Auxílio para os Corações Atribulados (João 13:31-14:31)
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Uma vez mandado embora o traidor (13:31), com a cruz surgindo diante d’Ele e a sua partida muito próxima, o Salvador procurou encorajar os Seus discípulos com um conjunto de verdades vitais para a sua própria paz de espírito, bem como para a sua capacidade de O representar num mundo perdido e hostil. Toda a passagem desde João 13:31 até ao capítulo 16 forma um longo discurso de despedida, frequentemente interrompido pelas perguntas dos discípulos, mencionados com frequência nos capítulos 13 e 14. O carácter destes capítulos é de instrução final, destinada a fornecer auxílio aos corações atribulados. Tal elemento é realçado pelas palavras de Jesus em 14:1 e 27.
14:1 Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em Mim.
14:27 Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!
Antes destas palavras, porém, Jesus instruíra os Seus discípulos acerca do perdão, da Sua traição, glorificação e partida. Devido à sua falta de compreensão relativamente ao Seu propósito no plano de Deus e à sua incapacidade nesse ponto – pelo menos quanto a estabelecer uma relação entre tudo isto e a sua própria existência e propósito –, os seus corações estavam extremamente atribulados. A verdade de que precisavam para acalmar os seus corações inquietos era necessária tanto para a sua união, como para a sua coragem. Os medos e hostilidades que enfrentariam, as perguntas sem resposta, as diferenças de temperamento e os ciúmes que haviam existido entre eles aliená-los-iam uns dos outros, tornando-os impotentes no plano de Deus.
O Ensinamento Relativo à Sua Glorificação (13:31-32)
Antes de mencionar a Sua partida, o facto da Sua glorificação é referido cinco vezes em dois versículos curtos (vss. 31-32). De modo consistente ao longo do Seu ministério, a menção da Sua glorificação era uma referência à Sua morte, enquanto culminar do propósito do Pai para o Salvador (veja João 7:39; 12:16, 23; 17:1). Incluída estava a Sua ressurreição, que validaria a significância da Sua morte. Através da Sua morte, demonstrativa do amor de Deus e da fidelidade de Cristo, Cristo e o Pai seriam glorificados (vs. 31). Na ressurreição e exaltação de Cristo, o Pai glorificá-Lo-ia, validando não só as Suas afirmações, mas também a concretização da redenção através da cruz (vs. 32).
Porém, existia certamente outra razão. Uma vez concretizada a Sua morte, teria de partir a fim de regressar para junto do Pai, mas os feitos da Sua morte e da mensagem do amor de Deus teriam agora de ser proclamados e manifestados pelos discípulos de Cristo. Através da purificação diária e da comunhão com Ele (João 13:1-17), bem como do Espírito da verdade, o Auxiliador que Ele enviaria para habitar neles (João 14:15-18), seriam capazes de manifestar ao mundo o Salvador victorioso.
Contudo, neste ponto da sua compreensão, não haviam simplesmente entendido tudo isto, nem eram ainda capazes de perceber (João 16:7,12). Quando o Espírito viesse, passaria não só a fazer sentido, como também revolucionaria as Suas vidas.
O Ensinamento Relativo à Sua Partida (vs. 33)
Jesus começou esta instrução dirigindo-se aos discípulos como “filhinhos”. O correspondente grego é teknion, forma diminutiva de teknon, “filhos”. Trata-se de um termo de amor, expressando a preocupação especial de Jesus pelos Seus. Neste Evangelho, só aqui é utilizado por Jesus. João usou-o sete vezes na sua primeira epístola (1 João 2:1, 12, 28; 3:7, 18; 4:4; 5:21), e Paulo utilizou-o uma vez (Gl. 4:19). Mas parece que Jesus o usou neste contexto a fim de transmitir uma verdade vital. Embora fosse deixá-los e eles não O pudessem seguir, a Sua partida não se devia a não querer saber deles. De facto, a Sua partida revelava-se fundamental face às necessidades deles (16:7).
O Ensinamento Relativo ao Novo Mandamento (vss. 34-35)
Como é óbvio, o mandamento para que as pessoas pertencentes ao povo de Deus se amassem umas às outras não era inédito. Enquanto manifestação do amor a Deus, amar os outros encontra-se no núcleo da Lei e exprime a última metade dos Dez Mandamentos. Assim, por que chama o Senhor a isto um novo mandamento?
“Novo” corresponde ao grego kainos (kainvo”), que, com frequência, denota aquilo que é qualitativamente novo, em comparação com o que existia até então; aquilo que é melhor entre o velho e o “jovem, recente”. Fala do que é novo no sentido de a estrear, fresco. Os líderes religiosos não haviam compreendido o centro da Lei, falhando na verdadeira orientação do povo no amor a Deus e ao próximo. Deste modo, embora amar os outros não fosse novo no sentido de “recente”, era novo no sentido em que ninguém manifestara completamente o amor de Deus como o Salvador fizera, de forma tão sacrificial – era algo inédito.
Contrastando com o moralismo dos Fariseus religiosos, o Senhor Jesus conseguira cumprir a Lei e demonstrar o seu verdadeiro significado, quer em termos de devoção suprema a Deus, quer de amor ao próximo. O novo mandamento de amor mútuo baseia-se, portanto, no Seu exemplo, “como Eu vos tenho amado”. O mandamento é novo no sentido de ser um amor especial pelos outros crentes, baseado no exemplo sacrificial do amor de Cristo.
O objectivo é expressado na última parte do versículo 34, “assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. O amor mútuo traz conforto e auxílio à comunidade cristã; mas é também uma forma poderosa de manifestar Cristo a um mundo hostil, e evidencia a realidade dinâmica da Sua mensagem (vs. 35).
Não obstante, este discurso sobre a Sua traição (13:21-30) e depois sobre a Sua partida era tremendamente desencorajante para os Seus discípulos (13:31-33). Mais tarde neste contexto, seria dito a Pedro que negaria o Salvador (13:36-38). Assim, as suas esperanças e expectativas estavam a ser desmanteladas, pedaço a pedaço; tinham todas as razões para se encontrarem perturbados ou agitados nos seus corações.
Que se encontravam perturbados fica claro pelas palavras do Senhor em 14:1, “Não se perturbe o vosso coração”, e pela Sua promessa de paz em 14:27, “Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!”. Associado à repetição da Sua exortação contra corações perturbados e temerosos, isto mostra que estavam perplexos.
Assim, João 14 é uma daquelas maravilhosas passagens da Palavra que são sublimes nas suas promessas e profundas na sua significância para a vida do corpo de Cristo ou para os Seus discípulos. Enquanto aqueles que representariam o Salvador num mundo hostil, precisariam das Suas garantias pessoais, encontradas neste capítulo.
Em vista dos corações perplexos dos discípulos, João 14:1 é central e o versículo-chave dos capítulos 13-14. Aponta-nos duas necessidades e dois problemas que todos os discípulos enfrentam na sua caminhada pelo mundo.
O primeiro problema é o dos corações atribulados, mas devemos ter em conta que um coração atribulado é realmente o resultado de um problema mais profundo, que será referido mais tarde.
A primeira necessidade é “Não se perturbe o vosso coração”. “Perturbe” corresponde ao grego tarassw. Significa literalmente “abanar, revolver, agitar (uma coisa, através da movimentação das suas partes para a frente e para trás) como água” (confira João 5:7). Metaforicamente, significa “causar comoção interior, remover a paz de espírito, perturbar a equanimidade de alguém”. Portanto, quer dizer “desinquietar, tornar inquieto; atingir o espírito de alguém com medo e temor; tornar ansioso ou transtornado”.
Para além disso, esta frase ocorre sob a forma de proibição, um mandamento negativo. Porém, não podemos permitir que uma tradução portuguesa como “Não se…” implique uma ideia meramente permissiva. É mais como “Não deixem que o vosso coração se perturbe” ou “Vós não deveis deixar que o vosso coração se perturbe”. O aspecto ou acção deste verbo no Presente Imperativo negativo ordena a cessação dos corações perturbados, bem como a manutenção deste acto como padrão de vida. Ao aplicar a verdade da Escritura, como aquela concedida nesta passagem, devemos consistentemente acalmar a agitação dos nossos corações. Os discípulos estavam angustiados e, aqui, o Senhor convocava-os a lidar com os seus medos.
O segundo problema e a raiz é o medo misturado com a descrença. O maior problema do homem é o seu medo, causado pela descrença em Deus. Esta é a raiz e coração de toda a iniquidade, e a iniquidade leva à perturbação do coração. Isaías escreveu: “Mas os ímpios são como um mar encapelado, que não pode acalmar-se, cujas ondas revolvem lodo e lama. ‘Não há paz para os ímpios’, diz o meu Deus” (Is. 57:20-21).
Assim, é aqui que encontramos a segunda necessidade, mas esta, se corrigida, torna-se também a solução. Do que o homem precisa é de uma relação com Deus através da crença ou fé n’Ele. Conforme o Senhor realça, crer em Deus é também acreditar n’Aquele que é “o caminho, a verdade e a vida”. Incerteza, ignorância ou falta de compreensão espiritual acerca de Deus e do Seu plano enfraquecem a nossa fé. Naturalmente, isto culmina em corações atribulados. Os discípulos tinham corações perturbados por causa da sua falta de compreensão da Palavra, no que diz respeito aos sofrimentos do Messias. Embora claramente ensinada no Antigo Testamento, não tinham ainda absorvido a premência da cruz. Acreditavam n’Ele como Messias, o Filho de Deus, mas tinham dificuldade em lidar com os Seus comentários repetidos sobre a Sua morte e ressurreição.
Como podemos obter compreensão? Colocando questões e recebendo respostas através de instrução. E é precisamente isso que começa a acontecer no versículo 2.
Nesta sequência de versículos, há um número de perguntas feitas pelos discípulos, por Pedro (13:36-37), Tomé (14:5), Filipe (14:8) e Judas [não o Iscariotes] (14:22). Para além disso, existe na realidade uma pergunta não colocada à qual o Senhor responde (14:12-14).
É útil reparar que estas questões retratam perplexidades do coração humano que atribulam os corações e perturbam a mente. Mas, de modo maravilhoso, todas estas questões encontram a sua resposta somente na pessoa e obra de Jesus Cristo e no Seu propósito para nós enquanto Seus discípulos.
Em resumo, reparemos na forma como estes versículos abordam as nossas necessidades mais íntimas e as questões filosóficas da vida. Porém, conforme o texto mostra, as respostas a estas perguntas encontram-se na morte, ressurreição, ascensão, sessão e regresso de Cristo.
Questões Cruciais Que Perturbam Os Corações
(13:36-14:31)
A Questão de Pedro, uma Questão de Destino (13:36-37)
Embora a pergunta de Pedro fosse dirigida à partida do Senhor, mencionada no versículo 33, diz realmente respeito à questão para onde vamos? Ele estava a perguntar ao Salvador “o que nos irá acontecer se nos deixares?”. Por outras palavras, é seguro o nosso futuro? Há aqui claramente um elemento de medo – então e o Céu, e como chegar lá? O Senhor responde a isto em 14:2-3, onde promete o Seu regresso pessoal para o corpo de Cristo, especificamente o arrebatamento da Igreja, como é alvo de desenvolvimento adicional nas epístolas de Paulo (1 Co. 15:51-54; 1 Ts. 4:13-18). A resposta de Cristo mostra-nos que o destino humano envolve tanto um lugar como uma pessoa. O lugar é a casa do Pai, um local que contribuirá para a felicidade, mas chegar lá advém de conhecer uma pessoa – o próprio Cristo.
A Questão de Tomé, uma Questão de Cepticismo (14:5)
Tomé mostra-nos a mesma incerteza acerca de para onde vamos, mas acrescenta especificamente a pergunta “como chegaremos lá?”. Ele queria saber quem lhes mostraria o caminho. Cristo dá a resposta nos versículos 6 e 7. Tomé, tal como os outros discípulos (excepto Judas Iscariotes), era crente e conhecia o Senhor nesse sentido, mas não O conhecia tão profunda e intimamente como precisava. Eles não haviam penetrado na vida de Cristo enquanto o Salvador sofredor, como fizera Maria, que se sentara aos Seus pés para ouvir a Sua palavra (Lucas 10:39), e que ungira também os Seus pés com bálsamo, em preparação para a Sua morte (João 12:3-7). Portanto, quando Cristo disse “Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis Meu Pai”, Ele não estava a sugerir que Tomé não fosse crente. Ele não estava a usar o verbo “conhecer” no sentido da fé em Cristo para a salvação, mas sim no sentido da intimidade e da percepção espiritual mais profunda de uma fé mais madura. Cristo não disse que conhecia ou que lhes ensinaria o caminho, mas que Ele mesmo era “o caminho, a verdade e a vida”. “As soluções para os problemas humanos nunca se encontram no cepticismo, mas sim na afirmação da fé”.1 E a única afirmação da fé que nos conduz à vida e a um destino eterno é a fé em Jesus Cristo.
A Questão de Filipe, uma Questão de Realismo (14:8-9)
Constatamos aqui a ânsia e necessidade do homem quanto a ter um relance de Deus e experienciar a Sua realidade. “Mostra-nos Deus e acreditaremos” é a questão lançada por Filipe. Era um materialista que desejava algo mais tangível do que distinções metafísicas ou abstracções teológicas. Ele queria ver alguma evidência concreta. Este desejo no homem explica porque somos tão propensos a diversas formas de idolatria e à busca de coisas que podemos ver, tocar e segurar. A resposta aparece nos versículos 9-11. Ver o Senhor Jesus era ver e experienciar o Pai, o Deus vivo, tal como a vida, palavras e obras de Jesus deixaram claro (João 1:14, 18).
A Questão Não Perguntada, uma Questão de Direcção (Propósito) (14:12-14)
Ao indicar as obras mais grandiosas que os Seus discípulos realizariam após a Sua partida, o Senhor dirigia-se indirectamente a outro assunto, embora não se tratasse verdadeiramente de uma pergunta colocada pelos discípulos, pois é um tema que diz respeito a uma ânsia básica do homem. É a questão da significância e do propósito. A menos que esta questão seja respondida e encontrada numa relação pessoal com Cristo, como alguém que permanece n’Ele (João 15), é um assunto que não só leva os homens a oscilar incessantemente de objectivo em objectivo, mas também os desvia do chamamento de Deus nas suas vidas. Tipicamente, contudo, esta pergunta permanece sem solução porque, à semelhança de um cão que persegue a própria cauda, os homens, ao serem iludidos pelo sistema mundial de Satanás, perseguem persistentemente as coisas erradas. De facto, o Rei Salomão mencionou este mesmo tema em Eclesiastes; independentemente dos seus feitos ou acumulação, quando o homem tenta viver a vida sem fé em Deus, nada experiencia a não ser futilidade.
Aqui, portanto, se encontra uma questão do coração que as pessoas podem nem saber que estão a perguntar. Como um submarino espiritual, é uma questão que circula silenciosa e profundamente sob a superfície das águas inconscientes do coração. Eis uma questão e uma ânsia que agitam e perturbam os corações dos homens – é a questão “qual é o meu propósito na vida? Por que estou aqui?”. Trata-se da busca da significância. Mas é também uma questão muito relacionada com a promessa do Senhor quanto a preparar um lugar e regressar para os Seus, uma vez que é nesse momento que certamente recompensará os Seus santos pelo uso fiel das suas vidas.
A grande questão, assim, é a questão do PROPÓSITO: Por que estou aqui, ou para que estamos aqui? Qual a razão para esta vida? Qual é o meu propósito aqui na terra? O que devo fazer com a minha vida?
Tal pergunta e a respectiva resposta, dadas sob a forma de promessa para a Igreja, encontram-se no coração desta passagem, apontando-nos um dos pontos-chave para um coração tranquilo. Aqui se encontra uma das principais causas de perplexidade, desunião e desassossego no homem; aqui está uma questão que, para serem eficazes, todos os discípulos precisam de resolver.
John White, autor cristão e psiquiatra, destacou a inexistência de um propósito adequado para a vida como um dos problemas espirituais responsáveis por causar doenças mentais graves.2
Stephen Eyre investigou os valores e motivações de estudantes universitários em câmpus do Sudeste dos Estados Unidos. Uma descoberta notável da sua pesquisa foi a existência de baixo sentido interno de dever ou causa entre os estudantes. As motivações primárias centravam-se no proveito pessoal e no desenvolvimento de competências relacionadas com o emprego. 3
Podem ser sublinhadas aqui várias coisas: (1) Estar sem Deus ou sem uma relação adequada com Ele cria um enorme vazio no coração do homem. Isto conduz a uma obsessão quase patológica com a escalada da escada do sucesso, conforme é definido pelo mundo (confira João 7:37-39; Ef. 4:17 ss). (2) E como é que o mundo define sucesso? Define-o em termos de prosperidade, prestígio, estatuto, poder, prazer e bens. Define-o em termos de números, nomes e narizes – e demasiados cristãos e igrejas procuram a sua significância da mesma forma. Tal apenas pode conduzir a corações perturbados, repletos de desunião, competição e ressentimento. (3) No topo desta escada chamada “sucesso”, é suposto haver um lugar chamado felicidade, pavimentado com ruas denominadas realização, paz e segurança. Seremos prudentes se lembrarmos o modo como Paulo nos adverte de que um dos sinais dos últimos tempos e respectiva apostasia seria a procura, por parte do mundo, de “paz e segurança” a todo o custo (1 Ts. 5:3).
No topo da escada do sucesso, poderá existir algum tipo de automóvel luxuoso, uma mansão numa colina com vista para o Pacífico ou para uma linda paisagem montanhosa, o nome de alguém escrito em luzes, ou grande reconhecimento em alguma área – mas será que a escalada vale a pena? O Senhor advertiu os Seus discípulos quanto a procurar ganhar o mundo, perdendo assim as suas almas – isto é, desperdiçar as suas vidas do ponto de vista e propósito de Deus. Como um pesadelo, a verdadeira felicidade e o significado da vida estarão sempre fora do alcance, a menos que sejam procuradas e encontradas nas respostas que o Salvador nos dá nesta passagem. A imagem que o mundo oferece de significado e felicidade numa vida boa, em paz e segurança, é uma miragem satânica.
Enquanto cristãos com o dever de ser e de formar discípulos, temos de compreender que a procura da chamada “vida boa” consome as pessoas num processo ruinoso e destrutivo. Não só não compensa, como também tem consequências definitivamente negativas.
- Conduz-nos, como um vórtice ou um buraco negro, até a uma busca que Salomão descreve em Eclesiastes como “correr atrás do vento”. Essencialmente, esta busca é um paradoxo.
- Na procura egoísta da nossa própria felicidade, arruinamos as nossas vidas e as vidas das nossas famílias, não conseguindo experienciar o verdadeiro significado da vida – o propósito de Cristo.
- Leva-nos a negligenciar a nossa saúde, companheiros, filhos e amigos.
- Ficamos cegos e insensíveis às pessoas que precisam de ajuda à nossa volta e, acima de tudo, negligenciamos Deus descaradamente.
- É uma busca que se torna egoísta e imoral porque se baseia em prioridades e valores errados – aqueles que se centram no “eu” em vez de nos outros.
Tendo isto em mente, debrucemo-nos sobre 14:12-18. Estes versículos constituem várias promessas, mas todas estão directamente relacionadas com uma promessa primária, que diz respeito ao princípio da orientação ou do propósito.
A Certeza das Promessas, “Em verdade, em verdade” (14:12)
“Em verdade” corresponde ao grego emhn (emhn). Significa “estar firme, seguro”. Não só aponta para a certeza de uma verdade específica, mas foi também usado pelo Senhor a fim de captar a atenção, pois o ensinamento que se seguiria não era de modo algum opcional, mas sim fundamental e indispensável à vida. No contexto desta passagem, o que temos diante de nós é tão essencial para que haja discípulos eficazes e corações tranquilos como o oxigénio o é para o ar que respiramos (compare o vs. 1 com o vs. 27).
O Consignatário (o “Quem”) da Promessa, “Aquele que crê em Mim” (14:12)
Repare, por favor, no seguinte: As promessas e mensagem desta passagem não se restringem a ministros, missionários ou pregadores. Dizem respeito a todos os crentes, a todos nós. O assunto em causa é a fé em Cristo. A fé no Salvador une a pessoa quer à Sua vida, quer ao Seu propósito. Leva tanto o poder de Deus como o Seu objectivo a ter efeito sobre a vida de todos os crentes, e inclui um convite ao ministério, enquanto parceiros do Salvador no Seu projecto na terra. Deus quer que todos os fiéis sejam discípulos.
Nestes versículos, a promessa do Senhor acerca de “obras maiores” diz respeito à totalidade do corpo de Cristo. Enfatiza a ordem bíblica que afirma que cada membro deve envolver-se no propósito de Deus para a sua vida.
O Conteúdo (o “Quê”) da Primeira Promessa (14:12)
A Continuação da Sua Obra – “fará também as obras que Eu faço”
Sublinhe a palavra “também”. Aqui, o Senhor resumiu o impulso principal do Seu ensinamento ao longo destes capítulos. Queria imprimir em nós o facto de que, face à Sua partida, não estava a abandonar os discípulos nem a pôr fim aos Seus objectivos.
De facto, a Sua partida seria a base para a continuação da Sua obra na terra.
Actos 1:1 é chamado de “prefácio de ressunção”. “Fazer” refere-se às obras de amor de Cristo, conforme Ele as transmitia a um mundo em sofrimento. “Ensinar” equivale às Suas palavras de amor, a mensagem evangélica, mas ambos os actos caminham juntos, falando da missão da Igreja e seus membros quanto a comunicar com o mundo enquanto parceiros do Senhor Jesus, com a Sua vida concretizada na nossa.
É a isto que John Stott chama “Cristandade encarnacional”. “Na Cristandade 'encarnacional', a Igreja é quer um povo convocado a partir do mundo para adorar a Deus, quer um povo mandado de volta para o mundo para dar testemunho d'Ele e O servir”.4 Mas o que se destaca é o facto de ser encarnacional no sentido em que o povo Deus concretiza a própria vida de Cristo através da forma como vive os seus valores, aspirações e preocupação por um mundo moribundo. Tal tornar-se-á evidente na resposta de Nosso Senhor a Judas (não o Iscariotes) nos versículos 23 ss.
A Amplificação da Sua Obra – “e fará ainda maiores do que estas”
Foram concedidos aos discípulos dons temporários de natureza miraculosa, como o dom de realizar milagres e de curar. Mas o que é mais importante aqui não são esses poderes miraculosos. Tal aplica-se a todos os crentes ou à Igreja de todos os tempos, até ao regresso de Cristo.
As obras maiores aqui referidas não são maiores em grau, mas sim no sentido de extensão e efeito.
- Quanto à extensão, o ministério de Cristo ficou limitado à Palestina, a lugares como a Judeia, Perea, Decápole, Galileia e Samaria; porém, através da Igreja, a Sua obra espalhar-se-ia por todo o mundo.
- Quanto ao efeito, viriam de todo o mundo multidões para conhecer Cristo e ser colocadas no Seu corpo, a Igreja.
Por outras palavras, cada crente e cada igreja devem ser parte de um propósito e ministério de alcance mundial, movidos por Cristo vivo, através do Espírito Santo que Ele concedeu à Igreja após a sua glorificação, a Sua morte, ressurreição e ascensão.
A Causa (o “Porquê”) da Promessa (14:12c-14)
No texto, são dadas três razões. Primeiro, a Sua Ascensão e Sessão, segundo, a nossa Intercessão, e terceiro, a Processão do Espírito Santo.
(1) A Ascensão (a Sua partida) e a Sessão (a Sua chegada) – “porque vou para junto do Pai”
O que aqui se destaca é que o poder para tal ministério resultaria do poder, autoridade, ministério e dons do Senhor exaltado. Isto é explicado e desenvolvido nos versículos que se seguem, bem como ao longo do Novo Testamento. O poder para o ministério originar-se-ia no Senhor exaltado. O Senhor volta agora a nossa atenção para dois resultados adicionais deste facto – o privilégio da intercessão e da processão, o dom do Espírito Santo.
(2) A Intercessão da Igreja – “e tudo o que pedirdes ao Pai em Meu nome, vo-lo farei…”
Enquanto crentes em Cristo, temos acesso à presença real de Deus através do Senhor Jesus, que está lá para nós. Mas o que significa isto? O que deve o discípulo compreender aqui? Ele está lá para nós:
- Permanentemente – tendo lidado com o nosso pecado de uma vez para sempre.
- Exaltadamente – tendo-Lhe sido outorgados todo o poder e autoridade, graças à Sua conquista gloriosa sobre Satanás, o Pecado e a Morte.
- Compreensivamente – tendo-Se tornado homem, É capaz de Se compadecer das nossas enfermidades e necessidades, sempre disponível para nós.
- Compassivamente – sempre zelando por um mundo moribundo.
Com frequência, os nossos ministérios revelam-se impotentes ou porque não oramos, ou porque não conseguimos orar premeditadamente de acordo com os objectivos da Escritura. Podemos também reparar noutra coisa: a promessa “tudo o que pedirdes…” é feita em associação com o alcance das obras maiores de Cristo. Não se trata de um cheque em branco para desejos egoístas (Tg. 4:3). Mas o poder na oração e a eficácia no ministério dependeriam de algo mais. Não só precisaríamos de ter acesso, mas também requereríamos capacitação espiritual e orientação na nossa vida de oração e na nossa capacidade de comunicação com o mundo.
(3) A Processão (o envio do Espírito Santo do Pai através do Filho) – “e Eu rogarei ao Pai…” (João 14:16-17, 18 ss, 26)
“Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis…” (Actos 2:33)
Por diversas ocasiões, o Senhor falou do Espírito Santo como o “Auxiliador” ou “Capacitador”. Ele É o dom de Deus para o corpo de Cristo, destinado a capacitar os crentes para a vivência de uma existência cristã e para cumprirem os propósitos individuais que Deus Lhes reserva. Uma passagem particularmente pertinente neste contexto é Zacarias 4:10. Deus entregou a Zacarias uma mensagem especial para Zorobabel, vital para o seu sucesso e conclusão da tarefa com que se deparava. Finalizar a tarefa com sucesso não dependia da força ou poder humanos, mas sim do próprio Espírito. São mencionados todos os tipos de poder ao alcance do homem: físico, mental, moral. Mesmo no seu melhor, são insuficientes para as tarefas em mãos ou para qualquer obra de Deus, pois é Ele que providencia o poder do Seu Espírito, suficiente para as nossas tarefas no mundo hostil em que vivemos.
Quão oportuna é, portanto, esta mensagem para o nosso dia, com os seus complexos e diversos comités, comissões, viagens, planos, organizações, concursos, orçamentos, patrocinadores, comícios, grupos, metodologias, técnicas e muito mais. “Estes últimos nunca servem em si mesmos para conduzir à concretização da tarefa que Deus nos confiou; desde que se trata, do princípio ao fim, de uma obra espiritual, tem de ser desempenhada pelo omnipotente, infalível e Espírito exacto de Deus. O braço de carne desilude; Ele não”. 5 Compare 2 Co. 2:16; 3:4-5.
Aplicação
A questão, portanto, é a seguinte: o que tem tudo isto a ver connosco, crentes em Cristo?
- Antes de mais, trata-se de uma convocação ao ministério, à projecção de um tipo de ministério para cada membro, à projecção de uma Igreja integralmente dedicada a continuar aquilo que Nosso Senhor começou.
- É um chamamento para se ser um povo repleto do Espírito, um povo controlado e conduzido pelo Espírito, tal como o próprio Senhor, cujas obras resultavam de permanecer no Pai.
- E é um chamamento à intercessão, a uma vida na qual a oração representa uma prioridade tal que se torna o alicerce do nosso ministério e alcance no mundo.
Voltamo-nos agora para uma última questão, a pergunta de Judas (não o Iscariotes), no versículo 22. Esta questão é importante para a nossa compreensão da passagem e respectiva mensagem.
A Questão de Judas (não o Iscariotes), acerca da Revelação (14:22)
A partir da pergunta de Judas, contemplamos uma última questão, uma perplexidade final. Por que não te revelas agora ao mundo? Porquê só a nós?
Atentemos na resposta do Senhor. O versículo 23 reponde à questão de Judas e, em seguida, o versículo 24 resume e conclui a Sua instrução em resposta a estas perguntas.
À primeira vista, a Sua resposta não parece responder realmente à totalidade da questão de Judas, especialmente no que diz respeito à revelação diante do mundo. Porém, sob um olhar mais atento à luz da restante Escritura, responde. O importante é o seguinte: ao amarem o Senhor, ao guardarem a Sua Palavra, os homens experienciarão níveis cada vez mais profundos de intimidade com Deus. No processo, tornarão concretos o amor, valores, propósitos e vontade de Deus, o que resultará numa ampla revelação a um mundo necessitado da pessoa de Cristo e do Pai, em termos de tudo o que Ele começou quer a fazer, quer a ensinar.
Conclusão
Devemos notar que, se 14:1 introduz o nosso tema, “não se perturbe o vosso coração”, 14:27 conclui-o e aponta-nos os resultados que experienciamos, mas apenas quando aceitamos as respostas do Senhor, reivindicamos as Suas promessas e permanecemos na Sua vida, conforme o capítulo seguinte (15) nos ensina tão dramaticamente, recorrendo à imagem da Videira e dos ramos.
Por todo o lado, as pessoas querem paz, não querem? Mas procuram-na nos lugares errados... O mundo não pode concedê-la. Apenas Jesus Cristo nos pode dar paz e corações sem perturbação; e só aqueles que, como discípulos empenhados, se rendem a Ele e à vida que nos deixou para viver – uma existência como Seus companheiros - podem conhecer a Sua paz e significado na vida.
Coloquemos a nós mesmos algumas questões importantes e escrutinadoras da alma, questões que também devemos colocar aos nossos discípulos:
(1) Corro naquela proverbial roda da fortuna ou em alguma outra roda em busca de satisfação, significância e segurança? Corro atrás do vento?
(2) Quais são as expectativas específicas que me levam a esforçar-me e a correr nesta roda de expectativas fúteis?
(3) O que é que permanecer nesta roda me está a custar em termos do meu tempo, da minha relação com Deus, família e amigos, em termos do ministério que Deus poderá ter para mim, e em termos da minha própria saúde mental ou física?
(4) O que me motiva a continuar a escalada?
Independentemente daquilo em que as pessoas dizem que acreditam, as suas acções e estilo de vida revelam que os seus derradeiros valores e confiança são económicos, não bíblicos, e isso é idolatria. Há quinze anos atrás, o valor dominante entre os caloiros universitários consistia em encontrar uma filosofia de vida adequada. Hoje, tal valor desceu para número oito da lista. Previsivelmente, estar confortável a nível financeiro ocupa agora o número um.6
A partir do momento em que o mundo é visto em larga escala como uma arena para actividades económicas e comerciais, os indivíduos tendem a ir buscar o seu sentido de identidade e de valor àquilo que produzem e consomem. Identificamo-nos a nós mesmos através do local onde trabalhamos, de onde vivemos e do que conduzimos – quanto mais temos, mais somos.7
(5) Há no meu coração uma ânsia de fazer parte de uma causa maior? Anseio por ver Deus utilizar a minha vida de uma forma que faça a diferença? Se assim for, preciso de procurar indentificar e descrever a minha percepção do que o propósito de Deus para a minha vida poderá ser.
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Merrill C. Tenney, John: The Gospel of Belief, Wm. B. Eerdmans Publishing Co., Grand Rapids, 1948, p. 214.
2 John White, Putting the Soul Back in Psychology, InterVarsity Press, Downers Grove, 1987, p. 36 ss.
3 Stephen Eyre, Defeating the Dragons of the World, InterVarsity Press, Downers Grove, 1987, pp.10, 12.
4 Bibliothecra Sacra, Julho-Set., 88, p. 245.
5 Charles Lee Feinberg, Zechariah: Israel’s Comfort and Glory, American Board of Missions to the Jews, New York, 1952, pp. 44-45.
6 Tom Sine, Why Settle For More and Miss the Best, Word Publishing, Dallas, 1987, p. 30.
7 Sine, p. 32.
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Análise Concisa do Novo Testamento
1. Introdução à Análise Concisa do Novo Testamento
Related MediaExistem, obviamente, numerosas formas para se abordar o estudo da Bíblia: Sintética – uma visão global da Bíblia como um todo, a fim de proporcionar uma compreensão da mensagem geral; Analítica – o processo de ver a Bíblia versículo a versículo, para obter um conhecimento em profundidade; Tópica ou Doutrinal – o estudo da Bíblia de acordo com os seus múltiplos tópicos e doutrinas, e Simbólica – um estudo das diversas imagens ou padrões encontrados na Bíblia, particularmente no Antigo Testamento, que retratam a verdade do Novo Testamento. A abordagem sintética ou de visão global é extremamente útil para o estudante iniciado ou para aqueles que nunca realizaram um estudo do género. A abordagem sintética não só nos permite contemplar o panorama geral ou ver toda a floresta, mas também ajudará a compreender os detalhes numa fase mais avançada do estudo da Bíblia.
Chamamos a isto uma análise breve porque este estudo é mais uma abordagem em casca de noz aos livros do Antigo e Novo Testamentos. O objectivo centra-se em proporcionar ao leitor termos, versículos, temas ou propósitos-chave em cada um dos livros, em conjunto com uma breve descrição do seu conteúdo.1
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1Algumas das ideias e o plano utilizados nesta Análise de cada um dos livros da Bíblia (autor e título, data, objectivo e tema, versículo(s)-chave, etc.) são similares e retirados de outros materiais, tais como Briefing the Bible, J. Vernon McGee, Zondervan, Grand Rapids, 1949; A Popular Survey of the Old Testament, Norman L. Geisler, Baker Book House, Grand Rapids, 1977; “Old Testament Survey”, Alban Douglas, notas de aulas, Prairieview Bible College; e Talk Thru the Bible, Bruce Wilkinson e Kenneth Boa, Thomas Nelson, Nashville, 1983.
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2. Introdução ao Novo Testamento
Related MediaO Novo Testamento é um registo de eventos históricos, os eventos da “boa-nova” da vida salvadora do Senhor Jesus Cristo – a Sua vida, morte, ressurreição, ascensão e a continuação da Sua obra no mundo –, que é explicada e aplicada pelos apóstolos que Ele escolheu e enviou para o mundo. É também a concretização daqueles acontecimentos há muito antecipados pelo Antigo Testamento. Para além disso, é história sagrada que, ao contrário da história secular, foi escrita sob a orientação sobrenatural do Espírito Santo. Tal significa que se encontra, à semelhança do Antigo Testamento, protegida de erro humano e que possui autoridade divina para a Igreja, nos dias de hoje e através da história da Humanidade, até que o Senhor regresse.
Origem e Significado do Termo “Novo Testamento”
A nossa Bíblia está dividida em duas secções, às quais chamamos Antigo e Novo Testamentos, mas o que significa isto exactamente? A palavra grega para “testamento”, diaqhkh (latim testamentum), significa “vontade, testamento ou aliança”. Utilizada em ligação com o Novo Testamento, “aliança” é a melhor tradução. Como tal, refere-se a um novo acordo feito por um grupo, no qual outros poderão entrar caso aceitem a aliança. Usada em referência às alianças de Deus, designa uma nova relação na qual os homens podem ser recebidos por Ele. O Antigo Testamento ou Aliança é primariamente um registo da interacção de Deus com os israelitas, baseada na Aliança Mosaica concedida no Monte Sinai. Por outro lado, o Novo Testamento ou Aliança (antecipada em Jeremias 31:31 e instituída pelo Senhor Jesus, 1 Co. 11:25) descreve o novo acordo entre Deus e os homens de todas as tribos, línguas, povos e nações que aceitarem a salvação tendo por base a fé em Cristo.
A antiga aliança revelava a santidade de Deus no padrão justo da lei e prometia a chegada de um Redentor; a nova aliança mostra a santidade de Deus na justiça do Seu Filho. Portanto, o Novo Testamento contém aqueles escritos que revelam o conteúdo desta nova aliança.
A mensagem do Novo Testamento centra-se na (1) Pessoa que se entregou a Si mesma para a remissão dos pecados (Mt. 26:28) e no (2) povo (a Igreja) que recebeu a Sua salvação. Assim, a salvação é o tema central do Novo Testamento.1
As designações Antiga e Nova Alianças foram, portanto, aplicadas em primeiro lugar às duas relações que Deus estabeleceu com os homens e, depois, aos livros que contêm os registos destas duas relações. “O Novo Testamento é o tratado divino cujos termos permitiram que Deus nos recebesse, rebeldes e inimigos, na paz Consigo Mesmo”. 2
Preparação Divina para o Novo Testamento
No tempo do Novo Testamento, Roma era a potência mundial dominante, reinando sobre a maior parte do mundo antigo. Ainda assim, numa pequena cidade da Palestina, Belém de Judeia, nasceu aquele que mudaria o mundo. A respeito desta Pessoa, o apóstolo Paulo escreveu: “Mas, ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei (isto é, à Antiga Aliança)” (Gl. 4:4). Mediante meios especiais e maravilhosos, Deus preparou o mundo para a chegada do Messias. Vários factores contribuíram para esta preparação.
Preparação Através da Nação Judaica
A preparação para a chegada de Cristo é a história do Antigo Testamento. De todas as nações, Deus escolhera os judeus para serem um bem valioso, enquanto reino de sacerdotes, e uma nação santa (Êx.19:6). A este respeito, começando com a promessa que Deus concedera aos patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob (Gn. 12:1-3; Rm. 9:4), deveriam ser os guardiães da Palavra de Deus (o Antigo Testamento [Rm. 3:2]) e a via para o Redentor (Gn. 12:3; Gl. 3:8; Rm. 9:5). Portanto, o Antigo Testamento estava cheio de Cristo e antecipava a Sua vinda como Salvador sofredor e glorificado. Para além disso, estas profecias proporcionavam detalhes não só numerosos, mas também muito precisos acerca da linhagem do Messias, local de nascimento, circunstâncias em torno da data do Seu nascimento, vida, morte e até ressurreição.
Embora Israel tivesse sido desobediente e levado para o cativeiro em consequência do julgamento de Deus face à sua dureza de coração, mesmo assim Deus trouxe de volta à sua terra natal um resto do povo setenta anos depois, conforme prometera em preparação para a chegada do Messias. Mesmo que quatrocentos anos tivessem passado desde a redacção do último livro do Antigo Testamento, e apesar do clima religioso ser de aparências e hipocrisias farisaicas, pairava no ar o espírito de antecipação Messiânica, e um resto procurava o Messias.
Preparação Através da Língua Grega
É altamente significante que existisse, no tempo de Cristo – aquele que viera para ser o Salvador do mundo e que enviaria os Seus discípulos até aos confins da terra, a fim de proclamarem o Evangelho (Mt. 28:19-20), – aquilo que A. T. Robertson chamou de “um discurso mundial”.3 Tal resultava das conquistas e aspirações de Alexandre, o Grande, filho do Rei Filipe da Macedónia, que, mais de 300 anos antes do nascimento de Cristo, percorreu o mundo antigo, conquistando nação após nação. O seu desejo consistia num só mundo e numa língua comum. Na sequência das suas vitórias, estabeleceu a língua grega como lingua franca, a linguagem comum, e a cultura grega como padrão de vida e pensamento. Embora o seu império tenha sido de curta duração, a difusão da língua grega persistiu.
É relevante que o discurso grego se tenha tornado um só em vez de muitos dialectos, ao mesmo tempo que o poderio romano se espalhava pelo mundo. A língua difundida pelo exército de Alexandre no mundo oriental persistiu após a divisão do reino e chegou a todas as partes do mundo romano, inclusive à própria Roma. Paulo escreveu à igreja de Roma em grego e Marco Aurélio, Imperador Romano, escreveu as suas Meditações... em grego. Era a língua não só das cartas, mas também do comércio e da vida quotidiana. 4
O importante é que Deus estava a trabalhar na preparação do mundo para uma língua comum, que era um veículo ímpar de comunicação clara e precisa, a fim de proclamar a mensagem do Salvador. Em resultado, os livros do Novo Testamento foram escritos na língua comum da época, o grego koiné. Não foram escritos em hebraico ou aramaico, embora todos os escritores do Novo Testamento fossem judeus, à excepção de Lucas, que era gentio. O grego koiné tornou-se a segunda língua de praticamente toda a gente.
Preparação Através dos Romanos
Mas Deus não acabara de preparar o mundo para a chegada do seu Salvador. Quando Cristo nasceu na Palestina, Roma dominava o mundo. A Palestina encontrava-se sob o poder romano. Acima de tudo, Roma destacava-se pela insistência na lei e ordem. Com o reinado de César Augusto, a mais longa e sangrenta guerra civil da história de Roma terminara finalmente. Em resultado, foi colocado um ponto final a mais de 100 anos de guerra civil, e Roma ampliara vastamente as suas fronteiras. Para além disso, os Romanos construíram um sistema de estradas que, com a protecção providenciada pelo seu exército, que as patrulhava com frequência, contribuiu grandemente para o grau de facilidade e segurança com que os viajantes se podiam deslocar ao longo do império romano. Augusto foi o primeiro romano a usar a púrpura e coroa imperiais, enquanto governante exclusivo do império. Era moderado, sábio e atencioso para com o povo, tendo trazido um tempo grandioso de paz e prosperidade, fazendo de Roma um lugar seguro para viver e viajar. Tal introduziu um período denominado “Pax Romana”, a paz de Roma (27 A.C. – 180 D.C.). Graças a tudo o que Augusto alcançou, muitos diziam que, quando nasceu, nasceu um deus. Foi nestas condições que nasceu Alguém que era e é verdadeiramente a fonte da verdadeira paz pessoal e paz mundial duradoura, versus a paz falsa e temporária que os homens podem proporcionar – não importa quão sábios, bons ou excepcionais. Também era verdadeiramente Deus, o Deus-Homem, em vez de um homem chamado Deus. A presença da norma e lei romanas ajudou a preparar o mundo para a Sua vida e ministério, a fim de que o Evangelho pudesse ser pregado.
Marcos 1:14-15. Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”.
O Mundo Religioso no Tempo do Novo Testamento
Antes de se analisar o Novo Testamento, também seria bom ter uma imagem global do estado da esfera religiosa quando o Salvador entrou em cena e a Igreja foi enviada ao mundo. À medida que for lendo a citação de Merrill Tenney, repare na grande similaridade com o mundo actual. A mensagem do Salvador revelada no Evangelho é como uma lufada de ar fresco depois de estar fechado numa sala cheia de fumo.
A Igreja Cristã nasceu num mundo cheio de religiões concorrentes que podiam diferir largamente entre si, mas possuíam uma característica comum – a luta para alcançar um deus ou deuses que permaneciam inacessíveis. À excepção do Judaísmo, que ensinava que Deus Se revelara voluntariamente aos patriarcas, a Moisés e aos profetas, nenhuma fé podia falar com certeza acerca da revelação divina nem de algum verdadeiro conceito de pecado e salvação. Os padrões éticos em voga eram superficiais, apesar do ideal e discernimento de alguns filósofos e, quando discursavam a respeito do mal e da virtude, não tinham nem o remédio para um, nem a dinâmica para produzir a outra.
Mesmo no Judaísmo, a verdade revelada fora obscurecida, quer pela incrustação de tradições, quer por negligência...
O paganismo e todas as religiões afastadas do conhecimento e fé na Palavra de Deus originam sempre uma paródia e uma perversão da revelação original de Deus ao homem. Retêm muitos elementos básicos da verdade, mas distorcem-nos em falsidade prática. A soberania divina torna-se fatalismo; a graça transforma-se em indulgência; a justiça torna-se na conformidade com regras arbitrárias; a adoração transforma-se num ritual vazio; a oração torna-se uma súplica egoísta; o sobrenatural degenera em superstição. A luz de Deus fica obscurecida por lendas fantasiosas e completa falsidade. A consequente confusão de crenças e valores deixava os homens à deriva num labirinto de incertezas. Para alguns, a conveniência tornou-se a filosofia de vida dominante; pois, se não é possível haver uma certeza definitiva, não podem existir princípios permanentes que orientem o modo de agir; e, se não existem princípios permanentes, uma pessoa deve viver tão bem como for possível, tirando partido do momento. O cepticismo prevalecia, já que os velhos deuses haviam perdido o seu poder e não tinham aparecido novas divindades. De cada canto surgiram numerosos novos cultos, que invadiram o império e se tornaram os caprichos dos ricos diletantes ou o refúgio dos desesperadamente pobres. Os homens haviam perdido em larga escala as noções de júbilo e de destino que faziam a existência humana valer a pena.5
Composição e Organização do Novo Testamento
O Novo Testamento é composto de vinte e sete livros, escritos por nove autores diferentes. Com base nas suas características literárias, são frequentemente classificados em três grupos principais:
- Históricos (cinco livros, os Evangelhos e Actos)
- Epistolares (21 livros, de Romanos a Judas)
- Proféticos (um livro, Apocalipse [Revelação]).
As duas tabelas que se seguem ilustram a divisão e focam-se nesta classificação tripla dos livros do Novo Testamento. 6
|
Livros do Novo Testamento |
||||||
|
História |
Epístolas |
Profecia |
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|
Mateus
Marcos
Lucas
João
Actos |
De Paulo |
Gerais |
Revelação |
|||
|
Mais cedo, durante as viagens missionárias |
Mais tarde, após a prisão em Jerusalém |
Tiago
Hebreus
Judas
1 Pedro
2 Pedro
1 João 2 João 3 João
|
||||
|
Gálatas
1 Ts. 2 Ts.
1 Co. 2 Co.
Romanos |
Primeira detenção
Colossenses
Efésios
Filémon
Filipenses |
Libertação
1 Timóteo Tito |
Segunda detenção
2 Timóteo |
|||
|
Uma Visão Global quanto ao Ponto Central |
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|
Históricos |
Os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas, João |
Manifestação: Contar a história da vinda do Salvador, Sua pessoa e obra. |
|
Actos: Os Actos do Espírito Santo através dos apóstolos |
Propagação: Proclamar a mensagem do Salvador que veio. |
|
|
Epistolares |
Epístolas: Cartas para igrejas e indivíduos. De Romanos a Judas |
Explicação: Desenvolver o significado pleno da pessoa e obra de Cristo e da forma como deveria afectar o percurso do Cristão no mundo. |
|
Profético |
Revelação: O apocalipse do Senhor Jesus Cristo. |
Consumação: Antecipar os eventos do fim dos tempos e o regresso do Senhor, o Seu reino final e o estado eterno. |
A Ordem dos Livros do Novo Testamento
Conforme observado na classificação prévia, a ordem dos livros do Novo Testamento é mais lógica do que cronológica. Como Ryrie explica,
Primeiro vêm os Evangelhos, que registam a vida de Cristo; em seguida Actos, que fornece a história da difusão do Cristianismo; depois as epístolas, que mostram o desenvolvimento das doutrinas da Igreja juntamente com os seus problemas; e, finalmente, a visão da segunda vinda de Cristo, em Revelação.7
Embora os estudiosos bíblicos divirjam quanto à data exacta em que os livros do Novo Testamento foram escritos, a ordem de redacção dos livros foi aproximadamente a que se segue:
|
Livro |
Data (D.C.) |
Livro |
Data (D.C.) |
|
Tiago |
45-49 |
Filipenses, Filémon |
63 |
A Compilação dos Livros do Novo Testamento
Originalmente, os livros do Novo Testamento foram postos a circular em separado, e apenas gradualmente compilados para formar aquilo que agora conhecemos como a parte do Novo Testamento no cânone da Escritura. Graças à conservação providenciada por Deus, os nossos vinte e sete livros do Novo Testamento foram separados de muitos outros textos aquando da Igreja primitiva. Foram preservados enquanto parte do cânone do Novo Testamento, devido à sua inspiração e autoridade apostólica. Ryrie apresenta um excelente resumo deste processo:
Depois de serem escritos, os livros individuais não foram imediatamente reunidos no cânone, ou colecção dos vinte e sete textos que compõem o Novo Testamento. Grupos de livros, como as cartas de Paulo e os Evangelhos, foram primeiro conservados pelas igrejas ou pessoas a quem foram enviados e, gradualmente, os vinte e sete livros foram compilados e formalmente reconhecidos como um conjunto pela Igreja.
Este processo demorou cerca de 350 anos. No século segundo, a circulação de livros que promoviam heresias acentuou a necessidade de distinguir entre a Escritura válida e outra literatura cristã. Certos testes foram desenvolvidos a fim de determinar que livros deveriam ser incluídos. (1) O livro foi escrito ou aprovado por um apóstolo? (2) Era o seu conteúdo de natureza espiritual? (3) Fornecia evidência de ser inspirado por Deus? (4) Foi amplamente recebido pelas igrejas?
Nem todos os vinte e sete livros eventualmente reconhecidos como canónicos foram aceites por todas as igrejas nos primeiros séculos, mas tal não significa que aqueles que não foram imediata ou universalmente aceites fossem espúrios. Cartas endereçadas a indivíduos (Filémon, 2 e 3 João) não circularam tão amplamente como as enviadas às igrejas. Os livros mais disputados foram Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João e Filémon, mas por fim foram incluídos, e o cânone foi certificado no Concílio de Cartago em 397 D.C..
Embora não reste nenhuma cópia original dos textos que compõem o Novo Testamento, existem mais de 4,500 manuscritos gregos de todo ou parte do texto, em conjunto com cerca de 8,000 manuscritos em latim e pelo menos 1,000 outras versões de tradução dos livros originais. O estudo cuidadoso e a comparação destas múltiplas cópias concederam-nos um Novo Testamento preciso e confiável.8
Artigo original por J. Hampton Keathley III, Th.M.
Tradução de C. Oliveira
J. Hampton Keathley III, Th.M., licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de Agosto de 2002, partiu para casa, para junto do Senhor.
Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.
1 Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, Moody, p. 1498.
2 J. Greshem Machen, The New Testament, An Introduction to Its Litereature and History, editado por W. John Cook, The Banner of Truth Trust, Edinburgh, 1976, p. 16.
3 A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, Broadman Press, Nashville, 1934, p. 54.
4 Robertson, p. 54.
5 Merrill C. Tenney, New Testament Times, Eerdmans, Grand Rapids, 1965, p. 107-108.
6 A primeira tabela foi retirada de Ryrie Study Bible, Expanded Edition, por Charles Caldwell Ryrie, Moody, p. 1500.
7 Ryrie, p. 1498.
8 Ryrie, p. 1499.
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La Revue Internet Des Pasteurs, Fre Ed 25, Edition de l’automne 2017
Edition d’Automne 2017
Author: Dr. Roger Pascoe, President,
The Institute for Biblical Preaching
Cambridge, Ontario, Canada
(http://tibp.ca/)
“Renforcer l’Eglise par la Prédication Biblique et le Leadership”
Partie I: La Puissance De La Predication, Pt. 8
“Dix Suggestions Pour une Prédication de Puissance”
1. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Identifier Son Appel.
Un prédicateur doit identifier son appel- et l’appel pour devenir chrétien et l’appel de Dieu pour prêcher.
Ce ne serait pas bon du tout qu’un prédicateur étudie et prépare des messages s’il n’était pas chrétien. Nous ne pouvons pas prêcher efficacement aux autres si nous n’en sommes pas convaincus et si nous n’avons pas expérimenté la conversion. Nous ne pouvons pas «prêcher le Christ» si nous ne connaissons pas le Christ.
Les prédicateurs doivent être «même plus diligents pour affermir votre vocation et votre élection» (2 Pet 1:10). Ceux que “Dieu a prédestinés, il les a aussi appelés” (Rom. 8:29). Nous ne pouvons pas être sûrs de l’appel de Dieu à prêcher si nous ne sommes pas sûrs de l’appel authentique de Dieu sur nos vies.
Une fois que nous sommes sûrs que nous sommes nés de nouveau, alors nous devons examiner si Dieu nous a vraiment appelés à prêcher. Beaucoup de prédicateurs se rendent compte plus tard que cette vocation n’était pas ce à quoi Dieu les a appelés. Il y a beaucoup d’autres dons que Dieu a donnés qui doivent être exercés dans et pour l’église mais qui n’incluent pas la prédication. Le fait que nous ressentons le désir de servir Dieu ne veut pas dire que cela implique un ministère de prédication.
2. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Avoir Une Grande Considération Des Ecritures
Beaucoup de prédicateurs peuvent avoir un moyen persuasif avec leurs congrégations, mais ne pas avoir une vue élevée de l’Écriture. Par conséquent, leur prédication manquera de puissance spirituelle. Le pouvoir qui vient de Dieu dans la prédication est disponible seulement pour ceux qui ont embrassé la fiabilité absolue de l’Écriture inspirée.
Un prédicateur ne devrait pas monter sur la chaire sans la conviction absolue de l’inspiration des Écritures. Vous ne pouvez pas prêcher avec autorité à moins que vous puissiez dire que la Bible qui est totalement exacte et autoritaire. Vous ne pouvez pas dire en vérité “Ainsi parle le Seigneur” à moins que vous croyiez que la Bible soit pleinement la Parole de Dieu sans réserve.
3. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Accepter L’appel A Prêcher Comme Un Appel Au-Dessus De Toutes Les Autres Obligations.
Si nous avons été appelés à être chrétiens et appelés à prêcher la Parole inspirée, nous devons considérer cette vocation avant tout. Rien dans nos obligations pastorales ne devrait compromettre notre engagement envers la tâche de la prédication. Lorsque nous planifions notre semaine, nous devrions accorder la priorité à la préparation et à la prédication de la Parole. D’autres choses et les gens essaieront de prioriser leurs besoins et leurs souhaits sur nos programmes quotidiens et hebdomadaires. Mais rien d’autre ne peut faire remplacer la priorité de la prédication et la préparation à la prédication.
Nous devons faire de notre mieux pour être prêts à prêcher chaque dimanche et la seule façon de le faire est de gérer notre temps avec diligence, en donnant la priorité à la tâche de prédication. Vous ne pouvez pas prêcher avec la puissance spirituelle à moins que vous passiez le temps dans la préparation pendant la semaine.
4. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Apprendre A Prêcher La Parole
Notre objectif à vie doit être de prêcher la Bible. “Prêchez la Parole. Soyez prompt en toute occasion favorable ou non “(2 Tim 4: 2). Peu importe les circonstances ou si nous en avons envie, notre mandat est de prêcher la Parole - rien d’autre.
La prédication publique de la Parole est la responsabilité du prédicateur afin de communiquer le message de Dieu au peuple de Dieu. Nous devons donc connaître la portée de l’Écriture afin que nous puissions prêcher «tout le conseil de Dieu» (Actes 20:27).
Les messages centrés sur nos propres pensées ou sur les pensées de quelqu’un d’autre ne font pas l’objet de prédications bibliques. Nous devons nous en tenir à la Parole de Dieu pour que Dieu bénisse cette Parole pour son peuple.
Nous devons prêcher le texte de l’Écriture dans son contexte grammatical et historique. L’interprétation allégorique de l’Écriture doit être limitée à ce qui est vraiment allégorique. C’est seulement lorsque nous analysons le texte dans sa structure syntaxique et grammaticale et dans son contexte historique et théologique que nous pouvons prêcher la Parole correctement et avec exactitude.
En outre, il est important d’être christologique dans notre analyse et étude des Écritures, puisque l’histoire du salut est au centre de la Bible du début à la fin. Dieu honore une prédication qui honore Christ.
5. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Ne Doit Pas Se Focaliser Sur Les Résultats.
Un prédicateur ne doit jamais s’énerver avec lui-même et les résultats de son ministère. Plutôt que de se concentrer sur ce que nous pouvons voir et mesurer, nous devons nous concentrer sur l’appel du Christ et la sainte tâche à laquelle il nous a appelés, lui laissant les résultats.
Dieu ne bénit pas tout ce qui est fait pour la gloire de la chair. D’autre part, un prédicateur ne doit pas s’en prendre à lui-même simplement parce qu’il ne voit aucune réaction à sa prédication. Cet accent est aussi un acte d’égocentrisme et d’orgueil. Soit quelqu’un répond n’est pas le problème. Notre motivation à prêcher est que Dieu nous a appelés et nous devons lui laisser les résultats.
6. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Avoir De La Passion Pour La Pureté, La Croissance Personelles, Et La Prière
Dieu ne vous bénira pas avec la puissance spirituelle si vous continuez avec du péché dans votre vie. Un prédicateur doit avoir un cœur pur pour avoir une communion avec Dieu. “Si je considère l’iniquité dans mon coeur, le Seigneur ne m’entendra pas” (Psaume 66:18). Nous devons avoir une discipline personnelle comme celle d’un athlète afin que nous puissions prêcher aux autres sans nous-mêmes être disqualifiés (1 Co 9:27). Dieu est un Dieu saint et il veut que nous soyons saints (1 Pierre 1:16; 1 Tim 3: 2).
Les prédicateurs eux-mêmes doivent grandir dans leur foi et leur relation avec Dieu avant de pouvoir espérer que leur congrégation grandisse dans leur vie spirituelle. Cela veut dire que nous devons être des hommes engagés cherchant à approfondir notre intimité avec Dieu et notre connaissance de Dieu à travers sa Parole.
Nous devons être de bergers authentiques des brebis, pas des mercenaires (Jn 1, 11-14). Les bergers véritables passeront du temps avec le chef Berger dans la prière, l’étude et la méditation, pendant qu’ils se développent spirituellement.
7. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Incarner Son Sermon
La vérité du texte doit avoir d’abord fait son œuvre chez le prédicateur, avant qu’il ne le prêche à la congrégation. Le prédicateur doit d’abord appliquer la Parole à lui-même, puis à la congrégation. Il doit être un exemple vivant de la vérité de la Parole prêchée. Sinon, sa prédication n’a pas de pouvoir. Vous ne pouvez pas prêcher ce que vous n’obéissez pas et ne croyez pas vous-même.
Tout comme «la Parole (elle-même) s’est faite chair et a habité parmi nous» (Jn 1, 14), nous devons incarner la vérité de la parole de Dieu devant notre peuple. Nous devons être l’incarnation de la Parole que nous prêchons en tant que porte-parole de La Parole Vivante elle-même.
8. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Prêcher, Sachant Qu’un Jour Nous Nous Tiendrons Devant Christ Et Rendre Compte De Notre Prédication
Nous ne devons pas perdre le sens de la signification et de la valeur dans notre tâche. Au fil du temps, un prédicateur peut facilement entrer dans une ornière (routine) et perdre le sens de la grandeur de la tâche à laquelle il a été appelé et la bonté de Celui qui l’a appelé.
Les prédicateurs doivent croire que leur œuvre a des conséquences éternelles et que leur œuvre est hautement appréciée par Dieu. Ils doivent se préparer, attendre que Dieu bénisse leurs sermons, et prêcher, en espérant que Dieu bénisse la prédication. Ils doivent prêcher avec zèle et ferveur en espérant que Dieu les rencontre à ce moment de prédication.
Nous nous tiendrons tous devant le jugement du Christ et rendrons compte de toutes nos prédications - nos motivations, notre préparation, notre vie de prière, notre effort d’étude et notre sérieux dans la prédication. Tout sera évalué.
Ainsi, l’opinion du peuple de notre prédication n’est pas la question vitale. Au contraire, le problème ultime est ce que Dieu pense de notre ministère. Ainsi, notre tâche ne doit jamais devenir banale ou familière à nous. Nous devons servir le Seigneur Jésus-Christ, sachant qu’un jour nous lui ferons face pour savoir comment nous avons accompli la tâche qu’il nous a confiée. Prêchons en vue de ce jour.
9. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Appliquer La Vérité De La Parole De Dieu Dans La VIe Du Peuple.
Nous devons imprimer sur le cœur des gens la vérité de la Parole à laquelle nous les lançons le défi de répondre. La précision dans l’interprétation ne suffit pas. Nous devons livrer un message spécifique de Dieu à ce peuple en ce moment.
Notre compréhension de la Parole doit être prêchée dans le but de changer la vie des gens pour correspondre à cette Parole. Les prédicateurs ne sont pas appelés à impressionner les gens avec leurs connaissances grammaticales ou leurs compétences d’interprétation. Plutôt, les prédicateurs sont appelés à contraindre le peuple à agir sur la vérité de la Parole de Dieu. Ils doivent demander à Dieu de les rendre puissants dans l’exhortation et l’application de la Parole, car ils défient les gens à y répondre.
10. Pour Prêcher Avec Puissance, Un Prédicateur Doit Prêcher Avec La Passion Des Ames.
Un pasteur doit avoir un cœur pour ce don Dieu a un cœur pour - à savoir, le salut des âmes. C’est tout ce dont il est question. C’est pourquoi Dieu a envoyé son Fils mourir. C’est pourquoi Dieu appelle les gens à lui-même.
Il y a de la joie dans le ciel pour un pécheur qui vient à se repentir. Puisqu’il en est ainsi, nous devons prêcher à cette fin, afin que notre prédication apporte la joie à Dieu. Nous devons appeler à la repentance du péché et à ce qu’on reçoive Christ comme Sauveur.
C’est ce que Dieu veut. Il «ne veut pas que tout périsse, mais que tous parviennent à la repentance» (2 Pierre 3: 9). Par conséquent, notre but doit être d’amener les gens à la repentance par la prédication de la bonne nouvelle de Dieu.
Partie II: Se Preparer Pour La Predication
“Esquisser le Sermon-en-Une-Phrase”
Une fois que vous avez formulé vos points principaux (c’est-à-dire le contour du corps de votre sermon), la prochaine étape consiste à rédiger la thèse (idée générale) de votre sermon. J’aime appeler cela votre «sermon en une phrase». Cela fait habituellement partie de votre introduction.
Vous pouvez le rédiger à ce stade ou vous pourrez peut-être ne pas le rédiger que vers la fin de la préparation (peut-être même à la fin). Mais si possible, il est préférable de le rédiger maintenant car il vous donne une direction pour préparer le reste du sermon parce que tous les points principaux de l’exposé doivent se relier et dériver de cette déclaration de thèse. C’est pourquoi vous devez écrire votre énoncé de thèse «sermon-en-une-phrase» si possible avant de commencer à rédiger le sermon.
Le sermon-en-une-phrase est le point principal qui est concerné dans le passage biblique. C’est l’idée du sermon qui se développe à partir de l’idée principale du texte. C’est une idée, une proposition, un sujet à considérer. Greg Heisler l’explique ainsi: «C’est l’idée principale du texte (déclaré) dans une phrase claire, pleine et théologiquement chargée que votre public n’oubliera jamais.» [Greg Heisler, dans La Prédication Conduite Par L’Espirit (Nashville: B & H), 2007), 77]. JH Jowett a déclaré: «Aucun homme n’était vraiment prêt à prêcher sans pouvoir être en mésure de résumer son message en une seule phrase, bien formulée» [citation de William Fitch dans «La gloire de la prédication» (Chrétienté Aujoud’hui, 20 janvier 1967).)].
C’est le noyau du message; le sermon en un mot. C’est comme le titre attrayant, et condensé que les journalistes utilisent non seulement pour attirer votre attention, mais pour résumer tout l’article. Cette déclaration de thèse exprime tout ce que vous allez faire. C’est l’idée maitresse de votre message - ce que vous voulez que les gens sachent s’ils ne se souviennent de rien d’autre. Il résume l’enseignement de tout le sermon.
Par conséquent, comme les points principaux, le sermon-en-une phrase sera ...
1. ... exprimé dans les temps présents ou futurs, et
2. ... s’appliquent à toutes les personnes de tous les temps.
A. Quel Est Le But De La Declaration D’un Sermon-En-Une-Phrase?
Son but est ...
1. Résumer le message de l’exposé. Il relie toutes les idées exprimées dans les principaux points de votre plan de sermon.
2. Unir l’exposé entièr.
3. Diriger la congrégation vers ce que vous allez prêcher. C’est pourquoi j’annonce ma proposition dans l’introduction.
4. Établir la structure du sermon.
B. Un Sermon-En-Une-Phrase Se Fait D’habitude En Un Ou Quatre Types
1. Un Argument À Prouver Ou Un Point À Répondre.
Le but de ce genre de déclaration est que vous voulez que le public soit convaincu. Vous répondez aux questions: “Est-ce vrai? Quelle est votre preuve? “
2. Une Idée Ou Un Concept À Expliquer Ou À Reformuler.
Le but de ce genre de déclaration est que vous voulez qu'ils comprennent.
Vous répondez à la question: “Qu’est-ce que cela signifie?”
3. Une Exhortation Ou Un Appel À Obéir.
Le but de ce genre de déclaration est que vous voulez qu'ils soient motivés.
Vous répondez aux questions: “Pourquoi devrais-je m’en soucier? Quelle différence cela fait-il dans ma vie? Comment cela s’applique-t-il à moi?
4. Un Principe À Croire.
Le but de ce genre de déclaration est que vous voulez qu’ils acceptent cette vérité.
Vous répondez à la question: “Pourquoi devrais-je croire ceci?”
Tous ces types de déclarations de thèse ont pour but que les gens soient persuadés et démontrent cette persuasion en répondant par la foi et l’obéissance.
C. Plusieurs Formes De Formulations Pour Un Sermon-En-Une-Phrase
Il y a plusieurs façons dont vous pouvez structurer votre énoncé propositionnel.
1. Une question à laquelle vous répondrez
2. Une déclaration que vous justifierez ou expliquerez
3. Une exhortation que vous allez promouvoir - par ex. “Laissez-nous…”; “Nous devrions…”
Si possible, essayez de rendre votre formulation de sermon-en-une-phrase applicable à votre public. Vous pouvez le faire en utilisant «nous», «vous» et «notre», afin que les gens sachent que ce message leur est destiné aujourd’hui - pas simplement un message provenant d’un texte ancien. Cela rend votre sermon plus pertinent pour vos gens en leur montrant que l’idée maitresse de votre sermon est dirigée vers eux.
D. Des Exemples De Mes Formulations De Sermon-En-Une-Phrase
Peut-être il vous sera utile de voir quelques exemples de certaines de mes formulations de sermon-en-une-phrase.
Psaume 1, “La voie du juste et du méchant ne se rencontre jamais”.
Genèse 21: 8-21, “Tandis que les ténèbres précèdent l’aube, le trouble précède souvent le triomphe.”
Genèse 32: 22-32, “La nuit de l’agonie arrive toujours avant l’aube du soulagement.”
Ex. 3: 1-10, “Dieu est le Dieu qui apparaît aux gens ordinaires dans des circonstances ordinaires et leur révèle l’extraordinaire”.
Jn. 1: 1-5, “Nous contemplons la gloire de Dieu en Christ, qui a parfaitement et pleinement révélé Dieu pour nous, car Il est Dieu”.
Jn. 1: 6-13, “Christ est la vraie Lumière qui est venue dans le monde pour nous montrer le chemin de Dieu”.
Jn. 3: 22-46, “Un ministère authentique est celui qui magnifie Christ pour qu’Il devienne tout et nous, rien”.
Jn. 4: 46-54, “La foi en la parole de Dieu est le remède à tous nos besoins”.
1 Cor. 2: 1-5, “Le pouvoir dans la prédication vient de la Parole de Dieu et de l’Esprit de Dieu, pas de la sagesse ou des paroles humaines”.
Fille. 3: 10-14, “Le seul moyen d’acceptation par Dieu est à travers Christ par la foi”.
Phil. 1: 27-30, “Une église dirigée vers l’Evangile considère constamment l’Evangile dans la conduite et le courage”.
Phil. 3: 1-14, “La conversion authentique produit un véritable changement.”
1 Thess. 1: 1-10, “Les gens centrés sur Dieu marchent et parlent l’Evangile”.
1 Tim. 3: 14-16, “Le message de l’Eglise au monde est la vérité sur Christ”.
Heb. 11: 8-10, “La foi donne une perspective éternelle au milieu du temporel”.
Heb. 12: 18-24, “Le seul moyen acceptable d’approcher Dieu est par Jésus-Christ et son œuvre rédemptrice.”
2 Pet. 1: 16-21, “Nous pouvons être sûrs du retour du Christ à cause de la fiabilité de notre source”.
Partie III: Expose Sur La Devotion
“La Responsibilité du Serviteur de Dieu, Pt. 1: “Mécompréhensions Concernant le Ministère Chrétien “(1 Cor. 3:5-17)
By: Dr. Stephen F. Olford
Introduction.
Nous avons vu que la première cause de division dans l’église de Corinthe était l’idée fausse concernant le message chrétien. Maintenant, l’apôtre se tourne vers la seconde, qui est la conception erronée du ministère chrétien. Déjà il a anticipé son sujet, mais maintenant il en traite avec plus de détails. Les deux principales considérations qu’il a en tête sont, premièrement, la responsabilité du serviteur de Dieu envers Dieu (3: 5-17) et la redevabilité du serviteur de Dieu envers Dieu (3: 18-4: 5). Traitons à présent, la première dans cet article, et la seconde prochainement.
Le verset clé qui ouvre ce paragraphe est une déclaration formidable. Paul dit: “... Nous sommes co-ouvriers de Dieu; vous êtes le champ de Dieu (l’agriculture), vous êtes le temple de Dieu “(1 Corinthiens 3: 9). Dans chaque cas, l’accent est mis sur le mot «Dieu». Cela met clairement en évidence le fait que les instruments humains sont secondaires. Dieu est le premier, et par conséquent, Dieu doit être souverain dans tous les domaines de la vie et du service du Chrétien. Après avoir déclaré que tous les travailleurs chrétiens sont des co-ouvriers avec Dieu, Paul indique deux domaines dans lesquels le serviteur de Dieu est responsable. Le premier est dans le domaine de «l’agriculture de Dieu» et le second dans le domaine de «le temple de Dieu». Considérons-les dans l’ordre, en accordant une attention particulière à la seconde métaphore que Paul emploie.
I. Le Champ Agricole De Dieu
Paul dit: “J’ai planté, Apollos a arrosé, mais Dieu fait croître” (1 Corinthiens 3: 6). Pour présenter son traitement de cet aspect du service du Chrétien, l’apôtre demande: «Qui donc est Paul et qui est Apollos ? Mais des serviteurs par le moyen desquels vous avez cru, selon que le Seigneur l’a donné à chacun?» (1 Corinthiens 3: 5). Ici, Paul emploie le genre neutre pour détourner l’attention des prédicateurs et la concentrer sur leur fonction. Puis il répond à sa propre question et souligne qu’ils n’étaient rien de plus que des serviteurs par qui les Corinthiens ont cru. Le mot «serviteurs» est souvent utilisé dans le Nouveau Testament du service que les Chrétiens rendent à Dieu. Il est clair que Paul insiste sur le caractère humble du serviteur devant son Maître. Dans tout service, il est ridicule de glorifier le serviteur plutôt que le maître qui l’emploie. Paul et Apollos n’étaient rien de plus que de simples instruments par lesquels Dieu avait travaillé dans l’église de Corinthe. Pour souligner cela, l’apôtre décrit le ministère dans l’agriculture de Dieu comme suit:
1) Paul était le Planteur. “J’ai planté ...” (1 Corinthiens 3: 6). Or la plantation est un travail très important, mais le principe de vie n’est pas chez l’homme qui plante; c’est plutôt dans la graine qu’il plante. Aucun planteur n’a rempli sa responsabilité s’il n’a pas mis la graine dans le sol; mais il sait mieux que quiconque qu’il ne peut pas communiquer la vie à cette graine.
2) Apollos était l’arroseur. “... Apollos a arrosé ...” (1 Corinthiens 3: 6). Comme la plantation, l’arrosage est absolument nécessaire à la croissance et au développement de la graine. Mais encore une fois, le secret de la croissance est dans la graine elle-même. Il faut le mettre dans le sol et il faut l’arroser, mais le principe de vie qui consiste à s’exprimer dans la moisson n’est pas chez l’homme qui plante ou l’homme qui arrose, mais dans le Dieu qui fait croitre. Il est instructif d’observer que le temps parfait est utilisé pour planter et arroser, mais le temps continu est utilisé pour l’activité divine en donnant l’augmentation. Paul et Apollos avaient fait leur travail, mais Dieu continuait à donner l’augmentation. C’est comme ça que ça s’est passé à travers les siècles. Les ministres sont venus et les ministres sont partis, mais Dieu continue à toujours bénir son église. Tout cela est nécessaire pour que les hommes sachent que celui qui plante n’est rien, et celui qui arrose n’est rien, mais Dieu qui fait croitre est tout (v.7). Les planteurs et les arroseurs recevront une récompense selon leurs travaux (verset 8), mais c’est simplement parce qu’ils sont de simples serviteurs, répondant au Maître comme des hommes et des femmes responsables. Mais maintenant nous nous tournons vers l’autre métaphore de Paul qu’il élabore plus longuement.
II. Le Temple De Dieu
Comme nous venons de l’observer, Paul a discuté de l’œuvre de Dieu en termes d’agriculture, mais maintenant il se tourne vers une forme de discours plus illustrative. Il déclare que le travail de Dieu est un édifice, et que travailler pour Dieu c’est construire pour l’éternité. Comme nous nous adressons à l’enseignement de l’apôtre sur ce sujet, ne dévions pas la vérité de nous-mêmes vers les prédicateurs et les enseignants qui sont considérés être la cible de Paul ici. Nous devons nous rappeler que la parole de Dieu, cependant considérée, a un défi pour chaque cœur qui croit. Nous considérons maintenant trois questions importantes qui sont impliquées dans bâtir pour l’éternité:
1) Il doit y avoir de bonnes raisons. Paul résume ces motifs en ces termes: «Selon la grâce de Dieu qui m’a été donnée, comme un sage architecte, j’ai posé la fondation...» (1 Corinthiens 3:10). Si nous bâtissons pour Dieu, alors nos motifs doivent toujours ressortir de la grâce de Dieu en nous. Fondamentalement, cela comprend:
a) Être sauvé par la grâce. “Car par la grâce vous êtes sauvés par le moyen de la foi, et cela ne vient pas de vous; c’est le don de Dieu “(Éphésiens 2: 8). Dans le contexte de cette déclaration, Paul a déclaré que ceux qui ne sont pas sauvés sont spirituellement morts. Les hommes morts ne peuvent pas bâtir. Il doit y avoir le salut par la grâce, car ce n’est que dans une vie sauvée que les bons motifs peuvent être trouvés. Ainsi, en déclarant que Paul était un sage architecte selon la grâce de Dieu, il inclut certainement la grâce salvatrice de Dieu.
b) Etant créé par grâce. “... par la grâce de Dieu, je suis ce que je suis ...” (1 Corinthiens 15:10). Avec Paul, le croyant doit être capable de reconnaître un travail actif de la grâce opérant dans la vie, purifiant et ajustant tous les motifs pour se conformer à la volonté de Dieu. Quand Paul dit: “Selon la grâce de Dieu”, il a en tête non seulement l’œuvre du salut de Dieu, mais aussi la sanctification.
c) Êtant appelé par la grâce. «... il a plu à Dieu, qui m’avait mis à part dès le sein de ma mère, et m’a appelé par sa grâce pour révéler son Fils en moi, afin que je l’annonçasse parmi les païens ...» (Galates 1:15, 16). Ce n’est que lorsqu’il est amené sous le sens d’un tel appel que le croyant peut connaître la joie des motifs purs. C’est essentiellement ce qui est impliqué dans le verset 10 de notre texte. Par la grâce, nous connaissons non seulement le salut et la sanctification, mais aussi la puissance de Dieu rendant capable pour le service pour le service (v.10). Paul insiste sur l’insignifiance des serviteurs de Dieu s’ils sont en dehors de la grâce et du pouvoir divins. Les bons motifs sont ceux qui attribuent à la grâce de Dieu non seulement l’autorité, mais la capacité et l’ambition de bâtir pour l’éternité. Ensuite:
2) Il doit y avoir des méthodes appropriées. L’Apôtre nous dit qu’en tant que bâtisseurs, nous devons tenir compte de la façon dont nous bâtissons (verset 10). Il montre ensuite que les bonnes méthodes de construction sont celles qui sont à justement liées au bon fondement, Jésus-Christ, une fois pour toutes. Ses paroles sont: «... en tant que sage bâtisseur, j’ai posé les fondations ... car aucun autre fondement ne peut être posé que celui qui est posé, c’est-à-dire Jésus-Christ» (1 Co 3, 10-11). En termes pratiques, une telle mise en relation de nos méthodes avec la fondation exige trois choses importantes:
a) La magnificence de la valeur de Jésus-Christ. En venant à Corinthe, Paul a dit: “Car je n’ai pas eu la pensée de savoir parmi vous autre chose que Jésus-Christ, et Jésus-Christ crucifié” (1 Co 2, 2). Dans ce même paragraphe, il ajoute: “... Le Seigneur connaît les pensées des sages, qu’elles sont futiles. Par conséquent, que personne ne se glorifie dans les hommes ... “(1 Co 2, 20, 21). L’apôtre s’assurait que rien de ce qu’il faisait ne discréditerait la valeur incomparable et la gloire de son Seigneur et Maître. Vous et moi devons également tester nos méthodes de construction par une telle norme. Nous devons constamment nous demander: Est-ce que tel ou tel service particulier magnifie ou minimise la valeur de notre Seigneur?
b) La Magnificence de l’œuvre de Jésus-Christ. La détermination de Paul n’était pas de savoir quoique ce soit parmi les Corinthiens, “... savoir Jésus Christ, et Jésus Christ crucifié” (2: 2). C’était la méthode dont Paul procédait dans tous ses travaux de construction. En écrivant aux Galates, il dit: “Mais loin de moi de me glorifier, d’autre chose que la croix de notre Seigneur Jésus-Christ, par qui le monde m’a été crucifié et comme je le suis pour le monde” (Galates 6:14). Il savait que la croix explique clairement la mort à tout ce qui n’est pas de Dieu. En effet, cela a été tout son argument dans les versets précédents de cette épître. De même, nous devons veiller à ce que dans notre prédication, enseignement et travaillant pour Dieu, nous ne fassions rien qui minimise l’œuvre du Christ, «de peur que la croix du Christ soit sans effet» (1 Co 1, 17).
c) La Magnificence de la Parole de Jésus-Christ. Dans ce même verset (1 Corinthiens 1:17), Paul déclare avec insistance que «...Christ m’a envoyé pour non pas pour baptiser, mais pour prêcher l’Évangile ...» Et il n’a ménagé aucun effort pour déclarer ce qu’est l’Évangile. En fait, comme nous l’avons vu tout au long de ces études, Paul a expliqué non seulement quelque chose du caractère, de la communion, de la communication, mais aussi la compréhension de l’Évangile. Le message suprême du serviteur du Seigneur est celui de la parole de la croix. Vous pouvez observer à quel point l’apôtre a ressenti cela par comment il s’adresse aux Galates en 1: 8-10: «Mais même si nous, ou ange du ciel, vous prêche un autre évangile que ce que nous vous avons prêché, qu’il soit anathème... si quelqu’un vous prêche un autre évangile que ce que vous avez reçu, qu’il soit anathème. Est-ce que je persuade maintenant les hommes, ou Dieu? ... si je ...plaisais aux hommes, je ne serais pas un serviteur de Christ. “Un jugement fort est prononcé sur ceux qui ne basent pas leur message sur la parole de Dieu. Ses paroles solennelles ne peuvent pas être mal comprises, et nous devons les prendre à cœur. Paul affirme que tout ce que nous faisons qui ne magnifie pas la parole du Seigneur Jésus-Christ constitue un service sans valeur et ne résistera pas à l’épreuve de l’éternité. Qu’il est important pour nous de relier à juste titre nos méthodes à la valeur, à l’œuvre et à la parole de notre Seigneur Jésus-Christ. Les méthodes qui minimisent l’importance et l’efficacité de cette fondation sont vouées à l’échec. Par conséquent, nous devons tester soigneusement nos méthodes avant de construire une brique plus haut. Enfin, remarquez que:
3) Il Doit y Avoir De Matériaux Appropriés. «Si quelqu’un bâtit sur ce fondement avec de l’or, de l’argent, des pierres précieuses, du bois, du foin, de la paille, le travail de chacun deviendra manifeste: car le jour le déclarera, parce qu’il sera révélé par le feu; et le feu mettra à l’épreuve le travail de chacun, de quelle sorte il est» (1 Corinthiens 3: 12-13). En parlant de ces matériaux, Paul avait évidemment à l’esprit un événement survenu à Corinthe. Un feu avait brûlé cette ville et laissé derrière elle des leçons importantes pour chaque passant. Les édifices soigneusement construits d’or, d’argent et de pierres précieuses, qui étaient des dalles de marbre et de granit, avaient survécu, mais les pauvres petites tanières de murs remplies de foin et de chaume de chaume avaient brûlé au sol. Les constructeurs sages avec de bonnes motivations, des méthodes et des matériaux avaient tout sauvé, mais les autres avaient perdu tout sauf leur propre vie. Donc, Paul dit qu’il est d’une importance vitale que nous utilisions les bons matériaux. Avec ce langage symbolique, Paul enseigne que «l’or, l’argent, les pierres précieuses» représente:
a) Un Service qui sera récompensé. “Le travail de chacun deviendra manifeste; car le jour le déclarera, parce qu’il sera révélé par le feu; et le feu mettra à l’épreuve le travail de chacun, de quel genre il s’agit. Si le travail qu’il a construit résiste, il recevra une récompense “(1 Corinthiens 3: 13-14). Ce “jour” sera une belle occasion. Tous les croyants seront présents et leur service pour le Maître sera testé par le feu de test du trône de Christ. Le service qui gagnera l’approbation du Sauveur et gagnera la récompense du serviteur est décrit comme «l’or, l’argent, les pierres précieuses». L’or parle du service spirituel, car l’or est toujours symbolique de la nature de Dieu. Le service spirituel ne peut être accompli que par la puissance du Saint-Esprit. Il est donc important de connaître la plénitude et l’onction du Saint-Esprit pour tout ce que nous faisons. L’argent parle de service sacrificiel. Dans la Parole de Dieu, l’argent est toujours typique au sacrifice et à la rédemption du Christ (voir Exode 30: 11-15). Pour être acceptable à Dieu, le service doit être sacrificiel et rédempteur et rendu dans la force de la gratitude envers Christ pour son amour du Calvaire. Les pierres précieuses parlent d’un service irréprochable. Ceux-ci ne se rapportent pas à une variété de bijoux comme on le suppose généralement, mais aux nombreuses pierres de marbre et de granit de grands édifices, tels que le magnifique temple de Diane à Éphèse, considéré comme absolument ignifuge et indestructible. Ces pierres représentent la foi ferme et inébranlable et le travail dans lequel le croyant doit abonder. Voici donc les caractéristiques du bon service. L’apôtre nous rappelle que le feu lui-même doit «éprouver le travail de chacun». D’autre part, le bois, le foin et le chaume représentent:
b) Un Service qui doit être rejeté. “Si le travail de quelqu’un est brûlé, il subira des pertes ...” (1 Corinthiens 3:15). Le bois, le foin et le chaume sont des matériaux périssables et ont leur propre signification symbolique. Le bois parle de service négligent. Il représente l’habileté, l’énergie et le pouvoir indépendants de l’homme. Le foin représente parle de service sans valeur. Il semble voyant (criard) et volumineux, mais cela ne coûte rien en termes de sacrifice. Le chaume est question de service inutile (voir Job 21:18). Cela signifie les tâches qui sont effectuées avec les extrémités de base en vue. Ce sont les caractéristiques du service qui ne résisteront jamais à l’épreuve du feu. En effet, comme le dit l’Apôtre, “... Quand le travail quelqu’un, sera brûlé, il en subira la perte ...” (1 Corinthiens 13:15). Quelle horrible expérience de voir son soi-disant service pour Dieu monter en fumée, puis avoir la honte ineffable de ramasser les braises carbonisées d’une vie insouciante, négligente et indigne et de les enfoncer dans la main percée du Maître, et n’avoir rien à dire, si ce n’est: «C’est tout ce que j’ai à offrir de ma vie.»
Conclusion
Paul résume ce passage de recherche avec quelques mots terrifiants. Il demande: “Ne savez-vous pas que vous êtes le temple de Dieu et que l’Esprit de Dieu habite en vous? Si quelqu’un souille le temple de Dieu, Dieu le détruira. Car le temple de Dieu est saint, et c’est ce que vous êtes» (1 Corinthiens 3: 16-17). Paul dit que l’église est le temple de Dieu, habité par le Saint-Esprit. Manquer de construire avec de bons motifs, méthodes et matériaux est synonyme de ‘‘détruire le temple de Dieu’’. Ceux qui sont coupables d’un tel crime seront eux-mêmes détruits par Dieu. À la lumière de ce fait solennel, notre responsabilité en tant que serviteurs et ouvriers chrétiens est de construire le temple, et non de le détruire. Le terme «détruire» signifie «blesser, gâter, détériorer ou nuire». L’apôtre affirme clairement que si quelqu’un gâte, blesse ou nuit au temple, Dieu le détruira. Prenons à cœur ces mots austères qui viennent du trône même de Dieu. Souvenons-nous de ce qui constitue la responsabilité des serviteurs de Dieu. Selon Paul, nous sommes des co-ouvriers avec Dieu dans les tâches de planter et d’arroser dans l’agriculture de Dieu, et de construire et servir dans le temple de Dieu. Dans les deux aspects, nous sommes responsables du ciel pour tout ce que nous faisons. Que Dieu nous accorde que dans ce jour nous ne souffrions pas la perte éternelle, mais que nous recevions plutôt une pleine récompense en entendant le Maître dire “... C’est bien, bon et fidèle serviteur. Entre dans la joie de ton Maitre “(Matthieu 25:21).
Partie III: Plan De Sermon
Pour écouter la version audio de ces sermons en Anglais, cliquez sur ces liens: Jn. 14:1-2, Pt. 1; Jn. 14:2, Pt. 2, Jn. 14:3-6, Pt. 3
Titre: Je suis le Chemin, la Vérité et la Vie.
Point #1: Jésus a le remède pour les cœurs confus (1)
1. Arrêtez de vous souciez
2. Continuez à faire confiance
Point #2: Jésus a l’assurance pour les cœurs confus (2-6)
1. Jésus nous assure de l’existence du ciel (2)
a) Parce que Jésus l’a promis
b) Parce que Jésus l’a préparé
2. Jésus nous assure de l’entrée au ciel (3)
a) Parce que Jésus revient
b) Parce que Jésus nous emmène là
3. Jésus nous assure de la direction vers le ciel (4-6)
a) Parce que Jésus est le chemin
b) Parce que Jésus est la vérité
c) Parce que Jésus est la vie
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Jurnalul Electronic Al Păstorilor, Rom Ed 25, Editia de toamnă 2017
Ediția de Toamnă 2017
Autor: Dr. Roger Pascoe, Președinte,
Institutul Pentru Predicare Biblică
Cambridge, Ontario, Canada
(http://tibp.ca/)
„Întărind biserica în predicare biblică şi conducere”
Partea I: Puterea Predicării, Pt. 8
„Zece sugestii pentru o predicare plină de putere”
1. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să-Și Identifice Chemarea
Predicatorul trebuie să-și cunoască chemarea – atât chemarea de a deveni creștin, cât și chemarea lui Dumnezeu la slujirea prin predicare.
Nu este bine ca predicatorul să studieze și să pregătească mesaje dacă nu este creștin. Nu le putem predica altora în mod eficient dacă noi înșine nu suntem convinși și dacă nu am experimentat convertirea. Nu putem să-L „predicăm pe Hristos” dacă nu Îl cunoaștem pe Hristos.
Predicatori, voi trebuie să „căutaţi cu atât mai mult să vă întăriţi chemarea şi alegerea voastră” (2 Pet. 1:10)! Aceia pe care „pe care i-a hotărât mai dinainte, i-a şi chemat” (Rom. 8:30). Noi nu putem fi siguri de chemarea lui Dumnezeu la predicare dacă nu suntem siguri de chemarea Sa eficace pentru viețile noastre.
Odată ce suntem siguri că am fost născuți din nou, trebuie să verificăm dacă Dumnezeu ne-a chemat într-adevăr să predicăm. Mulți predicatori își dau seama mai târziu că Dumnezeu nu îi chemase, de fapt, la lucrarea de predicare. Sunt multe alte daruri pe care Dumnezeu le dă și care trebuie exercitate în biserică și pentru biserică, însă care nu includ predicarea. Dorința de a-L sluji pe Dumnezeu nu înseamnă neapărat implicarea în lucrarea de predicare.
2. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Aibă O Mare Considerație Față De Scriptură
Mulți predicatori au un stil persuasiv în predicare, însă nu au o mare considerație față de Scriptură. Prin urmare, predicarea lor va fi lipsită de putere spirituală. Puterea lui Dumnezeu în predicare este doar pentru cei care acceptă veridicitatea absolută a Scripturii inspirate.
Predicatorul nu trebuie să meargă la amvon dacă nu are convingerea absolută a inspirtației Scripturii. Nu poți predica cu autoritate decât dacă și doar atunci când crezi în acuratețea și autoritatea absolută a Bibliei. Nu poți spune cu adevărat: „Așa vorbește Domnul”, decât dacă crezi fără rezerve că Biblia este în întregime Cuvântul lui Dumnezeu.
3. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Accepte Chemarea La Predicare Ca Fiind Mai Presus De Orice Altă Îndatorire
Dacă am fost chemați să fim creștini și să predicăm Cuvântul inspirat, atunci trebuie să considerăm această vocație ca fiind deasupra tuturor celorlalte. Nimic din celelalte îndatoriri pastorale nu trebuie să compromită în vreun fel angajamentul nostru față de sarcina predicării. Atunci când ne planificăm timpul, trebuie să avem ca prioritate pregătirea și predicarea Cuvântului. Oamenii și celelalte lucruri vor încerca să ne facă să acordăm prioritate nevoilor și dorințelor lor, însă nimic nu trebuie să ne forțeze să renunțăm la prioritatea predicării și a pregătirii pentru predicare.
Trebuie să facem tot ce ne stă în putință ca să fim pregătiți pentru a predica în fiecare duminică și nu vom reuși asta decât dacă ne folosim timpul cu mare atenție, acordând prioritate predicării. Predicarea ta nu va fi plină de putere spirituală dacă nu petreci timp suficient pregătindu-te în timpul săptămânii.
4. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Învețe Să Predice Cuvântul
Scopul vieții noastre trebuie să fie predicarea Scripturii. „Propovăduieşte Cuvântul, stăruie asupra lui la timp şi nelatimp” (2 Tim. 4:2). Indiferent de circumstanțe sau de ceea ce simțim noi, mandatul nostru este să predicăm Cuvântul și nimic altceva nu este mai important.
Responsabilitatea predicatorului este predicarea expozitivă a Cuvântului, pentru ca astfel să reușească să transmită Cuvântul lui Dumnezeu poporului lui Dumnezeu. Așadar, noi trebuie să cunoaștem Scriptura în întregime, ca să putem predica „tot planul lui Dumnezeu” (Fapte 20:27).
Mesajele care au la bază propriile noastre idei sau ideile altcuiva nu pot fi subiectul unei predicări biblice. Trebuie să rămânem în Cuvântul lui Dumnezeu pentru ca Dumnezeu să binecuvânteze acel Cuvânt transmis poporului Său.
Trebuie să predicăm textul Scripturii în contextul său gramatical și istoric. Interpretarea alegorică a Scripturii trebuie limitată la ceea ce este într-adevăr alegoric. Noi predicăm în mod corect și potrivit Cuvântul numai atunci când analizăm textul ținând cont de structura sa sintactică și gramaticală, precum și de contextul său istoric și teologic.
Mai mult, în analizarea și studierea Scripturii, este important să avem o abordare cristologică, deoarece accentul Bibliei, de la un capăt la celălalt, cade pe istoria mântuirii. Dumnezeu onorează predicarea ce Îl onorează pe Hristos.
5. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Nu Trebuie Să Se Concentreze Pe Rezultatul Predicării
Predicatorul nu trebuie să se îndrăgostească de sine și de rezultatele slujirii sale. În loc să ne concentrăm pe ceea ce putem vedea și măsura, trebuie să ne concentrăm mai degrabă asupra chemării lui Hristos și asupra îndatoririi sfinte la care ne-a chemat, lăsând rezultatele în seama Lui.
Dumnezeu nu binecuvântează lucrurile făcute pentru gloria firii pământești. Pe de altă parte, predicatorul nu trebuie să se învinovățească dacă vede că predicarea sa nu dă niciun rezultat, pentru că și acesta este un act de mândrie și egoism. Nu răspunsul oamenilor este scopul predicării noastre, ci motivația noastră este faptul că El ne-a chemat la lucrarea aceasta. Rezultatele trebuie să le lăsăm în seama Lui.
6. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Fie Însuflețit De Pasiunea Pentru Propria Curăție, Creștere Și Pentru Rugăciune
Dumnezeu nu te va binecuvânta cu putere spirituală dacă trăiești în păcat. Predicatorul trebuie să aibă o inimă curată dacă vrea să primească audiență la Dumnezeu. „Dacă aş fi cugetat lucruri nelegiuite în inima mea, nu m-ar fi ascultat Domnul” (Ps. 66:18). Trebuie să avem o disciplină personală precum un sportiv dacă vrem să putem predica altora fără să fim noi înșine descalificați (1 Cor 9:27). Dumnezeu este un Dumnezeu sfânt și El vrea ca și noi să fim sfinți (1 Pet. 1:16; 1 Tim. 3:2).
Predicatorii trebuie ca ei înșiși să crească în credință și în relația cu Dumnezeu înainte de a avea așteptarea ca biserica lor să crească din punct de vedere spiritual. Aceasta înseamnă că noi trebuie să fim bărbați hotărâți în ceea ce privește adâncirea intimității cu Dumnezeu și a cunoașterii lui Dumnezeu prin Cuvântul Său.
Noi trebuie să fim adevărați păstori pentru oi, și nu să fim ca niște păstori plătiți (Ioan 10:11-14). Adevărații păstori petrec timp cu Păstorul-Șef în rugăciune, studiu și meditație, crescând astfel din punct de vedere spiritual.
7. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să-Și Întrupeze Predicile
Adevărul textului trebuie să-și facă lucrarea în predicator în primul rând, înainte ca el să-l predice în fața bisericii. Predicatorul trebuie să-și aplice lui însuși cuvântul mai întâi și abia apoi să-l aplice celorlalți. El trebuie să fie un exemplu viu al adevărului cuvântului predicat. Altfel, predicarea lui va fi lipsită de putere. Nu poți predica ceea ce nu asculți și nu crezi tu însuți.
Așa cum „Cuvântul (Însuși) S-a făcut trup și a locuit printre noi” (Ioan 1:14), tot așa și noi trebuie să întrupăm adevărul Cuvântului lui Dumnezeu înaintea oamenilor noștri. Noi trebuie să fim întruparea cuvântului pe care îl predicăm ca purtători de cuvânt ai Cuvântului Viu.
8. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Predice Știind Că Într-O Zi Vom Sta Înaintea Lui Hristos Și Vom Da Socoteală De Predicarea Noastră
Nu trebuie să uităm semnificația și valoarea sarcinii noastre. De-a lungul timpului, predicatorul poate intra într-o rutină, pierzând din vedere măreția sarcinii la care a fost chemat și bunătatea Celui care l-a chemat.
Predicatorii trebuie să creadă că lucrarea lor are consecințe veșnice și că lucrarea lor este prețuită de Dumnezeu. Ei trebuie să se pregătească, cu așteptarea ca Dumnezeu să binecuvânteze predicile lor și să predice, cu așteptarea ca Dumnezeu să binecuvânteze predicarea. Ei trebuie să predice cu zel și pasiune, așteptându-se ca Dumnezeu să le iasă în cale chiar în momentul predicării.
Cu toții vom sta înaintea scaunului de judecată al lui Hristos și vom da socoteală de toată lucrarea noastră de predicare – de motivele noastre, de pregătire, de viața de rugăciune, de efortul depus în studiere și de seriozitatea predicării. Totul ne va fi evaluat.
Astfel, cel mai important lucru nu este părerea oamenilor despre predicarea noastră, ci părerea lui Dumnezeu despre lucrarea noastră. Așadar, slujba noastră nu trebuie să devină ceva lumesc sau prea familiar pentru noi. Noi trebuie să-I slujim Domnului Isus Hristos, știind că într-o zi vom sta în fața Lui și vom da socoteală de felul în care ne-am îndeplinit sarcina pe care El ne-a încredințat-o. Haideți să predicăm având ziua aceea în minte!
9. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Aplice Adevărul Cuvântului Lui Dumnezeu La VIețile Oamenilor
Noi trebuie să imprimăm pe inimile oamenilor adevărul Cuvântului față de care îi provocăm să răspundă. Acuratețea interpretării nu este suficientă. Noi trebuie să transmitem un anume mesaj din partea lui Dumnezeu pentru acest popor și în acest moment.
Ceea ce înțelegem noi din Cuvânt trebuie să predicăm urmărind schimbarea vieților oamenilor pentru a corespunde cu acel Cuvânt. Predicatorii nu sunt chemați să impresioneze oamenii prin cunoștințele lor gramaticale sau prin abilitățile de interpretare. Mai degrabă, predicatorii sunt chemați să îi determine pe oameni să acționeze pe baza adevărului Cuvântului lui Dumnezeu. Ei trebuie să Îl roage pe Dumnezeu să le dea putere în expunerea și aplicarea Cuvântului atunci când îi provoacă pe oameni să răspundă Cuvântului.
10. Pentru A Predica Cu Putere, Predicatorul Trebuie Să Predice Cu Pasiune Pentru Sufletele Oamenilor
Pastorul trebuie să aibă pe inimă ceea ce Dumnezeu are pe inimă, și anume salvarea sufletelor. La aceasta se reduce totul. De aceea Și-a trimis Dumnezeu Fiul să moară. Și de aceea îi cheamă Dumnezeu pe oameni să vină la El.
În cer este mare bucurie un păcătos care se pocăiește. Și dacă așa stau lucrurile, atunci trebuie să predicăm cu acest scop în minte, pentru ca predicarea noastră să Îi aducă bucurie lui Dumnezeu. Noi trebuie să îi chemăm pe oameni la pocăință și să îi îndemnăm să Îl primească pe Hristos ca Salvator.
Aceasta este ceea ce dorește Dumnezeu. El „dorește ca niciunul să nu piară, ci toţi să vină la pocăinţă” (2 Pet. 3:9). Așadar, scopul nostru trebuie să fie să îi aducem pe oameni la pocăință prin predicarea Veștii Bune a lui Dumnezeu.
Partea A II-A: Pregătirea Pentru Predicare
“Formularea predicii-într-o-frază”
Odată ce ți-ai formulat punctele principale (i.e. schița cuprinsului predicii), următorul pas este formularea ideii principale a predicii, pe care îmi place să o numesc „predica-într-o-frază”. Aceasta face de obicei parte din introducere.
Poți să o formulezi acum sau poate că nu o vei putea formula decât mai târziu pe parcursul pregătirii (sau poate chiar la sfârșit). Dacă este posibil, cel mai bine este să o formulezi în acest punct al pregătirii, deoarece îți va da direcția pentru pregătirea restului predicii, pentru că toate punctele principale ale expunerii trebuie să aibă legătură cu această idee principală și să decurgă din ea. De aceea trebuie să îți scrii ideea principală („predica-într-o-frază”), dacă este posibil, înainte de a începe schița predicii.
Predica-într-o-frază este ideea generală pe care pasajul biblic o scoate în evidență. Este ideea homiletică ce decurge din ideea principală a textului. Este o idee, o propunere, un subiect de luat în considerare. Iată cum explică Greg Heisler: „Este ideea principală a textului (formulată) într-o frază clară, plină de semnificație și cu încărcătură teologică, pe care audiența ta nu o va uita niciodată” (Greg Heisler, Spirit Led Preaching [Predicare condusă de Duhul], Nashville: B & H, 2007, p. 77). J. H. Jowett a spus: „Nimeni nu este cu adevărat pregătit să predice până nu își poate sumariza mesajul într-o singură frază bine formulată” (citat de William Fitch în “The Glory of Preaching” [Gloria predicării], Christianity Today, 20 ianuarie, 1967).
Aceasta este esența mesajului; predica în rezumat. Este ca și titlurile acelea concise, condensate și atrăgătoare pe care le folosesc jurnaliștii nu doar pentru a ne capta atenția, ci și pentru a-și sumariza întregul articol. Această idee principală exprimă ceea ce vrei să demonstrezi. Este forța mesajului tău – ceea ce vrei să știe oamenii, chiar dacă nu-și vor aminti nimic altceva din predica ta. Fraza aceasta sumarizează învățătura întregii predici.
Așadar, ca și punctele principale, predica-într-o-frază va…
1. … fi exprimată fie la timpul prezent fie la viitor și
2. … se va aplica la toți oamenii din toate timpurile.
A. Care Este Scopul Unei Predici-Într-O-Frază?
Scopul său este…
1. Să sumarizeze mesajul expunerii. Ea unește toate ideile exprimate în punctele principale ale schiței predicii.
2. Să dea un caracter unitar întregii expuneri.
3. Să arate bisericii ce urmează să predici. De aceea eu enunț această idee în introducere.
4. Să stabilească structura predicii.
B. Predica-Într-O-Frază Se Încadrează De Obicei Într-Una Din Cele Patru Categorii
1. Un Argument Ce Urmează Să Fie Demonstrat Sau O Problemă Ce Urmează Să Primească Un Răspuns.
Scopul acestui tip de formulare este convingerea audienței.
Vei răspunde la întrebările: „Este adevărat? Care este dovada?”
2. O Idee Sau Un Concept Ce Urmează Să Fie Explicat Sau Reafirmat.
Scopul acestui tip de formulare este ca audiența să înțeleagă.
Vei răspunde la întrebarea: „Ce înseamnă asta?”
3. Un Îndemn Sau O Chemare Ce Trebuie Ascultată.
Scopul acestui tip de formulare este motivarea audienței.
Vei răspunde la întrebările: „De ce mă interesează pe mine? Cu ce schimbă asta viața mea? Cum se aplică asta la mine?”
4. Un Principiu Ce Trebuie Crezut.
Scopul acestui tip de formulare este ca audiența să accepte acest adevăr.
Vei răspunde la întrebarea: „De ce să cred asta?”
Toate aceste tipuri de formulări urmăresc ca oamenii să fie convinși și să-și demonstreze convingerea răspunzând cu credință și ascultare.
C. Diferite Forme De Predică-Într-O-Frază
Acestea sunt diferite feluri în care vă puteți structura ideea principală.
1. O întrebare la care veți da un răspuns.
2. O afirmație pe care o veți demonstra sau explica.
3. Un îndemn pe care îl veți da – ex. „Haideți să…”; „Ar trebui să…”
Atunci când este posibil, încercați să faceți ca predica-într-o-frază să se aplice audienței voastre și puteți face lucrul acesta, folosind pronumele „noi”, „voi”, „al nostru”. În felul acesta, oamenii vor ști că mesajul respectiv li se adresează lor și că nu este doar un mesaj preluat dintr-un text antic. Astfel, predica va fi mai relevantă pentru oamenii care vă ascultă, arătându-le că ei sunt ținta predicii voastre.
D. Exemple De Predică-Într-O-Frază
Poate că v-ar fi de ajutor să vedeți câteva exemple de predici-într-o-frază.
Ps. 1: „Calea celor neprihăniți și calea păcătoșilor nu se intersectează niciodată.”
Gen. 21:8-21: „Așa cum întunericul precede zorile, adesea și necazul precede biruința.”
Gen. 32:22-32: „Noaptea agoniei vine întotdeauna înaintea zorilor mângâierii.”
Ex. 3:1-10: „Dumnezeu este Dumnezeul care se arată oamenilor obișnuiți în împrejurări obișnuite și li se revelează într-un mod neobișnuit.”
Ioan 1:1-5: „Noi privim gloria lui Dumnezeu în Hristos, care ni L-a revelat pe Dumnezeu în mod perfect și deplin, pentru că El este Dumnezeu.”
Ioan 1:6-13: „Hristos este adevărata Lumină care a venit în lume ca să ne arate calea către Dumnezeu.”
Ioan 3:22-46: „O slujire autentică este aceea care Îl înalță pe Hristos, așa încât El devine totul, iar noi devenim nimic.”
Ioan 4:46-54: „Credința în Cuvântul lui Dumnezeu este soluția pentru toate nevoile noastre.”
1 Cor. 2:1-5: „Puterea în predicare vine din Cuvântul lui Dumnezeu și din Duhul lui Dumnezeu, și nu din cuvinte sau din înțelepciunea omenească.”
Gal. 3:10-14: „Singurul mod în care putem fi acceptați înaintea lui Dumnezeu este prin Hristos și prin credință.”
Fil. 1:27-30: „Biserica ce are evanghelia în centru extinde mereu evanghelia și în comportament și curaj.”
Fil. 3:1-14: „Convertirea reală produce schimbare reală.”
1 Tes. 1:1-10: „Oamenii care Îl au pe Dumnezeu în centrul vieții lor, întrupează și transmit evanghelia.”
1 Tim. 3:14-16: „Mesajul bisericii pentru lume este adevărul despre Hristos.”
Evr. 11:8-10: „Credința oferă o perspectivă eternă în mijlocul efemerității.”
Evr. 12:18-24: „Singurul mod posibil de apropiere de Dumnezeu este prin Isus Hristos și prin lucrarea Sa răscumpărătoare.”
2 Pet. 1:16-21: „Putem fi siguri de revenirea lui Hristos, datorită credibilității sursei de la care am primit această informație.”
Partea A III-A: Devoțională
„Responsabilitatea slujitorului, Pt. 1: „Concepții greșite despre slujirea creștină” (1 Cor. 3:5-17)
De: Dr. Stephen F. Olford
Introducere. Am văzut că prima cauză importantă a divizării din biserica din Corint a fost concepția greșită despre mesajul creștin. Apostolul trece acum la cea de-a doua cauză, care este concepția greșită despre slujirea creștină. El a anticipat deja acest subiect, însă acum îl tratează mai în detaliu. Cele două considerente pe care le are în vedere sunt: responsabilitatea slujitorului înaintea lui Dumnezeu (3:5-17) și răspunderea slujitorului înaintea lui Dumnezeu (3:18-4:5). Haideți să ne ocupăm de acestea pe rând, de primul în acest articol, iar de cel de-al doilea data viitoare.
Versetul-cheie care deschide acest paragraf este o afirmație extraordinară. Pavel spune: „Căci noi suntem împreună-lucrători cu Dumnezeu. Voi sunteţi ogorul (gospodăria) lui Dumnezeu, clădirea lui Dumnezeu (templul)” (1 Cor. 3:9). Accentul cade aici, în fiecare caz, pe termenul „Dumnezeu”, ceea ce subliniază faptul că instrumentele umane au un rol secundar. Dumnezeu are rolul principal și, de aceea, Dumnezeu trebuie să fie suveran în toate domeniile vieții și slujirii creștine. După ce afirmă că toți lucrătorii creștini sunt conlucrători cu Dumnezeu, Pavel indică două domenii în care slujitorul este responsabil. Primul domeniu este „ogorul lui Dumnezeu”, iar cel de-al doilea este „clădirea lui Dumnezeu”. Haideți să le luăm pe rând, acordând atenție specială celei de-a doua metafore folosite de Pavel.
I. Ogorul Lui Dumnezeu
Pavel spune: „Eu am sădit, Apolo a udat, dar Dumnezeu a făcut să crească” (1 Cor. 3:6). În introducerea acestui subiect legat de slujirea creștină, apostolul întreabă: „Cine este Pavel? Şi cine este Apolo? Nişte slujitori ai lui Dumnezeu, prin care aţi crezut; şi fiecare după puterea dată lui de Domnul” (1 Cor. 3:5). Pavel încearcă aici să atragă atenția de la predicatori către ceea ce fac ei. Apoi răspunde la întrebarea pe care a pus-o, subliniind faptul că ei nu sunt decât niște slujitori prin care corintenii au ajuns la credință.
Termenul „slujitori” este folosit adesea în Noul Testament cu referire la munca pe care o fac creștinii pentru Dumnezeu. Este evident că Pavel scoate în evidență caracterul umil al slujitorului în fața Stăpânului Său. În orice slujire, ar fi ridicol să îl glorifici pe slujitor și nu pe Stăpânul care l-a angajat. Pavel și Apolo nu erau decât niște instrumente prin care Dumnezeu lucrase în biserica din Corint. Pentru a sublinia acest lucru, apostolul descrie slujirea în ogorul lui Dumnezeu în felul următor:
1) Pavel a fost cel care a sădit. „Eu am sădit…” (1 Cor. 3:6). Plantarea este o lucrare foarte importantă, însă principiul vieții nu se află în omul care plantează, ci mai degrabă în sămânța pe care o sădește. Cel care sădește nu își încheie misiunea înainte de a pune sămânța în pământ, însă el știe mai bine ca oricine că nu îi poate da viață acelei semințe.
2) Apolo a fost cel care a udat. „… Apolo a udat …” (1 Cor. 3:6). La fel ca și plantarea, și udarea este absolut necesară creșterii și dezvoltării seminței. Însă, repet, secretul creșterii se află în sămânță. Ea trebuie să fie pusă în pământ și udată, însă principiul vieții care urmează să se manifeste deplin la seceriș nu se află în omul care plantează sau în cel care udă, ci în Dumnezeu, care dă creșterea. Este important de observat faptul că verbele „a sădi” și „a uda” sunt folosite la trecut, pe când despre activitatea divină care dă creșterea se vorbește la timpul prezent. Pavel și Apolo își îndepliniseră datoria, însă Dumnezeu continua să dea creșterea. La fel au stat lucrurile de-a lungul secolelor. Slujitorii au venit și au plecat, însă Dumnezeu continuă să-Și binecuvânteze biserica. Toate acestea sunt necesare pentru ca oamenii să știe că cel care sădește nu este nimic și cel care udă nu este nimic, ci Dumnezeu care face să crească este totul (v. 7). Cei care sădesc și cei care udă vor primi o răsplată pentru munca lor (v. 8), pentru că ei sunt doar niște slujitori, care dau socoteală înaintea Stăpânului, ca bărbați responsabili și femei responsabile. Acum vom privi la cealaltă metaforă a lui Pavel, pe care o dezvoltă mai mult.
II. Clădirea Lui Dumnezeu
După cum am observat, Pavel a vorbit despre lucrarea lui Dumnezeu în termeni agricoli, însă acum se îndreaptă către o figură de stil mai grăitoare. El spune că lucrarea lui Dumnezeu este o clădire și că a lucra pentru Dumnezeu înseamnă a clădi pentru eternitate. Analizând învățătura apostolului pe acest subiect, haideți să nu deviem adevărul de la noi către predicatorii și învățătorii despre care vorbește Pavel aici. Să nu uităm că Cuvântul lui Dumnezeu are o provocare pentru fiecare credincios. Să privim acum la trei aspecte importante legate de zidirea pentru eternitate:
1) Trebuie să avem motivația corectă. Pavel rezumă lucrul acesta astfel: „După harul lui Dumnezeu care mi-a fost dat, eu, ca un meşter-zidar înţelept, am pus temelia…” (1 Cor. 3:10). Dacă zidim pentru Dumnezeu, atunci motivația noastră trebuie să izvorască din harul lui Dumnezeu care este în noi. Esențialmente, aceasta include următoarele:
a) Suntem salvați prin har. „Căci prin har aţi fost mântuiţi, prin credinţă. Şi aceasta nu vine de la voi; ci este darul lui Dumnezeu” (Efes. 2:8). În contextul acestui verset, Pavel a afirmat că cei care nu sunt salvați, sunt morți din punct de vedere spiritual. Morții însă nu pot zidi. Trebuie să existe salvarea prin har, pentru că motivația corectă nu poate fi găsită decât într-o viață salvată. Așadar, atunci când Pavel spune că el este meșterul zidar, după harul lui Dumnezeu, el subînțelege aici, cu siguranță, harul salvator al lui Dumnezeu.
b) Suntem făcuți prin har. „… Prin harul lui Dumnezeu sunt ce sunt…” (1 Cor. 15:10). Potrivit lui Pavel, credinciosul trebuie să poată recunoaște o lucrare a harului activă în viața lui, care îi curățește și îi ajustează motivația pentru a fi conformă cu voia lui Dumnezeu. Atunci când spune „prin harul lui Dumnezeu”, Pavel se referă nu doar la lucrarea de salvare a lui Dumnezeu, ci și la cea de sfințire.
c) Suntem chemați prin har. „… Dumnezeu - care m-a pus deoparte din pântecele maicii mele şi m-a chemat prin harul Său - a găsit cu cale să descopere în mine pe Fiul Său, ca să-L vestesc…” (Gal. 1:15, 16). Doar atunci când înțelege cu adevărat această chemare, credinciosul poate cunoaște bucuria motivației adevărate. Aceasta vrea să spună, în esență, versetul 10 din pasajul nostru. Prin har, cunoaștem nu doar salvarea și sfințirea, ci și puterea lui Dumnezeu pentru slujire (v. 10). Pavel subliniază insignifianța slujitorilor lui Dumnezeu în afara harului divin și a puterii divine.
Adevărata motivație este aceea care atribuie harului lui Dumnezeu nu doar autoritatea, ci și puterea și dorința de a zidi pentru eternitate. Apoi:
2) Trebuie să avem metoda corectă. Ca și zidari, apostolul ne spune că trebuie să fim atenți la felul în care zidim (v. 10). Apoi ne arată că metoda corectă de a zidi este aceea care se raportează corect la adevărata temelie, Isus Hristos, care a fost pusă odată pentru totdeauna. El spune: „… ca un meşter-zidar înţelept, am pus temelia … Căci nimeni nu poate pune o altă temelie decât cea care a fost pusă şi care este Isus Hristos” (1 Cor. 3:10-11). În practică însă, raportarea corectă a metodelor de zidire la temelia adevărată presupune trei lucruri importante:
a) Glorificarea meritului lui Isus Hristos. Pavel spune că atunci când a venit la Corint: „... n-am avut de gând să ştiu între voi altceva decât pe Isus Hristos, şi pe El răstignit” (1 Cor. 2:2). Iar în paragraful acesta adaugă: „… Domnul cunoaşte gândurile celor înţelepţi. Ştie că sunt deşarte. Nimeni să nu se fălească, dar, cu oameni…” (1 Cor. 3:20, 21). Apostolul a vrut să se asigure că nimic din ceea ce făcea nu știrbea meritul și gloria Domnului și Stăpânului său. Și noi trebuie să ne testăm metodele de zidire după acest standard. Trebuie să ne întrebăm mereu: Slujirea aceasta știrbește meritul Domnului sau îl glorifică?
b) Glorificarea lucrării lui Isus Hristos. Pavel era hotărât să nu știe nimic altceva între corinteni „… decât pe Isus Hristos, şi pe El răstignit” (2:2). Aceasta a fost întotdeauna metoda lui Pavel de a zidi în toată lucrarea lui. Scriindu-le galatenilor, el spune: „În ce mă priveşte, departe de mine gândul să mă laud cu altceva decât cu crucea Domnului nostru Isus Hristos, prin care lumea este răstignită faţă de mine, şi eu faţă de lume” (Gal. 6:14). Crucea înseamnă moarte pentru tot ceea ce nu Îi aparține lui Dumnezeu și Pavel știa bine lucrul acesta. De altfel, tocmai ideea aceasta o argumentează în versetele de mai sus. Tot așa, și noi trebuie să ne asigurăm că nimic din ceea ce facem în predicare, învățare și în orice altă slujire nu știrbește lucrarea lui Hristos: „… ca nu cumva crucea lui Hristos să fie făcută zadarnică” (1 Cor. 1:17).
c) Glorificarea cuvântului lui Isus Hristos. În același verset (1 Cor. 1:17), Pavel declară: „… Hristos m-a trimis nu să botez, ci să propovăduiesc Evanghelia…”. Și el nu s-a dat înapoi de la nimic în proclamarea evangheliei. De fapt, după cum am văzut de-a lungul acestor studii, Pavel vorbește nu doar despre caracterul, comuniunea și comunicarea evangheliei, ci și despre înțelegerea evangheliei. Mesajul suprem al slujitorului Domnului este acela care vorbește despre cruce. Putem vedea cât de serios era apostolul în această privință în felul în care se adresează galatenilor în 1:8-10: „Dar, chiar dacă noi înşine sau un înger din cer ar veni să vă propovăduiască o Evanghelie deosebită de aceea pe care v-am propovăduit-o noi, să fie anatema! Cum am mai spus, o spun şi acum: dacă vă propovăduieşte cineva o Evanghelie deosebită de aceea pe care aţi primit-o, să fie anatema! Caut eu oare, în clipa aceasta, să capăt bunăvoinţa oamenilor sau bunăvoinţa lui Dumnezeu? Sau caut să plac oamenilor? Dacă aş mai căuta să plac oamenilor, n-aş fi robul lui Hristos.” Se pronunță aici o judecată foarte aspră asupra celor care nu își bazează mesajul pe Cuvântul lui Dumnezeu. Aceste cuvinte solemne ale lui Pavel nu pot fi înțelese în mod greșit și trebuie să luăm seama la ele. Pavel afirmă că tot ceea ce facem fără să glorificăm cuvântul Domnului Isus Hristos constituie o slujbă fără valoare și nu va trece testul eternității. Cât de important este pentru noi să ne raportăm corect metodele de zidire la meritele, lucrarea și cuvântul Domnului nostru Isus Hristos! Metodele care minimizează în orice fel importanța și eficacitatea acestei temelii sunt sortite eșecului. Așadar, noi trebuie să ne testăm metodele cu atenție înainte de a mai pune o cărămidă. În cele din urmă, să observăm că:
3) Trebuie să folosim materiale corecte. „Iar dacă clădeşte cineva pe această temelie aur, argint, pietre scumpe, lemn, fân, trestie, lucrarea fiecăruia va fi dată pe faţă: ziua Domnului o va face cunoscut, căci se va descoperi în foc. Şi focul va dovedi cum este lucrarea fiecăruia” (1 Cor. 3:12-13). Când vorbea despre aceste materiale, Pavel avea cu siguranță în minte un eveniment care avusese loc în Corint. Acolo izbucnise un incendiu, care dăduse niște lecții oamenilor. Clădirile ridicate cu grijă, făcute din aur, argint și pietre prețioase, precum marmura sau granitul, rămăseseră în picioare în urma incendiului, însă cocioabele sărăcăcioasefăcute din paie și fân arseseră în întregime. Munca zidarilor înțelepți, care avuseseră motivația corectă, metoda corectă și materialele adecvate, rămăsese în picioare, însă ceilalți pierduseră totul, reușind să-și salveze doar viața. Așadar, Pavel spune că este de o importanță vitală să folosim materialele adecvate atunci când construim. Prin acest limbaj simbolic, Pavel ne învață că „aurul, argintul și pietrele prețioase” reprezintă:
a) Slujirea ce va fi răsplătită. „Lucrarea fiecăruia va fi dată pe faţă: ziua Domnului o va face cunoscut, căci se va descoperi în foc. Şi focul va dovedi cum este lucrarea fiecăruia. Dacă lucrarea zidită de cineva pe temelia aceea rămâne în picioare, el va primi o răsplată” (1 Cor. 3:13-14). „Ziua” aceea va fi o ocazie extraordinară. Toți credincioșii vor fi acolo și slujirea față de Stăpânul lor va fi testată de focul scaunului de judecată al lui Hristos. Slujirea care va fi acceptată de Mântuitorul nostru și care va primi răsplata slujitorului credincios, este descrisă ca fiind „aur, argint și pietre scumpe”. Aurul reprezintă slujirea spirituală, pentru că aurul întotdeauna reprezintă natura lui Dumnezeu. Slujirea spirituală poate fi îndeplinită numai prin puterea Duhului Sfânt. Prin urmare, cât este de important să cunoaștem plinătatea și ungerea Duhului Sfânt în tot ceea ce facem. Argintul simbolizează slujirea jertfitoare. În Cuvântul lui Dumnezeu, argintul reprezintă întotdeauna jertfa lui Hristos și răscumpărarea (vezi Exod 30:11-15). Pentru a fi acceptată înaintea lui Dumnezeu, slujirea trebuie să fie jertfitoare și răscumpărătoare și făcută din recunoștință față de Hristos pentru dragostea Lui de la Calvar. Pietrele prețioase simbolizează slujirea cu credincioșie. Expresia „pietre prețioase” nu se referă la o varietate de nestemate, așa cum se crede în general, ci la mulțimea de pietre de marmură și granit din marile clădiri, cum ar fi magnificul templu din Efes al zeiței Diana, care era considerat rezistent la foc și indestructibil. Aceste pietre reprezintă lucrarea și credința fermă, de neclintit, pe care credinciosul trebuie să o aibă din belșug. Avem aici, așadar, caracteristile unei bune slujiri. Apostolul ne amintește că focul va „dovedi cum este lucrarea fiecăruia”. Lemnul, fânul și trestia, pe de altă parte, reprezintă:
b) Slujirea ce va fi respinsă. „Dacă lucrarea lui va fi arsă, îşi va pierde răsplata…” (1 Cor. 3:15). Lemnul, fânul și trestia sunt materiale perisabile și au și ele o semnificație simbolică. Lemnul simbolizează slujirea neglijentă și reprezintă abilitățile, energia și puterea omului independent. Fânul simbolizează slujirea fără valoare, care pare masivă și de efect, dar care nu ne costă nimic. Trestia reprezintă slujirea zadarnică (vezi Iov 21:18), acele sarcini îndeplinite cu un scop josnic. Acestea sunt caracteristicile acelei slujiri care nu va trece niciodată testul focului. Într-adevăr, după cum spune apostolul: „… Dacă lucrarea lui va fi arsă, îşi va pierde răsplata…” (1 Cor. 3:15). Ce experiență groaznică să-ți vezi așa-numita slujire pentru Dumnezeu risipindu-se ca un fum și apoi să treci prin experiența rușinoasă de a culege cenușa unei vieți inutile, nepăsătoare și nefolositoare și de a o pune în mâna străpunsă a Stăpânului, neputând să spui nimic altceva decât: „Asta este tot ce pot să-Ți ofer din viața mea!”
Concluzie. Pavel rezumă acest pasaj în câteva cuvinte teribile. El întreabă: „Nu ştiţi că voi sunteţi templul lui Dumnezeu şi că Duhul lui Dumnezeu locuieşte în voi? Dacă nimiceşte cineva templul lui Dumnezeu, pe acela îl va nimici Dumnezeu; căci templul lui Dumnezeu este sfânt, şi aşa sunteţi voi” (1 Cor. 3:16-17). Pavel spune aici că biserica este templul lui Dumnezeu, în care locuiește Duhul Sfânt. A nu construi cu motivația corectă, cu metode corecte și materiale adecvate înseamnă a distruge templul lui Dumnezeu, iar cei care se vor face vinovați de o astfel de fărădelege vor fi nimiciți de Dumnezeu. Ținând cont de lucrul acesta, responsabilitatea noastră ca slujitori și lucrători creștini este să zidim templul și nu să-l distrugem. Termenul „a nimici” înseamnă „a păgubi, a strica, a deteriora, a a vătăma”. Apostolul spune în mod clar că, dacă cineva păgubește, deteriorează sau vatămă templul, Dumnezeu îl va strica și pe el. Haideți să luăm aminte la aceste cuvinte aspre ce vin chiar de la tronul lui Dumnezeu! Haideți să ne amintim care este responsabilitatea slujitorilor lui Dumnezeu! Potrivit lui Pavel, noi suntem conlucrători cu Dumnezeu în ce privește sădirea și udarea în ogorul lui Dumnezeu și în ce privește zidirea și slujirea în templul lui Dumnezeu. În ambele aspecte, suntem răspunzători înaintea cerului pentru tot ceea ce facem. Să ne ajute Dumnezeu ca, în ziua aceea, să nu suferim o pierdere eternă, ci să primim răsplata deplină de la Stăpânul nostru, auzindu-L spunând: „Bine, rob bun şi credincios; ai fost credincios în puţine lucruri, te voi pune peste multe lucruri; intră în bucuria stăpânului tău!” (Mat. 25:21).
Partea A III-A: Schițe De Predici
Pentru a asculta versiunea audio a acestor predici în engleză, dați click pe link-urile de mai jos: In. 14:1-2, Pt. 1; In. 14:2, Pt. 2, In. 14:3-6, Pt. 3
Titlu: Eu sunt Calea, Adevărul și Viața
Punctul #1: Isus are remediul pentru inimile tulburate (1)
1. Nu mai fi tulburat
2. Continuă să ai încredere
Punctul #2: Isus oferă siguranță inimilor tulburate (2-6)
1. Isus ne asigură de existența cerului (2)
a) Pentru că Isus a promis aceasta
b) Pentru că Isus a pregătit cerul
2. Isus ne asigură intrarea în cer (3)
a) Pentru că Isus vine din nou
b) Pentru că Isus ne duce acolo
3. Isus ne asigură direcția către cer (4-6)
a) Pentru că Isus este calea
b) Pentru că Isus este adevărul
c) Pentru că Isus este viața
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The Net Pastors Journal, Rus Ed 25, Осеннее издание 2017
Осеннее издание 2017
Автор:
Др. Роджер Паскоу, президент
Институт Библейской Проповеди
Кембридж, Онтарио, Канада
“Укреплять Церковь через Проповедование Библии и Руководство”
Часть I: Сила Для Проповеди, Ч 8
«Десять идей для сильной проповеди»
1. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Определить Свое Призвание
Проповедник должен знать свое призвание - призыв стать христианином, а также призыв Бога - проповедовать.
Для проповедника было бы бесполезно учиться и готовить послания, если бы он не был христианином. Мы не можем эффективно проповедовать другим, если мы сами не убедимся в этом и не испытаем обращение. Мы не можем «проповедовать Христа», если мы Его не знаем.
Проповедники должны быть «еще более прилежными, чтобы утвердить свое призвание» (2 Пет. 1:10). Те, кого “Бог предопределил, их Он также призвал» (Рим. 8:30). Мы не можем быть уверены в призвании Бога проповедовать, если не уверены в действительном призвании Бога в нашей жизни.
Как только мы уверены, что мы рождены свыше, мы должны проверить, действительно ли Бог призвал нас проповедовать. Многие проповедники понимают позже, что это призвание не было их Божьим призывом. Есть много других даров, которые дал Бог, которые должны быть реализованы в церкви и для церкви, но не обязательно, что это будет проповедование. Просто потому, что мы чувствуем желание служить Богу не означает, что мы должны только служить проповедью.
2. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Хорошо Знать И Ценить Писание
Многие проповедники могут убеждать людей в собрании, но не знают хорошо Писание. Следовательно, их проповедь лишена духовной силы. Сила, исходящая от Бога в проповеди, доступна только тем, кто обрел абсолютную достоверность вдохновенного Писания.
Проповедник не должен подходить к кафедре без абсолютной убежденности в вдохновении Писания. Вы не можете проповедовать с властью, пока не сможете сказать о том, что Библия - абсолютно точная и авторитетная. Вы не можете сказать: «Так говорит Господь», если вы не верите, что Библия - это Божье Слово без оговорок.
3. Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Принять Призыв Проповедовать Как Призыв Выше Всех Других Обязанностей
Если мы призваны быть христианами и призваны проповедовать вдохновенное Слово, тогда мы должны рассматривать это призвание прежде всего. Ничто в наших пастырских обязанностях никоим образом не должно скомпрометировать нашу приверженность к проповеднической деятельности. Когда мы планируем нашу неделю, мы должны уделять первоочередное внимание подготовке и проповеди Слова. Другие вещи и люди будут стараться расставить приоритеты своих потребностей и пожеланий в наших ежедневных и еженедельных расписаниях. Но ничто другое не должно забирать приоритет проповеди и подготовки к проповеди.
Мы должны сделать все возможное, чтобы быть готовыми к проповеди каждое воскресенье, и единственный способ сделать это - это усердно управлять нашим временем, уделяя приоритетное внимание задаче проповеди. Вы не можете проповедовать с духовной силой, если не тратите время на подготовку в течение недели.
4. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Научиться Проповедовать Слово
Наша цель жизни - проповедовать Библию. «Проповедуй Слово, настой во время и не во время»(2 Тим 4: 2). Независимо от того, какие обстоятельства или как мы чувствуем это, наша цель состоит в том, чтобы проповедовать Слово - ничего другого.
Всестороннее проповедование Слова является обязанностью проповедника, чтобы сообщать Божье послание Божьему народу. Поэтому мы должны знать рамки Писания, чтобы мы могли проповедовать «весь совет Бога» (Деян. 20:27).
Послания, которые сосредотачиваются на наших собственных мыслях или чьих-либо мыслях, не являются предметом библейской проповеди. Мы должны придерживаться Слова Божьего, чтобы Бог благословил это Слово своим людям.
Мы должны проповедовать текст Писания в его грамматическом и историческом контексте. Аллегорическая интерпретация Писания должна ограничиваться тем, что действительно аллегорично. Только когда мы анализируем текст в его синтаксической и грамматической структуре, а также в его историческом и теологическом контексте, можем ли мы правильно и точно проповедовать Слово.
Кроме того, важно быть христологическим в нашем анализе и изучении Писания, поскольку история спасения - это центр Библии от начала до конца. Бог чтит проповедь, которая чтит Христа.
5. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Не Должен Фокусироваться На Результатах
Проповедник никогда не должен влюбляться в себя и результаты своего служения. Вместо того, чтобы сосредоточиться на том, что проповедник может увидеть и измерить, мы должны сосредоточиться на призыве Христа и священной задаче, к которой Он призвал нас, оставив результат Ему.
Бог не благословляет ничего, что сделано для того, чтобы прославить плоть. С другой стороны, проповедник не должен корить себя только потому, что не видит ответа на свою проповедь. Этот фокус тоже является актом сосредоточенности на себе и и его гордости. Будет ли ответ, не в этом суть. Наша мотивация проповедовать заключается в том, что Бог призвал нас, и мы должны оставить результаты Богу.
6. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Обладать Страстью К Чистоте, Росту И Молитве
Бог не благословит вас духовной силой, если вы продолжаете грешить в своей жизни. У проповедника должно быть чистое сердце, чтобы иметь аудиенцию у Бога. «Если бы я видел беззаконие в сердце своем, то не услышал бы меня Господь» (Пс 66:18). Но усмиряю и порабощаю тело мое, дабы, проповедуя другим, самому не остаться недостойным (1 Кор. 9:27). Бог - Святой Бог, и Он хочет, чтобы мы были святы (1 Петра 1:16; 1 Тим. 3: 2).
Сами проповедники должны возрастать в своей вере и отношениях с Богом, прежде чем они смогут ожидать роста в духовной жизни от своих людей. Это значит, что мы должны быть людьми, совершенными в наших близких отношениях с Богом и нашем познании Бога через Его Слово.
Мы должны быть настоящими пасторами для овец, а не наемниками (Ин. 10: 11-14). Истинные пастора будут проводить время с Главным Пастырем в молитве, обучении и размышлении, по мере того, как они развиваются духовно.
7. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Воплотить Свои Проповеди
Истина текста должна была обдумана сначала проповедником, прежде чем он станет проповедовать ее собранию. Проповедник должен сначала применить это Слово к себе, а затем к людям. Он должен быть живым примером истины проповеди. В противном случае его проповедь не имеет силы. Вы не можете проповедовать то, что вы не слушаете и во что вы не верите.
Подобно тому, как «Слово (Само) стало плотью и обитало среди нас» (Иоанна 1:14), мы должны воплотить истину Божьего Слова перед нашим народом. Мы должны быть воплощением Слова, которое мы проповедуем в качестве представителей этого Живого Слова.
8. Чтобы Проповедовать В Силе Духа Силой, Проповедник Должен Проповедовать Со Знанием О Том, Что Однажды Он Будет Будет Стоять Перед Христом И Давать Отчет О Своей Проповеди
Мы не должны терять смысл и ценность нашей задачи. Со временем проповедник может легко привыкнуть и потерять чувство великого задания, к которому он призван, и благости Того, Кто его призвал.
Проповедники должны верить, что их служение имеет последствия для вечности, и оно высоко ценится Богом. Они должны подготовиться, ожидая, что Бог благословит их проповедь и проповедовать, полностью ожидая, что Бог благословит их проповедь. Они должны проповедовать с усердием и пылкостью, ожидая, что Бог встретит их в момент их проповеди.
Мы все предстанем перед судом Христа и расскажем обо всех наших проповедях: о наших мотивах, о нашей подготовке, о нашей молитвенной жизни, о наших усилиях в учебе и о нашей искренности в проповеди. Все это будет оценено.
Таким образом, мнение людей о нашей проповеди не является жизненно важным. Скорее важно то, что Бог думает о нашем служении. Таким образом, наше задание никогда не должно становиться мирским или знакомым нам. Мы должны служить Господу Иисусу Христу, зная, что однажды мы встретимся с Ним и будем давать отчет о том, как мы выполнили задание, которое Он дал нам. Давайте проповедовать помня о том дне.
9. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Применить Истину Божьего Слова К Жизни Людей
Мы должны удивлять сердца людей истиной Слова, на которое мы призываем их ответить. Точности в истолковании недостаточно. В это время мы должны донести конкретное послание Бога этим людям.
Мы должны проповедовать наше понимание Слова, чтобы изменить жизнь людей, чтобы они соответствовали этому Слову. Проповедники не призваны впечатлять людей своими грамматическими знаниями или навыками толкования. Скорее, проповедники призваны побудить людей действовать в согласии с истиной Слова Божьего. Они должны просить Бога сделать их сильными в увещевании и применении Слова, по мере того, как они бросают вызов людям, чтобы ответить на него.
10. Чтобы Проповедовать В Силе Духа, Проповедник Должен Проповедовать Со Страстью К Не Спасенным Душам
Есть много радости на небесах о грешниках, которые приходят к покаянию. Поскольку это так, то мы должны проповедовать с целью, чтобы наша проповедь несла радость Богу. Мы должны призвать к покаянию от греха и принятию Христа как нашего Спасителя.
Этого хочет Бог. Он «не желает, чтобы кто-то погиб, но все должно прийти к покаянию» (2 Петра 3: 9). Поэтому нашей целью должна стать проповедь, ведущая людей к покаянию через Благую весть.
Часть II: Подготовка К Проповеди
“План проповеди в одном предложении”
После того как вы сформулировали свои основные пункты (план вашей проповеди), следующим шагом будет разработка тезисно (общей идеи) вашей проповеди. Мне нравится называть это «проповедью в одно предложение». Обычно это часть введения вашей проповеди.
Вы можете набросать план, или позже по мере подготовки и работы над проповедью (возможно, даже в конце ее). Но, если это возможно, лучше всего подготовить этот план сразу, поскольку он дает вам направление для подготовки остальной части проповеди, потому что все основные пункты изложения должны соотноситься и выражаться из основного тезиса. Вот почему вам нужно написать свою проповедь тезисно («проповедь в одно предложение»), если это возможно, прежде чем приступать к написанию проповеди.
Проповедь в одном предложении - это общая мысль, которая озаглавливает весь библейский отрывок. Это основная идея, которая развивается из основной идеи текста. Это идея, предложение, которые важно учесть. Грег Хейслер высказывает это так: «Это основная идея текста (заявленная) в ясном, наполненном и загруженном богословием предложении, которое ваша аудитория никогда не забудет». (Грег Хейслер, «Проповедование Духа» (Нэшвилл: 2007), с. 77). Джоветт сказал: «Ни один человек не умел проповедовать до того, как мог обобщить свое послание в одно, хорошо сформулированное предложение». [Цитируется Уильямом Фитчем в «Славе проповеди» (Христианство Сегодня, 20 января 1967 г. ).
Это - центр послания; Проповедь в двух словах. Это похоже на прочный, запоминающийся, сжатый заголовок, который журналисты используют не только для вашего внимания, но и для подведения итогов всей статьи. В этом заявлении тезиса выражается весь смысл, который вы собираетесь высказать. Это суть вашего послания - то, что вы хотите, чтобы люди знали, если они больше ничего не смогут запомнить. Оно обобщает всю проповедь в целом.
Поэтому, как и основные моменты, проповедь в одно предложение будет ...
1. ... выражаться либо в настоящем, либо в будущем
2. ... применяться ко всем людям всех времен.
A. Что За Цель У Проповеди В Одно Предложение?
Его цель - ...
1. Подвести итог посланию экспозиции. Он связывает вместе все идеи, изложенные в основных пунктах вашего плана проповеди.
2. Объединить всю экспозицию.
3. Направить людей к теме проповеди. Вот почему я излагаю свою мысль во введении.
4. Установить структуру проповеди.
Б. Проповедь В Одно Предложение Обычно Подразделяется На 4 Вида
1. Идея, Которую Нужно Доказать, Или Вопрос, На Который Нужно Ответить.
Цель такого утверждения состоит в том, что вы хотите, чтобы аудитория была убеждена. Вы отвечаете на вопросы: «Это правда? Каковы ваши доказательства?
2. Идея Или Концепция, Которую Нужно Объяснить Или Переформулировать.
Цель такого рода утверждения заключается в том, что вы хотите, чтобы они поняли. Вы отвечаете на вопрос: «Что это значит?»
3. Обращение Или Призыв К Послушанию.
Цель такого заявления в том, что вы хотите, чтобы они были мотивированы.
Вы отвечаете на вопросы: «Почему меня это должно волновать? Какая для меня разница? Как это применимо ко мне?
4. Принцип, Которому Следует Верить.
Цель такого заявления состоит в том, что вы хотите, чтобы они приняли эту истину. Вы отвечаете на вопрос: «Почему я должен этому верить?»
Все эти типы утверждений тезиса имеют цель - люди должны быть убеждены и продемонстрировать это убеждение через веру и послушание.
В. Разные Формы Проповеди В Одно Предложение
Существуют различные способы структурирования вашей проповеди.
1. Вопрос, на который вы ответите
2. Декларация, которую вы докажете или объясните
3. Наставление, которое вы будете продвигать - например. "Позволь нам…"; "Мы должны…"
По возможности попробуйте сделать проповедь в одно предложение применительно к вашей аудитории. Вы можете сделать это, используя «мы», «вы» и «наш», чтобы люди знали, что это послание для них, а не просто послание из древнего текста. Это делает вашу проповедь более актуальной для ваших людей, показывая им, что главная направленность вашей проповеди для них.
Г. Примеры Некоторых Проповедей “В Одно Предложение”
Возможно, вам будет полезно увидеть некоторые примеры некоторых моих проповедей “в одно предложение”.
Псалом 1: «Путь благочестивых и нечестивых никогда не встречаются».
Бытие 21: 8-21: «Как тьма предшествует рассвету, так неприятности часто предшествуют триумфу».
Бытие 32: 22-32: «Ночь мучений всегда приходит до рассвета».
Исход 3: 1-10: «Бог есть Бог, который является обычным людям в обычных обстоятельствах и открывает им необыкновенное».
Ио. 1: 1-5: «Мы видим славу Божию во Христе, который прекрасно и полностью открыл нам Бога, потому что Он есть Бог».
Ио. 1: 6-13: «Христос - это истинный Свет, который пришел в мир, чтобы показать нам путь к Богу».
Ио. 3: 22-46: «Подлинное служение - это то, что возвеличивает Христа, чтобы Он стал всем, а мы стали никем».
Ио. 4: 46-54: «Вера в Слово Божье - это средство от всех наших нужд».
1 Кор. 2: 1-5: «Власть проповеди исходит из Слова Божьего и Духа Божьего, а не от человеческой мудрости или слов».
Гал. 3: 10-14: «Единственный способ принятия Богом - через Христа по вере».
Фил. 1: 27-30: «Церковь, основанная на Евангелии, последовательно улучшает Евангелие в поведении и мужестве».
Фил. 3: 1-14: «Подлинное обращение производит подлинное изменение».
1 Фес. 1: 1-10: «Люди, сосредоточенные на Боге, ходят и распространяют Евангелие».
1 Тим. 3: 14-16: «Послание церкви миру - это истина о Христе».
Евр. 11: 8-10: «Вера дает вечную перспективу посреди временного».
Евр. 12: 18-24: «Единственным приемлемым средством подхода к Богу является Иисус Христос и его искупительная работа».
2 Пет. 1: 16-21: «Мы можем быть уверены в возвращении Христа из-за надежности нашего источника».
Часть III: Экспозиция
«Ответственность служителя Ч. 1: «Неправильные представления о христианском служении» (1 Кор. 3: 5-17)
Автор: Д-р Стивен Ф. Олфорд
Введение. Мы видели, что первопричиной деления в церкви в Коринфе было неправильное представление о христианском послании. Теперь Апостол обращается ко второму, что является неправильным представлением о христианском служении. Уже он предвосхитил свою тему, но теперь он более подробно разбирается с ней. Двумя основными соображениями, которые он имеет в виду, во-первых, ответственность служителя перед Богом (3: 5-17), а во-вторых, подотчетность служителя перед Богом (3: 18-4: 5). Давайте рассмотрим это по очереди, первое - в этой статье, а второе - в следующий раз.
Ключевой стих, который открывает этот параграф, - это огромное заявление. Павел говорит: «... Мы - соработники Бога; вы - нива Божья, вы - строение Божье (храм) » (1 Коринфянам 3: 9). В каждом случае акцент делается на слове «Бог». Это подчеркивает тот факт, что человеческие инструменты являются второстепенными. Бог - Первый, и поэтому Бог должен быть суверенным во всех областях христианской жизни и служения. Заявив, что все христианские служители являются сотрудниками вместе с Богом, Павел указывает на две области, которые должны учитываться служителем. Первое - в области «Божьей нивы», второе - в области «Божьего строения». Давайте рассмотрим их, чтобы уделить особое внимание второй метафоре, которую использует Павел.
I. Божья Нива
Павел говорит: «Я насадил, Аполлос поливал, но Бог взрастил» (1 Кор. 3: 6). Чтобы представить свое отношение к этому аспекту христианского служения, Апостол спрашивает: «Кто же тогда Павел, а кто Аполлос, а служители, в которых вы уверовали, как Господь дал каждому?» (1 Коринфянам 3: 5). Здесь Павел использует средний род, чтобы отвлечь внимание от проповедников и сконцентрировать его на своей функции. Затем он отвечает на свой вопрос и указывает, что они были ничем иным, как служителями, благодаря которым уверовали коринфяне.
Слово «служители» часто употребляется в Новом Завете служения, которое христиане оказывают Богу. Понятно, что Павел подчеркивает низкий характер слуги перед своим Учителем. Во всем служении смешно прославлять служителя, а не Учителя, который его использует. Павел и Аполлос были просто инструментами, через которых Бог работал в церкви в Коринфе. Чтобы подчеркнуть это, Апостол описывает служение в Божьем земледелии следующим образом:
1) Павел был тем, кто насадил насадил ...» (1 Кор. 3: 6). Сейчас посадка - очень важная работа, но принцип жизни не в человеке, который сажает; это скорее семя, которое он закладывает. Ни один садовник не выполнил бы свою ответственность, если бы не сажал семя в почву; но он лучше всех знает, что он не может передать жизнь этому семени.
2) Аполлос был тем, кто поливал «... Аполлос поливал ...» (1 Кор. 3: 6). Как и посев, полив абсолютно необходим для роста и развития семян. Но в очередной раз секрет роста находится в самом семени. Его нужно поместить в почву, и для этого требуется полив, но жизненный принцип, который в настоящее время должен выражаться в жатве, заключается не в человеке, который садит семя, или в человеке, который поливает его, а в Боге, который взращивает. Поучительно наблюдать, что идеальное время используется для посева и полива, но непрерывное время используется для божественной деятельности при росте. Павел и Аполлос выполнили свою работу, но Бог продолжал взращивать.
Так было на протяжении столетий. Служители приходили, и служители уходили, но Бог продолжал вечно благословлять Его церковь. Все это необходимо, чтобы люди могли знать, что тот, кто насаждает - ничто, и тот, кто поливает - ничто, но Бог, который взращивает - это все (стих 7). Те, кто насадили и поливали получат награду в соответствии с их трудами (стих 8), но это просто потому, что они простые слуги, отвечающие Учителю, как ответственные мужчины и женщины. Но теперь мы переходим к другой метафоре Павла, которую он развивает более подробно.
II. Божье Строение
Как мы только что заметили, Павел обсуждает дело Бога с точки зрения нивы, но теперь он обращается к более показательному сравнению. Он заявляет, что работа Бога - это здание, и что работать для Бога - строить для вечности. Когда мы обращаемся к учению Апостола по этому вопросу, давайте не будем отвлекать истину от самих себя до проповедников и учителей, которые, как говорят, являются целью Павла здесь. Мы должны помнить, что Слово Бога, каким бы оно ни считалось, имеет вызов для каждого верующего сердца. Теперь мы рассмотрим три важных вопроса, которые участвуют в строительстве для вечности:
1) Должны быть правильные мотивы. Павел суммирует эти мотивы в словах: «Я, по данной мне от Бога благодати, как мудрый строитель, положил основание ...» (1 Кор. 3:10). Если мы строим для Бога, тогда наши мотивы должны возникать из благодати Божьей в нас. В основном это включает:
а) Спасен по благодати. «Ибо благодатью вы спасены через веру,сие не от вас, Божий дар » (Еф.2: 8). В контексте этого утверждения Павел заявил, что те, кто не спасены, духовно мертвы. Мертвые не могут строить. Должно быть спасение по благодати, потому что только в спасенной жизни могут быть найдены правильные мотивы. Поэтому, заявляя, что Павел был мудрым мастером-строителем по благодати Бога, он, безусловно, включает в себя Божью спасительную милость.
б) Создан по благодати «... по благодати Божией я такой, какой я есть» (1 Кор. 15:10). С Павлом верующий должен уметь распознавать активную работу благодати, действующую в жизни, очищая и корректируя все мотивы, чтобы соответствовать воле Бога. Когда Павел говорит: «Согласно милости Божией», он имеет в виду не только Божью работу спасения, но и освящение.
в) Призван по благодати «... Бог, который избрал меня от чрева моей матери и призвал меня по Его благодати, чтобы открыть во мне Его Сына, чтобы я мог проповедовать его, благоволил ко мне ...» (Гал.1: 15, 16). Только, когда это вызвано таким призывом, верующий может понять радость чистых мотивов. Именно это подразумевается в 10-м стихе нашего текста. Благодаря благодати мы знаем не только спасение и освящение, но и способность служить Богу (ст.10). Павел подчеркивает незначительность служителей Бога вне божественной благодати и власти.
Правильные мотивы - это те, которые приписывают благодати Бога не только власть, но и способность и стремление строить для вечности. В следующем месте:
2) Должны быть правильные методы. Апостол говорит нам, что в качестве строителей мы должны учитывать, как мы строим (стих 10). Затем он продолжает доказывать, что правильные методы построения - это те, которые справедливо связаны с правильным основанием, Иисусом Христом, раз и навсегда укладываются. Его слова: «... как мудрый строитель, я заложил фундамент ... ни в каком другом фундаменте не может быть кто-либо, кроме лежащего, что есть Иисус Христос» (1 Кор.3: 10-11). С практической точки зрения, такое отношение наших методов к фундаменту требует трех важных вещей:
а) Увеличивая ценность Иисуса Христа. Придя в Коринф, Павел сказал: «Ибо я решил не знать ничего среди вас, кроме Иисуса Христа и Его распятого» (1 Кор.2: 2). В этом же абзаце он добавляет: «... Господь знает умствования мудрецов, что они суетны. Итак никто не хвались человеками... » (1 Кор. 3:20, 21). Апостол удостоверился, что ничто из того, что он сделал, не принесет дискредитации бесполезной ценности и славы своего Господа и Учителя. Мы с вами должны также проверить наши методы построения по такому стандарту. Мы должны постоянно спрашивать себя: помогает ли та или иная конкретная услуга или минимизирует ценность нашего Господа?
б) Увеличивая работу Иисуса Христа. Целеустремленность Павла не знала ничего среди коринфян как: «... Иисуса Христа, и притом распятого» (2: 2). Это всегда был метод Павла во всех его работах. В послании к Галатам, он говорит: «А я не желаю хвалиться, разве только крестом Господа нашего Иисуса Христа, которым мир был распят для меня, и я - для мира» (Гал.6: 14). Он знал, что крест приносит смерть на все, что не принадлежит Богу. В самом деле, это был весь его аргумент в предыдущих стихах этого послания. Точно так же мы должны следить за тем, чтобы в нашей проповеди, учении и работе для Бога мы не делали ничего, что сводило бы к минимуму работу Христа: «... чтобы крест Христов не был упразднен» (1 Кор. 1:17).
в) Увеличивая Слово Иисуса Христа. В этом же стихе (1 Коринфянам 1:17) Павел заявляет с акцентом на то, что «... Христос послал меня не крестить, а проповедовать Евангелие ...» И он не жалел никаких усилий, чтобы заявить, что такое Евангелие. Фактически, как мы видели на протяжении этих исследований, Павел изложил не только что-то о характере, общении, общении, но и о понимании Евангелия. Высшим посланием слуги Господа является слово о кресте. Вы можете наблюдать, как глубоко Апостол почувствовал это по его обращению к Галатам в 1: 8-10: «Но даже если мы, или и ангел с неба, проповедуем вам любое другое Евангелие, чем то, что мы проповедовали вам , пусть он будет проклят ... если кто-то проповедует вам какое-либо другое Евангелие, чем то, что вы получили, пусть он будет проклят. Ибо теперь я убеждаю людей, или Бога? ... если бы я ... радовал людей, я не был бы слугой Христа ». Сильный суд вынесен тем, кто не основывает свое послание на Божьем слове. Его торжественные слова не могут быть неправильно истолкованы, и мы должны принимать их близко к сердцу. Павел утверждает, что все, что мы делаем, не прославляет слова Господа Иисуса Христа, является бесполезным служением и не выдерживает испытания вечности. Насколько важно для нас правильно соотносить наши методы с ценностью, работой и словом Господа нашего Иисуса Христа. Методы, которые каким-либо образом сводят к минимуму важность и эффективность этого фонда, обречены на провал. Поэтому мы должны тщательно протестировать наши методы, прежде чем строить кирпич выше. Наконец, обратите внимание, что:
3) Должны быть правильные материалы. «Строит ли кто на этом основании из золота, серебра, драгоценных камней, дерева, сена, соломы, каждого дело обнаружится: ибо День покажет, потому что в огне открывается; и огонь испытает дело каждого, каково оно есть » (1 Кор. 3: 12-13). Говоря об этих материалах, Павел, очевидно, имел в виду событие, которое произошло в Коринфе. Огонь прошел через этот город и оставил некоторые важные уроки для каждого наблюдателя. Тщательно построенные здания из золота, серебра и драгоценных камней, являясь мраморными плитами и гранитом, сохранились, но бедные маленькие лачуги с набитыми сеной и грубой соломой сгорели дотла. Мудрые строители с правильными мотивами, методами и материалами спасли все, но другие потеряли все, кроме своей собственной жизни. Поэтому Павел говорит, что жизненно важно использовать правильные материалы. Этим символическим языком Павел учит, что «золото, серебро, драгоценные камни» представляют:
а) Служение, которое будет вознаграждено. «Каждого дело обнаружится, ибо день покажет, потому что в огне открывается; и огонь испытывает дело каждого, каково оно есть. У кого дело. которое он строил, устоит, тот получит награду »(1 Коринфянам 3: 13-14). Этот «день» станет отличным событием. Все верующие будут присутствовать, и их служение Учителю будет проверено огнем судилища Христа. Служение, которое будет одобрено Спасителем и получит награду слуги, описано как служение « из золота, серебра, драгоценных камней». Золото говорит о духовном служении, потому что золото всегда символизирует природу Бога. Духовное служение может быть достигнуто только силой Святого Духа. Поэтому важно знать полноту и помазание Святого Духа во всем, что мы делаем. Серебро говорит о жертвенном служении. В Слове Божьем серебро всегда типично для жертвы и искупления Христом (см. Исход 30: 11-15). Чтобы быть приемлемым для Бога, служение должно быть жертвенным, искупительным и исполняемым в благодарность Христу за Его Голгофскую любовь. Драгоценные камни говорят о стойком служении. Они не относятся к множеству драгоценных камней, как это обычно предполагается, но к многочисленным мраморным и гранитным камням больших зданий, таких как великолепный храм Дианы в Эфесе, который считался абсолютно огнеупорным и нерушимым. Эти камни представляют собой непоколебимую и неизменную веру и работу, в которой верующий должен пребывать. Вот, вот характеристики хорошего служения. Апостол напоминает нам, что сам огонь должен «испытать дело каждого». С другой стороны, дерево, сено и щетина представляют собой:
б) Служение, которое должно быть отвергнуто. «Если чье-то дело сгорит, он понесет потерю ...» (1 Кор. 3:15). Древесина, сено и солома являются скоропортящимися материалами и имеют свой символический смысл. Древесина говорит о небрежном служении. Он представляет собой самостоятельное умение, энергию и силу человека. Сено говорит о бесполезном служении. Оно кажется эффектным и громоздким, но оно ничего не стоит в плане жертвоприношения. Солома говорит о бесполезном служении (см. Иов 21:18). Это означает задачи, которые выполняются с учетом конечных целей. Это характеристики служения, которые никогда не выдержат испытание огнем. В самом деле, как говорит Апостол: «... Если чье-то дело сгорит, он понесет убытки ...» (1 Кор. 3:15). Какой ужасный опыт будет в том, когда мы увидим так называемое служение Богу, которое дымится, а затем будем чувствовать неутолимый стыд за обугленные угли беззаботной, бессмысленной и бесполезной жизни, которые давят на пробитые гвоздями руки Учители, и нечего сказать, кроме как: «Это все, что я могу предложить Тебе от моей жизни».
Вывод. Павел суммирует этот отрывок некоторыми ужасающими словами. Он спрашивает: «Разве вы не знаете, что вы храм Божий и что Дух Божий живет в вас? Если кто осквернит храм Божий, Бог уничтожит его. Ибо храм Божий свят, и этот храм вы » (1 Кор. 3: 16-17). Павел говорит, что церковь является храмом Божьим, в котором обитает Святой Дух. Неспособность строить с правильными мотивами, методами и материалами ведет к уничтожению храма Бога. Те, кто виновен в таком преступлении, сами будут уничтожены Богом. В свете этого торжественного факта наша ответственность как служителей и христианских служителей - это построить храм, а не уничтожить его. Термин «уничтожить» означает «ранить, испортить, портить или наносить вред». Апостол ясно заявляет, что если кто-то испортит, нанесет вред храму, Бог нанесет вред им. Давайте рассмотрим эти суровые слова, которые исходят от самого престола Бога. Давайте вспомним, что составляет ответственность служителей Бога. Согласно Павлу, мы являемся сотрудниками с Богом в задачах посева и полива Божьей нивы, строения и служении в храме Бога. В обоих аспектах мы несем ответственность перед небом за все, что мы делаем. Дай Бог, чтобы в тот день мы не потерпели вечную потерю, а получили полную награду, слыша Учителя «...Хорошо, добрый и верный раб... войди в радость господина твоего » (Матфея 25:21).
Часть IV: Результаты Проповеди
Чтобы прослушать аудиоверсию этих проповедей на английском языке, нажмите на эти ссылки: Jn. 14:1-2, Pt. 1; Jn. 14:2, Pt. 2, Jn. 14:3-6, Pt. 3
Название: Я - путь, истина и жизнь
1. У Иисуса есть лекарство для беспокойных сердец (1)
1. Оставить беспокойство
2. Продолжать доверять
2. В Иисусе есть уверенность для беспокойных сердец (2-6)
1. Иисус заверяет нас в существовании неба (2)
а) Потому что Иисус обещал это нам
б) Потому что Иисус приготовил его нам
2. Иисус увещевает нас о входе в небеса (3)
а) Потому что Иисус снова придет
б) Потому что Иисус приведет нас туда Сам
3. Иисус заверяет нас в том, как прийти на небо (4-6)
а) Потому что Иисус - путь
б) Потому что Иисус есть истина
в) Потому что Иисус - это жизнь
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Dia da Reforma: Porque a Reforma é Importante (várias passagens bíblicas)
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Há 500 anos, no dia 31 de outubro de 1517, teve lugar um dos mais importantes acontecimentos da história quando um monge agostiniano de 34 anos, chamado Martinho Lutero, afixou suas agora famosas “95 Teses” na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, Alemanha. A porta de uma igreja era como um quadro de avisos; colocar nela alguma nota era uma forma aceitável de solicitar um debate para um determinado assunto. Lutero escreveu suas teses em latim, que a maioria do povo não sabia ler. No entanto, alguém as traduziu para o alemão e, graças à prensa tipográfica recém-inventada por Gutenberg, milhares de cópias foram rapidamente espalhadas pela Alemanha e além dela. Sem qualquer intenção, Lutero mudou os rumos da sua história e da história do mundo!
Lutero nasceu num lar católico, na Alemanha, em 1483. Seu pai queria que ele se tornasse advogado, por isso, obedientemente ele começou a estudar Direito em 1505. No entanto, naquele ano, durante uma tempestade, um raio quase o atingiu. Ele achou que Deus tinha lançado aquele raio sobre ele para julgar sua alma culpada. Aterrorizado, ele gritou para a santa padroeira de seu pai: “Ajude-me, Santa Ana, e me tornarei monge”! Duas semanas depois, com grande desaprovação de seu pai, ele abandonou a escola de Direito e entrou para um mosteiro.
Anos depois, refletindo sobre sua vida como monge (citado por Stephen Nichols, Martin Luther: A Guided Tour of His Life and Thought [P&R], p. 29), ele escreveu:
“Eu mesmo fui monge por vinte anos. Eu me torturei com orações, jejuns, vigílias e muito frio — só o frio já seria suficiente para me matar — e me infligi tanta dor como nunca mais poderei infligir, mesmo se pudesse… Se alguma vez alguém conseguiu entrar no céu por ser monge, eu quis fazer isso também”.
Entretanto, Lutero não encontrou nenhum alívio para sua culpa. Ele continuou seus estudos e foi um acadêmico brilhante. Em 1510, seu supervisor espiritual, que não sabia exatamente como lidar com o extraordinário senso de culpa de Lutero, achou que uma viagem a Roma poderia ajudar o atribulado rapaz. Mas quando Lutero chegou àquela suposta cidade “santa”, ficou chocado com a corrupção, hipocrisia e pecaminosidade gritante que encontrou.
Lutero voltou para obter seu doutorado em teologia e ensinar na Universidade de Wittenberg. No entanto, seus estudos não resolveram seus problemas. Ele lutava com a questão: “Como posso ser justo diante de Deus”? A igreja Católica prescrevia coisas como confissão, penitência, méritos acumulados e boas obras, mas nada disso ajudava a aliviar sua culpa. À medida que continuava seus estudos das Escrituras para dar suas aulas, ele começou a perceber que havia uma diferença enorme entre o que a Escritura ensina e o que a igreja ensinava.
Tentando compreender o significado de Romanos 1.17, “mas o justo viverá pela fé”, em algum momento (os estudiosos discutem quanto à época exata), Lutero chegou à conclusão radical de que não nos tornamos justos diante de Deus pela nossa própria justiça, mas pela justiça de Cristo imputada a nós por Deus por meio da fé. Mais tarde ele escreveu sobre sua descoberta revolucionária: “Senti como se tivesse nascido de novo e entrado no próprio paraíso por portões escancarados” (Christian History, 34:15).
Conforme o entendimento de Lutero crescia, crescia também sua frustração com a venda de indulgências pela igreja. Assim, ele postou suas 95 Teses sem saber como isso mudaria radicalmente sua vida e o curso da história. O papa, na época, era o corrupto e hedonista Leão X. Por meio das ligações e da riqueza de seu pai, ele se tornou sacerdote aos 8 anos e cardeal aos 14. Ele se tornou papa relativamente jovem, aos 37 anos de idade. Ele não tinha fé pessoal em Cristo e nenhuma pretensão de ser um homem religioso. Seu lema era “Deus nos deu o Papado — vamos desfrutá-lo” (E. R. Chamberlin, The Bad Popes [Barnes & Noble], p. 248). Como papa, quando alguém fazia alguma citação dos evangelhos para ele, ele dizia: “Essa fábula de Cristo tem sido muito lucrativa para nós ao longo dos anos” (ibid., p. 223).
Leão X tinha gasto tanto dinheiro com seu estilo de vida esbanjador e seus gostos extravagantes por artes que acabou drenando todo o tesouro do Vaticano (ibid., p. 239). Por isso, para levantar fundos para a construção da Catedral de São Pedro, ele vendia posições na igreja e indulgências. Alberto de Mainz, na Alemanha, já tinha comprado dois bispados, mas, aos 23 anos, queria mais um por causa do dinheiro e do poder que o acompanhavam. No entanto, era contra as normas da igreja vender tantos bispados, por isso, era preciso uma autorização especial do papa para concedê-lo. Assim, o papa e Alberto fizeram um acordo. Alberto precisava do dinheiro para pagar ao papa a quantia combinada. E o papa precisava de fundos para construir sua catedral. Então, o papa autorizou Alberto a vender indulgências especiais. Ele ficaria com metade do dinheiro para si e daria a outra metade ao papa (ibid., p. 241).
Alberto recrutou um monge, João Tetzel, para vender as indulgências, um sistema complexo que, basicamente, envolvia a capacidade de encurtar o tempo no purgatório para a própria pessoa ou para algum ente querido já falecido pagando-se determinada quantia à igreja. Tetzel era um verdadeiro artista e também um bom vendedor. Ele jogava com a emoção das pessoas (Christian History, 34:39): “Ouçam a voz de seus queridos amigos e parentes mortos implorando a vocês: ‘Tenham piedade de nós, tenham piedade de nós. Por uns míseros trocados, vocês podem nos livrar deste tormento pavoroso’”. Sua propaganda era um refrão que dizia: “Quando uma moeda no cofre ressoa, uma alma do purgatório para o céu voa”.
A princípio, Lutero ingenuamente pensou que o papa endossaria suas objeções àquele esquema imoral. E o papa, erroneamente, subestimou a ameaça das 95 Teses, que se alastravam como fogo por toda a Europa. O papa não fez caso de Lutero, achando que suas teses eram divagações de um alemão bêbado que pensaria de modo diferente quando estivesse sóbrio (Stephen Nichols, The Reformation [Crossway], pp. 29-30).
No entanto, a questão logo passou da simples venda de indulgências para a autoridade do papa. Será que ele tinha o direito de perdoar pecados com base na quantia que alguém pagasse à igreja? As coisas rapidamente evoluíram, estimuladas por mais escritos de Lutero, os quais reivindicavam uma grande reforma na igreja. Ele dizia que “um simples leigo, armado com as Escrituras” era superior aos papas e concílios sem elas (Christian History, 34:15). Em 1520, uma bula papal ameaçou Lutero de excomunhão. Ele a queimou em praça pública. Na primavera de 1521, esses acontecimentos levaram à Dieta de Worms, convocada pelo Santo Imperador Romano, Carlos V.
Lutero compareceu à assembleia achando que poderia debater suas 95 Teses. Mas logo ele percebeu que aquilo não era um debate — era uma audiência judicial onde seria exigido que ele se retratasse de seus polêmicos escritos que desafiavam a autoridade da igreja. Após pedir um dia para pensar, ele deu sua célebre resposta: “A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por razões claras e evidentes… não posso e não vou me retratar, pois não é seguro nem sábio agir contra a própria consciência”. Depois, provavelmente ele acrescentou: “Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude! Amém”.
Lutero foi condenado, mas aceitou o salvo-conduto que lhe prometeram (um século antes, o reformador tcheco John Huss tinha recebido um salvo-conduto, mas o encarceraram, torturaram e queimaram na fogueira). Agora, como fora-da-lei, qualquer um poderia matá-lo sem temer represálias de uma corte imperial. Quando voltava para Wittenberg, um grupo de cavaleiros armados saiu repentinamente da floresta, sequestrou Lutero e foi embora. Eles tinham sido enviados pelo príncipe de Lutero, Frederico, o Sábio, para mantê-lo a salvo. Eles o levaram para Wartburg, um dos castelos de Frederico, onde Lutero ficou escondido por dez meses. Durante esse tempo, ele continuou escrevendo, mas sua realização mais importante foi a tradução do Novo Testamento para o alemão vulgar (os dois parágrafos acima seguem Christian History, 34:15-17). E assim, a Reforma foi deflagrada.
À medida que se espalhou pela Europa, o cerne da Reforma foi recuperar, esclarecer e enfatizar o evangelho da graça de Deus em oposição ao sistema de obras em que a igreja estava mergulhada. A Reforma desafiou a autoridade do papa e a tradição da igreja, submetendo-os à Bíblia. A Reforma substituiu a missa pelo sermão. Aboliu o sistema de indulgências e méritos como requisitos para a salvação. Aboliu a doutrina antibíblica do purgatório. Deu fim à veneração a Maria, as orações a ela e aos santos, e a veneração de relíquias, ídolos ou símbolos da igreja. Reintroduziu o canto congregacional. Colocou a Bíblia na linguagem do povo, a fim de que todos pudessem lê-la. Ensinou o sacerdócio de todos os crentes. Reconheceu apenas dois sacramentos ou ordenanças, não sete. Ensinou que a vocação de uma pessoa é o seu chamado, e sua importância diante de Deus. E ensinou que o casamento é bom e que os líderes eclesiásticos podem se casar.
Apesar disso, alguns evangélicos protestantes pensam que a Reforma criou uma divisão pecaminosa na igreja e que devemos deixar de lado as nossas diferenças, nos unir onde concordamos e nos reconciliar com Roma. Outros, atraídos pela liturgia dos antigos, estão se unindo à Igreja Ortodoxa, acreditando que ela é a única igreja verdadeira. Por isso, neste aniversário de 500 anos do início da Reforma Protestante, gostaria de explicar porque ela ainda é importante:
A Reforma tem importância porque ela recuperou o evangelho, resumido nos “Cinco Solas”: somente a Escritura, somente Cristo, somente a graça, somente a fé e somente glória a Deus.
Embora sola Scriptura, sola gratia e sola fide fossem usadas no século XVI, parece que ninguém sabe ao certo quando os cinco solas foram reunidos pela primeira vez (R. Scott Clark, heidelblog.net, “Whence the Reformation Solas?”). Uma fonte (en.wikipedia.org/wiki/Five_solae) cita que os cinco não foram articulados sistematicamente antes do século XX. No entanto, atualmente, os estudiosos concordam que estes Cinco Solas são um resumo do cerne da verdade do evangelho recuperada pela Reforma. Cada um deles pode ser facilmente explicado em um sermão, por isso o que vou tratar aqui será muito breve.
1. Sola Scriptura: O evangelho é revelado por meio da Escritura somente.
Este ponto da Reforma trata da fonte e autoridade para a verdade espiritual. Como podemos conhecer a Deus e a verdade espiritual? Será por meio do papa, da igreja, dos concílios ou das experiências e sentimentos pessoais? Os Reformadores corretamente nos levaram de volta à Bíblia como a única fonte de autoridade para a verdade espiritual. Isso tem como fundamento diversas passagens-chave das Escrituras:
2 Timóteo 3.16-17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
2 Pedro 1.20-21: “sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”.
João 17.17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”.
Nos dias de Lutero, e também depois, a Igreja Católica ensinava que a Escritura era autoritativa, mas só poderia ser compreendida e ensinada através da tradição apostólica, transmitida por meio do ensino das autoridades da igreja (o magistério) e que esses ensinamentos poderiam ser desenvolvidos e aprofundados ao longo do tempo. Portanto, doutrinas como as do purgatório, da infalibilidade papal, da concepção imaculada e assunção da virgem Maria, oração aos santos e outras doutrinas não encontradas na Bíblia são ensinadas como verdadeiras e iguais às Escrituras devido à autoridade docente da igreja que as declara como verdade.
Além da tradição da igreja, outra ameaça à autoridade exclusiva da Escritura é a reivindicação da revelação direta e pessoal do Espírito Santo. Hoje em dia, muitas pessoas da tradição pentecostal reivindicam que o Senhor lhes revelou coisas que não estão na Escritura, algumas delas contrárias à própria Escritura. Por exemplo, certa vez ouvi um famoso pregador carismático dizer que o Senhor lhe disse que ele deveria ter realizado um casamento em que uma das partes não era crente, embora a Escritura afirme claramente que crentes não devem se casar com não crentes.
Contudo, Lutero e os outros Reformadores viram que quando a Escritura, a tradição da igreja ou a experiência pessoal são colocadas no mesmo patamar, a tradição ou a experiência acabam superando e subvertendo a Escritura, resultando em toda sorte de erros. Isso não desconsidera a sabedoria contida nos Credos da igreja primitiva ou nos ensinamentos dos Pais da igreja. No entanto, diz que mesmo os credos e ensinamentos dos Pais devem ser submetidos e julgados, e devidamente interpretados, pela Bíblia. Portanto, toda verdade espiritual, especialmente a verdade central a respeito do evangelho, deve ser proveniente somente da Escritura. Somente por meio da Escritura inspirada podemos conhecer e compreender o evangelho da salvação pela fé em Cristo.
2. Solus Christus: O evangelho é centrado em Cristo somente.
Porque Deus é santo (1Pe 1.15-16; 1Jo 1.5) e todos os seres humanos pecadores (Rm 3.10-18, 23), nem rituais religiosos, nem boas obras, nem qualquer líder religioso pode nos reconciliar com Deus. Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). A fé pessoal em Seu sacrifício na cruz é suficiente para nos reconciliar com o Deus santo. Jesus falou: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14.6). Pedro testificou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” (At 4.12), e Paulo disse: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).
O evangelho não é a respeito de como você pode ser financeiramente bem-sucedido, pode ter uma boa autoestima, ser feliz ou ter uma família feliz. O evangelho (as boas novas) é que você pode ser resgatado do juízo de Deus por meio da fé na vida sem pecado de Cristo, na Sua morte sacrificial e na Sua ressurreição corporal (1Co 15.1-4; 2Co 5.21; Rm 8.1-3; Hb 10.1-10). Você não pode salvar a si mesmo ou ajudar Cristo a salvá-lo. Você precisa confiar somente em Cristo para sua salvação.
3. Sola Gratia: O evangelho é aceito e recebido pela graça somente.
Efésios 2.8-9: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Romanos 11.6: E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.
A graça da Deus significa Seu favor imerecido. Deus não nos deve nada além de julgamento por causa dos nossos pecados. Ele não escolheu nos salvar com base em alguma coisa boa que previu em nós, inclusive a nossa fé, mas somente pela Sua graça. A Declaração de Cambridge da Aliança de Evangélicos Confessionais afirma claramente:
A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída… A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora. Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada. (http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_cambridge.htm)
4. Sola Fide: O evangelho é recebido pela fé somente.
João 3.16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Romanos 4.4-5: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”.
Gálatas 2.26: “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado”.
A igreja Católica nos dias de Lutero ensinava que, além da fé em Cristo, era preciso acrescentar as penitências, as boas obras, os méritos de Maria e dos santos, e guardar os sacramentos, a fim de que o tempo no purgatório fosse reduzido e, talvez, você pudesse finalmente entrar no céu. Eles também viam a justificação como um processo envolvendo o perdão de pecados e a infusão da graça santificadora, recebidos inicialmente por meio do batismo (geralmente na infância) e depois, ao longo da vida, pelas boas obras. O Concílio de Trento (uma tentativa de conter a Reforma) condenou à punição eterna quem ensinasse que somos justificados pela fé somente (ver Phillip Schaff, Credos da Cristandade [Baker], 2:112-117).
Os Reformadores, por sua vez, corretamente ensinavam que a genuína fé salvadora sempre resulta numa vida de boas obras. Como diz Tiago: “a fé sem obras é morta” (Tg 2.14-16). As boas obras são fruto da salvação, não sua causa (Ef 2.8-10).
5. Soli Deo Gloria: O evangelho resulta na glória de Deus somente.
Isso é realmente importante: se os pecadores podem contribuir de alguma forma com sua própria salvação, então eles podem partilhar a glória com Deus. No entanto, se Deus salva pecadores por meio da obra consumada de Cristo somente, pela graça somente, pela fé somente, e tudo isso é um presente, então ninguém pode se vangloriar.
1 Coríntios 1.26-31: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.
Efésios 1.4-6: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”.
Romanos 11.36: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (ver também Is 42.8; 43.7; 48.11; 1Co 10.31).
É importante compreender que, embora Deus ordene aos pecadores que creiam em Cristo (João 14.1; Atos 16.31), ao mesmo tempo, ninguém é capaz de ter fé em Cristo sem que o Pai lha conceda e o atraia para Si (João 6.44, 65). O homem natural não é capaz de compreender as coisas do Espírito, a menos que Deus abra seus olhos (1Co 2.14). Paulo disse: “Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (1Co 4.3-4). Portanto, como um incrédulo pode ver e crer? Paulo explica: “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (1Co 4.6). Se a salvação depende da iluminação graciosa de Deus em nosso coração, abrindo nossos olhos para a verdade e nos concedendo a fé, para que deixemos de confiar em nós mesmos e confiemos somente em Cristo, então toda a glória pertence a Ele!
Conclusão
Portanto, será que a Reforma ainda tem importância? Sim, é claro que tem! Ela recuperou a maravilhosa verdade de que as boas novas da salvação nos são dadas pela Escritura somente. Com base em Cristo e sua obra somente. Recebida pela graça somente e pela fé somente. Por isso, devemos dar glória a Deus somente! Não se deixe seduzir por qualquer outra mensagem. “Esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes! (1Pe 5.12b).
Perguntas para Aplicação
- Os católicos romanos muitas vezes argumentam que a doutrina da Sola Scriptura tem resultado em milhares de denominações protestantes. Qual sua resposta?
- Alguns dizem que, se os pecadores não são capazes de crer, certamente Deus não irá julgá-los por não crer. Qual sua resposta?
- Como você responderia ao argumento de que católicos e protestantes deveriam deixar de lado as áreas em que discordam e se unir naquelas em que concordam?
- Como a reivindicação carismática da nova revelação profética (“O Senhor me disse…”) ameaça a verdade de somente a Escritura?
Copyright, Steven J. Cole, 2017, All Rights Reserved.
Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza
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20. De Conselheiro Municipal a Homem das Cavernas: “Quanta Diferença de um Dia para o Outro!” (Gênesis 19:1-38)
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Semanas atrás, estive de visita ao estado de Washington junto com um amigo nosso que também é do Texas. Estávamos em pé, à beira do lago onde meus pais moram, observando a natureza maravilhosa e os magníficos pinheiros, e apreciando a temperatura amena. Pensativamente, meu amigo se virou para mim e perguntou: “Diga-me de novo, por que mesmo você quer voltar para Dallas”?
Suponho que a maioria de nós gasta um tempo considerável pensando em sair da cidade e fugir dos altos índices de criminalidade, da multidão, da poluição, das cenas impróprias, dos ruídos e do mau-cheiro, das aglomerações e dos congestionamentos. Ultimamente, a “volta ao campo” parece ser uma tendência geral. Alguns até acham que deixar a cidade seja bíblico.
Até este ponto de Gênesis, as cidades não eram muito bem-vistas. Caim construiu a primeira cidade, dando a ela o nome de seu filho Enoque, e isso depois de ficar sabendo que seria fugitivo e errante (Gênesis 4:12, 17). Embora o homem tenha recebido ordem de povoar a terra (9:7), a humanidade caída se uniu e começou a edificar a cidade de Babel com sua torre (11:4). Abraão foi chamado para deixar a vida urbana e viver como peregrino (12:1-3).
Agora, Ló, que tinha escolhido viver em Sodoma, está prestes a perder tudo: esposa, família, reputação e todas as coisas pelas quais lutou. Abraão, vivendo longe das cidades da planície, vê com tristeza a destruição de Sodoma e Gomorra (19:27-29). Tudo isso não seria uma indicação de que separação implica em fuga da cidade? Alguns pensam que sim. No entanto, a queda de Ló não se deu na sociedade doentia e mundana de Sodoma, e sim numa caverna isolada. Enfim, o problema não estava na cidade, mas na alma. Gênesis 19 nos ajuda a colocar na perspectiva correta a questão da separação.
Este capítulo talvez seja a parte mais trágica do livro de Gênesis, pois descreve a destruição de uma cidade. Pior ainda, retrata a queda de um santo. Não fosse pelas palavras do apóstolo Pedro, nunca saberíamos com certeza que o personagem patético conhecido como Ló foi um verdadeiro crente:
… e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles)... (2 Pedro 2:7-8)
Para sermos sinceros, precisamos admitir que na igreja de Cristo há muito mais “Lós” que “Abraãos”. Para sermos honestos, temos de dizer que na nossa vida há muito mais evidências de Ló do que do amigo de Deus, Abraão. Se isso é correto, então a destruição de Ló é uma advertência a todo cristão verdadeiro. Precisamos abordar esta passagem com muito cuidado, e em espírito de oração, se quisermos aprender as lições de Ló pela literatura ao invés de pela vida.
Hospitalidade Versus Homossexualidade (19:1-11)
Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado; este, quando os viu, levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra. E disse-lhes: Eis agora, meus senhores, vinde para a casa do vosso servo, pernoitai nela e lavai os pés; levantar-vos-eis de madrugada e seguireis o vosso caminho. Responderam eles: Não; passaremos a noite na praça. Instou-lhes muito, e foram e entraram em casa dele; deu-lhes um banquete, fez assar uns pães asmos, e eles comeram. (Gênesis 19:1-3)
Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer. Ló, que estava assentado à entrada da cidade, pensou que fossem homens mortais e estrangeiros, não mensageiros da destruição. Uma vez que os anciãos se assentavam às portas da cidade como juízes (cf. Jó 29:7-12), não é improvável que Ló, depois de certo tempo, tenha adquirido notoriedade e poder. Para mim, parece o mesmo tipo de notoriedade adquirida por Billy Carter1. Lembre-se de que logo após sua mudança para Sodoma, a cidade foi saqueada e o povo levado cativo, até tudo ser resgatado pela atitude heroica de Abrão (Gênesis 14:1-16). A popularidade e o poder de Ló podem muito bem ter sido consequência da sua relação com Abraão.
De forma alguma, isso deve diminuir sua hospitalidade genuína oferecida aos dois estranhos. O paralelo com a hospitalidade de Abraão no capítulo anterior não é acidental. Sua atitude, antes de tudo, demonstra o caráter justo de Ló, conforme indicado por Pedro em sua epístola. A aparente relutância dos anjos em aceitar sua oferta, até serem gentilmente pressionados por ele, é mais uma questão cultural e de costumes do que qualquer outra coisa (cf. Lucas 24:28-29).
Embora isto não seja dito em termos concretos, parece que a insistência de Ló foi motivada tanto por temor à segurança dos forasteiros quanto por sua generosidade. Ele devia conhecer muito bem o destino de quem não tinha um teto onde passar a noite. Em qualquer outra cidade, dormir na praça não seria incomum ou imprudente. No entanto, a depravação de Sodoma fez Ló insistir delicadamente com seus convidados para que ficassem com ele e partilhassem da sua mesa. Para mim, a refeição servida por Ló não foi nem tão calma nem tão suntuosa quanto a servida por Abraão2.
Se Ló achou que seus convidados iam entrar na sua casa sem serem notados, ele deve ter ficado muito desapontado. Doentios como pareciam ser, os homens da cidade tinham olhos de águia para qualquer estrangeiro além de Ló. Seus motivos eram depravados e suas intenções indescritíveis. Em pouco tempo, a cidade toda rodeou sua casa, tentando fazer sexo com os forasteiros. O que ocorreu não foi uma atitude “liberal” de uma cidade cujas leis permitiam esse tipo de conduta consensual e particular entre dois adultos. Não foi nem mesmo um pedido indecente para pecar. Na verdade, foi mesmo uma tentativa de estupro, da pior espécie. Imagine só, uma cidade inteira, desde o mais novo até o mais velho. Com certeza, isso exigia uma atitude drástica.
A reação de Ló foi típica do seu estado espiritual; foi uma mistura estranha de coragem e concessão, de força de caráter e circunstancialismo. A multidão exigiu que ele entregasse seus hóspedes, uma violação impensável da proteção garantida a quem estivesse sob o teto de outra pessoa. Ló saiu, fechando a porta atrás de si, na esperança de acalmar a situação. Ele lhes implorou para não serem perversos e, justamente quando estamos prestes a aplaudir sua coragem, ele oferece suas filhas para saciar o apetite depravado daqueles degenerados. É simplesmente inconcebível! A prontidão de Ló (preocupação com seus hóspedes) tornou-se devassidão (disposição de entregar as próprias filhas em lugar dos forasteiros). Quando a turba recusa sua oferta, dá até para soltar um suspiro de alívio; no entanto, é preciso dizer que as consequências dessa concessão ainda estavam por vir.
Ló viveu em Sodoma durante vinte anos, mas, para os homens da cidade, ele continuou sendo forasteiro. Suspeito que a razão pela qual ele foi deixado em paz durante todo esse tempo foi porque eles ainda se lembravam do poderio militar de Abraão. Se Ló fosse atacado, eles teriam de acertar as contas com seu tio.
Ao longo dos anos, aparentemente, Ló se contentou em manter distância do pecado da cidade, mas nada fez para combatê-lo. Agora, ele atuava como juiz, falando contra sua perversidade. Isso era demais para aquela turba. Quando finalmente foi forçado a protestar contra sua depravação, a multidão ficou enfurecida. Primeiro eles iam dar um jeito em Ló, depois nos outros dois.
Ló, que supunha ser seu dever salvar os estranhos, foi resgatado por eles. Pelas palavras que lhe disseram, eles revelaram a Ló sua identidade e o que iam fazer. Quanto aos homens da cidade, ou ficaram cegos ou com a visão distorcida e embaçada; o certo é que ficaram tateando à procura da porta até cansarem (cf. 2 Reis 6:18).
A Derradeira Missão de Ló (19:12-22)
Nas últimas horas da madrugada, antes do nascer do sol, Sodoma viu mais atividade missionária por parte de Ló do que em todos os anos anteriores. No entanto, seus esforços não recaíram sobre o povo daquela cidade, e sim sobre uma tentativa vã e frenética de salvar a própria família, cuja salvação ele tinha negligenciado.
Então, disseram os homens a Ló: Tens aqui alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos, e tuas filhas, todos quantos tens na cidade, faze-os sair deste lugar; pois vamos destruir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado, chegando até à presença do SENHOR; e o SENHOR nos enviou a destruí-lo. (Gênesis 19:12-13)
Seus genros3 foram despertados e avisados de uma forma meio surreal. Foi como tentar pregar o evangelho no último minuto a alguém à beira da morte. Sem dúvida, a atitude de Ló deve ter dado uma impressão muito bizarra. Eles acharam que fosse algum tipo de piada:
Então, saiu Ló e falou a seus genros, aos que estavam para casar com suas filhas e disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o SENHOR há de destruir a cidade. Acharam, porém, que ele gracejava com eles. (Gênesis 19:14)
Por que será? Por que eles não levaram Ló a sério? Repare que não está escrito que eles não quiseram acreditar nele, mas que não o levaram a sério. Parece haver apenas uma explicação possível para isso: Ló nunca havia mencionado sua fé. Suas palavras não eram a repetição de uma longa vida de advertências sobre pecado e juízo — elas eram totalmente novas e inéditas. Mas que chacoalhada no seu testemunho! Uma coisa é alertar as pessoas e elas não darem ouvidos à nossa mensagem. Outra, muito pior, é nem sequer levarem a sério as nossas palavras4.
O dia amanheceu sem nenhum convertido, muito menos uma alma justa para fugir da ira de Deus. O tempo tinha acabado. Os anjos disseram a Ló para pegar sua esposa e suas duas filhas e dar o fora da cidade antes de vir o juízo.
A incredulidade dos cidadãos de Sodoma até certo ponto é previsível, mas a relutância de Ló é inacreditável. Nunca ninguém se esforçou tanto para não ser salvo. Existem muitas razões para ele ter sido relutante e ficar embromado durante o resgate. Primeira, em seu estado carnal, talvez ele não tivesse plena convicção da realidade e da gravidade do juízo de Deus. Segunda, talvez ele tivesse a esperança de que, demorando e protelando a partida, seus amigos e sua família pudessem ser preservados, pois sabia que o juízo não viria antes de ele partir (cf. versículo 22). Terceira, ele estava tão ligado a seus amigos, à sua família e às coisas “do presente século” que não podia suportar a ideia de ir embora. Enfim, ele foi literalmente arrastado pelo anjo para fora da cidade.
Ao amanhecer, os anjos instaram com Ló, dizendo: “Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas, que aqui se encontram, para que não pereças no castigo da cidade. Como, porém, se demorasse, pegaram-no os homens pela mão, a ele, a sua mulher e as duas filhas, sendo-lhe o SENHOR misericordioso, e o tiraram, e o puseram fora da cidade” (Gênesis 19:15-16).
Mesmo recebendo instruções específicas para fugir para as montanhas, para o mais distante possível de Sodoma (versículo 17), Ló resistiu novamente e pediu algo menos doloroso:
Respondeu-lhes Ló: Assim não, Senhor meu! Eis que o teu servo achou mercê diante de ti, e engrandeceste a tua misericórdia que me mostraste, salvando-me a vida; não posso escapar no monte, pois receio que o mal me apanhe, e eu morra. Eis aí uma cidade perto para a qual eu posso fugir, e é pequena. Permite que eu fuja para lá (porventura, não é pequena?), e nela viverá a minha alma. (Gênesis 19:18-20)
Quanta diferença entre a intercessão de Abraão e a oração (pedido) de Ló! Abraão orou pela preservação das cidades por causa dos justos, particularmente de Ló e sua família. Ele não tinha nenhum interesse em jogo. Pelo contrário, a remoção das pessoas das cidades teria dado a impressão de que a terra estava livre para ele tomar posse dela5. Ló pediu por Zoar (anteriormente denominada Bela, cf. Gênesis 14:2), não por causa de quem vivia lá, mas para sua própria conveniência. Já que o castigo vinha mesmo, Deus não podia dar um jeitinho para ele? Afinal, era só uma cidadezinha, não era? E, assim, a cidade foi poupada (versículo 21).
Fogo e Enxofre (19:23-26)
O sol nasceu assim que Ló, sua mulher e suas filhas chegaram a Zoar (versículo 23). Quando estavam seguros, fora do alcance da devastação, o Senhor fez chover fogo e enxofre do céu sobre as cidades do vale. Muitas sugestões já foram feitas quanto às causas dessa destruição6. Embora eu creia que provavelmente tenham sido empregados meios naturais, tais como raios, terremotos ou erupções vulcânicas, isso não significa que não tenha ocorrido um milagre. O juízo veio da parte do Senhor (19:13-14; 24-25) e foi Ele quem esteve no controle absoluto tanto da sua extensão quanto da sua duração (versículos 22, 24-25). A devastação destruiu quatro cidades, inclusive o terreno onde foram construídas. Foi uma devastação completa.
… e toda a sua terra abrasada com enxofre e sal, de sorte que não será semeada, e nada produzirá, nem crescerá nela erva alguma, assim como foi a destruição de Sodoma e de Gomorra, de Admá e de Zeboim, que o SENHOR destruiu na sua ira e no seu furor (Deuteronômio 29:23)
A morte da esposa de Ló foi realmente trágica. Pelo visto, ela morreu a poucos passos da segurança. Eles praticamente tinham chegado a Zoar. No entanto, enquanto seu Ló apertava o passo, dona Ló vacilava. Talvez seu coração de mãe estivesse abalado pela morte de seus filhos e filhas, ou talvez fosse o clube das mulheres ou a casa nova na cidade; até podiam ser os móveis luxuosos que tinham acabado de pagar. No entanto, uma coisa é certa, sua olhadela para trás diferiu da atitude de Ló apenas em grau, não em gênero. Seu coração, como o dele, estava em Sodoma. Ela diminuiu o passo e olhou para trás apenas por um instante, mas não teve mais volta7. A destruição que assolava Sodoma atingiu-a em cheio, a poucos passos da segurança e daqueles a quem ela amava. Sem levar em conta suas razões, ela desobedeceu diretamente uma ordem clara do anjo mensageiro (cf. 19:17).
Deus Atende ao Pedido de Abraão (19:27-29)
Os versículos 27 a 29 servem para diversos propósitos. Primeiro, eles mostram o coração de Abraão em contraste com o egoísmo de Ló. Abraão, como Deus, não sentia prazer na perversidade, nem na destruição de pecadores. Ambos sentiam compaixão pelos justos. Abraão tinha feito uma súplica a Deus. Não creio que ele tenha ido ao mesmo local do dia anterior a fim de orar, mas para ver a resposta de Deus às suas orações. Não foi uma atitude do tipo “o que será, será”, e sim uma preocupação genuína com o que havia acontecido.
Segundo, estes versículos ressaltam a verdadeira razão pela qual Ló foi poupado. Embora um Deus justo não destrua o justo com o ímpio (18:25), a ênfase aqui é: “muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5:16). Foi devido à fidelidade de Abraão, não à de Ló, que Ló foi liberto. Humanamente falando, havia pouca razão para Ló ser poupado, exceto pelo caráter de Deus e pela preocupação de Abraão com seu destino.
Ló Pode Ter Saído de Sodoma, mas… (19:30-38)
Embora Ló tenha pedido aos anjos para poupar Zoar, temeroso, logo ele saiu de lá. Mas, do que ele tinha medo? Alguns sugerem que ele temia o povo da cidade, devido à possibilidade de retaliação. Talvez ele receasse que, no futuro, o castigo recaísse sobre a cidade, provavelmente tão depravada quanto as outras.
Sou mais propenso a ver isso de forma um pouco diferente. Depois de um tempo para refletir, Ló talvez tenha percebido que se estabelecer em Sodoma foi a causa de todos os seus problemas. Isso lhe custou sua riqueza, sua esposa e grande parte da sua família. Ficar em Zoar, ou em outra cidade pervertida, poderia acarretar mais destruição e condenação. Deus não tinha dito a ele para fugir para as montanhas? Portanto, ele resolveu “ficar longe de tudo aquilo”. Longe da cidade e da sua depravação. Longe do mundo. Ló buscou segurança numa caverna, não numa cidade.
Mas uma pergunta irritante me persegue. Por que ele não quis ficar com Abraão? Com certeza, agora não havia mais o problema de excesso de prosperidade. E Abraão não vivia nas montanhas, longe da cidade? Ló tinha liberdade para escolher onde se estabelecer, desde que não fosse numa das cidades condenadas. Para mim, ele não quis encarar o tio, Abraão, e confessar sua idiotice. Com Abraão, poderia ter havido companheirismo, incentivo e talvez a possibilidade de algum marido temente a Deus para suas filhas entre os homens da sua comunidade.
Os versículos seguintes descrevem a condição final de Ló, o cristão carnal. Ele é passivo e patético. Em estado de embriaguez, ele acaba se tornando o pai de duas nações, as quais viriam a ser uma verdadeira praga para Israel. Ló, e aqueles que procederam dele, foram uma verdadeira pedra no sapato de Abraão e seus descendentes.
No lugar de Ló, talvez tivéssemos feito a mesma coisa, deixando a cidade e indo para uma caverna. Finalmente ele estava pronto para lidar com seu mundanismo. E ele o fez abandonando o mundo. O único problema foi que, embora ele estivesse fora de Sodoma, Sodoma não estava fora dele. Monasticismo nunca foi solução para o materialismo; a reclusão não é substituta da santificação. O tormento do mundo exterior não chega nem perto do tormento do mundo interior (cf. Romanos 7).
Para as filhas de Ló, a caverna não era uma habitação temporária, um abrigo durante a tempestade. Mas, para Ló, é claro que o lugar era permanente, um lar. Suas filhas também começaram a perceber que seu pai estava protegendo mais a elas do que a ele mesmo. Ele não ia perder mais nenhuma filha para homens depravados. Por isso, parecia que ele ia morrer sem um descendente, a menos que as garotas fizessem, elas mesmas, alguma coisa. Elas concluíram: “Nosso pai está velho, e não há homem na terra que venha unir-se conosco, segundo o costume de toda terra” (Gênesis 19:31).
Com certeza, esse quadro sombrio era um exagero. Elas não conseguiam ver meios normais pelos quais poderiam se casar e ter filhos. Embora seu pensamento, sem dúvida, estivesse errado, ele as levou ao erro ainda maior de deduzir que teriam de recorrer a meios extraordinários (talvez fosse mais correto dizer imorais, já que o incesto não devia ser tão extraordinário assim em Sodoma) para preservar a linhagem de seu pai. Esse raciocínio resultou numa trama pecaminosa.
Na idade de Ló, elas precisavam agir rápido. É evidente que elas resolveram que o pai nunca concordaria com um esquema daqueles em sã consciência, por isso, nada disseram a ele. Alguma coisa tinha de ser feita para enfraquecer sua resistência; vinho ia servir direitinho. Enquanto Ló estava no torpor da embriaguez, a primeira filha entrou na tenda; depois a segunda; e ambas ficaram grávidas. Na melhor das hipóteses, Ló estava apenas meio consciente do que acontecia, até ser tarde demais.
Duas nações nasceram daquelas relações incestuosas: Moabe e Amom. Embora Deus tenha tratado com bondade as duas nações por causa da sua relação com Abraão (cf. Deuteronômio 2:19), elas sempre foram uma empecilho à conduta piedosa dos israelitas. Kidner faz o seguinte comentário sobre elas:
Moabe e Amom (37f) estavam destinadas a proporcionar o pior tipo de sedução (a de Baal-Peor, Números 25) e a mais cruel perversão religiosa da história de Israel (a de Moloque, Levítico 18:21)8.
E, no final, elas iriam receber o juízo de Deus tal como Sodoma e Gomorra.
Portanto, tão certo como eu vivo, diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, Moabe será como Sodoma, e os filhos de Amom, como Gomorra, campo de urtigas, poços de sal e assolação perpétua; o restante do meu povo os saqueará, e os sobreviventes da minha nação os possuirão. (Sofonias 2:9)
Conclusão
Muitos aspectos da destruição de Sodoma e Gomorra tornam esta passagem extremamente perturbadora e desafiadora. Vamos examiná-los com muito cuidado.
(1) Semelhança. As semelhanças entre Sodoma e a sociedade de nossos dias são angustiantes. A imoralidade era desenfreada e a perversão tinha se tornado a regra, não a exceção. A homossexualidade sempre foi considerada um pecado na Bíblia (cf. Romanos 1:24 e ss), mas aqui é o sintoma de uma sociedade tão doentia por causa desse pecado que devia ser condenada. Como um câncer devastador, o pecado precisou ser extirpado para não se alastrar ainda mais.
Gostaria de dizer que Sodoma não era muito pior que a nossa sociedade. Hoje em dia, a homossexualidade, embora seja apenas um sintoma do pecado, não só é tolerada, como também é ostensivamente proclamada e abertamente defendida como estilo de vida alternativo. Filmes e outros meios de comunicação romanceiam o pecado e os aproveitadores fazem fortunas em cima dele. Agora, com a TV a cabo, a depravação de Sodoma tem se infiltrado na nossa própria sala de estar. Que mais resta para se ver em nossa sociedade que não estava em Sodoma? Creio que nada.
Sodoma se encontra na Escritura como símbolo do mal e da depravação. Ela também é uma advertência sobre o futuro juízo de Deus (Deuteronômio 29:23; 32:32; Isaías 1:9-10; 3:9; Jeremias 49:18). Por maior que tenha sido a destruição de Sodoma e Gomorra, ela nem se compara à destruição daqueles que recebem mais esclarecimento pela pregação do evangelho de Jesus Cristo:
Em verdade vos digo que menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade. (Mateus 10:15)
A semelhança da nossa sociedade com a de Sodoma nos adverte de que o juízo está próximo. A ira eterna de Deus já foi derramada sobre a cruz de Cristo no Calvário. Jesus Cristo se fez pecado por nós; Ele suportou nosso castigo na cruz.
Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. (Isaías 53:4-6)
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus. (2 coríntios 5:21)
Pela fé na morte de Cristo em nosso lugar, não teremos de enfrentar a ira de Deus:
Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós (2 Tessalonicenses 5:9-10a).
Mas aqueles que recusam o dom da salvação por meio do Senhor Jesus Cristo terão de suportar o castigo pelos seus pecados, a eterna separação de Deus:
… tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder (2 Tessalonicenses 1:8-9)
Há também uma semelhança entre Ló e muitos cristãos professos que não pode ser negligenciada. Ló era, na melhor das hipóteses, um cristão sem muito fervor. Na terminologia do Novo Testamento, talvez ele tenha sido um crente, mas não um discípulo (cf. Lucas 9:57-62). Ló tentou, sem êxito, manter um pé no mundo e outro na companhia dos fiéis. Ele era muito materialista, mais preocupado com seus próprios interesses do que com os de Abraão (cf. Gênesis 13 e Filipenses 2:1-9). Ele escolheu para si a melhor parte da terra, deixando o resto para Abraão. Ele escolheu a vida sedentária da cidade, enquanto Abraão preferiu a vida de peregrino. Ló colocou sua família em risco pela chance de lucro financeiro. Ló era mundano, indiferente e fraco nas suas convicções.
Será que existe mesmo alguma diferença entre ele e a maioria de nós? Devo confessar que parece haver mais de Ló na minha vida do que de Abraão.
Qual é a resposta para o nosso dilema? Como podemos lidar de forma eficaz com a nossa própria complacência? A solução, creio, está nas diferenças entre Ló e Abraão. Ló, na melhor das hipóteses, não tinha fervor no seu relacionamento com Deus. Abraão tinha uma intimidade crescente com o Senhor, demonstrada na sua intercessão por Ló. Ló se importava mais consigo mesmo, chegando ao ponto de se dispor a sacrificar suas filhas. Abraão se importava mais com os outros, como visto na sua generosidade em dar a Ló a oportunidade de escolha da terra e na sua intercessão por seu livramento. Ló foi um homem que não aprendeu com a disciplina divina. Quando se mudou para Sodoma e, em seguida foi sequestrado, ele voltou ao mesmo lugar, sem qualquer mudança aparente no modo de agir. Abraão cometeu muitos erros (pecados), mas aprendeu com eles. Ló foi um homem que viveu apenas para o momento presente, enquanto Abraão foi estrangeiro e peregrino sobre a terra. Ele preferiu não ter muitos prazeres terrenos para poder desfrutar das alegrias maiores e eternas das bênçãos de Deus.
(2) Segurança. Tendo salientado as falhas de Ló, não podemos perder de vista o fato de que ele era um salvo (2 Pedro 2:7-8). Não obstante todos os seus defeitos, Deus o poupou do juízo, embora Ló tenha gritado e esperneado durante todo o caminho. Mas que retrato da segurança dos santos, até dos mais carnais!
A segurança de Ló, assim como a nossa, não tem como base a sua fidelidade, pois ele não era fiel. Sua salvação ocorreu claramente a despeito dele mesmo, não devido às suas obras. Qual a base, então, da sua segurança? Em relação ao nosso texto, a resposta é simples. Ele foi salvo, não por causa dele mesmo, mas por causa de Abraão. Não foi a sua fidelidade, e sim a de Abraão, que o livrou da destruição:
Ao tempo que destruía as cidades da campina, lembrou-se Deus de Abraão e tirou a Ló do meio das ruínas, quando subverteu as cidades em que Ló habitara. (Gênesis 19:29)
O mesmo princípio se aplica aos cristãos de hoje. Nós somos salvos, não devido à nossa fidelidade, mas devido Àquele que intercede por nós, Jesus Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote:
Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. (Romanos 8:34)
Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. (Hebreus 7:25)
Que garantia maravilhosa! Sermos salvos não por causa nosso valor, mas por causa de Cristo, O qual não só morreu para nos salvar, mas também intercede por nós junto ao Pai:
Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. (1 João 2:1)
Será que a nossa segurança deve ser motivo de preguiça ou incentivo para pecar? Longe disso (cf. Romanos 6:1 e ss; 1 Pedro 2:16). Embora Gênesis 19 nos diga que Ló foi poupado do juízo de Deus, ele não escapou das dolorosas consequências dos seus pecados. Ele perdeu tudo que tinha, a maior parte da sua família e a sua dignidade. O pecado nunca vale a pena! Os cristãos podem andar nos seus próprios caminhos, mas não irão desfrutar deles por muito tempo.
(3) Separação. A vida de Ló serve como um valioso esclarecimento sobre a doutrina da separação. Da forma como vejo, existem duas fases na sua vida, cada uma pendendo para um lado.
A primeira fase mostra um período de identificação com os pecadores. A separação nessa época manifestou-se em não praticar os pecados que eram normalmente aceitos e imitados. Nosso Senhor também se identificou com pecadores e foi criticado por isso:
Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come [e bebe] ele com os publicanos e pecadores? Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores. (Marcos 2:16-17)
Embora tanto nosso Senhor quanto Ló vivessem na companhia de pecadores sem tomar parte de seus pecados, a diferença entre os dois foi que nosso Senhor falou claramente sobre pecado e salvação, enquanto Ló permaneceu em silêncio. Os cristãos devem ser sal numa sociedade corrompida. A importância do sal é que ele é distintivo. Ló perdeu sua salinidade na sociedade ao seu redor. Na verdade, creio que ele simplesmente perdeu sua têmpera. Para ele, aparentemente não havia senso de perigo ou urgência. Nosso Senhor claramente veio para salvar pecadores.
Vivendo em Sodoma sem ser distintivo, Ló não só fracassou em salvar outras pessoas, como perdeu sua própria família. Eis a grande tragédia da sua vida em Sodoma: seus filhos (exceto duas filhas) e sua esposa foram perdidos. Se não procuramos salvar os outros, podemos perder até nossa própria família. Mas muitos, quando tentam ministrar a outros, perdem a própria família para o mundo.
O pecado de Ló não foi ficar em Sodoma, mas sua motivação para ficar lá. Viver no mundo não é errado, mas ser do mundo é (João 17:15-16). Viver em meio a uma geração degenerada e perversa não é errado, mas deixar de proclamar a mensagem sobre o pecado, a justiça e o juízo é. O problema de Ló não foi tanto sua vida em Sodoma, mas sua falta de sal9.
O último capítulo da vida de Ló se passou numa caverna. Lá, ele parece ter tentado lidar com o problema do mundo isolando-se dele. Monasticismo sempre foi uma alternativa tentadora para não se misturar com os pecadores. Permitam-me lembrar-lhes que o fracasso de Ló na cidade não chegou nem perto do seu fracasso na caverna. Foi lá, na caverna, que sua bebedeira embotou seus sentidos o suficiente para ele ser levado a cometer incesto com suas filhas.
Ali, seu fracasso foi devido mais à sua própria responsabilidade do que a maioria de gostaria de admitir. Não foi apenas o que suas filhas tinham aprendido em Sodoma — lembrem-se de que elas ainda eram virgens (19:8). O verdadeiro problema não estava em Sodoma, mas em Ló. Suas filhas simplesmente fizeram aquilo que tinham aprendido com o próprio pai. As garotas estavam em casa quando o ouviram dizer:
Tenho duas filhas, virgens, eu vo-las trarei; tratai-as como vos parecer, porém nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção de meu teto. (Gênesis 19:8)
Suas filhas aprenderam com ele que, às vezes, a moralidade precisa ser sacrificada em nome da praticidade. Ló estava disposto a entregar as próprias filhas aos sodomitas (as quais ainda eram sexualmente puras, não corrompidas pelos pecados de Sodoma) em lugar dos estrangeiros. Elas aprenderam com ele que a moralidade, às vezes, precisa dar lugar às emergências. Já que elas tinham visto a situação aflitiva do pai (e delas também) como uma emergência, o incesto não era mais um problema moral, pois a moralidade, nas emergências, tinha de dar lugar à praticidade.
Muitos de nós, como pais, ficam extremamente preocupados com o mundo onde vivem nossos filhos. As tentações são grandes demais. No entanto, em nossa preocupação com o que acontece nas cidades, não devemos pensar que podemos salvar nossos filhos isolando-os numa caverna, pois, na caverna, eles ainda são influenciados por nós. Que a tragédia ocorrida na família de Ló nos sirva de alerta, pois muitos pecados de nossos filhos não são aprendidos com o mundo, mas conosco.
Vejam, a doutrina cristã da separação deve mostrar um delicado equilíbrio entre dois extremos igualmente perigosos. Um é a demasiada identificação com o mundo — sem, no entanto, proclamar claramente o evangelho. Outro, é o isolamento do mundo para tentar obter segurança. Nenhum dos dois é solução para o pecado:
Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. (1 Coríntios 5:9-11)
Ló tentou viver numa cidade, depois numa caverna. Não podemos ser um com o mundo, mas também não devemos fugir dele. O equilíbrio entre a cidade de Sodoma e a caverna é a tenda de Abraão. Devemos viver no mundo, mas sem nos tornar ligados ou conformados a ele. Devemos ser forasteiros e peregrinos. Como Pedro, sob inspiração divina, expressou:
Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. (1 Pedro 2:11-12)
Que Deus nos ajude a viver no mundo sem nos tornarmos parte dele, ou ele parte de nós. Como disse o escritor de Provérbios:
A casa dos perversos será destruída, mas a tenda dos retos florescerá. (Provérbios 14:11)
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Tradução: Mariza Regina de Souza
1 Falecido irmão do ex-presidente americano Jimmy Carter.
2 Embora esta não seja de forma alguma uma questão importante, várias considerações me levam a chegar a esta conclusão. Primeira, Ló serviu pão asmo, mas Abraão, não (aparentemente). Pão asmo foi aquele preparado às pressas pelos israelitas antes de saírem do Egito. Talvez fosse tarde da noite e não houvesse tempo para levedar a massa antes do amanhecer. Ló, no entanto, conhecendo os homens da cidade, achou melhor preparar uma refeição menos demorada. Quando disse aos anjos para se levantarem de madrugada e seguirem seu caminho (versículo 2), será que ele não queria mandá-los embora antes dos outros acordarem? Neste caso, ele devia estar impaciente para servir uma refeição rápida e mandá-los logo para a cama. E ainda, a palavra hebraica traduzida como “banquete” pode significar também “bebida”. Na maioria dos casos, esta seria a descrição de um banquete requintado onde se poderia beber; às vezes, podendo chegar ao ponto de beber até cair. Em geral, era uma festa de casamento. A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) interpreta a passagem de modo a sugerir que Ló preparou para seus convidados algo para beber e pão asmo. A NVI não vai tão longe, mas também não prefere descrever um banquete: “Ló mandou preparar-lhes uma refeição e assar pão sem fermento...” O Antigo Testamento Amplificado tenta transmitir o sentido literal, interpretando desta forma: “E preparou-lhes uma refeição (com bebida), e tinha pão sem fermento que ele assara; e eles comeram”. Tudo isso, pelo menos, deixa espaço para sugerir que a hospitalidade de Ló foi mais apressada e, talvez, não tão suntuosa quanto a mesa de Abraão.
3 “Genros”, versículo 14, pode ser entendido tanto com relação aos que eram casados com as filhas de Ló quanto com relação aos que estavam comprometidos (“estavam para casar”) com elas. Se esta última for correta, as filhas seriam aquelas que ainda moravam com Ló, as quais eram “virgens” (versículo 8). As duas filhas “comprometidas” seriam as que foram com os pais para Zoar e depois para a caverna com Ló. Dá para perceber porque elas raciocinaram que o casamento não seria mais uma opção. Se a primeira alternativa fosse a correta, os “genros” seriam homens casados com outras filhas de Ló, e tanto eles quanto elas foram mortos no julgamento de Sodoma. Assim, o fracasso de Ló seria muito maior. O versículo 15 parece sustentar a opinião de que Ló tinha duas filhas solteiras e outras que eram casadas, quando diz: “Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas, que aqui se encontram…” A implicação, portanto, é que havia outras que não estavam com Ló, mas com seus maridos.
4 Ironicamente, a palavra hebraica kematzehak, literalmente traduzida como “como alguém que estava gracejando” (nota à margem, NASV) tem a mesma raiz de onde vem o nome Isaque, que significa “riso”.
5 Uma pergunta pode surgir: “O que Deus fez com a terra que se tornou imprestável devido ao julgamento de Sodoma e Gomorra? Poderíamos supor que, com isso, Deus tivesse removido os habitantes do vale e dado a terra a Abraão. No entanto, Seu propósito fora revelado a Abraão no capítulo 15 (versículos 13-16). Abraão não ia possuir a terra durante a sua vida, ele ia ser “estrangeiro e peregrino” sobre a terra. Assim, sua fé foi testada e fortalecida. Somente na quarta geração, seus descendentes tomariam posse da terra. Talvez tenha sido por causa da ampla devastação ocorrida no local que Abraão se mudou para o Neguebe (20:1).
6 Bush discorre longamente sobre a destruição de Sodoma (I, p. 314-325), concluindo que: “A catástrofe, portanto, se nossa interpretação estiver correta, foi assinalada pela junção dos horrores de um terremoto e de uma erupção vulcânica, esta última sendo descrita como um incêndio destrutivo vindo dos céus, formando uma cena de tal confusão que olhos humanos jamais tinham visto”. George Bush, Apontamentos em Gênesis, Reprint (Mineápolis: James and Klock Publishing Co., 1976), I, p. 325.
7 “... ela pode ter sido envolta pela fumaça venenosa e pela violenta destruição que vinha dos céus… No entanto, uma vez envolta, ali ela ficou, aparentemente sem ter sido alcançada pelo fogo, mas ficando com uma crosta de sal devido aos vapores vindos do Mar Morto. Naquele instante, talvez Ló e suas filhas não tenham visto o que aconteceu, pois olhar para trás envolvia o mesmo tipo de destruição. Seu amor por aquela que foi perdida, sem dúvida, levou-os a visitar o lugar depois da destruição, e lá eles encontraram a “estátua de sal”. As palavras watteh (“e converteu-se”), de forma alguma exigem uma conversão instantânea na tal estátua”. H. C. Leupold, Exposição de Gênesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), I, p. 571-572.
8 Derek Kidner, Gênesis Introdução e Comentário (Chicago: InterVarsity Press, 1967), p. 136.
9 Aqui deve ser dada uma palavra de alerta. Na história de Israel, Deus levantou profetas para falar às cidades cheias de pecado e para alertá-las sobre a ira vindoura (Jonas, por exemplo). Pelo que sei, no entanto, poucos com esse ministério, se é que houve algum, tiveram famílias expostas aos pecados que eles condenavam. Pode ter havido algum caso onde o celibato não só era aconselhável, mas imperativo. Precisamos ter cuidado para nosso ministério não ser exercido às custas da nossa família.
21. Nunca Diga Não (Gênesis 20:1-18)
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Muitos cristãos se preocupam com seu “testemunho” perante o mundo, mas talvez seja por razões erradas. Apesar de ser importante que os crentes vivam de forma consistente com a vontade e a Palavra de Deus (cf. Romanos 6:1 e ss; Efésios 4:1 e ss; Colossenses 3:1 e ss; 1 Pedro 1:13 e ss), algumas vezes aplicamos mal essa verdade para fugir às nossas responsabilidades. Por exemplo, conheço pessoas que, assim como eu, são propensas a não falar sobre sua fé em Jesus Cristo por temer que seu testemunho seja tão pobre que os outros não queiram acreditar nEle. Quando a mensagem da nossa vida não condiz com a dos nossos lábios, deixamos de falar sobre a nossa fé em Cristo.
Muito embora devamos nos esforçar para viver de forma que desperte o interesse das outras pessoas por aquilo que nos torna diferentes como cristãos (Mateus 5:13-16; Colossenses 4:5-6; 1 Pedro 3:13 ss), nossas falhas não impedem, necessariamente, as pessoas de serem atraídas a Jesus Cristo como seu Salvador. Conheço um homem em nossa igreja que foi salvo pelo testemunho de um marinheiro bêbado. Esse meu amigo, na época um descrente, chamou a atenção de um cristão bêbado por causa do seu mau comportamento. O bêbado retrucou que, mesmo sendo uma desonra para o seu Senhor, sua salvação era eterna e segura. Meu amigo não conseguia imaginar como isso podia ser. Devido àquele cristão bêbado ter tanta certeza da sua segurança espiritual, meu amigo estudou as Escrituras sozinho para ver se isso seria possível. Como resultado, ele também foi salvo, até certo ponto pelo “testemunho” do marinheiro bêbado.
Ainda que esse tipo de conduta como cristão não seja recomendado, ou seja motivo de piada, a Bíblia mostra que, mesmo nos pontos mais baixos da nossa carreira cristã, Deus pode usar os Seus santos para atrair outras pessoas a Si. Tal foi o caso com Abraão, conforme registrado em Gênesis 20.
Deus tinha revelado a Abraão que ele seria pai de um filho por meio de Sara (17:15-19; 18:10). Abraão, ao saber da destruição iminente de Sodoma e Gomorra, intercedeu pelas cidades, em favor dos justos que ali habitavam (18:22 e ss). Deus lhe garantiu que se fossem encontrados pelo menos dez justos naquelas cidades, elas seriam poupadas (18:32). Apesar dos justos não terem sido encontrados e as cidades não terem sido poupadas, Ló e suas filhas foram salvos da destruição (capítulo 19). A devastação de Sodoma e Gomorra ocorreu sob o olhar vigilante de Abraão, que observava à distância (19:27-29).
Os capítulos 17 a 19 de Gênesis descrevem o ponto alto da vida do patriarca. Eis o homem de fé e intercessão que esperamos encontrar nas páginas da sagrada Escritura. O homem do capítulo 20, no entanto, está muito distante do patriarca e profeta das nossas expectativas. Comparado a ele, Abimeleque parece um santo. Apesar dessa triste situação, a graça de Deus é vista pela maravilha que ela é; não tanto a despeito do fracasso de Abraão, mas por causa dele. Abraão é uma testemunha involuntária da maravilhosa graça do Deus que salva e santifica homens e mulheres a despeito de si mesmos.
Abimeleque é Contido (20:1-7)
Por algum motivo não especificado1, Abraão deixou o Manre, indo para o sul, rumo a Cades, depois para noroeste, rumo a Gerar, não muito longe do Mar Mediterrâneo, na terra dos filisteus2. Em Gerar, Abraão voltou a cometer o mesmo pecado que tinha cometido logo no início de sua vida cristã (cf. 12:10 e ss). Uma vez mais, ele pediu a Sara para se passar por sua irmã, o que a fez ser levada para o harém de Abimeleque3, rei de Gerar4.
Críticos liberais se apressam em classificar os capítulos 12, 20 e 26 como narrativas diferentes do mesmo acontecimento. No entanto, essa posição não pode ser levada a sério: o texto é considerado fidedigno. As semelhanças são impressionantes, e são ressaltadas de propósito. Todavia, as diferenças entre os capítulos 12 e 20 são significativas. Vejamos algumas:
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Capítulo 12 |
Capítulo 20 |
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Lugar: Egito |
Lugar: Gerar |
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Época: início da vida cristã |
Época: vida cristã avançada |
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Rei: Faraó |
Rei: Abimeleque |
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Reação de Abraão à repreensão: silêncio |
Reação de Abraão à repreensão: pedido de desculpas |
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Consequência: Abraão deixa o Egito |
Consequência: Abraão fica em Gerar |
Temos todas as razões para concluir que são três acontecimentos, semelhantes em alguns detalhes, mas totalmente diferentes em muitos outros. As semelhanças têm o propósito de serem instrutivas. Mesmo cristãos maduros são atormentados por pecados do início da sua vida cristã (capítulo 20), e “a iniquidade dos pais” com certeza é visitada nos filhos (como no capítulo 26).
A situação neste ponto é bem mais crítica que no capítulo 12. Primeiramente, Deus tinha claramente revelado a Abraão e Sara que, juntos, eles teriam um filho por meio do qual as promessas da aliança seriam cumpridas. Além disso, a concepção dessa criança devia estar muito próxima, pois lhes fora dito que ela nasceria dentro de um ano (17:21; 18:10). O raciocínio humano teria considerado os perigos do capítulo 20 como coisa mínima, já que Sara há muito havia passado da idade de gerar filhos (17:17; 18:11, 13). Os olhos da fé, no entanto, teriam visto a questão sob uma ótica inteiramente diferente. Será que a fé de Abraão estava na maré baixa? Com certeza.
Abimeleque foi contido por Deus de duas maneiras. Primeira, Deus o advertiu em termos muito contundentes: “Vais ser punido de morte por causa da mulher que tomaste, porque ela tem marido” (Gênesis 20:3).
É evidente que Abimeleque só morreria se não voltasse atrás e devolvesse Sara intocada a Abraão. Deus lhe disse que ele seria um homem morto se não agisse logo e de acordo com a Sua orientação.
Segunda, Abimeleque e toda a sua casa foram fisicamente impedidos de pecar contra Sara, mesmo que quisessem:
Respondeu-lhe Deus em sonho: Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de pecares contra mim e não te permiti que a tocasses. Agora, pois, restitui a mulher a seu marido, pois ele é profeta e intercederá por ti, e viverás; se, porém, não lha restituíres, sabe que certamente morrerás, tu e tudo o que é teu… E, orando Abraão, sarou Deus Abimeleque, sua mulher e suas servas, de sorte que elas pudessem ter filhos; porque o SENHOR havia tornado estéreis todas as mulheres da casa de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de Abraão (Gênesis 20:6-7, 17-18).
Por meio de uma doença física não revelada, ninguém da casa real seria capaz de conceber. Além disso, parece que toda atividade sexual foi proibida. Isso garantia a pureza de Sara, bem como impedia o nascimento de um filho de Abimeleque. A revelação recebida em sonho, portanto, explicou a ele o motivo da praga lançada sobre sua casa. Ela esclarece ainda o profundo temor dos servos de Abimeleque. Eles também sofriam com a desgraça que impedia a atividade sexual normal. Numa cultura que dava tanta importância a uma grande prole e à virilidade, a situação devia ser crítica. E era mesmo.
Apesar de ser ressaltado o perigo iminente para Abimeleque e sua casa, sua inocência também é demonstrada:
Ora, Abimeleque ainda não a havia possuído; por isso, disse: Senhor, matarás até uma nação inocente? Não foi ele mesmo que me disse: É minha irmã? E ela também me disse: Ele é meu irmão. Com sinceridade de coração e na minha inocência, foi que eu fiz isso (Gênesis 20:4-5).
Abimeleque, ao contrário de Abraão, não teve culpa nessa questão. Suas ações não foram intencionais, e foram tomadas com base nas falsas alegações de Abraão e Sara5. Deus reconheceu a inocência do rei, mas deixou bem claro que, sem a intervenção divina, ele teria cometido uma ofensa muito grave. A forma como Abimeleque cuidasse do assunto dali por diante iria determinar o seu destino. Protelar ou desobedecer significava morte certa.
Por mais estranho que pareça, Abimeleque foi muito superior a Abraão nesta passagem. Precisamos admitir que não há pecado em que o cristão não possa cair quando é desobediente e sem fé. Nessas ocasiões, os descrentes, com sua integridade e moralidade, dão um banho nos crentes (cf. 1 Coríntios 5:1 e ss).
Estranho nesta passagem não é o fato de Abraão regredir tanto no seu crescimento e maturidade como cristão. Pela minha experiência, sinto vergonha de admitir que isso é totalmente possível. No entanto, embora sua falta de fé não seja uma surpresa, a fidelidade de Deus para com ele nessa ocasião é surpreendente.
Se eu fosse Deus, a última coisa que teria pensado seria em revelar o meu relacionamento com Abraão. Mesmo se meu caráter exigisse que eu fosse fiel às minhas promessas, eu não teria dito a Abimeleque que Abraão era crente, embora carnal. No entanto, Deus mostrou que Abraão era objeto do Seu cuidado especial. Mais que isso, Abraão foi identificado como profeta (versículo 7)6. Ele era o representante de Deus e o intermediário por meio de quem Abimeleque devia ser curado.
Isso deve ter deixado Abimeleque com a pulga atrás da orelha. Como Abraão podia ser um homem de Deus e, ao mesmo tempo, um mentiroso? Abimeleque, no entanto, não teve oportunidade de tomar uma atitude punitiva, apesar dos problemas causados à casa real pela desobediência de Abraão. Abraão era a fonte do seu sofrimento, é verdade, mas era também a solução para ele. Ambos se encontravam numa situação bastante embaraçosa.
Abraão é Repreendido (20:8-16)
Abimeleque não perdeu tempo em fazer o que era certo diante de Deus. Ele se levantou bem cedinho e contou a essência do sonho àqueles da sua casa. Uma vez que todos foram afetados junto com ele, todos ficaram muito temerosos (versículo 8). Eles cuidariam para que as ordens do rei fossem seguidas à risca.
Depois de informar seus servos, Abimeleque convocou Abraão. Não foi uma situação agradável e Abraão foi severamente repreendido por sua mentira:
Que é isso que nos fizeste? Em que pequei eu contra ti, para trazeres tamanho pecado sobre mim e sobre o meu reino? Tu me fizeste o que não se deve fazer (Gênesis 20:9).
Abimeleque tinha sido ofendido por Abraão. Abraão não só errou aos olhos de Deus, mas também aos olhos dos pagãos. Ele, que devia ser fonte de bênção (12:2, 3), tornou-se uma proverbial dor de cabeça para aqueles em cuja terra ele peregrinava.
Vinte e cinco anos antes, Abraão tinha cometido um pecado quase idêntico. Naquele caso, não sabemos como faraó soube da verdade, nem há registro de um pedido de desculpas por parte de Abraão. Faraó só parecia interessado em vê-lo o mais longe possível da sua presença. Abimeleque não pediu a Abraão para partir, talvez por medo do que Deus poderia fazer pela falta de hospitalidade. O pedido de desculpas de Abraão, por mais fraco que seja, está registrado para nós:
Respondeu Abraão: Eu dizia comigo mesmo: Certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por causa de minha mulher. Por outro lado, ela, de fato, é também minha irmã, filha de meu pai e não de minha mãe; e veio a ser minha mulher. Quando Deus me fez andar errante da casa de meu pai, eu disse a ela: Este favor me farás: em todo lugar em que entrarmos, dirás a meu respeito: Ele é meu irmão (Gênesis 20:11-13).
Três razões são apresentadas para a farsa de Abraão, mas nenhuma delas explica satisfatoriamente sua atitude em Gerar. Primeira, Abraão estava com medo. Ele temia ser morto por causa da beleza de Sara e porque ela poderia ser tomada à força como esposa. Esse medo tinha como base uma falsa premissa teológica: Deus age apenas quando os homens estão dispostos a obedecer. Deus só poderia salvar Abraão em um lugar onde Ele fosse conhecido e temido pelas pessoas. A inferência é que onde os ímpios estão, a mão de Deus está encolhida e incapaz de salvar.
Esse tipo de teologia deve-se mais à falta de fé do que à ignorância. O temor de Abraão foi o mesmo de 25 anos antes. De acordo com sua teologia, Deus também não podia salvá-lo das mãos de faraó; mas Ele o salvou! Abraão fracassou devido à sua falta de fé, não porque estivesse desinformado.
Consequentemente, sua falta de fé desconsiderou uma revelação específica, pois pouco antes deste incidente Deus havia dito a ele duas vezes que Sara ficaria grávida e teria um filho dentro de um ano (17:19, 21; 18:10). Será que Abraão poderia encorajar Sara a ir para a cama com Abimeleque, sabendo que logo ela ficaria grávida e teria um filho? Creio que não. No entanto, se achassem que Sara estava com o “pé na cova” e não podia ter filhos, ela se tornaria parte do harém do rei, mas não seria levada à sério. Abraão deve ter pensado que Abimeleque ia fazer papel de bobo ao tomar como esposa uma mulher com idade suficiente para ser sua mãe.
Mais uma observação deve ser feita quanto aos temores de Abraão pela sua própria segurança. Sua conduta pouco difere da conduta Ló em Sodoma e Gomorra. Ló, quando convidou os estranhos para passar a noite em sua casa, garantiu-lhes sua proteção. Ao invés de quebrar esse compromisso, ele se dispôs a sacrificar a pureza das suas duas filhas virgens, entregando-as aos homens que estavam à sua porta. Abraão, temendo pela sua própria segurança, se dispôs a entregar sua esposa ao rei (ou a qualquer outro cidadão de Gerar) para se proteger.
A segunda razão para a farsa de Abraão é ainda menos satisfatória. O que ele disse, embora fosse mentira, tecnicamente era um fato. Sara era realmente sua irmã, filha de seu pai, mas não de sua mãe (versículo 12). Fatos podem ser, e frequentemente são, usados de forma a transmitir uma informação falsa. Estatísticas, às vezes, são empregadas desse jeito: sua cabeça está no freezer e seus pés no forno, mas, no geral, você está bem. Ela era mesmo sua irmã. Mas também sua esposa. Abraão tentou se defender com detalhes técnicos, não com a verdade.
Intitulei a terceira razão de “tradição”. Quando tudo o que usamos para justificar nossa forma de agir falha, podemos sempre recorrer àquele velho chavão: “Mas sempre fizemos assim”. Essencialmente, era isso o que Abraão estava dizendo. Sua atitude diante de Abimeleque não era para ser levada para o lado pessoal — era só norma da empresa. Essa norma tinha sido estabelecida muitos anos antes. Por que deveria ser mudada depois de tanto tempo?
Tendo examinado cada um dos três tópicos da defesa de Abraão, vamos considerar sua argumentação como um todo. Não há indicação de aceitação da responsabilidade pelo pecado, nem de tristeza ou arrependimento. Embora seus argumentos não nos convençam, assim como não impressionaram Abimeleque, eles pareciam satisfazer a Abraão.
Esta observação não me ocorreu imediatamente. Na verdade, foi um de meus amigos que a sugeriu depois que preguei este sermão no primeiro culto. Mas ele está absolutamente certo. Abraão, nesta passagem, se parece com um de nossos filhos quando é pego com a boca na botija. Ele fica triste por ter sido pego, mas não se arrepende do que fez.
Isso também explica a repetição deste pecado por Abraão e, tempos depois, por seu filho Isaque. Abraão não disse a si mesmo: “Não vou mais fazer isso de novo”, nem no Egito nem em Gerar. Em ambos os casos, ele escapou com a pureza da esposa intacta, e considerável lucro financeiro. Pelo que posso dizer, ele não viu sua farsa como pecado. Consequentemente, ela se repetiu nas gerações seguintes.
Não creio que Abimeleque tenha se impressionado com a explicação de Abraão. Todavia, Deus o tinha advertido severamente e ele sabia que Abraão era o único que podia interceder por ele para remover a praga que o impedia de ter filhos. Por causa disso, foi feita uma restituição.
Primeiro, Sara foi restituída ao marido, juntamente com ovelhas, bois e servos (versículo 14). Depois, foi feito um convite para Abraão se estabelecer onde quisesse naquela terra (versículo 15). Finalmente, Abraão recebeu mil peças de prata como símbolo da justificação de Sara (versículo 17). Portanto, a restituição de Sara a Abraão não foi porque ela era considerada inaceitável ou indesejável7.
Abimeleque é Curado (20:17-18)
Como deve ter sido humilhante para Abraão interceder em favor de Abimeleque. Um profundo senso de indignidade deve (ou pelo menos deveria) ter tomado conta dele. Com certeza, não foi a sua justiça que propiciou a cura divina. Como ministro do evangelho de Jesus Cristo, devo confessar que frequentemente sinto minha inadequação e indignidade. Os profetas, meus amigos, não são, necessariamente, as pessoas mais piedosas, nem os pregadores! O maior perigo enfrentado por pessoas em posição de proeminência e poder é começar a acreditar que a base da sua justiça é a sua fidelidade e grande espiritualidade. Sempre que somos usados por Deus, isso se deve única e exclusivamente à Sua graça.
Embora esta tenha sido uma época muito triste na vida do escolhido de Deus, ela foi necessária, pois preparou o terreno para o capítulo seguinte, onde o filho prometido é concedido. A promessa de Deus a Abraão foi mantida porque Deus é fiel, não porque Abraão fosse fiel. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito”, nas palavras da Escritura, são lá do alto” (Tiago 1:17). Foi assim com Isaque.
Quando Abraão orou, os ventres da casa de Abimeleque foram abertos para poderem gerar filhos novamente. Assim, o ventre de Sara também ia ser aberto. O filho prometido logo iria nascer.
Conclusão
É bem verdade que o erro de Abraão ocorreu numa cultura e numa época estranhas aos cristãos atuais. Apesar disso, seus problemas não eram diferentes dos nossos (cf. Tiago 5:17), e os princípios encontrados em Gênesis 20 são tão verdadeiros hoje quanto foram séculos atrás. Deus não mudou, muito menos o homem. Vamos dedicar alguns momentos para considerar as lições que podemos aprender com este incidente na vida de Abraão.
(1) A falibilidade dos santos. Sei que há quem ensine um perfeccionismo impecável, mas não consigo entender por quê. O velho homem, apesar de espiritualmente morto, ainda está bem vivo e ativo. Embora estejamos vivendo a vida vitoriosa de Romanos 8, a maioria de nós quase sempre se encontra no capítulo 7. Com Abraão, o amigo de Deus, não foi diferente.
Uma posição privilegiada não impede o fracasso. Abraão era um eleito, um escolhido de Deus, mas ainda tropeçava e caía. Ele era um profeta de Deus, mas isso não o tornava mais crente que os outros. Abraão prosperou tanto no Egito como em Gerar, mas não foi por ter alcançado um nível mais alto de espiritualidade. A doutrina mais perigosa para os cristãos é aquela que sugere que eles podem viver acima da tentação e do fracasso, mesmo depois de anos de serviço ou em uma posição privilegiada.
(2) Nossa desobediência quase sempre é camuflada por desculpas que todo mundo vê, menos nós. É fácil perceber que as três desculpas apresentadas por Abraão são uma farsa, mesmo assim variações desses mesmos temas ainda servem como justificativa para muita coisa errada que fazemos.
A primeira desculpa é a ética circunstancial, um sistema de ética baseado na negação da existência de Deus ou na Sua incapacidade de agir em favor do homem. O circunstancialismo sempre apresenta um dilema onde a única alternativa é agir de forma pecaminosa. Nesses casos, somos forçados a decidir com base no menor dos males.
Primeira Coríntios 10:13 afirma categoricamente que a premissa sobre a qual o circunstancialismo está fundamentado é errada. Este versículo nos ensina que Deus nunca coloca o cristão em situação em que ele ou ela deva pecar. Aquilo que tememos é sempre produto da nossa imaginação, não da realidade. Abraão temia ser morto por alguém que quisesse levar sua esposa. Isso nunca aconteceu, nem há registro de qualquer situação na qual isso fosse pelo menos uma remota possibilidade. A fé em um Deus que é soberano em todas as circunstâncias nos impede de ficar flertando com atitudes pecaminosas, as quais supostamente irão nos livrar das situações de emergência — aquelas em que a piedade deve ser deixada de lado.
A segunda desculpa é usar detalhes técnicos ao invés da verdade. A informação dada por Abraão a Abimeleque era totalmente factual (versículo 12). Sara era sua irmã. Mas o que Abraão não disse a ele tornou tudo uma mentira. Ela era sua esposa, e também sua irmã.
Muitas vezes, escondemos as coisas para permitir que as pessoas tirem suas próprias conclusões ou tenham a impressão errada dos fatos. Queremos dar a ideia de que somos espirituais, quando não somos. Tentamos parecer felizes, quando nosso coração está partido. Tentamos parecer sofisticados, quando estamos desesperados e deprimidos. Fé é enfrentar a realidade e lidar abertamente com os outros, mesmo quando a verdade parece nos colocar em perigo ou nos deixar vulneráveis.
A terceira desculpa, muito comum, é a tradição. “Mas a gente sempre fez assim”. Essa foi a desculpa de Abraão. Tudo o que ela indica é a nossa persistência em pecar. Como meu tio costumava dizer das pessoas que sempre tinham algo bom a dizer sobre os outros: “Ela diria que até o diabo é persistente”. Não é que a tradição seja errada, mas ela também não torna uma prática correta.
(3) Nossos erros nunca irão impedir alguém de ter fé em nosso Senhor. Embora Abraão não estivesse ansioso para falar a Abimeleque sobre a sua fé, Deus não hesitou em reconhecê-lo como indivíduo e profeta. Por que Deus não ficou quieto sobre seu relacionamento com Abraão? Será que o débil testemunho de Abraão não afastaria Abimeleque de Deus?
Seria de esperar que a reação de Abimeleque ao pecado de Abraão fosse como a de muitas pessoas da nossa época: “A igreja está cheia de hipócritas. Se cristianismo é isso, prefiro não ser cristão”. Esse tipo de desculpa não é melhor que a de Abraão.
O erro de Abraão deu a Abimeleque a melhor razão do mundo para ser crente em Deus: o Deus de Abraão era um Deus de graça, não de obras. O Deus de Abraão não só o salvou sem levar em conta as suas obras (cf. Gênesis 15:6; Romanos 4), como também o preservou sem levá-las em conta. A fé de Abraão estava em um Deus cujos dons e bênçãos não têm como base a nossa fidelidade, e sim a Sua. Homens e mulheres não estão à procura de uma religião água com açúcar, mas uma que lhes garanta a salvação a despeito da sua condição espiritual naquele momento. O tipo de fé que Abraão tinha é o tipo que as pessoas almejam, uma que faça as coisas mesmo quando não fazemos.
(4) A graça de Deus e a segurança eterna do crente. Isso nos leva ao nosso último ponto: o cristão está eternamente seguro apesar de seus fracassos na fé. De acordo com a Escritura, o retrocesso nunca é incentivado, nunca é contemplado e nunca é destituído de dolorosas consequências. Contudo, o retrocesso nunca custará ao cristão a sua salvação. A salvação oferecida por Deus aos homens é eterna. Se alguém deveria perder sua salvação, esse alguém era Abraão, mas ele continuou filho de Deus.
Mas que cenário o capítulo 20 é para o capítulo 21! Esperávamos que Isaque fosse concebido no ponto mais alto da vida de Abraão e Sara, mas não foi assim. Esperávamos que, pelo menos, a falta de fé de Abraão fosse desmascarada e, finalmente, superada no capítulo 20, mas isso não aconteceu. Na verdade, Abraão nem mesmo reconheceu a pecaminosidade das suas ações.
Deus abençoou Abraão, deu-lhe riqueza (Gênesis 12:16,20; 13:1-2; 20:14-16) e o filho que prometera (Gênesis 21:1 e ss). Deu-lhe também uma posição privilegiada (Gênesis 20:7, 17-18). Todas essas bênçãos foram dons da graça de Deus, não recompensas pelas boas obras de Abraão. Ao final do capítulo, devemos concluir com as palavras de Kidner:
Depois de todo seu empenho espiritual, a recaída de Abraão no mesmo esquema de falta de fé, assim como em outros momentos de anticlímax (ver 12:10 e ss e capítulo 16), traz sua própria advertência. No entanto, o episódio é principalmente de suspense: às vésperas do nascimento histórico de Isaque, a própria Promessa é colocada em risco, em troca de segurança pessoal. Se a promessa tiver de ser cumprida, terá de ser pela graça de Deus8.
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Tradução: Mariza Regina de Souza
1 Embora a partida de Abraão do Manre não seja explicada, creio que o capítulo 19 nos dá uma boa pista dos motivos da sua mudança. De alguma forma, a devastação das cidades do vale devem ter afetado sua enorme criação de gado. É provável também que a disponibilidade de grama e água tenha sido a causa das suas outras mudanças.
2 A menção dos filisteus em 21:32 tem sido alvo dos críticos. Mas isso é impossível e, portanto, um erro, pois os filisteus só ocuparam a terra depois de Moisés, dominando a Palestina por volta de 1175 aC. Parece que a melhor explicação para o problema é vermos esses primeiros filisteus como uma onda inicial de migrantes que prepararam o terreno para os imigrantes posteriores, mais hostis, identificados biblicamente como filisteus. Para uma discussão mais prolongada deste assunto, ver Harold G. Stigers, Comentário de Gênesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 181-182. Kidner resume sucintamente a questão:
“Os filisteus chegaram em massa na Palestina no começo do século doze; o grupo de Abimeleque terá sido precursor, talvez durante um período comercial”. Derek Kidner, Gênesis (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 142.
3 Abimeleque é considerado o nome de um ofício, como faraó, não o nome de uma pessoa. É difícil saber ao certo se ele é um pagão virtuoso ou um verdadeiro crente no Deus de Abraão.
4 Algumas pessoas se admiram do fato de Sara ser tão atraente aos 90 anos de idade a ponto de ser desejada como esposa (ou concubina). É preciso lembrar que a vida dos homens e mulheres daquela época era mais longa do que agora. Abraão viveu até os 175 anos (25:7) e Sara até os 127 (23:1). Além disso, para poder gerar um filho, o envelhecimento normal deve ter sido retardado. O texto deixa a impressão de que Abraão temia por sua segurança por causa da beleza de Sara. Creio que devemos aceitar isso de forma literal; o que não significa que não houvesse outras razões para Sara ser levada. Abraão era um homem de riqueza e poder. As alianças eram feitas por meio de casamentos; por isso, Abimeleque tinha muitas razões para se casar com Sara.
5 Alguns sugerem que Sara não teve culpa ao confirmar as mentiras de Abraão. Dizem que ela simplesmente foi submissa e Abraão levou sua culpa e a dela. Não vejo evidência bíblica para esse tipo de afirmação. Sara é elogiada na Escritura por sua submissão obediente. A referência de Pedro, no entanto, não é à sua mentira no capítulo 20, mas à reverência para com seu marido no capítulo 18 (versículo 12). Naquele capítulo, já em idade avançada e numa época em que a promessa de um filho parecia inacreditável, ela ainda se referia a Abraão com profundo respeito, como demonstrado em suas palavras: “Riu-se, pois, Sara no seu íntimo, dizendo consigo mesma: Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer?” (Gênesis 18:12). Além do mais, Pedro, mesmo elogiando a obediência de Sara, define cuidadosamente o tipo de obediência que é aceitável e agradável a Deus: “como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma”. A mentira de Abraão, e a participação de Sara, era baseada em medo, e Moisés deixou bem claro que isso não era certo, mesmo aos olhos de um pagão. Embora o espírito obediente de Sara tenha sido elogiado, sua mentira não. Devemos sempre obedecer a Deus, não aos homens (Atos 5:29). Submissão é obedecer quando, em nossa opinião, a atitude é insensata; não é participar daquilo que sabemos, pela Palavra de Deus, ser errado. Na cadeia bíblica de comando, a vontade revelada de Deus é suprema, e é maior que todos os outros níveis de autoridade quando estão em conflito direto com ela.
6 Muito embora Abraão não se encaixe na concepção normal de profeta bíblico, essa designação é adequada. Ele realmente, em consonância com a palavra hebraica nabhi, serve como porta-voz ou alguém que fala por Deus (cf. Êxodo 4:16; 7:1). Além do mais, um profeta muitas vezes intercedia pelos outros (cf. Deuteronômio 9:20; 1 Samuel 7:5). Nos dois sentidos Abraão foi profeta, apesar de não ter predito o futuro.
7 Stigers sugere que 1000 peças de prata era, na verdade, o valor do gado recebido:
“Aqui são descritos os resultados do incidente apresentado nos versículos 1 a 7. No versículo 16, há a questão específica do dinheiro, que pode ser um valor homólogo ao valor dos animais e servos recebidos por Abraão expresso de forma judicial. O recebimento dos animais, de fato, é um acordo pecuniário para garantir que nenhum recurso legal seja impetrado por Abraão contra Abimeleque no futuro”. Stigers, Gênesis, p. 180. Kidner, com seu costumeiro estilo conciso, diz: “Ao oferecer uma compensação, Abimeleque reconhece seu erro (embora o termo ‘teu irmão’ saliente novamente sua inocência) e, aceitando a compensação, Abraão reconhece que o assunto está encerrado” (Kidner, Gênesis, p. 139).
8 192 Ibid., p. 137