus. Mas, ao fazer isto, aquilo que era errado para ele (capítulo 26), também se tornou errado para sua família. Sabemos que na realidade este incidente acaba bem. Mas durante aqueles dias em que estas famílias foram aterrorizadas e traumatizadas, um alto preço foi pago - por eles! Quando Abrão disse a Sarai para mentir a respeito de ser sua esposa, tanto ele quanto ela passaram algumas noites angustiantes separados um do outro, preço por seu pecado.

Asafe, o salmista dos tempos antigos, escreveu um salmo sobre uma época crítica de sua vida, o Salmo 73. Ele começa este Salmo afirmando um princípio bíblico:

Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. (Sl. 73:1)

Depois ele prossegue dizendo-nos que, ao olhar ao seu redor, simplesmente parece que isto não é verdade. Os justos parecem sofrer, e os perversos parecem prosperar. E enquanto os maus prosperam, eles escarnecem de Deus. Asafe está prestes a atirar a toalha, quando percebe que se ele pecar, outros irão sofrer:

Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de teus filhos. (Sl. 73:15)

Essa é a maneira como o pecado funciona. Ele não apenas tem conseqüências dolorosas para o pecador, mas também atinge muitas outras pessoas. Entre estas “outras pessoas” estão aquelas a quem mais amamos. Quando um marido ou uma esposa decidem renunciar aos votos de casamento e cometer adultério, eles causam grande sofrimento, não apenas para o seu companheiro, mas também às suas famílias. O pecado jamais satisfaz, nunca vale seu preço. Mas aqueles que pagam caro por nossos pecados muitas vezes são aqueles a quem amamos. Por amor a Deus, por amor a si mesmo, e por amor àqueles que você ama, veja o pecado como ele é, e o que ele faz. O pranto que vemos em nosso texto é parte do preço pelo pecado, de Davi. Já disse isto antes àqueles que contemplam o pecado deliberado, e agora digo outra vez àqueles de nós que talvez estejam brincando com um determinado pecado (ou persistindo nele). Ainda estou para ver o homem que escolhe pecar olhar para trás com um sorriso no rosto, como se tivesse valido a pena.

Terceiro, embora nosso texto ressalte o alto preço do pecado, ele também nos dá esperança - ele nos lembra que há uma saída. Tenho um amigo que diz: “Não tenho somente pés de barro; sou todo de barro até as axilas!” Davi também era “todo de barro até as axilas”. Mas, vejamos o contraste que o autor faz entre Davi e Saul. Tanto um quanto outro se meteram em sérias complicações, situações que parecem sem esperança. Tanto um quanto outro estão profundamente angustiados, a ponto de perderem as forças. Quando Saul sai, ele sai “à noite”. Quando Davi deixa os filisteus, é “de manhã”. É como se o escritor quisesse que percebamos as diferenças entre ambos, até no meio das semelhanças.

A última parte do verso 6 é uma pista importante, não apenas para a diferença entre Davi e Saul, mas para a fonte desta diferença: “porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus” (verso 6).

Saul vai consultar uma feiticeira; Davi se fortalece no Senhor seu Deus. Eis a diferença. Saul parece nunca se arrepender, nunca ter um coração para Deus. Davi tem mesmo um coração para Deus e verdadeiramente se arrepende. Ele, como a maioria de nós, descobre seus momentos mais importantes nos tempos de sofrimento e tristeza, nas épocas negras de sua vida. Mas, no seu dia mais negro, quando não tem mais ninguém a quem recorrer, ele recorre a Deus.

Como é que ele faz? Como ele se fortalece no Senhor seu Deus? Devemos observar que o autor nos dá muito poucos detalhes. Ele não nos dá uma fórmula, uma série de passos infalíveis. Vivemos em dias em que as pessoas querem uma solução rápida com cura garantida e, muitas vezes, seguindo uma série de passos visivelmente planejados - uma fórmula. Numa análise final, não creio que a vida cristã seja vivida por meio de fórmulas, mas por verdades e princípios. Há faça e não faça, mas isto não é uma fórmula. Observemos que Davi encontra sua força espiritual no Senhor seu Deus.

Tendo dito que aqui não há nenhuma fórmula, o que realmente encontramos são dicas que podem ser úteis àqueles que desejam se fortalecer em Deus. Podemos nos recordar de um episódio anterior quando Jônatas ajudou no fortalecimento de Davi no Senhor:

“Vendo, pois, Davi que Saul saíra a tirar-lhe a vida, deteve-se no deserto de Zife, em Horesa. Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi, a Horesa, e lhe fortaleceu a confiança em Deus, e lhe disse: Não temas, porque a mão de Saul, meu pai, não te achará; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo, o que também Saul, meu pai, bem sabe. E ambos fizeram aliança perante o SENHOR. Davi ficou em Horesa, e Jônatas voltou para sua casa.” (I Sam. 23:15-18)

Se Davi se fortaleceu no Senhor, é possível inferirmos que, da mesma forma que Jônatas fez anteriormente, Davi deve ter se recordado do caráter e das promessas de Deus. Se Deus é quem é, em Seu caráter (Seus atributos), podemos estar certos de que aquilo que Ele promete, Ele faz. Paulo coloca isto desta forma:

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. (Fp. 1:6)

“e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.” (II Tm. 1:12, ver também Judas 1:24)

Outro fator relacionado ao fortalecimento de Davi vem logo depois do verso 6:

Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar a trouxe a Davi. Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás. Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde os retardatários ficaram. Davi, porém, e quatrocentos homens continuaram a perseguição, pois que duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.” (I Sam. 30:7-10)

Davi não só se fortalece no Senhor, ele consulta o Senhor. Ele busca a Deus. Ele busca conhecer a vontade de Deus nesta situação, e depois ele a coloca em prática. Como Davi é diferente de Saul a este respeito. A força de Davi, então, parece vir da percepção de quem Deus é, do que Ele promete, e do que Ele quer que façamos. Davi talvez tenha se metido, e aos outros, numa grande confusão, devido a uma decisão imprudente, mas ele também recorre a Deus, em quem ele confia.

Quarto, esta passagem tem muitas coisas encorajadoras a nos ensinar sobre Deus. Este texto nos relembra da fidelidade de Deus, mesmo quando necessitamos de fé.

se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo.” (II Tm. 2:13)

Deus ungiu Davi como futuro rei de Israel. Deus ia cuidar para que ele fosse o futuro rei. Nem Saul, nem os israelitas infiéis, nem os reis filisteus, nem os soldados de Davi, e nem mesmo o próprio Davi poderiam impedir que ele se tornasse rei de Israel. Os propósitos e as promessas de Deus são certos.

Deus não é somente fiel, como vemos em nosso texto, Ele também é misericordioso. Davi simplesmente se meteu na maior confusão. Seria muito fácil dizermos que já que ele fez a bagunça, que limpe tudo. Como seria bom deixá-lo cozinhando lentamente em seu próprio molho. Deus realmente permite que ele sinta as dolorosas conseqüências de seu pecado, mas Ele não tem prazer em fazer isso; Ele tem prazer em mostrar misericórdia. E Ele o faz salvando Davi, seus homens e todas as suas famílias e bens. Isto veremos em breve.

A soberania de Deus fica muito clara no livramento de Davi e de seus homens do serviço militar, serviço a favor dos filisteus e contra Israel. Deus usa Davi, e até mesmo seu pecado, para alcançar Seus propósitos finais. Deus não faz Davi pecar, nem desculpa seu pecado. No entanto, a soberania de Deus (controle absoluto) é tão grande que Ele pode até empregar a desobediência e os pecados dos homens para alcançar Seus propósitos. Ele usou a traição pecaminosa dos irmãos de José para salvar a nação de Israel. E assim Deus usa homens pecaminosos em nosso texto. Ele usou Davi, como vimos. Ele usa a ingenuidade de um rei como Aquis e o bom senso e a perspicácia de quatro comandantes filisteus. Ele usará até um ataque amalequita para um bom propósito. Amo o que Davis diz sobre Deus usar Seus inimigos:

“Vejamos outra vez. Que instrumentos Yahweh usa para salvar Seu servo deste dilema? Os oficiais em comando do exército filisteu. Esta não foi a primeira vez que Yahweh transformou inimigos em salvadores (ver 23:19-28). Os filisteus se tornam tais servos, inconscientes, mas eficazes! Quem foi Seu conselheiro?! (cf. Isaías 40:13-14)”

“O que nosso texto realmente nos ensina é que mesmo em nossos ataques de insensatez e fraqueza, ainda não somos páreo para Deus, que tem milhares de maneiras inimagináveis de salvar Seu povo - até pela boca dos filisteus. Ele pode fazer o inimigo nos servir como amigo. Ele não só nos prepara a mesa na presença de nossos inimigos, mas também tem o talento especial de fazer com que os inimigos preparem a mesa!”

Penso que às vezes inconscientemente supomos que Deus seja um Deus salvador somente na cruz do Calvário. O fato é que Deus foi e ainda é um Deus salvador. Ele salva os homens desde o início da história. Deus é um salva-vidas. Ele salvou Noé e sua família do dilúvio (Gênesis 6-9). Salvou Ló e suas filhas de Sodoma e Gomorra (Gênesis 19). Salvou Jacó e sua família da extinção, como uma nação separada (Gênesis 37 e ss). Salvou os israelitas de faraó, e da mão perversa de muitos outros reis e nações. Salvou constantemente Israel dos inimigos à sua volta nos dias dos juízes. Se Deus precisasse de prática para salvar os homens (o que, com toda certeza, Ele não precisa!), Ele já seria muito bom a esta altura.

Mas, todos estes livramentos do passado não se comparam ao grande livramento final que Ele trouxe aos homens na morte sacrificial, no sepultamento e na ressurreição de Jesus Cristo. Ele morreu por nossos pecados, suportando a nossa punição. Ele não só tomou nossos pecados sobre Si, Ele nos ofereceu Sua justiça para que pudéssemos ter a vida eterna e habitar com Ele por toda a eternidade. E Deus realizou isto por meio da traição pecaminosa de Judas, do ciúme e das maquinações dos líderes religiosos judaicos, da cooperação de um governador gentil romano (que procurava ser politicamente correto), e da passividade (e até mesmo participação) do povo. Ele fez isto para que homens pecaminosos pudessem ser perdoados de seus pecados e receber a justiça que Ele oferece na pessoa de Jesus Cristo.

Você já foi salvo? Já percebeu a enrascada em que seu pecado o colocou? Deus providenciou “uma saída” de uma forma que ninguém jamais poderia esperar ou pedir - por meio do sangue de Jesus Cristo, derramado na cruz do Calvário. Tudo o que você precisa fazer é receber este perdão, como um presente da graça e da misericórdia de Deus. Que coisa maravilhosa é ser liberto e perdoado, ser salvo por Deus. A Deus seja toda a glória.

From the series: 1 Samuel (Portuguese)
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27. Da Tragédia ao Triunfo (I Samuel 30:1-31)

Introdução

Lembro-me da história de um livro fascinante intitulado Shantung Compound, escrito por Langdon Gilkey. O livro descreve como o confinamento afetou a vida das pessoas que foram mantidas em Shantung Compound, um antigo acampamento de igreja mal-adaptado para alojar todos estrangeiros ocidentais que residiam na China durante a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial. Homens de negócio, diplomatas, professores, missionários e muitos outros ficaram confinados juntos em alojamentos precários. Não era bem um campo de prisioneiros; parecia mais uma prisão de segurança mínima. As condições eram tais que Shantung Compound revelou o que havia de pior, e de melhor, daqueles que ali se encontravam. O autor do livro era um dos que ficaram nestas instalações.

Quando o Natal se aproximava, um veículo da Cruz Vermelha chegou lotado de suprimentos para os reclusos de Shantung Compound. Alguns poderiam pensar que a distribuição desses suprimentos seria uma coisa fácil, que só precisariam dividir o número de pacotes pelo número de pessoas. Se fossem 600 pessoas e 1200 pacotes, cada pessoa receberia 2 pacotes. No entanto, esta tarefa simples e “automática” acabou se transformando num enorme problema. Veja, alguns americanos perceberam que os pacotes eram da Cruz Vermelha Americana, e consideraram que haviam sido designados especificamente para eles, americanos. Eles argumentaram que os pacotes deveriam ser igualmente divididos entre eles. Se alguém quisesse dividir seus presentes com os outros, era um direito seu.

No capítulo 30 de I Samuel acontece algo muito parecido. Davi e seus homens perseguem um bando de salteadores amalequitas que havia saqueado e destruído Ziclague e levado suas esposas, filhos e bens. Eles foram guiados até o acampamento principal destes salteadores, onde os destruíram completamente, recuperando tudo o que haviam perdido. Somado a isso, os despojos desta vitória incluem tudo o que os amalequitas haviam tomado das cidades israelitas e filistéias que foram invadidas e saqueadas além de Ziclague. Alguns dos soldados de Davi não estavam dispostos a dividir estes despojos com os 200 homens que ficaram para trás com as bagagens.

São muitas as lições de nosso texto. Aquilo que à primeira vista parece ser uma história “antiga e longínqua” tem relevância e aplicação direta às nossas próprias vidas hoje. Uma vez que esta mensagem está sendo pregada no domingo de Páscoa, com certeza você deve estranhar porque não estou ensinando uma mensagem de Páscoa. Minha resposta seria que nosso texto é uma mensagem de Páscoa. Na verdade, ouso dizer que há em nosso texto muito mais do que apenas coisas relativas à Páscoa. Talvez alguns estejam duvidando, por isso, peço que mantenham suas mentes abertas para aquilo que o Espírito de Deus nos ensina neste texto.

O Cenário
(30:1-6a)

“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado; tinham levado cativas as mulheres que lá se achavam, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão-somente os levaram consigo e foram seu caminho. Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos. Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar. Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita. Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas.”

Não demora muito para que a notícia de que os filisteus estão em indo direção norte travar uma grande batalha contra Israel se espalhe. Os amalequitas, que pareciam fazer dos ataques às vilas e cidades filistéias e israelitas do sul um meio de subsistência (não muito diferente de Davi), não poderiam ter recebido notícia melhor. Uma vez que os homens em idade de combate tinham ido para guerra, poucos ou nenhum foi deixado prá trás para defender as cidades israelitas e filistéias, incluindo Ziclague. Enquanto Davi e seus homens estão sendo passados em revista junto com o exército filisteu (29:2), os amalequitas estão saqueando Ziclague. Os salteadores levam todo o gado e todos os bens, raptam todas as mulheres e crianças, e queimam totalmente a cidade.

Quando Davi e seus homens se aproximam de Ziclague, ficam horrorizados ao ver que a cidade fora destruída e suas famílias levadas cativas. Ninguém foi morto, mas tudo o que tinha vida foi levado. É de pouco conforto que suas famílias ainda estejam vivas. Cada um imagina o que esteja acontecendo (ou que acontecerá em breve) com sua esposa e filhos. Na melhor das hipóteses eles se tornarão escravos, para um trabalho duro e tratamento cruel. Na pior... eles não queriam nem pensar. As duas esposas de Davi também foram levadas.

Estes 600 guerreiros estão muito angustiados pelo que aconteceu à sua cidade e às suas famílias. Eles choram até não terem mais lágrimas. Então, começam a pensar sobre como isto veio a acontecer. Fora idéia de Davi trazê-los para território filisteu (27:1-4); foi pedido seu que vivessem nesta cidade remota (27:5-6), e foi ele quem os levou a lutar com os filisteus, deixando suas famílias vulneráveis a esse ataque. Alguns estão tão furiosos que falam em apedrejar Davi.

Perseguição Intensa; Rastro Frio
(30:6b-10)

Porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus. Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar a trouxe a Davi. Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás. Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde os retardatários ficaram. Davi, porém, e quatrocentos homens continuaram a perseguição, pois que duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.”

Conforme Davis demonstra, desde o capítulo 23 Davi não busca a vontade de Deus por meio da estola sacerdotal, e desde o capítulo 26 ele não menciona o nome do Senhor. Como sempre, a tragédia faz o coração de Davi se voltar para Deus. Este capítulo é outro de seus melhores momentos. Primeiro ele se fortalece no Senhor, depois recorre a Ele para uma orientação específica a respeito de suas famílias e daqueles que os raptaram. Davi pede ao Senhor que revele se ele deve, ou não, perseguir aqueles que levaram seus entes queridos. Se persegui-los, ele os alcançará? A resposta a estas perguntas é “Sim!” Deus lhe assegura que ele não só alcançará o bando, mas também recuperará tudo o que foi levado.

Precisamos nos lembrar das condições físicas e mentais destes homens. Eles acabam de viajar quase 60 milhas de Afeca até Ziclague, sem dúvida apertando o passo para chegar logo em casa. Eles podem descansar em Ziclague quando chegarem, ou assim eles pensam. Então, ao encontrar seus entes queridos seqüestrados, seu gado roubado e sua cidade destruída pelo fogo, eles se cansam de tanto chorar (verso 4); agora eles saem em perseguição de seus inimigos. O grupo de salteadores tem uma vantagem considerável, e seu rastro está esfriando. Eles podem facilmente desaparecer no deserto. Se devem ser alcançados a tempo de salvar seus entes queridos, Davi e seus homens precisam andar logo.

Imagino que Davi e seus homens estejam marchando a passos largos. À medida que o tempo passa e o calor do sol os afeta, eles vão ficando cansados. Quando chegam ao ribeiro de Besor, um terço dos homens simplesmente não agüenta prosseguir. Eles têm motivos de sobra - suas famílias estão em perigo e eles querem estar lá para resgatá-los - mas, simplesmente, não têm forças para continuar. Duzentos homens desmoronam ali próximo ao ribeiro, incapazes de sair do lugar. Mesmo que sigam em frente, só retardarão os demais. Davi e os outros 400 homens prosseguem, deixando a maior parte da bagagem para trás com os que ficam, a fim de se moverem mais rápido, gastando menos energia.

Um Homem à Beira da Morte Dá Vida Nova à Perseguição de Davi
(30:11-15)

“Acharam no campo um homem egípcio e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água. Deram-lhe também um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas, e comeu; recobrou, então, o alento, pois havia três dias e três noites que não comia pão, nem bebia água. Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu e de onde vens? Respondeu o moço egípcio: Sou servo de um amalequita, e meu senhor me deixou aqui, porque adoeci há três dias. Nós demos com ímpeto contra o lado sul dos queretitas, contra o território de Judá e contra o lado sul de Calebe e pusemos fogo em Ziclague. Disse-lhe Davi: Poderias, descendo, guiar-me a esse bando? Respondeu-lhe: Jura-me, por Deus, que me não matarás, nem me entregarás nas mãos de meu senhor, e descerei e te guiarei a esse bando.”

O rastro tinha esfriado. Parece que Davi e seus homens nem mesmo sabem quem são os salteadores (é dito no verso 1, mas Davi e seus homens parecem ter conhecimento desta informação somente nos versos 13 e 14). Eles devem estar se perguntando que direção devem tomar. Nesse momento crucial, “acontece” justamente deles cruzarem com um homem que tinha sido deixado semimorto naquela região. O homem está tão fraco que não consegue falar. Para alguns pode parecer ”perda de tempo” o fato Davi e seus homens pararem e prestarem socorro a este homem. Se é por absoluta compaixão (fazendo de Davi uma espécie de bom samaritano), seus esforços são bem recompensados. Pão e água, um pedaço de pasta de figo e uvas passas trazem este homem de volta à vida, uma vez que ele passou três dias e três noite sem comer, nem beber.

Quando finalmente o homem tem força suficiente para falar, Davi começa a lhe fazer perguntas. As respostas devem animar o espírito de Davi e seus homens, pois o homem conta que é egípcio, escravo de um amalequita. Seu senhor o deixou três dias atrás porque ele estava doente e atrasando os demais. Seu senhor o deixou ali para morrer, sem água e sem comida. Ele, então, diz a Davi que estava com o bando de amalequitas que saqueou Ziclague.

Davi pergunta ao jovem se ele estaria disposto a guiá-los até o acampamento amalequita. Normalmente, tenho certeza que ele não faria uma coisa dessas. Mas, uma vez que seu senhor e os outros o deixaram para trás para morrer, ele está disposto a cooperar, em troca da garantia de Davi de que não será morto ou devolvido a seu senhor. Este servo semimorto dá nova vida à busca de Davi pelo bando amalequita e seus prisioneiros.

Resgatados
(30:16-20)

“E, descendo, o guiou. Eis que estavam espalhados sobre toda a região, comendo, bebendo e fazendo festa por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de Judá. Feriu-os Davi, desde o crepúsculo vespertino até à tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só quatrocentos moços que, montados em camelos, fugiram. Assim, Davi salvou tudo quanto haviam tomado os amalequitas; também salvou as suas duas mulheres. Não lhes faltou coisa alguma, nem pequena nem grande, nem os filhos, nem as filhas, nem o despojo, nada do que lhes haviam tomado: tudo Davi tornou a trazer. Também tomou Davi todas as ovelhas e o gado, e o levaram diante de Davi e diziam: Este é o despojo de Davi.”

Não havia mais necessidade de tentar seguir o rastro do bando de salteadores. Graças ao escravo egípcio que eles reanimaram, agora seriam guiados ao acampamento amalequita. Davi e seus homens chegam ao acampamento, encontrando os amalequitas totalmente vulneráveis. Afinal, eles supõem que os filisteus (junto com Davi e seus homens), e os israelitas, estejam bem longe, em guerra na região norte. Quem viria atrás deles? Eles festejam a missão bem-sucedida; agora estão em casa, onde podem se esbaldar com o resultado de suas vitórias. Os amalequitas estão espalhados sobre toda a região (verso 16), o que dá a entender que não estejam agrupados, o que seria a melhor posição defensiva (nos filmes de faroeste as carroças sempre andavam em círculos quando estavam sendo atacadas, colocando as mulheres e as crianças no meio). Se a expressão “divida e conquiste” é verdadeira, esse pessoal já tinha se dividido quando se espalhou. Além do mais, eles estão comendo, bebendo e dançando. Em resumo, estão tão bêbados que mal conseguem ficar em pé, quanto mais lutar.

Se este for o acampamento principal dos amalequitas, então há muito mais pessoas do que apenas o bando de salteadores. Portanto, Davi e seus homens estão em grande desvantagem. No entanto, devido ao estado de embriaguez dos amalequitas, eles são presas fáceis. Davi e seus homens atacam, um massacre que dura várias horas. Nenhuma só pessoa escapa, exceto 400 homens que fogem em seus camelos. Todas as pessoas e tudo o que os amalequitas tinham tomado de Ziclague é recuperado. Davi e seus homens não sofrem absolutamente nenhuma perda (exceto por aquilo que já fora queimado em Ziclague). As duas esposas de Davi estão entre os reféns resgatados. O autor é muito específico. Nada está faltando. Davi traz tudo de volta. Exatamente como Deus mostrou, eles alcançaram os inimigos e prevaleceram. Esta missão não poderia ter sido mais bem-sucedida.

Dividindo os Despojos ou Quase Despojando a Vitória
(30:21-31)

“Chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados que estavam, não o puderam seguir e ficaram no ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; Davi, aproximando-se destes, os saudou cordialmente. Então, todos os maus e filhos de Belial, dentre os homens que tinham ido com Davi, responderam e disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo que salvamos; cada um, porém, leve sua mulher e seus filhos e se vá embora. Porém Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o que nos deu o SENHOR, que nos guardou e entregou às nossas mãos o bando que contra nós vinha. Quem vos daria ouvidos nisso? Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais. E assim, desde aquele dia em diante, foi isso estabelecido por estatuto e direito em Israel, até ao dia de hoje. Chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis para vós outros um presente do despojo dos inimigos do SENHOR: aos de Betel, aos de Ramote do Neguebe, aos de Jatir, aos de Aroer, aos de Sifmote, aos de Estemoa, aos de Racal, aos que estavam nas cidades dos jerameelitas e nas cidades dos queneus, aos de Horma, aos de Borasã, aos de Atace, aos de Hebrom e a todos os lugares em que andara Davi, ele e os seus homens.”

A vitória é conquistada e tudo o que havia sido perdido foi recuperado. Na realidade, Davi e seus homens não recuperaram só o que haviam perdido, eles conquistaram também uma porção de coisas mais. Eles conquistaram os despojos que os amalequitas haviam obtido em suas invasões às cidades filistéias e israelitas. Estes despojos agora representam o principal problema de Davi. Alguns dos 400 homens que derrotaram os amalequitas estão se recusando a reparti-los com os 200 homens que ficaram para trás.

Só uma parte dos 400 homens que lutaram contra os amalequitas é de homens ”maus e filhos de Belial”. Nem todos são assim, só alguns deles. Mas, estes que são maus e filhos de Belial parecem estar assumindo o comando. O raciocínio deles é: somente 400 homens lutaram de verdade; os outros 200 não tiveram parte na batalha ou na vitória conquistada. Aos 200 deveria ser devolvido aquilo que perderam. Mas não deveriam receber uma parte dos despojos extras da guerra, dos despojos que os amalequitas tomaram dos filisteus e israelitas. Estes despojos deveriam ser repartidos só entre os 400 guerreiros. A recusa destes homens em partilhar os despojos com os outros 200 parece ter como base algumas suposições errôneas:

(1) Eles presumem que os despojos sejam seus para repartirem como quiserem, e deixam bem claro que se recusam a repartir com os demais os “seus” despojos.

(2) Eles presumem que os outros 200 não tiveram parte na batalha ou na vitória, só porque não estavam com eles quando lutaram e venceram os amalequitas.

(3) Eles presumem que a vitória foi deles, algo pelo que pudessem levar o crédito, e pelo que devessem esperar uma recompensa.

(4) Estes homens não estão pedindo uma parte maior dos despojos, eles estão exigindo. Eles não estão buscando a orientação de Davi, ou estão usurpando sua liderança, ou, pelo menos, tentando.

Davi não deixa que prevaleçam. Ele se dispõe a tratar de suas exigências e administra tudo muito bem. Ele se recusa a permitir que façam as coisas do seu jeito, enquanto lhes mostra por que estão errado em sua exigência. Veja o raciocínio de Davi:

(1) Eles não merecem estes despojos, como supõem. Tanto a vitória quanto os despojos são um presente gracioso de Deus (e, desta forma, sem méritos). Deus deu os despojos da mesma forma que deu a vitória. Como, então, eles podem fazer esta reclamação como se merecessem alguma coisa?

(2) A vitória é do grupo todo, e o grupo é bem maior do que os 400 homens. Quando Davi emprega a palavra nos, parece claro que ele inclui todos os 600 homens. “Deus nos deu a vitória”, ele argumenta, “para todos os 600 homens, não apenas para 400”.

(3) Os 600 homens de Davi são todos irmãos (verso 23). Não é somente uma porção de indivíduos; é uma irmandade. Estes homens são uma família. Quando o bando amalequita retorna a seu acampamento, todo mundo celebra a vitória; todo mundo partilha os despojos. Os homens de Davi devem fazer menos?

(4) A batalha é uma ação coletiva, cada membro desempenhando um papel diferente. Só porque 200 ficaram para trás não significa que não tiveram parte na vitória. Eles ficaram com as bagagens (pelo que entendo, a bagagem de todos os 600 homens) e, desta forma, também contribuíram para a vitória. A vitória é uma vitória coletiva, e assim, cada homem deve ter uma parte igual dos despojos.

Davi se recusa a permitir que estes “homens maus e filhos de Belial” estraguem a vitória que Deus lhes deu. Ele cuida para que os despojos sejam igualmente distribuídos entre todos os 600 homens. No entanto, eles não ficam com todos os despojos desta vitória. Nos versos 26 a 31, vemos que Davi faz bom uso de uma parte dos despojos partilhando-a com algumas cidades israelitas que ele e seus homens costumavam freqüentar.

Estas cidades talvez tivessem sido atacadas pelos amalequitas e sofrido algumas perdas. Talvez alguns despojos sejam deles.

(1) Estas cidades são aquelas que Davi e seus homens freqüentavam.

(2) Estas são algumas das cidades que Davi deu a entender a Aquis que ele mesmo tinha invadido e saqueado.

(3) Alguns homens destas cidades são anciãos; homens de considerável influência.

(4) Alguns homens destas cidades são amigos de Davi.

(5) Estas cidades são israelitas; na verdade, estão no território de Judá. Portanto, são parentes de Davi.

(6) Muito em breve estes beneficiários da generosidade de Davi serão os primeiros a abraçá-lo como seu rei.

A decisão de Davi tem um longo alcance, muito maior do que ele possa imaginar neste momento. Muitas decisões têm longo alcance. Ele jamais imaginou, por exemplo, qual seria o resultado de fugir para o território filisteu. Ele jamais imaginou as conseqüências de enfrentar Golias e matá-lo. No calor do momento, Davi tinha uma decisão a tomar. Deveria fazer a vontade de uns poucos homens maus e filhos de Belial, deixando-os dividir os despojos só entre os 400? Ou deveria ficar firme naquilo que é certo? Davi escolhe ficar firme naquilo que é certo, e nesse processo, ele estabelece um princípio que subsistirá além dele. O bem ou o mal que escolhemos estabelece um precedente para o futuro.

Conclusão

Lição um: A Providência de Deus. Como a providência de Deus é espantosa! Ela é vista muitas vezes e com muita clareza em I Samuel, e agora em nosso texto. A providência de Deus é Sua mão “invisível” nos acontecimentos da vida, assegurando e alcançando Seus propósitos e Suas promessas. Davi fora escolhido e ungido como o próximo rei de Israel. Deus cuidou dele e o protegeu, e a seus homens, de formas incríveis, formas que, necessariamente, não reconheceríamos como providência de Deus na época em que aconteceram. Lemos que Davi estava pronto e disposto a acompanhar Aquis e seus comandantes na batalha. Ele parece ficar muito desapontado ao ser rejeitado pelos comandantes filisteus e mandado de volta prá Ziclague. Contudo, agora vemos que foi isto que contribuiu para que ele e seus homens atacassem os amalequitas e recuperassem tudo o que haviam perdido.

Deus orientou Davi e seu pequeno exército por meio de um sacerdote e de uma estola sacerdotal, guiando-os na perseguição aos amalequitas, garantindo que eles os alcançassem e resgatassem tudo o que haviam perdido. Mas, além desta orientação, Deus providenciou para que um escravo egípcio de um senhor amalequita ficasse tão doente que tivesse que ser deixado para trás para morrer. Assim, este homem seria encontrado e reanimado por Davi e seus homens. Este homem, então, serviria como guia para dirigi-los ao acampamento amalequita.

Mas espere, tem mais! Na providência de Deus, aparentemente o bando amalequita tinha atacado Ziclague por último. Eles não tinham saqueado só Ziclague, mas também muitas outras cidades filistéias e israelitas. Davi e seus homens não recuperaram somente seus bens, mas também os bens de muitas outras pessoas. Davi dividiu estes despojos com uma porção de cidades israelitas, caindo assim nas graças de seus parentes. Ziclague foi queimada, a única perda irrecuperável. Contudo, esta “perda” foi útil para fazê-lo retornar mais rápido ao território de Judá, onde ele foi constituído Rei de Judá. “Todas as coisas realmente cooperam para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundos o Seu propósito.” (Romanos 8:28)

Lição 2: O Princípio da Graça. Este princípio é o mais importante, pois ele nos obriga a repensar e revolucionar nosso ministério como membros do corpo de Cristo. A vitória de Davi e seus homens sobre os amalequitas, na realidade, foi uma vitória de Deus. É claro que os homens desempenharam seu papel, mas, em última análise, foi uma vitória de Deus. Que os homens não ousem tomar o crédito (e as recompensas) por aquilo que Deus faz. Este não é um ponto de somenos. Lembra-se do que aconteceu a Herodes quando ele permitiu que os homens o louvassem como se fosse um deus? Ele foi ferido por Deus e morto, porque não deu a glória a Deus (ver Atos 12:20-23). Jesus ensinou “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21). Não devemos tomar o crédito das coisas que são de Deus, mas dar a glória a Ele. Paulo ensinou claramente este princípio quando aplicado aos dons e ministérios espirituais que Deus dá aos membros individuais do corpo de Cristo:

“Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (I Co. 4:7)

Graça significa não termos de fazer alguma coisa para alcançar o perdão, a salvação e as bênçãos de Deus. Tudo o que temos a fazer é receber aquilo que Deus, em graça, nos dá. Mas graça também significa que quando recebemos o que não merecemos, não podemos ousar levar o crédito por isso, como se o merecêssemos. O princípio da graça significa que os homens não levam o crédito por aquilo que Deus faz.

Lição 3: O Princípio da Pluralidade (ou do trabalho em equipe). Ainda que Deus tenha lhes dado a vitória, Davi e seus homens têm um papel muito importante da batalha. Todos eles tomam parte na batalha. Os 200 homens que ficam para trás guardam a bagagem. Se eles tivessem ido junto, teriam retardado os demais, pois estavam muito cansados. Se não tivessem guardado a bagagem, os outros 400 teriam arriado. Os que ficaram para trás agiram no melhor interesse de todos os 600. Mas cada um dos 600 homens contribuiu para a causa. Foi um esforço de equipe.

Havia muitas divisões na igreja de Corinto. Algumas parecem ter como fundamento o fato de que os coríntios possuíam diferentes dons espirituais. Alguns destes dons eram mais valorizados do que outros. Aqueles que possuíam dons considerados mais importantes ficaram orgulhosos, desprezando os que supostamente tinham dons menores. E aqueles que tinham dons supostamente menores começaram a pensar que não eram necessários e talvez até não fizessem parte do corpo de Cristo (I Coríntios 12). Paulo mostra que todos os dons são dons da graça, para que ninguém se glorie naquilo que lhe foi dado. Ele também enfatiza que cada dom tem um papel importante, e todos são necessários. A igreja é o corpo de Cristo e cada membro individual tem um dom ou dons que desempenham uma função vital no corpo. Cada membro do corpo depende dos outros membros. Ninguém é sem importância. Todos fazem parte da equipe. O trabalho de nosso Senhor - o trabalho do corpo de Cristo, a igreja - só pode ser desempenhado como parte de um todo, como membros de uma equipe. Aqueles que pensam de forma individualista estão errados.

Lição 4: Lições Sobre a Páscoa. Mencionei anteriormente que esta passagem contém pelo menos uma mensagem de Páscoa. Agora é hora de fazer bom uso desta afirmação. Como nosso texto pode se relacionar com a Páscoa? Porque a Bíblia, o Velho e o Novo Testamento falam de fé, e fé bíblica é fé na ressurreição.

Para os santos do Novo Testamento, fé na ressurreição de nosso Senhor Jesus é uma parte vital, inseparável da mensagem do evangelho que cremos:

“Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10:8-10; ver I Coríntios 15:1 e ss).

É pela fé que cremos que ressuscitaremos da morte, como Cristo:

“Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda.” (I Coríntios 15:20-23)

Celebramos a Páscoa todos os anos porque sabemos destas coisas. A fé cristã é fé na ressurreição. Esta foi uma verdade para os santos do Novo Testamento. E quero lembrá-lo ainda que a fé dos santos do Antigo Testamento também foi fé na ressurreição. Sabemos que foi verdade para Abraão:

“Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Romanos 4:16-25)

Como demonstra o escritor da carta aos Hebreus, isto também foi verdade para todos os outros santos do Antigo Testamento. Todos foram salvos pela fé e não pelas obras - esta fé era fé na ressurreição:

Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade. Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou. Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda estavam para vir. Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou. Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos.” (Hebreus 11:13-22, ênfase minha).

Desde o início da história humana, Deus tem demonstrado que Ele é o doador da vida, um Deus que dá vida aos mortos:

(1) Nos dois primeiros capítulos do livro de Gênesis, vemos Deus criando a vida.

(2) Já vimos que, no que diz respeito a ter filhos, Abrão e Sarai estavam “mortos”, e, no entanto, Deus lhes deu um filho (Romanos 4:16-25). Quando Deus pediu a Abraão para oferecer seu filho como sacrifício, Abraão estava disposto a obedecer, confiando que Deus o ressuscitaria dentre os mortos (Hebreus 11:17-19).

(3) Os irmãos de José o odiavam e o colocaram numa cisterna, planejando matá-lo. Ele estava praticamente “morto”, mas Deus, providencialmente, trouxe um grupo de mercadores midianitas que o compraram como escravo. José parecia sem esperanças como escravo, e depois, na prisão, como condenado, mas Deus deu vida a este morto, por assim dizer, ao elevá-lo à segunda posição mais alta do Egito (ver Gênesis 37 e ss).

(4) Os israelitas se tornaram escravos dos egípcios e foram insultados e maltratados. Faraó expediu uma ordem para que todos os bebês do sexo masculino fossem lançados no Nilo para morrer. Moisés estava praticamente morto. E, no entanto, Deus arranjou para que a filha de Faraó o tirasse do rio, anulando, desta forma, a ordem de Faraó que determinava a morte de todos os bebês meninos hebreus. Pelo salvamento desde pequenino, Deus libertou a nação inteira do jugo do Egito, e todos os poderes que ameaçavam os israelitas foram afogados no Mar Vermelho (Êxodo 1-15).

(5) Inúmeras vezes os inimigos circunvizinhos invadiram Israel, ameaçando sua existência (vida); no entanto, Deus levantou os juízes (ver o livro de Juízes).

(6) Ana era estéril e sem filhos, mas queria desesperadamente ter uma criança: ela “estava praticamente morta” para dar à luz, no entanto, Deus lhe deu Samuel e outros filhos e filhas (I Samuel 1 e 2).

(7) Os israelitas estão em guerra com os filisteus. Eles levam a arca da Aliança com eles. Israel é derrotado, os dois filhos de Eli são mortos, Eli morre, e sua nora também: posso até ouvir um murmúrio israelita “estamos todos mortos”. Mas Deus deu nova vida à nação. Ele afligiu tanto os filisteus que eles não só devolveram a arca da Aliança, como também mandaram junto um “agrado” (isto é, ouro; ver I Samuel 4-6).

(8) Os israelitas se reúnem em Mispa para renovar sua aliança com Deus; os filisteus ouvem falar deste grande ajuntamento e presumem erroneamente que seja algum tipo de operação militar. Eles enviam um vasto exército, que cerca os israelitas. Os filisteus têm carros de ferro e lanças. Com certeza os israelitas pensam: “Estamos todos mortos!” Mas Deus envia uma tempestade elétrica e os filisteus são derrotados (I Samuel 7).

(9) Os filisteus ocupam Israel e Jônatas os provoca atacando uma de suas guarnições. Uma vasta força armada vem dar uma lição em Israel. Saul tem somente 600 homens com ele, pois o restante desertou. Muitos que ficaram também estão pensando em como escapar. Saul deve estar dizendo a si mesmo “estou perdido”. Deus usa a coragem e a fé de Jônatas para iniciar um ataque aos filisteus e depois manda um terremoto, que resulta na vitória israelita sobre os filisteus (I Samuel 13 e 14).

(10) Os filisteus vêm novamente travar batalha com Israel. Golias insulta os israelitas e seu Deus. Saul e seus homens estão mortos de medo, e ninguém quer enfrentar Golias. Os israelitas, uma vez mais, pensam “estamos mortos!” Deus lhes manda um jovem pastor, que confia em Deus e não tem medo de enfrentar Golias; por meio de Davi Deus dá nova vida a Israel (I Samuel 17).

(11) Davi e seus homens caem numa cilada preparada por Saul numa montanha do deserto de Maon. Saul e seus homens estão prontos para lançar a armadilha. Ao lermos esta narrativa não podemos deixar de pensar “estão todos mortos”. De repente, um mensageiro chega informando a Saul que os filisteus atacaram Israel e ele tem que partir. Davi e seus homens ganham nova vida (I Samuel 23).

(12) Em nosso texto, Davi e seus homens fogem para Aquis em território filisteu, procurando refúgio de Saul. Davi quase vai para a guerra contra Israel, junto com os filisteus; ou ele faz isto ou terá que se voltar contra Aquis. Parece não haver saída; então, quando Davi e seus homens são mandados de volta para Ziclague, damos um suspiro de alívio, só até sabermos que Ziclague foi invadida pelos amalequitas e que todas as famílias e seus bens tinham desaparecido. “Estão todos mortos”, dizemos a nós mesmos, “já eram”. Mas Deus dá fé, coragem e direção a Davi, e coloca um escravo semimorto em seu caminho. No fim deste capítulo aparentemente sem esperanças, Deus transforma a morte em vida.

(13) Quando Elias se escondia de Acabe, rei de Israel, ele foi sustentado por uma viúva que vivia com seu filho. Este filho ficou doente e morreu, mas, por meio de Elias, Deus trouxe a criança de volta à vida (I Reis 17:17-24). Uma ressurreição muito parecida com esta aconteceu pelas mãos de Eliseu, conforme descrito em II Reis 4.

(14) O profeta Jonas não quer obedecer a Deus e pregar o evangelho aos ninivitas; assim, ele foge de Israel e embarca num navio em direção oposta, para Nínive. Uma tormenta violenta ameaça o navio onde Jonas está, junto com a carga e a tripulação. Jonas diz à tripulação o motivo da tormenta e os convence a lançá-lo no mar. Ele afunda nas ondas pela última vez e nós, junto com ele, dizemos, “morreu”. Mas, de repente, um grande peixe aparece, traga Jonas, e depois o vomita em terra seca. Isto, como o Próprio Senhor notou, é um tipo de Sua ressurreição (ver Jonas, Mateus 12:38-40).

(15) Daniel e seus três amigos são hebreus cativos vivendo na Babilônia. Eles estão determinados a servir a Deus, mesmo que isso signifique desobedecer o rei mais poderoso de sua época. O rei coloca os três amigos de Daniel numa fornalha ardente e lança Daniel numa cova de leões: “Estão mortos”, dizemos a nós mesmos. Mas Deus dá aos três homens uma companhia na fornalha e impede que sejam machucados pelas chamas e pelo calor. Ele fecha a boca dos leões, que normalmente teriam devorado Daniel. Deus ama dar vida àqueles que estão praticamente mortos. No Antigo Testamento vemos que é assim que Ele tem feito desde o princípio da história do homem.

A mesma coisa acontece no Novo Testamento. Deus está constantemente trazendo vida da morte:

(1) Isabel e seu marido estão velhos e não podem ter filhos. Deus lhes dá um filho, a quem Zacarias chama de João. Deus traz vida da morte.

(2) Uma jovem virgem chamada Maria está comprometida com um homem chamado José, mas ainda não é casada com ele. Ela jamais teve relações sexuais com um homem. Pelo poder do Espírito Santo, Deus faz com que fique grávida do Messias prometido. Deus traz vida de uma morte virtual.

(3) Uma viúva da cidade de Naim tem apenas um filho, que morre e está sendo levado para o enterro. Ele está morto, literalmente. Para os que estão à espera, não há esperanças. Tudo acabou para o rapaz. E, no entanto, Jesus pára o funeral e ordena ao jovem que se levante, o que, com toda a certeza, ele faz. Jesus dá vida ao morto (Lucas 7:11-15).

(4) Lázaro é irmão de Maria e Marta, todos são amigos de Jesus. Lázaro fica gravemente doente, e Jesus deliberadamente se atrasa. Quando Jesus e seus discípulos chegam, Lázaro não está apenas morto, está no túmulo há 3 dias. Está realmente morto. Mas Jesus o chama para fora do túmulo, e ele volta à vida (João 11).

Estas e tantas outras experiências “da morte para vida” descritas no Antigo e no Novo Testamento, nada mais são do que um prelúdio da “maior” de todas, a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus de Nazaré vem ao mundo e proclama ser o Filho de Deus. Ele vive uma vida perfeita e interpreta as Escrituras do Antigo Testamento como Deus queria que fossem entendidas e praticadas. Os líderes religiosos judaicos, com a ajuda dos oficiais romanos, conspiram contra Jesus e O crucificam na cruz do Calvário. Ele é declarado morto e sepultado numa tumba. “Jesus está morto”, admitem tristemente os discípulos. Está acabado. E então, ao terceiro dia, eles encontram a tumba vazia e vêem nosso Senhor ressuscitado dos mortos. Eles jamais serão os mesmos novamente. Deus ressuscitou Jesus dos mortos.

Encontrar assuntos relacionados à ressurreição na Bíblia (Deus trazendo vida da morte) é quase como encontrar Cristo nas cartas de Paulo. A ressurreição é parte integrante da fé e das Escrituras. O que importa é: “Você já teve uma experiência pessoal da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo?” Já foi trazido da morte para a vida, ao confiar em Jesus para perdão dos seus pecados e para o presente da vida eterna? A Bíblia nos diz que todos nós estamos “mortos em nossos delitos e pecados” (Efésios 2:1), a não ser pela fé em Jesus Cristo. Nós sequer podemos agradar a Deus guardando Seus mandamentos. Precisamos reconhecer nossos pecados e o fato de que merecemos a ira eterna de Deus como justa punição para eles. Pela simples aceitação do presente da salvação por meio da vida, morte e ressurreição de nosso Senhor, nascemos de novo, experimentamos pessoalmente a ressurreição de Jesus Cristo. Daí por diante, nós vivemos; temos a vida eterna. Você já recebeu este presente de vida? É isso que é a Páscoa. O negócio de Deus é fazer homens mortos viverem pelos séculos e, com certeza, Ele pode fazer isto por você.

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:1-10)

É de vital importância que você e eu, em vida, venhamos a ter fé em Jesus Cristo, morrendo para o pecado e ressuscitando em novidade de vida, em Cristo. Mas isto não é o fim. A ressurreição é muito mais do que uma experiência de vida. Não basta celebrar a ressurreição de nosso Senhor uma vez por ano. Ela deve ser celebrada na igreja a cada semana (ver I Coríntios 11:26; Lucas 22:19; Atos 20:7). E ainda mais, a ressurreição é um meio de vida. A ressurreição deve ser vivida e experimentada todos os dias pelo cristão:

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” (Romanos 6:1-11)

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.” (Romanos 8:9-11)

Em nosso texto há mais um assunto relacionado à Páscoa que não podemos negligenciar. Ele deve ficar claro à luz das palavras de Paulo em Efésios 4:

“E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 4:7-16)

Paulo está falando sobre dons espirituais, os quais Deus dá a cada um e a todos os crentes em Jesus Cristo. Ele está dizendo que estes dons - que são a capacitação divina para o ministério no corpo e para o corpo de Cristo - são o resultado e a expressão da vitória de Cristo sobre Satanás e o pecado, através de Sua morte e, especialmente, de Sua ressurreição dos mortos. Quando Jesus derrotou Satanás e o pecado, Ele deu dons àqueles que são Seus, como manifestação de Sua vitória.

Paulo chama nossa atenção para a prática militar resultante da vitória sobre os inimigos. Ele compara os dons espirituais dados por nosso Senhor à Sua igreja aos prêmios dados pelos líderes militares a seus homens em caso de vitória. Eu lhe pergunto, onde, em toda a Bíblia, isto é expresso com maior clareza do que bem aqui neste texto? Quando Davi distribui os despojos de sua vitória sobre os amalequitas, ele está prefigurando o Rei dos reis, que deu “dons espirituais” a Sua igreja como indicação da magnitude de sua vitória.

Nosso Deus é um Deus salvador, um Deus doador da vida. E Ele dá vida àqueles que estão mortos. Não é de admirar que Ele nos salve quando ainda estamos “mortos em nossos delitos e pecados”. Não é de admirar que devamos nos considerar mortos, a fim de que Sua vida seja manifestada em nós e por meio de nós. A Deus seja a glória. Somente Ele dá vida aos mortos.

“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer.” (João 5:21)

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos;” (II Coríntios 1:8-9)

From the series: 1 Samuel (Portuguese)
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28. O Desejo de Morte de Saul (I Samuel 31)

Introdução

Nos livros de I e II Samuel, o autor conta a história de modo semelhante ao modo que as principais redes de televisão utilizam na cobertura das Olimpíadas. Uma vez que muitas competições diferentes são realizadas ao mesmo tempo, a rede não tem condições de fazer a cobertura simultânea de todas elas. Mas as maravilhas da comunicação moderna providenciaram uma solução: enquanto uma competição é transmitida ao vivo, as demais são gravadas. Depois elas são cuidadosamente intercaladas, para que a cobertura completa não pareça incoerente. Se não soubéssemos que algumas competições são videoteipe, poderíamos muito bem achar que elas acontecem na seqüência em que aparecem.

O autor de I Samuel faz algo parecido. Ele rastreia simultaneamente a vida de dois homens - Saul e Davi - os quais, na maior parte das vezes, estão em lugares diferentes. Seu interesse principal não é dispor os acontecimentos em ordem cronológica, na seqüência exata em que ocorrem, mas contar a história de forma que mostre o contraste entre Saul e Davi. É por isso que nos capítulos finais de I Samuel, vamos e voltamos entre eles e, nesse processo, a seqüência exata dos acontecimentos se perde, pois o autor não a considera importante para sua história.

Com um pouco de esforço, nestes últimos capítulos podemos perceber, em determinados momentos, a seqüência dos acontecimentos; em outros, é impossível. De qualquer forma, devemos seguir o entendimento do autor de que isto não é a chave para a compreensão do texto. Se pudermos ligar os acontecimentos da vida de Davi aos de Saul, muito bem; senão, isto não deve nos incomodar.

O que devemos nos esforçar para perceber em nosso texto é a ligação entre a história da morte de Saul e suas implicações para nós hoje. Com certeza há uma ligação muito clara entre a sua morte e a vida de alguém que lê esta narrativa escrita há tanto tempo atrás. Além disto, nosso texto levanta uma das questões morais e legais mais discutidas de nossa época. Fique comigo, portanto, enquanto tentamos compreender o significado e a mensagem desta passagem para nossa vida.

O Cenário
(31:1-3)

“Entretanto, os filisteus pelejaram contra Israel, e, tendo os homens de Israel fugido de diante dos filisteus, caíram feridos no monte Gilboa. Os filisteus apertaram com Saul e seus filhos e mataram Jônatas, Abinadabe e Malquisua, filhos de Saul. Agravou-se a peleja contra Saul; os flecheiros o avistaram, e ele muito os temeu.”

Quando Davi e seus homens se separam de Aquis e dos filisteus, estes se dirigem para norte, para Jezreel, enquanto Davi e seus homens voltam para o sul, em direção a Ziclague. Imagino que eles tenham alcançado seu destino mais ou menos ao mesmo tempo. Isto significa que Saul e o exército israelita estão lutando contra os filisteus quase na mesma hora em que Davi e seus homens estão perseguindo o bando amalequita. Pelo menos é isto que ficamos sabendo, uma vez que está escrito que Davi sabe da morte de Saul três dias após terem chegado a Ziclague, após a vitória sobre os amalequitas (II Samuel 1:1-2). Providencialmente, Deus tira Davi deste conflito, desviando sua atenção bem mais para o sul. Portanto, não é permitido que Davi lute com ou contra os filisteus. A vontade de Deus é que, nesta batalha entre Israel e os filisteus, os filisteus vençam e Saul e seus filhos pereçam.

Muitos detalhes trágicos desta batalha são omitidos. Os homens de Israel fogem ao ataque filisteu. Muitos soldados israelitas caem mortos no Monte Gilboa; agora cai por terra qualquer esquema defensivo que tenham providenciado para Saul (lembre-se de 26:5). Os filisteus começam a apertar o ataque contra Saul e seus filhos. Saul deve ter se refugiado no ponto mais alto e mais protegido do Monte Gilboa, observando com terror enquanto seus filhos tentam fazer a última linha de defesa para seu pai. A tentativa falha e os três filhos de Saul jazem mortos, enquanto os arqueiros localizam Saul e começam a usá-lo para a prática do tiro ao alvo. Nenhum dos ferimentos de Saul é fatal, embora ele não possa mais atacar, muito menos se defender. É só uma questão de tempo e Saul sabe disso.

O Último Pedido de Saul
(31:4-6)

“Então, disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada e atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me traspassem, e escarneçam de mim. Porém o seu escudeiro não o quis, porque temia muito; então, Saul tomou da espada e se lançou sobre ela. Vendo, pois, o seu escudeiro que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada e morreu com ele. Morreu, pois, Saul, e seus três filhos, e o seu escudeiro, e também todos os seus homens foram mortos naquele dia com ele.”

O “pedido” de Saul, na verdade, é uma exigência. Ele ordena que seu escudeiro desembainhe a espada e o atravesse com ela. Talvez este não seja um pedido tão incomum, tanto naquela época quanto agora. No capítulo nove do livro de Juízes, Abimeleque faz o mesmo pedido. Abimeleque é um dos muitos filhos de Gideão, embora sua mãe seja uma concubina. Ele convence seus parentes em Siquém a torná-lo seu líder, e depois mata seus 70 irmãos sobre uma pedra (versos 1-5). O relacionamento entre os líderes de Siquém e Abimeleque fica hostil, o que acaba em conflito. Abimeleque derrota os homens de Siquém e encurrala os líderes na torre da cidade. Ele está prestes a incendiá-la, quando uma mulher joga uma pedra de moinho de cima da torre e o golpeia na cabeça. Ele é mortalmente ferido e sabe que está morrendo. Para evitar o estigma de ter sido morto por uma mulher, ele ordena a seu escudeiro que desembainhe sua espada e o mate. O jovem faz o serviço para Abimeleque, e ele morre. A morte de Abimeleque está muito longe de ser nobre e não é um precedente ao qual alguém quisesse recorrer.

Saul está numa situação parecida. Uma porção de flechas dos filisteus acerta o alvo e ele fica gravemente ferido. De um jeito ou de outro, ele sabe que sua morte está próxima, e assim ordena a seu escudeiro que acabe com ele. Ele dá ao escudeiro duas razões, as quais ele parece achar que sejam incontestáveis: (1) ele não quer morrer pelas mãos de algum pagão “incircunciso”; (2) ele não quer que seus inimigos escarneçam dele (verso 4). No entanto, suas razões não são incontestáveis o bastante para seu escudeiro. Alguns poderiam esperar uma resposta do escudeiro que mencionasse o fato de Saul ser o “ungido do Senhor” (compare com II Samuel 1:14, 16). Por isso, não podemos ter certeza de que ele se recuse a agir por causa de seus princípios. No entanto, é dito que ele deixa de agir por medo. Aliás, é dito que ele tem muito medo (verso 4).

Saul está desesperado. Ele não tem forças para lutar contra os filisteus e menos ainda para se matar. Mas há uma coisa que ele pode fazer: cair sobre sua própria espada; e é o que ele faz. Quando preguei esta mensagem e cheguei a este ponto, tenho certeza de que algumas pessoas da congregação pensaram que eu tinha perdido completamente o juízo, pois joguei a cabeça para trás e comecei a rir. Vendo os olhares confusos, expliquei que não pude evitar, pois até isto Saul não consegue fazer direito. Ele errou o alvo! Você consegue imaginar a cena? Ele não erra apenas quando tenta acertar Davi com sua lança (no mínimo duas vezes), e Jônatas; agora, nem quando mira a si mesmo ele consegue acertar o alvo.

Digo isto não pelo que lemos no capítulo 31, mas pelo que lemos em II Samuel 1. Sabemos pelas palavras de um amalequita, que Saul não consegue terminar o serviço. Este jovem encontra Saul apoiado sobre sua lança (II Samuel 1:6). Saul tenta se matar e, simplesmente, não consegue fazer o serviço direito. Se Deus não permitiu que Saul tirasse a vida de Davi, Seu ungido, tampouco permitirá que ele tire sua própria vida, pois ele também é Seu ungido. Aquilo que o escudeiro não fez a Saul, ele faz a si mesmo. O escudeiro morre, deixando Saul sozinho, pelo menos por alguns instantes.

Os Efeitos da Derrota
(31:7-10)

“Vendo os homens de Israel que estavam deste lado do vale e daquém do Jordão que os homens de Israel fugiram e que Saul e seus filhos estavam mortos, desampararam as cidades e fugiram; e vieram os filisteus e habitaram nelas. Sucedeu, pois, que, vindo os filisteus ao outro dia a despojar os mortos, acharam Saul e seus três filhos caídos no monte Gilboa. Cortaram a cabeça a Saul e o despojaram das suas armas; enviaram mensageiros pela terra dos filisteus, em redor, a levar as boas-novas à casa dos seus ídolos e entre o povo. Puseram as armas de Saul no templo de Astarote e o seu corpo afixaram no muro de Bete-Seã.”

O autor de nosso texto usa uma técnica muito popular entre os escritores de filmes para televisão. Você se lembra dos filmes onde o herói está num lugar perigoso e, de repente, acontece alguma coisa horrível e deixam que o telespectador presuma o pior... durante os comerciais? No entanto, de alguma maneira, depois do intervalo comercial, descobrimos que o herói realmente não morreu conforme fomos levados a pensar. É isto que o autor faz em nosso texto. Ele deixa que pensemos que Saul deu fim a si mesmo, seguido por seu escudeiro. E então, de repente, no capítulo 1 de II Samuel, descobrimos que ele não estava realmente morto.

Um jovem amalequita vai a Davi com a coroa e o bracelete de Saul, e a história de como, afinal, ele morre. Ele vai a Ziclague informar Davi sobre a derrota de Israel para os filisteus e lhe diz que havia escapado do arraial israelita. Ele diz que encontrou Saul por acaso, e que o rei estava apoiado sobre sua espada próximo da morte, mas ainda com vida. Saul lhe pediu que se aproximasse e o matasse, e o jovem sentiu-se obrigado a fazê-lo. Ele vai, então, a Davi, achando que poderia ser recompensado. Com toda certeza Davi ficará encantado ao ouvir que seu inimigo está morto. Este é o segundo erro do dia deste jovem, e ambos lhe custam a vida.

A morte de Saul e seus filhos é uma recordação da morte de Eli e seus filhos no capítulo 4. Em ambas as ocasiões, a morte e a derrota vêm pelas mãos dos filisteus. Em ambos os casos, pai e filhos morrem no mesmo dia. Em ambas as derrotas, não morrem somente os líderes, mas também muitos israelitas. A vitória dos filisteus é uma catástrofe individual (para Saul e Eli, e para seus filhos), não uma catástrofe nacional (para Israel).

O autor de nosso texto decide claramente enfocar mais Saul do que seus filhos ou a nação de Israel. Por exemplo, não é dito como Jônatas morre, embora queiramos muito saber e embora esperemos que ele morra como o grande guerreiro que foi, lutando até o último suspiro. Antes de vermos como Saul morre, vamos fazer uma pausa para relembrar que, quando ele é morto, muitos israelitas também morrem, e muitos outros batem em retirada, conforme lemos no verso 7. Os que estão do outro do vale e daquém do Jordão (que não estão no foco do ataque filisteu) vêem a derrota de Israel e a morte de Saul e seus filhos, e sabem que não há esperanças de derrotarem os filisteus. Eles fogem, abandonando as cidades, que depois são ocupadas pelos filisteus. Esta grande derrota não reduz só o tamanho do exército de Israel, reduz o tamanho de Israel.

É importante observar que Israel, bem como Saul, estão sendo divinamente disciplinados. Você deve se lembrar que Saul foi o rei exigido pelos israelitas no capítulo 8, e que esta exigência era uma evidência de que eles tinham rejeitado a Deus como seu rei (I Samuel 8:7-8). Não é só por causa dos pecados de Saul que Israel é derrotado e muitos perecem; é também pelos pecados de Israel. Em I Samuel 12, Samuel faz uma ligação muito clara entre a conduta de Israel e seu rei e seu destino:

“Agora, pois, eis aí o rei que elegestes e que pedistes; e eis que o SENHOR vos deu um rei. Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e lhe atenderdes à voz, e não lhe fordes rebeldes ao mandado, e seguirdes o SENHOR, vosso Deus, tanto vós como o vosso rei que governa sobre vós, bem será. Se, porém, não derdes ouvidos à voz do SENHOR, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do SENHOR será contra vós outros, como o foi contra vossos pais. Ponde-vos também, agora, aqui e vede esta grande coisa que o SENHOR fará diante dos vossos olhos. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao SENHOR, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o SENHOR, pedindo para vós outros um rei. Então, invocou Samuel ao SENHOR, e o SENHOR deu trovões e chuva naquele dia; pelo que todo o povo temeu em grande maneira ao SENHOR e a Samuel. Todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao SENHOR, teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei. Então, disse Samuel ao povo: Não temais; tendes cometido todo este mal; no entanto, não vos desvieis de seguir o SENHOR, mas servi ao SENHOR de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são. Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo. Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei.” (I Samuel 12:13-25, ênfase minha).

Nos versos 8 a 10, vemos que Saul não consegue o que quer. Seu escudeiro não atende seu duplo desejo:

(1) Não ser morto por um incircunciso.

(2) Que ninguém escarneça dele (talvez como os filisteus fizeram com Sansão - Juízes 16:23-25).

O pedido de Saul não é concedido. Primeiro, ele é morto por um incircunciso. Ele não é morto por sua espada, nem pela espada de seu escudeiro. São as flechas dos filisteus (31:3) e a espada de um amalequita (II Sam. 1:9-10) que o matam. Saul realmente é morto por mãos incircuncisas. É exatamente como Deus queria que fosse e como disse que seria:

“Porque o SENHOR fez para contigo como, por meu intermédio, ele te dissera; tirou o reino da tua mão e o deu ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR e não executaste o que ele, no furor da sua ira, ordenou contra Amaleque, por isso, o SENHOR te fez, hoje, isto. O SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus.” (I Sam. 28:17-19)

Não é por mera coincidência que ele é morto pelas mãos dos filisteus (28:19) e pela mão de um amalequita (28:18). Temos aqui uma espécie de justiça poética. Saul está colhendo o que ele mesmo plantou. Ele é morto por mãos de incircuncisos porque Deus disse que seria assim que ele morreria. Não importa o quanto Saul tente mudar seu destino, ele não consegue ser bem sucedido em frustrar a vontade de Deus ou Sua palavra. Será que sua morte não é mais uma tentativa de desobedecer a Deus, um ato final de rebelião?

Tal qual o primeiro, o segundo desejo de Saul - que seus inimigos não escarneçam dele -também é negado. Primeiro, ele é atingido por uma porção de flechas dos filisteus, as quais, literalmente, drenam sua vida. Sua morte lenta e agonizante não é uma bela visão. Saul não chega ao fim com bom aspecto. Depois que ele morre, sua armadura é retirada e sua cabeça é cortada fora. Os filisteus devem realmente gostar disto. Eles, então, pegam sua armadura e sua cabeça e desfilam por suas cidades, levando-as ao templo de seu deus. Todas estas coisas zombam não só de Saul, mas de seu Deus. A afronta final a Saul é que seu corpo, junto com o de seus filhos, é fixado no muro de Bete-Seã. As afrontas sofridas por Saul em sua morte não poderiam ser piores.

Um Raio de Luz - Um Ato de Heroísmo
(31:11-13)

“Então, ouvindo isto os moradores de Jabes-Gileade, o que os filisteus fizeram a Saul, todos os homens valentes se levantaram, e caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Seã, e, vindo a Jabes, os queimaram. Tomaram-lhes os ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias.”

Esta não é uma bela visão, nem um conto de fadas com final “felizes para sempre”. Mas é como tudo termina para Saul. Para que o leitor não fique muito pesaroso pelas afrontas sofridas por Saul e pela derrota e morte que sobrevêm a Israel, o autor relata um ato muito corajoso da parte dos homens de Jabes-Gileade. Quando ouvem que Saul e seus filhos foram mortos e seus corpos foram publicamente expostos no muro de Bete-Seã, estes homens sabem o que devem fazer. Eles marcham noite adentro para Bete-Seã e depois retornam a Jabes-Gileade. É provável que a viagem de ida e volta seja de mais de 20 milhas. Eles descem os corpos do muro e os carregam todo o caminho de volta para Jabes. Lá, eles queimam os corpos e depois enterram os ossos sob um arvoredo.

O que leva os homens desta cidade a fazer aquilo que ninguém mais pensa fazer? O povo desta cidade guarda boas recordações de Saul e de seu auxílio. O episódio está descrito em I Samuel 11. Naás, o comandante dos amonitas, e seu exército sitiam Jabes-Gileade e exigem sua rendição. No entanto, Naás exige bem mais do que uma simples “rendição incondicional”. Ele insiste em vazar o olho direito de cada israelita da cidade. Os anciãos de Jabes pedem tempo para pensar e apelam para o auxílio de seus irmãos. A notícia se espalha por Israel e chega aos ouvidos de Saul, que, embora tenha sido designado rei de Israel, ainda está trabalhando em sua casa. Saul fica furioso no Espírito e dilacera uma junta de bois, enviando os pedaços a cada tribo de Israel. Ele avisa que, aquele que não aparecer para defender Jabes-Gileade também encontrará seus bois estraçalhados. 330.000 israelitas aparecem para a batalha e a cidade de Jabes é salva.

Os homens de Jabes não se esqueceram do que Saul fez por eles. Na hora da necessidade, Saul chegou com o auxílio que os salvou. Agora, na hora da necessidade de Saul, eles encontram um jeito de ajudá-lo. Os corpos de Saul e seus filhos, suspensos no muro da cidade de Bete-Seã, estão lá para serem ridicularizados. Os homens de Jabes marcham noite adentro, descem o corpo do rei e de seus filhos, e os levam de volta a Jabes, onde são enterrados - um magnífico gesto de consideração e respeito. Como a coragem de Saul frente aos amonitas em Jabes é o seu melhor momento (pelo menos em I Samuel), este é o melhor momento dos homens de Jabes.

Conclusão

Vamos agora destacar algumas lições que este texto nos reserva, tal como reservou para os antigos israelitas.

Primeiro, devemos aprender com a morte de Saul, que é o foco principal de nossa passagem. Saul morreu, tal como Deus disse que morreria. Sua morte foi exatamente no tempo previsto. Ele morre da maneira que Deus disse que seria. Ele morre nas mãos dos filisteus e de um amalequita. Saul morre de maneira totalmente coerente com a maneira que viveu. Mesmo no fim de sua vida, ele não morre como um homem de coragem. Ele não quer sofrer e pede que outros tirem sua vida e até tenta tirá-la ele mesmo.

A palavra de Deus é absolutamente fiel. Deus cumpre o que promete. Ele tratará o pecado e a rebelião com juízo; Ele tratará a confiança e a obediência com bênção. Saul é removido do trono e da vida; Davi é preservado das conspirações de Saul e logo será empossado como rei de Judá (e depois de Israel). Antes que o primeiro homem pecasse, Deus disse que a pena do pecado era a morte (Gênesis 2:16-17). Daí em diante, Deus falou claramente aos homens a respeito do pecado. Sua palavra não só define o que é pecado, ela explica nos mínimos detalhes a conseqüência do pecado - a morte (Romanos 3:23; 6:23). Deus deu a Saul tempo para se arrepender, mas ele não o fez. E, assim, sua morte ocorreu exatamente como Deus dissera. Se você ainda não confia em Cristo para a salvação, Deus está lhe dando neste momento oportunidade para arrependimento. Você pode, como Saul, escolher usar este tempo para aumentar seus pecados. Mas, esteja certo de uma coisa, seus pecados o encontrarão. O salário do pecado é a morte. Se você se arrepender, reconhecendo seu pecado e confiando em Jesus para a salvação, terá a vida eterna. Tenha certeza de que as promessas de Deus - tanto de juízo quanto de salvação - são certas. Saul nos relembra desta verdade.

Segundo, entendemos melhor nosso texto quando levamos em consideração o texto paralelo de I Crônicas 10:

“Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé.” (I Cr. 10:13-14)

Os doze primeiros versos de I Crônicas 10 são praticamente idênticos ao texto de I Samuel 31. Mas os versos 13 e 14 (acima), não. Estes versos deixam absolutamente claras muitas questões que estão implícitas em I Samuel. Numa análise final, não foram os homens que mataram Saul (quer filisteus, israelitas ou amalequitas), foi Deus. Estes versos também informam que Saul foi morto por Deus por causa de seu pecado, de seu persistente pecado. Finalmente, é dito que Saul foi morto por Deus não apenas para cumprir Suas advertências a ele, mas também para cumprir Suas promessas a Davi.

Por que o autor de I Samuel não inclui esta informação? Acho que ele crê que devamos concluir por nós mesmos. Como não chegaremos a esta conclusão, se temos como base tudo o que foi dito e feito antes deste capítulo? Mas, para os que não chegam a esta conclusão, ela é claramente afirmada num relato paralelo, para que ninguém deixe de compreendê-la.

Esta passagem enfoca diretamente um problema muito em evidência nos nossos dias e na nossa época. Deixe-me mencionar apenas um nome e o assunto ficará claro: Dr. Jack Kervorkian. O assunto é o suicídio assistido. Nas cortes e órgãos legislativos da América, Canadá e outras partes do mundo, os homens estão debatendo o suicídio assistido.

Seria muito útil à nossa reflexão se fôssemos claros na definição de suicídio assistido. Encontrei esta definição na Internet, fazendo uma pequena busca: Suicídio assistido é o ato de uma pessoa se matar intencionalmente com a assistência de outra pessoa que lhe forneça os meios ou o conhecimento para tal, ou ambos.

Suicídio assistido não é o mesmo que eutanásia. Eutanásia é tirar a vida de outra pessoa, sem que ela peça ou consinta com isto. O suicídio assistido é iniciado e solicitado por alguém que deseja morrer. Suicídio assistido não é permitir que a morte siga seu curso natural, recusando medidas especiais. Suicídio assistido é causar a morte de outra pessoa, tomando medidas especiais.

Saul pede o suicídio assistido. Nosso texto deixa claro que ele está errado. Ele está errado porque está tentando minimizar o sofrimento causado pelo julgamento divino. Está errado porque está tentando alterar os meios do julgamento divino. Ele quer morrer de maneira diferente daquela predita por Deus. Ele está errado porque está tentando matar o ungido do Senhor. Tal como era errado para qualquer outro fazer mal ao rei (como Davi ou o jovem amalequita), também é errado para o próprio rei. E, do mesmo modo, é errado para o escudeiro ou para o jovem amalequita. O amalequita pagou por seu pecado com a própria vida. Nosso texto não sanciona o suicídio assistido. Tanto em Juízes 9 quanto aqui, esta não é maneira de lidar com o sofrimento, mesmo que nos dois casos a morte seja iminente.

É importante reconhecer que a hipocrisia de Saul é evidente nas duas vezes em que pede para ser morto, primeiro ao escudeiro e depois ao amalequita. Vamos colocá-las lado a lado e compará-las:

Então, disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada e atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me traspassem, e escarneçam de mim. Porém o seu escudeiro não o quis, porque temia muito; então, Saul tomou da espada e se lançou sobre ela. (I Sam. 31:4)

Então, me disse: Arremete sobre mim e mata-me, pois me sinto vencido de cãibra, mas o tino se acha ainda todo em mim. (II Sam. 1:9)

O segundo pedido de Saul revela a hipocrisia do primeiro. O primeiro é feito ao escudeiro, que, com toda certeza, é israelita. Ele não quer ser morto por um incircunciso. No entanto, ele pede a um amalequita (um gentil incircunciso) que o mate. A verdadeira razão para Saul querer ser assistido em seu suicídio é dada no segundo pedido: ele não quer sofrer. Ele quer morrer para por fim à dor, para acabar com seu sofrimento. Indo direto ao assunto, ele está mais interessado em evitar o sofrimento do que em obedecer a Deus (não fazer mal a Seu ungido). Da mesma forma que Saul estava disposto a matar Davi por causa da dor que este lhe causava, agora ele está disposto a se matar por causa da dor que está sofrendo.

Para os cristãos, é errado cometer suicídio, quer assistido ou não. Para os cristãos, é errado ajudar alguém a se suicidar. Quando homens e mulheres chegam a ponto de preferir morrer a viver, precisamos nos esforçar para lhes mostrar Cristo, para a vida eterna. Quando os cristãos chegam ao ponto onde a morte parece próxima e onde a dor é intensa, devemos ansiar por estar com o Senhor, mas não por nossas próprias mãos. Não precisamos permitir que a tecnologia médica prolongue a dor e o processo da morte, mas não devemos procurar por fim à vida que Deus dá, e que só Ele pode tirar (Jó 1:21). Todas as vezes que os homens da Bíblia desejaram morrer, isto não é elogiado; é claramente visto como falta de fé.

Sem dúvida, há alguns lendo esta mensagem que já consideraram (ou estão considerando) pegar a saída mais fácil. Este texto deve falar claramente a vocês. Mas gostaria de lembrar que muitas outras pessoas agem de maneira bastante parecida e pecaminosa, e não reconhecem sua atitude como suicida. No fundo, o pecado de Saul é tentar escapar da situação, da dor, que ele mesmo criou e que Deus decretou como disciplina. Saul quer “evitar a dor” de maneira pecaminosa, e muitos de nós também. Alguns procuram evitar a dor de forma espiritual. Paulo crê e pratica a cura sobrenatural. Ele pede a Deus que remova seu espinho na carne, mas seu pedido é negado (II Co. 12:7-10). Deus tem um propósito mais sublime para o sofrimento de Paulo, e este propósito é humilhá-lo e proporcionar-lhe manifestações ainda maiores de Seu poder e graça. Por que alguns crentes não podem aceitar que Deus não acalme a dor, não remova o sofrimento, porque tem um propósito ao usá-los para o nosso próprio bem e para a Sua glória? Por que buscamos espiritualizar nosso pecado, agindo como se nossa resistência ao sofrimento divinamente enviado fosse um ato de fé? Vamos procurar não fugir daquilo que Deus nos dá para enfrentar.

Há outros meios de “fuga” que são muitos comuns hoje em dia, mesmo entre os cristãos. Alguns tentam fugir do sofrimento emocional divorciando-se ou separando-se. Outros, desejando manter as aparências de um casamento, simplesmente colocam um muro entre eles e seu companheiro (e talvez sua família), para “evitar o sofrimento”. Quero lembrar que isto é apenas outra forma de suicídio. Relações sexuais ilícitas, drogas, álcool e outras formas de vício são, na realidade, tentativas ímpias e não bíblicas de fugir do sofrimento. Seja o entusiasmo passageiro e o prazer de uma experiência sexual ilícita ou o êxtase das drogas e do álcool, tudo é fuga momentânea. No entanto, a Bíblia diz que estas coisas são realmente desastrosas, pois levam a um passo da morte (ver Pv. 7).

Jamais gostei do termo “facilitador”, pois procura descrever pecar em termos seculares, não bíblicos. Pergunto-me, no entanto, se o que algumas pessoas chamam de facilitador não seja a mesma coisa que Saul queira de seu escudeiro, e o que o amalequita virá a ser - alguém que auxilia no suicídio. Ver um irmão em pecado e não agir de forma que ele o deixe é ajudá-lo em sua busca da morte. Vamos pensar seriamente se estamos facilitando o pecado e a morte dos outros ou se estamos incentivando-os a buscar o caminho da vida, Cristo.

Finalmente, vejo em Saul um contraste gritante com a pessoa e a obra de Jesus Cristo. O pecado de Saul, e seu desejo de morrer, é egoísta, egocêntrico. Seu pecado causa não apenas a sua própria morte, mas também a morte de seus filhos e de muitos israelitas, e o sofrimento de muitas outras pessoas. Sua liderança não é uma bênção, mas uma maldição para Israel. Como foi diferente da morte de nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha desejo de morrer, humanamente falando. Ele não foi um suicida. Ele orou no Jardim do Getsêmani para que o “cálice” fosse retirado Dele (Mateus 26:39). Ele morreu em obediência à vontade do Pai, não em desobediência (Mateus 26:39; João 6:38; Filipenses 2:3-8). Ele não morreu para Se livrar do sofrimento; Ele morreu para suportar todo o sofrimento que estava reservado a nós por causa de nossos pecados (Isaías 53; II Co. 5:21; Hb. 2:17-18). Foi por isso que ele não quis beber o vinho com fel (Mateus 27:33-34). Ele não queria tomar nenhum “medicamento” que entorpecesse a dor que Ele devia suportar em nosso lugar. Sua morte não é um trágico fracasso de sua parte que tentamos esquecer (como um suicídio), mas um magnífico sacrifício por nós, o qual celebramos a cada Santa Ceia. Sua morte não foi egoísta, mas sacrificial. Foi uma morte que Ele sofreu por causa dos nossos pecados e para a nossa salvação. E tudo o que temos a fazer é aceitá-la como meio de Deus para perdoar os nossos pecados e nos dar a vida eterna.

Muitas vezes há um ponto crítico para onde Deus leva o pecador, um ponto onde o suicídio pode ser considerado como saída. As pessoas vêem o pecado que cometeram e se sentem desesperadamente dominadas pela culpa e pelas conseqüências desse pecado. Talvez elas pensem que a morte (por suicídio) seja a única saída. Não é a saída, pois a morte encerra a oportunidade de nos arrependermos e sermos salvos:

“E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo.” (Hb. 9:27)

A solução para o seu problema não é morrer em pecado; é morrer para o pecado. A única maneira de você fazer isto é pela fé em Jesus Cristo - quando reconhecer seu pecado e sua culpa e confiar Naquele que morreu em seu lugar, que sofreu a dor eterna de nossos pecados. É em Cristo que você morre para o pecado, e entra para a vida eterna. Se você ainda não o fez, eu o incentivo a fazê-lo já. Tal como a promessa da salvação de Deus é certa, assim a Sua promessa de juízo e morte eterna. Vamos aprender com a morte de Saul.

From the series: 1 Samuel (Portuguese)

29. Le Chercheur Est Cherché (Genèse 28:1–22)

Introduction

Dieu a une façon de former les vies de Ses enfants, même avant qu’ils entrent en relation avec LUI. Une de mes professeurs, que j’admire énormément, au séminaire, sert à illustrer cela parfaitement. Pendant qu’il était encore un non-croyant, il allait à l’université et devait prendre une décision à propos de quelle matière principale il voulait choisir. Il était (et est toujours) un golfeur exceptionnel et décida de choisir une matière dans n’importe quel sujet qui lui laisserait les après-midi libres pour aller jouer au golf. Ce sujet fut le Grecque. Après sa conversion, il continua vers le séminaire théologique et éventuellement devint le Directeur du Département « Grecque » pour bien des années.

Je suis incliné à regarder à la vie de Jacob dans un sens similaire. Je ne vois aucune évidence de sa conversion avant Genèse 28. Dans Genèse 27:20, Jacob réfère au Dieu d’Abraham et d’Isaac comme « ton Dieu. » C’est ici dans le chapitre 28 que Jacob a affirmé, « l'Eternel sera mon Dieu » (Genèse 28:21.) Jacob semble être sur la route d’Harân comme Saül était sur la route de Damas (Actes 9:3), religieux mais pas prêt de Dieu par une foi et un engagement personnel. Tous les deux, Saül et Jacob furent arrêtés par une vision qui allait changer la direction de leurs vies.

L’Adieu de Jacob et la Frustration d’Esaü

Bien que les conséquences de l’échec de tromper Isaac aient été soigneusement considérées, ni Rébecca, ni Jacob n’avaient calculé le coût du succès. Isaac avait été trompé et moqué (27:12) à cause de son grand âge. Esaü était très irrité, attendant avec impatience le jour où il pourrait tuer son frère (27:41.) Rébecca a du trouver le fossé entre elle et son mari (sans mentionné Esaü) élargit par sa déception. Plus que ça, Rébecca réalisa maintenant que Jacob devra partir jusqu’à ce que les émotions se refroidissent, et elle ne savait pas combien de temps cela prendrait.

Dans Genèse 27:42-45 Rébecca commença à expédier le plan qu’elle avait déjà formé dans sa tête. Elle devrait être sûre que Jacob échapperait à la fureur d’Esaü. Elle s’arrangerait pour qu’il aille passer quelque temps avec son frère, Laban, loin d’Esaü, et elle commença à paver le chemin d’évasion de Jacob. Premièrement, elle le prépara pour son départ en lui expliquant le besoin (versets 42-45.) Quelques jours seront suffisant, elle raisonna,232 pour que les choses se calment (verset 44.) Au lieu de quelques jours, il s’est passé vingt ans avant que Jacob ne revienne (31:38), et cela, il semblerait, fut après qu’elle mourut.

Le verset final du chapitre 27 décrit la manipulation habile d’Isaac par Rébecca, le guidant vers l’inévitable conclusion que Jacob devrait être envoyé à Harân, la ville de son frère Laban :

« Rébecca alla dire à Isaac:
   ---Je suis dégoûtée de la vie à cause de ces femmes hittites. Si Jacob épouse aussi une des filles de ce pays, cela ne vaut plus la peine que je vive. » (Genèse 27:46)

Combien est différente l’approche de Rébecca de ce que Sara aurait put prédire qu’elle ferait ! Je pense que Sara aurait donné un ultimatum à Abraham : « Envoies mon fils chez mon frère, Laban, à Harân ou alors… » Elle aurait ordonné cela, étant nez à nez avec d’Abraham pendant tout le temps de sa tirade (16:5 ; 21:10.) Rébecca avait plus confiance en une approche plus subtile et sûre. Elle ne disait jamais à Isaac ce qu’il devait faire ; Elle l’étalait devant lui d’une telle façon, qu’il ne pouvait raisonnablement pas faire autrement. Elle fit bien comprendre combien elle était angoissée par les femmes cananéennes qu’Esaü avait épousées (26:34-35.) Puis elle insinua que si Jacob allait faire la même chose, ce ne vaudrait plus avec elle la peine de vivre. Alors pas étonnant qu’Isaac fit ce qui est enregistré dans les deux premiers versets du chapitre 28 :

« Alors Isaac appela Jacob, il le bénit et lui donna cet ordre:
   ---Tu n'épouseras pas une Cananéenne.

   Mets-toi en route, va à Paddân-Aram chez Betouel, ton grand-père maternel, et prends une femme de là-bas parmi les filles de ton oncle Laban. » (Genèse 28:1-2)

Deux choses sont frappantes à propos de ces mots d’instruction des lèvres d’Isaac. Premièrement, c’était sans précédent. Nulle part auparavant, ces instructions n’avaient été données. Nous voyons cela de la réponse d’Esaü parlant des évènements des versets préalables du chapitre 28 :

« Esaü vit qu'Isaac avait béni Jacob et qu'il l'avait envoyé à Paddân-Aram pour y trouver une épouse, et qu'en le bénissant il lui avait ordonné de ne pas épouser une fille du pays de Canaan,

   que Jacob avait obéi à son père et à sa mère et qu'il était parti pour Paddân-Aram.

   Il comprit alors que les filles de Canaan étaient mal vues de son père,

   Esaü se rendit chez Ismaël, fils d'Abraham, et épousa, en plus de ses autres femmes, sa fille Mahalath, la soeur de Nebayoth. » (Genèse 28:6-9)

Nous devons donc conclure que ni Jacob ni Esaü n’avaient jamais été instruits que le mariage avec une femme cananéenne était incompatible avec la volonté de Dieu et pas satisfaisant pour leurs parents.

Deuxièmement, ce changement de Jacob était prématuré. Nous devons admettre que le départ de Jacob pour Paddân-Aram pour chercher une épouse était une bonne occasion pour cette instruction, mais nous ne devons pas oublier qu’il était déjà très tard dans la vie de ces deux fils. Nous avons dit préalablement que Jacob avait 77 ans quand il alla à Harân.233 Cela voudrait dire que Jacob ne s’est pas marié avant d’avoir 84 ans, puisqu’il a du travailler sept ans pour sa femme (29:18,20.)

Nous devons nous rappeler qu’Isaac avait 40 ans quand il épousa Rébecca (25:20), tout comme avait Esaü quand il prit ses deux épouses hittites (26:34.) Pour Esaü, cette instruction est venue 37 ans trop tard. Imaginez sa frustration de finalement apprendre la raison de la douleur de ses parents à propos de son mariage. Sûrement, les mots d’Isaac dans les versets 1 et 2 sont trop peu et trop tard pour lui, et pas trop tôt pour Jacob.

Couplée avec le fait que le mariage était une raison secondaire pour le départ de Jacob pour Harân, pendant que la survie était la première, nous commençons à comprendre l’attitude désinvolte d’Isaac envers la formation spirituelle de ses fils. Pour lui, ces questions ne devaient avoir qu’une importance minimum pour n’avoir été abordées que si tard dans leurs vies.

La bénédiction de Jacob est un peu plus positive. Bien qu’Isaac ait bénit Jacob dans le chapitre précédent, il l’avait fait pensant qu’il bénissait Esaü. Cette bénédiction n’avait pas la clarté et la spécificité des versets 3 et 4 :

« Le Dieu tout-puissant te bénira, il te donnera des enfants, il rendra tes descendants nombreux et tu deviendras l'ancêtre d'un grand nombre de peuples.

   Il te transmettra la bénédiction d'Abraham à toi et à ta descendance, afin que tu hérites le pays dans lequel tu habites en immigrant et que Dieu a donné à Abraham. »

Ce n’était que par allusion qu’Isaac avait transmit les bénédictions de l’alliance avec Abraham à Jacob dans le chapitre 27. Ici, elles sont épelées de manière très précise. Isaac s’est finalement résigné au fait que Dieu allait bénir Jacob au lieu d’Esaü. Ses paroles reflètent son acceptation des choses comme elles doivent être et comme Dieu a dit qu’elles seraient.

La télévision et les films nous ont conditionné à prendre plaisir à la destruction du méchant. Il reçoit ce qu’il mérite, et d’habitude dans un sens qui convient à ses actes infâmes. Nous savons tous que le bon gagnera (ou au moins cela était vrai), mais nous devons attendre jusqu'à ce que nous ayons le plaisir de voir que le méchant reçoit ce qu’il lui est destiné. De même, quand nous arrivons à ces versets concernant la réponse d’Esaü à ce qui est arrivé entre Isaac et Jacob, nous avons tendance à penser à Esaü comme le vilain. Nous nous attendons à voir sa chute, et nous avons l’intention de la savourer quand elle arrivera.

A cause de ça, nous devons être rappelés que Jacob n’a pas été choisi parce qu’il était le héro, ni qu’Esaü fut rejeté parce qu’il était le vilain. Genèse 25, spécialement quand on a l’explication de Paul dans Romains 9, nous force à conclure que Dieu a choisi Jacob et rejeté Esaü sans tenir compte de leurs actions (Romains 9:11-12.) Esaü n’est pas un homme qui, à cause de ses actions décrites ici et là, fut rejeté par Dieu. Esaü n’est aucunement différent de n’importe quel non-croyant dont le cœur n’a pas été animé et dont l’esprit n’a pas été illuminé pour répondre aux réalités divines. Esaü, dans son incrédulité, n’est pas plus dépravé, ni moins sensible aux choses spirituelles que n’importe quels fils ou filles d’Adam qui souffrent d’un péché héréditaire:

«  … Il n'y a pas de juste,
      pas même un seul,

    pas d'homme capable de comprendre,
      pas un qui cherche Dieu.

    Ils se sont tous égarés, ils se sont corrompus tous ensemble.
      il n'y en a pas qui fasse le bien,
      non, pas même un seul. » (Romains 3:10-12)

Mettons donc de coté tout sens d’arrogance et de supériorité quand nous considérons ce pauvre homme, pour lequel nous devrions tous avoir beaucoup de pitié. Reconnaissons tous ça, mais pour l’amour de Dieu, voilà un homme qui ne peut pas comprendre l’amour de Dieu et qui n’est pas non plus convaincu de l’amour de son père. C’est un homme qui ne comprend pas les réalités spirituelles car elles ne lui ont pas été apprises par ses parents.

Trente sept ans trop tard, Esaü a apprit au moins une des raisons pour lesquelles personne ne l’aimait : ses femmes ne plaisaient pas à ses parents. Je dis « parents », mais vous remarquerez qu’il n’est pas mentionné qu’Esaü se soit soucié des sentiments de sa mère envers lui, seulement des sentiments de son père (verset 8.) Il avait depuis longtemps abandonné l’espoir d’être aimé et accepté par Rébecca. Il a désespérément cherché à gagner l’approbation de son père.

Si avoir une femme pas cananéenne était tout ce qu’il fallait pour faire plaisir à son père, c’était un petit prix à payer pour recevoir l’approbation dont il avait tant besoin. Ne voyant aucunes fautes avec ses actions, Esaü prit Mahalath, la fille d’Ismaël, pour épouse (verset 9.) Cette femme n’était pas une Cananéenne ; elle était de la famille d’Abraham. Qu’est ce qui aurait pu faire plus plaisir à Isaac que ça ? Mais Esaü ne comprenait pas le sujet de pureté. Ismaël avait été rejeté de continuer la lignée d’Abraham car il était un enfant d’effort humain (Genèse 21:12, Galates 4:22-23.) Il était le produit d’efforts charnels, pas de dépendance spirituelle. Le mariage à un descendant d’Ismaël n’a pas achevé le but qu’Esaü avait espéré. Sans le réaliser, il a caractérisé par ses actions la même chose que Dieu condamnait : les efforts charnels. Tout comme Abraham avait agit de lui-même pour avoir un fils, Esaü agit sous l’emprise de la chair pour obtenir l’approbation de son père. Ce mariage fut très approprié et très ineffectif.

Le Départ de Jacob et Son Rêve (28:10-17)

En route pour Paddân-Aram , Jacob n’était accompagné que par son personnel (32:10) et ses pensées. Il ne serait pas difficile de spéculer vers quoi ses pensées étaient tournées. Il avait du sûrement considéré la sagesse de ses actions quand il a trompé son père. Il a du comparer ce qu’il pouvait attendre de son complot avec le résultat. Il aurait du se sentir coupable à la pensée de comment il avait traité son frère et son père. Sans aucuns doutes, il a du être peiné de devoir quitter sa mère. Il a du se demander quel genre de réception il recevrait de Laban. Il n’avait probablement pas oublié le fait qu’il n’ait rien à offrir à Laban comme dot pour une épouse. Comment serait sa femme ? Quand pourrai-t-il rentrer à la maison ?

Quelque ont pu être ses pensées, je crois que Jacob était finalement au bout du rouleau. Je crois qu’il avait finalement réalisé qu’il ne prospèrerait jamais en comptant sur ses magouilles. Sa confiance en lui-même était probablement au plus bas. C’était le moment idéal pour Dieu d’entrer dans sa vie, car maintenant Jacob savait combien il avait besoin de LUI pour être bénit comme son père l’avait été.

La nuit a du tombée avant que Jacob n’arrive à la ville de Louz. Les portes de la ville étaient fermées pour la nuit, alors Jacob, comme les bergers faisaient normallement, dormit sous les étoiles. Il trouva un bon endroit, prit une pierre qui était à coté, et il se cala pour la nuit. Dans son sommeil, il eut une vision grandiose. Il vit une échelle qui allait de la terre jusqu’aux cieux, avec des anges montants et descendants l’échelle. En haut de l’échelle était Dieu, Qui lui dit :

« ---Je suis l'Eternel, le Dieu d'Abraham ton ancêtre et le Dieu d'Isaac. Cette terre sur laquelle tu reposes, je te la donnerai, à toi et à ta descendance.

   Elle sera aussi nombreuse que la poussière de la terre; elle étendra son territoire dans toutes les directions: vers l'ouest et l'est, vers le nord et le sud. Par toi et par elle, toutes les familles de la terre seront bénies.

   Et voici: je suis moi-même avec toi, je te garderai partout où tu iras; et je te ferai revenir dans cette région; je ne t'abandonnerai pas mais j'accomplirai ce que je t'ai promis. » (Genèse 28:13-15)

Cette vision a été la victime de beaucoup d’interprètes. Sa signification a été dite être profonde. Je ne pense pas. Je crois qu’elle est destinée à être comprise très simplement, juste comme Jacob l’a comprise. Mon interprétation de ce qu’elle veut dire et signifie sera basée sur quatre considérations : a) les paroles de Dieu à Jacob ; b) les paroles immédiatement parlées par Jacob ; c) les paroles parlées par Jacob ultérieurement ; et d) les paroles de notre Seigneur dans Jean 1:51.

Les mots parlés par Dieu sont très similaires à ceux dits auparavant à Abraham et à Isaac. La déclaration d’Isaac qui transmit la bénédiction d’Abraham à Jacob (verset 4) était maintenant confirmée par Dieu LUI-MEME. Pendant qu’il y avait différents aspects des bénédictions de l’alliance, les plus évidents étaient ceux qui faisaient référence au pays :

«  … Cette terre sur laquelle tu reposes, je te la donnerai… » (verset 13)

« … vers l'ouest et l'est, vers le nord et le sud… » (verset 14)

« … et je te ferai revenir dans cette region… » (verset 15)

Jacob reconnu l’importance de cet endroit, aussi, car immédiatement ses pensées allèrent directement vers l’intensité de l’endroit où il se trouvait :

« --- Assurément, l'Eternel est en ce lieu, et moi je l'ignorais! » (verset 16)

« … --- Ce lieu est redoutable! Ce ne peut être que le sanctuaire de Dieu. C'est ici la porte du ciel. » (verset 17)

Plus tard dans sa vie, Jacob repensa à sa vision, réalisant encore la manière dont Dieu lui fit savoir combien cet endroit était spécial :

« Je suis le Dieu de Béthel, où tu as répandu de l'huile sur une pierre dressée en *stèle, et où tu m'as fait un voeu. Maintenant, lève-toi, quitte ce pays et retourne dans ton pays natal. » (Genèse 31:13)

Comme Jacob, obéissant à ce commandement, approchait la terre promise, il reçut un rapport qu’Esaü était en route avec quatre cent hommes pour le rencontrer (Genèse 32:6.) Jacob pria pour être protégé en avançant, basé sur la promesse de Dieu dans la vision de Béthel :

« Délivre-moi, je te prie, de mon frère Esaü; car j'ai peur qu'il vienne me tuer, sans épargner ni mère ni enfant.

   Pourtant, toi tu m'as dit: «Je te ferai du bien, et je rendrai tes descendants aussi nombreux que le sable de la mer que nul ne peut compter. » (Genèse 32:12-13)

Les phrases de Dieu et de Jacob vont bien ensemble, spécialement vues dans le contexte de la vision. Jacob était prêt à quitter la terre promise pour un voyage de 20 ans à Paddân-Aram. Il pourrait être tenté de ne jamais revenir dans ce pays. Par les moyens de cette vision dramatique, Dieu imprima en Jacob l’importance de cette terre. C’était l’endroit où le ciel et la terre se rencontraient. C’était l’endroit où Dieu descendrait vers l’homme et où les hommes trouveraient l’accès à Dieu. C’était, comme Jacob affirma, « la porte du ciel. » Pendant ces vingt années, Jacob n’oublierait jamais ce rêve. Il réaliserait que finalement, pour être dans la volonté de Dieu, il doit être à l’endroit que Dieu a choisi, la terre promise. C’était dans le pays que les bénédictions de Dieu seraient déversées sur Ses peuples. Bien que Jacob devait partir, il reviendrait.

Les premiers gens à recevoir ce récit ont du le lire avidement. Les Livres de la Loi furent écrits par Moïse et donc ont du être completés avant sa mort et avant l’entrée d’Israël sur la terre promise. Ces Israélites ont du avoir un sens d’anticipation immense en regardant l’autre coté de la rivière Jourdain sachant que, d’une façon spéciale, la présence de Dieu allait être révélée à cet endroit. L’expérience au Mont Sinaï a sûrement donné de la substance à cet espoir.

Dans le premier chapitre de l’Évangile de Jean, Jésus a invité Philippe à LE suivre (1:43.) Philippe de même chercha Nathanaël, l’assurant qu’il avait trouvé le Messie. Ce Messie était Jésus de Nazareth (verset 45.) Nathanaël se demanda comment le Messie pouvait venir d’un endroit comme Nazareth (verset 46.) Quand Jésus vit venir Nathanaël, IL l’identifia comme étant « un homme d'une parfaite droiture » (verset 47.) Plus loin, Jésus indiqua qu’IL avait vu Nathanaël pendant qu’il était « sous le figuier” (verset 48.) Cela fut assez pour convaincre Nathanaël que Philippe avait raison – Jésus était le Messie !

Cependant, notre Seigneur ne s’est pas arrêté là. Pendant qu’IL loua sa croyance, IL continua en donnant une révélation encore plus grande concernant LUI-MEME :

« Et il ajouta:
   ---Oui, je vous l'assure, vous verrez le ciel ouvert et les anges de Dieu monter et descendre entre ciel et terre par l'intermédiaire du Fils de l'homme. » (Jean 1:51)

Nathanaël avait mit trop de valeur sur l’endroit. Comment le Messie pouvait-IL venir de Nazareth ? Jésus était né à Bethlehem. Dieu s’était révélé LUI-MEME à l’homme en Israël. Mais pendant que Jacob s’était concentré sur le lieu, l’endroit où l’échelle était, Jésus attira l’attention de Nathanaël sur échelle même. LUI, Jésus de Nazareth, était l’échelle. Ce n’était pas l’endroit où l’échelle était qui était le plus important, mais la personne qui était l’échelle. Jacob a vu Dieu en haut de l’échelle ; Jésus a révélé que Dieu était l’échelle. Finalement, c’était Jésus Christ qui était le pont qui joignait le ciel et la terre. C’est par LUI que Dieu est venu à l’homme. Et c’est par LUI que l’homme aura accès à Dieu. Jacob avait vu ce qu’il avait besoin de voir à ce moment-là dans sa vie. Jésus a révélé à Nathanaël qu’il y avait bien plus à voir que ce que Jacob avait perçu ce jour là.

La Déclaration de Jacob (28:18-22)

La réponse de Jacob à ce dévoilement des promesses et buts divins de Dieu peut être résumée par trois phrases.

Jacob Construit Une Stèle

« Le lendemain, de grand matin, il prit la pierre sur laquelle avait reposé sa tête, il la dressa en stèle et répandit de l'huile sur son sommet.

   Il appela cet endroit Béthel (Maison de Dieu). Auparavant la localité s'appelait Louz. » (Genèse 28:18-19)

La stèle devait servir comme un monument de souvenir. Elle marqua l’endroit où il devait revenir pour construire un autel et révérer Dieu.

Jacob Fait Une Profession de Foi

« Puis il fit le voeu suivant:
   ---Si Dieu est avec moi, s'il me protège au cours du voyage que je suis en train de faire, s'il me fournit de quoi manger et me vêtir,

   et si je reviens sain et sauf chez mon père, alors l'Eternel sera mon Dieu. » (Genèse 28:20-21)

Certains sont enclins à voir ces « si » de ces paroles comme évidences de la nature de marchandage de Jacob. C’est comme si Jacob essayait de négocier avec Dieu. Bien que la foi de Jacob soit certainement immature à ce point, j’ai tendance à voir ces « si » plus dans le sens de « puisque », avec d’autres.234

Jacob Fait Une Promesse

« Cette pierre que j'ai dressée comme stèle deviendra un sanctuaire de Dieu et je t'offrirai le dixième de tous les biens que tu m'accorderas. » (Genèse 28:22)

Jacob avait prévu de revenir là, ayant confiance en la vision qu’il avait eue. Quand il reviendrait, il construirait un autel et offrirait une dîme à Dieu. Pendant que les Écritures relatent la construction de l’autel (35:7), il n’y a aucune mention de l’offre de la dîme. Cependant, il se peut que cette dîme faisait partie du sacrifice qui serait offert sur l’autel. Il n’y avait pas de commandement de donner une dîme ; c’était une action volontaire de la part de Jacob.

Conclusion

Ce chapitre a quelques leçons qui nous font réfléchir, en temps que parents. L’indifférence d’Isaac en ce qui concerne l’éducation de ses fils peut sembler inconfortablement familière. En plus de ça, je trouve que l’amour d’Isaac était dépendant de la performance d’Esaü. Isaac « avait une préférence pour Esaü car… », on nous dit (25:28.) D’une façon intéressante, dans ce même verset, on nous dit simplement que Rébecca aimait Jacob. Aucunes conditions ne sont exprimées. Regardez à l’insécurité d’Esaü. Voilà un homme de 77 ans, essayant toujours de gagner l’amour et l'acceptation de son père – et avec de bonnes raisons, car son père aimait à condition de ses accomplissements.

Et puis il semblerait qu’Esaü, comme fils préféré, était choyé par son père. Nulle part il n’est mentionné la discipline de ni l’un ni ou l’autre des fils d’Isaac. La discipline, comme la Bible nous informe plusieurs fois, est une manifestation d’amour véridique (Proverbes 3:12 ; 13:24 ; Hébreux 12:5-11.) Je ne peux m’empêcher de penser que quelques mots de réprimande et de correction dans la vie d’Esaü l’aurait assuré de l’amour de son père. La discipline n’est pas l’ennemi de l’amour mais son évidence.

Tous les deux, Jacob et Esaü, illustrent la futilité de tricher et d’essayer d’achever soi-même l’acceptation divine. Ici, les efforts diligents d’Esaü de gagner l’approbation de son père en mariant une fille d’Ismaël sont inutiles. Pendant que sa sincérité est évidente, ses actions ne se conforment pas aux exigences de la foi. Un effort sincère qui n’est pas basé sur une révélation divine est de la folie.

Tous les efforts de Jacob pour gagner les bénédictions de Dieu furent aussi en vain. Ce ne fut qu’en acceptant une relation avec le Dieu de l’alliance avec Abraham et Isaac que Jacob ne put faire l’experience des bénédictions de Dieu. La base d’une telle relation était la Parole Révélée de Dieu. Je trouve amusant que pendant que Jacob ne pouvait pas trouver Dieu en essayant, il fut trouvé par Dieu pendant qu’il dormait. Dieu, certainement, essaye de nous dire quelque chose par cela. C’est en nous reposant en LUI et en Ses Paroles que nous serons bénis. Cela ne veut pas dire que nous ne devons pas être actifs235, mais ça veut dire que nos efforts, s’ils sont indépendants et sans la bénédiction de Dieu, seront toujours puérils.

Deux autres leçons devraient être remarquées dans ce texte. Premièrement, l’endroit est important. C’était sûrement important en ce qui concernait Jacob. Faire l’expérience des bénédictions de Dieu voulait dire qu’il fallait être là où Dieu avait promis de bénir. J’entends des gens dire des choses telles que, « Je peux prier Dieu aussi bien quand je pêche qu’à l’église. » Mais la Parole de Dieu nous dit,

« Ne prenons pas, comme certains, l'habitude de délaisser nos réunions. » (Hebreux 10:25) 

Il y a effectivement certains endroits où il serait difficile, même impossible, pour un Chrétien d’être pour la gloire de Dieu.

Deuxièmement, une profession de foi ne garantit pas notre admission immédiate dans des expériences bienheureuses et dans une vie en rose. Pendant vingt ans après l’expérience de sa conversion, Jacob a du vivre loin de ses parents, loin de la terre promise. Pendant vingt ans Jacob a du recevoir une large dose de sa propre médecine, distribuée par un oncle qui était plus sournois que lui. Accepter une relation avec Dieu ne nous garanti pas que des bonnes choses ; mais ça nous assure le pardon de nos péchés, l’espoir d’une vie éternelle, et la présence de Dieu à nos cotés chaque jour de nos vies.


232 It is possible that Rebekah did realize that Jacob’s separation would be long-term. Was she then making his exit more palatable by saying it was only for a “few days” (27:44)? Surely it would take more than this to travel that distance and return.

233 Cf. Lesson 28, footnote 2, or Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 211.

234 E. G. Stigers, Genesis, p. 228. Cf. also H. C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), II, p. 780.

235 Here we see Jacob resting in God, later he will wrestle with God (32:24-30). These two aspects of the Christian life are not contradictory. We are saved only by resting in His Word and His work on our behalf. But God delights to bless His children when they actively prevail with Him in prayer.


30. J’ai Mené Deux Femmes (Genèse 29:1–30))

Introduction

J’ai entendu une histoire qui semble véridique. Un amoureux de voitures de collection cherchait un modèle particulier de Studebaker. Dans sa routine normale de lire le journal, il vit une annonce qui semblait être impossible à croire. Il y avait une petite annonce pour la voiture qu’il voulait, exactement, et seulement pour 100 dollars. Sachant que la voiture aurait du se vendre pour des milliers de dollars, il conclut que la voiture était soit un tas de tole et de rouille ou il y avait une erreur typographique. Finalement, ne pouvant résister, il appela. Une femme répondit au téléphone et lui assura que la voiture était en excellant état et qu’il n’y avait aucune erreur dans le prix.

Avec une odeur de bonne affaire dans l’air, le collectionneur se dépêcha d’aller chez la dame pour voir. Il fut ravit de constater que la voiture était tout ce que la dame lui avait dit. Elle etait magnifique. Bien sûr, il lui dit qu’il la prenait – pour 100 dollars. Se sentant de plus en plus coupable, l’homme a du dire à la femme, « Madame, je dois absolument vous dire que cette voiture vaut énormement plus que 100 dollars. Vous devriez recevoir bien plus pour cette automobile. » « Oh ! Je le sais très bien », répondit-elle, « mais voyez-vous Monsieur, mon mari m’a quitté pour sa secrétaire. Il m’a envoyé la carte grise de la voiture et m’a dit de la vendre et de lui envoyer l’argent. C’est ce que je vais faire avec les 100 dollars. »

Il est difficile d’entendre une histoire comme celle-là sans savourer le goût de la justice poétique qu’elle contienne. Je crois que la plupart d’entre nous avons ce même sentiment quand nous lisons Genèse 29. Jacob, le tricheur, reçoit une double raclée. Jacob, le trompeur, se fait rouler par son oncle Laban. Nous supposons que Léa était une sorte de modèle défectif de femme qui aurait du être sujet à un rappel de l’usine, et nous sommes amusés de trouver qu’il doit passer le reste de sa vie collé à elle, bien qu’il marie finalement la fille qu’il aime.

J’aimerai mettre en question notre interprétation de ce chapitre, car il ne semble pas que nos conclusions conviennent aux faits, seulement notre désir de voir Jacob recevoir ce qu’il mérite. Il y a cet élément, bien sur, mais il n’est pas le thème principal de l’histoire. Approchons cet épisode de la vie de Jacob avec un regard sur le traitement gracieux de Dieu dans la vie de celui qui va devenir le patriarche.

Le Coup de Foudre (29:1-12)

Jacob a quitté Béthel avec les pieds légers236 et un nouveau bail sur la vie. Avant sa rencontre avec Dieu, il ne pouvait seulement référer au Dieu de son père que comme « ton Dieu » (27:20.) Maintenant, Yahvé était le Dieu de Jacob (28:21.) Il avait eu la vision de l’échelle des cieux et entendu la promesse de Dieu, de Sa présence, provision et protection. Il avait l’assurance de son retour dans son pays et les bénédictions d’Abraham (28:10-17.) Il avait un sens nouveau de direction, un espoir nouveau, et une signification nouvelle de la vie. Il allait quand même aller à Harân, mais Dieu était avec lui.

« Jacob reprit sa marche vers les pays de l'Orient.

Un jour, il aperçut dans la campagne un puits où l'on fait boire les troupeaux. Trois troupeaux de moutons et de chèvres étaient couchés alentour. L'ouverture du puits était fermée par une grosse pierre

que l'on roulait de côté lorsque tous les troupeaux y étaient rassemblés. Après avoir abreuvé les bêtes, on remettait la pierre sur l'ouverture. » (Genèse 29:1-3)

Approchant Harân, Jacob arriva à un puits qui était situé dans un champs. C’était un puits différent, je pense, de celui où le serviteur d’Abraham fut (Genèse 24:11.) Ce puits était une source située en dehors de la ville à laquelle les femmes venaient puiser de l’eau potable (24:11,13.) Le puits que Jacob approcha était un dans un champs bien loin de la ville, et c’était plus un réservoir d’eau où les troupeaux venaient s’abreuver. Ce puits était couvert par un gros rocher, probablement pour qu’il ne soit pas pollué ou rempli de sable. Peut-être plus important, le rocher limitait l’usage de ce puits à certaines heures et seulement pour certaines personnes qui avaient l’autorisation. Les bergers, peut-être des adolescents, étaient assis prêt du puits, attendant l’heure d’abreuver leurs moutons. Jacob engagea la conversation avec ces bergers :

« Jacob demanda aux bergers:
---D'où êtes-vous, les amis?
---Nous sommes de Harân, lui répondirent-ils.

---Alors, reprit-il, connaissez-vous Laban, descendant de Nahor?
---Oui, nous le connaissons.

---Comment va-t-il?
---Il va bien. D'ailleurs, voici justement sa fille Rachel qui vient avec les moutons et les chèvres. » (Genèse 29:4-6)

Jacob voulait savoir s’il était loin de sa destination. La réponse des bergers lui dit qu’il était très près d’Harân. Sa question à propos du bien-être de Laban n’était pas indifférente. Il était vraiment intéressé de savoir comment les affaires de la famille de Laban se portaient. Dans un sens, le succès de son voyage pourrait être mesuré par la réponse des bergers. Au grand soulagement de Jacob, Laban allait bien, et encore mieux, il avait une fille qui devait arriver bientôt. Le mieux à faire était de l’attendre pour qu’elle le guide vers sa maison.

Pendant ce temps, Jacob se renseigna sur ce qui le frappa comme étant très inhabituel :

« ---Mais, dit Jacob, il fait encore grand jour! Ce n'est pas le moment de rassembler le bétail. Faites-donc boire les brebis et ramenez-les aux pâturages!

---Nous ne devons rien faire, lui répondirent-ils, avant que tous les troupeaux soient rassemblés; alors seulement on roule la pierre qui bouche l'ouverture du puits et nous faisons boire les bêtes. » (Genèse 29:7-8)

Les moutons n’étaient pas rassemblés pour la nuit, puisqu’il était encore tôt dans la journée. Ça n’avait aucun sens pour ces bergers de rester assis autour du puits, attendant jusqu'à plus tard pour abreuver leurs moutons, quand ils pouvaient leurs donner à boire maintenant, et les ramener aux pâturages pour plusieurs heures.

Les bergers n’étaient pas du tout impressionnés par la question ou ne savaient pas très bien comment prendre soin des moutons. Effectivement, sa question a du leur sembler idiote. Bien sûr, Jacob avait raison. Même ces garçons savaient que les moutons grossissaient plus vite quand ils paissaient dans une prairie plutôt que quand ils attendaient autour du puits où l’herbe avait été dévorée depuis longtemps. Toutefois, il semblerait que le puits ne pouvait pas être utilisé quand ils voulaient.

Un puits était une ressource de grande valeur, tout comme le serait un puits de pétrole aujourd’hui. Comme tel, il devait appartenir à quelqu’un, et cette personne imposerait comment et quand le puits devrait être utilisé, et probablement à quel prix. Cet agrément, entre le propriétaire du puits et les bergers, semble être que le puits ne pouvait être utilisé qu’une fois par jour. Les bergers doivent d’abord être rassemblés autour du puits avec leurs troupeaux. Puis le propriétaire ou ses hommes roulent la grosse pierre et les moutons pouvaient alors être abreuvés, peut-être dans l’ordre de leur arrivée. Cela expliquerait pourquoi les bergers et leurs troupeaux étaient là de si bonne heure. Comme ça, ce qui était le plus lucratif (c’est à ce que la question de Jacob arrivait) n’était pas le plus pratique. Mais les stipulations du propriétaire doivent être respectées.

Au cours de la conversation, Rachel arriva. A cause de cela, Jacob n’était plus beaucoup intéressé par les bergers, car elle était un membre de sa famille et une jeune fille ravissante :

« Pendant qu'il s'entretenait ainsi avec eux, Rachel arriva avec les moutons et les chèvres de son père. Elle était en effet bergère.

Lorsque Jacob vit Rachel, la fille de son oncle Laban et les bêtes de son oncle, il s'approcha, roula la pierre de l'ouverture du puits et fit boire les moutons et les chèvres de son oncle.

Puis il embrassa Rachel et éclata en pleurs.

Il apprit à la jeune fille qu'il était un parent de son père, un fils de Rébecca. Rachel courut prévenir son père. » (Genèse 29:9-12)

Certains commentateurs suggèrent en fait que Jacob aurait suggéré aux bergers qu’ils abreuvent leurs moutons immédiatement pour se débarrasser d’eux avant que Rachel n’arrive pour qu’il puisse la rencontrer sans témoins.237 Cela semble difficilement être le cas. Il ne connaissait pas son âge et sa beauté et il aurait sûrement voulu la rencontrer dans des circonstances dignes.

Je suis, cependant, intéressé par la série d’évènements qui a eut lieu quand Jacob et Rachel se sont rencontrés. Je me serais attendu à ce que d’abord Jacob se présente, puis l’embrasse, et finalement abreuve ses moutons. Juste l’inverse est relaté.238 D’abord, Jacob abreuve les moutons de Laban, ne considérant rien de ce que les bergers lui avaient dit. Puis il l’embrasse. Finalement il s’est présenté comme étant un membre de sa famille. Si l’ordre des évènements est correct, Jacob jette toutes les bonnes manières à la poubelle, et Rachel a du être totalement estomaquée par de telles manières romantiques. Tout cela, je dois vous rappeler, est considérablement lu entre les lignes.

Et c’est comme ça que ces deux jeunes gens se sont rencontrés. Ça n’a peut-être pas été le « coup de foudre », mais ça aurait pu. Leur rencontre a préparé la deuxième phase de leur relation.

Sept Ans Avant la Lune de Miel (29:13-20)

Quand Rachel courut à la maison avec son récit de sa rencontre avec Jacob, Laban a répondu très vite :

« Dès que Laban entendit parler de Jacob, le fils de sa sœur, il se précipita à sa rencontre, le serra contre lui et l'embrassa, puis il le conduisit dans sa maison. Alors Jacob lui raconta tout ce qui s'était passé.

Laban lui dit:
---Tu es bien du même sang que moi!
Pendant tout un mois, Jacob demeura chez lui. » (Genèse 29:13-14)

Les salutations de Laban ne me suggèrent qu’il lui offrait l’hospitalité, rien de plus, ce qui était attendu normalement, spécialement pour un membre de la famille proche.239 On nous dit que Jacob « lui raconta tout ce qui s'était passé » (verset 13.) On pourrait se demander ce que « tout » était. On devrait s’attendre normalement à ce que Jacob donne des nouvelles de sa famille et de leur santé. En premier lieu, Laban aurait voulu avoir des nouvelles de sa sœur Rébecca. Je pense que Jacob a aussi raconté les évènements qui ont précipité son voyage à Paddân-Aram, ainsi que la tromperie de son père. J’imagine aussi que Jacob aurait mentionné qu’il était venu chercher une épouse. Son histoire fut assez pour Laban d’être convaincu que Jacob était celui qu’il prétendait être et, donc, un membre de sa famille très proche. Le fait qu’ils étaient très proches n’était pas sans importance pour Laban,240 mais des évènements plus tard suggèreront cela d’une façon plus convaincante.

Le séjour d’un mois de Jacob chez Laban avait au moins deux résultats. Premièrement, cela a permit à Jacob et Rachel de se voir quotidiennement et a aidé à enflammer une affection profonde l’un pour l’autre. Jacob avait maintenant une bonne raison de rester avec Laban. Et pour Laban, ce mois lui prouva que Jacob était un travailleur de grande valeur. Bien que Jacob ne possédait rien, excepté la promesse de richesses futures et de bénédictions, il était un bon employé. Il serait un bon gendre et pourrait rester et travailler pour Laban au lieu d’une dot traditionnelle. Deuxièmement, ce mois les a amenés tous les deux, Jacob et Laban, à la conclusion qu’une relation permanente entre eux serait d’un avantage mutuel.

A la fin de ce moins, Laban voulait formaliser la relation entre lui-même et Jacob :

« Puis Laban lui dit:
---Travailleras-tu pour rien chez moi parce que tu es mon neveu? Dis-moi ce que tu voudrais comme salaire. » (Genèse 29:15)

Bien qu’on ne nous dise pas que Laban ait eu des fils à ce point là, il avait une fille plus âgée, qui allait jouer un rôle crucial dans les évènenements qui allaient suivre :

« Or, Laban avait deux filles, l'aînée s'appelait Léa, et la cadette Rachel.

Léa avait le regard tendre, mais Rachel était bien faite et d'une grande beauté. » (Genèse 29:16-17)

Peu de femmes furent aussi mal comprises que Léa. Même son nom l’a desservit, car il veut dire « vache sauvage. »241 La phrase qu’elle avait « le regard tendre » (verset 17) semble, à beaucoup, portraire Léa comme une fille simple avec des lunettes « cul de bouteille », qui ne peut pas voir passé le bout de son nez. Ce genre de pensées est totalement injustifié.

Premièrement, le mot traduit « tendre » (rak) n’est jamais utilisé dans un sens péjoratif, comme cela est suggéré ici. Ce terme n’est jamais utilisé faisant référence à un défaut.242 Par exemple, dans Genèse 18:7 Moïse utilise ce mot, « tendre » :

« Puis il courut au troupeau et choisit un veau gras à la chair bien tendre, il l'amena à un serviteur qui se hâta de l'apprêter. »

Moïse utilise ce mot à nouveau dans le chapitre 33 faisant référence aux jeunes enfants qui sont trop faibles pour être pressés :

« Mais Jacob répondit:
---Mon seigneur sait que les enfants sont fragiles ; de plus, j'ai avec moi des brebis, des chèvres et des vaches qui allaitent; si l'on forçait leur marche un seul jour, tout le troupeau périrait. »

Si nous prenons le mot rak, qui est traduit « tendre » dans 29:17, en son sens normal, alors nous ne devons pas penser en termes péjoratifs mais en termes de délicatesse, finesse. En contraste avec Rachel, qui avait du feu ou des étincelles dans ses yeux, Léa avait des yeux doux.

Je dois vous avertir à l’avance que j’ai tendance à aller un peu plus loin que les commentateurs que je connais. Je pense que nous devrions aussi considérer le sens du terme « yeux. » Aussi étrange que cela puisse paraître, ce mot utilisé pour un organe de vision physique souvent réfère à bien plus que l’œil physique. Il décrit aussi le caractère d’une personne, tout comme les expressions « pensées », « cœur » et « âme » réfèrent à des émotions humaines (Psaume 16:7-9 ; 26:2 ; Apocalypse 2:23.) Dans le Vieux Testament, nous trouvons ces genres de références au regard :

« Garde-toi bien de nourrir dans ton cœur des pensées mesquines et de te dire: « C'est bientôt la septième année, l'année de la remise des dettes» et, pour cette raison, de regarder ton compatriote pauvre d'un mauvais oeil sans rien lui donner. Car alors, il se plaindrait de toi à l'Eternel et tu porterais la responsabilité d'une faute. » (Deutéronome 15:9)

Peut-être l’usage le plus intéressant de l’expression du « regard » est dans deux versets, qui contiennent tous les deux à la fois les expressions relatives au « regard » et à la « délicatesse » (Hébreux, rak) :

« L'homme le plus délicat et le plus raffiné parmi vous regardera avec malveillance son frère, sa femme qu'il aura serrée contre son cœur et les enfants qui lui resteront encore » (Deutéronome 28:54)

« La femme la plus délicate et la plus raffinée parmi vous, celle qui était si délicate et si raffinée qu'elle ne se risquait même pas à poser la plante du pied sur le sol, regardera avec malveillance le mari qu'elle a serré contre son cœur, son fils et sa fille, » (Deutéronome 28:56)

C’est un fait établi que le regard (les yeux) sont utilisés dans le Vieux et Nouveau Testament pour « montrer des capacités mentales » telles que l’arrogance, l’humilité, la moquerie, et la pitié.243 Je pense que c’est dans ce sens que les yeux de Léa sont décrits. En relation avec le mot rak, j’en conclurais que la disposition de Léa était une de gentillesse et de tendresse, pendant que Rachel semblait avoir eu un tempérament plus fougueux et agressif. Indifféremment de si mes conclusions soit acceptées ou pas, l’idée de défauts en Léa est grandement suspecte et sans précédents dans l’usage scriptural de ces termes.

Rachel est caractérisée uniquement par son attrait physique. Elle était « bien faite et d'une grande beauté » (verset 17.) Moïse pourrait attirer notre attention sur ce fait car c’était la source principale d’attraction pour Jacob. Il semblerait y avoir un contraste important entre Rachel et Rébecca. Rébecca fut sélectionnée pour Isaac par le serviteur d’Abraham aidé par un conseil divin et à cause des qualités personnelles qui l’assurerait qu’elle serait une bonne épouse pour Isaac. Rachel, d’un autre coté, fut choisie pour Jacob par lui-même, mais sans aucune mention de qualités personnelles, seulement une description de sa beauté. La beauté de Rébecca était un bonus inattendu ; la beauté de Rachel était la principale raison de sa selection. Les feux rouges d’avertissement auraient déjà du clignoter dans nos esprits.

Sur cette raison discutable, Jacob préféra Rachel, la cadette, à Léa, l’aînée, et proposa les termes de paiements de la dot :

« Jacob s'était épris de Rachel et il dit à Laban:
---Je te servirai pendant sept ans si tu me donnes Rachel, ta fille cadette, en mariage. » (Genèse 29:18)

La réponse de Laban fut positive mais quelque peu vague :

« ---Je préfère te la donner à toi plutôt qu'à un autre. Reste chez moi.» (Genèse 29:19)

Je ne sais pas pour sûr que Laban avait déjà décidé de duper Jacob en échangeant les femmes, mais sa réponse certainement lui laissa assez de place pour manœuvrer. C’était assez positif pour Jacob de savoir que son offre avait été acceptée. C’était, je crois, un prix à prime mais un que Jacob n’avait pas de problème à payer :

« Jacob travailla sept ans pour obtenir Rachel, et ces années furent à ses yeux comme quelques jours parce qu'il l'aimait. » (Genèse 29:20.)

Néanmoins, Laban n’a pas spécifié que les sept ans de service amènerait immédiatement ou nécessairement un mariage avec Rachel. Il l’a simplement insinué, et dans son état extase, Jacob assuma ce qu’il voulait croire.

Certains supposent qu’à 77 ans Jacob ne se serait pas soucier d’attendre sept ans pour se marier. Je ne suis pas d’accord. Le point du verset 20 est que Rachel valait bien le prix cher que Jacob allait payer pour elle – un prix mesuré en années de service plutôt qu’en argent. La déclaration de Jacob à Laban dans le verset suivant sous-entend fortement qu’il était impatient et désireux de consommer le mariage pour lequel il avait attendu longtemps.

Choc Aux Premières Lueurs (29:21-30)

« Puis il dit à Laban:
---Donne-moi maintenant ma femme, car j'ai accompli mon temps de service et je voudrais l'épouser. » (Genèse 29:21)

Il est difficile de lire ce verset sans conclure qu’il y avait beaucoup de passion romantique dans ce vieil homme de 77 ans. Son désir physique pour Rachel est certainement attendu. Ironiquement, c’est cet appétit physique, tout comme le désir d’Isaac pour le gibier (25:3-4), qui causa Jacob d’agir trop rapidement et de s’attacher à un engagement à vie.

« Alors Laban fit un festin auquel il invita tous les habitants de la localité.

La nuit venue, il prit sa fille Léa et l'amena à Jacob qui s'unit à elle.

Laban donna sa servante Zilpa à sa fille Léa.

Le lendemain matin, Jacob se rendit compte que c'était Léa. Alors il dit à Laban:
---Que m'as-tu fait? N'est-ce pas pour Rachel que j'ai travaillé chez toi? Pourquoi alors m'as-tu trompé? » (Genèse 29:22-25)

C’est avec grande discrétion, que Moïse décrit cette situation des plus délicate et intime. Où Hollywood aurait inséré des pages et des pages d’élaboration, Moïse nous a donné une déclaration entre parenthèses à propos de la servante que Laban donna à sa fille. Nous devons donc traiter ce sujet d’une manière qui est consistante avec la grandiloquence du texte et avec les standards de droiture.

Pendant sept ans Jacob a attendu pour ce jour. Son désir est naturel et normal. A la fête, il a du avoir bu assez de vin pour diminuer ses sens. Ses invités auraient remarqué son entrée dans la tente (et le lit matrimonial où Léa attendait) et aussi sa sortie, qui aurait indiqué que le mariage avait été consommé par l’union de la mariée et du marié (Juges 14:10-15:2 ; Psaume 19:5.) La même passion qui domina Jacob quand il choisit sa mariée le gouvernait au moment où il entra dans la tente. Ce n’est pas étonnant que Jacob ait commit l’erreur qu’il fit.

De bonne heure le lendemain matin, Jacob se réveilla. Quelle journée magnifique ! Quelle nuit magnifique ! Quel futur excitant ! Quel choc quand les rayons de soleil entrèrent dans la tente pour révéler que la femme dans ses bras était Léa, pas Rachel ! Quelle ironie que Jacob répète les mêmes mots que Pharaon dit à Abraham (12:18) et qu’Abimélek dit à Isaac (26:10) : « Que m'as-tu fait? » Bien que cela ne soit pas enregistré, il est facile de croire qu’Isaac ait aussi demandé cela à Jacob après sa grande déception. La chaussure est maintenant à l’autre pied ; Le trompeur a maintenant été trompé. Ceux qui choisissent de vivre par l’épée, meurent par elle.

Laban n’a pas été offensé par la réprimande de Jacob. Il avait probablement prévu la réponse à cette question bien longtemps avant que la confrontation n’ait lieu.

« Laban répondit:
---Chez nous, il n'est pas d'usage de marier la cadette avant l'aînée.

Mais termine la semaine de noces avec celle-ci, et nous te donnerons aussi l'autre en contrepartie de sept autres années de travail chez moi.

Jacob accepta: il termina cette semaine-là avec Léa, et Laban lui donna sa fille Rachel pour épouse.

Il donna aussi à Rachel sa servante Bilha.

Jacob s'unit également à Rachel qu'il aimait plus que Léa. Il travailla encore sept autres années chez Laban. » (Genese 29:26-30)

Et le résultat fut que Laban maria ses deux filles. Il s’est aussi arrangé à recevoir un bon prix pour les deux. Jacob eut deux épouses au lieu d’une, et il travailla deux fois plus pour ce qu’il désirait.

Conclusion

Moins de passages contiennent plus de leçons en ce qui concerne « vivre » que ce chapitre. Laissez moi vous suggérer quelques-uns uns d’entre eux sous des titres différents :

Les Conséquences du Péché

Précédemment, nous avons noté qu’une des conséquences du péché de Jacob, quand il avait trompé Isaac, fut sa séparation physique et émotionelle de ceux qu’il aimait. Une seconde conséquence a été un parallèle moral de la loi de gravité de Newton : Chaque action a une réaction égale et opposée. Des paroles de notre Seigneur, « … tous ceux qui se serviront de l'épée mourront par l'épée » (Matthieu 26:52.) Jacob a choisi d’améliorer sa vie en utilisant des moyens malhonnêtes. Il a apprit la triste leçon que ceux qui cherchent à décevoir seront déçus.

La tragédie de ce chapitre est que tout ce qui est arrivé était nécessaire. Tout ce que nous avons besoin de faire est de comparer l’acquisition de Rachel à celle de Rébecca. Les moyens d’Abraham ont donné à Isaac la possibilité d’avoir une épouse en très peu de temps (24:54.) La raison pour cela était que le serviteur avait la dot de la fortune d’Abraham, le père d’Isaac. Une des conséquences du péché de Jacob fut qu’il a du quitter Canaan – s’enfuir les mains vides. Puisque Jacob avait péché, il a été séparé de la richesse de son père et il avait seulement ses mains pour travailler. Les quatorze ans que Jacob a du travailler n’aurait pas été nécessaire, je crois, s’il n’avait pas trompé Isaac. Peut-être qu’Isaac a chassé Jacob sans rien pour lui apprendre une leçon : La valeur du travail dur. Ou peut-être c’était pour forcer Jacob à rester loin pendant longtemps en travaillant pour se gagner une épouse. Ça, nous ne savons pas, mais il semble que ce délai de 14 ans n’était pas nécessaire, mais simplement le résultat du péché. Quel prix il a du payer !

Il y a une différence frappante entre les conséquences du péché aujourd’hui et ceux de Jacob. Nos péchés, comme les siens, nous séparent de Dieu maintenant et pour toujours (Psaume 66:18 ; 2 Thessaloniens 1:9 ; Apocalypse 20:12-15.) Cependant, bien que le travail des mains de Jacob fut capable de l’aider à se procurer une épouse, le travail de nos mains ne peuvent nous procurer aucunes bénédictions de Dieu, ni le salût :

« Nous sommes tous semblables à des êtres impurs,
toute notre justice est comme des linges souillés. » (Ésaïe 64:6)

« … il nous a sauvés.

S'il l'a fait, ce n'est pas parce que nous avons accompli des actes conformes à ce qui est juste. Non. Il nous a sauvés parce qu'il a eu pitié de nous, en nous faisant passer par le bain *purificateur de la nouvelle naissance, c'est-à-dire en nous renouvelant par le Saint-Esprit. » (Tite 3:4-5)

La bonne nouvelle de l’Évangile et que nous, qui sommes des pécheurs et ne pouvons nous aider nous-même, pouvons être sauvés en croyant en le travail que Jésus Christ a fait pour nous. C’est en croyant en SA mort, en croyant qu’IL est mort à notre place, et en SA vertu que nous pouvons faire l’expérience des bénédictions de Dieu maintenant et pour toujours.

« Car c'est par la grâce que vous êtes sauvés, par le moyen de la foi. Cela ne vient pas de vous, c'est un don de Dieu;

ce n'est pas le fruit d'œuvres que vous auriez accomplies. Personne n'a donc de raison de se vanter.

Ce que nous sommes, nous le devons à Dieu; car par notre union avec le Christ, Jésus, Dieu nous a créés pour une vie riche d'œuvres bonnes qu'il a préparées à l'avance afin que nous les accomplissions.» (Ephésiens 2:8-10)

La Grâce de Dieu

Certains peuvent voir les évènements de ce chapitre comme Dieu prenant sa revanche sur Jacob. D’autres pourraient simplement les interpréter comme un genre de justice poétique. Je préfère les comprendre comme une évidence de la merveilleuse grâce de Dieu travaillant dans la vie de Jacob. Dieu n’a pas amené ces événements pour punir Jacob, mais pour l’instruire. La punition a été subite par notre Seigneur sur la croix, mais la discipline est l’entraînement correctif qui nous aide à avancer sur le chemin nous menant à la sainteté (Hébreux 12.)

Jacob a apprit la valeur de l’alliance. L’agréement qui régulait l’usage du puits (versets 2-3, 7-8) semblait être peu important pour Jacob. Dans son excitation de rencontrer Rachel, il décida d’utiliser le puits malgré les règles pour son usage. Il a aussi pu négliger quelques coutumes quand il a rencontré Rachel (versets 10-12.) Il a certainement choisi de négliger la coutume de marier l’aînée en premier. Je ne crois pas que Laban n’ait rien apprit de nouveau à Jacob, mais lui a rappelé quelques choses qui ne pouvait pas, ne devrait pas, être prit à la légère ou être négligé.

En plus de tout ça, Jacob ressentit la grâce de Dieu avec un délai de plus de 14 ans. Ce fut ce délai qui contribua au sauvetage de la vie de Jacob en le gardant loin de la furie d’Esaü, qui avait décidé de le tuer.

Incroyablement, la grâce de Dieu fut manifestée dans cet évènement par le don de Léa comme épouse pour Jacob. C’est probablement la dernière pensée à nous venir à l’esprit, mais je pense que c’est une position défendable. Premièrement, nous devons reconnaître que, dans la providence de Dieu (et en dépit de la roublardise de Laban), Léa devint la femme de Jacob. De plus, ce fut Léa, pas Rachel, qui devint la mère de Juda, qui devait devenir l’héritier par lequel le Messie viendrait (49:8-12.) Aussi, ce fut Lévi, un fils de Léa, qui fournirait la lignée de prêtres des années plus tard. Il semble important de remarquer que Léa et sa servante ont eu au moins deux fois plus d’enfant que Rachel et sa servante (29:31-30:24 ; 46:15,18,22,25.) L’aînée devait toujours avoir deux fois plus ; et il semblerait que Léa l’ait eu, du moins pour autant à ce que les enfants sont concernés.

Un dernier facteur reste qui montre la supériorité de Léa à Rachel. Rachel meurt à un jeune âge, bien qu’elle fut la sœur cadette. Quand elle mourut, elle fut enterrée sur la route de Bethlehem (35:19.) Et quand Léa mourut, elle fut enterrée avec Jacob dans une grotte à Machpelah (49:31.) Léa ne fut pas une malédiction pour Jacob, mais une bénédiction.

Conseils

Les moyens utilisés par Isaac pour obtenir Rébecca comme épouse étaient très différents de ceux utilisés par Jacob pour acquérir Rachel. Isaac était assujetti à son père, et c’était par la sagesse de son père et son serviteur, par les moyens financiers d’Abraham, et par la prière que Rébecca fut obtenue. Jacob partit volontairement, sans un sou de la fortune de son père. Il choisit la femme avec la plus grande beauté et marchanda avec Laban pour elle.

Pour moi, il n’y a aucun doute que Jacob fut guidé plus par ses hormones que par n’importe quels autres facteurs. Il n’a pas prié à ce sujet. Il n’a pas considéré le caractère. Il n’a pas cherché de conseils. En fait, il a essayé de contourner les coutumes de ce jour et les préférences de Laban.

Nous vivons des jours très romantiques. Nous acclamons Rachel et huons Léa. Dieu semble être de l’autre coté. Ce qui est romantique, n’est pas toujours correct – souvent c’est mal. La romance causa Jacob d’utiliser le puits quand et comment il en avait besoin, malgré les règles du propriétaire. La romance a conduit Jacob à choisir Rachel, pas Léa. La romance contrôlait tellement Jacob que, sous son influence, il passa toute une nuit avec la mauvaise femme. Nous devons faire attention à ces décisions qui sont amenées par des impressions ou sentiments romantiques.

Beauté

Peu de choses sont plus importantes pour les femmes d’aujourd’hui que la beauté. Peut-être rien n’est plus important pour les hommes aujourd’hui que la beauté. Rachel était une femme terriblement séduisante. Rien de mal avec ça. Sara était très belle, ainsi que Rébecca. Mais la beauté extérieure doit toujours être considérée d’une façon secondaire. Jacob a regardé à l’extérieur de Rachel et pas plus loin. Il n’a pas essayé de connaître son caractère. L’écrivain, Roi Lemouel, n’était pas dans l’erreur quand il a donné ce conseil :

« La grâce est décevante et la beauté fugace;
la femme qui révère l'Eternel est digne de louanges. » (Proverbes 31:30)

Messieurs, jeunes garçons, ceci est un mot pour nous. Nous voulons tous être vus en compagnie de très belles femmes. Nous avons tous rêvé de sortir avec elles. Certains ont fait de grands sacrifices pour marier une pièce de collection. Cherchons en premier un bon caractère, et si nous le trouvons, ne cherchons pas plus loin. Si nous trouvons un bon caractère avec du charme et de la beauté, considérons-nous chanceux.

Ce n’était pas la beauté extérieure qui a rendu la première nuit une chose si merveilleuse entre Jacob et Rachel – c’était l’amour de Jacob pour elle, et (j’en suis convaincu) son amour à elle pour lui. C’est l’amour, pas la beauté, qui amène le septième ciel dans la chambre. Ne l’oublions pas.

Mesdames, je réalise bien que la société a placé un grand prix sur le prestige et la beauté. Je comprends que beaucoup de votre sens d’amour propre est basée sur votre attraction extérieure et « sex-appeal. » Cependant, c’est faux. Notre valeur réelle est l’estimation qui vient de Dieu. Dieu n’était pas impressionné avec la beauté de Rachel. Après tout, IL lui a donné tout ça depuis le début. Dieu regarda au cœur et bénit Léa. Sa valeur, bien que jamais totalement réalisée par son mari, était immense aux yeux de Dieu. Apprenons tous à être satisfait avec nous-même, comme Dieu nous a fait, et trouvons notre vraie valeur dans le royaume spirituel.

« Mais l'Eternel lui dit:
---Ne te laisse pas impressionner par son apparence physique et sa taille imposante, car ce n'est pas lui que j'ai choisi. Je ne juge pas de la même manière que les hommes. L'homme ne voit que ce qui frappe les yeux, mais l'Eternel regarde au coeur. » (1 Samuel 16:7)

« Car qui te confère une distinction? Qu'as-tu qui ne t'ait été donné? Et puisqu'on t'a tout donné, pourquoi t'en vanter comme si tu ne l'avais pas reçu? » (1 Corinthiens 4:7)


236 Literally, the text here reads, “Then Jacob lifted up his feet . . .”

237 W. H. Griffith Thomas, Genesis: A Devotional Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1964), p. 270; C. F. Keil and F. Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1968), Vol. I, p. 285.

238 In the New International Version the translators attempt to correct this seeming lack of etiquette by translating verse 13, “He had told Rachel that he was a relative . . .” Perhaps so, but not necessarily. Surely the text does not demand such a rendering.

239 Leupold strains a bit to suggest that Laban’s expressions of affections were overdone: “Without a doubt, the man was glad to meet a nephew and ‘embraced him’ in all sincerity and ‘kissed him repeatedly’ with true affection. Yet the Piel stem yenashseq does not mean just ‘give a kiss’ as does the kai wayyishshoq (v. 11). Perhaps the overplus of affection displayed carries with it a trace of insincerity, for the truest affection does not make a display of itself.” H. C. Leupold, Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), II, p. 790.

240 At this point Laban was not reported to have any sons. He may very well have hoped to adopt Jacob as a son, making him his heir, and also providing security for himself in his old age. Such arrangements were not unusual in that time. This we shall describe more fully in a later lesson.

241 Leupold, Genesis, II, p. 793.

242 Thus Stigers states: “The comparison is with the less beautiful as the degree of contrast, not with the one who is sickly. The word rak is usually used to connote delicateness in upbringing (Deut. 28:50) and of women (28:56), not of physical defects of a pathological sort.” Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 230.

243 Francis Brown; S. R. Driver; and Charles Briggs, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament (Oxford: Clarendon Press, 1966), p. 744.


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32. Jacob Reçoit les Chèvres de Laban (Genèse 30:25–31:16)

Introduction

Il y a pas mal d’années pendant que j’étais étudiant à l’université, j’ai fait quelque chose qui a surpris mes amis, et des années plus tard, continue à me surprendre. Mes deux amis et moi vivions au dernier étage d’une vieille maison près du campus de l’université. Vivant au rez de chaussée étaient un vieil homme et sa femme, servant un peu comme « chaperons. » Un jour, le vieil homme vint à l’étage et nous demanda de l’aider à mettre un meuble dans une remorque de location. En tout, ça nous a prit cinq minutes pour transporter le meuble du troisième étage à la remorque.

Après avoir terminé, il exprima ses remerciements sincères et nous tendit un billet tout neuf de dix dollars. Bien sur, il n’avait jamais pensé que nous l’accepterions. Naturellement, aucun de mes amis ne l’accepta. Je pris le billet comme si c’était de la manne venue du ciel, remerciant sans fin le vieil homme qui était là, bouche bée. Il ne m’est jamais venu à l’esprit que cet argent était autre chose que la provision de Dieu pour un étudiant affamé.

Je peux seulement imaginer ce qui a dû se passer quand ce pauvre homme essaya d’expliquer à sa femme comment il avait pu perdu ce billet de dix dollars. La leçon que je pense sa femme lui a expliqué était probablement cela : n’essayez jamais d’escroquer un escroc. Ceux qui sont le plus susceptible d’être escroqué sont ceux qui ont au moins un bon morceau d’escroc en eux-mêmes.

Les évènements de cette partie des Écritures semblent décrire deux escrocs, chacun essayant d’escroquer l’autre. Par la grâce et provision de Dieu, ce sera Jacob qui gagnera, mais pour des raisons complètement différentes de celles qu’il espérait. Beaucoup d’entre nous, comme Jacob, avons tendance à donner à Dieu le mérite pour prospérer nos efforts inavouables pour progresser. C’était en dépit des roublardises de Jacob que Laban fut un homme riche quand il le quitta. Ce n’était ni sa spiritualité, ni sa perspicacité qui l’ont fait progresser dans la vie.

Le Nouveau Marché de Laban (30:25-36)

« Après la naissance de Joseph, Jacob dit à Laban:
---Laisse-moi retourner chez moi, dans mon pays.

Donne-moi mes femmes --- pour lesquelles j'ai travaillé chez toi --- et mes enfants, et je m'en irai; car tu sais bien comment j'ai travaillé pour toi.

Laban lui dit:
---Si tu veux bien me faire une faveur, reste ici. J'ai appris par divination que c'est à cause de toi que l'Eternel m'a béni.

Et il ajouta: Fixe-moi ton salaire, et je te le donnerai.

Jacob lui dit:
---Tu sais toi-même comment je t'ai servi, et ce que ton cheptel est devenu grâce à moi.

Car tu avais bien peu de chose à mon arrivée, mais tes biens se sont considérablement accrus. L'Eternel t'a béni depuis que je suis chez toi. Mais à présent, il est temps que je travaille aussi pour ma propre famille.

Laban lui demanda:
---Que faut-il te payer?
---Tu n'auras rien à me payer, répondit Jacob. Mais si tu acceptes ma proposition, je continuerai à paître tes troupeaux et à m'en occuper.

Si tu veux, je passerai aujourd'hui tout ton troupeau en revue, je mettrai à part toutes les bêtes rayées ou tachetées et tous les agneaux de couleur foncée, ainsi que toutes les chèvres tachetées et rayées. Ils constitueront mon salaire.

Ainsi il te sera facile de contrôler mon honnêteté. Demain, tu viendras inspecter mon salaire: si tu trouves chez moi une chèvre qui ne soit pas rayée ou tachetée, ou un agneau qui ne soit pas de couleur foncée, tu pourras les considérer comme volés.

Laban dit:
---D'accord! Fais comme tu l'as dit.

Mais le jour même, Laban retira du troupeau les boucs tachetés et rayés, toutes les chèvres tachetées ou rayées, tout ce qui était mêlé de blanc et tous les agneaux de couleur foncée, et il les remit entre les mains de ses fils.

Puis il mit une distance de trois journées de marche entre lui et Jacob, lequel continua à s'occuper du reste de ses troupeaux. » (Genèse 30:25-36)

Les quatorze ans de service pour Léa et Rachel ont du être accomplis peu de temps après la naissance de Joseph. Jacob rappela à Laban qu’il était temps d’emmener sa femme (29:21), donc il devait lui demander sa libération pour qu’il puisse retourner dans son pays et sa famille. Plusieurs facteurs auraient contribué au désir de partir de Jacob. Premièrement, ses sentiments envers Laban n’auraient peut-être pas été très positifs à ce point. Il avait été trompé, et son retour avait été retardé de sept ans de plus qu’il avait espéré. Il y aurait certainement dû y avoir un désir de retourner dans sa famille. Bien que nous ne sachions pas si Rébecca était toujours vivante, au moins nous savons qu’Isaac l’était. Et finalement, Dieu lui avait révélé, qu’un jour, il retournerait à la terre promise où il serait bénit (Genèse 28:10-22.)

Ayant accomplit ses obligations pour Laban, Jacob était libre, mais Laban était réticent de le voir partir. Il réalisait250 que sa prospérité était le résultat de la présence de Jacob (verset 27.) Si Jacob allait rester, Laban raisonnait, ce ne serait que pour un motif de profit. Tout le travail de Jacob avait fait pendant ces quatorze années avait été pour le paiement de la dot. Il ne pouvait rien montrer pour son travail excepté ses femmes et sa famille. Maintenant il était temps de négocier à nouveau le contrat de Jacob, et Laban lui demanda ses conditions.

Jacob n’était pas pressé de le faire. Il fortifia d’abord sa position en diminuant, dans l’esprit de Laban, la valeur qu’il aurait pour lui, tout comme cela avait été évident par le passé (versets 29-30.) Jacob avait maintenant une famille pour laquelle il devait pourvoir, donc son salaire devait être adéquate pour leurs besoins. Il devait penser à l’avenir. L’offre de Laban, il suggéra, allait devoir être bonne.

Maintenant que Laban est prêt à accepter un marché dur, Jacob lui donna ses conditions. Et franchement, Laban a dû être soulagé, car la requête était telle qu’il lui fut facile d’accepter. Normalement, les chèvres dans ce pays étaient noires ou brunes foncées, rarement blanches ou tachetées de blanc. D’un autre coté, les moutons étaient pratiquement toujours blancs, pas souvent noirs ou tachetés.251 Jacob offrit de continuer à travailler comme gardien de troupeaux s’il pouvait recevoir les plus rares des bébés.

Laban examinerait les troupeaux ce même jour, enlevant tous les animaux qui seraient mis de coté et marqués plus tard comme étant sa propriété. Ces animaux seraient emmenés à une distance de trois jours de marche et gardés par ses fils. Seuls les nouveaux bébés (pas ceux déjà nés) tachetés, mouchetés ou rayés appartiendraient à Jacob. Plus tard, le troupeau serait examiné et les animaux tachetés, mouchetés ou rayés lui appartiendraient, pendant que le reste appartiendrait à Laban. Enlever les tachetés, mouchetés et rayés qui étaient dans le troupeau bénéficiait Laban dans deux sens. Premièrement, cela laissait ces animaux à lui, pas à Jacob. Et aussi, cela diminuait les chances de conception d’autres animaux tachetés, mouchetés ou rayés, puisqu’ils ne s’accoupleraient pas avec le troupeau.

C’est trop beau pour être vrai, Laban a dû penser. Comment pourrait-il perdre ? Cependant, c’était un accord non déterminé, qui encourageait Jacob à essayer de manipuler le résultat et qui, aussi, laissait la possibilité à Dieu de changer le cours normal de la nature pour bénir Jacob. L’accord fut conclut, et les troupeaux furent divisés, avec Jacob s’occupant des animaux non-tachetés et non-rayés de Laban.

Le Sens Lucratif des Affaires de Jacob (30:37-43)

Jacob et Laban, tous les deux, ont dû se quitter en rigolant dans leurs barbes. Tous les deux pensaient qu’ils pourraient manipuler l’accord à leurs propres avantages et aux dépens de l’autre. Au lieu de s’occuper consciencieusement des troupeaux de Laban, en comptant sur Dieu pour l’accroissement, Jacob décida que c’était quelque chose qu’il pourrait mieux exécuter en recourant à ses intrigues et ses formules. Il employa trois techniques qui apparemment résultèrent en grand succès :

« Jacob se procura des rameaux verts de peuplier, d'amandier et de platane et en pela l'écorce par endroits, laissant apparaître l'aubier blanc des branches.

Il plaça ces rameaux sous les yeux des brebis dans les auges et les abreuvoirs où elles venaient boire; celles-ci entraient en chaleur en venant boire.

Les bêtes s'accouplaient devant ces rameaux. Lorsqu'elles mettaient bas, leurs petits étaient tachetés, rayés et marquetés.

Jacob mit les moutons et les chèvres qu'il se réservait face aux bêtes du troupeau de Laban qui étaient tachetées et de couleur foncée. Il se constitua ainsi des troupeaux à lui, qu'il ne mêla pas à ceux de Laban.

Chaque fois que des bêtes vigoureuses s'accouplaient, Jacob plaçait les rameaux sous leurs yeux dans les auges pour qu'elles s'accouplent devant les rameaux.

Quand les brebis étaient chétives, il ne les mettait pas. Ainsi les bêtes chétives revenaient à Laban et les robustes à Jacob.

De cette manière, ce dernier s'enrichit considérablement, il posséda de nombreux troupeaux, des servantes et des serviteurs, des chameaux et des ânes. » (Genèse 30:37-43)

La première méthode que Jacob utilisa (versets 37-39) était de peler des rameaux de peupliers, qui étaient supposés avoir un genre d’influence prénatale sur les troupeaux. Jacob supposait que si les animaux avaient une impression visuelle de rayures pendant qu’ils s’accouplaient et concevaient, les bébés assumeraient la même forme. Alors il plaça ces rameaux pelés dans toutes les tranchées, qui servaient de trous d’eau pour abreuver les animaux ; Et tout ce qui arriva le convainquit que son truc marcha, car les bébés résultant des accouplements devant les rameaux étaient tous rayés, mouchetés ou tachetés (verset 39.)

La seconde phase du plan de Jacob pour manipuler le résultat de son travail était de séparer les troupeaux. Les bébés rayés, mouchetés et tachetés (qui appartenaient à Jacob) furent mis à part. Le reste du troupeau fut placé en face des animaux rayés, mouchetés, tachetés ou tout noirs (verset 40.) Pendant que les rameaux pelés étaient artificiels, les bébés animaux rayés étaient vrais. Sûrement en voyant ces bébés, le reste du troupeau chopperait l’idée.

La troisième phase fut une idée de génie (versets 41-42.) C’était un genre de reproduction sélective. On nous dit que les brebis misent bas deux fois cette année là, une fois à l’automne et une fois au printemps.252 Ceux qui étaient nés à l’automne étaient plus résistants, puisqu’ils devaient endurer l’hiver rude. Jacob plaça ses rameaux pelés devant les animaux les plus forts mais pas devant les plus faibles. Dans l’esprit de Jacob, le résultat était que les animaux forts allaient lui revenir, pendant que les faibles iraient à Laban (verset 42.)

D’après tout ce qui a été dit, naturellement, nous pourrions tous conclure que la grande prospérité de Jacob (verset 43) était due à ses techniques astucieuses pour manipuler le résultat de l’accouplement des troupeaux. Il semblerait. Et c’est ce qu’il sembla à Jacob. Il n’y a qu’un problème : ca n’a pas marché parce que ce n’était pas possible. Du point de vue spirituel, ça n’a pas marché car Dieu ne bénit pas les efforts charnels. Du point de vue physique, toutes les intrigues de Jacob furent sans résultats parce qu’elles marchaient sur une supposition, et cette supposition était scientifiquement fausse. Chacune des trois techniques que Jacob employa était basée sur la croyance que les impressions visuelles au moment de conception déterminaient le résultat à la naissance. Dans la première et troisième technique, c’étaient les rameaux pelés qui devaient produire des bébés rayés. Personne ne croit ça aujourd’hui, et aucun fermier n’utilise cette technique pour améliorer son bétail. La deuxième formule de Jacob était basée sur le même principe, mais il employa les noirs et les rayés du troupeau pour créer les impressions visuelles.

Seulement plus tard nous dit on la vraie raison pour la prospérité de Jacob. Mais notez ça – Jacob n’a pas prospéré parce qu’il a eu Laban. Le succès de Jacob ne fut pas le résultat de ses intrigues.

La Hostilité de Laban (31:1-16)

Juste comme la déception de Jacob sur son père avait eu des effets indésirables et opposés (27:30), la nouvelle prospérité obtenue de Jacob a produit ses problèmes :

« Jacob apprit que les fils de Laban disaient:
---Jacob s'est emparé de tout ce qui appartenait à notre père et c'est avec le bien de notre père qu'il s'est acquis toute cette richesse.

Il remarqua aussi que l'attitude de Laban envers lui n'était plus comme avant. » (Genèse 31:1-2)

Deux changements importants s’étaient produit depuis que Jacob était arrivé à Paddân-Aram, et leurs intersections précipita une crise familiale. Premièrement, Jacob, qui était arrivé sans un sou (32:10), était maintenant devenu prospère, et cela aux frais de Laban. Deuxièmement, quand Jacob est arrivé rien n’était mentionné à propos de ses fils, mais maintenant, il avait des fils.

En plus de ces deux faits, nous devons considérer un autre facteur que nous avons appris de découvertes archéologiques. Un homme qui n’avait pas de fils pouvait adopter un membre proche de la famille, qui deviendrait alors son fils. Des fois, ce nouveau père donnait à ce « fils » une fille en mariage. Si le père plus tard devenait « vraiment » père, l’héritage serait divisé parmi les héritiers de façon spéciale. Le fils qui avait les droits d’aînesse, en conséquence, la position de chef de famille, recevrait, dans cette culture, les dieux de la famille, ce qui signifiait sa qualité de chef.253

De ces faits, nous pouvons un peu lire entre les lignes de l’histoire et présumer, avec un peu de confiance, la cause du changement d’attitude envers Jacob et sa famille. En premier, Laban aurait vu Jacob comme son fils, son héritier ; mais quand ses fils apparurent, ce n’était plus nécessaire. En fait, Jacob était devenu un rival pour l’héritage de la famille. Quand Jacob prospéra aux frais de Laban, il est facile de comprendre pourquoi les fils de Laban le regardèrent avec disgrâce, car tout leur héritage s’envolait devant leurs yeux. Alors le changement d’attitude de Laban et ses fils amena à un changement de plans pour Jacob. Non seulement les circonstances semblèrent dicter ce changement, mais Dieu révéla à Jacob qu’il était temps de retourner dans son pays :

« De plus, l'Eternel lui dit:
---Retourne au pays de tes pères, auprès de ta parenté, et je serai avec toi.

Alors Jacob fit venir Rachel et Léa aux champs où il était avec ses troupeaux

et il leur dit:
---Je vois que votre père n'a plus envers moi la même attitude qu'auparavant. Mais le Dieu de mon père a été avec moi.

Vous savez vous-mêmes que j'ai servi votre père de toutes mes forces,

tandis que lui m'a trompé: par dix fois, il a changé les conditions de mon salaire. Heureusement, Dieu ne lui a pas permis de me causer du tort.

Quand votre père affirmait: «Les bêtes rayées constitueront ton salaire», toutes les bêtes mettaient bas des petits rayés. Et quand il affirmait: «Les tachetés seront ton salaire», toutes les bêtes faisaient des petits tachetés.

Ainsi, c'est Dieu qui a pris le bétail de votre père et qui me l'a donné.

En effet, à l'époque où les bêtes s'accouplent, j'ai vu en songe que les béliers qui couvraient les brebis étaient tachetés, rayés ou marquetés.

L'*ange de Dieu m'appela dans ce rêve: «Jacob!» Et j'ai répondu: «J'écoute.»

«Lève les yeux, dit-il, et regarde: tous les béliers qui couvrent les brebis sont tachetés, rayés ou marquetés, car j'ai vu tout ce que te fait Laban.

Je suis le Dieu de Béthel, où tu as répandu de l'huile sur une pierre dressée en stèle, et où tu m'as fait un vœu. Maintenant, lève-toi, quitte ce pays et retourne dans ton pays natal.»

Rachel et Léa lui répondirent:
---Avons-nous encore quelque chose, ou un héritage, chez notre père?

Ne nous a-t-il pas traitées comme des étrangères puisqu'il nous a vendues? Et, de plus, il a mangé notre argent.

Par conséquent, tous les biens que Dieu a sauvés de notre père nous appartiennent, à nous et à nos enfants. Maintenant, donc, fais tout ce que Dieu t'a demandé. » (Genèse 31:3-16)

La dernière révélation enregistrée que Jacob avait reçue était vingt ans auparavant pendant qu’il était encore au pays de la terre promise (28:10.) Maintenant Jacob reçoit un ordre divin qui est particulièrement liée à son retour au pays. L’impression est donnée que Jacob ne reçu aucune autre révélation durant ces vingt années. Ses actions sembleraient confirmer cette conclusion, car peu fut dit de Dieu et de Sa volonté jusqu'à ce moment là.

Ce que les circonstances suggérèrent à Jacob de faire, Dieu les lui commanda. Il devait retourner dans son pays et dans sa famille. Jacob ne s’est pas inquiété à propos de convaincre son beau-père (verset 17), mais il lui a été nécessaire d’avoir le support de ses femmes. Elles doivent choisir maintenant entre leur père et leur mari. Pour avoir une conversation privée, Jacob appelle ses femmes à venir dans un champs.

Le Mauvais Traitement

La première ligne de défense de Jacob était que leur père l’avait maltraité (versets 5-9.) Les choses n’étaient pas comme elles étaient avant. Pour quelques raisons inconnues, l’attitude de Laban avait mystérieusement changé envers Jacob. Bien qu’il n’était pas le favori de Laban, Dieu avait été du coté de Jacob. J’assumerais que la conclusion est que cela pouvait se voir par sa prospérité.

Pour la défense de Jacob, il se met lui-même dans une position très favorable. Il est le chevalier à l’armure d’argent, pendant que Laban est le vrai vilain. Laban a travaillé dur (verset 6), mais Laban a été le malhonnête (verset 7.) Laban a constamment changé les termes de leur contrat (verset 8.) L’évidence de l’intégrité de Jacob est que Dieu l’a justifié en lui donnant les troupeaux de Laban. Ça a prouvé son innocence.

L’Ordre Divin

A part cela, Dieu avait parlé à Jacob confirmant Ses bénédictions et le poussant à retourner à la terre promise (versets 10-13.) Alors, Jacob raconta le rêve qu’il avait eu récemment,254 qui confirma encore plus la justesse de ses actions et que retourner dans son pays était la bonne chose à faire.

Tout ce que Jacob vit dans ce rêve était un ordre divin de retourner à la maison. La vision des chèvres rayées, mouchetées, et tachetées semblait justifier tout ce qu’il avait fait pour manipuler l’accouplement et les bébés des troupeaux. Le même Dieu Qui lui avait donné l’avantage sur Laban, S’était aussi révélé à Béthel (verset 13) et lui ordonnait de faire demi-tour.

Au moins Jacob fut capable de convaincre ses femmes que c’était juste de quitter Laban. Elles reconnaissaient qu’elles n’étaient plus les favorites de leur père. Il favorisait ses fils et ne considérait Jacob et ses femmes que comme une responsabilité. Laban vendit ses filles à Jacob et dépensa les bénéfices pour lui-même. Il n’y avait aucun amour perdu entre ces femmes et leur père. Il ne serait pas dur pour elles de quitter Laban.

Bien que ce que Jacob comprenait était vrai, en partie, il n’avait pas vu assez dans cette vision. Dieu ne l’avait pas félicité pour ses essais à manipuler les choses contre Laban pour son propre avantage. En fait, la prospérité dont il profitait n’avait rien à voir avec ses efforts fervents. Tous ces rameaux, l’écorçage et la séparation furent inutiles. Un regard attentionné aux mots décrivant le rêve rendra cela très clair. Remarquez comment Dieu attire l’attention de Jacob sur le fait que les mâles qui s’accouplaient étaient rayés, mouchetés ou tachetés (versets 10,12.)

Auparavant nous affirmions que tous les efforts de Jacob étaient basés sur une prémisse erronée – qu’une impression visuelle durant la conception influencerait le bébé. Dans la vision que Jacob eut de Dieu, il n’y avait pas de rameaux pelés, pas de troupeaux séparés, mais seuls les boucs s’accouplant étaient rayés, mouchetés ou tachetés. Quelle leçon Dieu voulait-IL apprendre à Jacob ou au moins à nous ?

Ce qui déterminait les bébés des troupeaux n’étaient pas les circonstances (impressions visuelles) à la conception, mais les caractéristiques des boucs qui s’accouplaient avec les chèvres. L’attention de Jacob fut attirée sur le fait que tous les boucs qui s’accouplaient étaient rayés, mouchetés ou tachetés. En d’autres mots, seuls les boucs rayés, mouchetés ou tachetés s’accouplaient, pas le reste.

Nous savons pour sûr que c’était un facteur très important pour déterminer les caractéristiques des bébés. « Tel père, tel fils », on dit. Pendant que Jacob opérait sur un principe entièrement faux, Dieu travaillait sur un principe qui est prouvé scientifiquement. Comment ce faisait-il que seuls les boucs rayés, mouchetés ou tachetés s’accouplaient ? Simple. Dieu l’a ordonné pour que la richesse de Laban aille à Jacob.

Réfléchissez un peu. Tous les efforts de Jacob n’ont servi à rien. Tout cet écorçage des rameaux et séparation des troupeaux et s’efforcer de surpasser Laban étaient tout pour rien. Ce qui semblait à ce moment- là être le travail de Jacob et le résultat de ses intrigues n’étaient rien de la sorte. C’était la main de Dieu en dépit de ses intrigues, pas à cause d’elles.

Conclusion

Les parallèles entre le séjour de Jacob ont Paddân-Aram et l’esclavage d’Israël en Egypte ont dû être évidents pour la nation quand ils ont lu ce récit de la main de Moïse. Le péché de Jacob nécessitait son départ juste comme le voyage de Joseph fut le résultat de beaucoup de péchés. Jacob est arrivé à Paddân-Aram un homme pauvre, mais il l’a quitté avec une grande famille et de grandes richesses. Joseph fut envoyé en Egypte un esclave ; Mais quand la nation émergea de l’exode, ils étaient nombreux, et ils étaient considérablement riches. Tout comme Laban fut jugé par Dieu et sa fortune fut donnée à Jacob, l’Egypte fut jugée par sa richesse qui disparut pendant l’exode.

Pendant que ces similarités sont plutôt frappantes, il reste encore un parallèle qui serait très instructif pour la nation d’Israël. Les richesses de Jacob ne sont pas provenues de ses intrigues mais en dépit d’elles. Jacob n’a pas été bénit de Dieu à cause de sa vertu, mais à cause de SA grâce. Alors les Israélites devaient comprendre que leurs bénédictions étaient un don de Dieu, n’ayant rien à voir avec les travaux de leurs propres mains, tachés par leurs péchés. Nous devons conclure que le succès ne peut égaler la spiritualité.

La religion est aussi distincte du christianisme que l’écorçage des rameaux de Jacob était de la grâce souveraine de Dieu dans la vie de Jacob. Beaucoup d’hommes et de femmes essayent de payer leur billet pour atteindre le royaume de Dieu par leurs propres moyens. Certains moyens pourraient être l’adhésion à une église, le baptême, la confirmation, la communion, une position de dirigeant d’église, une charité, etc. Bon, toutes ces activités peuvent avoir de la valeur pour quelqu’un qui est déjà un Chrétien, mais elles sont inutiles pour celui qui essaye de gagner l’approbation et les bénédictions de Dieu en les faisant. L’apparence de bénéfice peut être là, mais pas sa réalité. Les gens peuvent penser que nous sommes Chrétiens. Ils peuvent louer notre dévotion au devoir. Mais l’effort charnel est simplement l’écorçage de rameaux en ce qui concerne Dieu.

Le seul moyen d’entrer au royaume de Dieu est de reconnaître que nous ne le méritons pas. Nous devons arriver à nous méfier de tout ce que nous sommes ou faisons pour mériter la faveur et la bénédiction de Dieu. Le travail du salût est le travail souverain de Dieu. Il a été accomplit par SON Fils, Jésus Christ. IL a supporté la punition pour nos péchés. IL a fournit la vertu que Dieu exige. Le salût n’arrive que quand on ne croit en rien de plus et rien de moins que Jésus Christ est suffisant pour nous fournir les bénédictions éternelles.

Je me demande combien de fois des vrais Chrétiens ont bêtement conclut que le succès que nous avons est la preuve de la bénédiction de Dieu et de son approbation de nos méthodes charnelles et non spirituelles. Est-ce qu’on, comme Jacob, supposons que n’importe quelles méthodes qui semblent marcher sont acceptables pour Dieu ? Quand je réfléchis à ce que je fais et que j’observe les techniques qui sont communément acceptées par l’église aujourd’hui, je dois admettre qu’il semble que les résultats nous sont plus importants que la vertu. Pendant que nous pouvons avoir du succès à nous convaincre et peut-être à convaincre les autres, Dieu connaît nos cœurs, et éventuellement, nous nous tiendrons devant LUI et devrons répondre de nos actions. Comme quelqu’un l’avait justement dit, nous ne sommes pas loués d’être victorieux, mais seulement d’obéir. Nous ne sommes pas loués d’être fécond, seulement de demeurer (Jean 15:1-8.)

Il se peut que nous essayions d’excuser notre déception en insistant que nous vivons dans une « génération corrompue et perverse » (Philippiens 2:15.) Nous arrivons à croire que le seul moyen de survivre dans une telle société est d’escroquer les escrocs. Jacob a probablement ainsi satisfait sa conscience, ruminant dans sa tête le fait qu’il ne pouvait pas traiter avec Laban d’une façon honnête. Mais cela n’est pas ce que l’apôtre Paul nous enseigne :

« Faites tout sans vous plaindre et sans discuter,

pour être irréprochables et purs, des enfants de Dieu sans tache au sein d'une humanité corrompue et perverse. Dans cette humanité, vous brillez comme des flambeaux dans le monde,

en portant la Parole de vie. Ainsi, lorsque viendra le jour du Christ, vous serez mon titre de gloire, la preuve que je n'aurai pas couru pour rien et que ma peine n'aura pas été inutile. » (Philippiens 2:14-16)

Finalement, beaucoup d’entre nous, comme Jacob, échouent à « rendre attrayant l'enseignement de Dieu » (Tite 2:10) dans nos vies de tous les jours. Nous faisons un contrat avec notre employeur, mais nous concluons qu’il n’est pas autant intéressé par notre avenir que nous. Nous commençons à faire attention à nos intérêts aux frais du patron. Nous commençons à construire nos propres petits empires, tout comme Jacob avait séparé son troupeau de celui de Laban. Nous commençons à passer une grande partie de notre temps essayant de figurer comment nous pouvons prendre avantage de ce qui appartient à la compagnie. Plutôt que de travailler diligemment et abandonner notre bien-être aux mains de Dieu, nous prenons les choses en nos propres mains. Bien que nous puissions, comme Jacob, rester dans les limites de la loi, nous prenons avantage d’un autre. Une telle conduite n’est pas pour la gloire de Dieu. Cela n’est pas :

« Faites donc du règne de Dieu et de ce qui est juste à ses yeux votre préoccupation première, … » (Matthieu 6:33)

Que Dieu nous permette d’avoir totalement foi en LUI et en SA grâce plutôt qu’en nos intrigues et en le travail de nos mains !


250 It is possible that Laban learned this through the pagan process of divination, as is suggested by the term employed. This is not mandatory, however, and thus scholars are divided as to which possibility is most likely. One way or the other, Laban learned that God’s hand was upon Jacob. It seems hard to believe that Laban should have had to resort to divination to determine this. If it were divination, surely Jacob’s testimony was gravely deficient.

251 C. F. Keil, and F. Delitzsch. Biblical Commentary on the Old Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1968), I, p. 292.

252 Ibid., p. 294.

253 “The adoption tablet of Nashwi son of Arshenni. He adopted Wullu son of Puhishenni. As long as Nashwi lives, Wullu shall give (him) food and clothing. When Nashwi dies, Wullu shall be the heir. Should Nashwi beget a son, (the latter) shall divide equally with Wullu but (only) Nashwi’s son shall take Nashwi’s gods. But if there be no son of Nashwi’s, then Wullu shall take Nashwi’s gods. And (Nashwi) has given his daughter Nahuya as wife to Wullu. And if Wullu takes another wife, he forfeits Nashwi’s land and buildings. Whoever breaks the contract shall pay one mina of silver (and) one mina of gold.”

After citing this translation of tablet G51 from a Nuzu tablet, Vos goes on to suggest this interpretation of what took place in the Jacob-Laban contest:

“The interpretation would then run something like this. Laban adopted Jacob (at least he made him a member of his household and made him heir, sealing the transaction by giving Jacob a daughter to be his wife. As long as Laban lived, Jacob had the responsibility of caring for him. When Laben died Jacob would inherit Laban’s estate in full if Laban failed to have any sons. If Laban had natural sons, each would receive an equal share of the property, and one of them would receive the household gods, which signified headship of the family.” Howard F. Vos, Genesis and Archaeology (Chicago: Moody Press, 1963), p. 99. Cf. also Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 231.

254 Some suggest that this dream might have occurred earlier, but that is difficult to accept. Cf. Keil and Delitzsch, I, pp. 295-96.


33. La Différence Entre Légalité et Moralité (Genèse 31:17-55)

Introduction

J’ai un ami qui a un mot de sagesse pour presque tous les sujets. Un jour, quelqu’un me demanda une bonne définition d’ « éthique. » Je ne pouvais pas en trouver une, alors j’ai appelé mon ami. « Je viens juste de penser à ça », il me répondit quand je lui ai demandé. « ‘Etique’ est la différence entre la moralité et la légalité. ‘Ethique’ est la différence entre ce que je dois faire et ce que la Loi demande que je fasse. » Je n’ai jamais entendu une meilleure explication pour « éthique », alors je la partage avec vous.

Faisant ça, je réalise que Jacob manque totalement d’éthique à ce point dans sa vie. Pour Jacob, la légalité était égale à la moralité. Par cela, tout ce qui n’était pas contraire à la Loi n’avait aucun problème pour sa conscience. L’achat du droit d’aînesse d’Esaü était méticuleusement légal (Genèse 25:31-33), mais immoral. De même, la déception d’Isaac pour obtenir la bénédiction était légale. En fait, ça a même amené ce que Dieu avait promis arriverait mais par des moyens qui étaient déplaisants à Dieu (Genèse 27.) La proposition de travailler sept ans pour Rachel, la cadette, était légale, mais n’était pas vraiment acceptable pour Laban (Genèse 29:18-19,26.) Finalement, le contrat de Jacob avec Laban et sa manipulation des troupeaux pour le faire prospérer aux frais de Laban étaient à peine moraux, mais c’était rigoureusement légal – si légal, en fait, que plus tard il pourrait défier Laban de l’accuser de toutes infractions de leur agréement (31:36-42.)

C’était le manque de cadre éthique de Jacob, pour guider et gouverner sa conduite, qui résultat à une séparation très douloureuse quand le temps est venu de quitter Paddân-Aram et retourner à la terre promise. Les conséquences d’éthiques contestables sont clairement vues dans la dernière rencontre entre Jacob et son oncle Laban. Nous trouverons, je pense, que les choses ont très peu changé du temps et de la vie de Jacob, car l’éthique (la moralité) est aussi très rare aujourd’hui. C’est mon intention de considérer la base de la conduite morale et les conséquences de leur absence comme nous étudions les évènements de la vie de Jacob quand il quitte Paddân-Aram.

La Fuite de Jacob (31:17-21)

« Alors Jacob se mit en route: il fit monter ses enfants et ses femmes sur les chameaux;

il emmena tout son bétail et tous les biens qu'il avait acquis, en particulier, le cheptel qu'il avait amassé pendant son séjour à Paddân-Aram, pour rentrer chez son père Isaac au pays de Canaan.

Quant à Laban, il était parti tondre ses moutons. En partant, Rachel vola les idoles domestiques[b] de son père.

Ainsi Jacob partit en cachette de Laban l'Araméen, sans l'avertir de son départ.

Il s'enfuit avec tout ce qui lui appartenait et traversa l'Euphrate, puis il se dirigea vers les monts de Galaad. » (Genèse 31:17-21)

Les circonstances suggèrent fortement qu’il était temps pour Jacob de retourner à la terre promise (31:1-2), et par une révélation divine, Dieu commanda Jacob de le faire (31:3.) Ayant reçu l’assurance que ses femmes supportaient cette décision (31:14-16), Jacob emballa rapidement toutes ses affaires et se mit en route pour la maison. Il ne semble pas que ce fut accidentel que Jacob partit au moment que Laban était très occupé à tondre son troupeau. Partir sans aucun avertissement, Jacob raisonna, était le seul moyen de partir sans résistance de la part de Laban, qui aurait pu refuser de relâcher les femmes de Jacob ou leurs troupeaux.

Ce que Jacob ne savait pas était que Rachel avait volé les idoles de Laban juste avant de partir. Beaucoup de spéculations sont faites sur les motifs de Rachel, mais la raison la plus supportée par le texte, et par l’archéologie, est que Rachel vola les idoles de la maison de son père pour établir une revendication future à l’héritage de la famille de Laban. Les idoles étaient une marque d’une réclamation appropriée pour les possessions et le titre de chef d’une famille.255 Rachel a dû se sentir justifiée en volant ces dieux et en espérant partager l’héritage de la famille. Après tout, c’est ce qu’elle et Léa venaient affirmer à Jacob :

« Rachel et Léa lui répondirent:
---Avons-nous encore quelque chose, ou un héritage, chez notre père?

Ne nous a-t-il pas traitées comme des étrangères puisqu'il nous a vendues? Et, de plus, il a mangé notre argent.

Par conséquent, tous les biens que Dieu a sauvés de notre père nous appartiennent, à nous et à nos enfants. Maintenant, donc, fais tout ce que Dieu t'a demandé. » (Genèse 31:14-16)

Dans l’esprit de Rachel recevoir les richesses de Laban était la volonté de Dieu. Si c’était le cas avec les troupeaux dont Jacob s’occupait, pourquoi en serait-il autrement des biens à la mort de Laban ? Je pense que Rachel se sentit complètement justifiée en volant les idoles de la famille pour cette raison. Il est intéressant, cependant, qu’elle n’ait rien dit à Jacob à propos de son larcin.

Deux mauvaises choses sont ainsi commises pendant le départ de Jacob et sa famille de Paddân-Aram. Premièrement, Jacob est parti sans rien dire à Laban et au moment le moins facile pour lui de l’en empêcher. Deuxièmement, Rachel a volé les idoles de la famille de Laban, qui étaient la marque du droit de revendication d’une part de l’héritage de Laban et la position de chef de famille. Jacob suivait la volonté de Dieu en retournant à la terre promise, mais il ne le faisait pas comme Dieu le voulait.

La Poursuite de Laban (31:22-35)

« Le troisième jour, on avertit Laban que Jacob s'était enfui.

Il prit avec lui des hommes de sa famille, le poursuivit pendant sept jours et le rattrapa dans les monts de Galaad.

Mais, pendant la nuit, Dieu vint parler à Laban l'Araméen dans un rêve. Il lui dit:
---Garde-toi de dire quoi que ce soit à Jacob, ni en bien ni en mal.

Quand Laban atteignit Jacob, celui-ci avait dressé sa tente dans la montagne. Laban et ses hommes s'installèrent eux aussi dans les monts de Galaad.

Laban interpella Jacob:
---Qu'est-ce qui t'a pris? Pourquoi m'as-tu trompé? Tu as emmené mes filles comme des captives de guerre!

Pourquoi t'es-tu enfui en cachette? Tu m'as trompé au lieu de me prévenir! Je t'aurais laissé partir dans la joie avec des chants, au son du tambourin et de la harpe.

Tu ne m'as même pas laissé embrasser mes petits-enfants et mes filles! Vraiment, tu as agi de façon stupide!

Je pourrais vous faire du mal, mais le Dieu de votre père m'a parlé la nuit dernière et m'a dit: «Garde-toi de ne rien dire à Jacob ni en bien ni en mal.»

Maintenant, si tu es parti parce que tu languissais après la maison de ton père, pourquoi as-tu volé mes dieux? » (Genèse 31:22-30)

Ce que Jacob ne pouvait pas savoir était l’impact que son départ furtif aurait sur Laban quand associé avec le vol de ses dieux. Si vous étiez Laban, vous seriez venu à la même conclusion. Ses idoles avaient disparu, et Jacob aussi, rapidement et secrètement. Sûrement, c’était parce qu’il les avait volées. A quelle autre conclusion est-ce que Laban aurait-il pu arriver ? Bien que Laban essaye de projeter un écran de fumée en jouant le rôle du père et grand-père offensé (versets 26-28), son plus grand intérêt était de regagner possession de ses dieux (verset 30.)

Rattraper Jacob n’était pas une petite affaire, car il avait déjà trois jours d’avance. Par le temps qu’il s’était dépéché de rentrer à la maison, avait découvert la disparition de ses idoles, et rassembler les membres de la famille (qui, je suppose, étaient prêts à se battre), un quatrième jour avait dû être perdu. Après sept jours, Laban rattrapa Jacob, mais ses intentions furent certainement modifiées par l’avertissement divin contenu dans un rêve qu’il eut la nuit précédant la rencontre face à face des deux hommes. Le message que Laban reçut était simple : « ---Garde-toi de dire quoi que ce soit à Jacob, ni en bien ni en mal. » D’une expression similaire dans 24:50, nous devons comprendre que Dieu avertit Laban de ne pas essayer de changer les intentions de Jacob ou de lui faire du mal.

Quand Laban confronta Jacob le jour suivant, l’avertissement de Dieu ne l’a pas empéché de le réprimander pour son départ hâté, qui l’a privé de faire ses adieux. Ce n’était pas le départ que Laban protesta, car le désir de Jacob de retourner dans son pays était compréhensible (verset 30.) Ce qui troublait Laban, c’était comment Jacob était parti. Jacob était parti « en cachette », (versets 20,27), pendant qu’en même temps Rachel volait ses idoles.

Laban travaille dur à jouer le rôle du père et grand-père offensé à qui l’affection profonde pour ses filles et petits-enfants lui a causé tant d’agonie quand il apprit qu’ils étaient partis secrètement sans dire au revoir. La plupart de sa protestation est sur ce ton, mais il semble y avoir un manque considérable de sincérité ici. Rachel et Léa n’avaient-elles pas indiqué qu’il ne montrait que peu de sentiments pour elles (verset 14-16) ? Le vrai sujet de la contestation était les idoles volées : « … pourquoi as-tu volé mes dieux? » (verset 30.) C’était ce qu’il y avait de plus important. C’était la raison pour se lancer aux trousses de Jacob avec les membres de sa famille qui étaient probablement prêts pour la bataille. Cela explique l’avertissement de Dieu à Laban de ne pas toucher Jacob. Si Jacob s’enfuyait avec les dieux de Laban, il pourrait revenir un jour revendiquer les biens de Laban. Cela ne pouvait pas être toléré.

La réponse de Jacob n’est pas venue d’une position de force. Ses premiers mots sont une défense faible de sa fuite secrète, pendant que le reste est en réponse au sujet des idoles volées, dont il n’avait aucune connaissance :

« Jacob répliqua:
---Je suis parti en cachette parce que j'avais peur que tu ne m'enlèves de force tes filles.

Quant à celui chez qui tu trouveras tes dieux, il ne vivra pas. Fouille tout ce que j'ai, en présence de nos gens! Ce qui t'appartient, reprends-le!
En effet, Jacob ignorait que Rachel avait volé les idoles domestiques. » (Genèse 31:31-32)

La conduite de Jacob était le résultat de sa peur, tout comme la déception de son père Isaac (26:7,9) et son grand-père Abraham (12:11-13,20:11) l’avaient été. Jacob n’avait pas assez de foi que Dieu le délivrerait des mains de son beau-père. Dans sa peur, il questionnait la sincérité, la vérité des mots que Dieu avait prononcés à Béthel :

« Et voici: je suis moi-même avec toi, je te garderai partout où tu iras; et je te ferai revenir dans cette région; je ne t'abandonnerai pas mais j'accomplirai ce que je t'ai promis. » (Genèse 28:15)

Jacob n’était pas encore là où il pouvait croire que Dieu accomplirait ce qu’IL disait IL ferait sans avoir un plan B qui incluait la manipulation ou la déception de Jacob. Ayant eut le dessus de Laban pendant les six derniers jours, Jacob n’était pas certain que Laban le laisserait partir sans une bagarre. Peut-être ne laisserait-il pas ses filles partir non plus.

Ce n’était pas une discussion que Jacob tenait à prolonger, car il n’avait pas vraiment d’explications pour justifier ses actions récentes. Etant certain qu’il était innocent de l’accusation du vol des idoles de Laban, Jacob tourna la conversation sur ce sujet. Laban fut poussé à faire une fouille diligente des biens de Jacob pour essayer de trouver ses idoles. Qui que soit trouvé en possession de ces dernières serait mis à mort ! Jacob, manifestement, n’avait aucune idée que sa femme favorite, sa bien-aimée Rachel était la coupable. Que Laban était plus intéressé par ses idoles, pas par les adieux à sa famille, allait être très visible par ses actions suivantes :

« Laban fouilla la tente de Jacob, celle de Léa, puis celle des deux servantes, et ne trouva rien. En sortant de la tente de Léa, il entra dans celle de Rachel.

Or Rachel, qui avait pris les idoles, les avait cachées dans la selle du chameau et s'était assise dessus. Laban fouilla toute la tente sans rien trouver.

Elle dit à son père:
---Que mon seigneur ne se fâche pas si je ne peux pas me lever devant toi car j'ai ce qui arrive habituellement aux femmes.
Il fouilla encore, mais ne trouva pas les idoles. » (Genèse 31:33-35)

Il était évident que Laban ne soupçonnait pas Rachel non plus. Il fouilla la tente de Jacob en premier. Qui aurait été le plus vraisemblable d’avoir volé ses dieux que Jacob ? N’était-il pas celui qui était venu à Paddân-Aram à cause de son désir d’hériter la position de chef de famille et d’avoir les droits d’aînesse ? Le vol des idoles de la famille donnerait à Jacob la prééminence dans la maison de Laban, tout comme sa déception la lui avait gagnée dans la maison d’Isaac.

Ayant fouillé la tente de Jacob minutieusement, Laban continua par la tente de Léa et celles des deux servantes. Seulement en dernier arriva-t-il à la tente de Rachel. Elle était la moins suspecte de tous, et cependant, elle était la coupable. Elle dissimula avec succès son vol par une distraction astucieuse. Elle était assise sur la selle qui cachait les idoles de Laban. Quand il eut finit de fouiller toutes les autres parties de la tente, elle expliqua qu’elle devait rester assise à cause de son inconfort mensuel, commun aux femmes. Laban n’a pas voulu presser le sujet plus loin, et alors le vol de Rachel ne fut pas découvert. Je ne sais pas quand ou si Rachel avoua son vol à Jacob, mais je peux bien imaginer ce que sa réponse a dû être.

« Alors Jacob se mit en colère et fit de violents reproches à Laban:
---Quelle faute ai-je commise, s'écria-t-il, qu'ai-je fait de mal pour que tu t'acharnes ainsi contre moi?

Tu as fouillé toutes mes affaires. Qu'as-tu trouvé de ce qui t'appartient? Produis-le ici en présence de mes gens et des tiens, et qu'ils servent d'arbitres entre nous deux.

Voilà vingt années que je suis chez toi; tes brebis et tes chèvres n'ont pas avorté, et je n'ai jamais mangé les béliers de ton troupeau.

Si une bête se faisait déchirer par un fauve, je ne te la rapportais pas[c]: c'est moi qui t'en dédommageais. Tu me réclamais ce qu'on m'avait volé de jour et ce qui m'avait été volé la nuit.

Le jour, j'étais dévoré par la chaleur; la nuit, le froid m'empêchait de dormir.

Voilà vingt ans que je vis ainsi chez toi: pendant quatorze ans, je t'ai servi pour tes deux filles, puis pendant six ans pour ton bétail; dix fois, tu as changé les conditions de mon salaire.

Si le Dieu de mon père, le Dieu d'Abraham et celui que redoute Isaac, n'avait été de mon côté, tu m'aurais renvoyé aujourd'hui les mains vides. Mais Dieu a vu ma misère et avec quelle peine j'ai travaillé. La nuit dernière, il a prononcé son verdict. » (Genèse 31:36-42)

Jacob reconnut l’offense de Laban comme une simple façade. La vraie raison de se mettre aux trousses de Jacob était la pensée d’être trompé par lui. Laban conclut qu’il avait finalement été trop loin. Jusqu'à ce point, il avait toujours réussi à rester dans les limites de la Loi. Bien qu’il ait tordu les règles impitoyablement, il n’avait pas enfreint la Loi. Avec la disparition des idoles de la famille, Laban avait pensé que Jacob était finalement allé trop loin dans sa cupidité. Mais maintenant Laban se retrouvait les mains vides. Ses accusations ne pouvaient pas être justifiées. Les évidences manquaient. Jacob, à la mode ancienne, demandait une ordonnance de habeas corpus (le droit de contester une détention.) Laban fut forcé de produire les évidences. Il dut les montrer ou la fermer, et Jacob fut très heureux d’être celui qui dû lui dire laquelle des deux était sa seule alternative.

Non seulement n’y avait-il pas d’évidences découvertes pendant la fouille, mais Laban avait constamment eu tors dans beaucoup d’autres domaines. Sur ceux-là Jacob était impatient d’élaborer. Jamais les troupeaux de Laban n’avaient été négligés, jamais Jacob n’avait mangé aux frais de Laban. Jacob remplaça les animaux qui furent perdus de causes naturelles, bien qu’il n’était pas responsable. Laban insista sur ça, et Jacob le fit sans protester – jusqu'à présent. Jacob travailla dur, souffrant les aléas de la vie de berger, et tout ça pendant que Laban continuait souvent à diminuer sa paye.

Ayant soulagé son cœur d’années de frustration, Jacob utilisa son atout, finissant triomphalement sa défense en affirmant que Dieu était de son coté (verset 42.) Si Dieu n’avait pas protégé Jacob, Laban aurait pu se sortir sans douleurs de ses manigances. Toute sa prospérité, Jacob maintenait, venait du fait que Dieu veillait sur lui. Dieu avait vu son affliction, c’était vrai (verset 12), mais Jacob était allé trop loin quand il ajouta « … et avec quelle peine j'ai travaillé » (verset 42.) Nulle part a Dieu indiqué à Jacob que SA bénédiction était liée à ses travaux. En fait, Dieu avait révélé à Jacob que c’était au contraire tout l’opposé (versets 10-13.) L’avertissement donné à Jacob la nuit précédente était la preuve de Jacob que Dieu était de son coté. Dieu avait passé jugement, et Jacob maintenait qu’il avait été prouvé innocent.

Le Covenant de Paix (31:43-55)

Après la défense de Jacob, j’ai un sentiment malsain qu’il a énormément exagéré sa cause. Dieu avait bien vu tout ce que Laban lui avait fait subir. La prospérité de Jacob venait de Dieu, mais ça avait peu ou rien à voir avec la piété de Jacob ou son génie productif. Dieu l’avait bénit sur la base de la grâce, mais Jacob a utilisé l’intervention de Dieu comme base d’auto défense. Jacob maintenait qu’il avait prédominé et que Dieu était intervenu parce qu’il était spirituel, pendant que Laban était charnel. Je ne suis pas convaincu par les meilleurs efforts de Jacob. Laban ne paraît pas non plus être très impressionné. Bien qu’il n’ait pas été capable de prouver la malhonnêteté de Jacob, il en était quand même convaincu. Il engagea alors l’alliance qui est faite :

« ---Ces filles sont mes filles, répondit Laban, ces fils mes fils, ces troupeaux sont miens et tout ce que tu vois est à moi. Et que puis-je faire aujourd'hui pour mes filles et pour les enfants qu'elles ont mis au monde?

Maintenant donc, viens, concluons une alliance, toi et moi, et laissons ici un signe qui nous serve de témoin à tous deux.

Alors Jacob prit une pierre et l'érigea en stèle.

Puis il dit aux siens:
---Ramassez des pierres!
Ils ramassèrent des pierres, les entassèrent et, tous ensemble, ils mangèrent[d] là sur ce tas de pierre.

Laban le nomma Yegar-Sahadouta (Le tas de pierre du témoignage) et Jacob l'appela Galed (Le tas de pierre-témoin).

Laban déclara:
---Ce tas de pierre sert aujourd'hui de témoin entre toi et moi.
C'est pourquoi on le nomma Galed.

On l'appelle aussi Mitspa (Le lieu du guet), car Laban avait dit encore:
---Que l'Eternel fasse le guet entre nous deux quand nous nous serons perdus de vue l'un et l'autre.

Si tu maltraites mes filles et si tu prends d'autres femmes en plus d'elles, ce n'est pas un homme qui nous servira d'arbitre, mais prends-y garde: c'est Dieu qui sera témoin entre moi et toi.

Puis il ajouta: Vois ce tas de pierre et cette *stèle que j'ai dressés entre moi et toi.

Ce tas de pierre et cette stèle nous serviront de témoins. Je ne dois pas dépasser ce tas de pierre et cette stèle dans ta direction, et tu ne dois pas les dépasser dans ma direction avec de mauvaises intentions.

Le Dieu d'Abraham et le Dieu de Nahor[e] --- c'était le Dieu de leur père[f] --- seront juges entre nous!
Jacob prêta serment par le Dieu que redoutait son père Isaac.

Puis il offrit un sacrifice sur la montagne et invita sa parenté à un repas. Ils mangèrent donc ensemble et passèrent la nuit sur la montagne.» (Genèse 31:43-55)

Tout ce que Jacob emmena avec lui appartenait à Laban, il insista – ses femmes, ses enfants, et ses troupeaux (verset 43) – mais que pouvait-il faire ? S’il ne pouvait pas récupérer ses idoles, le moins que Laban puisse faire était de faire une alliance avec Jacob qui lui garantirait qu’il ne pourrait jamais utiliser ces dieux pour empiéter encore plus sur ses possessions à l’avenir. Remarquez que le traité fut initié par Laban et que ses termes sont épelés par lui. Puisque Laban n’avait pas succédé à garder Jacob sous sa coupe, il comptait maintenant sur le Dieu de Jacob pour le faire marcher droit.

Une pierre fut érigée en stèle (verset 45), et ils utilisèrent un tas de pierres pour bâtir un monument (verset 46.) Et un repas d’alliance fut partagé par Jacob et Laban et les membres de la famille (verset 54.) Laban réussit à ce que Jacob promesse quelques détails devant son Dieu. Premièrement, Jacob promit qu’il ne maltraiterait jamais les filles de Laban et de ne jamais prendre d’autres femmes en plus de ses deux filles (verset 50.) Deuxièmement, tous les deux promettaient de ne pas franchir cette limite pour attaquer l’autre (verset 52.) Ayant agrée sur ces sujets, Laban fit ses derniers adieux à ses filles et leurs enfants. Les bénissant, il retourna à sa maison (verset 55.) La longue et tumultueuse relation entre Laban et Jacob arriva à une fin.

Conclusion

Jacob semble être sorti vainqueur de cette rencontre avec Laban, vraiment ? Pendant que Jacob se soit lui-même convaincu et ses femmes de son innocence, il ne nous pas convaincu, ni n’a-t il changé l’opinion de Laban. Laban était toujours certain que Jacob était un escroc, mais ayant été averti par Dieu, il ne pouvait pas faire grand chose pour l’arrêter. L’alliance qu’il initia était son seul espoir. Et cette alliance n’était pas un hommage au caractère de Jacob.

OK, arrêtez et réfléchissez pour un moment. Laban a vécu très prêt de Jacob pendant vingt ans, et il était convaincu de son manque d’intégrité. Il croyait que Jacob avait volé ses idoles. Il croyait que Jacob s’était approprié ses troupeaux sournoisement. Il exigea que Jacob prête serment solennellement qu’il ne maltraiterait pas ses femmes ou qu’un jour il reviendrait chez Laban avec des intentions hostiles. Est-ce que cela à l’air d’un homme qui est convaincu que Jacob était un homme dévot ? Tout comme les covenants entre Abimélek et Abraham (21:22-24), et plus tard Abimélek et Isaac (26:26-31), étaient évidences de la condition charnelle de ces patriarches, ce traité avec Laban révéla les imperfections du caractère de Jacob. Il n’était pas un homme en qui on pouvait avoir confiance. Il pouvait au moins, respecter la Loi, alors Laban expliqua clairement les promesses qu’il sentait étaient nécessaires. Quel misérable témoignage du caractère de jacob !

Pourtant, Jacob semble convaincu de son intégrité. Il était certain que Dieu était de son coté à cause de sa vertu. Comment Jacob a pu tant se tromper ? J’en suis arrivé à croire que la réponse peut se trouver dans le fait que Jacob était un légaliste. Jacob était fier de lui-même pour être un homme qui respecte la Loi. Jamais, au moins à ma connaissance, a-t-il brisé une promesse. Il a fait une alliance avec Laban, et il y a été fidèle. Oh, il avait bien pelé ces rameaux, bien sur, mais ce n’était pas briser un agreement !

Jacob, je crois, n’avait aucun vrai sens d’éthiques. Pour lui, moralité et légalité étaient égales. Tout ce qui était dans les limites de la Loi était moral pour autant qu’il était concerné. C’est pourquoi il pouvait se trouver devant Laban avec une indignation vraiment justifiée et demander que toutes évidences de méfaits de sa part soient présentées. Il pouvait revendiquer avec grande assurance que Dieu était de son coté. Comment cela ne pouvait-il pas être vrai quand Jacob avait toujours vécu dans les limites de la Loi ?

Mais ici est le cœur de l’erreur du légalisme, car le légalisme égale la moralité avec la légalité. Il croit que la vertu et la sauvegarde de la Loi sont une seule et même chose. Une personne peut n’avoir aucune éthique du tout, mais tant qu’elle n’enfreint pas la Loi, elle se sent moralement pure. Elle sera persuadée de l’approbation et de la bénédiction de Dieu.

Avec cette mentalité, Jacob n’était pas très différent de Juifs du temps de Jésus. Ils avaient l’impression qu’étant des descendants d’Abraham, ils étaient assurés les faveurs de Dieu (Jean 8:39.) Ils étaient sûrs que le fait de respecter méticuleusement la Loi les rendait acceptable pour Dieu. Cela met le Sermon sur la Montagne sous un tout autre angle pour moi. Jésus dit ces mots aux Juifs qui étaient légalistes. Ils pensaient que simplement vivre dans les limites de la Loi était suffisant pour recevoir une vertu acceptable pour Dieu. Notre Seigneur continua en leurs montrant qu’une vertu bien plus grande était nécessaire (Matthieu 5:20.) Une vraie foi n’était pas autant un sujet de forme que de foi. Ceux qui étaient de vrais membres du royaume étaient ceux dont les cœurs étaient purs devant Dieu. Ainsi, notre Seigneur traita plus avec les motifs qu’avec les méthodes. IL traita plus avec les fonctions qu’avec de simples formes.

La Loi était seulement un standard minimum ; Il n’était pas destiné à ce que les gens se sentent vertueux, mais à démontrer aux hommes à quel point ils étaient loin de la sainteté de Dieu. Le Nouveau Testament ne nous dit pas que les standards mis en place par le Vieux Testament sont abolis (Matthieu 5:17), car ceux qui suivent l’Esprit rempliront l’obligation (singulière) de la Loi (Romains 8:4.) Le légalisme est mauvais car les hommes aiment abaisser tout à un standard humain qui, s’il est obéi, produit une vertu humaine. La liberté chrétienne voit le standard de nos pensées et nos actions comme étant celles de notre Seigneur LUI-MEME, car c’est à Son image que nous devenons conformes (Romains 8:29.)

Jacob a pu se trouver vertueux, mais Laban n’était pas convaincu du tout. Il avait ressort au légalisme (par ça, le covenant légal) car c’était tout ce qu’il pouvait compter Jacob ferait – respecter juste quelques règles. Beaucoup de Chrétiens aujourd’hui ne sont pas différents de Jacob. Eux aussi (nous ?) sont légalistes. Nous pensons que nous sommes pieux et saint car nous ne fumons pas, ne marchons pas de tabac ou ne jurons pas. Mais demandez à ceux qui doivent travailler avec nous ou ceux qui nous emploient, et ils feront exactement ce que Laban a fait – ils mettront tout par écrit. Vous voyez, même avec tous nos mots pieux le monde nous connaît, car eux aussi, doivent vivre avec nous. Pendant que nous gardons une certaine liste de « à faire »s et « à ne pas faire »s, on peut saper et manipuler ; On peut tromper et détruire ; On peut rechercher nos succès aux frais des autres. La vraie vertu, je crois, implique bien plus que respecter scrupuleusement quelques règles. C’est une question de cœur. Pas étonnant que tant de non croyants (et Chrétiens) soient réticents à faire des affaires avec des Chrétiens. Ils savent que, bien que Dieu puisse être avec nous, nous n’agissons pas toujours des plus vertueusement.

L’éthique est, comme nous l’avons dit, la différence entre la légalité et la moralité. Nous vivons dans un temps ou les Chrétiens et païens pensent que ce qui est légal est légitimement chrétien. Nous, comme Jacob, avons nos propres rameaux pelés et un sens des affaires lucratif, que nous pensons Dieu est obligé de bénir. Pas étonnant que le monde essaye de légaliser l’homosexualité et l’avortement et d’autres choses de ce genre. Pour eux, la légalité est la moralité. Si ce n’est pas illégal, c’est moral, ils supposent.

La Bible tire des lignes de guidage, des lignes claires quelques fois. Il y a des absolus et il y a des règles. Mais en plus de ceux- là, peut-être devrais-je dire au-dessus de tous ceux-là, est un autre standard de conduite que nous appellerons éthique ou conviction. Beaucoup de Chrétiens semblent en avoir peu, et pourtant ce sont elles qui séparent un vrai Chrétien aux yeux du monde. Combien d’entre nous sommes vus par le monde comme Jacob l’était par Laban ? Combien d’entre nous avons des convictions qui nous causent d’éviter certaines méthodes, même si elles sont légales ? Les éthiques chrétiennes devraient être si hautes que les règles légalistes ne seraient jamais nécessaires, au moins pour ceux qui sont vertueux (1 Timothée 1:9-10.)

L’essentiel pour Jacob était la foi. Il a essayé de s’en aller en cachette, sans le dire à Laban, parce qu’il avait peur (verset 31.) Il faisait confiance à Dieu mais pas assez pour faire ce qui était honorable aux yeux des hommes. Il ne pensait pas que Dieu pourrait le sauver, lui et sa famille s’il agissait honorablement devant Laban. Son Dieu, dans les mots de J. B. Phillips, était « trop petit. » N’est-ce pas le cas pour la plupart d’entre nous ? La raison pour laquelle nous sommes réticents à vivre par nos convictions fermes est que nous ne faisons pas confiance à Dieu d’être capable de nous bénir sous ces restrictions ajoutées. Avons-nous oublié comment Elie fit verser des cruches d’eau sur son sacrifice pour que ceux qui regardaient pourraient seulement donner la gloire à Dieu (1 Rois 18, spécialement versets 33-35) ? N’est-ce pas la raison pour laquelle nous essayons désespérément d’interpreter le Sermon sur la Montagne, pour que nous n’ayons pas à vivre par ses enseignements ? Une foi qui est ferme n’a pas peur de vivre pour que la gloire ne soit donnée qu’à Dieu seul.

Quelle leçon cela a dû être pour les anciens Israélites qui ont reçu la Loi de Dieu de l’auteur de Genèse ! Bien que Dieu ait donné la Loi à Israël, IL ne l’a pas fait pour donner un standard de vertu qui convaincrait les hommes de leur nature pécheresse, de leurs besoins de sacrifice, et de leurs besoins d’un Sauveur Qui paierait le châtiment pour leurs péchés et fournirait la vertu qu’ils ne pourraient fournir de leurs propres mains.

Les actions de Jacob étaient mauvaises pour une autre raison, je crois. Pendant que Jacob voulait bien garder sa déception dans les limites de la Loi, ses actions ont enseigné aux autres à essayer d’avancer dans la vie en manœuvrant au-delà de la Loi. Je crois que c’est ce qui est arrivé à Rachel. Elle a bien apprit de son mari. Elle vola les idoles de Laban (verset 19), mais dans le verset suivant on nous dit que « Jacob partit en cachette (il lui vola son cœur) … » (verset 20.) Le même mot hébreu est utilisé pour décrire les actions de Rachel et celles de Jacob. Croyez-vous que ce soit une coïncidence ? Jacob vola le cœur de Laban mais tout juste dans les limites de la Loi. Rachel vola les idoles de Laban, tout juste en dehors de la Loi. Elle n’a pas vu la ligne fine de limite de son mari. Notre déception, même si elle est dans les limites de la Loi, conduit les autres à aller plus loin.

Finalement, les actions de Jacob ici me rappellent que quelqu’un peut faire la volonté de Dieu mais dans un sens qui est offensive au caractère de Dieu. Dieu avait commandé à Jacob de quitter Paddân-Aram et de retourner à la terre promise (verset 3.) Dans ce sens, Jacob accomplissait la volonté de Dieu pour sa vie. Mais il ne le faisait pas de la façon dont Dieu voulait qu’il le fasse. Des fois, nous sommes tellement pris dans les faits que ce que nous faisons est correct que nous oublions de nous demander si nous le faisons correctement selon la volonté de Dieu. Nos méthodes doivent toujours être compatibles avec notre Maître si le but de nos actions est de L’honorer.


255 “. . . Rachel may well have had a partly religious motive (cf. 35:2,4), but the fact that possession of them could strengthen one’s claim to the inheritance (as the Nusi tablets disclose)+ gives the most likely clue to her action.” Derek Kidner, Genesis (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 165. +Kidner here refers to Biblical Archaeologist, 1940, p. 5.

Stigers goes into more detail, saying, “According to the Nuzu tablets, a natural son is to take the gods, the teraphim: ‘If Nashwi has a son of his own, he shall divide the estate equally with Wullu, but the son of Nashwi shall take the gods of Nashwi.’*

“Another text, a new will of Hashwi, indicates that Wullu has died and Wullu’s oldest son is to receive the household gods.** In yet another text a reassignment of shares of the estate is made, but the oldest son alone is given possession of the household gods.***” Harold G. Stigers, A Commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 242. (It should be added that Stigers does not agree with my conclusion that Rachel’s primary motivation for stealing Laban’s gods was to secure an inheritance for Jacob after Laban’s death. Cf. Stigers, p. 242.) *Ancient Near Eastern Texts, pp. 219-220, **Anne E. Draffkorn, “Ilani-Elohim,” Journal of Biblical Literature, LXXVI (1957), p. 220. Cf. O. J. Gadd, “Tablets from Kirkuk,” Review d’Assyriologie et d’Archaeologie Orientale, XXII (1926), Text #5; ***L. L. Lachemann, Excavations at Nuzu, “Miscellaneous Texts, Part 2: The Palace and Temple Archives” (HSS XIV: 1950), para. 2, p. 108.


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