Appendix 1: Study Group Tips
Related MediaLeading a small group using the Bible Teacher's Guide can be done in various ways. One format for leading a small group is the “study group” model, where each member prepares and shares in the teaching. This appendix will cover tips for facilitating a weekly study group.
- Each week the members of the study group will read through a select chapter of the guide, answer the reflection questions (see Appendix 2), and come prepared to share in the group.
- Prior to each meeting, a different member can be selected to lead the group and share Question 1 of the reflection questions, which is to give a short summary of the chapter read. This section of the gathering could last from five to fifteen minutes. This way, each member can develop their gift of teaching. It also will make them study harder during the week. Or, each week the same person could share the summary.
- After the summary has been given, the leader for that week will facilitate discussions through the rest of the reflection questions and ask select review questions from the chapter.
- After discussion, the group will share prayer requests and pray for one another.
The strength of the study group is that members will be required to prepare their responses before the meeting, which will allow for easier discussion. In addition, each member will be given the opportunity to teach, which will further equip their ministry skills. The study group model has distinct advantages.
Lição 1: O Comissionamento de Josué (Josué 1:1-18)
Related MediaDe várias formas, a preparação para a invasão e conflito diante de Josué e o povo começa neste capítulo. É significante notar que esta preparação, no capítulo 1, procede da comunicação de Deus. Primeiramente, Deus fala e comissiona Josué (1:1-5), incitando-o depois a ser forte e corajoso (1:6-9). Em seguimento das palavras de Deus, Josué dirige-se ao povo e dá-lhe instruções a fim de que se prepare para atravessar o Jordão no espaço de três dias (1:10-15). A isto segue-se a resposta do povo, cuja fonte recaía obviamente na Palavra de Deus (1:16-18). A revelação de Deus deve sempre ser seguida de uma resposta que tenha em conta a Sua Palavra inspirada.
A Comissão Dada
(1:1-5)
1 E sucedeu, depois da morte de Moisés, servo do Senhor, que o Senhor falou a Josué, filho de Num, servo de Moisés, dizendo: 2 Moisés, meu servo, é morto. Levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. 3 Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés. 4 Desde o deserto e desde este Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar, para o poente do sol, será o vosso termo. 5 Nenhum se susterá diante de ti, todos os dias da tua vida: como fui com Moisés, assim serei contigo: não te deixarei, nem te desampararei.
A vitória e possessão da terra que se seguem são o resultado directo da Palavra de Deus e de um homem, neste caso Josué, que escuta e responde à Sua Palavra. Tal deverá ilustrar que não existe qualquer vitória ou hipótese de experimentarmos as bênçãos da nossa nova vida em Cristo se nos apartarmos da Palavra de Deus. Logo que um crente começa a desviar-se da Palavra, por indiferença ou apatia motivadas por uma qualquer razão, está na verdade a desviar-se do Senhor e a dirigir-se à derrota.
A comissão de Josué dá-se apenas após a morte de Moisés (versículos 1-2). Isto é significante. A missão de Josué e a continuação dos propósitos de Deus quanto a introduzir Israel na terra prometida, por certas razões tipológicas, chegam somente depois do falecimento de Moisés. Porquê?
Moisés fora o grande legislador que representara a Lei do Sinai, aquela legislação fantástica que demonstra a santidade perfeita de Deus e a condição pecaminosa do homem, que se mantém separado de Deus (Rom. 3:23). Contudo, a Lei, embora santa e boa, jamais poderia dar vida ou espiritualidade, nem providenciar justificação. Era antes um ministério da morte, revelando o homem como pecador e sob o domínio do pecado (2 Cor. 3:7; Rom. 7:7; Gál. 3:19-22).
Moisés retratava a lei que não consegue conduzir-nos à vida abundante e salvadora de Cristo. Era apenas uma tutora, uma serva que cedo se retiraria (Gál. 3:23 ss). Embora apontasse para Cristo no tabernáculo, sacerdócio e sacrifícios, não conseguia remover o pecado ou providenciar a salvação a partir da carne. Porquê? Porque era fraca no aspecto em que dependia do homem e da sua habilidade (Rom. 8:3-4). A Lei conferia um padrão justo, mas não poder ou graça para a carne ou pecado interior (Rom. 6:14; 8:3 ss).
Assim, Moisés tinha de sair de cena antes de Josué poder ser comissionado e receber ordens no sentido de liderar o povo pelo Jordão e até à Terra Prometida. Uma razão adicional está patente no nome de Josué, que tão claramente nos lembra que "Yahweh É Salvação". Enquanto equivalente hebraico de "Jesus", Josué tipifica o Senhor Jesus e a Sua vida redentora, que não só nos proporciona redenção, mas também o poder de que necessitamos a fim de entrarmos na posse das nossas possessões em Cristo.
Com a menção da morte de Moisés, é dito a Josué "Levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo". Em jeito de aplicação para os tempos de hoje, as palavras "Levanta-te, pois, agora" (com vista à morte de Moisés e ao que a mesma representava) ensinam-nos uma verdade: nenhum homem pode viver a vida cristã mantendo um conjunto de leis ou tabus. Embora a vida cristã envolva obediência aos princípios e imperativos da Palavra, é mais do que isso. É uma vida para ser vivida pela fé no poder de Deus. Não nos é simplesmente possível viver a vida cristã recorrendo à nossa própria energia ou determinação. Uma existência cristã não consiste somente em ser o Senhor Simpático ou em manter meramente um conjunto de princípios e regras cristãs. É uma relação fiel com Deus para ser vivida no poder do Espírito e à luz da Palavra.
Com as Palavras “levanta-te, passa este Jordão”, o Senhor está a dizer “sai do deserto e move-te para Canaã”. A vontade de Deus para o fiel nunca se encontra no deserto. Está antes em Canaã, o lugar da salvação e da conquista. “Levanta-te, passa” afirma, pelo paralelismo com a verdade do Novo Testamento, “pega na tua armadura, usa os teus recursos sobrenaturais, pára de confiar em ti mesmo, confia em mim e vai”.
“Tu e todo este povo” ilustra que a espiritualidade não se destina a apenas alguns eleitos, mas que está disponível para qualquer crente. A vida cristã abundante e madura é o plano de Deus para cada fiel. É apenas limitada pela nossa falta de disponibilidade face à sua disponibilidade constante para nós. Todo o crente é abençoado com toda a bênção espiritual, constituindo um sacerdote de Deus, com graça abundante disponível em qualquer situação. Devemos relembrar que todo o Israel saiu do Egipto da mesma maneira – graças à fé na graça de Deus –, e cruzaria o Jordão exactamente da mesma forma – pela fé na salvação de Deus.
As palavras “à terra que eu dou aos filhos de Israel” e, no versículo 3, “todo o lugar” ilustram a verdade de Efésios 1:3 e Colossenses 2:10. “Que eu dou” e “vo-lo tenho dado” mostram que Deus estava então a providenciar-lhes o que lhes pertencia desde há muito tempo. Josué 2:9-11 revela que a terra fora virtualmente deles por 40 anos. Estava meramente à espera de ser possuída. De modo semelhante, Deus concedeu a cada fiel toda a bênção espiritual e provisão desde o momento da salvação. Obviamente, tal como este livro deixa claro, ter um título de propriedade sobre a terra (ou sobre as nossas bênçãos em Cristo) não significa que as nossas vidas se mantenham sem provas, conflitos, lutas e pressões. De facto, terão todas essas coisas; mas, uma vez que a batalha é do Senhor e que Deus fez a maior parte por nós em Cristo, com as provações e tentações virá a salvação de Deus, pela fé e aplicação da Palavra.
No versículo 5, é feita a Josué a promessa “nenhum se susterá diante de ti”; porém, esta promessa é também um aviso. Embora a terra fosse deles, não seria tomada sem conflito ou batalha. De modo semelhante, tal como a terra de Canaã estava cheia de cidades fortificadas e de inimigos que precisavam de ser expulsos, também a vida cristã é uma existência de conflito contra inimigos que necessitam de ser vencidos. Não obstante o resultado estar assegurado caso reclamemos os recursos de Deus e a vida salvadora de Cristo, temos mesmo assim de batalhar e de lidar com a existência do inimigo durante esta vida. Este é um chamamento para despertarmos, uma realidade que necessita de ser enfrentada: a vida está cheia de batalhas e conflitos. Não estamos no Éden nem no reinado milenar de Cristo. Em vez disso, debatemo-nos com a carne (o pecado interior), com o demónio e poderes sobrenaturais da escuridão, bem como com um sistema mundial antagonista de Deus, da Sua Palavra e de uma conduta piedosa (compare com Rom. 7:15 ss; Gál. 5:16 ss; Efé. 5:15-16; 6:10 ss; 1 Ped. 5:8-9).
Ainda assim, o lado positivo é o de que estas palavras - “nenhum se susterá diante de ti” – são também uma promessa de salvação contínua, batalha após batalha. Graças à adequabilidade da vida salvadora de Cristo, através da obra que finalizou na cruz, da Sua presença triunfante à direita de Deus, da nossa identificação com Ele na Sua morte, ressurreição e assembleia no Céu, e mediante o dom do Espírito Santo, não existe inimigo que possamos enfrentar que o Senhor (o nosso Josué) não tenha já conquistado. A nossa necessidade centra-se em tomarmos posse daquilo que Ele já fez por nós, através da aplicação sábia e fiel da Sua Palavra.
Embora ainda activo e vagueando, o poder de Satanás foi quebrado e é-nos possível resistir aos seus enganos e ataques. Mesmo que o princípio do pecado ainda habite cá dentro ou que a carne esteja activa nos nossos membros, o seu poder sobre nós foi boicotado graças à nossa união com Cristo na Sua morte e ressurreição. Tal significa que a vitória de possuir as nossas possessões é conferida através do dom do Espírito Santo (Rom. 6 e 8) e do poder santificador de uma vida cheia da Palavra (João 17:17; Efé. 5:18; Col. 3:16).
Aplicação: Todos nós alimentamos o desejo de viver num mundo ideal, no qual a vida decorre suavemente, sem problemas ou stress. De facto, fomos criados para tal, e não há nada de errado em ansiar pelo tempo que chegará com a vinda do Senhor Jesus, nosso Josué. Mas as doutrinas da apostasia dos últimos dias, a natureza malvada desta era, bem como a presença dos nossos três inimigos, são recordações constantes de que jamais poderemos gozar da verdadeira paz mundial e duradoura sem o retorno do Senhor. Temos de enfrentar os factos e estar preparados para lidar com a vida da forma que esta realmente é. Em Cristo, somos superconquistadores e, através da Sua vida salvadora, podemos ultrapassar as batalhas individuais da vida, embora precisemos de estar preparados para militar a boa milícia.
Todos gostamos de nos mover sem nada que atrapalhe os nossos horários ou nos obrigue a sair da nossa zona de conforto. Assim que tentamos escapar da luta, Deus lança-nos de novo na realidade mediante alguma condição ou experiência desagradável, e deparamo-nos novamente com o mundo. Depois das férias, temos de voltar ao trabalho e lidar com aquele colega tão difícil de suportar. Estamos a ir bem quando, de repente, aparece uma ameaça à nossa saúde ou à da nossa esposa ou filho. Ou quiçá enfrentemos a morte de um ente-querido, que nos traz mágoa e solidão, bem como novas pressões e responsabilidades. Assim acontece na sua vida e na minha, mas as palavras “Nenhum se susterá diante de ti, todos os dias da tua vida” irrompem nas nossas existências trazendo duas realidades: um aviso e uma promessa.
As palavras “como fui com Moisés, assim serei contigo: não te deixarei, nem te desampararei” canalizam a nossa atenção para uma das maiores verdades da Bíblia. Israel entraria na terra da mesma forma que saíra do Egipto. De modo semelhante, entramos na vida abundante de Cristo da mesma forma que somos salvos da ira – através da fé na vida salvadora de Cristo. Assim como confiámos em Cristo e nas proezas da cruz em termos de justificação e redenção, temos de confiar nessas realizações como base da nossa segurança e resgate diário (Rom. 6:4-11; Col. 2:6-3:3).
O Apelo à Coragem
(1:6-9)
6 “Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei aos seus pais lhes daria. 7 Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que o meu servo, Moisés, te ordenou: dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas, por onde quer que andares. 8 Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes, medita nele, dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho, e, então, prudentemente te conduzirás. 9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes: porque o Senhor, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares.”
Enquanto os primeiros cinco versículos se relacionam com a comissão de Josué, a ter início após a morte de Moisés, o grande impulso dos versículos 6-9 diz respeito a algo vital para que Josué fosse capaz de assim agir – e o que foi verdade para Josué é igualmente verdadeiro para nós.
Existe uma palavra ou tema repetidos pelo menos três vezes nestes versículos que precisamos de captar e relacionar connosco. Por três vezes Deus diz a Josué: “Esforça-te, e tem bom ânimo” (1:6, 7, 9). Mais tarde, uma vez que tal diz respeito à sua obediência a Deus, Josué repetirá o mesmo comando ao povo (1:18; 10:25), que de igual modo enfrentará os desafios e o cumprimento dos propósitos de Deus para a nação – habitar na terra como uma nação sacerdotal, representante de Deus diante das nações.
Portanto, o assunto diante de Josué consistia num apelo para ser forte e corajoso, em vista do cargo de liderança que lhe estava a ser passado. Deus estava a chamá-lo para um ministério muito especial e difícil, com desafios tremendos e obstáculos bastante para lá das suas próprias capacidades. Porém, a vida de cada um de nós está repleta de desafios deste género, por isso não passemos adiante sem repararmos na aplicação pessoal que esta ideia poderá ter em cada um de nós. Os versículos 6-9 são fundamentais para se obter a força e coragem requeridas para os desafios de qualquer ministério ou responsabilidade.
Esta passagem não se destina apenas a uma classe especial de líderes, como pastores ou missionários. Deus convocou cada um de nós para o ministério. Nenhum crente está exempto. Todos nós temos dons, todos somos sacerdotes de Deus e líderes em algum sentido, com responsabilidades pessoais para com outros, seja como anciãos, diáconos, pais e mães, etc.
Frequentemente, as pessoas fogem do ministério ou de situações difíceis devido ao medo ou aos obstáculos. Tal como a anterior geração de Israelitas falhara em entrar na terra e em tomar posse das suas possessões por causa da descrença e de medo de gigantes, também nós estamos sujeitos a não penetrar no chamamento de Deus nas nossas vidas.
Aplicação: Sem a força e coragem pessoal de Deus, fracassaremos no que toca a enfrentar os desafios ou a assumir as responsabilidades para as quais Deus nos convoca. Outros, por serem demasiado autoconfiantes, talvez procurem fazer tudo sozinhos, uma maneira igualmente errada de tentar servir o Senhor, tal como veremos ilustrado no capítulo 7, com a derrota em Ai.
Falando em termos bíblicos, de onde provêm a força moral e a coragem, e será que significam a ausência de medo? A força moral e a coragem provêm (1) da fé na soberania e provisão de Deus e (2) no facto de estarmos convencidos de que aquilo que fazemos é justo e o mais acertado, bem como essencial à vida. Mas há muito mais, como esta passagem nos mostrará. A coragem é aquela qualidade mental que permite ao homem enfrentar o perigo e a dificuldade com firmeza e resolução, apesar dos seus medos interiores (compare com 1 Cor. 2:3; 2 Cor. 7:5). Por outras palavras, a coragem não é a ausência de medo. Embora não procurasse o perigo nem presumisse do Senhor, Paulo nunca se evadiu de algo que soubesse ser correcto ou a vontade de Deus. No seu excelente livro acerca de liderança espiritual, J. Oswald Sanders escreveu:
Coragem do mais alto nível é requerida de um líder espiritual – sempre coragem moral e, frequentemente, coragem física também…
Martin Luther possuía esta importante qualidade numa medida excepcional. Foi já declarado que talvez tenha sido o homem mais corajoso que alguma vez viveu. Ao partir na sua momentosa viagem até Worms, afirmou “Podeis esperar tudo de mim, excepto medo ou retracção. Não fugirei, nem muito menos me retrairei.” Os seus amigos, avisando-o dos graves perigos que corria, procuravam dissuadi-lo. Mas Luther não podia ser dissuadido. “Não ir até Worms?”, disse. “Iria até Worms nem que existissem tantos demónios como telhas nos telhados.”…
Contudo, nem todos os homens são por natureza tão corajosos como Luther, sendo esse facto tanto implícito como explícito nas Escrituras. O grau mais elevado de coragem é visto na pessoa mais receosa, mas que se recusa a sucumbir ao medo. Não obstante quão amedrontados pudessem estar, os líderes de Deus em sucessivas gerações foram instruídos a ter bom ânimo. Caso estivessem sem medo, esta ordem não faria sentido.1
Portanto, de onde vêm a força e a coragem? Os conceitos seguintes ensinam-nos vários pontos importantes:
(1) A força e a coragem provêm de Reconhecer e Relacionar-se com o prazer de Deus (a Sua vontade), tendo uma noção do chamamento de Deus e do destino (1:1-2).
Conhecer a Palavra de Deus, a Sua vontade claramente revelada, conjuntamente com o reconhecimento dos dons, habilidades e treino de cada um, partes integrantes de compreender o Seu prazer ou vontade para a vida de alguém, é fundamental para encontrar a força e coragem necessárias para aceitar qualquer área de responsabilidade no ministério. Sem esta compreensão, uma pessoa dificilmente terá motivação ou coragem para se encaminhar em direcção aos ministérios que Deus a chama a executar.
Existe um processo específico a ser notado nos versículos 1-9. Primeiramente, a Palavra de Deus é dirigida a Josué, de modo a comissioná-lo e a encorajá-lo. A coragem aqui requisitada é o resultado directo da Palavra e de se conhecer a vontade de Deus (veja Efé. 5:9-10). Em paralelo, Josué é recordado de que fora preparado e treinado para isto, enquanto servo de Moisés (1:1).
A instrução de Josué no versículo 1 equivale a obtermos compreensão bíblica. É isto que forma o alicerce para a coragem e convicção, bem como para a fé e acção. Temos de orar e procurar a vontade e sabedoria de Deus. O fundamento inicial da coragem consiste em conhecer a Palavra e a vontade de Deus.
Ser o substituto de Moisés ilustra dois princípios-chave: (1) O princípio de ter um exemplo piedoso (1 Tim. 4; 1 Ped. 5:1-3). (2) O princípio de Lucas 16:10 e respectivo impacto no desenvolvimento de coragem e motivação para o ministério. Josué fora fiel nas pequenas coisas, e seria fiel em muito mais. O serviço nas maiores áreas de responsabilidade começa com fidelidade em coisas mais pequenas. Cada um de nós precisa de encontrar um lugar para servir e crescer. É possível que tal venha a constituir o treino inicial para outras áreas de ministério, para as quais Deus o poderá estar a chamar.
“Moisés, meu servo, é morto” (vs. 2). Esta afirmação lembra-nos que ninguém é indispensável e que a liderança muda. Se não treinamos outros nem somos treinados, deixamos buracos abertos (2 Tim. 2:2).
“Levanta-te, pois, agora” enfatiza a necessidade de acção decisiva capaz de preencher o vazio deixado pela ausência de Moisés. Isto é verdadeiro para todos nós no ministério, sempre que, por qualquer razão, se gera um vazio pela remoção dos servos de Deus. Um verdadeiro sentido de urgência é sempre um elemento vital na resolução e acção que preencham aquela necessidade; é parte da raiz que produz o fruto. Mas existe outro componente essencial à coragem e decisão no que toca a fazer a vontade de Deus.
(2) A força e a coragem provêm de Repousar nas promessas de Deus (1:2b-6).
Repare, por favor, que as promessas aqui dadas a Josué foram conferidas em relação ao ministério e à obra que Deus o chamara a desempenhar. Isto aplica-se a cada um de nós, independentemente do ministério particular para o qual Deus nos tenha convocado no corpo de Cristo. Leia estes versículos cuidadosamente e veja a aplicabilidade que lhes pode dar na sua vida. Sente o chamamento de Deus na sua vida para O servir de um modo particular, mas tem medo? Receia o fracasso? Tem medo de quanto lhe possa custar? Medite nestes versículos.
Podemos ainda atentar a alguns dos obstáculos observáveis nesta passagem, uma vez que, ao reclamarmos as promessas de Deus, a fé terá de enfrentar obstáculos.
“Passa este Jordão.” Na Escritura, o Jordão representa frequentemente um obstáculo, um impedimento ao crescimento, ministério e progresso. Existe uma boa razão para acreditar que as margens do Jordão se encontravam inundadas nesta altura do ano (compare com Jos. 3:15; 4:18). Esta é uma das razões pelas quais a coragem é necessária.
Paralelamente, cruzar o Jordão significava entrar numa terra hostil, num país repleto de inimigos, alguns dos quais eram gigantes e habitavam em cidades amplamente fortificadas. Este não era um desafio simples. Recorde: a geração anterior falhara em Cades devido a falta de coragem. Mas ainda há mais.
“Tu e todo este povo.” Não se tratava de um grupo pequeno! Os números faziam disto uma tarefa colossal. Josué tinha a responsabilidade de liderar um povo conhecido por ter uma cerviz dura e por apedrejar os seus líderes. A palavra “todo” lembra-nos que é vontade de Deus que todo o Seu povo amadureça e se fortaleça, cumprindo a Sua vontade e usufruindo de vidas vitoriosas.
Não obstante, independentemente dos obstáculos, a vontade de Deus fora claramente transmitida a Josué. Ele necessitava de agir em relação a esse facto através de fé na pessoa, promessas e provisão do Senhor.
Concentremo-nos na promessa do versículo 2b: “à terra que eu dou aos filhos de Israel” (vs. 2). Adicionalmente, repare nas palavras “vo-lo tenho dado” (vs. 3). O povo estava prestes a entrar na Terra Prometida, o país prometido aos patriarcas, a Abraão, Isaac e Jacob ou Israel, pelo próprio Deus, que não pode recuar nas Suas promessas. De facto, Ele começara a preparar os habitantes nativos para a derrota (compare com 2:9 ss). A terra começara a pertencer-lhes há quarenta anos atrás, mas não tinham conseguido entrar nela devido a descrença e falta de coragem.
A Palavra de Deus encontra-se repleta de centenas de promessas (vss. 3-6, 9). Essencialmente, cada princípio da Escritura torna-se uma promessa, pois com tal princípio vem a promessa inerente de Deus, que É veracidade perfeita, de modo a podermos confiar nesse princípio. Porém, temos de conhecer essas promessas e agir nelas pela fé. As promessas de Deus são conferidas de modo a nos transportarem através do Jordão da vida – não necessariamente para o remover do nosso caminho, mas sim para nos capacitar a avançar e a atravessá-lo com fé. Não nos são dadas para que evitemos os obstáculos ou tentemos ir à volta, mas sim para que os cruzemos vitoriosamente.
Como reclamamos e agimos baseados nessas promessas? Como fazemos dessas promessas parte das nossas vidas?
(3) A força e a coragem provêm da Renovação diária nos Princípios de Deus (1:7-8).
De acordo com uma definição bíblica de sucesso, um ministério bem-sucedido está em última análise relacionado com uma aprendizagem e estudo sólido da Bíblia, em detrimento dos nossos métodos humanos, técnicas e estratégias que, com demasiada frequência, recorrem à pressão, coacção e manipulação a fim de permitirem o alcance dos nossos planos ou resultados.
A Palavra é intrinsecamente poderosa e capaz de produzir uma mudança piedosa nas vidas dos fiéis, uma vez que motiva, encoraja, dá esperança e direcção, e expõe-nos quer às nossas necessidades, quer à provisão de Deus. A Palavra foi-nos concedida no sentido de estabelecer uma relação comunicativa com Deus. É um meio de comunhão com Ele. Contudo, tal leva o seu tempo – tempo de qualidade e diligência. Repare na ênfase conferida a este assunto ao longo dos versículos seguintes. “Fazer conforme a toda a lei…; dela não te desvies…” (vs. 7), “antes, medita nele, dia e noite…” (vs. 8).
Qual é a nossa tendência? Nos dias de hoje, a pessoa comum procura uma solução rápida – três passos fáceis. Queremos que Deus faça isto por nós agora. Mas este tipo de aproximação não desenvolve uma relação com o Senhor. Uma amizade com Deus, conhecê-lO, tal como qualquer outra relação, leva o seu tempo. É isto que nos propicia sucesso no ministério e na vida, independentemente de para onde vamos ou do que façamos.
O Aviso: Josué foi avisado ou alertado relativamente a três aspectos:
- “Para que tenhas cuidado” avisa contra o perigo, incita à prudência, observação ou escrutínio cuidadoso, bem como à conscienciosidade (compare com Efé. 5:15).
- “De fazer conforme a tudo” aponta para o conceito do conselho íntegro da Palavra.
- “Dela não te desvies” aponta para o conceito da Escritura enquanto nosso indicador ou padrão objectivo, alertando contra a relatividade moral.
O Processo: Josué deveria fazer três coisas em relação às Escrituras:
- A Lei não deixaria a sua boca; deveria falar sobre ela (compare com Deut. 6:7). Isso seria um meio de se manter ocupado com os pensamentos e caminhos de Deus.
- Meditaria nela dia e noite; deveria pensar nela constantemente (compare com Salmos 1:2; 119:97). De forma a ser capaz de falar sobre dela e de a aplicar, a pessoa tem de a conhecer e ver como se aplica. Temos de a manter na nossa mente e coração, de modo a que nos fortifique, encoraje e dirija.
- Deveria fazer tudo o que nela estivesse escrito, conduzindo a sua vida em obediência a todas as suas ordens (compare com Ed 7:10; Tiago 1:22‑25).
(4) A força e a coragem provêm de Contar com a Pessoa e presença de Deus (1:9).
Por último, mas não menos importante, há que considerar a presença de Deus, sempre atenta e protectora. Não existe situação, problema ou inimigo que alguma vez enfrentemos sós. O Senhor está sempre lá, como nosso suporte e provisão constantes. Se estamos preocupados com o nosso ministério ou com qualquer outra coisa, podemos ficar absolutamente certos de que Deus está infinitamente mais preocupado do que nós. Basta-nos caminhar na luz da Sua presença, contando com a Sua orientação, suporte, provisão e cuidado, ao mantermos n'Ele o nosso foco (Heb. 12:1-2).
“Não to mandei eu.” Qual é o ponto importante aqui? É a fonte do comando e das promessas. O “eu” refere-se a Yahweh. Atente ao que se segue.
“Porque o Senhor (Yahweh), teu Deus (Elohim), é contigo, por onde quer que andares.” Estas palavras enfatizam a natureza daquele que deu o comando. Elas canalizam a nossa atenção para quem e o que é Deus. Um dos segredos para a audácia e coragem é a consciência da provisão e presença de Deus, especialmente da Sua presença enquanto aquele que prometeu nunca nos abandonar.
Compare João 20:19 e o medo dos discípulos antes de experienciarem a presença de Cristo ressuscitado e a promessa da Sua presença imperecível (compare com Mt. 28:18-20) com a ousadia que demonstraram em Actos 4:13-20. O que fez a diferença nos discípulos? Estes eram agora homens confiantes na presença de Cristo (Mt. 28:18-20), que conheciam a vontade de Deus e a Sua Palavra, e estavam repletos do Espírito de Deus (compare com Actos 4:8). Quando o Espírito Santo assume o controlo sobre a vida de um homem e o instrui na Palavra de Deus, ele não transmite “o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”:
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (2 Timóteo 1:7).
“Temor” é deilia, significando covardia, o oposto da coragem. "Fortaleza" é dunamis, a capacidade de fazermos o que devemos. "Amor" é agaph, uma atitude mental de preocupação sacrificial relativamente aos outros. Implica motivação e capacidade de tomar decisões difíceis. "Moderação" é swfronismos, significando pensamento salutar, um produto da compreensão bíblica, que mantém os nossos medos sob controlo, modifica valores e prioridades e confere coragem e resolução.
Em Hebreus 13:1-3, o autor relembrou aos seus leitores a necessidade de servir os santos. Escreveu, por exemplo, “permaneça o amor fraternal. Não vos esqueçais da hospitalidade, …”. Deus deseja que atendamos às necessidades dos outros, o que requer coragem e obediência, significando por vezes sacrifício. O texto mencionado também nos alerta em relação aos nossos valores e fontes de segurança, lembrando-nos depois da presença e provisão de Deus.
Sejam os vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei.
E assim, com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem. (Heb. 13:5-6)
À medida que enfrentamos os desafios, oportunidades e o chamamento de Deus, lembremos estas três promessas feitas por Deus a Josué. Com a convocação de Deus para o serviço, chega sempre a provisão apropriada d'Ele. O problema não reside no Senhor, mas sim na nossa responsabilidade quanto a seguir as Suas admoestações tal como foram dadas a Josué.
Josué Fala ao Povo
(1:10-15)
10 Então deu ordem Josué aos príncipes do povo, dizendo: 11 Passai pelo meio do arraial e ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de comida, porque dentro de três dias passareis este Jordão, para que entreis a possuir a terra que vos dá o Senhor, vosso Deus, para que a possuais.
12 E falou Josué aos rubenitas, e aos gaditas, e à meia tribo de Manassés, dizendo: 13 Lembrai-vos da palavra que vos mandou Moisés, o servo do Senhor, dizendo: O Senhor, vosso Deus, vos dá descanso, e vos dá esta terra. 14 As vossas mulheres, os vossos meninos e o vosso gado fiquem na terra que Moisés vos deu, desta banda do Jordão; porém vós passareis armados na frente dos vossos irmãos, todos os valentes e valorosos, e ajudá-los-eis; 15 Até que o Senhor dê descanso aos vossos irmãos, como a vós, e eles também possuam a terra que o Senhor, vosso Deus, lhes dá; então tornareis à terra da vossa herança, e possuireis a que vos deu Moisés, o servo do Senhor, desta banda do Jordão, para o nascente do sol.
Na nossa lição anterior, a mensagem principal consistia na revelação de Deus a Josué, concernente às Suas promessas, aos Seus propósitos para a nação, aos grandes princípios da Lei e à Sua presença permanente. É isto que forma o pano de fundo, a motivação e inspiração para a secção presente e tudo o que se segue. Agora, nos versículos 10-15, Josué incita o povo a agir à luz da revelação e promessas de Deus. Aqui, o conceito-chave é a resposta imediata e obediente de Josué, independentemente dos obstáculos à sua frente. Há nesta secção uma nota de urgência, certeza, expectativa e fé nas ordens de Josué ao povo. Como Deus ordenara, o novo líder estava a assumir o controlo, seguindo com confiança as ordens do Senhor.
(1) Assim fez imediatamente, sem demora ou procrastinação. Há um adágio antigo, “Bata o martelo, enquanto o ferro está quente”. Quanto mais nos demoramos, mais relutantes ficamos quanto a obedecer aos requerimentos de Deus. A demora também pode ser desobediência. A procrastinação pode evidenciar falta de coração para o chamamento de Deus, bem como falta de zelo pelo Seu povo e glória. Note as palavras em Salmo 119:60, “Apressei-me, e não me detive, a observar os teus mandamentos”.
(2) Assim fez com confiança, mostrando fé no Senhor e coragem para enfrentar a tarefa diante de si. Uma resposta tão imediata evidencia fé na Palavra e confiança no Senhor.
(3) Assim fez com uma compreensão clara quanto àquilo que enfrentavam. Tal enfatiza ainda mais a essência da sua coragem. Primeiro, por experiência pessoal, percebeu o que enfrentavam, pois, quarenta anos antes, fora um dos doze espiões enviados a explorar a terra. É possível que lembrasse com pessimismo o relato negativo dos dez, antecipando uma resposta similar por parte da nova geração. Mas os olhos de Josué repousavam no Senhor com solidez. Demasiadas vezes, enfraquecemos o nosso foco no Senhor e no Seu poder por pensarmos em todos os aspectos negativos, em tudo que pode acontecer se seguirmos em frente. Em segundo lugar, Josué poderá ter sido informado do que enfrentariam através da descrição de dois espiões, que enviara à terra no capítulo 2, provavelmente antes da ordem no versículo 11.2
Ainda assim, Josué e o povo deparavam-se com uma situação que, em muitos aspectos, estabelecia um paralelo com o dilema que Moisés e os israelitas haviam enfrentado no Mar Vermelho (Êx. 14). “Em cada caso, o obstáculo ocorrera no início do ministério do líder. Ambos eram impossíveis de solucionar através de meios naturais. Ambos exigiam dependência implícita e absoluta num Deus operador de milagres.”3
Após quarenta anos a deambular, pensando terem por fim chegado à Terra Prometida, encontram o rio inundando as suas margens (3:15). Enfrentavam o que para eles era uma dificuldade intransponível. A vida é mesmo assim, não é verdade? Tantas vezes, quando as nossas esperanças estão em alta, assim que as coisas parecem estar a correr à nossa maneira, aparecem problemas vindos do nada, e parece que ficamos a contemplar uma travessia impossível. Porém, todas as coisas são possíveis a Deus, que tudo opera em benefício daqueles que O amam (veja Gén. 18:14; Jer. 32:17; Mt. 19:26; Lucas 1:37; 18:27).
Dois assuntos tinham de ser analisados antes que pudessem atravessar o Jordão. Mais tarde, em 3:1 ss, Josué dará instruções específicas quanto à forma como o Jordão deveria ser atravessado mas, primeiro, como um bom líder, avalia a situação de modo responsável, estabelecendo duas coisas a ser feitas.
Planeamento Logístico: Tinham de ser Recolhidas Provisões (1:11)
A comida aqui recolhida fora tomada como espólio das suas conquistas ao longo do deserto. O maná ainda estava disponível, mas não era possível guardá-lo de um dia para o outro sem que se estragasse. Marchariam de Sitim até às margens do Jordão, um trajecto com apenas cerca de oito milhas (aproximadamente treze quilómetros); contudo, dado o número de pessoas e tudo o que estava envolvido, evidentemente não poderiam recolher o maná.
Analogia: O assunto aqui mencionado consiste no sustento que lhes permitisse atravessar e tomar posse das suas possessões, bem como lidar com as batalhas que enfrentariam, mediante fé no poder do Senhor. De modo similar, temos de ser nutridos pelas Palavras da fé, de forma a continuarmos a entrar nas nossas bênçãos em Cristo (compare com 1 Tim. 4:6 ss e Heb. 3:7-19).
Planeamento Estratégico: Um Lembrete de Responsabilidades (1:12-15)
Nos versículos 12-14, Josué recorda as tribos de Gad, Rúben e meia tribo de Manassés das suas promessas e responsabilidades (Núm. 32:16-32; Deut. 3:12-20). Vemos neste facto uma chave para o sucesso de Josué.
(1) Ele estava a obedecer à sua missão de “fazer conforme a toda a lei de Moisés”.
Ele lembrava-se e procurava viver segundo os princípios e promessas da Palavra. Compare com 1:13, “Lembrai-vos da palavra que vos mandou Moisés”. Esta tornara-se a Palavra para Israel.
(2) Ele relembrou a Palavra ao povo. A sua autoridade para o desafio frente às duas tribos e meia consistia na Palavra do Senhor.
“O que estimulou Josué a procurar a cooperação deles não foi prudência natural ou um espírito de conveniência.”4 Não se tratou apenas de procurar mais ajuda por os seus recursos serem insuficientes. Não consistiu em pedir isto como um favor para si mesmo. Não, o apelo e autoridade provieram das ordens factuais da Palavra de Deus. Os servos de Deus devem aprender a confiar no poder da Palavra quanto a motivar e servir outros e a realizar os propósitos de Deus.
Em princípio, porém, esta ordem de Moisés, aqui reiterada por Josué, promovia o conceito do povo de Deus como uma equipa. Ele delegava tarefas específicas para estas pessoas. Cada indivíduo era necessário, tendo de fazer a sua parte. Agiriam como tropas de choque, indo diante dos seus irmãos.
Existe ainda um outro factor. Nas palavras do versículo 13b, “O Senhor, vosso Deus, vos dá descanso, e vos dá esta terra”, seguidas das palavras do versículo 15, “até que o Senhor dê descanso aos vossos irmãos, como a vós, …”, Josué lembrava-lhes as suas obrigações face ao seu povo, colocando sobre eles uma obrigação adicional, baseada na gratidão por aquilo que Deus já fizera em seu favor.
A Resposta do Povo
(1:16-18)
16 Então responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer que nos enviares iremos. 17 Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti: tão somente que o Senhor, teu Deus, seja contigo, como foi com Moisés. 18 Todo o homem que for rebelde à tua boca, e não ouvir as tuas palavras, em tudo quanto lhe mandares, morrerá: tão somente esforça-te, e tem bom ânimo.
Em qualquer iniciativa bem-sucedida da parte do povo de Deus, é essencial que os líderes obtenham o apoio do povo a fim de que a obra avance. Poderíamos intitular esta secção de Encorajamento de Josué. Ele honrara a Palavra de Deus, e agora era Deus que honrava Josué, incitando o povo a responder-lhe. É tremendamente encorajador para os líderes e restantes pessoas quando o povo é responsivo à Palavra, mostrando obediência e compromisso. Pela mesma razão, pode ser desencorajador ver o contrário a acontecer. Em tempos assim, tanto os líderes como o povo devem continuar a confiar no Senhor, examinando os seus ministérios e procurando que o Senhor os estimule à obediência em vez de recorrerem a algum tipo de manipulação ou coacção.
O povo não só estava disposto a obedecer, como também se propunha a lidar com a desobediência que surgisse, devido ao efeito desmoralizador sobre os demais e à desonra que tal traria ao Senhor. Esta acção é sempre crucial para qualquer povo de Deus.
Aplicação: Esta secção ilustra a necessidade da aplicação cuidadosa e amorosa da disciplina eclesiástica no corpo. Tal nunca é fácil. Requer compromisso real, devendo sempre ser feito com vista à reconciliação e recuperação de um crente pecador.
A afirmação “tão somente que o Senhor, teu Deus, seja contigo, como foi com Moisés” pode ser interpretada de duas maneiras. É possível considerá-la uma condição, desejo ou súplica. Se interpretada como condição, as pessoas estavam a dizer que queriam evidência clara quanto a Josué ser guiado por Deus, constatando que ele era verdadeiramente o homem de Deus, caminhando com o Senhor. Se tomada enquanto súplica ou desejo, demonstra o reconhecimento do favor de Deus como necessário para alcançar o sucesso. Comprova o facto de que reconheciam ser insuficientes para a tarefa, mas que o Senhor era suficiente. Precisavam de um líder que estivesse em contacto com o Deus vivo.
Aplicação: Nisto constatamos a necessidade dos líderes espirituais serem exemplos para o rebanho (Heb. 13:7). As pessoas querem ver e precisam de realidade espiritual madura nos seus líderes. Foi por este motivo que Paulo encorajou Timóteo com as seguintes palavras:
1 Timóteo 4:11-16. Manda estas coisas e ensina-as. 12 Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. 13 Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. 14 Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. 15 Medita nestas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. 16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 J. Oswald Sanders, Spiritual Leadership, Moody Press, 1967, pp. 78-79.
2 O que se encontra descrito em 3:2 pode ser igual a 1:11 ou ter sucedido a esse acontecimento.
3 D.K. Campbell, Joshua: Leader Under Fire, Victor Books, Wheaton, 1981, p. 12.
4 Arthur Pink, Gleanings in Joshua, Moody Press, Chicago, 1964, p. 50.
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Lição 2: Preparação para a Entrada na Terra (Josué 2:1-24)
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Em termos humanos, quão difícil era a tarefa com que se confrontavam Josué e o povo, no que dizia respeito a entrar na terra de Canaã? Quais eram alguns dos obstáculos que Josué e o povo enfrentavam? Enquanto líder, Josué tinha de lidar com suceder a um líder como Moisés e liderar um grupo de pessoas teimosas e de cerviz endurecida. Todos juntos, enfrentavam cidades fortificadas, gigantes e um Jordão inundado. Tudo aquilo que Josué e o povo eram chamados a fazer, humanamente falando, estava muito além das suas capacidades - desde a travessia das águas transbordantes e turbulentas do Jordão até à conquista do povo feroz, poderoso e ímpio que ocupava a terra.
Independentemente destes obstáculos, acreditando nas promessas de Deus, aplicando os princípios da Palavra de Deus e contando com a presença da Sua pessoa, Josué seguiu corajosamente em frente, enviando em segredo dois homens para espiarem a terra, a fim de recolherem a necessária informação estratégica e táctica de que qualquer comandante militar precisaria com vista a planear uma estratégia bem-sucedida para tomar a terra.
Josué Envia os Espiões (2:1a)
1a E enviou Josué, filho de Nun, dois homens, desde Sitim, a espiar secretamente, dizendo: Andai e observai a terra, e a Jericó.
Poderíamos perguntar por que enviou Josué os espiões. Era isso necessário caso confiasse verdadeiramente no Senhor? Afinal de contas, não prometera Deus a Josué que lhe daria sucesso? Por que não se limitou a seguir em frente, sabendo que, de alguma forma, Deus providenciaria o que fosse necessário? De facto, a batalha era do Senhor… não era?
Para esta acção, Josué tinha como precedente a liderança e exemplo de Moisés – acção esta que resultava do próprio comando de Deus em Números 13:1-2. Por aplicação, Josué estava a viver e a agir segundo os preceitos da Escritura, conforme lhe fora ordenado em 1:7-8.
Embora Josué tivesse a promessa da salvação de Deus, não fora instruído quanto à forma como Deus derrotaria os inimigos que enfrentavam. À imagem de um líder militar prudente, limitava-se a recolher informação concernente à disposição das defesas inimigas, à condição da sua moral e a outros factores importantes em qualquer campanha militar. Além disso, não era suposto que presumisse do Senhor. Deveria confiar implicitamente no Senhor mas, em paralelo com tal confiança, cabia-lhe usar os recursos que Deus lhe dera: o trino, os homens e a sabedoria que fora adquirindo. Veja Mateus 4:6-7.
Princípio: A fé na provisão do Senhor não deverá nunca levar a presumir dos decretos ou acções soberanas de Deus, dos nossos sentimentos intuitivos ou das nossas vontades e desejos. A fé olha para os princípios aplicáveis da Escritura, recolhe a informação ou factos necessários para tomar decisões sensatas e, depois, baseando-se em princípios bíblicos e nos factos conhecidos, segue em frente, confiando na provisão e orientação do Senhor (compare com Lucas 14:31). Caso o Senhor deseje intervir de forma miraculosa como fez em Jericó, fantástico – mas não devemos presumir dos Seus caminhos soberanos.
Porquê o secretismo? Obviamente, os espiões deveriam introduzir-se na terra em segredo, tal como os espiões normalmente fazem. Aqui, a referência ao secretismo estava relacionada com o povo de Israel. Josué não informou as pessoas de que enviaria espiões. Neemias procedeu de modo similar quando inspeccionou Jerusalém. Josué estava a agir em nome dos propósitos de Deus e do melhor interesse do povo. Lembrava-se do malvado relatório dos espiões da geração precedente e da maneira como este desencorajara o povo. As pessoas são pessoas, e ele não pretendia que colocassem desnecessariamente os seus olhos sobre os problemas.
Princípio: Por vezes, é sensato da parte dos líderes fazerem o necessário de modo a manterem os olhos do seu povo fixos no Senhor e nas Suas promessas, em detrimento de nos problemas. A necessidade é de encorajamento mútuo. Em algumas circunstâncias, temos de enfrentar os problemas, mas devemos aprender a fazê-lo através dos olhos da fé na pessoa, promessas, princípios e propósitos de Deus. Este era um assunto de discrição e de orientação de Deus mediante estudo e conhecimento do que seria melhor nesta situação particular. Por vezes é bom chamar a atenção de todos para os problemas, outras vezes não é (compare com Neemias 2:4-17).
Repare que o texto diz “e a Jericó”, o que nos mostra que Josué estava particularmente interessado nesta cidade. Porquê? Jericó ficava a apenas cinco milhas (cerca de oito quilómetros) do outro lado do Jordão, e era uma das fortalezas mais formidáveis da terra. Conquistar esta cidade não só lhes daria uma base forte na terra, como também fragmentaria literalmente as forças dos cananeus – ao irromperem pelo meio de Canaã, os israelitas levantariam obstáculos às suas linhas de comunicação e abastecimento. Tal providenciaria um efeito desmoralizador adicional sobre os restantes habitantes.
Princípio: Novamente, isto ilustra a forma como, após orarmos por sabedoria (Tiago 1:5), termos de inspeccionar e avaliar as nossas próprias circunstâncias: onde estamos, para onde precisamos de ir, o chamamento de Deus nas nossas vidas, os nossos dons e talentos, as nossas fraquezas, impedimentos e as situações e forças que enfrentamos. Depois, com base nessa informação, estabelecemos planos, metas e objectivos, em paralelo com prioridades, e atacamos o problema em concordância, enquanto confiamos na intervenção e direcção de Deus (veja Provérbios 16:1 ss). Comece pelas coisas mais importantes e trabalhe nelas uma a uma. Tal inclui a nossa vida pessoal (necessidades espirituais, físicas e educacionais), vida familiar (relações, necessidades espirituais em família, etc.), vida eclesiástica, vocação pessoal e assim por diante.
Os Espiões Recebidos por Raab (2:1b)
1b Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raab, e dormiram ali.
Raab é mencionada oito vezes na Escritura (Josué 2:1, 3; 6:17, 23, 25; Mat. 1:5; Hebreus 11:31; Tiago 2:25); em seis dessas ocorrências, o seu nome é acompanhado por um substantivo descritivo específico. Sabe qual é? É “meretriz”. Por que iriam os homens ter com uma meretriz? Poderemos aprender alguma coisa deste acontecimento?
Tal facto tem criado problemas a muitos. De forma a remover tal este estigma – afinal, o nome dela aparece listado entre os antepassados do Salvador em Mateus 1:5 -, já foi mesmo argumentado que não seria uma meretriz, mas somente uma “estalajadeira”.
Um expositor, Pink, admite que ela tenha sido uma meretriz, mas é evidente que isso o incomoda. Ele disse: “Foram divinamente guiados até àquela casa em particular, embora não seja provável que no início estivessem pessoalmente conscientes desse facto”. Algumas linhas à frente, acrescenta: “A casa na qual se haviam abrigado pertencia a uma meretriz, de nome Raab: ainda que já não praticasse o seu negócio malvado, fora anteriormente uma mulher de má fama, estigma que ainda a perseguia”. 1
A menos que Pink assuma de 2:9 ss que a declaração de fé de Raab abrangia a compreensão da Lei e respectivos estatutos, não vejo suporte bíblico para esse argumento, mas apenas um preconceito quanto à possibilidade de Deus usar uma mulher assim e de a trazer até Si enquanto ainda trabalhava como meretriz. É quase como se ela tivesse de limpar o seu acto antes de poder ser salva ou de Deus conseguir operar no seu coração.
Josefo (Antiguidades dos Judeus, livro V, capítulo 1, 2) procurou ilibar os espiões de qualquer suspeita de ficarem na casa de uma prostituta, chamando a Raab “estalajadeira” (compare com a nota de margem na Nova Versão Internacional). Contudo, “estalajadeira” e prostituta” eram sinónimos naquela cultura (compare com o Theological Wordbook of Old Testament, p. 246). A casa de Raab era o único lugar onde os homens poderiam ficar com alguma esperança de permanecerem indetectáveis e onde lhes seria possível recolher a informação que procuravam. Para além disso, a casa dela providenciava uma forma fácil de fuga, já que se localizava no muro da cidade (v. 15). Não há indicação de que Raab fosse uma prostituta do templo. 2
Provavelmente, os dois espiões conheceram-na na mesma rua onde talvez praticasse o seu ofício; ou quiçá, ouvindo falar deles, estivesse à sua procura fingindo angariar clientes, de acordo com o costume de uma meretriz ou mesmo de uma estalajadeira (compare com Provérbios 7:6-23). Por esta altura, ela começara a crer que o Deus de Israel era o verdadeiro Deus; porém, ao viver nesta cultura totalmente decadente, é improvável que conhecesse bem a Lei de Moisés.
Raab poderá ter identificado os homens como forasteiros e, por causa do estado de alerta de toda a cidade – motivado pela possibilidade de espiões -, bem como das suas convicções acerca do Deus de Israel, terá concluído que eram israelitas, convidando-os para sua casa, por motivos de protecção e expressão da sua fé, mas não de negócio.
Esta ocorrência ilustra maravilhosamente a graça de Deus. Ele não faz distinção de pessoas. Aceita-nos e perdoa-nos, não por causa do que somos ou do que poderemos ser, mas sim pelo Seu Filho, por causa do que Ele faria e que agora faz e fará através daqueles que confiam n’Ele e agem na fé. Não importa o que fomos ou costumávamos ser. O que interessa é Jesus Cristo, o que Ele fez, e se vamos ou não colocar n’Ele a nossa confiança.
Isto também aponta para o controlo soberano de Deus sobre os assuntos dos homens e para a forma como dirige os passos dos que confiam na Sua provisão ou procuram conhecê-Lo melhor. Deus actuara no coração de Raab; conhecia a sua fé, a sua ânsia quanto a conhecê-Lo e quiçá tornar-se parte do Seu povo; por isso, Deus operou soberanamente, juntando os espiões e Raab para protecção dos primeiros e bênção da segunda.
Deus poderia ter tornado os espiões invisíveis, ferido as pessoas com cegueira ou recorrido a anjos, mas escolheu antes usar dois homens e uma mulher, caminhando pela fé com coragem para agirem segundo as suas convicções – Ele optou por utilizar as circunstâncias mais normais da vida.
Princípio: De modo a confiarmos no Senhor, estaremos nós
à procura de milagres, do sensacional, pedindo experiências fora do normal antes de sairmos e confiarmos n’Ele? Ou estaremos dispostos a sair rumo às situações normais da vida, confiando em Deus para que nos use e dirija às pessoas comuns cujos corações tocou?
Repare que Josué é uma combinação interessante entre o miraculoso e o comum.
O Rei É Informado e Questiona Sobre os Espiões
(2:2-3)
2 Então deu-se notícia ao rei de Jericó, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens dos filhos de Israel, para espiar a terra. 3 Pelo que enviou o rei de Jericó a Raab, dizendo: Tira fora os homens que vieram a ti, e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra.
Estes versículos indicam que toda a cidade se encontrava em alerta, tendo os espiões sido reconhecidos e vistos a entrar na casa de Raab. O facto de o rei não se ter limitado a derrubar a porta e a invadir a casa poderá ter sido uma questão de hospitalidade oriental. Mesmo nesta cidade decadente, havia um grande respeito pela hospitalidade. De facto, Unger diz: “O costume oriental concede um respeito quase supersticioso aos aposentos de uma mulher”. 3
O rei terá assumido que os espiões estavam com Raab. Tal como nos tempos modernos, na antiguidade as prostitutas estavam frequentemente envolvidas em actividades secretas. O rei esperava que Raab cumprisse o seu dever patriótico e entregasse os espiões. O antigo código penal de Hamurabi contém a seguinte provisão: “Se conspiradores se encontrarem na casa de um dono de taberna, e estes conspiradores não forem capturados e levados à corte, o dono da taberna deverá ser condenado à morte” (S.R. Driver e J.C. Miles, The Babylonian Laws [Oxford: Clarendon, 1956], 2:45).4
Raab Mente e Esconde os Espiões
(2:4-7)
4 Porém, aquela mulher tomou a ambos aqueles homens, e os escondeu, e disse: É verdade que vieram homens a mim, porém eu não sabia donde eram. 5 E aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram: não sei para onde aqueles homens se foram: ide após eles, depressa, porque vós os alcançareis. 6 Porém ela os tinha feito subir ao telhado, e os tinha escondido entre as canas do linho, que pusera em ordem sobre o telhado.7 E foram-se aqueles homens após eles, pelo caminho do Jordão, até aos vaus: e fechou-se a porta, havendo saído os que iam após eles.
Nestes versículos, Raab esconde os espiões, mente no intuito de proteger os soldados e envia os oficiais do rei numa busca vã. Uma vez que agir de outro modo era um acto de traição punível com a morte, o rei acreditou na sua lealdade e não ordenou que a sua casa fosse revistada.
Neste ponto, seria útil focar dois versículos no Novo Testamento e um no Antigo:
Hebreus 11:31 Pela fé, Raab, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.
Tiago 2:25 E, de igual modo, Raab, a meretriz, não foi, também, justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?
Josué 6:17 Porém, a cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela: somente a prostituta Raab viverá, ela e todos os que com ela estiverem em casa; porquanto escondeu os mensageiros que enviámos.
Por que é que Raab foi salva? Porque acreditava no Deus de Israel. Esconder os mensageiros foi uma manifestação da sua fé. Tratou-se de uma ilusão calculada a fim de os proteger, à semelhança de muitas pessoas piedosas que esconderam judeus em países europeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Primeiramente, o que Raab fez foi uma questão de fé. Ela passara a crer que o Deus de Israel era verdadeiramente “Deus em cima nos céus e em baixo na terra” (2:11), pertencendo ao Hall da Fama no capítulo da fé.
Em segundo lugar, a fé de Raab, que lhe deu convicções fortes a respeito de Deus, levou-a a agir segundo a sua fé a ponto de colocar em jogo a sua própria vida. Ela sabia que Israel atacaria eventualmente a cidade, uma vez que o seu Deus era o Deus verdadeiro, e desejava ser salva e tornar-se parte da nação. Não sabia muito sobre o Deus de Israel, as Suas leis de justiça ou o caminho da salvação, mas estava ciente de que Ele era o Deus supremo.
E quanto à mentira de Raab? Seria justificável? Será que a Escritura a perdoa? A maioria dos comentadores aprova a sua fé, mas desaprova a sua mentira. No fundo, aprovam que tenha escondido os espiões, mas não que contasse mentiras. Por exemplo:
O Dr. Campbell escreve: “Desculpar Raab por ceder a uma prática comum é perdoar o que Deus condena… A mentira de Raab foi registada, mas não aprovada. A Bíblia aprova a sua fé, demonstrada através de boas obras, mas não a sua falsidade.” 5
O Dr. Unger escreve: “É óbvio que a mentira de Raab era moralmente incorrecta.” 6
Pink concorda e diz: “Ela falhou quanto a confiar plenamente no Senhor, e o temor do homem trouxe uma armadilha. Aquele cujos anjos feriram os homens de Sodoma com cegueira (Gén. 19:11) e que matara os cinquenta homens enviados para prenderem o Seu profeta (2 Reis 1:9-12) poderia ter evitado que os oficiais encontrassem os espiões.” 7
Mas estará isto correcto? O que era suposto que ela dissesse? “Se acham que eles estão aqui, entrem e revistem a casa.” Note, por favor, que se tratava de uma questão de guerra.
Em 6:17, Josué explicou que Raab foi poupada por ter escondido os espiões, agindo como aliada. Sejamos honestos. Quando vai de férias, deixa uma luz acesa ou programa a sua televisão para ligar à noite, a fim de dar a impressão de estar em casa quando, na verdade, não está? Fazemos isto de modo a enganar os intrusos, embora não seja verdade.
Repare no que diz o Expositors Bible Commentary (Comentário Bíblico Expositors): “Raab mentiu tanto no que fez quanto no que disse. A ilusão era uma importante estratégia de guerra. A espionagem seria impossível sem tal elemento. Ao esconder os espiões, Raab aliou-se a Israel contra o seu próprio povo. Foi um acto de traição!” 8
Em preparação para o Dia D na Segunda Guerra Mundial, deixamos propositadamente os alemães acreditarem que íamos invadir a França em Calais, creio, quando a nossa intenção consistia em invadir as praias de Omaha e Utah em Cherbourg, França.
A Declaração de Fé de Raab
(2:8-13)
8 E, antes que eles dormissem, ela subiu a eles sobre o telhado; 9 E disse aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados diante de vós. 10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egipto, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Séon e a Og, que estavam dalém do Jordão, os quais destruístes. 11 Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença, porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra. 12 Agora, pois, jurai-me, vos peço, pelo Senhor, pois que vos fiz beneficência, que vós, também, fareis beneficência à casa do meu pai, e dai-me um sinal certo, 13 De que dareis a vida ao meu pai e à minha mãe, como também aos meus irmãos e às minhas irmãs, com tudo o que têm, e que livrareis as nossas vidas da morte.
Primeiramente, vemos a confiança e convicção de Raab quanto ao poder do Senhor. De alguma forma, sabia do que havia ocorrido no Mar Vermelho e mais tarde, bem como que tal resultara do poder soberano do Deus de Israel. O que dividira o Mar Vermelho não fora meramente produto do engenho de Israel ou algum capricho da natureza.
Aplicação: Isto recorda-nos que as nossas vidas não devem limitar-se a ser diferentes; deve existir algo nelas que aponte para Deus como a razão pela qual são distintas nas coisas que fazemos e dizemos – tais como ir à igreja, a nossa preocupação com outras pessoas e suas necessidades e o nosso testemunho específico, que confere um motivo para a esperança dentro de nós (1 Pedro 3:15-16).
Em segundo lugar, vemos a confiança e convicção de Raab no Deus de Israel (Javé) como o único Deus verdadeiro, que reina sobre o céu e sobre os assuntos dos homens na terra. A sua declaração no versículo 11 – “…porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra” – é mais do que a constatação de que o Deus de Israel fosse uma divindade. A ideia é de que Ele – e apenas Ele – É o Deus verdadeiro, envolvido nos assuntos da terra e dos homens.
Aplicação: Tal recorda-nos o envolvimento de Deus nas nossas vidas. Ele É o Deus soberano que mantém unidas todas as coisas pela palavra do Seu poder, que actua nas nossas vidas. Será que vivemos à luz deste facto?
Terceiro, vemos a confiança e convicção de Raab quanto ao julgamento iminente do seu povo e ao seu desejo de ser salva, aliando-se ao Deus de Israel (vs. 13). Repare em “Agora, pois…”, que indica que este pedido resultou do seu conhecimento, convicção e fé relativamente ao Senhor.
Em quarto lugar, vemos nos versículos 12-13 que não estava somente preocupada consigo mesma. A sua preocupação incluía a sua família ou agregado familiar. Este é o plano número um de Deus para o evangelismo – a nossa rede familiar, de amigos e colegas de trabalho.
Aplicação: Quão preocupados e focados estamos naqueles que nos rodeiam – orando pela salvação, procurando conhecê-los e amá-los e, eventualmente, partilhando o amor de Cristo?
Os habitantes da terra encontravam-se aterrorizados. Três vezes neste capítulo, o verbo “desmaiar” é usado para descrever o estado emocional ou a moral das pessoas (vss. 9, 11, 24). Mental e emocionalmente, eram um povo vencido. Deus já entregara nas mãos de Israel o povo de Jericó. Há quanto tempo seria este o caso? Desde que haviam ouvido falar dos eventos no Mar Vermelho (2:9-11).
A questão que se coloca é a seguinte: teria Israel conhecimento disto? Com a excepção de Moisés, Josué e Caleb, os israelitas recusaram acreditar na promessa de Deus; em vez disso, permitiram que o relatório negativo dos dez espiões fizesse desmaiar os seus corações, pois focavam os problemas em detrimento do seu Deus.
Repare na ironia aqui presente: os nativos contemplavam o Deus de Israel e tremiam nas sandálias. Já os israelitas, que tinham testemunhado as obras poderosas de Deus vez após vez, olhavam para os seus problemas em lugar de para Deus, estando aterrorizados na descrença.
Atente nas passagens seguintes:
25 Depois, voltaram de espiar a terra, ao fim de quarenta dias. 26 E caminharam, e vieram a Moisés e a Aarão, e a toda a congregação dos filhos de Israel, no deserto de Paran, a Cades, e, tornando, deram-lhes conta a eles, e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra. 27 E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o fruto. 28 O povo, porém, que habita nessa terra, é poderoso, e as cidades fortes e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Enac. Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam ao pé do mar, e pela ribeira do Jordão. (Números 13:25-29).
26 Porém, vós não quisestes subir; mas fostes rebeldes ao mandado do Senhor, nosso Deus. 27 E murmurastes nas vossas tendas, e dissestes: Porquanto o Senhor nos aborrece, nos tirou da terra do Egito, para nos entregar nas mãos dos amorreus, para destruir-nos. 28 Para onde subiremos? nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração, dizendo: Maior e mais alto é este povo do que nós; as cidades são grandes e fortificadas até aos céus; e também vimos ali filhos dos gigantes. 29 Então eu vos disse: Não vos espanteis, nem os temais. 30 O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, ele por vós pelejará, conforme a tudo o que fez convosco, diante dos vossos olhos, no Egipto; 31 Como, também, no deserto, onde viste que o Senhor, teu Deus, nele te levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar. 32 Mas nem por isso crestes ao Senhor, vosso Deus, …” (Deuteronómio 1:26-32).
Aplicação: Quão similar a nós é a situação descrita! Independentemente de tudo, quer se trate da picada de um mosquito ou do ataque de um leão, temos de aprender a manter os nossos olhos no Senhor e longe do problema (veja Hebreus 12:1-2).
A Resposta dos Espiões (2:14)
14 Então aqueles homens responderam-lhe: A nossa vida responderá pela vossa, até ao ponto de morrer, se não denunciardes este nosso negócio, e será pois que, dando-nos o Senhor esta terra, usaremos contigo de beneficência e de fidelidade.
Manter-se calada a respeito da sua presença e recusar-se a prestar informação sobre eles seria uma prova da sua fé no Senhor e da boa vontade relativamente ao povo de Deus (compare com Mateus 25:24 ss).
O Cordão de Escarlata
(2:15-21)
15 Ela então os fez descer por uma corda, pela janela, porquanto a sua casa estava sobre o muro da cidade, e ela morava sobre o muro. 16 E disse-lhes: Ide-vos ao monte, para que, porventura, vos não encontrem os perseguidores, e escondei-vos lá três dias, até que voltem os perseguidores, e depois, ide pelo vosso caminho. 17 E disseram-lhe aqueles homens: Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar. 18 Eis que, vindo nós à terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa, contigo, o teu pai, e a tua mãe, e os teus irmãos, e a toda a família do teu pai. 19 Será, pois, que, qualquer que sair fora da porta da tua casa, o seu sangue será sobre a sua cabeça, e nós seremos sem culpa; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se nele se puser mão. 20 Porém, se tu denunciares este nosso negócio, seremos desobrigados do teu juramento, que nos fizeste jurar. 21 E ela disse: Conforme às vossas palavras, assim seja. Então os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela.
Mesmo antes de partirem, os espiões confirmaram o seu acordo com Raab: primeiramente, a sua casa deveria estar identificada com um cordão de escarlata pendurado da janela. Em segundo lugar, ela e a sua família teriam de permanecer dentro da casa durante o ataque à cidade. Por último, os espiões deixaram claro que ficariam livres do juramento de protecção para com Raab caso a mesma denunciasse a sua missão.
Esta história é muito parecida com a salvação experienciada no decurso da última praga que Deus trouxe sobre o Faraó e o Egipto, ao matar o primogénito de cada lar, mas poupando os israelitas graças ao sangue do cordeiro Pascal, com o qual os dois umbrais e o lintel das suas casas haviam sido borrifados. Embora não tenha sido identificado como tal, é provável que o cordão de escarlata fosse uma imagem de Cristo.
Nos dias de Noé, havia segurança e abrigo para aqueles que entravam pela porta da arca. No Egipto, a segurança e o abrigo eram obtidos por aqueles que se reuniam atrás das portas aspergidas com o sangue do cordeiro Pascal. Para mim e para si, também há segurança e abrigo do julgamento eterno – mas apenas se entrarmos pela porta certa: Jesus Cristo. Como Ele disse em João 10:9, “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, salvar-se-á.”
George Whitefield, o eloquente pregador do Grande Despertar na América do Norte (1738-40), discursou uma vez sobre o texto “A Porta Estava Fechada”. Encontravam-se na congregação dois jovens arrogantes e desrespeitosos e, por acaso, um foi ouvido a dizer ao outro, em tom zombeteiro: “E se a porta estiver fechada? Outra será aberta.”
Mais adiante no sermão, o evangelista disse: “É possível que esteja aqui alguém descuidado e presumido, que diz ‘Que importa que a porta esteja fechada? Outra será aberta!’.”
Os dois jovens entreolharam-se, alarmados!
“Sim, outra porta será aberta”, concluiu Whitefield. “Será a porta da cova sem fundo – a entrada para o Inferno.” 9
O Retorno e Relatório dos Espiões(2:22-24)
22 Foram-se, pois, e chegaram ao monte, e ficaram ali três dias, até que voltaram os perseguidores, porque os perseguidores os buscaram por todo o caminho, porém não os acharam. 23 Assim, aqueles dois homens voltaram, e desceram do monte, e passaram, e vieram a Josué, filho de Nun, e contaram-lhe tudo quanto lhes acontecera; 24 E disseram a Josué: Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão desmaiados diante de nós.
Josué e os homens de Israel viram nas palavras e acções de Raab uma evidência clara da providência soberana e bênção do Senhor. Repare na confiança deles: “Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, …”. Existem nesta passagem algumas lições óbvias:
(1) Demonstra a preocupação e obra de Deus para salvar uma pessoa ou família que confie n’Ele (compare com 2 Pedro 3:9). Lembra-nos que Deus conhece os corações dos homens e nos conduzirá a eles se estivermos disponíveis. Também nos ensina que a obra de Deus deve ter lugar em ambos os extremos.
(2) Demonstra a protecção e provisão de Deus em favor dos Seus servos, capacitando-os a cumprir a sua vocação e objectivo independentemente das circunstâncias. A única coisa capaz de nos impedir de realizar a vontade de Deus e de cumprir o nosso chamamento é a nossa própria descrença.
(3) Demonstra a forma como a nossa fé deve levar à acção e ministério em benefício de outros. Raab disponibilizou-se a ajudar quer os espiões, quer a própria família (João 1:35-51; 4:28-29, 39).
(4) Demonstra como a misericórdia e graça de Deus ultrapassam a Sua ira através da cruz. Raab era Amorita e, de acordo com a lei de Moisés, não poderia haver piedade nem alianças com os nativos – apenas julgamento (compare com Deut. 7:2). Através da sua fé genuína, tornou-se uma excepção.
(5) Raab constitui um tipo e testemunho do propósito de Deus quanto a salvar os gentios que, embora sem esperança no mundo (Efésios 2:12), podiam aproximar-se de Deus e serem participantes com Israel, mediante a fé em Cristo.
(6) Raab providencia uma lição ao contrastar notavelmente com Israel e demais habitantes de Jericó. Isso transforma-se num aviso contra o endurecimento do coração naqueles que vêem e ouvem, mas falham no que toca a responder pela fé. Escutar não é suficiente. Repare na aplicabilidade deste conceito:
Relativamente a Israel:
1 Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás; 2 Porque, também, a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram. (Heb 4:1-2).
Relativamente a Jericó:
9 E disse aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados diante de vós. 10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egipto, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Séon e a Og, que estavam dalém do Jordão, os quais destruístes. 11 Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença, porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e em baixo na terra. (Josué 2:9-11).
Relativamente aos discípulos:
52 Pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido. (Marcos 6:52).
Relativamente a nós:
7 Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes, hoje, a sua voz, 8 Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto, 9 Onde os vossos pais me tentaram, me provaram, e viram, por quarenta anos, as minhas obras. 10 Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Estes sempre erram em seu coração, e não conheceram os meus caminhos. 11 Assim jurei, na minha ira, que não entrarão no meu repouso. (Hebreus 3:7-11).
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 Arthur Pink, Gleanings in Joshua, Moody Press, Chicago, 1964, p. 54.
2 Frank E. Gaebelein, General Editor, The Expositor's Bible Commentary, New Testament, Zondervan, Grand Rapids, 1976-1992, versão electrónica.
3 Unger’s Commentary on the Old Testament. Vol I, Génesis –Cantares de Salomão, p. 285.
4 Expositors Bible Commentary, electronic version.
5 Joshua, Leader Under Fire, Donald Campbell, p. 19-20.
6 Unger’s Commentary on the Old Testament, p. 285.
7 Pink, p. 59.
8 Expositors Bible Commentary, versão electrónica.
9 Donald K. Campbell com Jim Denney, No Time For Neutrality, A Study of Joshua, Discovery House, 1994, p. 36.
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Lição 3: A Travessia do Jordão (Josué 3:1-4:24))
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É capaz de pensar no seu passado e lembrar-se de um dia pelo qual tenha esperado bastante tempo com grande antecipação e entusiasmo? Enquanto crianças, o Natal e os aniversários eram dias assim. Mais tarde, talvez pensasse no dia da formatura, do seu casamento ou quiçá no momento da conquista do direito a disputar alguma competição importante, como os Jogos Olímpicos.
Dependendo da natureza do dia e do que pudesse implicar, tal momento traria também uma certa ansiedade, dado o desafio a ser enfrentado. Esperou meses, semanas e dias, até que, finalmente, esse dia chegou. Consegue imaginar a antecipação e entusiasmo com que o povo de Israel lidava diante do Rio Jordão, na noite anterior à sua travessia em direcção à terra?
A geração anterior não pudera entrar devido a descrença, e a nova geração aguardara muito tempo - quase quarenta anos para alguns. Com cerca de 80 anos de idade, Josué e Caleb haviam esperado ainda mais. De acordo com a promessa feita aos Patriarcas, a antecipação judaica remontava a quinhentos anos atrás. Porém, Josué diz ao povo neste momento: “Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós” (3:5).
Contudo, não obstante o entusiasmo, haveria decerto alguma ansiedade ao contemplarem o rio transbordante, pensando nas cidades fortificadas que se erguiam na outra margem. A vida é assim mesmo. Frequentemente, com as nossas esperanças no seu auge, existem desafios e problemas que enfrentamos em simultâneo.
Depois de escutarem uma mensagem numa conferência bíblica sobre como lidar com o desânimo, três pessoas procuraram o orador: uma jovem mãe, que não dormira na noite anterior por o seu marido ter chegado a casa às 22 horas e 30, anunciando-lhe que queria divorciar-se; um pastor, cuja filha adolescente estava a rebelar-se contra Deus; e uma trabalhadora cristã, cujo marido dera entrada no hospital para tratamento a um tumor cerebral.
Um pastor declarou: “O problema é que enfrentamos dificuldades que nós não conseguimos resolver: este cliente que tenho de atender, este exame que tenho de fazer, esta dívida que tenho de pagar, estes parentes que tenho de suportar, este vício que tenho de deixar, este casamento que tenho de salvar.” 1
Mas assim é viver num mundo decadente. A par das nossas esperanças e alegrias, surgem problemas para os quais não dispomos nem da força, nem da sabedoria necessárias. Precisamos da força que vem de cima. A batalha é realmente do Senhor, e era isto que estava a ser ensinado a Israel neste capítulo. Donald Campbell intitula o capítulo 3 de “Passando a Vau Rios Intransponíveis”.
As Necessárias Provisões para a Travessia (3:1-6)
1 Levantou-se, pois, Josué de madrugada, e partiram de Sitim, e vieram até ao Jordão, ele e todos os filhos de Israel; e pousaram ali, antes que passassem. 2 E sucedeu, ao fim de três dias, que os príncipes passaram pelo meio do arraial; 3 E ordenaram ao povo, dizendo: Quando virdes a arca do concerto do Senhor, vosso Deus, e que os sacerdotes, levitas, a levam, parti vós, também, do vosso lugar, e segui-a. 4 Haja, contudo, distância entre vós e ela, como da medida de dois mil côvados; e não vos chegueis a ela, para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir; porquanto por este caminho nunca passastes antes.
5 Disse Josué, também, ao povo: Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós. 6 E falou Josué aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca do concerto e passai adiante deste povo. Levantaram, pois, a arca do concerto, e foram andando, adiante do povo.
O Lugar Preeminente da Arca (vss. 1–4)
Para além da forma miraculosa como o rio Jordão foi atravessado, o aspecto mais importante deste capítulo é a Arca da Aliança. A sua proeminência é realçada pelo número de vezes em que é mencionada ao longo dos capítulos 3 e 4 (nove vezes no capítulo 3 e sete vezes no capítulo 4), bem como pela natureza das ordens e declarações dadas a seu respeito.
O que há de tão importante acerca da Arca? Representava a pessoa e promessas de Deus. Apontava para o facto de que, ao sair para atravessar o Jordão, invadir e possuir a terra, o povo de Israel não deveria basear-se na sua própria força, mas sim na de Deus, já que Ele mesmo seguia diante deles como fonte de vitória.
Este é o caso com tudo na vida. Tal como Paulo clamou ao contemplar os desafios e provações do ministério, “E, para estas coisas, quem é idóneo?”. Mas em seguida respondeu à sua própria questão com estas palavras: “E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus” (2 Cor. 3:4-5).
O Povo Consagrado (vss. 5-6)
No versículo 5, Josué ordena às pessoas que se santifiquem, em concordância com as maravilhas que Deus realizaria entre elas no dia seguinte. Mas o que significa a palavra “santificar”? Não é exactamente o que esperaríamos de um ponto de vista militar. O líder militar actual diria: “Afiai as vossas espadas e lanças, e poli os vossos escudos!”. Porém, os caminhos de Deus não são os nossos. Para o povo de Deus, a preparação espiritual é o elemento vital, ao estar justamente relacionada com Deus e ao trazer o Seu poder para as nossas obras e ministério.
“Santificar” corresponde ao hebraico qadash, podendo significar “ser santificado, posto à parte, consagrado” ou “consagrar, pôr à parte, preparar, dedicar”. Mas aqui aparece no seu radical reflexivo hithpael, que significa “consagrai-vos, ponde-vos à parte, preparai-vos”. Este radical assinala a nossa responsabilidade pessoal.
No Antigo Testamento, esta palavra é frequentemente usada (em particular em Êxodo e Levítico) em associação com os sacrifícios, sacerdócio e abluções do Antigo Testamento, e ainda relativamente aos filhos de Israel enquanto povo de Deus. A este respeito, era especialmente utilizada em ligação com a confissão ou a purificação mediante o uso dos sacrifícios, abluções e oblações do Antigo Testamento (Êx. 19:10, 22; 40:13). Retrata a necessidade de lidar com o pecado na vida. Aplicava-se quanto a reservar alguma coisa para uso do Senhor e Seus propósito, no sentido de a purificar, preparar e dedicar ao Senhor (por exemplo, a santificação do Monte Sinai (Êx. 19:22); a preparação de Aarão através das vestes sacerdotais e a unção para o ministério (Êx. 28:3, 41); colocar à parte para o uso de Deus através do sacrifício e unção (Êx. 29:1, 36, 37; 29:44; 40:13)).
Aplicação: Repare em Josué 3:5b: “porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós”. Quando existe uma falta de santificação através da confissão para profanação do pecado, a par com o compromisso relativo ao propósito de Deus para as nossas vidas no serviço ou ministério, criamos obstáculos ao poder de Deus. Mas há mais neste chamamento à santificação. “O povo de Israel deveria esperar que Deus operasse um milagre. Deveriam estar ansiosos, tomados por uma noção de maravilha. Israel não poderia perder de vista o seu Deus, capaz de fazer o incrível e humanamente impossível.”2
Duas ideias-chave estão envolvidas - Preparação e Dedicação:
(1) Lembra-nos da santidade de Deus. Deus É santidade absoluta, completamente afastado do pecado. Ele É um Deus santo, que não pode estabelecer amizade com um homem pecaminoso ou admitir o pecado na Sua presença sem uma solução para o problema do pecado.
(1) Mostra a necessidade de sacrifício pelo pecado, ou a cruz de Cristo. Sem fé na cruz e sua purificação, nenhum homem pode ser colocado à parte para uso ou bênção de Deus.
(2) Deus não utiliza instrumentos contaminados. Para os crentes, salvos e purificados pela obra de Cristo, esta ordem de santificação demonstra a necessidade de purificação através da confissão ou de estarmos bem com Deus e os homens, de modo a sermos usados por Deus e experienciarmos a Sua salvação. A fim de experimentarmos o poder, protecção e salvação de Deus, precisamos de preparar o nosso coração e lidar com o pecado conhecido nas nossas vidas mediante a confissão (compare Josué 7:13 com Êx. 19:10, 22).
(4) Mantendo em mente a ideia de dedicação associada a esta palavra, a ordem recorda-nos da necessidade de compreender o nosso propósito enquanto povo de Deus, a par com o compromisso relativamente a Deus e Sua vontade. Significava que deveriam pôr-se à parte para Yahweh de modo a atravessarem o Jordão e poderem entrar na terra, derrotar os inimigos e tornarem-se um testemunho para as nações (Êx. 19:4‑6).
(5) A ordem, especialmente à luz da teologia do Novo Testamento, sugere a necessidade da intervenção do Espírito Santo e Seu controlo para uma vida santificada. Esta ordem sugere isto devido à prevalência da unção mencionada em associação com a santificação dos sacerdotes, etc. (compare também com Êx. 40). Realça a necessidade de preenchimento pelo Espírito Santo enquanto agente habilitador de Deus para lidar com as forças organizadas contra nós - a carne, o diabo e o mundo (Actos 1:8; Efésios. 3:16; 5:18; Gál. 5:16 ss e 6:1).
A Promessa da Passagem pelo Jordão (3:7–13)
7 E o Senhor disse a Josué: Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que, assim como fui com Moisés, assim serei contigo. 8 Tu, pois, ordenarás aos sacerdotes que levam a arca do concerto, dizendo: Quando vierdes até à borda das águas do Jordão, parareis no Jordão. 9 Então disse Josué aos filhos de Israel: Chegai-vos para cá e ouvi as palavras do Senhor, vosso Deus.10 Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós; e que de todo lançará de diante de vós aos cananeus, e aos heteus, e aos heveus, e aos pereseus, e aos girgaseus, e aos amorreus, e aos jebuseus. Eis que a arca do concerto do Senhor de toda a terra passa o Jordão diante de vós. 12 Tomai, pois, agora, doze homens, das tribos de Israel, de cada tribo um homem; 13 Porque há-de acontecer que, assim que as plantas dos pés dos sacerdotes que levam a arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, repousem nas águas do Jordão, se separarão as águas do Jordão, e as águas que de cima descem pararão num montão.
No fundo, estes versículos reforçam o conceito da graça. Mostram que atravessar o Jordão e despojar os inimigos (bem como todos os aspectos da nossa salvação e santificação) são obra de Deus. As coisas que fazemos na santificação não são actos de justiça merecedores do favor de Deus ou que derrotam os inimigos. Em vez disso, actos de santificação, como a confissão, removem as barreiras ao poder e amizade de Deus, preparando os nossos corações para receberem a Sua graça; edificam a nossa fé, de modo a colocarmos os pés na água, atravessarmos e avançarmos contra o inimigo.
A Promessa a Josué (vs. 7)
Para serem eficazes, os líderes precisam das referências certas: treino bíblico sólido sob homens de Deus, que verdadeiramente conhecem Deus e a Sua palavra; e a mão de Deus, presente de modo óbvio na vida do líder. Assim, estava na hora de Deus estabelecer Josué como Seu representante para guiar a nação.
Atente a Josué 4:14. É significante ter sido Deus a realizar a exaltação. A nossa tendência é exaltarmo-nos a nós mesmos; porém Josué, referindo-se à mensagem de Deus, nada disse acerca desta promessa de exaltação. Em lugar disso, ao mencionar as palavras de Deus concernentes a Israel, focou a atenção das pessoas no facto de que era o Deus vivo quem estava entre elas, e que apenas Ele despojaria os inimigos da terra (vs. 10).
As Ordens para os Sacerdotes (vs. 8)
Dado serem os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança, e uma vez que a mesma representava a pessoa e poder de Deus, transportariam sozinhos a Arca até à borda do rio, mantendo-se quietos dentro de água. O que retiramos daqui? Somos lembrados do nosso papel no plano de Deus. Devemos aprender a caminhar na fé e obediência aos princípios e promessas da Escritura. O sucedido recorda-nos da necessidade de confiarmos nas promessas de Deus. Não era suposto que entrassem nas águas a correr. Trata-se de uma passagem idêntica às palavras de Moisés em Êxodo 14:13-14, quando os israelitas se encontravam cercados, tendo à sua frente o Mar Vermelho e atrás de si o Faraó e suas carruagens.
Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos3 e vede o livramento (hebraico, yeshu‚àa‚) do Senhor, que hoje vos fará: porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis, para sempre: O Senhor pelejará por vós, e vos calareis. (Êxodo 14:13-14).
Sou recordado de Isaías 30:15: “Porque, assim diz o Senhor Jeová, o Santo de Israel: Em vos converterdes, e em repousardes, estaria a vossa salvação; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes…”
A Palavra do Senhor ao Povo (vss. 9-13)
A mensagem principal do versículo 9 consiste em escutar as “palavras do Senhor, vosso Deus”. Nisto observamos o conceito de Romanos 10:17, “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. O que podemos aprender aqui que se aplique à liderança? Entre o povo de Deus, a autoridade dos líderes tem de ser a Escritura, em detrimento da sua personalidade, carisma ou qualquer outra coisa que apele às pessoas.
A que se refere a palavra “Nisto” no versículo 10? À Arca da Aliança. Repare no versículo 11. Focava-se na verdade de que “a batalha é do Senhor” ou, como Josué disse, “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós; e que de todo lançará de diante de vós aos cananeus, …” (3:10). O que sustém os crentes é a presença de Deus enquanto único Deus vivente, independentemente do que a vida possa trazer. O segredo é manter-se concentrado na Sua presença e confiar n’Ele.
Durante a Guerra Civil, a cidade de Moresfield, West Virginia, encontrava-se na linha divisória, oscilando para trás e para a frente entre as tropas da União e da Confederação. Numa velha casa, que ainda hoje existe, vivia sozinha uma mulher de certa idade. Uma manhã, as tropas ianques pisaram o seu alpendre. Julgando-se à sua mercê, ela permaneceu calma e convidou-os a sentarem-se à sua mesa.
Assim que o pequeno-almoço se encontrava diante deles, disse: “É um costume antigo nesta casa rezar antes das refeições. Espero que não se importem”. Com isso, pegou na Bíblia, abriu-a ao acaso e começou a ler do Salmo 27 (Versão Rei Jaime):
“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei? 2 Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, investiram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram. 3 Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria: ainda que a guerra se levantasse contra mim, nele confiaria. … 13 Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria os bens do Senhor na terra dos viventes. 14 Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor.”
Quando terminou, murmurou baixinho “Oremos”. Enquanto rezava, ouviu sons furtivos de sapatos a arrastar. Ao terminar com “Amén”, abriu os olhos. Os soldados tinham desaparecido! A sua falta de medo fizera-os receosos de se deterem ali mais tempo! 4
Travessia pelo Poder de Deus (3:14–17)
14 E aconteceu que, partindo o povo das suas tendas, para passar o Jordão, levavam os sacerdotes a arca do concerto, diante do povo. 15 E quando os que levavam a arca chegaram até ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que levavam a arca se molharam na borda das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras todos os dias da sega), 16 Pararam as águas que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adam, que está da banda de Sartan; e as que desciam ao mar das campinas, que é o mar salgado, faltavam de todo e separaram-se: então passou o povo defronte de Jericó. 17 Porém os sacerdotes que levavam a arca do concerto do Senhor pararam firmes, em seco, no meio do Jordão; e todo o Israel passou em seco, até que todo o povo acabou de passar o Jordão.
Depois de deixarem o acampamento, como instruídos, os sacerdotes lideravam o caminho, carregando a Arca da Aliança, e caminharam até ao Jordão, que transbordara sobre as suas margens. Isso deve ter constituído uma visão aterradora mas, confiando na presença do Deus vivente, avançaram para dentro de água. Imediatamente, ocorreu um milagre.
No Bible Knowledge Commentary, Campbell escreve:
Embora o local chamado “Adam” apenas seja mencionado aqui, é usualmente identificado como Tell ed-Damiyeh, cerca de 16 milhas (26 quilómetros) a norte do baixio oposto a Jericó. Portanto, foi seca uma ampla faixa de leito do rio, permitindo que o povo passasse com os seus animais e bagagens (compare com Josué 4:10).
Como poderia ocorrer este evento sensacional? Muitos insistem que não se terá tratado de um milagre, uma vez que pode ser explicado como um fenómeno natural. Argumentam que, a 8 de Dezembro de 1267, um tremor de terra levou as margens altas do Jordão a colapsar perto de Tell ed-Damiyeh, obstruindo o rio durante 10 horas. Em 11 de Julho de 1927, outro terramoto próximo da mesma localização bloqueou o rio por 21 horas. Claro que estas paragens não ocorreram durante a época das cheias. Admitidamente, Deus poderia empregar causas naturais, tais como um terramoto ou um deslizamento de terra e, ainda assim, o facto de acontecerem no momento perfeito constituiria uma intervenção miraculosa. Mas permite o texto bíblico tal interpretação deste evento?
Considerando todos os factores envolvidos, parece mais acertado olhar para esta ocorrência como um acto especial de Deus, propiciado de uma forma desconhecida ao homem. Foram reunidos muitos elementos sobrenaturais: (1) O evento aconteceu tal como previsto (3:13, 15). (2) Aconteceu no momento exacto (v.15). (3) O evento teve lugar quando o rio se encontrava na fase das cheias (v.15). (4) A parede de água foi mantida no lugar durante muitas horas, possivelmente um dia inteiro (v.16). (5) O leito macio e húmido do rio ficou seco de uma vez (v.17). (6) Mal o povo terminou a travessia e os sacerdotes saíram do rio, a água regressou imediatamente (4:18).5
À medida que uma pessoa estuda o terceiro capítulo e se maravilha face à miraculosa obra de Deus nele retratada, surge um princípio importante que não deve ser negligenciado. Atravessar o Jordão na época das cheias com dois milhões de pessoas teve diversos resultados imediatos: Deus foi magnificado, Josué exaltado (3:5), o povo ficou certamente energizado e motivado, e os habitantes da terra, os cananeus, ficaram aterrorizados (compare com 1:9; 5:1). Deus estava a entregar-lhes a terra. De facto, Ele já o fizera, providencialmente falando (1:2-6; 2:9), porém o povo da terra não ia simplesmente submeter-se. Os nativos resistiriam com todos os recursos ao seu dispor. Atravessar o Jordão e tomar posse do que lhes pertencia não seria fácil. Implicaria batalha atrás de batalha. Cruzar o Jordão, portanto, significava duas coisas para Israel. Primeiramente, deveriam estar totalmente empenhados quanto a avançar contra exércitos, carruagens e cidades fortificadas. Contudo, a fim de serem bem-sucedidos, também teriam de se comprometer com um percurso de fé focado em Yahweh, o único Deus verdadeiro e vivente, em vez de, tal como haviam feito no deserto, caminharem de acordo com a carne e os seus próprios recursos.
Para os fiéis actuais, atravessar o Jordão representa transitar de um patamar da vida cristã para outro. (Não se trata de uma imagem do crente que morre e entra no Céu. Para os israelitas, Canaã dificilmente seria o Paraíso!) É a imagem de penetrar na guerra espiritual, reclamando o que Deus prometeu. Tal deverá significar o fim de uma vida baseada no esforço humano e o início de uma existência de fé e obediência. 6
Preparações para Recordar a Travessia (4:1-24)
1 Sucedeu, pois, que, acabando todo o povo de passar o Jordão, falou o Senhor a Josué, dizendo: 2 Tomai do povo doze homens, de cada tribo um homem; 3 E mandai-lhes, dizendo: Tomai daqui, do meio do Jordão, do lugar do assento dos pés dos sacerdotes, doze pedras; e levai-as convosco, à outra banda, e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite. 4 Chamou, pois, Josué os doze homens que escolhera, dos filhos de Israel: de cada tribo um homem; 5 E disse-lhes Josué: Passai diante da arca do Senhor, vosso Deus, ao meio do Jordão; e levante cada um uma pedra sobre o seu ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; 6 Para que isto seja por sinal entre vós; e quando os vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras? 7 Então lhes direis que as águas do Jordão se separaram diante da arca do concerto do Senhor; passando ela pelo Jordão, separaram-se as águas do Jordão: assim, estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel.
8 Fizeram, pois, os filhos de Israel, assim como Josué tinha ordenado, e levantaram doze pedras do meio do Jordão, como o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, e levaram-nas consigo ao alojamento, e as depositaram ali. 9 Levantou Josué, também, doze pedras, no meio do Jordão, no lugar do assento dos pés dos sacerdotes que levavam a arca do concerto; e ali estão, até ao dia de hoje. 10 Pararam, pois, os sacerdotes que levavam a arca, no meio do Jordão, em pé, até que se cumpriu quanto o Senhor a Josué mandara dizer ao povo, conforme a tudo quanto Moisés tinha ordenado a Josué; e apressou-se o povo, e passou. 11 E sucedeu que, assim que todo o povo acabou de passar, então passou a arca do Senhor e os sacerdotes, à vista do povo. 12 E passaram os filhos de Ruben, e os filhos de Gad, e a meia tribo de Manassés, armados, na frente dos filhos de Israel, como Moisés lhes tinha dito; 13 Uns quarenta mil homens de guerra, armados, passaram diante do Senhor, para a batalha, às campinas de Jericó. 14 Naquele dia, o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida.
15 Falou, pois, o Senhor a Josué, dizendo: 16 Dá ordem aos sacerdotes que levam a arca do testemunho que subam do Jordão. 17 E deu Josué ordem aos sacerdotes, dizendo: Subi do Jordão. 18 E aconteceu que, como os sacerdotes que levavam a arca do concerto do Senhor subiram do meio do Jordão, e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar, e corriam, como dantes, sobre todas as suas ribanceiras.
19 Subiu, pois, o povo, do Jordão, no dia dez do mês primeiro; e alojaram-se em Gilgal, da banda oriental de Jericó. 20 E as doze pedras, que tinham tomado do Jordão, levantou Josué em Gilgal. 21 E falou aos filhos de Israel, dizendo: Quando, no futuro, os vossos filhos perguntarem aos seus pais, dizendo: Que significam estas pedras? 22 Fareis saber aos vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão. 23 Porque o Senhor, vosso Deus, fez secar as águas do Jordão, diante de vós, até que passásseis; como o Senhor, vosso Deus, fez ao Mar Vermelho, que fez secar perante nós, até que passámos. 24 Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte: para que temais ao Senhor, vosso Deus, todos os dias.
Outro título para este capítulo poderia ser “A fim de que não nos esqueçamos”. A preocupação encontrada na Bíblia quanto à nossa propensão para esquecer o Senhor, as Suas obras de salvação e santificação e o que isto significa para nós mediante o nosso chamamento é um dos temas mais destacados da Escritura.
Comecemos por uma ilustração da vida de Israel, conforme registada para nós em Êxodo 15:
1 Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor; e falaram, dizendo: Cantarei ao Senhor, porque sumamente se exaltou: lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. 2 O Senhor é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto, lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei. 3 O Senhor é varão de guerra: o Senhor é o seu nome. 4 Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército: e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho. 5 Os abismos os cobriram: desceram às profundezas como pedra. 6 A tua dextra, ó Senhor, se tem glorificado em potência: a tua dextra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo; 7 E com a grandeza da tua excelência derribaste aos que se levantaram contra ti: enviaste o teu furor, que os consumiu como restolho. 8 E com o sopro dos teus narizes amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão: os abismos coalharam-se no coração do mar. 9 O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos: fartar-se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os destruirá. 10 Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu: afundaram-se como chumbo em veementes águas. 11 Ó Senhor, quem é como tu, entre os deuses? quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em louvores, obrando maravilhas? 12 Estendeste a tua mão direita: a terra os tragou. 13 Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste: com a tua força o levaste à habitação da tua santidade. 14 Os povos o ouvirão, eles estremecerão: apoderar-se-á uma dor dos habitantes da Palestina. 15 Então os príncipes de Edom se pasmarão, dos poderosos dos moabitas apoderar-se-á um tremor, derreter-se-ão todos os habitantes de Canaan. 16 Espanto e pavor cairá sobre eles: pela grandeza do teu coração emudecerão como pedra; até que o teu povo haja passado, ó Senhor, até que passe este povo que adquiriste. 17 Tu os introduzirás e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram. 18 O Senhor reinará eterna e perpetuamente;
19 Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavaleiros, entraram no mar, e o Senhor fez tornar as águas do mar sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco, pelo meio do mar. 20 Então Miriam, a profetisa, a irmã de Aarão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela, com tamboris e com danças. 21 E Miriam lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque sumamente se exaltou, e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.
22 Depois, fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur: e andaram três dias no deserto, e não acharam águas. 23 Então chegaram a Mara; mas não puderam beber as águas de Mara, porque eram amargas: por isso, chamou-se o seu nome Mara. 24 E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? 25 E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe um lenho que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces: ali lhes deu estatutos e uma ordenação, e ali os provou. 26 E disse: Se ouvires atento a voz do Senhor, teu Deus, e obrares o que é recto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egipto; porque eu sou o Senhor que te sara.
27 Então vieram a Elim, e havia ali doze fontes de água e setenta palmeiras: e ali se acamparam junto das águas.
Em apenas três dias, este povo, que assistira e louvara as obras poderosas de Deus, parecia ter desenvolvido um caso súbito e grave de amnésia. Em vez de se queixarem da falta de água e mais tarde das águas amargas de Mara, poderíamos esperar que dissessem: “Senhor, lembramo-nos da forma como nos salvaste da nossa escravidão no Egipto e afastaste as águas do Mar Vermelho, e de como destruíste os cavalos do Faraó, as suas carruagens e cavaleiros no mar; e agora, ó Senhor, sabemos que nos trouxeste até aqui em cumprimento dos Teus propósitos, por isso estamos confiantes de que Tu...”
Contudo, lemos em vez disso: “E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?” (Êxodo 15:24).
Foquemo-nos em algumas advertências no Antigo Testamento acerca da memória:
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A Fim de que Não Esqueçamos |
Para que Possamos Recordar |
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Êx. 12-51-13:8; Deut. 4:9-10, 23, 31. |
Ordens positivas para recordar: Deut. 6:12; Deut. 7:18, Deut. 8:2 |
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Deut. 5:15; 15:15— recordar o negativo, a vida da qual Deus nos redimiu como motivação contra esquecer a graça de Deus. |
Ilustrações negativas de recordar, fazendo-nos esquecer o positivo: Núm. 11:5.
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Deut. 8:11, 14, 18-19; |
Deut. 9:7; 16:3; 32:7 |
Estes versículos abrangem apenas uma lista parcial de avisos e ordens no sentido de recordar em detrimento de esquecer, conforme as nossas tendências naturais. O memorial das pedras assenta em três objectivos:
(1) Um Sinal Memorial destinado a promover encorajamento e reverência em todo o Israel, para sempre. O nome Gilgal provém de uma palavra que significa “uma roda”; por sua vez, esta deriva da palavra galal, significando “rolar algum objecto sobre, em cima, para longe, contra, até”. Gilgal significa quer “rotação”, quer “círculo de pedras”. Portanto, cada vez que Israel regressasse a Gilgal, veria o círculo de pedras, lembrando o que Deus fizera a fim de afastar o opróbrio do Egipto (repare em Josué 5:9, que utiliza o verbo galal). A própria localização das pedras seria um encorajamento, mas também um lembrete do poder soberano do Senhor sobre as nações e a criação, de modo a que temessem o Senhor eternamente e permanecessem fiéis ao seu propósito no plano de Deus (compare com Êx. 19:4-6; Deut. 4:1-9).
(2) Um Sinal Memorial destinado a promover a instrução das gerações futuras (4:6b-7, 21-23). Em duas secções do capítulo, abrangendo cinco versículos, os pais são lembrados da sua responsabilidade quanto à transmissão da Palavra de Deus e Seu chamamento aos filhos, geração após geração. Os pais não ousam nem podem abdicar desse aspecto. Deus confia-lhes tal privilégio e responsabilidade. (Compare: Deut. 4:9; 6:6 ss; e Juízes 2:1 ss; 3:1-7; 8:34; 21:25.)
(3) Um Sinal Memorial de testemunho para outras nações (4:24a). Aqui, Deus recorda novamente a Israel o seu propósito enquanto nação sacerdotal (Êx. 19:4-6; 1 Pedro 2:5, 9-11). A aplicabilidade na nossa vida deverá ser óbvia. Os cristãos são pedras vivas de um templo santo, memoriais vivos do poder de Deus. Porém, também nós enfrentamos a ameaça de esquecermos o Senhor, olvidando o nosso carácter de peregrinos devido à preocupação com o mundo.
Em jeito de aplicação, quais são algumas das coisas que fazemos regularmente, e somos chamados a realizar, que constituem memoriais da graça salvadora de Deus, bem como do nosso chamamento enquanto crentes em Cristo?
- Reunirmo-nos semanalmente (Actos 2:42; 1 Cor. 11:17 ss; Heb. 10:23-25).
- Participar na ceia do Senhor, especificamente destinada a lembrá-Lo, à semelhança de diversas festividades e de dias especiais, como a Páscoa.
- Cerimónias especiais em várias alturas do ano, como o Natal, Ano Novo e Páscoa, são ocasiões maravilhosas para nos focarmos no Senhor, tornando tais coisas reais na vida dos nossos filhos.
- Através do nosso tempo pessoal diário na Palavra, de grupos cuidadores e da amizade com outros.
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 Donald K. Campbell, Joshua, Leader Under Fire, Victor Books, Wheaton, 1989, pp. 26-27.
2 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, Editors, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.
3 A palavra hebraica aqui, yasab, significa “colocar, posicionar-se, tomar o seu lugar”, mas é usada “especialmente quanto a manter-se quieto e passivo, para ver a salvação poderosa de Yahweh.” (Francis Brown, S. R. Driver, Charles A. Briggs, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament, Oxford University Press, London, 1907, p. 426).
4 Campbell, p. 30.
5 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
6 Walvoord/Zuck, versão electrónica.
Related Topics: Character Study, Sanctification
Jurnalul Electronic Al Păstorilor, Rom Ed 21, Editia de toamnă 2016
Ediția de Toamnă, 2016
Autor: Dr. Roger Pascoe, Președinte,
Institutul de Predicare Biblică
Cambridge, Ontario, Canada
(http://tibp.ca/)

“Întărind Biserica în predicare biblică și conducere”
Partea I: Putere Pentru Predicare, Pt. 4
“Puterea rugăciunii”
Nucleul puterii spiritual este rugăciunea. Apostolul Pavel a solicitat rugăciunea: „Fraților, rugați-vă pentru noi ca Cuvântul Domnului să se răspândească și să fie proslăvit, cum este la voi…” Din nou, Pavel cere…„Faceţi în toată vremea, prin Duhul, tot felul de rugăciuni şi cereri. Vegheaţi la aceasta, cu toată stăruinţa, şi rugăciune pentru toţi sfinţii şi pentru mine, ca ori de câte ori îmi deschid gura să mi se dea cuvânt, ca să fac cunoscut cu îndrăzneală taina Evangheliei, al cărei sol în lanţuri sunt; pentru ca, zic, să vorbesc cu îndrăzneală, cum trebuie să vorbesc. (Efeseni 6:18-20). Și iarăși „Stăruiţi în rugăciune, vegheaţi în ea cu mulţumiri. Rugaţi-vă totodată şi pentru noi, ca Dumnezeu să ne deschidă o uşă pentru Cuvânt, ca să putem vesti taina lui Hristos, pentru care, iată, mă găsesc în lanţuri… (Coloseni 4:2-3).
Observați în aceste texte legătura directă pe care Pavel o face între rugăciune și predicare. În opinia lui, nucleul puterii spirituale este, cu siguranță, rugăciunea. Având în atenție aceste lucruri, să punem o serie de întrebări dificile:
1. De Ce Este Rugăciunea Personală Un Aspect Esențial Pentru Putere În Predicare?
Pentru a predica proaspăt, an după an, predicatorul are nevoie de experiențe reînnoite cu Dumnezeu, iar acestea pot fi obținute numai prin rugăciune. Rugăciunea personală este mijlocul prin care experimentăm o părtășie proaspătă în umblarea noastră cu Dumnezeu. Este o comunicare privată cu Dumnezeu, prin rugăciune, în urma căreia sufletul este împrospătat și redescoperim inima lui Dumnezeu.
Nimic nu încurajează și nu oferă viziune spirituală mai mult decât rugăciunea și citirea Cuvântului. Dacă nu predicator nu plătește prețul petrecerii unui timp îndelungat în părtășie cu Dumnezeu în mod regulat, va ajunge să se usuce. Însă, când petrecem timp în prezența lui Dumnezeu, El ne va umple cu resurse spirituale și vitalitate. Rugăciunea tainică ne transformă și ne aprinde pasiunea pentru Dumnezeu. Doar rugăciunea tainică ne poate face să rămânem activi din punct de vedere spiritual.
Pentru a avea putere în predicare, mesagerul trebuie să fie un om al rugăciunii. Într-adevăr, suntem invitați de către Dumnezeu să pășim cu încredere și cu regularitate în prezența Lui pentru a „găsi îndurare și har și pentru a primi ajutor în vreme de nevoie” (Ev. 4:16). Dumnezeu ne descoperă prin rugăciune ceea ce El dorește să-i transmită poporului Său. Acesta este motivul pentru care rugăciunea personală constituie un aspect vital în ce privește ungerea în predicare.
2. De Ce Este Greu Să Menținem Disciplina Rugăciunii?
Rugăciunea este o disciplină grea fiindcă adversarul nostru, diavolul, dorește să ne țină departe de ea. El știe despre legătura directă dintre rugăciunea personală, privată și puterea de la amvon, și desigur că nu vrea să vadă o predicare puternică. Apar mereu și mereu lucruri care solicită atenția noastră, iar atunci când ne jefuiesc de timpul alocat rugăciunii, ele sunt unelte ale celui rău. El încearcă să ne separeu de rugăciune și de dependența noastră de Dumnezeu.
3. De Ce Există Atât De Puțină Rugăciune În VIața Multor Predicatori?
Principalul motiv pentru care există doar puțină rugăciune în viața multor predicatori constă în lipsa de disciplină personală în viețile lor. Mulți suntem leneși și neglijenți în privința rugăciunii. Petrecem timp în pregătirea predicii, însă tindem să neglijăm pregătirea inimilor noastre prin rugăciune din pricina lipsei disciplinei.
Este necesar să ne disciplinăm în pregătirea pentru predicare prin studiul Cuvântului lui Dumnezeu și prin rugăciune în vederea călăuzirii divine. Rugăciunea solicită același tip de disciplină la fel ca oricare altă ocupație unde este necesar exercițiul. La fel cum atleții sunt sârguincioși în antrenamentul lor, refuzând plăceri pe care alții le au, astfel încât să poată fi în cea mai bună formă, tot astfel, predicatorii trebuie să ”se antreneze” în disciplina rugăciunii.
4. De Ce Este Rugăciunea Ca O Busolă Pentru Predică?
Rugăciunea este ca o busolă pentru predică în sensul că ea acționează ca o cârmă pentru un vas. Ne ajută să mergem drept. Ne arată cursul de urmat. Știm unde vrem să ajungem cu predica, iar predica ne asigură că urmăm direcția corectă acolo.
5. De Ce Rugăciunea Și O VIață Sfântă Merg Împreună?
Rugăciunea și sfințenia sunt inseparabile. Rugăciunea îl ține pe predicator în armonie cu voia Domnului, iar acest lucru se realizează atunci când avem vieți sfinte. Rugăciunea este mijlocul prin care inimile noastre sunt acordate la frecvența Domnului, ceea ce implică sfințenie.
Nu putem avea o viață de rugăciune autentică și plină de semnificație, dacă avem păcate în viețile noastre. Așadar, disciplina rugăciune ne ajută să rămânem sensibil față de păcat, sau orice alt lucru ce poate întrerupe părtășia noastră cu Dumnezeu. Rugăciunea este o întâlnire cu Dumnezeu, iar o asemenea întâlnire ne așează pe un teren sfânt, unde trebuie să ne scoatem încălțămintea. În rugăciune suntem lămuriți cu privire la orice fel de lucru contrar naturii și caracterului lui Dumnezeu. Dacă vrem să perseverăm în rugăciune trebuie să judecăm și să mărturisim orice nu este pe placul Domnului.
Devenim mai sfinți doar dacă viețile noastre sunt saturare prin rugăciune; tot astfel ajungem să fim și sub împuternicirea Duhului Sfânt. Fără rugăciune neîncetată nu putem fi cu adevărat sfinți și nu putem predica cu putere. Putem avea cele mai bune schițe de predică și cel mai sârguincios studiu, însă fără sfințenie în viața noastră personală nu putem predica Cuvântul lui Dumnezeu cu putere.
Dacă viețile noastre personale sunt impure din punct de vedere moral, atunci predicarea va fi slabă și ineficientă. Nu putem vesti Cuvântul lui Dumnezeu cu putere dacă nu trăim într-un mod care să fie consecvent cu Cuvântul. El trebuie să fie eficient în viața predicatorului, înainte de a fi eficient în viața congregației.
John Wesley își dorea predicatori care „să nu se teamă de nimic decât de păcat și să nu își dorească nimic în afară de Dumnezeu”. Pentru a fi plini de putere pentru Dumnezeu, trebuie să trăim vieți sfinte care au la bază vieți de rugăciune. O viață slabă în rugăciune este slabă și trăire și în predicare. O viață de rugăciune puternică produce o viață sfânt și, în consecință, o viață de predicare puternică. Dacă nu trăim o viață curată nu ne vom ruga, însă dacă umblăm cu Dumnezeu nu ne vom opri din rugăciune.
Partea A II-A: Pregătire Pentru Predicare
Schița Predicii, Partea a 2-a
Pentru a alcătui schița de predică este nevoie să ne deplasăm de la structura textului (despre care am vorbit pe larg în edițiile anterioare ale acestui Jurnal) către schița de predică. Structura textului este primul pas în dezvoltarea schiței de predică. Aceste schițe urmează cursul argumentului din structura textuală și sunt derivate4 din aceste structuri. Totuși este o diferență între structura textului și schița de predică – apare o schimbare numită uneori ”turnura homiletică”.
I. De La Structura Textului La Schița Predicii
Turnura de la structura textuală la schița predicii este o mișcare dinspre „lumea biblică” (lumea autorului biblic) către „lumea contemporană” (lumea în care trăim noi), astfel încât ideile exprimate (1) să nu fie constrânse de anumite vremuri, (2) să nu fie restrânse la anumiți oameni (alte persoane în afară de Dumnezeu și Domnul Isus) și (3) să nu fie limitate geografic.
Cu alte cuvinte, schițele de predică nu sunt la timpul trecut și nici nu se referă la oameni dintr-o situație specifică. Mai degrabă ideile din schițele de predică sunt principii permanente, adevăruri universale. Ce încercăm noi să facem este să dăm o formă schiței de predică așa încât să fie comunicabilă, ușor de înțeles și relevantă pentru audiența de astăzi. Atingem aceste ține prin (1) a merge de la ideile textuale specifice în sus, pe ceea ce se numește câteodată „scara abstractizării” pentru a ajunge la adevăruri general valabile și (2) a exprima aceste adevăruri generale sub forma unor aplicații la viața de zi cu zi (aplicații pentru audiență).
Dacă nu faci asta, ascultătorii ar putea spune: „Au fost lucruri bune pentru apostolul Pavel, însă ce are a face cu mine? De ce ar trebui să ascult predica?” Putem depăși această obiecție alcătuind schița de predică sub forma unor puncte principale, universale în adevărul lor și aplicabile astăzi. Astfel, dar, schițele de predică sunt formate din puncte principale orientate spre adevăruri universale (principii stabile) și focalizate spre aplicații contemporane ( relevante pentru audiența actuală). Fiecare text conține un mesaj cu un adevăr teologic universal, valabil și astăzi. Slujba noastră este să identifică acele adevăruri generale și să le exprimăm sub forma unor principii. Dr. Walter Kaiser numește acest procedeu „principalizare”. Aceste principii vor deveni „punctele principale” ale schiței de predică.
II. Formularea Punctelor Principale Ale Unei Predici
După scrierea schiței textului urmează să scriem schița predicii. Debutul alcătuirii unei schițe de predică ține de formularea punctelor principale și a sub-punctelor. Punctele principale constituie structura (scheletul) predicii. Ele sunt precum titlurile capitolelor unei cărți.
1. Ce Sunt Punctele Principale?
Punctele principale sunt rezumate, sub forma unei propoziții a fiecărui gând (idei) din text. Ele sunt reformulări ale structurii textuale, sub forma unor principii universale, a unor adevăruri general valabile. Punctele principale răspund la întrebarea: „Ce putem învăța din text astăzi? Cum mă afectează pe mine? Ce principii generale (adevăruri eterne) ni se aplică nouă?”
2. Cum Se Identifică Punctele Principale?
Punctele principale ies la iveală din studiul textului și sunt derivate din structura acestuia. Primul pas în dezvoltarea schiței de predică este, deci, găsirea structurii textului. Asemenea structurii textului, punctele principale din schița de predică urmează ”cursul ideii” textului și sunt formulate pe baza acestuia.
Veți descoperi punctele principale ale textului biblic privind la principiile generale (adevăruri eterne) transmise de autorul biblic, nu doar către destinatarii primari, ci și nouă, astăzi.
3. Cum Sunt Formulate Punctele Principale?
Punctele principale sunt afirmații ale unor adevăruri cu aplicații în viața de zi cu zi. După cum susține Walter Kaiser, punctele principale „afirmă enunțurile, argumentul, narațiunea și ilustrațiile autorului sub forma unor adevăruri general valabile, cu accent pe aplicarea acelor adevăruri în sfera nevoilor curente ale bisericii.” (Kaiser, Către o teologie exegetică, 152). Ele sunt enunțuri ale unor adevăruri general valabile, prezentate sub forma unor aplicații pentru viețile ascultătorilor. Ele sunt propoziții care solicită un gen de răspuns din partea ascultătorilor – propoziții care internalizează adevărul.
Prin urmare, punctele principale constituie un rezumat, într-o singură frază, a fiecărui gând (idee) din textul biblic și sunt formulate astfel încât (1) să nu dilueze sau să schimbe conținutul pasajului, (2) să exprime scopul inițial al autorului și tema abordată de el și (3) să reflecte adevărul general intenționat de autor.
Formularea principiului teologic variază în funcție de genul textului. Dacă avem în vedere un material didactic (Romani, de ex.), formularea este relativ ușoară. Tot ce trebuie să faci este să pui în cuvinte învățăturilor ajungând la o serie de propoziții (puncte homiletice) care vor solicita un anumit tip de răspuns din partea ascultătorilor.
Dacă ne ocupăm de un material biblic nedidactic, slujba noastră este mai complexă. În cazul acesta trebuie să sumarizezi tema fiecărui paragraf din textul de predicat ajungând la o propoziție care să corespundă cu intenția autorului și care să ofere esența teologică și practică din acel pasaj. Identificarea temei unui paragraf poate fi o operațiune foarte provocatoare, cum ar fi de exemplu în cazul materialului de tip narativ.
4. Care Sunt Caracteristicile Punctelor Principale?
Dat fiind faptul că punctele principale sunt o serie de adevăruri universale, generale, înțelegem că fiecare punct (1) trebuie să fie formulat fie la timpul prezent, fie la viitor (nu la trecut) (2) ar trebui formulat ca o propoziție întreagă (să conțină o idee pe deplin ”principializată”, așa încât predica să fie pe deplin comprehensibilă doar urmărind punctele principale, (3) nu ar trebui să includă nume de persoane (excepție, Dumnezeu sau Hristos) sau locuri și (4) nu ar trebui să fie o descriere a unor evenimente din trecut, de vreme ce acest lucru ar plasa predica în sfera istoriei trecute, fără relevanță pentru audiența contemporană.
5. Concluzie
Aceste principii biblice, deci, formează schița predicii tale. Urmărind acest procedeu faci un zid între lumea antică a textului biblic și lumea contemporană a ascultătorilor tăi. Acestea este diferența de esență între structura textului (lumea textului) și schița de predică (lumea contemporană).
În următoarea ediție a acestui jurnal vă voi arăta cum să testați punctele principale și vă voi oferi exemple de schițe de predică, în comparație cu structurile textuale. Privind la aceste exemple cred că veți realiza beneficiul de a face efortul de a dezvolta schița de predică dintr-o structură a textului.
Până atunci, în următorul articol devoțional scris de Dr. Stephen Olford (Comuniunea Evangheliei) veți vedea cum a pus el în cuvinte punctele principale sub forma unor afirmații universale – principii teologice pe care el le-a dezvoltat din structura textului însușii.
Partea A III-A. Devotional
“Comuniunea la Evanghelie” (1 Cor. 1:26-31)
De: Dr. Stephen F. Olford
Continuându-și învățătura despre divizarea bisericii, Pavel arată în continuare cum pot să apară ceartă și neînțelegere nu doar din înțelegerea greșită a caracterului evangheliei, ci și din idei greșite despre comunitatea evangheliei.
În suveranitatea Sa divină și în înțelepciunea Sa de nepătruns, Dumnezeu a făcut chemarea evangheliei în așa fel încât omul nu are absolut niciun merit pentru faptul că răspunde chemării. Prin urmare, comunitatea evangheliei este formată din oameni care au învățat nimic din ce este omenesc nu se poate lăuda în prezența lui Dumnezeu. Creștinii din Corint nu au înțeles acest adevăr și de aceea făceau întrecere, așezându-se fiecare sub bannerul unui lider de partid. Apostolul tratează această problemă descriind metoda prin care Dumnezeu cheamă, alege și conduce comunitatea celor care cred în Isus Hristos. Așadar, din studiul versetelor care ne stau în față, observăm următoarele:
I. Dumnezeu Își Alege Oamenii Prin Simplitatea Evangheliei:
„De pildă, fraţilor, uitaţi-vă la voi, care aţi fost chemaţi: printre voi nu sunt mulţi înţelepţi în felul lumii, nici mulţi puternici, nici mulţi de neam ales” (1 Corinteni 1:26). Folosind modul imperativ, Pavel își invită cititorii la un studiu al bisericii din Corint, pentru a observa cine erau membrii săi. Se pare că doar puțini din comunitatea aceea puteau fi numiți „înțelepți”, „puternici” sau „nobili”. Și, bineînțeles, lucrurile au stat la fel în biserica lui Isus Hristos de-a lungul istoriei. Așadar, implicația este simplă și clară:
1) Simplitatea selectivă a evangheliei nu se este pe placul multor intelectuali: „… printre voi nu sunt mulţi înţelepţi în felul lumii, nici mulţi puternici, nici mulţi de neam ales” (1 Corinteni 1:26). În omul neregenerat din punct de vedere spiritual există tendința naturală de a gândi independent de Dumnezeu. După cum am văzut deja atunci când am privit la înțelepciunea omenească, ea este „pământească, firească, drăcească” (Iacov 3:15). Dacă un om nu este gata să se pocăiască, adică să renunțe la gândirea lui în favoarea înțelepciunii lui Dumnezeu, atunci el nu poate fi mântuit cu niciun chip (vezi Matei 18:3).
Pentru a întări afirmația de mai sus, este important să ne amintim că una din puținele ocazii în care ni se spune că Mântuitorul nostru s-a bucurat în duhul, în timpul lucrării Sale pământești, a fost atunci când Și-a ridicat privirea spre cer și a spus: „Te laud, Tată, Doamne al cerului și al pământului, pentru că ai ascuns aceste lucruri de cei întelepți și pricepuți, și le-ai descoperit pruncilor. Da, Tată, Te laud, pentru că așa ai găsit Tu cu cale!” (Matei 11:25-26).
Adevărul este că cerul a decretat că lumea nu-L poate cunoaște pe Dumnezeu prin înțelepciune (1 Corinteni 1:21). Scopul respingerii fără rezerve a abordării filosofice a lucrurilor eterne este ca „nimeni să nu se laude înaintea lui Dumnezeu” (1 Corinteni 1:29).
2) Simplitatea selectivă a evangheliei nu este pe placul multor oameni influenți: „…printre voi nu sunt... nici mulţi puternici” (1 Corinteni 1:26). În omul neregenerat din punct de vedere spiritual există tendința naturală de a lucra independent de Dumnezeu. Termenul „puternici” are un sens general aici, referindu-se la cei care au dobândit influență în urma realizărilor lor. Însă dacă mândria influenței nu este răstignită în biserica lui Isus Hristos, problemele vor fi mereu gata să apară. Cunoaștem cu toții un personj pe nume Diotref, a cărui dorință de întâietate în biserica din Efes a produs numai certuri și lupte (3 Ioan 1:9). Din cauza poziției sale influente, el nu doar l-a atacat pe preaiubitul apostol Ioan, ci a și refuzat să-i primească în biserică pe cei care aveau legături cu acest om al lui Dumnezeu. Se face și o aluzie la faptul că omul acesta a interceptat una din scrisorile lui Ioan, ca să nu fie citită niciodată membrilor bsiericii. Toate acestea ilustrează influența coruptă a puterii nerăstignite. De aceea nu sunt chemați mulți „puternici”; și Dumnezeu a vrut așa, pentru ca „nimeni să nu se laude înaintea lui Dumnezeu” (1 Corinteni 1:29).
3) Simplitatea selectivă a evangheliei nu se este pe placul multor oameni de neam împărătesc: „…printre voi nu sunt... nici mulţi de neam ales” (1 Corinteni 1:26). În omul neregenerat din punct de vedere spiritual există și o tendință naturală de a trăi independent de Dumnezeu. Majoritatea comentatorilor sunt de părere că expresia „de neam ales” se referă la cei de viță nobilă. Deși există câteva excepții notabile, după cum vom vedea, putem totuși spune că puțini oameni de viță nobilă par a fi atrași de evanghelie.
În vremea lui Pavel, au existat câteva mari personalități care au fost chemate la părtășia cu Fiul lui Dumnezeu, cum ar fi Dionisie din Atena (Fapte 17:34); Sergius Paulus, dregătorul insulei Creta (Fapte 13:6-12); femeile nobile din Tesalonic și Berea (Fapte 17:4, 12); și nu în cele din urmă, apostolul însuși. Cu toții am auzit despre oameni precum contele Zinzendorf, Madame Guyon, care s-au adăugat acestei ilustre companii a celor răscumpărați.
Lady Huntington, o nobilă engleză, care s-a convertit în urma predicării lui Rowland Hill, un evanghelist înflăcărat, a spus odată că ea își datora mântuirea literei „M” (în limba engleză este vorba despre diferența dintre any „vreunul” și many „mulți”, n.tr). Ea a explicat că dacă în text ar fi fost scris „nici un înțelept, nobil sau puternic” ea nu ar fi fost niciodată salvată, însă după cum știm, Pavel afirmă: „nu mulți înțelepți nobili sau puternici”. Au existat câțiva astfel de oameni în trecut și vor fi salvați câțiva și în viitor, până când Biserica lui Isus Hristos va fi completă. Rămâne totuși să reținem că simplitatea Evangheliei nu este atractivă pentru cei înalți în ochii oamenilor. Domnul a dorit să procedeze astfel, ca „nimeni să nu se laude în prezența Lui” (1 Cor. 1:29).
Oricine cunoaște viața bisericii știe despre certurile, luptele și dezbinările cauzate de dorința carnală de recunoaștere. Când ne dăm seama că nu putem gândi, lucra și trăi fără Dumnezeu, numai atunci adevărata smerenie și armonia ce decurge din ea vor triumfa în părtășia poporului lui Dumnezeu. Pavel subliniază acum un alt aspect al aceluiași subiect și scoate în evidență faptul că:
II. Dumnezeu Își Alege Oamenii Prin Supremația Evangheliei
„Dar Dumnezeu a ales lucrurile nebune ale lumii, ca să facă de ruşine pe cele înţelepte. Dumnezeu a ales lucrurile slabe ale lumii, ca să facă de ruşine pe cele tari.
Şi Dumnezeu a ales lucrurile josnice ale lumii şi lucrurile dispreţuite, ba încă lucrurile care nu sunt, ca să nimicească pe cele ce sunt” (1 Corinteni 1:27-28). Pentru a-l învăța pe om că nimeni nu poate să se laude înaintea Lui, Dumnezeu a făcut ca harul Său să arate supremația incontestabilă a evangheliei. Cu alte cuvinte:
1) Dumnezeu a ales lucrurile nebune ale lumii. „Dar Dumnezeu a ales lucrurile nebune ale lumii, ca să facă de ruşine pe cele înţelepte…” (1 Corinteni 1:27). Termenul pe care Pavel îl folosește aici pentru a descrie omenirea are sensul de „cretin”, „prostănac”, „leneș”, „prostuț”, „idiot”. În harul Său, Dumnezeu ia un astfel de material și îl transformă prin lucrarea răscumpărătoare a lui Hristos, astfel încât acesta poate apoi să facă de rușine lucrurile înțelepte ale lumii.
Filosofiile omenești nu pot explica vreodată miracolul regenerării. Psihologul poate încerca să facă o analiză, doctorul să pună un diagnostic și omul de știință să facă un experiment, însă în cee din urmă toți sunt făcuți de rușine de schimbarea transformatoare ce are loc.
2) Dumnezeu a ales lucrurile slabe ale lumii. „Dumnezeu a ales lucrurile slabe ale lumii, ca să facă de ruşine pe cele tari” (1 Corinteni 1:27). Aici vedem o altă caracterizare a bărbaților și femeilor care nu cunosc harul salvator al lui Dumnezeu. Pavel vorbește despre ei ca fiind „slabi” – adică „fără putere”. Ni se amintește că …pe când eram noi încă fără putere, la timpul potrivit Hristos a murit pentru cei neevlavioși” (Romani 5:6, Tit 3:5).
Omul este totalmente incapabil să se salveze. Acest adevăr nu a fost nicicând mai adevărat ca acum în societatea ultra-civilizată în care trăim noi. Filosofia a eșuat să răspundă la marile întrebări legate de originea supranaturală a omului, scopul său pe pământ și destinul său final. Tot astfel, metoda științifică s-a dovedit a fi total inadecvată să facă față problemei umane fundamentale, păcatul. În ciuda tuturor realizărilor sale inventive, omul a făcut ca lumea în care trăiește să fie și mai problematică și distructivă. Din nou, aici vedem biruința evangheliei Domnului Isus Hristos. Prin mesajul crucii, Dumnezeu ia umanitatea fragilă și face de rușine lucrurile care sunt considerate a fi mărețe în ochii lumii.
3) Dumnezeu a ales să salveze umanitatea căzută „…Şi Dumnezeu a ales lucrurile josnice ale lumii şi lucrurile dispreţuite, ba încă lucrurile care nu sunt, ca să nimicească pe cele ce sunt; (1 Corinteni 1:28). Pavel folosește aici trei expresii pentru a descrie teribila „cădere” a umanității. „Lucrurile josnice” indică faptul că se are în vedere lucruri fără valoare morală. Lucrurile „disprețuite” sunt cele ce creează repulsie. „ Lucrurile care nu sunt” se referă la non-entitățile acestei lumi.
Ce imagine disperată a lumii căzute! Totuși, Domnul Isus prin cruce salvatoare, îi ia pe astfel de bărbați și femei și îi folosește pentru a face de nimic lucrurile care sunt – adică Hristos, prin lucrarea sa creatoare în om, scoate la lumină nevrednicia și nimicnicia acelor lucruri pe care omul natural le consideră a fi puternice și importante.
Deci, vedem că „în cuvântul crucii” există o evanghelie instructivă pentru umanitatea neînțeleaptă, există o evanghelie răscumpărătoare pentru umanitatea fragilă și o evanghelie creatoare pentru umanitatea căzută. Dumnezeu își formează comunitatea sfinților din rândul tuturor acestor tipuri de bărbați și femei. Ce minunat Salvator avem!
Pavel are, însă, încă un adevăr pe care dorește să-l împărtășească cu noi. În ultimele versete ale acestui paragraf el arată că:
III. Dumnezeu Îi Protejează Pe Ai Săi Prin Suficiența Evangheliei
„Și voi, prin El, sunteți în Hristos Isus. El a fost făcut de Dumnezeu pentru noi înțelepciune, neprihănire, sfințire și răscumpărare” (1 Corinteni 1:30). Pentru cei care răspund față de Evanghelia electivă și selectivă există o suficiență deplină în Domnul Isus Hristos. Descoperirea înțelepciunii lui Dumnezeu, așa după cum este văzută în Hristos, a făcut posibil:
1) O salvare pentru nevoile noastre trecute: „…Hristos a fost făcut pentru noi…neprihănire..” (1 Cor. 1:30). Aceasta înseamnă îndreptățire. În Isus noi obținem o viață imposibil de a fi atinsă în alt loc sau în alt mod. Este o asigurare privitoare la iertarea păcatului și pace în inimă. Mai mult, ne oferă harul de a putea sta în fața lui Dumnezeu și nici diavolul din iad, nici un om de pe pământ și nici un înger din cer nu pot să împiedice acest lucru.
2) O salvare pentru nevoile noastre prezente „…Hristos, a fost făcut pentru noi…sfințire…” (1 Corinteni 1:30). Dr. Campbell Morgan arată că sfințirea este „o purificare prin separare”. Este atât pozițională cât și progresivă. Este vorba despre însăși viața lui Hristos locuindu-ne clipă de clipă. De vreme ce plinătatea dumnezeirii locuiește în Mântuitorul, nu există nicio cerință de la noi care să nu fie îndeplinită cu exactitate de suficiența lui Hristos.
3) O salvare pentru nevoile noastre viitoare „…Hristos a fost făcut pentru noi răscumpărare…” „Răscumpărare” înseamnă ”scăparea finală de orice fel de sclavie”. Acest cuvânt apare în Noul Testament de 10 ori, și de fiecare dată se referă la viitor, nu la trecut sau prezent. Pavel vorbește despre același lucru când afirmă „…acum salvarea noastră este mai aproape decât atunci când am crezut” (Romani 13:11). Aceste este modul în care Hristos a fost făcut răscumpărare pentru noi. Avem aici asigurarea eliberării ultime de orice fel de povară și limitare, atunci când Domnul ne va elibera din orice fel de prezență a păcatului. Va veni o zi când El ne va face un trup noi, potrivit trupului slavei Sale.
Aceasta este suficiența Evangheliei prin care Dumnezeu protejează comunitatea celor credincioși. Scopul lui Pavel în prezentarea acestui adevăr a fost acela de a îndepărta orice pricină de laudă. Așadar, el concluzionează cu un citat deosebit din Ieremia 9:24„..cel ce se laudă să se laude cu aceasta, că pricepe și Mă cunoaște, că Eu sunt Domnul…”.
Concluzie: Trăirea firească și centrată pe cunoștința, influența și reputația omenească va duce la diviziuni în biserică. Însă, apostolul Pavel s-a străduit să arate că nimeni nu are vreun motiv de laudă, în afară de a ne lăuda în Domnul Isus Hristos, Cel ce a fost așezat într-o iesle, s-a disciplinat într-un atelier de tâmplărie, a fost încercat în călătoriile Sale și în casele oamenilor, a fost proslăvit prin răstignire și înviere, iar apoi prin viețile oamenilor de rând a ajuns cunoscut în toată lumea.
A-L recunoaște pe Salvatorul în sensul acesta înseamnă să ne aflăm pe un teren comun, uniți într-o viață comună și satisfăcuți de o glorie comună. După cum este scria „…cine se laudă să se laude în Domnul” (1 Corinteni 1:31)
Partea A IV-A: Schițe De Predici
Pentru a ascultă versiunea audio a acestor predici, în limba engleză, dați click pe următoarele link-uri: Link 1 - In. 10:10-13; Link 2 - In. 10:14-16; Link 3 - In. 10:16-18
Titlu: Isus este Păstorul cel bun (In. 10:10-18)
Punctul #1: Păstorul cel bun le slujește în mod personal pe oile Sale (10-13)
1. El le dă oilor Sale viață din belșug (10)
2. He gives his life for the sheep sacrificially (11-13)
Point #2: Păstorul cel bun se raportează personal la oile Sale (14-18)
1. Este o relație apropiată (14-15a)
2. Este o relație costisitoare (15b)
3. Este o relație extinsă (16)
4. Este o relație sigură (17-18)
(1) Relația este la fel de sigură ca dragostea Tatălui (17)
(2) Relația este la fel de sigură ca puterea Fiului (18)
Concluzie:
1. Isus este Păstorul cel Bun care a murit pentru noi
2. Isus este Păstorul cel Bun care trăiește pentru noi
3. Isus este Păstorul cel Bun care vine după noi.
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The Net Pastors Journal, Rus Ed 21, Осеннее издание 2016
Осеннее издание 2016
Автор:
Др. Роджер Паскоу, президент
Институт Библейского проповедования
Кембридж, Онтарио, Канада
(http://tibp.ca/)

“Укреплять Церковь через Библейскую Проповедь и Руководство”
Часть I: Сила Проповеди, Ч. 4
"Сила молитвы"
Центр духовной силы - молитва. Апостол Павел просил о молитве: "Братия, молитесь за нас, чтобы слово Господне распространялось и прославилось, как и у вас." (2 Фес. 3: 1). Опять же Павел спрашивает: «... всякою молитвой и прошением молитесь во всякое время духом, и старайтесь о сем самом со всяким постоянством и молением о всех святых - и о мне, дабы мне дано было слово - устами моими открыто с дерзновением возвещать тайну благовествования, для которого я исполняю посольство в узах, дабы я смело проповедовал, как мне должно ... »(Еф. 6: 18-20). И опять же, "Будьте постоянны в молитве, бодрствуя в ней с благодарением; В то же время молитесь и за нас, что Бог открыл нам дверь для слова, возвещать тайну Христову, за которую я и в узах "(Кол 4: 2)
Заметьте, что в этих текстах, Павел раскрывает прямую связь между молитвой и проповедью. Понятно, что, по его мнению, центр духовной силы - молитва. Итак, имея это в виду, давайте зададим себе некоторые сложные вопросы:
1. Почему Личная Молитва Важна Для Сильной Проповеди?
Проповедовать с новой силой с каждым годом, проповедник должен обновлять свой опыт с Богом, и это возможно только через молитву. Личная молитва - это средство, с помощью которого мы заново общаемся и ходим с Богом. Это происходит через личное общение с Богом в молитве, и наши души получают обновление, и мы вновь и вновь открываем для себя сердце Бога.
Ничто не открывает нам духовное видение больше, чем молитва и чтение Писаний. Если проповедник не платит цену, чтобы проводить много времени с Богом постоянно, тогда он будет пуст. Но когда мы проводим время в Божьем присутствии, Бог восполняет наши духовные ресурсы и жизненную силу. Тайная молитва меняет нас изнутри и зажигает нашу страсть к Богу. Только тайная молитва дает нам постоянную духовную силу.
Для того, чтобы иметь власть в проповеди, проповедник должен быть человеком молитвы. Действительно, Бог приглашает нас приходить к Нему смело и постоянно, чтобы "получить милость и обрести благодать, которая поможет нам в трудную минуту» (Евр. 4:16). Через молитву Бог открывает нам, что Он хочет сказать людям. Вот почему личная молитва является жизненно важным элементом в вопросе помазания в проповеди.
2. Почему Молиться Постоянно Сложно?
Молитва является сложной дисциплиной, которую важно сохранить, потому что наш противник, дьявол, хочет удерживать нас от нее. Сатана знает, что существует прямая связь между личной молитвой и властью во время проповеди, и он этого не хочет. Есть вещи, которые всегда соперничают с молитвой и требуют нашего внимания. Когда они отнимают у нас время в молитве, они являются инструментами, которые сатана использует для того, чтобы отвратить нас от молитвы и от зависимости от Бога.
3. Почему Так Мало Молитв В Жизни Многих Проповедников?
Основной причиной того, почему в жизни проповедников так мало молитвы, это то, что отсутствует личная дисциплинированность в их жизни. Поэтому многие - ленивы и небрежны в вопросе молитвы. Мы тратим время на подготовку к проповеди, но мы склонны пренебрегать подготовкой наших сердец через молитву, потому что нам не хватает дисциплины.
Мы должны дисциплинировать себя в рамках подготовки к проповеди, изучая Слово Божье и молиться о Божьей помощи и направлении. Молитва требует такой же дисциплины, как любая другая профессия, которая требует подготовки и посвящения. Подобно тому, как спортсмены усердно тренируются и отказывают себе в удовольствиях, чтобы им быть в самой лучшей возможной форме, так и мы, как проповедники, должны быть посвящены духовному «обучению» и дисциплине молитвы.
4. Почему Молитва Подобна Компасу К Проповеди?
Молитва как компас к проповеди выражается в том, что она действует в качестве руля для корабля. Помогает нам идти “прямо по курсу”. Он намечает наше шествие. Мы знаем, как мы хотим закончить нашу проповедь, и молитва гарантирует нам правильность направления.
5. Почему Молитва И Святая Жизнь Взаимосвязаны?
Молитва и святость неразрывно связаны друг с другом. Молитва хранит дух проповедника в гармонии с Богом, и мы можем быть только в согласии с Богом, когда наша жизнь - свята. Молитва - это среда, в которой наши сердца настроены на Бога; и чтобы настроиться на Бога нужна практика.
Мы не можем входить в содержательную, истинную молитву с грехом в нашей жизни. Таким образом, дисциплинированность в молитве держит нас чувствительными в отношении греха и всего, что может разрушить наше общение с Богом. Молитва - это божественная встреча с Богом, и встреча с Богом ставит нас на святую землю, где мы должны снять нашу обувь. В молитве мы обличаемы за что-либо в нашей жизни, что противоречит природе и характеру Бога; для того, чтобы нам быть постоянными в молитве, мы должны судить и исповедовать.
Только когда мы насыщаемся молитвой, наша жизнь освящается. И только тогда мы наполняемся силой Святого Духа. Без непрестанной молитвы мы не можем быть по-настоящему святыми; и, не будучи по-настоящему святыми, мы не сможем проповедовать с властью. Мы можем иметь лучший план проповеди тщательное изучение, но без святости в нашей личной жизни мы не сможем проповедовать Слово со властью.
Если наши жизни морально нечисты, то и проповедь наша будет неэффективной и слабой. Мы не можем проповедовать Слово Божье с властью, если мы не живем в соответствии с этим Словом. Слово должно быть эффективным в жизни проповедника, прежде чем оно будет эффективным в жизни собрания.
Джон Уэсли хотел проповедников, которые "не боятся ничего, кроме греха, и не желают ничего, кроме Бога."
Для того чтобы быть мощными для Бога, мы должны жить святой жизнью, что исходит из молитвенной жизни.
Жизнь, которая слаба в молитве, слаба и на практике, и также слаба в проповеди. Сильная молитвенная жизнь производит сильную святую жизнь и, следовательно, сильную жизнь проповедническую. Если мы не будем жить чистой жизнью, то мы и не будем молиться; но если мы ходим в чистоте с Богом, мы не будем воздерживаться от молитвы.
Часть II: Подготовка К Проповеди
План проповеди, Часть 2
Для того чтобы наметить проповедь, мы должны перейти от структуры текста (о которой мы говорили в предыдущих выпусках этого журнала) к плану проповеди. Структура текста - первый шаг в разработке плана проповеди. План проповеди отслеживает поток мыслей в структуре текста и исходит из структуры текста. Но есть и переход от структуры к текстовым наброскам проповеди - иногда называют это "сдвигом проповеди".
I. Переход От Структуры Текста К Плану Проповеди
Переход от структуры текста к плану проповеди - это сдвиг из "библейского мира" (т.е. мир авторов библии) в «современный мир» (то есть в мире, гд мы живем все), так что мысли, которые мы выражаем (1) не привязаны к определенному времени, (2) не ограничены определенными людьми (кроме Бога или Господа Иисуса), и (3) не ограничены конкретной географии или местами.
Другими словами, наброски проповеди - не прошлое время, ни люди или конкретные ситуации. Скорее всего, идеи в проповеди - постоянные принципы, универсальные истины. То, что мы пытаемся сделать, это придать плану нашей проповеди форму, которая понятна и говорит к сегодняшней аудитории, 1) переходя от конкретных текстовых идей к так называемой «лестнице абстракции» подходя к общим, вечным истинам; и (2), выражая эти вечные истины, как жизненные принципы (т.е. применимые к нашей аудитории).
Если вы не сделаете этого, ваша аудитория вполне может сказать, например, "Это было хорошо для апостола Павла, но как это связано со мной? Почему я должен слушать эту проповедь? "Мы преодолеваем это возражение, излагая нашу проповедь по основным пунктам, которые универсальны в их правдивости и применении на сегодня. Таким образом, наброски проповеди состоят из основных пунктов, которые ориентированы на универсальные истины (то есть вечные принципы) и ориентированы на современное применение (т.е. относятся к нашей аудитории).
Каждый текст имеет послание вечной богословской истины в ней на сегодняшний день. Наша задача состоит в том, чтобы определить, каковы эти вечные истины и выразить их в качестве принципов. Это то, что д-р Вальтер Кайзер называет "принципиальность." Эти принципы становятся "основные пунктами" к плану нашей проповеди.
II. Формулировка Основных Пунктов Нашей Проповеди
После того, как выписан план текста, следующая задача состоит в том, чтобы написать план проповеди. Отправной точкой для плана проповеди является формулировка основных пунктов и подпунктов. Основные пункты образуют структуру, на которой строится проповедь. Они похожи на заголовки глав в книге.
1. Каковы Основные Пункты?
Основные пункты - резюме каждой мысли (идеи) в тексте в одном предложении. Они - утверждения в структуре текста в виде универсальных принципов, пребывающих истин. Основные пункты отвечают на вопрос: "Что мы можем узнать из текста сегодня? Как это связано со мной? Каковы постоянные принципы (вечные истины), которые применимы к нам? "
2. Как Формируются Основные Пункты?
Основные пункты возникают из вашего изучения текста и выводятся из структуры текста, что вы обнаружили. Вот почему структура текста - первый шаг в разработке плана проповеди. Как и структура текста, также и, основные пункты для набросков проповеди структурированы вокруг «потока мыслей» нашего текста.
Вы узнаете основные моменты в библейском тексте через неизменные принципы (вечные истины), которые библейский автор передает, и не только своей аудитории, но и нам.
3. Как Основные Пункты Сформулированы?
Основные пункты - утверждения принципа, стремящегося к "жизни в применении." Как Вальтер Кайзер выразился, основные пункты - "утверждает автора предложение, рассуждение, повествование, и иллюстрации во вневременных пребывающих истинах с особым фокусом на применение этих истин к настоящим нуждам в церкви. "(Кайзер, “К интерпретированному богословию”, с.152). Они представляют собой утверждения о вечных и универсальных истинах, которые сформулированы как применение к жизни нашей аудитории. Это - положения, которые призывают слушающих к какому-то ответу - то есть положениям, которые присваивают истину.
Основные пункты - это резюме каждой мысли (идеи) в одном предложении в библейском тексте, и они сформулированы так, что (1) они не изменяют содержание отрывка; (2) они выражают изначальную цель и тему автора в письменной форме; и (3) они отражают вечную истину, что автор хотел передать.
Как вы утверждаете, принцип богословия отличается в зависимости от жанра текста. Если вы имеете дело с дидактическим материалом (например, послание к Римлянам), то оно - относительно просто. Все, что вам нужно сделать, это обратить учение в форму предложений (гомилетика), которые призывают слушающих к какому-то ответу.
Если вы имеете дело с не дидактическим библейским материалом, то задача усложняется. В этом случае, необходимо суммировать тему каждого абзаца вашего отрывка проповеди в одном предложении, что соответствует намерению автора, и что раскрывает богословскую и практическую суть того, о чем этот параграф. Выяснить то, о чем абзац, может быть очень сложным, например, если в нем повествовательный материал.
4. Каковы Особенности Основных Пунктов?
Поскольку основные пункты универсальны и вечные библейские принципы, каждый главный пункт (1) должен быть выражен либо в настоящем, либо в будущем времени (не в прошлом); (2) должны быть указаны в полных предложениях (т.е. содержать полную "принципиализированную" идею того, что проповедь вполне ясна из пунктов проповеди); (3) не должны включать в себя имен (кроме Бога или Христа) или мест; и (4) не должно быть описания прошлых событий, тех что оставляют проповедь в области древней истории, не имеющие отношения к нашей аудитории.
5. Вывод
Эти библейские принципы образуют структуру вашей проповеди. Делая это, вы преодолеваете разрыв между древним миром библейского текста и современным миром своей аудитории. То есть по сути эта разница между структурой текста (миром текста) и планом проповеди (современный мир).
В следующем выпуске этого журнала, я покажу вам, как проверить свои основные пункты, а затем дам вам примеры планов проповедей по сравнению с их структурами текста. Когда вы на самом деле увидите это в примерах, я думаю, вы поймете пользу того, чтобы потрудиться и разработать план проповеди из структуры текста.
В то же время, в следующей статье профессора Стивена Олфорда ("Причастие Евангелия") вы увидите, как он сформулировал основные моменты, утверждая универсальный, богословский принцип, который он разработал из структуры текста.
Часть III. Размышление
“Причастие Евангелия” (1 Кор. 1:26-31)
Стивен Ф. Олфорд
Продолжая свое учение о разделении церкви, Павел продолжает и показывает, как ссоры и распри могут привести не только к неправильному представлению о характере Евангелия, но и к неправильному представлению общности Евангелия.
По Своей Божественной суверенности и непостижимой мудрости, Бог сконструировал таким образом привлекательность Евангелия, что человек не может заслужить абсолютно ничего, отвечая на него. По этой причине, общность Евангелия состоит из людей, которые узнали, что никакая плоть не может похвалиться в присутствии Бога. Именно из-за их неспособности увидеть эту истину, коринфские христиане соперничали друг с другом под знаменем своих лидеров партий. Апостол, однако, имеет дело с этой проблемой, описывая Божий метод вызова, выбора и контроля общины верующих в Иисуса Христа. Итак, мы видим из исследования стихов перед нами, что:
I. Бог Избирает Свой Народ Через Простоту Евангелия
"Посмотрите, братья, кто вы, призванные: не много из вас мудрых по плоти, не много сильных, не много благородных;" (1 Коринфянам 1:26). Используя повелительное наклонение, Павел приглашает своих читателей исследовать церковь в Коринфе и заметить тех, кто были членами церкви. Совершенно очевидно, что их было очень мало в этом сообществе, которых можно было бы назвать "мудрыми", "могучими" или "благородными". И это, конечно же, было правдой для церкви Иисуса Христа на протяжении всей истории. Смысл ясен и прост:
1) Избранная Простота Евангелия не привлекает многих интеллектуальных людей: "... не много из вас мудрых по плоти, не много сильных, не много благородных" (1 Коринфянам 1:26). Есть тенденция у не возрожденных людей думать независимо от Бога. Мы уже рассматривали человеческую мудрость, как "земную, душевную, и бесовскую" (Иакова 3:15). Если человек не готов покаяться и изменить свое мышление в пользу Божьей мудрости, он не может никоим образом быть спасен (от Матфея 18:3).
Для подтверждения этого, важно напомнить, что один из немногих раз мы читаем, как наш Спаситель, радовался в духе, в дни Его служения, когда он поднял глаза к небу и воскликнул: "Я благодарю вас, О Отче, Господь неба и земли, потому что Ты утаил сие от мудрых и разумных и открыл младенцам. Ей, Отче, ибо таково было Твое благоволение "(Матфея 11: 25-26).
Дело в том, что небо постановило, что мир своею мудростью не может познать Бога (1 Коринфянам 1:21). Это неквалифицированный отказ от философского подхода к вечному в порядку в том, чтобы "никакая плоть не хвалилась пред Богом" (1 Коринфянам 1:29).
2) Избранная Простота Евангелия не привлекает многих влиятельных людей: "... не много сильных ..." (1 Коринфянам 1:26). Есть тенденция у не возрожденных людей думать независимо от Бога. . Слово "сильный" является общим термином для людей, которые получили место влияния через свои собственные достижения. Теперь, если эта гордость влияния не распинается в Церкви Иисуса Христа, то появляется всегда проблема. Мы все знакомы с Диотрефом, чья любовь к превосходству в церкви в Ефесе, не создала ничего, кроме ссор и распрей (3-е Иоанна 1: 9). В самом деле, из-за его позиции влияния он не только напал на любимого апостола Иисуса, Иоанна, но и отказался принять всех тех, кто был связан с этим Божьим человеком. Действительно, подразумевается, что он на самом деле перехватил одно из писем Иоанна так, чтобы он никогда не прочитал его людям в церкви. Все это служит иллюстрацией тому, какое разлагающееся влияние оказывает не распятая власть. Именно по этой причине не так много "сильных" призвано; и Бог пожелал этого, чтобы "... никакая плоть не хвалилась пред Богом» (1 Коринфянам 1:29)
3) Избранная Простота Евангелия не привлекает многих людей с имперской родословной: "... не много ... благородных, призвано" (1 Коринфянам 1:26). Есть тенденция у не возрожденных людей думать независимо от Бога. Большинство комментаторов согласны, что слово "благородный" относится к семейным связям и указывает на благородный ранг. Хотя есть выдающиеся исключения, как мы видим, это по правде, потому что очень немногие из благородного ранга когда-либо, привлечены к Евангелию.
Во времена Павла были великие личности, как Дионисий в Афинах (Деяния 17:34); Сергий Паулюс, проконсул Крита (Деяния 13: 6-12); благородные дамы Фессалоник и Верии (Деяния 17: 4, 12); и не в последнюю очередь, сам апостол, которые были призваны в общение Сына Божьего. Все мы знаем людей, как граф Зитцендорф и мадам Гийон, которые были частью этой прославленной компании искупленных.
Леди Хантингтон, выдающаяся англичанка обратилась к Богу с покаянием через проповедь Роуланда Хилла, пламенного евангелиста, которая как-то заметила, что она обязана своим спасением букве "М" В качестве объяснения почему, она добавила, что если бы не прочитанный ею текст, "...не каких-то мудрых, ни сильных, ни благородных," она могла бы быть никогда не спасена; но, как мы знаем, Павел говорит: «Не много мудрых, сильных, или благородных." Такие были в прошлом, и будут спасенные и в будущем, пока церковь Иисуса Христа не станет полной. Но факт остается фактом, что по большому счету, простота Евангелия не обращается к тем, кто из имперских родословных. И, еще раз, Бог пожелал этого, чтобы "никакая плоть не хвалилась пред Богом» (1 Коринфянам 1:29).
Любой человек со знанием о церковной жизни знает о ссоре и распрях и разделениях в церкви, что вызваны плотским стремлением к признанию. Только тогда, когда мы понимаем, что мы не можем думать, работать, или жить отдельно от Бога, это истинное смирение и, как следствие, гармония будет преобладать в общении народа Божьего. Теперь Павел обращается к другому моменту этой же мысли и указывает на то, что:
II. Бог Избирает Своих Людей Через Превосходство Евангелия
"Но Бог избрал немудрое мира, чтобы посрамить мудрых, и Бог избрал немощное мира, чтобы посрамить сильное; и незнатное, и уничиженное, и ничего не значащее избрал Бог, чтобы упразднить значащее (1-е Коринфянам 1: 27-28). Чтобы научить человека, и чтобы никакая плоть не хвалилась пред Богом, Бог сотворил, чтобы Его избирательная благодать продемонстрировала полное превосходство Евангелия. Другими словами:
1) Бог избрал, чтобы спасти немудрое человечество. "Но Бог избрал немудрое мира, чтобы посрамить мудрых ..." (1-е Коринфянам 1:27). Слово, которое Павел использует, чтобы описать человечество здесь, это термин "дебил", что означает "тупой", "вялый", "глупый", или "дурак". Но в Своей благодати Бог поднимает такой материал, чтобы изменить его через искупительную работу Христа так, чтобы посрамить мудрых этого мира.
Человеческие философии никогда не могут объяснить чудо возрождения. Психолог может попытаться провести свой анализ, врач - дать свой диагноз, ученый - провести свой эксперимент, но в конечном счете, все трое в итоге будут постыжены преобразующими изменениями.
2) Бог избрал, чтобы спасти слабое человечество. ".. Бог избрал немощное мира, чтобы посрамить сильное" (1 Коринфянам 1:27). Вот дальнейшая характеристика мужчин и женщин, которые ничего не знают о спасительной благодати Божией. Павел говорит о них как о «слабых» - это слово, которое означает "бессильные", и оно нам напоминает также, что "... когда мы были немощны, в определенное время Христос умер за нечестивых» (Римлянам 5: 6; и также Титу 3: 5).
Человек совершенно не в силах заработать свое собственное спасение. Никогда не было более очевидным, чем в этом очень цивилизованный век, в котором мы находимся. Философия не смогла ответить на вопросы, касающиеся сверхъестественного происхождения человека, цели на земле, и окончательной судьбы. Аналогичным образом, научный метод, чтобы справиться с основной проблемой человека - грехом, был безосновательным. Со всеми творениями и своим изобретательным разумом, человек сделал этот мир еще более проблематичным и разрушительным. Но еще раз, это место, где Евангелие Господа Иисуса Христа все превосходит. Через послание креста Бог берет немощное человечество и путает, или посрамляет то, что в мире считается могущественным и сильным.
3) Бог избрал, чтобы спасти падшее человечество. "... И незнатное мира и уничиженное избрал Бог, чтобы посрамить значащее" (1 Коринфянам 1:28). Здесь Павел использует три выражения, чтобы описать полное "падение" человечества. "Незнатное" несет в себе мысль чего-то, что имело низкое происхождение, и, следовательно, морально бесполезное. "Уничиженное" представляет собой что-то ничтожное и презираемое. "Ничего не значащее" передает идею о ничтожествах в этом мире.
Какая безнадежная картина падшего человечества! И все же Господь Иисус, силой Его спасительного креста, берет таких мужчин и женщин, и использует их, чтобы свести это на нет: это значит, что во Христе выражена вся тщетность и никчемность того, что обычный человек считает сильным и важным.
Итак, мы видим, что в "слове о кресте" есть поучительное Евангелие для глупого человечества, и есть искупительное Евангелие для слабого человечества, и есть творческое Евангелие для падшего человечества. Из всех этих разных потерянных мужчин и женщин Бог составляет общину святых. Какой замечательный у нас Спаситель!
Но у Павла есть еще один аспект этой истины, чтобы поделиться с нами. В заключительных стихах этого пункта он показывает, что:
III. Бог Защищает Своих Людей Через Евангелие, Которого Достаточно
"От Него и вы во Христе Иисусе, Который сделался для нас премудростью от Бога - праведностью и освящением, и искуплением» (1 Коринфянам 1:30). Для тех, кто отвечает на выборочное и избранное Евангелие, есть полная самодостаточность в Господе Иисуса Христа. Откровение мудрости Бога, как видно во Христе, сделало доступным:
1) Спасение для наших нужд прошлого. "... Христос, Который сделался для нас ... праведностью ..." (1 Кор 1:30). Это означает наше оправдание. Во Христе мы достигаем состояния жизни невозможного нигде в другом месте на земле. Это - гарантия прощения за грех и мир в сердце. Более того, он дает нам положение перед Богом, при котором ни дьявол в аду, ни один человек на земле, или ни один ангел на небесах не сможет напасть.
2) Спасение для наших нынешних нужд. "... Христос, который сделался для нас ... освящением ..." (1 Коринфянам 1:30). Доктор Кэмпбелл Морган отмечает, что освящение является "очищением путем разделения." Это позиционно и прогрессивно. Это сама жизнь Христа пребывающая в нас момент за моментом. А так как вся полнота Божества пребывает в нашем Спасителе, нет потребности в нашей жизни, которую бы не смог бы не восполнить Христос.
3) Спасение для наших отложенных нужд. "... Христос, который сделался для нас ... искуплением ...» (1 Коринфянам 1:30). "Искупление" здесь означает "окончательная свобода от всякого рабства." Это особое слово встречается в Новом Завете, в десять раз, и при каждом удобном случае оно относится к будущему, а не к прошлому или настоящему. Павел говорит о том же, когда он говорит: "... теперь ближе к нам спасение, нежели когда мы уверовали» (Римлянам 13:11). Именно в этом смысле, в котором Христос сделался для нас искуплением. Эта уверенность в полном избавлении от всякого рабства и разных ограничений, когда Христос освобождает нас от самого присутствия греха. Это тот день, когда он вылепит заново тело нашего уничижения, чтобы оно смогло стать подобным телу Его славы.
Вот достаточность Евангелия, с помощью которого Бог защищает общину святых. Цель Павла - представить эту истину так, чтобы убрать основу человека для похвальбы. Таким образом, он делает заключение с помощью замечательной цитаты из Иеремии 9:24: "..пусть хвалится тем, что разумеет и знает Меня, что Я Господь ..."
Вывод: То, что разделяет церковь - это когда есть похоть славы в человеческом знании, влиянии, или репутации. Но апостол Павел прилагает все усилия, чтобы показать, что ни один человек не имеет ничего общего со славой, которая только в Господе Иисусе Христе, который был в колыбели, был дисциплинирован в магазине плотника, прошел проверку на дорогах и в домах своих собственных людей , прославлен через распятие и воскресение, а затем отправлен по всему миру через уста и жизни простых людей. Признать Спасителя в этом смысле - спуститься на землю, объединиться с общей жизнью, и быть удовлетворенным в общей славе. Как написано: "... Тот, кто хвалится, пусть хвалится Господом» (1 Коринфянам 1:31).
Часть IV: План Проповеди
Для прослушивания аудио версии этой проповеди на английском языке, нажмите на эти ссылки: Link 1 - Jn. 10:10-13; Link 2 - Jn. 10:14-16; Link 3 - Jn. 10:16-18
Название: Иисус - Добрый Пастырь (Ин. 10: 10-18)
Пункт № 1: Добрый Пастырь служит лично своим овцам (10-13)
1. Он дает им жизнь с избытком (10)
2. Он жертвует своей жизнью ради овец (11-13)
Пункт № 2: Добрый Пастырь общается лично с овцами (14-18)
1. Это - близкие отношения (14-15a)
2. Это - отношения, за которые нужно платить цену (15б)
3. Это - охватывающие других отношения (16)
4. Это - безопасные отношения (17-18)
(1) Отношения безопасные, как любовь Отца (17)
(2) Отношения безопасные, как власть Сына (18)
Выводы:
1. Иисус - Пастырь Добрый, который умер за нас
2. Иисус - Пастырь Добрый, который живет для нас
3. Иисус - Пастырь Добрый, который приходит к нам
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La Revue Internet Des Pasteurs, Fre Ed 21, Edition de l’automne 2016
Edition d’Automne 2016
Auteur: Dr. Roger Pascoe, Président,
L’Institut pour la Prédication Biblique,
Cambridge, Ontario, Canada
(http://tibp.ca/)
“Renforcer les capacités de l’Eglise dans la Prédication Biblique et le Leadership”
Premiere Partie: La Puissance Dans La Predication, Pt. 4
“La puissance de la Prière”
La prière, c’est le centre même de la puissance spirituelle. L’apôtre Paul a formulé une demande de prière en ces termes : « Du reste frères, priez pour nous, afin que la parole de Seigneur se répande et soit glorifiée… ». (2 Thess. 3:1) De même, il demande : “faites en tout temps par l’Esprit toutes sortes de prières et de supplications ; veillez à cela avec une entière persévérance et priez pour tous les saints – Priez pour moi, afin qu’il me soit donné, quand j’ouvre la bouche, de faire connaître hardiment et librement le mystère de l’Evangile… ». (Eph. 6:18-20) De plus, « persévérez dans la prière, veillez-y avec actions de grâces; priez en même temps pour nous, afin que Dieu nous ouvre une porte pour la parole, en sorte que je puisse annoncer le mystère de Christ, pour lequel je suis dans les chaînes » (Col. 4:2)
Notez dans ces passages que Paul établit un lien direct entre la prière et la prédication. Il est clair que selon lui, la prière est le centre même de la puissance spirituelle. En ayant donc cela à l’esprit, essayons de nous poser les questions difficiles suivantes :
1. Pourquoi La Prière Personnelle Est-Elle Une Question Importante (A Résoudre) Pour Assurer Une Prédication Puissante?
Pour prêcher avec une puissance accrue année après année, le prédicateur se doit d’avoir une expérience continuellement renouvelée avec Dieu, et cela n’est possible qu’à travers la prière. La prière personnelle est le moyen par lequel nous expérimentons une nouvelle relation et une nouvelle marche avec Dieu. C’est à travers cette communion privée avec Dieu dans la prière que nos âmes sont restaurées et que nous redécouvrons encore et encore le cœur de Dieu.
Rien n’encourage et expose plus à la vision spirituelle que la prière et la lecture de la parole de Dieu. Si un prédicateur se refuse de payer le prix en passant constamment beaucoup de temps avec Dieu, sa source tarira. Mais, lorsque passons du temps dans la présence de Dieu, Dieu réapprovisionne nos ressources spirituelles et nous revitalise. La prière secrète nous transforme et ravive notre passion pour Dieu. Seule la prière dans le lieu secret nous maintient spirituellement éveillés.
Pour que la prédication soit accompagnée de puissance, le prédicateur doit être un homme de prière. En effet, Dieu nous invite à venir sans réserve et de manière régulière en Sa présence afin « d’obtenir miséricorde et trouver grâce pour être secourus dans nos besoins » (Héb. 4 :16). A travers la prière, Dieu nous révèle ce qu’il veut que nous communiquions au peuple. C’est pourquoi la prière personnelle est un élément vital pour l’onction de la prédication.
2. Pourquoi La Prière Est-Elle Une Discipline Difficile A Maintenir?
La prière est une discipline difficile à maintenir en raison du simple fait que notre adversaire, le diable veut nous en empêcher. Satan sait qu’il existe un lien direct entre la prière personnelle et la manifestation de la puissance à la chaire (dans la prédication), et il ne veut pas que la puissance se manifeste pendant la prédication. Il existe toujours des choses qui attirent irrésistiblement notre attention. Lorsqu’elles viennent à nous voler du temps qu’on aurait pris dans la prière, ce sont des outils dont Satan se sert pour nous entrainer loin de la prière et loin de Dieu.
3. Pourquoi Y A-T-Il Si Peu De Prière Dans La VIe De Si Bon Nombre De Prédicateurs?
La principale raison qui explique le si peu de place de la prière dans la vie de beaucoup de prédicateurs, c’est le manque de discipline personnelle dans leur vie. Beaucoup d’entre nous sont paresseux et négligents vis-à-vis de la question de la prière. Nous passons du temps à préparer le sermon, mais nous avons tendance à négliger la préparation de nos coeurs par la prière, parce que nous manquons de la discipline.
Nous avons besoin de discipline dans la préparation de notre prédication en étudiant la parole de Dieu et en priant pour obtenir l’aide et la direction de Dieu. La prière requière la même discipline qu’il faut pour toute autre occupation où la formation et l’engagement sont exigés. De même que les athlètes s’entraînent diligemment et se réservent de certains plaisirs que, peut-être, d’autres personnes se permettent, dans le but de conserver la meilleure forme possible, nous aussi, prédicateurs, nous devons nous dévouer à la « formation » spirituelle et à la discipline de la prière.
4. Pourquoi La Prière Est-Elle Comme Une Boussole Pour (Orienter) Le Sermon?
La prière est comme une boussole pour le sermon, dans ce sens qu’elle joue le même rôle que le gouvernail dans un navire. Elle nous maintient dans la bonne direction. Elle indique le chemin à l’avance. Nous savons le point auquel nous voulons arriver dans notre sermon, et la prière permet de nous assurer que la direction prise nous y conduira à la fin.
5. Pourquoi Prière Et Vie Sainte Vont De Pair?
La prière et la sainteté sont deux choses étroitement liées. La prière tient l’esprit du prédicateur en harmonie avec Dieu, et nous nous ne pouvons rester en harmonie avec Dieu que si, et seulement si nous vivons une vie sainte. La prière est le moyen qui garde nos cœurs attachés à Dieu ; et pour rester attachés à Dieu, il faut une culture de la sainteté.
Nous ne pouvons pas entrer dans une attitude de prière sérieuse et authentique tout en traînant le péché dans notre vie. C’est pourquoi la discipline que commande la prière nous rend permanemment sensibles au péché et à toute autre chose qui perturbe notre communion avec Dieu. La prière en tant qu’un moyen de rencontre divine avec Dieu nous conduit vers un lieu saint où nous avons l’obligation de nous déchausser. Dans la prière, nous sommes convaincus de tout ce qui, dans notre vie est contraire à la nature et au caractère de Dieu, et que nous devons, pour continuer dans la prière, juger et confesser.
Ce n’est qu’en demeurant constamment dans la prière que nous parviendrons à une vie sainte. Et c’est alors que nous sommes remplis de l’onction puissante de l’Esprit Saint. Sans une vie de prière constante, nous ne pouvons guère parvenir à une véritable sainteté ; et si nous ne sommes pas véritablement saints, nous ne pouvons pas prêcher avec puissance. Nous pouvons avoir le meilleur plan de sermon, et avoir fait la recherche la plus diligente, mais si notre vie privée manqué de sainteté, nous ne saurons prêcher la parole avec puissance.
Si notre vie privée est moralement impure, alors, notre predication sera inefficace et faible. Nous ne pouvons pas prêcher la parole de Dieu avec puissance si nous ne vivons pas d’une manière qui reflète cette parole. La parole de Dieu doit porter son effet d’abord dans la vie du prédicateur avant de s’appliquer à la vie de la congrégation.
John Wesley voulait des prédicateurs qui “ne craignent rien si ce n’est le péché, et ne désirent rien si ce n’est Dieu”.
Pour manifester la puissance de Dieu, nous devons vivre une vie de sainteté qui découle d’une vie pleinement dévouée à la prière.
Une vie qui est faible dans la prière est aussi faible en pratique, et faible dans la prédication. Une vie de prière forte donne lieu à une véritable vie de sainteté, et par conséquent, à une vie de prédication puissante. Si nous ne vivons pas une vie de sainteté, nous ne prierons pas ; mais si nous marchons dans la sainteté avec Dieu, nous ne nous lasserons pas de prier.
Deuxieme Partie: La Preparation De La Predication
Donner les grandes lignes du Sermon, 2ème Partie
Pour donner les grandes lignes d’un sermon, nous devons aller de la structure du texte (dont nous avons parlé longuement dans les éditions précédentes de ce journal) au plan du sermon. La structure du texte est la première étape de l’élaboration du plan du sermon. Les plans de sermons suivent le cours des idées évoquées dans la structure du texte et sont tirés de la structure du texte. Cependant, il y a un passage de la structure textuelle au plan de sermon – parfois appelé « sermonic shift »
I. Passer De La Structure Textuelle Au Plan Du Sermon
Le passage de la structure du texte au plan du sermon est un passage du « monde biblique » (c-à-d. le monde de l’auteur biblique) au « monde contemporain » (c.-à-d. le monde dans lequel nous vivons), de sortes que les idées que nous exprimons (1) ne sont pas liées à une époque spécifique donnée, (2) ne sont pas limitées à certaines personnes (autres que Dieu et le Seigneur Jésus), et (3) ne sont pas limitées géographiquement et spatialement.
En d’autres termes, les plans de sermon ne se referent ni à un temps passé, ni à des personnes ou à des situations spécifiques. Au contraire, les idées contenues dans un plan de sermon sont des principes qui bravent l’espace temporel, des vérités universelles. Ce que nous essayons de faire ici, c’est de donner à notre plan de sermon une forme qui peut être communiquée, comprise et qui est pertinente pour le public d’aujourd’hui, (1) en allant des idées spécifiques du texte à ce qui est souvent appelé « l’échelle de l’abstraction » pour parvenir à des vérités générales qui transcendent les limites temporelles ;et (2) en exprimant ces vérités intemporelles comme devant s’appliquer à la vie quotidienne (c.-à-d. applicables à notre public).
Si vous ne le faites pas, votre auditoir pourrait dire « cela s’appliquait bien à l’apôtre Paul, mais qu’est-ce que cela a à voir avec moi? Pourquoi devrais-je écouter ce sermon? » Nous surmontons cette objection en ponctuant les grandes lignes de notre sermon par des points dont la vérité est universelle et dont l’application est d’actualité. Ainsi, les grandes lignes d’un sermon consistent en des points essentiels portant sur des vérités universelles (c.-à-d. des principes intemporels) et focalisés sur une application contemporaine (qui correspond bien au contexte présent de notre public)
Chaque texte a un message qui comporte en lui une vérité théologique intemporelle applicable aujourd’hui. La tâche qui nous incombe est d’identifier ces vérités intemporelles et les exprimer sous forme de principes. C’est ce que le Dr. Walter Kaiser appelle “principlization”, (le procéder par lequel les vérités sont érigées en principes). Ces principes deviennent les « grands points » qui forment le plan de notre sermon.
II. Formulation Des Grands Points De Notre Sermon
Après avoir dégagé le plan du texte, la prochaine tâche consiste à écrire les grandes lignes du sermon. Le point de départ de la rédaction du plan du sermon consiste à formuler les grands points ainsi que les sous-points. Les grands points forment en eux la structure (le squelette) sur laquelle le sermon est bâti. Ils sont (en fait) comparables à des titres de chapitres d’un livre.
1. En Quoi Consistent Les Grands Points?
Les grands points consistent en une phrase qui résume chaque pensée (idée) contenue dans le texte. Ce sont des reformulations de la structure du texte sous forme de principes universels, des vérités qui résistent au temps. Les grands points répondent à la question suivante : « quelle leçon peut-on tirer du texte aujourd’hui ? En quoi cela s’applique-t-il à moi ? Quels sont les principes qui sont encore valables (vérités intemporelles) et s’appliquent à nous ? »
2. Comment Idenfier Les Grands Points?
Les grands points se dégagent à travers l’étude que vous faites du texte, et proviennent de la structure textuelle que vous avez pu découvrir. C’est ce qui explique le fait que la structure du texte est la première étape dans l’élaboration du plan du sermon. Ainsi, tout comme la structure textuelle, les grands points du sermon suivent logiquement et sont structurés autour du « flux de pensées » contenues dans le texte.
On découvre les grands point dans le texte biblique en identifiant les principes universels (vérités intemporelle) exprimés par l’auteur de l’écriture bliblique non seulement à l’endroit de son auditoire immédiat, mais aussi à nous.
3. Comment Les Grands Points Sont-Ils Enonces (Formules)?
Les grands points sont des affirmations de principe dont la portée est une « application à vie ». Comme le dit Walter Kaiser, les grands points « énoncent la proposition de l’auteur, son argument, sa narration et ses illustrations en tant que des vérités irrésistibles, en mettant un accent particulier sur l’application de ces vérités aux besoins actuels de l’église ». (Kaiser, Toward An Exegetical Theology, 152). Il s’agit d’affirmations de vérités intemporelles et universelles qui sont dites applicables à la vie actuelle de notre public. Ce sont des propositions qui appellent les auditeurs à une sorte de réponse – c.-à-d. des propositions qui appellent à s’approprier cette vérité.
Ainsi, les grands points sont une phrase qui résume en elle seule chaque pensée “idée” contenue dans le texte biblique, et ils sont formulés de manière à (1) ne pas diluer ou changer le contenu du passage; (2) exprimer fidèlement le but et le thème originaux de l’auteur dans son écrit; et (3) refléter la vérité intemporelle que l’auteur initial a voulu faire passer.
L’expression du principe théologique varie en fonction du genre de texte. Lorsque vous avez à faire à des livres didactiques, (ex : Romains), cela est relativement simple. Tout ce que vous avez à faire, c’est de formuler les enseignements sous forme propositionnelle (des points homilétiques) appelant les auditeurs à une réponse.
Lorsque vous traitez des écrits bibliques non-didactiques, la tâche est plus complexe. Dans ce cas précis, il vous est indispensable de résumer le thème de chaque paragraphe du passage de votre prédication en une seule phrase qui correspond exactement à l’intention de l’auteur, et qui donne l’essentiel du contenu théologique et pratique du paragraphe. Dans le cas d’écrits narratifs, la connaissance exacte de ce dont il est question dans le texte peut s’avérer très difficile.
4. Quelles Sont Les Carateristiques Des Grands Points?
Du fait que les grands points sont des principes bibliques universels et intemporels, chacun d’eux (1) devrait être exprimé soit au présent ou au future (non dans le passé); (2) devrait être énoncé en de phrases complètes (c.-à-d. contenir une idée entière formulée sous forme de principe, de manière à ce que le sermon soit déjà compréhensible à partir des points uniquement); (3) ne devrait contenir des noms de personnes (sauf Dieu ou Christ) ou de lieu; et (4) ne devrait pas être une description d’événements passés, puisque cela maintien le sermon dans l’univers de l’histoire ancienne sans aucune pertinence pour notre auditoire.
5. Conclusion
Ces principes bibliques, forment alors le plan de votre sermon. En procédant de la sorte, vous créez un pont entre le monde d’autrefois dont il est question dans le texte biblique, et le monde contemporain dans lequel vit notre auditoire. C’est ce qui marque essentiellement la différence entre une structure textuelle (monde du texte) et un plan de sermon (monde contemporain).
Au cours de l’édition prochaine de ce journal, je vous apprendrai comment tester vos grands points, puis vous donnerai des exemples de plans de sermon en comparaison avec la structure de texte. Lorsqu’alors vous aurez vu la différence dans ces exemples, vous verrez l’avantage de fournir l’effort de faire un plan de sermon à partir de la structure du texte.
En attendant, dans l’article de méditation suivant produit par Dr. Stephen Olford (“The Communion of the Gospel”) vous verrez comment il a formulé ses grands points sous forme d’énoncés de principe théologique universel à partir de la structure même du texte.
Part III. Meditation
“La Communion de l’Evangile” (1 Cor. 1:26-31)
By: Dr. Stephen F. Olford
En poursuivant son enseignement sur la division dans l’église, Paul entreprend à présent de montrer à quel point les conflits et les disputes peuvent provenir non seulement des notions erronées que l’on a de l’évangile, mais aussi des mauvaises idées que l’on a concernant la communauté évangélique.
Dans Sa souveraineté divine et Sa sagesse insondable, Dieu a fait de telle sorte que ce n’est absolument par aucun mérite que l’homme accède à l’appel de l’évangile. C’est pour cette raison que la communauté évangélique est une société d’individus qui ont compris qu’aucune chair ne devrait se glorifier devant Dieu. C’était à cause de leur incapacité à discerner cette vérité que les Chrétiens de Corinthe se rivalisaient sous la bannière de leurs leaders respectifs. Par contre, l’Apôtre aborde le problème en décrivant la méthode par laquelle Dieu appelle, choisit et conduit la communauté des croyants en Jésus Christ. Ainsi, nous voyons à partir de l’étude des versets ci-dessous que:
I. Dieu Choisit Son People A Travers La Simplicite De L’evangile
« considérez, frères, que parmi vous qui avez été appelés il n’y a ni beaucoup de sages selon la chair, ni beaucoup de puissants, ni beaucoup de nobles ». (1 Corinthiens 1:26). En utilisant le mode impératif, Paul invite ses lecteurs à faire un sondage de l’église de Corinthe et observer ceux qui en constituaient les membres. Bien évidemment, il y avait très peu de personnes au sein de cette communauté qui auraient été considérées comme “sages”, “puissants” ou “nobles”. Et bien entendu, cela a été une vérité en ce qui concerne l’église de Jésus Christ tout au long de sa longue histoire. L’implication est claire et nette:
1) La simplicité selective de l’Evangile n’attire pas beaucoup de personnes d’un certain niveau intellectuel: « … il n’y a ni beaucoup de sages selon la chair, ni beaucoup de puissants, ni beaucoup de nobles » (1 Corinthiens 1:26). Il y a une tendance naturelle pour les personnes qui ne sont pas nées de nouveau de mettre Dieu en dehors de leurs pensées. Comme nous l’avons déjà vu dans notre considération propre de la sagesse humaine, il y en a qui est « terrestre, sensationnel, et diabolique » (James 3:15). A moins qu’une personne est préparée à la repentance ou au changement de sa pensée en faveur de la sagesse de Dieu, elle ne peut en aucun cas être sauvée (voir Mathieu 18:3).
Pour corroborer cela, il est important de se rappeler que l’une des seules fois où à travers les écritures, nous voyons notre Sauveur se réjouir en esprit, c’est lorsqu’il leva les yeux vers le ciel et s’exclama en ces mots: « Je te loue, Père, Seigneur du ciel et de la terre, de ce que tu as caché ces choses aux sages et aux intelligents, et de ce que tu les as révélées aux enfants. » (Mathieu 11:25-26).
Le fait est que le ciel a décrété que le monde par sa sagesse ne peut connaitre Dieu (1 Corinthiens 1:21). Ce rejet sans condition de l’approche philosophique relative aux choses éternelles, a la vocation de faire en sorte qu’ « aucune chair ne se glorifie devant Dieu » (1 Corinthiens 1:29).
2) La simplicité sélective de l’Evangile n’attire pas beaucoup de personnes qui ont de l’influence : « … ni beaucoup de puissants « (1 Corinthiens 1:26). Il y a une tendance naturelle pour les personnes qui ne sont pas nées de nouveau de mettre Dieu en dehors de leurs travaux. Le mot « puissant » est un terme général qui définit les personnes qui ont atteint un niveau d’influence à travers leurs propres réalisations. Pourtant, à moins que cet orgueil d’influence ne soit crucifié dans l’église de Jésus Christ, il y a toujours un problème. Nous connaissons tous le personnage de Diotrephes, dont l’amour pour la suprématie dans l’église d’Ephèse n’a entrainé autre chose que des conflits et des disputes (3 Jean 1:9). En effet, à cause de sa position d’influence, il a non seulement attaqué le bien aimé Apôtre Jean, mais aussi refusé de communier avec l’assemblée de ceux qui s’étaient associés à cet homme de Dieu. Bien entendu, cela implique fortement qu’il a véritablement intercepté une des lettres de l’apôtre Jean afin qu’elle ne fût pas lue à l’attention des membres de l’église. Tout cela permet d’illustrer l’influence corruptrice d’une puissance non crucifiée. Pour cette raison précisement, il n’y a pas beaucoup de puissants qui ont été appelés; et Dieu l’a voulu ainsi afin qu’ « aucune chair ne se glorifie devant Dieu » (1 Corinthiens 1:29).
3) La simplicité sélective de l’Evangile n’attire pas beaucoup de personnes qui sont d’une ancienneté impériale « … ni beaucoup de nobles » (1 Corinthiens 1:26). ). Il y a également une tendance naturelle pour les personnes qui ne sont pas nées de nouveau de mettre Dieu en dehors de leurs vies. La plupart des commentateurs sont d’accord que le mot « noble » s’applique aux liens familiaux et désigne ceux qui sont issus de la lignée des nobles. Bien qu’il existe des exceptions pertinentes, comme nous le verrons, il est aussi vrai que très peu de personnes de lignée noble s’intéressent à l’évangile.
A l’époque de Paul, il y avait des hautes personnalités telles que Denys d’Athènes (Actes 17:34); Sergius Paulus, le proconsul de Crète (Actes 13:6-12); les dames nobles de Thessalonie et de Béré (Actes 17:4, 12); et pas des moindres, l’Apôtre lui-même, qui étaient tous appelés à être disciples du fils de Dieu. Nous avons tous entendu parler des gens comme le Comte Zinzendorf et Madame Guyon qui se sont ajoutés à cette société des racheté.
Dame Huntington, une anglaise de haute distinction, qui s’était convertie grâce à la prédication de Rowland Hill, illustre évangéliste a une fois fait la remarque selon laquelle elle devait son salut à la lettre « M ». Dans son explication, elle a poursuivi en disant que si dans le texte il avait été écrit “not any wise…” (en français « …ni aucun sage…») , elle n’aurait pas été sauvée; mais comme nous le savons, Paul a dit, “… not many wise, mighty, or noble” (en français “… ni beaucoup de sage, ni beaucoup de puissants, ni beaucoup de nobles…). Il y en a eu dans le passé, et il y en aura qui seront sauvés, jusqu’à ce que l’église de Jésus Christ soit complète. Toutefois, le fait reste que la simplicité de l’évangile n’attire pas ceux qui ont atteint des percées impériales. Et une fois de plus, Dieu l’a voulu ainsi afin qu’« aucune chair ne se glorifie devant Dieu » (1 Corinthiens 1:29).
Toute personne qui connait la vie de l’église aura l’expérience des conflits, les disputes et les divisions qui sont causés par le désir charnel de reconnaissance. Ce n’est que lorsque nous réalisons que nous ne pouvons penser, travailler ou vivre en dehors de Dieu que la vraie humilité et l’harmonie conséquente règneront dans l’assemblée du peuple de Dieu. Ensuite, Paul met l’accent sur un autre aspect du même sujet et révèle que:
II. Dieu Elit Son Peuple A Travers La Suprematie De L’evangile
« Mais Dieu a choisi les choses folles du monde pour confondre les sages; Dieu a choisi les choses faibles du monde pour confondre les fortes, et Dieu a choisi les choses viles du monde et celles qu’on méprise, celle qui ne sont point, pour réduire à néant celle qui sont,… » (1 Corinthians 1:27-28). Pour enseigner à l’homme une fois pour toute qu’aucune chair ne devrait se glorifier devant Lui, Dieu a décidé que Sa grâce élective manifeste la suprématie absolue de l’évangile. En d’autres termes:
1) Dieu a choisi de sauver les hommes et les femmes caractérisés par la folie. « Mais Dieu a choisi les choses folles du monde pour confondre les sages; » (1 Corinthiens 1:27). Le terme que Paul emploie pour décrire l’humanité ici est celui duquel dérive notre terme « crétin », ce qui signifie « ennuyeux », « léthargique », « sot », ou « stupide ». Mais dans Sa grâce, Dieu saisit une telle matière et la transforme à travers l’œuvre rédemptrice de Christ afin de confondre les sages de ce monde.
Les philosophies humaines ne peuvent pas expliquer le miracle de la nouvelle naissance. Le psychologue peut tenter son analyse, le médecin son diagnostic et le physicien son expérience, mais tous les trois sont au bout du compte confondus par le changement transformateur qui a lieu.
2) Dieu a choisi de sauver les hommes et les femmes faibles «… Dieu a choisi les choses faibles du monde pour confondre les fortes;…” (1 Corinthiens 1:27). Ici encore nous voyons la caractérisation des hommes et femmes qui n’ont aucune connaissance de la grace salvatrice de Dieu. Paul se réfère à eux comme “faibles” – un mot qui signifie “sans aucune force” ou “qui manque de puissance”. Aussi, rappelons-nous que « …lorsque nous étions encore sans force, Christ, au temps marqué, est mort pour des impies » (Romains 5:6; voir aussi Tites 3:5).
L’homme est absolument incapable de travailler à son propre salut. Cela n’a pas été plus évident que dans le siècle hautement civilisé dans lequel nous nous trouvons. La philosophie a montré ses limites à la tentative de répondre aux grandes questions sur l’origine surnaturelle de l’homme, son but sur la terre et sa destinée finale. De même, la méthode scientifique s’est révélée totalement inadaptée aux problèmes fondamentaux de l’homme en ce qui concerne le péché. Avec toutes les créations par son esprit inventeur, l’homme a rendu le monde d’avantage plus problématique et destructif. Mais une fois de plus, c’est là où l’évangile de Jésus Christ triomphe absolument. A travers le message de la croix, Dieu utilise les faibles de l’humanité pour confondre, honnir les choses qui sont considérées comme puissantes selon les estimations du monde.
3) Dieu a choisi de sauvé les hommes et les femmes déchus. “et Dieu a choisi les choses viles du monde et celles qu’on méprise, celle qui ne sont point, pour réduire à néant celle qui sont (1 Corinthiens 1:28). Ici, Paul emploie trois expressions pour décrire la «déchéance » absolue de l’humanité. « les choses insignifiantes » comporte la pensée de ce qui est « de basse extraction » et par conséquent qui est moralement sans importance. Les choses qui sont « méprisées » renvoient à ce qui est méprisable. « les chose qui ne sont pas » enveloppent l’idée des choses qui n’ont aucune importance dans ce monde.
Quelle image désespérée de l’humanité déchue! Et pourtant, Jésus, par l’œuvre salvatrice de Sa croix prend de tels hommes et femmes qu’il utilise pour réduire à néant les choses qui sont – ce qui, lorsque nous l’interprétons, signifie que Christ, à travers son œuvre créative en l’homme, expose la futilité et la nullité absolues de ce que l’homme naturel considère comme puissant et important.
Donc, nous voyons que dans “le message de la croix,” il y a un évangile instructif pour l’humanité caractérisée par la folie, il y a un évangile rédempteur pour les hommes et les femmes caractérisés par la faiblesse, et un évangile créatif pour les hommes et les femmes déchus. C’est avec tous ces types d’hommes et de femmes perdus, que Dieu forme Sa communauté des Saints. Quel Sauveur merveilleux nous avons!
Cependant, Paul a encore un autre aspect de cette vérité à partager avec nous. Dans les derniers versets de ce paragraph he révèle que:
III. Dieu Protege Son Peuple A Travers La Toute Suffisance De L’evangile
« or, c’est par lui que vous êtes en Jésus Christ, lequel, de par Dieu, a été fait pour nous sagesse, justice et sanctification et rédemption » (1 Corinthiens 1:30). Pour ceux qui répondent effectivement à l’évangile sélectif et électif, ils trouvent tout pleinement dans le Seigneur Jésus Christ. La révélation de la sagesse de Dieu, comme nous l’avons vu, a rendu disponible :
1) Un salut qui comble nos besoins passés. “…Jésus Christ, lequel, de par Dieu, a été fait pour nous…, justice…” (1 Corinthiens 1:30). Cela signifie notre justification. En Christ, nous parvenons à un niveau de vie qu’on ne peut atteindre nulle part ailleurs. C’est l’assurance du pardon de nos péchés et de la paix dans nos cœurs. En plus de cela, il nous place à une position devant Dieu où ni le diable en enfer, ni aucun homme sur la terre, ni aucun ange dans le ciel ne peut atteindre.
2) Un salut qui comble nos besoins présents « … Jésus Christ, lequel, de par Dieu, a été fait pour nous…sanctification … » (1 Corinthiens 1:30). Dr. Campbell Morgan fait remarquer que la sanctification consiste en “une purification qui se fait à travers la séparation.” Elle est à la fois positionnelle et progressive. C’est la vie de Christ même demeurant continuellement en nous. Et puisque la plénitude de Dieu se trouve en notre Sauveur, il n’y a aucune requête dans nos vies qui n’est convenablement satisfaite par cette toute suffisance qui est en Christ.
3) Un salut qui comble nos besoins en attente « … Jésus Christ, lequel, de par Dieu, a été fait pour nous… rédemption … » (1 Corinthiens 1:30). “Rédemption” ici veut dire “la liberation totale de la servitude”. Ce mot resort particulièrement dix fois dans le Nouveau Testament, et à chaque fois il est employé au future et non au passé ou au présent. Paul évoque la même chose quand il dit: « car maintenant le salut est plus près de nous que lorsque nous avons cru » (Romains 13:11). C’est dans le sens que Christ a été fait pour nous rédemption. C’est l’assurance de la délivrance complète de toute servitude et de toute prison, lorsque Christ nous ôte de la présence même du péché. Cela fait, c’est pour que le jour qu’il formera de notre humiliation un nouveau corps, que ce corps soit conforme au corps qui reflète Sa gloire.
C’est cela la toute suffisance de l’évangile par lequel Dieu protège l’assemblée des saints. L’objectif de Paul en révélant cette vérité était d’enlever à l’homme toute raison de se vanter. Alors, il conclut par cette citation pertinente de Jérémie 9 :24 : « Mais que celui qui veut se glorifier se glorifie d’avoir de l’intelligence et de me connaitre, de savoir que je suis l’Eternel… »
Conclusion: Ce qui est à l’origine des divisions dans une église, c’est le fait que dans leur considération charnelle les hommes se glorifient de leur connaissance, influence ou réputation. Mais l’Apôtre Paul a pris la peine de montrer qu’aucun homme n’a de mattière à se glorifier si ce n’est dans le Seigneur Jésus Christ, qui a été emmailloté dans une crèche, éduqué dans l’atelier d’un charpentier, éprouvé sur les voies publiques et dans les maisons de son propre peuple, glorifié à travers la crucifixion et la résurrection, et ensuite envoyé à travers le monde par le biais de la bouche et de la vie des gens. Reconnaitre le Sauveur dans ce sens, c’est être au même niveau, unis dans une vie commune et satisfaits dans une gloire commune. Comme le dit l’écriture, « Que celui qui se glorifie, se glorifie dans le Seigneur” (1 Corinthiens 1:31).
Part IV: Plans De Sermon
Pour écouter la version audio de ces sermons en Anglais, cliquez sur les liens suivants: Link 1 - Jn. 10:10-13; Link 2 - Jn. 10:14-16; Link 3 - Jn. 10:16-18
Titre: Jésus est le bon berger (Jean. 10:10-18)
Point #1: Le bon berger travaille personnellement pour ses brebis (10-13)
1. Il donne une vie abondante à ses brebis (10)
2. Il offre sa vie en sacrifice pour ses brebis (11-13)
Point #2: Le bon berger entretient une relation personnelle avec ses brebis (14-18)
1. C’est une relation intime (14-15a)
2. C’est une relation chère (15b)
3. C’est une relation profonde (16)
4. C’est une relation stable (17-18)
(1) La relation est aussi stable que l’amour du Père (17)
(2) La relation est aussi stable que la puissance du Fils (18)
Conclusions:
1, Jésus est le bon berger qui est mort pour nous
2. Jésus est le bon berger qui vie pour nous
3. Jésus est le bon berger qui vient pour nous
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Lição 4: Santificando o Povo (Josué 5:1-15)
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Contudo, existem na economia e planeamento de Deus valores, prioridades e princípios espirituais muito mais vitais e fundamentais para a vitória ou para a nossa capacidade de atacar e demolir a fortaleza que o mundo erigiu contra o conhecimento e propósito de Deus (2 Cor. 10:4-5). Contemplando as condições a partir da nossa perspectiva de prazos, sentindo a pressão para realizar e cumprir tarefas de modo a agradar a outros e por vezes aos nossos próprios egos, encontramo-nos demasiadas vezes cheios de pressa quanto “a nos fazermos à estrada”. Porém, a fim de sermos bem-sucedidos do ponto de vista de Deus, certas coisas são essenciais se vamos atacar as diversas fortalezas da vida na Sua força e de acordo com os Seus princípios. Talvez uma carta redigida por um inglês durante a Segunda Guerra Mundial ilustre o tópico:
Como um só homem, toda a nação entregou os seus recursos ao Governo. Concedemos ao Conselho de Ministros o direito a recrutar qualquer um de nós para qualquer tarefa, a se apropriar dos nossos bens, dinheiro, tudo. Nunca os ricos atribuíram tão pouca importância à sua riqueza; jamais estivemos tão prontos a abdicar da própria vida, contanto a nossa causa possa triunfar. 1
Antes que Israel estivesse pronto a enfrentar o inimigo, precisava de uma preparação similar de coração e disposição, a fim de se submeter às ordens de Deus e experienciar o Seu poder. De modo a assegurar a vitória, Deus conduziu os israelitas através de vários eventos, destinados a instruí-los e prepará-los para a batalha. O capítulo 5 abrange cinco secções instrutivas, cada uma fundamental à vitória. Incluem os seguintes aspectos:
(1) Uma declaração concernente à moral dos nativos da terra (5:1). Essencial à vitória espiritual é compreendermos que, em Cristo, todos os inimigos que enfrentamos são, essencialmente, adversários derrotados (compare Rom. 6; Col. 2:1-15; Heb. 2:14).
(2) A renovação do ritual da circuncisão (5:2-9). Enquanto sinal da aliança de Deus com Abraão, a circuncisão representava a fé de Israel nas promessas de Deus, que incluíam a posse da terra como sua herança. Era um acto de fé e de preparação espiritual.
(3) A observância da Páscoa (5:10). Ao participar na Páscoa, Israel reviveria a sua libertação do Egipto através do sangue do Cordeiro; mas, tal como acontecia com a circuncisão, a Páscoa estava também relacionada com a terra. Do mesmo modo que observar a Páscoa no Egipto os protegera do anjo destruidor, assegurou-lhes também duas outras coisas: (a) tal como à travessia do Mar Vermelho se seguira a destruição dos egípcios, (b) à travessia do Jordão suceder-se-ia a derrota dos cananeus. Lembrar o passado tornara-se uma excelente preparação da fé para os testes do futuro.
(4) Comer da colheita da terra após a cessação do maná (5:11-12). Conforme foi descrito, a observância da Páscoa simbolizava a libertação do Egipto proporcionada por Deus e a salvação do julgamento do anjo destruidor; mas, para o povo da aliança de Deus, a libertação do Egipto incluía a promessa da herança da terra, lugar de abundância, terra de trigo, cevada, figueiras, azeite e mel (compare Deut. 8:8-9). Falava do seu novo começo, da sua nova vida como o povo de Deus salvo do julgamento e fixo no lugar da bênção. Permita-me repetir o princípio: a Páscoa não apenas olhava para trás, mas contemplava sobretudo o que estava adiante, a vida nova na terra, aproveitando as bênçãos abundantes pelo poder de Deus. Assim, comer da produção agrícola era um acto de confirmação da bênção abundante de Deus.
(5) O encontro de Josué com o Capitão das hostes do Senhor (5:13-15) torna-se o último evento-chave de preparação, sobre o qual nos debruçaremos mais tarde.
O Estado dos Cananeus (5:1)
E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus, que habitavam desta banda do Jordão, ao ocidente, e todos os reis dos cananeus, que estavam ao pé do mar, que o Senhor tinha secado as águas do Jordão de diante dos filhos de Israel, até que passámos, derreteu-se-lhes o coração, e não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel.
A primeira declaração importante no versículo 1 mostra o estado desmoralizado dos habitantes da terra. No fundo, constituíam já um adversário derrotado. Temiam a nação de Israel, devido às obras poderosas de Deus, descritas no versículo 1. Porém, esta verdade tem de ser interpretada à luz do duplo propósito de 4:24, um concernente às nações, “para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte”, e o outro a Israel, “para que temais ao Senhor, vosso Deus”.
Antes de passarmos à renovação da circuncisão, será útil reflectirmos brevemente sobre as declarações do versículo 1, relativas à moral dos nativos diante das obras poderosas de Deus. Existem aqui alguns paralelismos significantes e instrutivos com o Novo Testamento.
É vital que o povo de Deus reconheça e perceba que o Senhor não só É mais poderoso do que todos os nossos inimigos, sejam eles o mundo, a carne ou o diabo, mas também os derrotou para nós na pessoa e obra de Cristo, o Vitorioso. Em João 16:33, Jesus encorajou os Seus discípulos com estas palavras: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas, tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Uma vez que Cristo é verdadeiramente o Vencedor, também nós podemos ser vencedores; de facto, somos super-conquistadores n’Ele. Contudo, a nossa capacidade para conquistar e destruir as fortalezas edificadas contra o conhecimento de Deus e o seu impacto em nós e nos outros está sempre dependente da nossa vida nova no Salvador. Por esta razão, Paulo orou: “E, graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta, em todo o lugar, o cheiro do seu conhecimento” (2 Cor. 2:14, ênfase minha).
Mas triunfar em Cristo não é automático. Vencer através do Salvador exige que nos relacionemos correctamente com Ele, e ainda que nos foquemos e dependamos d’Ele como fonte do nosso caminho diário, passo a passo. A nossa necessidade é a de sermos fortes no Senhor e na força do Seu poder (Efésios 6:10 ss). Por tal razão, Israel não só precisava de saber que enfrentava um adversário derrotado e desmoralizado, mas também necessitava de preparação espiritual. Assim, o Senhor conduziu-os através de uma série de experiências importantes, de modo a fortificá-los e prepará-los para entrarem na batalha que os aguardava.
A Renovada Circuncisão do Povo (5:2-9)
2 Naquele tempo, disse o Senhor a Josué: Faz facas de pedra, e torna a circuncidar, segunda vez, aos filhos de Israel. 3 Então Josué fez para si facas de pedra, e circuncidou aos filhos de Israel, no monte dos prepúcios. 4 E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egipto, os varões, todos os homens de guerra, eram já mortos no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egipto. 5 Porque todo o povo que saíra estava circuncidado, mas a nenhum do povo que nascera no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egipto, haviam circuncidado. 6 Porque quarenta anos andaram os filhos de Israel pelo deserto, até se acabar toda a nação, os homens de guerra, que saíram do Egipto, que não obedeceram à voz do Senhor; aos quais o Senhor tinha jurado que lhes não havia de deixar ver a terra que o Senhor jurara aos seus pais dar-nos; terra que mana leite e mel. 7 Porém, em seu lugar, pôs a seus filhos; a estes Josué circuncidou: porquanto estavam incircuncisos, porque os não circuncidaram no caminho. 8 E aconteceu que, acabando de circuncidar a toda a nação, ficaram no seu lugar, no arraial, até que sararam. 9 Disse mais o Senhor a Josué: Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egipto; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal, até ao dia de hoje.
No versículo 2, o Senhor instrui Josué a circuncidar os filhos de Israel pela segunda vez. Obviamente, “segunda vez” não significa que os homens já circuncidados sê-lo-iam de novo. Em vez disso, enquanto nação, seria a segunda vez que todos os homens eram circuncidados, tendo a primeira ocorrido enquanto a geração antiga ainda estava no Egipto. Durante o período de escravidão no Egipto, os filhos de Israel não praticaram a circuncisão, não até estarem prestes a partir. A circuncisão era uma prática egípcia com conotações religiosas, reservada aos sacerdotes e cidadãos de classes superiores. Devido a isto, é provável que estivesse proibida aos israelitas. De qualquer modo, todo o homem participante na Páscoa no Egipto, israelita nato ou estrangeiro, foi circuncidado na altura (compare Josué 5:5 com Êx. 12:43-49). Em Êxodo 12:50, o comentário relativo a esta circuncisão é “…e todos os filhos de Israel o fizeram”.
Mas porquê a renovação do ritual da circuncisão, especialmente nesta altura, em que decerto deixaria os homens de guerra mais vulneráveis a ser atacados, incapacitando-os durante algum tempo? Ilustrando os efeitos da circuncisão em homens adultos, confira a história em Génesis 34, a respeito dos siquemitas e dos filhos de Jacob. Os homens siquemitas, que queriam casar-se com mulheres israelitas, concordaram em ser circuncidados, mas isso era apenas um estratagema destinado a incapacitá-los para lutar. Lê-se em Génesis 34:25: “Três dias depois, quando os homens de Siquém estavam ainda enfraquecidos pelas dores, Simeão e Levi, irmãos de Dina, agarraram cada um uma espada, entraram tranquilamente na cidade e mataram todos os homens”.
A sabedoria humana convocaria um ataque imediato; porém, em vez disso, Deus decretou um atraso, com o propósito de preparação espiritual. Os versículos 4-9 explicam as razões específicas:
(1) Nenhum homem nascido após a saída do Egipto ou durante a permanência no deserto havia sido circuncidado. Os israelitas falharam a prática da circuncisão enquanto estiveram no deserto (vss. 4-7). Tal pode ser uma evidência adicional da sua desobediência e falta de fé e confiança na aliança de Deus com a nação através de Abraão. Mas, mais do que tudo, devido ao significado da circuncisão, seria impróprio praticarem-na no deserto, como um povo julgado que ali morreria. A circuncisão era um sinal das promessas da aliança de Deus com Abraão, que incluíam a posse da terra (confira Gén. 17:8 ss). Devido à sua descrença, a geração antiga jamais a possuiria.
(2) A circuncisão, enquanto sinal da aliança, era um meio que permitia identificar-se com as promessas da aliança de Deus com Abraão e seus descendentes, a nação de Israel. Como tal, seria um sinal de fé naquilo que Deus faria através e pelo Seu povo. Indubitavelmente, por esta razão, nenhum homem poderia participar legitimamente na Páscoa se não estivesse circuncidado (Êx. 12:43 ss). A Páscoa recordava Israel da sua libertação do Egipto, mas essa libertação tinha como objectivo a posse da terra.
(3) O Senhor reconheceu a realização da circuncisão com as palavras “Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egipto; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal, até ao dia de hoje” (vs. 9). Conforme visto anteriormente, Gilgal significa “círculo”, referindo-se ao círculo de pedras colocado em Gilgal quando atravessaram o Jordão, servindo como memorial da salvação de Deus. Como também foi destacado, Gilgal provém do hebraico galal, “rolar algum objecto sobre, em cima, para longe, contra, até". A palavra que originou o termo roda (um círculo que rola, como usado numa carruagem) provém desse vocábulo. Assim, há aqui um jogo de palavras que se destina a ensinar uma verdade importante.
O que era o opróbrio do Egipto? Baseado em Génesis 34:14, Unger pensa que o “opróbrio era a vergonha e a desgraça da incircuncisão”2. Mas Ryrie, provavelmente por causa de Êxodo 32:12, acredita que se refere às “provocações tecidas pelos egípcios aos israelitas, devido à incapacidade de obterem a sua terra prometida” 3.
Um novo significado associa-se assim ao nome Gilgal. Primeiro, Gilgal simbolizaria o que Deus fizera ao afastar as águas do Jordão, de modo a poderem atravessar em solo enxuto. Porém, em segundo lugar, também recordaria Israel do que havia feito como acto de fé e obediência através do ritual da circuncisão. Esta simbolizava a sua fé no que Deus faria para os capacitar a possuir a terra. Incluído nisso, encontrava-se o seu compromisso único relativamente a Ele e aos Seus propósitos para eles enquanto Seu povo. 4
Foram estas duas coisas – as obras poderosas de Deus e o acto de fé dos israelitas – que revolveram para longe o opróbrio do Egipto. Em Gilgal, as pessoas deveriam lembrar-se das promessas da aliança de Deus e da libertação passada, no intuito de viverem como Seu povo e tomarem posse do que lhes pertencia nos dias que se seguiriam.
No fundo, portanto, em Gilgal Deus estava a dizer: “para serem vitoriosos contra os inimigos da terra, vocês têm de ser um povo santo, confiando em Mim para lutar nas vossas batalhas; têm de confiar nas promessas da Minha aliança e de se comprometer a ser o Meu povo, mantendo sempre em mente o vosso propósito enquanto uma nação de sacerdotes, Minha propriedade de entre todos os povos da terra” (Êx. 19:5-6).
A Páscoa É Celebrada (5:10)
10 Estando, pois, os filhos de Israel alojados em Gilgal, celebraram a páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó.
Uma vez concluída a circuncisão, os israelitas estavam espiritualmente preparados e qualificados para observarem a Páscoa. É também notável o facto de terem atravessado mesmo a tempo de a celebrarem no dia catorze do mês. Repare na precisão temporal de Deus aqui demonstrada.
Esta era apenas a terceira Páscoa que o povo festejava. A primeira fora no Egipto (Êx. 12:1-28), a segunda no Monte Sinai, mesmo antes de levantarem acampamento (Núm. 9:1-5), e a terceira em Gilgal. Mas porquê a Páscoa? Ao participarem na Páscoa, reviveriam a sua libertação do Egipto através do sangue do Cordeiro, borrifado sobre os umbrais e o lintel das suas casas. Campbell escreve:
À medida que os cordeiros eram mortos, era-lhes assegurado que, tal como a travessia do Mar Vermelho fora seguida pela destruição dos egípcios, também a travessia do Jordão seria seguida pela derrota dos cananeus. Assim, recordar o passado tornava-se uma excelente preparação para as provas do futuro.5
A Páscoa não só lhes recordava a sua libertação e redenção do Egipto, como ainda antecipava outras vitórias – a derrota dos cananeus, mas também uma vitória concretizada em Jerusalém, no Calvário. Apontava naturalmente para a cruz, na qual Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós.
Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós (1 Cor. 5:7).
Tal como a circuncisão encontra o seu paralelo no baptismo do crente do Novo Testamento, também a Páscoa se equipara à Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor, ou Comunhão, é aquele acto de adoração no qual devemos igualmente lembrar a pessoa e obra do Salvador enquanto o Cordeiro de Deus, que morreu em nosso lugar, carregando o nosso pecado para que pudéssemos possuir vida em abundância.
Existem algumas semelhanças importantes entre a Páscoa e a Ceia do Senhor:
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A Páscoa |
A Ceia do Senhor |
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A Páscoa era um memorial de uma libertação física do Egipto, mediante o sacrifício de um cordeiro (Êx. 12:1 ss). |
A Ceia do Senhor é um memorial de uma libertação espiritual em Jerusalém, através do sacrifício do Cordeiro (João 1:29; 1 Cor. 5:7). |
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A Páscoa era ainda uma antecipação envolta em sombras e presságios de uma realização futura – a pessoa e obra de Cristo no Seu primeiro advento, que abrange o Seu nascimento, vida sem pecado e morte na Cruz como o Cordeiro de Deus, de modo a resgatar-nos das garras do pecado. |
A Ceia do Senhor não só aponta para a realização desses prenúncios, mas também deve ser mantida em jeito de antecipação de um cumprimento futuro, o segundo advento e reino de Deus na terra, quando o Cordeiro se tornar o Leão. |
A primeira Ceia do Senhor foi também a última Páscoa, pelo menos biblicamente falando, pois instituiu através da Cruz a Nova Aliança da relação de Deus com os homens, encerrando a Antiga Aliança, que consistia em prenúncios e sombras (confira Heb. 8:6-13). À medida que se estuda o ritual da Páscoa e a forma como esta era observada de acordo com a Escritura, isto torna-se ainda mais evidente e significativo, em especial se considerar o modo como a Páscoa é celebrada actualmente pela comunidade judaica. Nos dias de hoje, quando celebram a Páscoa, os judeus não sacrificam um cordeiro. Dispõem apenas de um osso seco do animal. Não celebram a Páscoa com o sacrifício de um cordeiro há mais de mil e novecentos anos. Porquê? Em Êxodo 12:14, Deus disse a Israel: “nas vossas gerações o celebrareis [o dia da Páscoa], por estatuto perpétuo”. Por que não obedecem os judeus a esta ordem?
Primeiramente, os judeus ortodoxos argumentam: “Levítico 17:8, 9 proíbe os israelitas de sacrificarem fora do templo, o local determinado para os sacrifícios. Consequentemente, uma vez que o templo foi destruído em 70 D.C. e que ainda não dispomos de um novo, não podemos cumprir a ordem de Deus, relativa a matar um cordeiro para assinalar a Páscoa”. O povo judeu confronta-se com um dilema. Por um lado, Deus pede-lhes que matem um cordeiro como estatuto perpétuo. Por outro, Deus torna esse acto impossível. Porquê?
Porque Jesus Cristo é o Cordeiro e a resposta. Paulo, ele próprio judeu, mas que veio a ter fé em Cristo, diz-nos que “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado” (1 Cor. 5:7). Cristo é o Cordeiro Pascal e a concretização da Páscoa do Antigo Testamento. Desde a Sua morte, a observância desta celebração segundo o típico costume judeu é ilegítima. Em lugar da Páscoa, devemos manter a Ceia do Senhor, um memorial de que o Cordeiro veio uma vez e virá novamente.
Reparemos nas palavras de Paulo em 1 Coríntios 5:7-8: “Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade”. Ele não disse “mantenhamos a Páscoa”, pois o sacrifício foi feito por nós de uma vez para sempre. A nossa responsabilidade reside na celebração do pão não levedado, associado à pureza da vida. Assim, Paulo falou de modo figurativo, dizendo: “façamos festa… com sinceridade e verdade”.
Aplicação: Tal como aconteceu com Israel, também hoje o Senhor deseja que os cristãos despojem os seus inimigos. Os nossos inimigos são aquelas coisas que se erguem contra a nossa amizade com o Senhor e a nossa produtividade. Também nos devemos lembrar que a nossa salvação provém de uma fonte – a obra de Deus para nós em Cristo. Porém, independentemente do que saibamos da doutrina, absorver esta ideia é difícil, devido à nossa inclinação natural para nos apoiarmos nas nossas próprias estratégias, esforçando-nos por viver vidas baseadas em meios próprios, mesmo nos assuntos espirituais.
Para além disso, tal como Israel deveria guardar a Páscoa como recordação do passado aliada à esperança da realização futura das suas sombras e prenúncios, também nós devemos preservar a Ceia do Senhor, recordando não só a vitória da cruz, mas antecipando ainda o retorno de Cristo: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálix, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Cor. 11:26).
As Colheitas da Terra São Desfrutadas e o Maná Cessa (5:11-12)
11 E comeram do trigo da terra do ano antecedente, ao outro dia depois da páscoa, pães asmos e espigas tostadas, no mesmo dia. 12 E cessou o maná no dia seguinte, depois que comeram do trigo da terra do ano antecedente; e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano, comeram das novidades da terra de Canaan.
Desfrutando da Colheita (vs. 11)
Com o versículo 11, a nossa atenção é canalizada para o facto de os israelitas terem comido das colheitas da terra logo após a celebração da Páscoa. O texto diz: “E comeram do trigo da terra do ano antecedente, ao outro dia depois da páscoa…”. Mas porquê? A explicação que se segue responde a esta questão.
Novamente, a Páscoa simbolizava a salvação de Deus do Egipto e do julgamento do anjo destruidor. Porém, para o povo da aliança de Deus, a libertação do Egipto incluía a promessa de herança da terra, local de abundância, terra de trigo, cevada, figueiras, azeite e mel (confira Deut. 8:8-9). Referia-se ao seu novo começo, à sua nova vida como o povo de Deus resgatado do julgamento, fixo como uma rocha no lugar da bênção. Permita-me repetir o princípio: a Páscoa não só contemplava o passado, mas ainda antecipava uma vida nova na terra, desfrutando das suas bênçãos abundantes pelo poder de Deus.
23 “Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém, quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e não deixará ao destruidor entrar nas vossas casas, para vos ferir. 24 Portanto, guardai isto por estatuto, para vós e para os vossos filhos, para sempre. 25 E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos dará, como tem dito, guardareis este culto” (confira Êx. 12:25, ênfase minha; veja também Êx. 13:8-9).
Conforme mencionado, a Páscoa não fora celebrada desde o Monte Sinai (Números 9), depois que levantaram acampamento e começaram a sua marcha em direcção à terra. Contudo, em Cades-Barneia rebelaram-se e foram incapazes de acreditar nas promessas de Deus. Tornaram-se um povo sujeito ao julgamento da disciplina de Deus; a geração antiga já não podia entrar na terra, e daí não mais se ter observado a Páscoa. Mas agora a nova geração atravessara através da fé no poder de Deus. Uma vez na terra, e tendo celebrado a Páscoa na fé, os israelitas estavam capacitados a apropriarem-se das bênçãos daquele lugar, provando a bondade do Senhor.
Para além disso, devemos notar que comeram o que foi definido como “pães asmos e espigas tostadas”. A Páscoa deveria ser seguida por uma celebração de pão ázimo, que duraria sete dias (Êx. 12:15). Na Escritura, o fermento é um símbolo de corrupção e maldade. O pão não levedado referia-se a Cristo, que se encontra sem pecado; comer do pão associa-se à amizade com o Senhor após um auto-exame e confissão do pecado, de modo a que não exista pecado conhecido na vida; só então pode alguém alimentar-se adequadamente e retirar sustento da vida do Salvador (confira 1 Cor. 11:28 ss).
Assim, a nação comeu da colheita, o que certamente seria uma demonstração de fé e uma lição do Senhor, relativa à vida salvadora de Deus mediante amizade com Ele.
A Cessação do Maná (vs. 12)
Após verificarmos que comeram da produção agrícola da terra, a nossa atenção é imediatamente focada no facto de o maná ter cessado. Há aqui uma relação óbvia. Mas qual?
Durante quarenta anos, o povo de Israel alimentara-se do maná, uma provisão especial de Deus no deserto, mesmo depois dos seus actos de rebelião e de descrença, bem como da recusa de Deus quanto a permitir que entrassem na terra. Porém, continuavam a ser o Seu povo; eram os objectos do Seu amor e, por isso e para bem da geração mais jovem, que haveria de atravessar, o maná continuou a ser disponibilizado.
Mas o que era o maná? Era uma dádiva sobrenatural para a viagem pelo deserto, mas não alimento para a terra da promessa. Dali em diante, de acordo com a possessão da sua terra, Deus providenciaria comida através de meios naturais, que correspondem ao método comum pelo qual Deus concede provisões. Quando caminhamos com o Senhor, focados n’Ele e vivendo obedientemente, somos capazes de nos apropriarmos e provarmos da Sua bondade. Milagres como o maná são excepções à regra, provisões especiais para objectivos especiais. Embora o Senhor seja sempre capaz de realizar milagres sobrenaturais conforme a Sua vontade, não devemos esperá-los, nem ficar desapontados ou pensar que algo está mal no nosso percurso caso não os experienciemos.
Finalmente, precisamos de ter em conta que provar as bênçãos da Terra Prometida era apenas uma amostra do que estava para vir. Experimentar as nossas bênçãos em Cristo deverá conduzir a uma expectativa dupla: mediante amizade e fé, há sempre mais para provarmos da bondade e misericórdia de Deus durante esta vida (1 Pedro 2:1-3), mas tal é somente uma antecipação de bênçãos mais ricas e abundantes, a experienciar na eternidade como povo de Deus. Como é o Espírito Santo exactamente definido para nós no Novo Testamento? Ele é chamado “o penhor do Espírito”. A sua abençoada presença interior é uma promessa de que muito mais está para chegar.
Felizmente, o Senhor continua a amar-nos e a cuidar de nós mesmo quando estamos no deserto, mas o maná não se compara à abundância da amizade com Ele.
O Capitão do Exército do Senhor (5:13-15)
13 E sucedeu que, estando Josué ao pé de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé, diante dele, um homem que tinha na mão uma espada nua: e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos? 14 E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do Senhor. Então Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz o meu Senhor ao seu servo? 15 Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos dos teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim.
Estando tudo aparentemente preparado para a conquista da terra, a próxima cena começa com Josué, o comandante de Israel nomeado por Deus, não no acampamento de Israel em Gilgal, mas perto da cidade de Jericó. O que supõe que ele faria ali? Estaria certamente ocupado com a obra do Senhor, recolhendo informação acerca da cidade e respectivas fortificações, de forma a preparar-se para lançar o seu ataque. Naturalmente, Josué estaria preocupado com várias coisas. Antes de mais, precisava de um plano de acção – como iriam atacar Jericó, provavelmente a cidade mais fortificada de Canaã. Tinham pouca ou nenhuma experiência quanto a cercar uma cidade como Jericó. Para além disso, faltavam-lhes sem dúvida equipamentos como aríetes, catapultas, escadas para conseguirem escalar as muralhas ou torres móveis. Tudo o que tinham resumia-se a espadas, flechas, fundas e lanças, que pareciam totalmente inadequadas para a tarefa diante deles. Portanto, como prepararia Josué o seu exército, e como deveriam tratar de tomar a cidade? Ele devia sentir-se como se o peso do mundo recaísse sobre os seus ombros.
Poderíamos culpar Josué por se encontrar em Jericó, avaliando a situação? Claro que não. De facto, Neemias, outro grande líder, fizera o mesmo quando confrontado com o estado das muralhas de Jerusalém. Não obstante, Josué necessitava de um encontro com o Deus a quem servia, de modo a captar de novo uma verdade importante, igualmente vital como parte da sua preparação para a vitória pelo poder de Deus. À semelhança de todos os santos de Deus que por vezes tendem a fixar os olhos na enorme tarefa que enfrentam, faltava algo na perspectiva de Josué enquanto contemplava a cidade de Jericó. Talvez precisasse simplesmente de ser recordado de alguma verdade muito importante, quer para clarificação, quer para encorajamento.
A Posição do Homem
Estando a mente de Josué absorta em preocupações relativas à tarefa diante dele, sentindo nos seus ombros o peso da responsabilidade, levanta os olhos, e ali está um homem com uma espada desembainhada. Que tipo de imagem traz isto à mente, e o que significa? Estar de pé com uma qualquer arma desembainhada corresponde a uma posição militar de alguém que ou está de sentinela defensivamente, ou se encontra pronto a atacar um adversário ofensivamente. Estar de pé com uma espada desembainhada sugeria que estava ali para lutar ou a favor, ou contra Israel.
A Identidade do Homem
O versículo 14 diz-nos que este homem viera como o “príncipe do exército do Senhor”, o comandante do exército do Senhor. A resposta de Josué no versículo 14b e a declaração do capitão no versículo 15 mostram que se tratava de uma teofania; ou melhor, de acordo com a verdade exposta em João 1:1-18, era uma Cristofania, uma manifestação do Cristo pré-encarnado, que, como o Logos, é aquele que revela Deus. Caso fosse apenas um homem ou um anjo, certamente rejeitaria a adoração de Josué (vs. 14). Compare com a resposta de Paulo em Actos 14:8-20 àqueles que queriam fazer dos apóstolos deuses, e ainda com a resposta do anjo a João em Revelação 19:10.
Assim, o Cristo pré-encarnado aparece a Josué no intuito de ensinar e reforçar certas verdades vitais para o povo de Deus, especialmente para os que se encontram em posições de liderança, o que realmente abrange todos os fiéis num certo grau.
A Pergunta de Josué
… e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos? (vs. 13b).
Esta terá sido uma resposta natural face a um homem com a espada desembainhada, expressando tanto a preocupação de Josué como a sua coragem. Ninguém que pertencesse ao exército de Israel deveria estar ali já que, evidentemente, não haviam sido dadas ordens para que alguém abandonasse o acampamento. Portanto, quem seria este estranho, que aparecera subitamente vindo do nada? Decerto, Josué terá pensado: “uma vez que não é um de nós, poderá ser um inimigo ou alguém que veio ajudar-nos?”.
Porém, em vista da resposta dada a Josué, a sua questão revela uma mentalidade típica, que representa uma ameaça e impedimento à nossa eficácia ao serviço do Salvador. Que mentalidade é essa? Temos tendência a ver as batalhas que enfrentamos como as nossas batalhas, e as forças que defrontamos como forças organizadas contra nós e a nossas causas, preocupações e planos individuais, e até as nossas crenças teológicas ou posições na doutrina. Num sentido, isso é verdade, se nos mantivermos realmente na causa de Cristo. Contudo, existe outro sentido em que tal simplesmente não é verdade, e este é o assunto aqui em causa.
A Resposta Dada a Josué
E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do Senhor. (vs. 14a).
A resposta chega em duas partes. A primeira é vista como uma negação categórica de ambas as hipóteses de Josué – é simplesmente um “nem” explícito. Por que não respondeu “estou aqui por ti e por Israel”? Em vez disso, o homem com a espada desembainhada disse: “Nem uma coisa, nem outra; não estou aqui para tomar partido, teu ou de qualquer outro”.
A segunda parte da resposta dá-nos a razão: “E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do Senhor”. Por outras palavras, “estou aqui, não para tomar partido, mas para assumir o controlo como Comandante do Exército do Senhor”. Tal facto é de uma importância vital, assentando em dois princípios válidos para todos os aspectos da vida e da nossa luta contra as forças do mundo e de Satanás. Não havia dúvidas de que o Senhor estava lá com os exércitos do Céu para assegurar Jericó, de modo a que o povo de Deus pudesse tomar posse da sua herança (a Terra Prometida); mesmo assim, uma certa perspectiva era essencial para o verdadeiro sucesso.
O primeiro princípio: Josué não deveria reivindicar a lealdade de Deus para a sua causa, independentemente de quão justa e santa pudesse ser. Em vez disso, Josué precisava de reconhecer a reivindicação de Deus sobre si, para os Seus propósitos. Tendemos a abordar as nossas batalhas e causas ao contrário; viramos as coisas e tentamos ordenar a Deus que nos apoie, em detrimento de nos submetermos e O seguirmos. Certamente, a batalha seria um empreendimento conjunto, Deus e o povo de Israel sob a liderança de Josué, nomeado pelo Senhor (1:1-9); mas Josué, como qualquer um de nós no exército do Rei, teria de seguir o Senhor, submetendo-se à Sua autoridade, recebendo as Suas ordens e confiando a batalha nas Suas mãos, por se aperceber que se tratava mesmo da Sua batalha como Comandante Supremo. Não parece haver dúvidas acerca da compreensão de Josué, conforme evidenciado pela sua questão: “Que diz o meu Senhor ao seu servo?”. Ele estava a pedir ordens a Deus, e certamente terá sido aí que recebeu as necessárias orientações para a tomada de Jericó.
O segundo princípio: Enquanto Aquele que viera para assumir o comando, o Senhor também estava a lembrar a Josué (e a nós) a presença pessoal de Deus e a Sua provisão poderosa, a provisão das Suas vastas hostes. A promessa da presença pessoal de Deus traz sempre a garantia do Seu cuidado protector. De igual modo, a promessa da Sua provisão poderosa chega sempre acompanhada pela promessa do Seu apoio e poder infinitos, independentemente de quão impossível o problema nos possa parecer. Havia mais, infinitamente mais, do que o exército de Josué. Havia Josué e o seu exército, mas também miríades das forças angélicas de Deus, sempre prontas a cumprir as Suas ordens e a servir os santos. Três outras passagens poderão servir como exemplos úteis, a fim de que possamos absorver o assunto aqui exposto e a sua importância na nossa vida diária.
Primeiro, compare 2 Reis 6:8-17. Quando Eliseu estava em Dotan com o seu jovem servo, acabou rodeado pelo exército de Ben-Hadad, que, durante a noite, iniciara a marcha e sitiara a cidade. Na manhã seguinte, ao sair para ir buscar água, o servo de Eliseu viu o vasto exército que circundava Dotan. Receoso e muito aflito, clamou a Eliseu: “Ai, meu senhor! Que faremos?”. Eliseu respondeu: “Não temas; porque mais são os que estão connosco do que os que estão com eles”. Depois, fez uma oração muito interessante, dizendo: “Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja”. Em seguida, lemos que “o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”. Não estavam sozinhos. Com eles, para lutar em seu favor, estava uma hoste das forças angélicas de Deus, que em breve feriria de cegueira os exércitos do rei da Síria.
Um segundo exemplo foi registado para nós em Mateus 26:53. Estando os discípulos ainda relutantes e perplexos diante do facto de Cristo ter de ser crucificado, Pedro desembainhou a espada e atingiu o escravo do sumo-sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus reagiu, dizendo: “Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar ao meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?”.
Um exemplo final ilustrativo do exército angélico de Deus e do seu ministério para com o Seu povo encontra-se em Hebreus 1:14: “Não são, porventura, todos eles, espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão-de herdar a salvação?”. Vemos nisto a segunda razão para o comandante se descrever a si mesmo como “príncipe do exército do Senhor”. Estava assim a assegurar a Josué a provisão de Deus mediante o Seu poderoso exército angélico.
A Resposta de Josué
…Então Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz o meu Senhor ao seu servo? (vs. 14b).
Quanto precisamos nós desta resposta – a resposta de adoração e submissão. Josué percebeu rapidamente. Estivera a pensar num conflito entre os exércitos de Israel e Canaã. Talvez pensasse na batalha como sua. Certamente, sentia o peso da responsabilidade sobre os seus ombros. Mas, depois de ser confrontado pelo Comandante divino, foi recordado de uma verdade que ouvira Moisés proferir muitos anos antes, nas margens do Mar Vermelho. Moisés dissera então: “O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx. 14:14). Josué aprendeu novamente a verdade que David constataria e iria declarar ao enfrentar Golias: “do Senhor é a guerra” (confira 1 Sam. 17:47).
Porém, isto não é tudo. Concluindo a sua adoração e submissão, vemos a pergunta de Josué, a questão de um servo que procura orientação do seu Comandante: “Que diz o meu Senhor ao seu servo?”. Lembra-se da resposta de Paulo na estrada de Damasco, quando se apercebeu que era o Senhor glorificado quem falava consigo? Respondeu, rapidamente: “Senhor, que farei?” (Actos 22:10).
Que reconfortante é saber que jamais teremos de suportar os nossos fardos ou enfrentar os nossos inimigos sozinhos. Josué tinha de reconhecer que as batalhas futuras e toda a conquista de Canaã eram realmente o conflito de Deus. Qual é o nosso papel? Somos soldados do Seu exército, os servos para os quais providencia abundantemente a Sua armadura (Efésios 6:10-18).
Enquanto Dr. C. I. Scofield era pastor da Primeira Igreja Congregacional de Dallas, sobreveio um período no qual os fardos do ministério lhe pareciam mais pesados do que aquilo que conseguia suportar. Esmagado pelo peso das frustrações e problemas do trabalho, ajoelhou-se um dia no seu escritório. Em profunda agonia espiritual, abriu as Escrituras, procurando alguma mensagem de força e conforto. Conduzido pelo Espírito aos versículos finais do capítulo 5 de Josué, constatou que estava a tentar lidar sozinho com as responsabilidades. Nesse dia, entregou o seu ministério ao Senhor, seguro de que era a Sua obra e que Ele conseguiria realizá-la. Ao aceitar a liderança de Deus, Dr. Scofield aliou-se ao Seu poder. 6
Certamente, estes versículos enfatizam a verdade relativa à preeminência e domínio de Cristo. Ele é a cabeça da igreja, realmente o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
A passagem também nos recorda que Deus não está presente para lutar nas nossas batalhas, auxiliar nas nossas causas ou vir em nosso socorro quando nos metemos em problemas como se fosse um génio da lâmpada. Em vez disso, lembra-nos que a batalha é d’Ele, sendo o nosso papel o de servos-soldados: temos de O servir, realizar a Sua vontade, segui-Lo e depender d’Ele completamente.
A Revelação Final do Comandante
Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos dos teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim (vs. 15).
Nas palavras finais do Capitão, existe uma ordem – “Descalça os sapatos” –, bem como uma explicação – “porque o lugar em que estás é santo”. Descalçar os sapatos era um sinal próprio de um servo, símbolo de respeito e submissão. A descrição deste lugar de encontro e revelação como “santo” chama a atenção para o significado especial do que Josué acabara de aprender e experienciar. Deus não só É o Santo na nossa redenção através da provisão do Salvador Sofredor, como também É o Santo na nossa batalha através do Salvador Vitorioso. Só poderemos entrar na batalha e experimentar a salvação de Deus quando descalçamos os nossos sapatos, submetendo-nos à Sua autoridade, presença e poder.
Aqui, constatamos que a batalha do cristão é um chamamento santo, mas também uma promessa divina realizada naqueles que se fazem humildes debaixo da mão poderosa de Deus. “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:6-7).
Conclusão
Neste capítulo, Josué encontrou-se com o Logos vivente, a própria revelação de Deus. Este encontro removeu um grande fardo dos ombros de Josué. A experiência previamente mencionada de Dr. Scofield ilustra a mesma verdade, baseada nesta passagem. Possamos nós compreender o quanto precisamos de permanecer na Palavra com um ouvido atento, de modo a que Deus consiga ensinar-nos as coisas que necessitamos de escutar.
Josué de pé e talvez deambulando nos arredores da cidade de Jericó, estudando o que o aguardava e acabrunhado com o peso da sua responsabilidade, é tão parecido connosco! Contemplamos as coisas que acreditamos que Deus nos chamou a fazer, mas estamos mais dispostos à actividade e à pressa do que à adoração e súplica pela orientação divina. Necessitamos de um estilo de vida que nos encaminhe para a batalha conscientes do Senhor e de quem Ele É a cada movimento, e cientes também dos princípios da Sua palavra, que devem guiar cada pensamento e passo da nossa parte, fortificando os corações com o conforto de Deus. Assim, enquanto contemplamos as batalhas e tarefas diante de nós, olhemos para cima, vendo o Comandante do Senhor dos Exércitos, e descalcemos os nossos sapatos.
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 Donald K. Campbell, Joshua, Leader Under Fire, Victor Books, Wheaton, 1989, p. 39.
2 Merrill F. Unger, Unger's Commentary on the Old Testament, Vol. I, Moody Press, Chicago, 1981, p. 289.
3 Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, Moody, p. 338.
4 Alguns pensamentos acerca da circuncisão:
(1) Em Actos 7:8, Estevão falou acerca da aliança da circuncisão dada a Abraão. Enraizada na aliança abraâmica, a circuncisão simbolizava o acordo de Deus, que garantia a continuidade eterna da semente de Abraão e ainda a possessão da terra (Gén. 17:7-8).
(2) A este respeito, Génesis 17:11 diz-nos que a circuncisão é um “sinal do concerto” ou símbolo daquele acordo. Seria um sinal externo de uma realidade espiritual interior. Tal implicava que deveria ser feita como sinal de fé nas promessas da aliança de Deus. A circuncisão seria para o santo do Antigo Testamento o que o que a água do baptismo é para o santo do Novo Testamento.
(3) O próprio acto da circuncisão simbolizava uma separação completa dos pecados da carne, como imoralidade, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, conflitos, inveja, ira, disputas, desavenças, divisões, ciúmes, embriaguez e glutonarias (Gál. 5:19-21).
(4) O ritual da circuncisão seria praticado uma vez, mas o que significava deveria ser preservado diariamente. Tal ênfase encontra uma ilustração nas experiências de Israel associadas a Gilgal, pois a nação regressava a esse lugar com frequência durante as suas campanhas militares. Tornou-se um local de compromisso renovado e santificação. De acordo com o Novo Testamento, significava (a) a justiça da fé (Rom. 4:9-12) e (b) o despojo do corpo da carne pela obra de Cristo e a união do crente com Ele (Col. 2:11).
(5) Embora um acto físico, a natureza espiritual da circuncisão é posta em evidência em diversas passagens do Antigo Testamento. Em Deuteronómio 10:16, Moisés desafiou Israel: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” (confira também Deut. 30:6; Jer. 4:4). Assim, a nação teria de compreender que a circuncisão não era apenas cortar um pedaço de pele, mas incluía um trabalho de fé interior, que tocava o coração e abrangia toda a vida.
(6) À luz da profecia de Deuteronómio 30:6 e da declaração de Colossenses 2:11, a circuncisão retratava o que Deus faria espiritualmente através da cruz de Cristo, de modo a lidar com as nossas naturezas pecaminosas, permitindo-nos, ao caminharmos na novidade de uma vida mediante fé em Cristo, viver vitoriosamente em relação aos nossos apetites carnais.
5 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, Editors, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.
6 Campbell, p. 47.
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Lição 5: Destruindo Fortalezas; Vitória em Jericó (Josué 6:1-27)
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É claro que era crucial um plano para conquistar a terra de Canaã, com os seus gigantes e cidades fortificadas, mas Deus nunca deixa o Seu povo entregue às próprias estratégias. Vem em seu auxílio, trazendo o Seu plano divinamente providenciado. De facto, somos repetidamente avisados na Escritura contra o acto de nos apoiarmos no nosso próprio conhecimento ou planos (Prov. 3:5-6; Jer. 9:23-24; 17:5). Indubitavelmente, a estratégia para invadir a terra baseava-se na configuração geográfica da mesma. Campbell escreve:
O modelo da estratégia divina para a conquista de Canaã baseava-se em factores geográficos. A partir do seu acampamento em Gilgal, perto do Rio Jordão, os israelitas conseguiam avistar colinas íngremes a Oeste. Jericó controlava o caminho da subida até essas montanhas, e Ai, outra fortaleza, ficava no topo da subida. Se os israelitas pretendiam capturar o país montanhoso, precisavam certamente de tomar Jericó e Ai. Tal colocá-los-ia no topo da região montanhosa e no controlo do cume central, criando uma divisão entre as secções Norte e Sul de Canaã. Israel poderia então envolver em batalha os exércitos do Sul, seguidos pelo inimigo mais remoto a Norte. Mas, primeiro, Jericó teria de sucumbir – e assim seria, se Josué e o povo seguissem o plano de acção do Senhor. 1
James Boice tem esta nota histórica:
A certa altura, o brilhante Marechal-de-Campo inglês Edmund H. Allenby terá também estudado este livro, pois a estratégia de Josué foi a mesma que adoptou na libertação bem-sucedida da Palestina, durante a Primeira Guerra Mundial. A Palestina é um país montanhoso, e a principal passagem através dela é uma estrada de ligação, que se estende de Sul para Norte através das porções mais altas da terra. A estratégia de Josué (e de Allenby) consistia em dirigir-se para Oeste desde o vale do Jordão até essa estrada elevada, dividindo assim o país. Depois, quando as forças inimigas se encontrassem divididas, destruiriam primeiro a oposição a Sul, seguida da oposição a Norte. Este é o esquema da campanha descrita em Josué 6-11.
Para que fosse possível dividir o país, teria de ser criada uma separação desde o Rio Jordão até às montanhas. Neste ponto, o primeiro obstáculo era Jericó, uma fortaleza militar construída para possibilitar defesa de uma aproximação oriunda de Este em direcção à região montanhosa. Não podia ser evitada; contornar Jericó significaria deixar uma grande força militar à retaguarda. 2
Em vista da configuração da terra e da distribuição das torres e fortalezas, o plano estratégico consistia em criar uma divisão entre as linhas de defesa inimigas, de modo a conquistar a terra em três campanhas: uma no centro da terra, uma a Sul e uma a Norte. Portanto, os israelitas atacaram primeiro a porção central, o que preparou o caminho para as operações a Sul e depois a Norte. O mapa abaixo, retirado da obra Ryrie Study Bible, mostra a movimentação de Israel na porção central de Canaã. 3
O nosso texto divide-se facilmente em três partes:
- O Plano ou Estratégia para a Vitória (6:1-7)
- O Caminho ou Sequência até à Vitória (6:8-21)
- A Promessa Cumprida, a Sequela da Vitória (6:22-27)
O Plano ou Estratégia para a Vitória (6:1-7)
1 Ora Jericó cerrou-se e estava cerrada, por causa dos filhos de Israel: nenhum saía nem entrava. 2 Então disse o Senhor a Josué: Olha, tenho dado na tua mão a Jericó e ao seu rei, os seus valentes e valorosos. 3 Vós, pois, todos os homens de guerra, rodeareis a cidade, cercando a cidade uma vez: assim fareis por seis dias. 4 E sete sacerdotes levarão sete buzinas de carneiros diante da arca, e no sétimo dia rodeareis a cidade sete vezes; e os sacerdotes tocarão as buzinas. 5 E será que, tocando-se longamente a buzina de carneiro, ouvindo vós o sino da buzina, todo o povo gritará com grande grita; e o muro da cidade cairá abaixo, e o povo subirá, cada qual em frente de si.
6 Então chamou Josué, filho de Nun, aos sacerdotes, e disse-lhes: Levai a arca do concerto; e sete sacerdotes levem sete buzinas de carneiros diante da arca do Senhor. 7 E disse ao povo: Passai e rodeai a cidade; e quem estiver armado passe diante da arca do Senhor.
Caso Josué tivesse reunido com os seus conselheiros militares, nenhum deles teria engendrado um tal plano. O plano apresentado pelo Senhor no capítulo 6 ilustra o princípio de numerosas passagens da Bíblia, tais como Provérbios 14:12 e Isaías 55:8 ss. O plano de salvação e libertação de Deus não é algo que o homem concebesse caso pudesse ou quisesse, devido à sua alienação básica de Deus e tendência para depender das suas próprias soluções. Ainda hoje, os homens estão inclinados a crer num plano de salvação e santificação que, de uma forma ou de outra, introduza trabalho na equação, em detrimento de unicamente fé, unicamente em Cristo. Alguns intitulam este evangelho de “crença fácil” [easy believism], quando a verdade é que a confiança simples em Cristo não é fácil; vai contra os princípios básicos do carácter humano.
As ordens dadas por Deus a Josué, relativas à conquista de Canaã, parecem obviamente estranhas quando comparadas com qualquer estratégia que o homem pudesse engendrar, mas somente se não conseguirmos pensar em termos bíblicos acerca da vida de fé e da incapacidade inerente do homem quanto a atingir a própria salvação ou santificação. Consequentemente, Josué 6 ilustra diversos conceitos vitais para caminharmos na fé e lidarmos com os inimigos espirituais que enfrentamos nesta vida.
Os Preparativos de Jericó (vs. 1)
O versículo 1 é um parêntesis destinado a introduzir-nos o plano para a tomada de Jericó; porém, entretanto, mostra-nos a forma como Jericó, tendo parado as suas actividades normais, se preparava para um cerco da parte de Israel, mas sem dúvida assustada e com o coração desmaiado devido às obras poderosas de Deus. Os habitantes tinham ouvido falar do Mar Vermelho, e certamente também do milagre no Jordão.
A Promessa do Senhor (vs. 2)
Antes de esquematizar o Seu plano, o Senhor assegurou graciosamente a vitória a Josué. Repare na ênfase: “Olha, tenho dado”. Foi ordenado a Josué que olhasse, compreendesse e reflectisse, como uma questão de confiança, no facto de que Yahweh já lhes concedera a vitória. A vitória chega sempre pela mão do Senhor e, visto que só é possível graças ao poder de Deus, devemos esperar que contorne a dependência do homem e sua força ou estratégias próprias. Assim, com a palavra “olha”, Josué é chamado a contemplar com olhos de fé, imaginando Jericó destruída. De modo similar, vez após vez no Novo Testamento, é-nos assegurado o nosso triunfo sobre o pecado e Satanás. “E, graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta, em todo o lugar, o cheiro do seu conhecimento” (2 Cor. 2:14). Veja ainda Romanos 6:1-14; Colossenses 2:6-15.
No texto hebraico, as palavras “tenho dado” representam um perfeito profético, descrevendo como já concretizados um evento ou acção futura. A vitória estava assegurada pela promessa de um Deus omnipotente, fiel e imutável.
Os Princípios a Ter em Conta (vss. 3 ss)
Este plano de batalha é, no mínimo, altamente incomum. Os métodos e armas comuns na guerra, tais como aríetes, escadas ou torres, não teriam qualquer uso. Em vez disso, Josué e os seus homens deveriam aplicar o plano de vitória de Deus, conforme esquematizado nos versículos 3-7. A cada dia, deveriam marchar silenciosamente em torno da cidade, trazendo os sacerdotes buzinas de carneiros. A cidade abrangia apenas cerca de 8.5 acres (aproximadamente 34.400 m2). No sétimo dia, rodeariam a cidade sete vezes, e os sacerdotes tocariam as buzinas. Embora este método não mais viesse a ser aplicado noutras cidades, serviria para ensinar a Israel e ao povo de Deus em todas as eras que, ainda que tenhamos responsabilidades humanas quanto a demolir os baluartes erigidos contra o conhecimento de Deus, a vitória está dependente de duas coisas: o poder de Deus e a fé e fidelidade às Suas ordens ou planos.
O número sete ocupa uma posição proeminente neste capítulo. De facto, é usado onze vezes. Sete sacerdotes com sete buzinas marchariam em redor da cidade durante sete dias, dando depois sete voltas à cidade no sétimo dia.
O sete é um número importante na Escritura: (a) Significa perfeição ou plenitude, recordando-nos que o plano de Deus, não importa quão tolo nos possa parecer, é sempre perfeito, e não pode ser melhorado pelo homem (primeiro confira 1 Cor. 1:18 ss, e depois Rom. 12:2; 11:33-36). (b) Para além disso, o número sete mostra que a conquista fazia parte de um exercício ou processo espiritual, destinado a colocar o povo de parte (santificando-o) para o Senhor, como um povo santo que pertencia a um Deus santo. (c) Devido à importância do número sete para a criação e o Sábado, e ainda por estarem a entrar na sua herança, significava indubitavelmente o início de uma nova ordem, servindo a terra como imagem do repouso do crente no Senhor (veja Heb. 4).
Somos assim recordados de 2 Coríntios 10:4-5, “porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”. Devemos prestar atenção a duas coisas que Paulo enfatiza nestes versículos:
(1) A Natureza das armas do crente: Tal como as muralhas de Jericó foram derrubadas sem intervenção de capacidades humanas, também as armas espirituais da nossa milícia são adquiridas através da oração, fé e diversas verdades da Palavra de Deus.
(2) O Projecto e Propósito das nossas armas: As nossas armas foram projectadas para derrubar baluartes – coisas edificadas por um sistema mundial satânico e por homens pecaminosos (tais como raciocínios, ideias, valores ou projectos humanos, etc.), que se opõem ao conhecimento de Deus (princípios bíblicos de graça, valores eternos, etc.) e àquilo que conhecer intimamente a Deus deveria significar na vida do Seu povo.
(3) O uso das buzinas estridentes acrescenta importantes melodias espirituais. Estas buzinas apenas podiam produzir algumas notas diferentes. Eram principalmente usadas como instrumentos de aviso. Eram utilizadas na altura do Jubileu, em associação com as cerimónias religiosas, a fim de proclamarem a adoração e presença de Deus, e ainda em contextos militares. Ambos os conceitos são aplicáveis aqui. Nesta passagem, sinalizavam a presença de Deus e anunciavam a desgraça iminente de Jericó. Não se tratava apenas de um empreendimento militar – as buzinas declaravam que o Senhor do céu e da terra estava presente para derrubar as muralhas de Jericó.
Aplicação: Cada um de nós tem a sua própria Jericó ou Ai, que atrapalha a nossa capacidade de tomar posse da nossa propriedade em Cristo; fortalezas virtuais que impedem o nosso progresso espiritual. Talvez seja uma fraqueza no nosso carácter, uma enfermidade física, indiferença geral relativamente a assuntos espirituais ou uma área específica que negligenciamos. Pode ser materialismo ou algum padrão dominante na vida. Poderá ser uma dificuldade no local de trabalho de alguém, em casa, com uma personalidade particular ou quiçá um problema financeiro. Independentemente da natureza da nossa Jericó, necessitamos de compreender que a vitória chega sempre através do plano de salvação de Deus – nunca do nosso.
O Caminho ou Sequência até à Vitória (6:8-21)
8 E assim foi, como Josué dissera ao povo; os sete sacerdotes, levando as sete buzinas de carneiros diante do Senhor, passaram, e tocaram as buzinas; e a arca do concerto do Senhor os seguia. 9 E os armados iam adiante dos sacerdotes que tocavam as buzinas; e a retaguarda seguia após a arca, andando e tocando as buzinas. 10 Porém, ao povo, Josué tinha dado ordem, dizendo: Não gritareis, nem fareis ouvir a vossa voz, nem sairá palavra alguma da vossa boca, até ao dia que eu vos diga: Gritai. Então, gritareis. 11 E fez a arca do Senhor rodear a cidade, rodeando-a uma vez: e vieram ao arraial, e passaram a noite no arraial.
12 Depois, Josué se levantou de madrugada, e os sacerdotes levaram a arca do Senhor. 13 E os sete sacerdotes, que levavam as sete buzinas de carneiros diante da arca do Senhor, iam andando, e tocavam as buzinas, e os armados iam adiante deles, e a retaguarda seguia atrás da arca do Senhor; os sacerdotes iam andando e tocando as buzinas. 14 Assim rodearam outra vez a cidade no segundo dia, e tornaram para o arraial; e assim fizeram seis dias.
15 E sucedeu que, ao sétimo dia, madrugaram ao subir da alva, e da mesma maneira rodearam a cidade sete vezes: naquele dia somente rodearam a cidade sete vezes. 16 E sucedeu que, tocando os sacerdotes, a sétima vez, as buzinas, disse Josué ao povo: Gritai; porque o Senhor vos tem dado a cidade. 17 Porém, a cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela: somente a prostituta Raab viverá, ela e todos os que com ela estiverem em casa; porquanto escondeu os mensageiros que enviámos. 18 Tão somente guardai-vos do anátema, para que não vos metais em anátema, tomando dela, e assim façais maldito o arraial de Israel, e o turbeis. 19 Porém, toda a prata, e o ouro, e os vasos de metal, e de ferro, são consagrados ao Senhor: irão ao tesouro do Senhor. 20 Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas: e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande grita; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si, e tomaram a cidade. 21 E tudo quanto na cidade havia, destruíram, totalmente, ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento.
Estes versículos apresentam-nos a sequência de eventos desde o primeiro dia de marcha em torno da cidade até ao último, que culminou no colapso da muralha. A declaração acerca dos homens poderem subir “cada qual em frente de si” chama a nossa atenção para o facto de lhes ser possível atacar de qualquer ponto da cidade. Não havia somente uma ou duas brechas na muralha, pelas quais os soldados invadiriam Jericó. Todo o muro que a rodeava colapsara, à excepção da porção onde a casa de Raab estava localizada.
Alguns intérpretes argumentam que um terramoto terá causado a destruição. Nesse caso, tratou-se de um impressionante milagre de precisão temporal e espacial, uma vez que o acampamento em Gilgal (a pouco mais de uma milha – 1,6 km – de distância) e a casa de Raab permaneceram intactos. 4
A Preparação Prévia
Não devemos esquecer que as instruções e os eventos deste capítulo foram precedidos por um conjunto de coisas que Deus usou a fim de preparar o povo para acreditar n’Ele e Lhe obedecer. Israel fora preparado para confiar no Senhor graças aos acontecimentos dos primeiros capítulos e à sua consagração ao Senhor, especialmente no capítulo 5. Sou recordado de Lucas 16:10, “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito”. A preparação espiritual é fundamental para a nossa capacidade de nos apropriarmos da força de Deus, em troca da nossa fraqueza.
A Prioridade do Silêncio
Consegue imaginar a dificuldade desta situação? Várias centenas de pessoas, caminhando à volta da cidade sem uma palavra, nem sequer um murmúrio! Estavam lá os sacerdotes com as suas buzinas, aqueles que transportavam a arca, os homens armados e o resto do povo, o que poderá ter incluído também as mulheres e as crianças. Nesse caso, o silêncio talvez tenha sido um milagre maior do que o colapso das muralhas!
A passagem não nos explica por que tinham de estar em silêncio, mas talvez isso ilustre e ensine o princípio de se manter calado diante de Deus, repousando simplesmente n’Ele. Vem à sua mente alguma passagem? Que tal Êxodo 14:14, “O Senhor pelejará por vós, e vos calareis”. Também no Salmo 46:10-11 se lê: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra. O Senhor dos Exércitos está connosco…”. Como este Salmo sugere, o silêncio ensina-nos a necessidade de nos calarmos, de pararmos de deambular para que possamos calmamente repousar n’Ele, enquanto pensamos n’Ele no meio das nossas provações e conquistas na vida. A nossa tendência é a de nos queixarmos e lamuriarmos a outros, procurando conforto nas pessoas em detrimento de falarmos com Deus, procurando n’Ele o nosso consolo.
O Princípio da Obediência Através da Fé
Independentemente de quão invulgar parecesse o plano ou quão difícil fosse concretizá-lo, houve obediência explícita. Em Hebreus 11:30, lemos: “Pela fé, caíram os muros de Jericó…”. Apesar dos insultos que talvez lhes fossem lançados das muralhas enquanto marchavam silenciosamente em torno de Jericó, estavam dispostos a parecer tolos, repousando simplesmente no Senhor. Ele era a fonte da sua força.
Se queremos ultrapassar os nossos obstáculos e provações, temos de nos submeter pela fé ao caminho de Deus:
Porque nós, pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça. (Gál. 5:5)
22 Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. 23 Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. (1 Sam. 15:22-23).
O Princípio da Paciência
A ordem de Josué no versículo 10 – “Não gritareis, nem fareis ouvir a vossa voz, nem sairá palavra alguma da vossa boca, até ao dia que eu vos diga: Gritai” – mostra que o povo terá compreendido que o plano de Deus envolveria mais do que um dia. Mesmo assim, uma leitura cuidadosa do texto também sugere que Josué não revelou todo o plano no início, mas deu-lhes instruções dia após dia. A cada dia, saíam e marchavam silenciosamente em torno da cidade, regressando depois sem que nada tivesse acontecido. As muralhas ainda estavam de pé e Jericó não se rendera. Não obstante, não murmuraram, queixaram ou questionaram as instruções de Josué. Simplesmente obedeceram, dia após dia, até ao sétimo, no qual rodearam a cidade sete vezes. À ordem de Josué, no sétimo dia, deram um grande grito, e as muralhas desmoronaram-se graças à mão poderosa de Deus. Não será relevante que a Hebreus 11:30, que diz “Pela fé, caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias”, suceda uma passagem no capítulo seguinte, 12:1-2, que nos incentiva a corrermos a carreira que nos está proposta com paciência, olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé? Tal recorda-nos que, com frequência, o Senhor actua lentamente. Queremos salvação imediata, mas muitas vezes o Senhor testa a nossa fé e, entretanto, modela o nosso carácter e a nossa relação com Ele, até que encontramos no Senhor aquilo de que realmente precisamos.
2 Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações, 3 Sabendo que a prova da vossa fé obra a paciência. 4 Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma (Tiago 1:2-4).
Demasiadas vezes, queremos soluções imediatas e que todas as nossas necessidades e desejos sejam atendidos, de modo a não termos de esperar no Senhor e confiar n’Ele. Queremos confiar na nossa saúde, nas nossas contas bancárias, na posição que ocupamos na comunidade, na nossa reputação, no nosso talento, educação e capacidades. Não desejamos confiar somente no Senhor. Para uma boa ilustração deste facto, compare a atitude de Naaman quando lhe foi dito que teria de se lavar sete vezes no rio Jordão (2 Reis 5:11-14). A purificação só teve lugar quando Naaman se humilhou e banhou sete vezes – não quatro, cinco ou seis, mas sete. Veja também o Salmo 62:1-8 e a ênfase dada à necessidade de esperarmos pacientemente a fim de encontrarmos repouso, não nas nossas soluções rápidas, mas somente em Deus. Certamente, o Senhor estava a ensinar a Israel a necessidade de aguardar com paciência, de modo a encontrar refúgio n’Ele.
A Promessa Cumprida, a Sequela da Vitória (6:22-27)
22 Josué, porém, disse aos dois homens que tinham espiado a terra: Entrai na casa da mulher prostituta, e tirai de lá a mulher, com tudo quanto tiver, como lhe tendes jurado. 23 Então entraram os mancebos espias, e tiraram Raab, e seu pai, e sua mãe, e seus irmãos, e tudo quanto tinha; tiraram, também, todas as suas famílias, e puseram-nos fora do arraial de Israel. 24 Porém, a cidade, e tudo quanto havia nela, queimaram a fogo: tão somente a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro, deram para o tesouro da casa do Senhor. 25 Assim, deu Josué vida à prostituta Raab, e à família do seu pai, e a tudo quanto tinha; e habitou no meio de Israel, até ao dia de hoje; porquanto escondera os mensageiros que Josué tinha enviado a espiar a Jericó.
26 E naquele tempo, Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: perdendo o seu primogénito, a fundará, e sobre o seu filho mais novo lhe porá as portas. 27 Assim era o Senhor com Josué; e corria a sua fama por toda a terra.
Nestes versículos finais, deparamo-nos com alguns factos maravilhosos acerca de Deus e da forma como lida com o Seu povo. Primeiro, demonstram a fidelidade de Deus à Sua Palavra; lembram-nos que Deus, que É imutável e não pode mentir, É também absolutamente fiel (confira Tiago 1:17). As promessas feitas a Raab foram cumpridas – ela e a sua família foram salvas. Embora não esteja registado, é evidente que a parte da muralha na qual estava construída a casa de Raab não terá colapsado.
Em segundo lugar, demonstram a graça e misericórdia de Deus. O amor e plano de salvação de Deus estão abertos a qualquer pessoa que invoque o nome do Senhor (João 3:16; 2 Pedro 3:9; Rom. 10:11-13).
Por fim, ainda a propósito de ser fiel às Suas promessas, a profecia contra alguém que procurasse reconstruir Jericó (vs. 26) demonstra também a seriedade de Deus e a certeza da Sua Palavra. A profecia do versículo 26 veio a cumprir-se nos dias de Acab (veja 1 Reis 16:34). Após a sua destruição, Jericó foi ocupada esporadicamente, mas nunca como outrora.
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, Editors, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.
2 James Montgomery Boice, Joshua, We Will Serve the Lord, Fleming H. Revell, New Jersey, 1973, p. 68.
3 Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, Moody Press, Chicago, 1995, versão electrónica.
4 Ryrie.
Lição 6: Derrota em Ai e o Pecado de Acan (Josué 7:1-26)
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Após uma tão maravilhosa experiência em Jericó, o capítulo 7 é, no mínimo, surpreendente. De repente, deparamos com uma série de fracassos, em flagrante contraste com as vitórias dos seis capítulos precedentes. Mas quão instrutiva é a situação descrita, desde que tenhamos ouvidos para escutar a mensagem deste capítulo. A emoção forte da vitória foi rapidamente substituída pela agonia da derrota. Encontra-se aqui a história da vida, com a qual temos de aprender a lidar no nosso percurso diário, uma vez que esta passagem é bem típica da maioria de nós. Num instante, podemos estar a viver em vitória – e, no seguinte, em derrota.
Entre uma grande vitória e uma grande derrota vai apenas um passo, muitas vezes pequeno. É uma triste verdade da realidade num mundo pecaminoso o facto de podermos estar felizes sobre a nuvem de algum sucesso espiritual notável e, logo a seguir, darmos connosco num vale de insucesso e desespero espiritual. Num momento, podemos ser como Elias, erguendo-se vitoriosamente sobre o Monte Carmelo, e, no outro, estar aninhados debaixo de um zimbro ou escondidos numa caverna em profundo desespero, queixando-nos a Deus: “…eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem” (1 Reis 19:10).
Devido à sua posição estratégica, Ai era o objectivo seguinte no caminho da conquista. Tal como acontecia com Jericó, a sua derrota era fundamental para a conquista de toda a terra. Ai era mais pequena do que Jericó, porém a sua conquista era essencial, pois daria a Israel o controlo sobre a rota principal que se estendia ao longo das terras altas, de Sul para Norte, na porção central do país.
Jericó fora colocada sob anátema, proveniente da palavra hebraica herem, “uma coisa consagrada, proscrição”. A forma verbal, haram, significa “interditar, consagrar ou destruir totalmente”. Esta palavra refere-se à exclusão de um objecto do uso ou abuso humano, acompanhada por uma entrega irreversível a Deus. Relaciona-se com uma raiz árabe, significando “proibir, especialmente ao uso comum”. O “harém”, que se refere aos aposentos especiais das esposas muçulmanas, provém desta palavra. Assim, entregar alguma coisa a Deus significava consagrá-la ao Seu serviço ou colocá-la sob anátema para destruição completa. 1
Algo ser votado ao anátema significava uma de duas coisas. Primeiro, tudo o que estivesse vivo deveria ser completamente destruído. Esta prática tem sido denominada bárbara e primitiva, nada menos que o assassínio de vidas inocentes. Os cananeus, porém, não eram de modo algum inocentes. Eram um povo vil, praticante das mais ignóbeis formas de imoralidade, incluindo o sacrifício de crianças. Deus concedera-lhes mais de quatrocentos anos para se arrependerem, mas a sua iniquidade chegara agora ao cúmulo (veja Gén. 15:16; Lev. 18:24-28). Os poucos que se voltaram para o Senhor (Raab e a sua família) foram poupados. Tal como em Sodoma e Gomorra, mesmo que só existissem dez justos, Deus pouparia a cidade (Gén. 18); mas, visto que nem dez conseguiu encontrar, Deus removeu Lot e a sua famíla (Gén. 19). Para além disso, se alguma cidade se tivesse arrependido como Nínive aquando da pregação de Jonas, Ele poupá-la-ia; porém, apesar de todas as obras miraculosas de Deus das quais tinham ouvido falar, não houve arrependimento – os cananeus permaneceram firmes na sua depravação.
…a batalha com que Israel se confrontava não se tratava simplesmente de uma guerra religiosa; era uma guerra teocrática. Israel era directamente governado por Deus, e a exterminação constituía uma ordem directa de Deus (confira Êxodo 23:27-30; Deut. 7:3-6; Josué 8:24-26). Nenhuma outra nação, quer anterior, quer posterior a Israel, foi uma teocracia. Assim, aquelas ordens eram únicas. Enquanto teocracia, Israel era um instrumento de julgamento nas mãos de Deus. 2
Em segundo lugar, todos os objectos valiosos, tais como o ouro ou a prata, deveriam ser dedicados ao tesouro do Senhor. Evidentemente, funcionariam como um tipo de primícias da terra, bem como uma prova da confiança do povo na provisão de Deus para o futuro (confira Lev. 27:28-29).
A Desobediência de Israel É Definida
(7:1)
1 Mas os israelitas foram infiéis com relação às coisas consagradas. Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá, apossou-se de algumas delas. E a ira do SENHOR acendeu-se contra Israel. (Nova Versão Internacional)
O capítulo 7 inicia-se com uma pequena, porém ominosa palavra, “mas”. Tal vocábulo cria um contraste entre este capítulo e o precedente, particularmente 6:27. Primeiro, houvera a emoção forte da vitória, mas agora sobrava a agonia da derrota. Esta pequena conjunção de contraste destina-se a enfatizar uma verdade importante – a realidade dos sempre presentes contrastes e ameaças da vida –: a vitória é sempre seguida, no mínimo, pela ameaça da derrota.
O crente nunca está em maior risco de queda do que após uma vitória. Somos tão propensos a baixar a guarda e começar a confiar em nós mesmos ou nas nossas vitórias passadas, em detrimento de no Senhor. Uma vitória jamais garante a seguinte. As nossas vitórias só nos auxiliam na próxima batalha na medida em que aumentam a nossa confiança no Senhor e desenvolvem a nossa sabedoria relativamente a nos apropriarmos da Palavra de Deus. A base da vitória é sempre o Senhor e a nossa fé/dependência d’Ele. Um capítulo do Novo Testamento que merece particular consideração neste ponto é 1 Coríntios 10, especialmente o versículo 12. O problema é claramente exposto nas palavras “Os israelitas foram infiéis com relação…”. Reparemos em várias coisas acerca deste problema, relativo aos israelitas enquanto nação.
(1) O termo “infiéis” representa uma palavra hebraica que significa “agir dissimuladamente”. Era usada na infidelidade matrimonial, quando uma mulher era infiel ao seu marido. O pecado aqui descrito consistia tanto num acto de infidelidade espiritual – ser amigo do mundo em detrimento de amigo de Deus (Tiago 4:4) –, como num acto sem fé, procurando felicidade e segurança nas coisas em lugar de em Deus (1 Tim. 6:6 ss).
(2) Constatamos que o Senhor considerou todo o acampamento de Israel responsável pelo acto de um só homem, retirando a Sua bênção até que a questão fosse corrigida. Existia pecado no acampamento, e Deus não continuaria a abençoar a nação enquanto tal acontecesse. Isto não significa que aquele fosse o único pecado e a restante nação se apresentasse sem faltas; porém, este pecado era de uma natureza tal (desobediência directa e rebelião), que Deus o usou para ensinar a Israel e a nós algumas lições importantes.
Deus via a nação de Israel como uma unidade. O que alguém fez foi contado como um pecado de toda a nação, uma vez que a vida colectiva de Israel ilustra verdades e avisos para nós enquanto indivíduos (1 Cor. 10). Enquanto aviso para a igreja, mostra-nos que não podemos progredir e avançar em direcção ao Senhor caso exista pecado conhecido nas nossas vidas, pois tal constitui rebelião contra o controlo e orientação do Senhor (Efésios 4:30; 1 Tes. 5:19). Trata-se de uma questão de amar o mundo – e fazê-lo leva uma pessoa a comportar-se como se fosse inimiga de Deus (Tiago 4).
O comportamento de Acan também ilustra a forma como um ou alguns crentes fora da associação, ao procurarem satisfazer os seus próprios desejos ou planos egoístas, podem ter um impacto negativo sobre todo o grupo. Tal comportamento pode perturbar os restantes. O nome de Acan, do hebraico akan, é um jogo com a palavra akor, que significa “perturbação”. Assim, Josué declararia que o Senhor iria trazer perturbação (akor) sobre Acan, que, por causa do seu pecado, se tornara um “perturbador” para a nação (confira 7:24-25). Por conseguinte, o local da morte e sepultura de Acan foi denominado “o vale de Acor” (hebraico akor, “inquietação, perturbação”). Embora o crime tenha sido cometido por uma só pessoa, toda a nação foi considerada culpada. Esta última estava responsável pela obediência de cada cidadão, sendo-lhe imputado o castigo de um eventual transgressor. Tal deverá trazer à mente os versículos seguintes:
Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por um manjar vendeu o seu direito de primogenitura (Hebreus 12:15-16).
Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós (1 Coríntios 5:6-7).
O apóstolo Paulo viu o mesmo princípio de solidariedade em acção na igreja (1 Coríntios 5:6-13). O pecado não julgado contamina toda a comunidade – “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (v. 6).3
(3) Somos também lembrados de que nada escapa à omnisciência de Deus (Sl. 139:1 ss). O pecado jamais escapa ao Seu olho atento. Podemos enganar-nos a nós mesmos e aos outros, mas nunca ao Senhor. Deus vê o pecado nas nossas vidas e deseja que lidemos com ele, não que o ocultemos. Escondê-lo apenas impede o nosso progresso no plano e vontade de Deus (Prov. 28:13), criando problemas para outros. Números 32:23 recorda-nos: “sabei que o vosso pecado vos há-de achar”. Tal é semelhante à ideia de que colhemos o que semeamos, devido às consequências naturais das leis morais e espirituais de Deus, bem como ao Seu envolvimento pessoal. Contudo, o texto de Números não ensina somente que o pecado será descoberto, mas também que as consequências do nosso pecado se tornarão agentes activos no processo dessa descoberta (veja Gal. 6:7-8).
(4) As palavras “e a ira do Senhor acendeu-se contra Israel” chamam dramaticamente a nossa atenção para a santidade de Deus. Para Deus, o pecado não é um assunto de pouca importância, porque é rebelião, e a rebelião é como o pecado da feitiçaria (1 Sam. 15:23). Ainda que Cristo tenha morrido pelos nossos pecados e se encontre à direita de Deus como nosso Advogado e Intercessor, Deus não trata – nem pode tratar – o pecado nas nossas vidas com leveza. Este vai contra o Seu carácter santo (a Sua santidade, justiça, amor, etc.) e contra os Seus propósitos santos para nós, uma vez que dificulta o Seu controlo e capacidade para nos guiar.
Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes. (Tiago 4:5-6, ênfase minha)
Portanto, o Senhor tem de lidar connosco e com o pecado nas nossas vidas; Ele lida connosco como um Pai e como o Vinhateiro, mas fá-lo ainda assim (João 15:1 ss; Heb. 12:5).
A Derrota em Ai É Descrita
(7:2-5)
2 Enviando, pois, Josué, de Jericó, alguns homens a Ai, que está junto a Betaven, da banda do oriente de Betel, falou-lhes, dizendo: Subi, e espiai a terra. Subiram, pois, aqueles homens, e espiaram a Ai. 3 E voltaram a Josué, e disseram-lhe: Não suba todo o povo; subam alguns dois mil, ou três mil homens, a ferir a Ai: não fatigueis ali a todo o povo, porque poucos são. 4 Assim, subiram lá do povo alguns três mil homens, os quais fugiram diante dos homens de Ai. 5 E os homens de Ai feriram deles alguns trinta e seis, e seguiram-nos, desde a porta até Sebarim, e feriram-nos na descida; e o coração do povo se derreteu e se tornou como água.
A derrota do exército de Israel em Ai que aqui se encontra descrita é a única derrota registada em Josué e o único relato de judeus mortos em batalha. Ai era mais pequena que Jericó! Como podia um tal insucesso ocorrer tão rapidamente? A principal causa, conforme sumariado no versículo um, foi o pecado de Acan. Contudo, existem outros assuntos envolvidos, que levaram Josué a avançar contra Ai quando não o deveria ter feito.
Nestes versículos, vemos algumas das diversas consequências do pecado na vida do povo de Deus ou na vida de um indivíduo. O pecado tem muitas consequências, nenhuma delas boa.
Não há dúvidas de que Josué estaria ansioso para avançar pelo Senhor, conquistando mais território de acordo com as ordens de Deus e o Seu propósito para Israel. Mas estando um bocadinho autoconfiante e confiando demasiado na vitória em Jericó, Josué evidentemente falhou quanto a reservar tempo para estar sozinho com o Senhor, inquirindo-O e procurando a Sua força. Se assim tivesse feito, não teria ignorado o pecado de Acan, e poderia ter lidado primeiro com ele. Quatro erros fatais foram o resultado: (a) Permaneceram ignorantes acerca do pecado de Acan. (b) Subestimaram a força do inimigo. (c) Sobrestimaram a força do seu próprio exército. (d) Fiaram-se no Senhor – tomaram-n’O como garantido.
Mais tarde, quando Deus lhes deu ordens para avançarem contra o inimigo, talvez devido à sua atitude autoconfiante prévia e à sua presunção, ordenou-lhes que levassem “toda a gente de guerra” (8:1). A Gedeão, porém, o Senhor fê-lo reduzir o seu exército, a fim de que não se vangloriassem no seu próprio poder como a fonte da vitória (Juízes 7:1 ss).
Com quanta frequência não somos exactamente como Josué aqui no capítulo 7? Devido a uma mentalidade de trabalhador compulsivo, a uma inclinação para a actividade ou a um desejo de fazer as coisas e ser bem-sucedido, há uma tendência para a pressa, sem reservar tempo para se aproximar de Deus, recorrer aos Seus recursos e vestir a armadura completa de Deus. Essa atitude não só é imprudente, mas também nos torna insensíveis a fracassos sérios nas nossas próprias vidas e ministérios, que entristecem e extinguem o Espírito, deixando-nos indefesos face ao inimigo, uma vez que actuamos baseados na nossa própria força e sabedoria. Fundamentalmente, portanto, estes fracassos atrapalham o nosso progresso e capacidade para lidar com os diversos desafios da vida.
A última parte do versículo 5 diz: “e o coração do povo se derreteu e se tornou como água”. A derrota em Ai desmoralizou o povo. Isto é talvez ainda mais importante do que a própria derrota, porque criou receios e falta de confiança no Senhor. Em vez de examinarem as suas próprias vidas como a fonte do seu fracasso, começaram a duvidar do Senhor e a questionar se Ele teria mudado de ideias ou se teriam interpretado erradamente as Suas ordens. Será que devíamos mesmo ter atravessado o Jordão? Deveríamos ter permanecido do outro lado? (confira 7:7).
Na nossa natureza humana pecaminosa, somos tipicamente assim mesmo. Somos tão rápidos a ficar deprimidos, desencorajados e desorientados. Olhamos para todas as direcções em busca de uma razão para o fracasso – excepto para nós mesmos. Atribuímos culpas, arranjamos desculpas, escondemo-nos e injuriamos, mas falhamos com tanta frequência quanto a examinar as nossas vidas honestamente. Assumimos que nunca podemos ser o problema… ou podemos?
O Desânimo de Josué É Retratado
(7:6-9)
6 Então Josué rasgou os seus vestidos e se prostrou em terra sobre o seu rosto, perante a arca do Senhor, até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças. 7 E disse Josué: Ah, Senhor Jeová! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer? Oxalá nos contentáramos com ficarmos dalém do Jordão. 8 Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos! 9 Ouvindo isto os cananeus, e todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então, que farás ao teu grande nome?
A Consternação Diante da Arca (vs. 6)
Nesta descrição de Josué, vemos uma das maiores provas da inspiração da Escritura. O povo de Deus, incluindo os grandes heróis da fé, é retratado com manchas, verrugas e tudo. Deus não retoca a fotografia. Em vez disso, mostra-nos a sua humanidade, de modo a confortar-nos nos nossos próprios fracassos, desafiando-nos a compreender que Ele pode usar-nos para muitas coisas se apenas confiarmos n’Ele. O fracasso não é exclusivo de nenhum de nós… e não é o fim. De facto, pode até ser o início, dependendo da forma como respondemos. É claro que é sempre melhor cometer alguns erros novos, aprendendo com eles, do que repetir erros velhos. Quando continuamos a cometer os mesmos erros, as nossas derrotas não possuem um valor capaz de alterar a vida. Na derrota em Ai, observamos um verdadeiro teste à liderança de Josué. Tal como Sanders comenta, “Existem testes à liderança, bem como testes de liderança,”4 e um desses testes é a prova do fracasso. Este não é exclusivo de ninguém. O fracasso, como todas as provações, é comum a todos os homens.
O estudo de personagens bíblicas revela que a maioria daqueles que fizeram história eram homens que falharam a certa altura, e alguns deles drasticamente, mas que recusaram continuar deitados no pó. O seu próprio fracasso e arrependimento asseguraram-lhes um conceito mais amplo da graça de Deus. Aprenderam a conhecê-Lo como o Deus que dá uma segunda oportunidade aos filhos que O decepcionaram – e uma terceira, também…
O líder bem-sucedido é um homem que aprendeu que nenhum fracasso tem de ser decisivo e age de acordo com essa crença, quer o fracasso seja seu ou de outrem. Tem de aprender a ser realista e estar preparado para compreender que nem sempre pode estar certo. Não existe tal coisa como um líder perfeito ou infalível.5
Josué, obviamente, ficou aturdido face à derrota e catástrofe em Ai, e as acções dele e dos anciãos coincidiam com as práticas hebraicas de luto e desespero. Prostrarem-se diante da Arca do Senhor sugere certamente que se estavam a humilhar diante do Senhor. Josué e os anciãos não são culpados de uma indiferença endurecida. Demonstravam profunda preocupação e que necessitavam da mão de Deus; precisavam da Sua intervenção e sabedoria. Porém, de acordo com as palavras que se seguem, misturada com tais sentimentos, havia também evidência de alguma autocomiseração e dúvida.
Hoje em dia, normalmente não rasgamos as nossas roupas, nos prostramos no chão ou pomos pó nas nossas cabeças. Mas dispomos de meios para demonstrar a nossa consternação, dor e dúvida. Talvez caiamos sobre os joelhos ou coloquemos a face entre as mãos e choremos mas, quando existem sentimentos de autocomiseração e depressão, podemos ficar inactivos ou taciturnos. Contudo, estas respostas não removem a dor nem resolvem o problema, impedindo que cresçamos com a experiência.
A Queixa ao Senhor (vss. 7-8)
Finalmente, depois de um dia inteiro prostrado sobre a sua face, Josué verbalizou a sua perplexidade através de três questões e duas afirmações. Não a descarregou noutros, nem tentou evitá-la ou reprimi-la. Fez o que todos nós devemos fazer – levou a questão até ao Senhor.
A Primeira Questão (vs. 7a): “Ah, Senhor Jeová! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão…”. A NIV (Nova Versão Internacional) realiza a seguinte tradução: “Ah, Soberano Senhor, por que fizeste este povo atravessar o Jordão…”. A palavra “ah” (bem como o inglês alas, “ai”) funciona como uma forte interjeição de desespero. “Ah” é praticamente uma transliteração do hebraico. Aponta frequentemente – tal como aqui – para um estado de espírito de aflição e derrota. Na maioria das ocorrências, é usada com a expressão “Senhor Deus”, embora nem sempre como expressão de desespero (Jz. 6:22; Jer. 1:6; 4:10; 14:13; 32:17; Ez. 4:14; 9:8;11:13). Com um suspiro, grita “Ah, Adonai Yahweh”, reconhecendo a soberana autoridade de Deus e domínio sobre as suas vias; mas, com o próximo suspiro, parece questionar os propósitos e promessas de Deus enquanto o Soberano Senhor.
Com a questão “por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão…”, Josué estava a agir como se Deus não estivesse em controlo ou como se os tivesse meramente enganado ou cometido um erro. Quão rápidos somos a agir religiosamente, podendo em simultâneo negar a autoridade e poder de Deus mediante outras coisas que possamos pensar, dizer ou fazer. Aqui se encontra uma ilustração perfeita de como focar os problemas afecta negativamente a nossa perspectiva de Deus, o que, por seu turno, afecta a nossa fé nos Seus propósitos, plano e promessas.
Por um lado, um foco errado origina com frequência tempestades num copo de água. Possivelmente, ao confiarem na sua vitória prévia em vez de no Senhor, tinham os olhos fixos na pequenez de Ai e consideraram-na apenas um pequeno problema. Por outro lado, com os olhos postos na derrota, fizeram desta pequena quantidade de água uma tempestade demasiado intensa para o Senhor controlar.
Sempre que estamos ocupados com o problema, ou sempre que não conseguimos focar as nossas mentes e olhos no Senhor, tornamo-nos insensíveis à Pessoa, plano, promessas e propósitos de Deus. A este ponto, parece que nunca ocorreu a Josué que Deus poderia ter uma razão para permitir a derrota ou que, de alguma forma, eles próprios podiam ser a causa. Quando o nosso foco é errado, ou esquecemos as promessas de Deus, ou questionamo-las. Desistimos depois de nos relacionarmos com a pessoa de Deus em toda a Sua essência divina. Numa tal condição, não mais vemos o Senhor como nossa esperança; em vez disso, Ele torna-Se o vilão.
A Primeira Afirmação (vs. 7b): “Oxalá nos contentáramos com ficarmos dalém do Jordão”. Quão estreita fica a nossa visão e quão negativos nos tornamos em relação aos propósitos de Deus quando temos os olhos postos nas circunstâncias e perdemos o Senhor de vista! Fazemos marcha-atrás e olhamos para trás. A tendência é ficarmos nostálgicos pelos “bons velhos tempos”. Tornamo-nos como Israel, que recordava o alho, o alho-francês e os pepinos, mas esquecera-se dos capatazes e dos poços de lama. A fim de estarmos confortáveis, estamos dispostos a aceitar uma vida de mediocridade, em detrimento de aprender o que os obstáculos são para que possamos prosseguir em busca da excelência.
Há aqui a assunção de que, uma vez que haviam sido derrotados, não poderiam avançar, e que teria sido melhor caso não tivessem encontrado o inimigo. Na sua perspectiva, o seu fracasso enfraquecera de alguma forma a capacidade de Deus quanto a dar-lhes futuras vitórias. Esta é uma conclusão típica, mas que está errada. Deus nunca fica limitado pelas nossas derrotas. Enquanto o Soberano Senhor, Ele É capaz de fazer todas as coisas contribuírem juntamente para o bem – o bem de nos fazer à conformidade do Seu Filho (Rom. 8:28-29).
A Segunda Questão (vs. 8): “Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos!”. Após a tomada de Jericó, o capítulo 6 terminou com a afirmação “Assim era o Senhor com Josué; e corria a sua fama por toda a terra”. Deparamo-nos agora com esta observação em 7:8, parecendo que Josué estava preocupado com as queixas do povo e a sua prontidão em seguir a liderança dele. Será que este fracasso me irá impedir de fazer aquilo a que me chamaste devido às suas atitudes e questões? Para além disso, as pessoas iriam querer algumas respostas e, nesta altura, simplesmente não tinha nenhuma. O que poderia ele dizer-lhes? Esta era realmente uma súplica por sabedoria (Tiago 1:5).
Também, talvez, sentindo alguma vergonha ou culpa pessoal pela forma como os homens se haviam voltado e fugido, duvidasse da sua própria capacidade para liderar o exército. Quiçá estivesse a sentir que os deixara ficar mal, que o povo o culparia pela derrota, e estaria assim preocupado com o impacto de tudo isto na sua capacidade para liderar o povo.
Uma Segunda Afirmação e Preocupação (vs. 9): “Ouvindo isto todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome…”. Josué estava preocupado com o impacto desta derrota no seu testemunho para as nações, e com o modo como estas poderiam derrubá-los mediante um esforço combinado contra o povo de Deus. Providenciaria isto uma cabeça-de-praia para o inimigo, que avançaria agora ofensivamente, atacando Israel, em lugar da situação oposta? O mundo observa-nos, e a forma como lidamos com os nossos problemas afecta a sua atitude relativamente à comunidade Cristã (1 Ped. 3:13-17).
A Terceira Questão: “E então, que farás ao teu grande nome?”. Apesar de todos os seus medos, observamos uma manifestação do carácter de Josué e do seu amor pelo Senhor. Parece que a maior preocupação de Josué era que as notícias desta derrota pudessem de alguma forma reduzir o respeito das nações pagãs pelo próprio nome de Deus. Josué pode ter sido culpado de pensar o que as pessoas frequentemente pensam, que um fracasso leva a outros; que a vitória era agora menos provável porque haviam falhado tão miseravelmente. É verdade que o nosso pecado e fracasso afectam o nosso testemunho por momentos; podem dar a Satanás a oportunidade de estabelecer uma cabeça-de-praia; podem ter repercussões de outras maneiras, mas Deus É sempre capaz de fazer todas as coisas contribuírem juntamente para o bem daqueles que O amam.
Nada é alguma vez alcançado com a nossa face no pó ou com os olhos postos nos nossos fracassos e problemas. Primeiro, temos de confessar os nossos fracassos e as coisas que os causaram, quando podem ser determinadas. Depois, temos de procurar aprender com eles. Finalmente, temos de reconhecer que a vontade de Deus corresponde à recuperação imediata e à fé na Sua graça. A vontade de Deus é que nos levantemos e continuemos (vss. 10 ss).
Vamos sumariar as causas para o fracasso: (1) Aparentemente, houve falta de oração ou incapacidade para estar sozinho com o Senhor, procurando a Sua orientação. (2) Claramente, houve confiança na sabedoria humana quando Josué escutou a sugestão dos espiões, após regressarem de espiar Ai (vs. 3). (3) Depois, fiando-se na sua vitória passada em vez de no Senhor, existiu excesso de confiança nas suas próprias capacidades, levando-os a pensar que poderiam facilmente avançar contra uma cidade tão pequena comparativamente a Jericó (vss. 3-4).
Com o versículo 10, a nossa atenção volta-se para a resposta de Deus e Suas ordens para Josué. Tal é altamente instrutivo, pois não só nos concede maior compreensão quanto à natureza das acções de Josué (desânimo e dúvida), mas também nos fornece a avaliação de Deus em relação àquilo que Josué estava a fazer (Ele não estava satisfeito) e as Suas instruções para o que deveria ser feito a fim de corrigir o problema.
As Orientações de Deus Delineadas
(7:10-15)
10 Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te: por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? 11 Israel pecou, e até transgrediram o meu concerto que lhes tinha ordenado, e até tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram, e até debaixo da sua bagagem o puseram. 12 Pelo que os filhos de Israel não puderam subsistir perante os seus inimigos: viraram as costas diante dos seus inimigos, porquanto estão amaldiçoados: não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós. 13 Levanta-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Anátema há no meio de ti, Israel: diante dos teus inimigos não poderás suster-te, até que tires o anátema do meio de vós. 14 Amanhã, pois, vos chegareis, segundo as vossas tribos; e será que, a tribo que o Senhor tomar se chegará, segundo as famílias; e a família que o Senhor tomar se chegará, por casas; e a casa que o Senhor tomar se chegará, homem por homem. 15 E será que, aquele que for tomado com o anátema, será queimado a fogo, ele e tudo quanto tiver; porquanto transgrediu o concerto do Senhor, e fez uma loucura em Israel.
As Orientações para Josué (vss. 10-12)
Com as palavras “Então disse o Senhor a Josué”, temos uma ilustração do envolvimento pessoal de Deus nas vidas do Seu povo. Deus preocupa-se com as nossas vidas e ministérios, e actua sempre para Se revelar e ensinar-nos acerca de nós próprios e do que precisamos de fazer ao caminharmos na vida (1 Ped. 5:6-7; Heb. 13:5-6). A questão é esta: estaremos a ouvir?
“Levanta-te!”. Esta ordem surge com Josué prostrado sobre a sua face, desesperado e em pânico, com pó na cabeça segundo o típico costume oriental. Conforme mencionado, a prostração demonstrava a sua profunda preocupação e humildade, dado que clamava ao Senhor. Em vista da resposta de Deus, contudo, parece que as acções de Josué resultavam essencialmente de desespero, sendo o produto de um espírito de desânimo e descrença, conforme as suas palavras no versículo 7 demonstram convenientemente. Repare uma vez mais na palavra “Ah”, o hebraico ‘ahah, uma interjeição que, neste contexto, mostra desespero ou profunda preocupação.
Uma vez que nada é conseguido com a nossa face no pó, o Senhor diz a Josué que se erga desta condição. Tal atitude, embora bastante humana e característica de todos nós de vez em quando, não é um estado no qual possamos permanecer – não alcança nada, desonra as promessas e pessoa de Deus e neutraliza-nos para o ministério e para o Senhor.
Na Bíblia inglesa, a expressão correspondente a “levanta-te” é traduzida de diferentes formas, consoante a versão: a KJV apresenta “get thee up” (“levanta-te”), a NIV “stand up” (“põe-te em pé”), a NASB “rise up” (“ergue-te”) e a Bíblia NET “get up” (“levanta-te”). O verbo aqui em causa é o hebraico qum, que significa com frequência erguer-se de uma posição prostrada por diversas razões e a partir de várias condições. Partindo deste significado literal, qum associa-se frequentemente a uma ideia figurativa. É usado acerca do levantar como acto preparatório de uma acção, de se erguer de um estado de inacção ou fracasso, de mostrar respeito e adoração, de se levantar para ouvir a Palavra de Deus, de se tornar forte ou poderoso, de se erguer para providenciar salvação, de assumir um cargo ou responsabilidade (como um profeta ou um juiz) e de se erguer a fim de dar testemunho. Várias destas ideias são aplicáveis neste contexto. Esta ordem impele Josué a erguer-se do seu estado de desespero e futilidade, que o havia neutralizado, de modo a preparar-se para a acção, escutar o Senhor, assumir a sua responsabilidade e liderar o povo na salvação de Deus.
Aplicação: Ainda que o Senhor compreenda e simpatize com os nossos problemas e medos, e embora humilharmo-nos diante do Senhor seja sempre necessário, Ele nunca admite a nossa prostração em desespero, nem nos dispensa de nos apropriarmos da Sua graça e partirmos em obediência. A Sua palavra para nós é que nos levantemos de sobre o nosso rosto, fixemos n’Ele os nossos olhos e lidemos com os nossos problemas de acordo com os princípios e promessas da Escritura. Este é um chamamento para a acção decisiva, disposta a tomar decisões difíceis de modo a lidar com o nosso pecado. Não é suficiente que nos sintamos arrependidos e tristes devido à nossa condição. Temos de estar dispostos a lidar de forma decisiva com os nossos pecados. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Prov. 28:13).
“Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?”. Literalmente, o texto diz “Por que te estás a prostrar sobre o teu rosto?”. A natureza desta questão carrega uma nota de repreensão com uma chamada para um exame que permita chegar ao fundo do problema, isto é, a causa do fracasso deles. Efectivamente, Deus está a dizer: “em vista do Meu plano para Israel e das promessas que te fiz, Josué, que razão poderias ter para semelhante desespero?”. Assim, portanto, encontra-se aqui um apelo para que Josué pusesse os seus olhos no Senhor, mas também para que procurasse a causa na própria iniquidade deles! Quando o fracasso chega, nunca devemos pensar que Deus nos abandonou ou que o Seu plano falhou. Devemos perguntar-nos: poderei eu ser a causa?
Portanto, trata-se de um apelo para Josué (e para nós, na medida do aplicável), a fim de que examinemos a natureza do que estamos a fazer e procuremos as causas fundamentais para as derrotas da vida, assim que as mesmas ocorrem. Temos de compreender com precisão que lições Deus procura ensinar-nos – “Foi isto causado por algo que eu fiz ou que não consegui fazer?”.
A Causa para o Fracasso de Israel (vs. 11)
Ao ler-se o versículo 11 na versão NASB ou KJV (acontecendo o mesmo na versão portuguesa “João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida”), parecem existir diversas transgressões, devido à forma como cada oração está ligada por “e”; mas, na maioria, cada oração é uma explicação mais detalhada da precedente. As traduções NIV e Bíblia NET (bem como a “Nova Versão Internacional”, em português) procuram mostrar o seguinte: cada descrição é uma explicação adicional do problema, partindo do geral para o específico, adicionando cada nova oração mais detalhe ao que estava envolvido.
Israel pecou; eles transgrediram o meu pacto que lhes tinha ordenado; tomaram do anátema, furtaram-no e, dissimulando, esconderam-no entre a sua bagagem (João Ferreira de Almeida, Revista e Actualizada)
(1) “Israel pecou” (tal constata a natureza básica do fracasso deles e do nosso – o pecado [o termo hebraico é hata, significando “errar um alvo ou um caminho, ficar aquém do padrão”]); (2) “eles transgrediram” (“transgrediram” corresponde ao hebraico abar, “atravessar, ultrapassar os limites de, ir além, transgredir”) “o meu pacto que lhes tinha ordenado” (isto aponta para o assunto específico). (3) “Tomaram do anátema, furtaram-no” (tal mostra a forma como haviam violado o pacto – roubando aquilo que pertencia ao Senhor, consagrado a Ele - e o que isso implicava); (4) “e, dissimulando, esconderam-no entre a sua bagagem” (isto descreve as consequências adicionais, o efeito bola-de-neve do pecado, revelando a natureza egoísta e avara do que fora feito, que é a raiz da maior parte do pecado).
As Consequências do Fracasso de Israel (vs. 12)
Devemos prestar especial atenção ao “pelo que” introdutório deste versículo. A NIV (bem como a “Nova Versão Internacional”, em português) traz “por isso”, e a NASB e KJV (bem como a versão portuguesa “João Ferreira de Almeida, Revista e Actualizada”) têm “pelo que”. Deste modo, somos direccionados para uma das consequências do pecado de Acan e do pecado não confessado em geral – fraqueza, incapacidade de servir e viver para o Senhor. Porquê? Porque o pecado entristece e extingue o Espírito (Ef. 4:30; 1 Tes. 5:19). Tal ilustra a verdade declarada em João 15:1-7 (a necessidade de estar em Cristo); Efésios 4:30 (como o pecado entristece a pessoa do Espírito); 1 Tessalonicenses 5:19 (como o pecado extingue o poder do Espírito); Provérbios 28:13 (como a incapacidade de confessar e lidar decididamente com o pecado impede o Senhor de fazer prosperar o nosso caminho). Em Cristo, temos a capacidade de viver vitoriosamente para o Senhor independentemente daquilo que enfrentamos, mas a aptidão para o fazermos depende sempre da amizade com o Salvador no poder do Espírito; temos de andar na luz (1 João 1:5-9).
Orientações para o Povo (vs. 13-15)
Em preparação para o seu ministério de liderança, é novamente dito a Josué “levanta-te”. Não pode liderar o povo com o rosto no pó ou enquanto anda abatido, deprimido por causa da derrota. Essencialmente, trata-se de um apelo ao retorno à comunidade e à fé no poder de Deus. É semelhante às palavras que o Senhor dirigiu a Pedro em Lucas 22. Pedro foi avisado que Satanás o cirandaria como trigo, mas depois o Senhor disse-lhe, “e tu, quando te converteres, confirma os teus irmãos” (Lucas 22:32). Pedro não deveria permitir que o seu fracasso e negações o neutralizassem ou impedissem de ser um líder e auxiliar outros. Assim, mais tarde, depois de voltar à comunidade, Pedro exortaria: “cingi os lombos do vosso entendimento…” (1 Ped. 1:13). Em vista do que se segue – o exame e cumprimento da disciplina em Acan e sua família –, Josué comunicou indubitavelmente esta mesma ordem ao povo.
Depois, no versículo 13, foi dito a Josué “santifica o povo”, a fim de prepará-lo para lidar com o problema. Ele deveria chamar a atenção das pessoas para a causa da sua derrota. Alguém tomara das coisas pertencentes ao anátema, o que levara Deus a retirar o Seu poder. Conforme o Senhor enfatizara a Josué, assim deveria ele chamar a atenção do povo para a causa e as consequências do pecado. Tal também lhes apelava que se santificassem, ou seja, que se preparassem para as actividades que teriam lugar no dia seguinte. Deveriam pôr o dia de parte para esta actividade, preparando os seus corações, talvez através da oração e adoração, para aquilo que Deus teria de fazer.
No versículo 14, são dadas instruções específicas para que se purgasse este pecado do meio deles. Primeiro, ocorreria um exame das pessoas tribo a tribo, família a família e, finalmente, homem a homem. Repare na forma como os homens eram responsáveis pelas suas famílias. O exame revelaria o culpado. O versículo 15 descreve o castigo que deveria ser levado a cabo sobre o grupo culpado, acrescentando a razão para a severidade da punição.
A Descoberta de Acan É Descrita
(7:16-21)
16 Então, Josué se levantou de madrugada e fez chegar a Israel, segundo as suas tribos; e a tribo de Judá foi tomada. 17 E, fazendo chegar a tribo de Judá, tomou a família de Zerá; e, fazendo chegar a família de Zerá, homem por homem, foi tomado Zabdi; 18 e, fazendo chegar a sua casa, homem por homem, foi tomado Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá. 19 Então, disse Josué a Acan: Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor, Deus de Israel, e faze confissão perante ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes. 20 E respondeu Acan a Josué e disse: Verdadeiramente pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz assim e assim. 21 Quando vi entre os despojos uma boa capa babilónica, e duzentos siclos de prata e, uma cunha de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, debaixo dela.
A Procura pelo Grupo Culpado (vss. 16-18)
Lemos por quatro vezes em Josué que o mesmo se levantou de madrugada a fim de tratar de assuntos importantes. Josué não era nenhum procrastinador.
Em seguida, nos versículos 16 a 18, o processo da descoberta é descrito, começando com todo o Israel, sendo reduzido por tribos até à tribo de Judá, depois por famílias ou clãs até aos zeraítas, em seguida até à família de Zimri (Zabdi), e dessa família até Acan. Por que seguiu Josué este procedimento e de que forma foi capaz de estreitar a busca até Acan? A resposta encontra-se no versículo 14, com a repetição das palavras “que o Senhor tomar” ou “escolher” (Bíblia NET e Nova Versão Internacional, em português). As palavras “by lot” (“por sorteio”), encontradas na NASB, aparecem em itálico e não estão no original, mas provavelmente expressam os meios utilizados, devido às palavras “which the Lord takes” (“que o Senhor tomar”).
Nos versículos 16-18, as expressões “que o Senhor tomar” ou “escolher” referem-se a uma escolha provavelmente baseada no uso do Urim e do Tumim, de acordo com Êxodo 28:15, 30 (confira Núm. 27:21) e que, de alguma forma, envolvia lançar sortes (confira Prov. 16:33; Jos. 14:1-2; 18:6).
Uma questão-chave é o que seriam o Urim e o Tumim. Aparecem na Escritura sem explicação, mas o que se segue poderá ajudar-nos, embora existam diversas teorias acerca do seu significado.
(1) O hebraico para esta frase significa provavelmente “as luzes” e “as perfeições”, ou “luz e perfeição”. A palavra hebraica para Urim (‘urim, um substantivo plural) deriva provavelmente de ‘or, “ser luz”. Tumim, também plural, provavelmente provém de um termo hebraico que significa “perfeição”.
(2) Urim começa com a primeira letra do alfabeto hebraico (alef), e Tumim (thummim) inicia-se com a última letra (tav). Talvez, tal como a Lei edificada sobre o alfabeto hebraico (de alef a tav) simbolizava a vontade moral de Deus, também o Urim e o Tumim representavam a orientação de Deus em situações especiais, para lá do conhecimento e aptidão humanos.
(3) O Urim e o Tumim aparecem na Escritura sem identificação explicativa, excepto quanto ao facto de deverem ser colocados “no peitoral… sobre o coração de Aarão” (Êx. 28:30), sugerindo que estes são termos descritivos para as doze pedras preciosas do contexto imediatamente precedente, gravadas com os nomes das tribos de Israel (vv. 17-21), e guardadas no peitoral do juízo, sobre o coração de Aarão (v. 29). 6 Alguns crêem que consistiam apenas em duas pedras especiais.
(4) Michaelis (Laws of Moses, 5:52) dá a sua opinião de que o Urim e o Tumim eram três pedras, estando numa delas escrito “Sim” e na outra “Não”, sendo a terceira deixada neutra ou branca. Seriam usadas como sortes, e o sumo sacerdote decidiria de acordo com aquela que fosse retirada. Kalisch (em Êxodo 28:31) identifica o Urim e o Tumim como as doze jóias tribais. Ele contempla o nome como devendo ser explicado por uma hendíadis (luz e perfeição – iluminação perfeita), e acredita que o sumo sacerdote, ao concentrar os seus pensamentos nos atributos que representavam, removeria de si próprio todo o egoísmo e preconceito, transitando para um verdadeiro estado profético. O processo de consultar Jeová mediante o Urim e o Tumim não é fornecido na Escritura. 7
(5) Eram guardadas no peitoral ou bolsa do juízo, usado no exterior do éfode. O ponto principal é que constituíam um método para procurar orientação divina e respostas a questões e crises para lá da percepção humana, mediante o ministério do sacerdote.
No The Bible Knowledge Commentary, o Dr. Hannah escreve:
Desconhece-se como eram usados para determinar a vontade de Deus, mas alguns sugerem que o Urim representava uma resposta negativa, e o Tumim uma resposta positiva. Talvez esta perspectiva seja indicada pelo facto de Urim… começar com a primeira letra do alfabeto hebraico, e Tumim… com a última. Outros sugerem que os objectos simbolizavam simplesmente a autoridade do sumo sacerdote quanto a inquirir de Deus, ou a garantia de que o sacerdote receberia esclarecimento ou iluminação (“luzes”) e conhecimento perfeito (“perfeições”) de Deus. 8
(6) De qualquer forma, seriam provavelmente sortes sagradas, usadas em tempos de crises de modo a determinar a vontade de Deus (veja Núm. 27:21). Cada decisão do Urim provinha do Senhor (Prov. 16:33). O uso do Urim e do Tumim para determinar as decisões de Deus ou para encontrar a Sua vontade deveria ser feito pelo sumo sacerdote, pois apenas ele podia usar o éfode que continha o Urim e o Tumim.
(7) Em 1 Samuel 2:28, são mencionadas três tarefas dos sacerdotes: (a) Oferecer sobre o meu altar, isto é, realizar os rituais sacrificiais no altar do holocausto, no pátio do tabernáculo; (b) Acender o incenso no altar do incenso no Lugar Santo (Êx. 30:1-10), e (c) Trazer o éfode. Esta é uma referência ao éfode especial a ser usado pelos sumos sacerdotes. Tal incluía o peitoral ou bolsa que continha o Urim e o Tumim, os meios divinamente ordenados para a comunicação com Deus e tomada de decisões, de alguma forma relacionadas com lançar sortes.
Deus deu orientação divina e Acan foi descoberto por meios sobrenaturais. Não avançou voluntariamente para se confessar ou arrepender, entregando-se à misericórdia de Deus. O seu fracasso neste ponto contrasta com a atitude do filho pródigo e do publicano no Novo Testamento.
Lições Do Pecado de Acan (vss. 20-21)
Tal como 1 Coríntios 10 nos recorda, o que aconteceu a Acan está registado para nosso aviso e instrução, lembrando-nos um dos processos que levam ao pecado. A sequência até ao pecado de Acan é familiar. Ele viu, cobiçou e tomou. Aconteceu o mesmo com Eva (Gén. 3:6) e com David (2 Sam. 11:2-4), e também se passa o mesmo connosco. A abordagem de Josué foi delicada, mas firme. Ele odiava o pecado, mas amava o pecador. Embora honesta, a confissão de Acan chegou demasiado tarde e foi produto da descoberta. Não se tratou de um acto de arrependimento ou da tristeza piedosa que conduz ao mesmo (2 Cor. 7:8-11).
Certamente, existem aqui algumas lições importantes:
(1) A confissão sem arrependimento ou uma mudança mental genuína é vazia. Não nos restaura à comunhão, não porque o arrependimento seja um trabalho que devemos fazer de modo a obter o perdão de Deus, mas sim porque sem ele continuamos a ter uma atitude errada, que mantém uma barreira entre nós e o Senhor.
(2) Por vezes, a confissão chega demasiado tarde para parar a disciplina, tal como no caso de David. O objectivo primário da confissão não é evitar problemas ou o castigo de Deus. O propósito da confissão é restabelecer a comunhão e virar as nossas vidas para Deus por querermos andar com Ele sob o Seu controlo, caminhando na Sua direcção (Amós 3:3).
Quiçá a necessidade mais prática aqui seja notarmos o processo, para vermos se conseguimos descobrir o que levou à escolha e pecado de Acan. O facto de Acan ter escondido o saque mostra que sabia claramente que aquilo que estava a fazer era errado. Portanto, o que o levou a avançar e a fazê-lo? Bem, por que pecou Eva e caiu nos enganos da serpente?
Em resposta a isto, podemos reparar primeiro naquilo que Acan tomou. Ele pegou em ouro e prata, o que sugere materialismo, o acto de confiar nas riquezas para a nossa segurança e felicidade. Mas ele também levou uma bonita capa oriunda da Babilónia. Tal não só aponta para materialismo, mas para o desejo de ser elegante e obter a aprovação dos homens, procurando o nosso sentido de significância no elogio ou aplauso de outros.
Princípio: Estes desejos (padrões de concupiscência) ilustram os diversos padrões de concupiscência que todos enfrentamos e que, quando não tratados com fé, podem dominar as nossas vidas. Incluem coisas como o desejo de estatuto, poder, prestígio, prazer, bens, elogio ou aplauso e reconhecimento, mas não são mais do que soluções humanas ou estratégias protectoras que usamos para encontrar segurança, significância e satisfação longe de Deus. Jeremias chama-lhes cisternas rotas. “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jer. 2:13).
Estes padrões de concupiscência têm a sua fonte: (a) Na natureza pecaminosa, com o seu pensamento e raciocínio defeituosos (Isa. 55:8 ss; Prov. 14:12; Rom. 1:18 ss; Efésios 4:17 ss). (b) No mundo e no seu raciocínio ou perspectiva humanos, que procuram viver sem Deus e longe da Sua revelação e plano (Rom. 12:2). (c) Em estruturas de crenças falsas que, pensando de acordo com a perspectiva do homem e acreditando nos enganos do mundo e de Satanás, crêem que estas coisas irão suprir as nossas necessidades, tais como a segurança ou a felicidade. (d) Na descrença na bondade de Deus, sabedoria e perfeição temporal na forma como provê as nossas necessidades.
Tal como Eva, Acan estava insatisfeito, impaciente e confiante em si mesmo. Ele acreditava, confiava e usava as suas próprias estratégias protectoras para obter o que desejava da vida. Ironicamente, Deus estava a trazer todo o Israel até à terra, onde cada homem teria o seu próprio terreno, casa e bênçãos abundantes. Porém, a insatisfação causada por não conseguir encontrar a sua felicidade no Senhor originou impaciência, que o levou a cobiçar e a avançar com as suas próprias soluções. Embora a ordem contra a cobiça seja um dos Dez Mandamentos, a cobiça é o pecado básico contra o qual a maioria dos restantes mandamentos foi elaborada, e a raiz por trás da maior parte do nosso pecado.
Cobiçar deve-se à insatisfação com a nossa sorte na vida e à nossa incapacidade quanto a procurar a nossa felicidade no Senhor e confiar n’Ele como a fonte das nossas necessidades de segurança, significância e satisfação. O Novo Testamento define a cobiça como idolatria (Efésios 5:5; Col. 3:5). Em última análise, a idolatria consiste em procurar nas coisas aquilo que somente Deus pode dar. Um ídolo pode ser (a) uma impotente imagem esculpida em madeira ou metal precioso à qual alguém reza e pede ajuda, (b) mas também pode ser materialismo, aquela forma de vida que procura segurança e significância no dinheiro, bens, poder, prestígio e prazer. (c) Também pode ser secularismo, uma filosofia de vida na qual as pessoas procuram viver afastadas da dependência de Deus, ou (4) pode tratar-se da aprovação dos homens, a procura de satisfação e segurança no elogio de outros. Campbell escreve:
Estima-se que os Americanos sejam bombardeados com 1,700 anúncios por dia, através de diversas formas de comunicação social. Embora não haja o perigo de comprarmos todos esses 1,700 produtos, existe a possibilidade de aceitarmos a filosofia por trás destes anúncios – a de que teremos vidas completas, realizadas e satisfatórias caso conduzamos este carro, usemos esta laca de cabelo ou bebamos aquela bebida.9
Portanto, qual é a nossa necessidade? É aprender o segredo de Paulo de contentamento no Senhor, conforme descrito em Filipenses 4:12-13 (veja também Filipenses 3:13-14 e 1 Tim. 6:6-19).
A Morte de Acan Cumprida (7:22-26)
22 Então Josué enviou mensageiros, que foram correndo à tenda: e eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata debaixo dela. 23 Tomaram, pois, aquelas coisas, do meio da tenda, e as trouxeram a Josué e a todos os filhos de Israel; e as deitaram perante o Senhor. 24 Então Josué, e todo o Israel com ele, tomaram a Acan, filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e a seus filhos, e a suas filhas, e a seus bois, e a seus jumentos, e a suas ovelhas, e a sua tenda, e a tudo quanto tinha; e levaram-nos ao vale de Acor. 25 E disse Josué: Por que nos turbaste? O Senhor te turbará a ti, este dia. E todo o Israel o apedrejou com pedras, e os queimaram a fogo, e os apedrejaram com pedras. 26 E levantaram sobre ele um grande montão de pedras, até ao dia de hoje; assim o Senhor se tornou do ardor da sua ira: pelo que se chamou o nome daquele lugar, o vale de Acor, até ao dia de hoje.
Ao lermos esta passagem, uma das questões que nos chega à mente é o porquê de Deus ter sido tão duro com Acan e a sua família. Contrastando com a misericórdia que observamos no Novo Testamento, parece terrivelmente severo. Podemos pensar na misericórdia que o Senhor demonstrou com a mulher no poço, que tivera cinco maridos (João 4:18), e com a mulher acusada de adultério que, enquanto judia, poderia ter sido apedrejada de acordo com a Lei (João 8:3 ss), e questionarmos por que Acan não recebeu misericórdia similar. Temos tendência a esquecer outras passagens do Novo Testamento, tais como a morte de Ananias e Safira (Actos 5) e os impressionantes juízos da Tribulação, em que o sangue dos homens é retratado como fluindo do lagar da ira de Deus até aos freios dos cavalos (compare Rev. 14:18-20; 19:13 com Isa. 63:1-6). Também podemos ter propensão a esquecer ou minimizar a santidade de Deus. Deus É descrito como santo, mais do que qualquer outro dos Seus atributos, mais até do que o Seu amor, misericórdia e graça. Enquanto Deus santo, Ele É rectidão e justiça perfeitas e, devido à Sua justiça, tem de tratar do pecado (confira Salmo 50:21; Eclesiastes 8:11-12).
Mas existe aqui outra questão que não devemos ignorar ao pensarmos nesta passagem. Quem eram estas pessoas, e qual o seu propósito? Eram um povo chamado por Deus para ser Sua testemunha para o mundo, e através do qual Deus concederia o Salvador (compare Êx. 19:4-6; Deut. 10:15 ss; com 1 Ped. 1:14 ss; 2:9-12). Tal envolvia salvaguardar o bem-estar e propósito da maioria, lidando com este pecado de uma forma que os faria compreender quão sério era o seu chamamento e o seu percurso com Deus. Tal como a situação com Ananias e Safira ocorreu nos primórdios da igreja, também o juízo contra Acan teve lugar no período inicial da entrada de Israel na terra, de modo a incutir o temor de Deus nos corações das pessoas e a fornecer um exemplo da seriedade do que Acan fizera ao violar a aliança de Deus. O grande monte de pedras erguido sobre a sepultura de Acan parece ter sido feito como memorial de aviso para as gerações futuras.
O golpe final foi concretizado ao erguer-se um sinal histórico, um grande montão de pedras, sobre o corpo de Acan. Tal parece ter sido um método comum de sepultamento para indivíduos infames (confira 8:29). Neste caso, serviu o bom propósito de alertar Israel contra o pecado de desobedecer às ordens expressas de Deus.10
A posse inicial e usufruto da terra e suas bênçãos, bem como a aptidão para realizarem o seu chamamento enquanto povo escolhido de Deus, estavam dependentes da obediência a Deus, pois era Ele quem lhes dava a terra, com todas as suas numerosas bênçãos e responsabilidades (Deut. 28-30).
Devemos reparar que, embora Acan tenha confessado o seu pecado, apenas o fez quando foi descoberto e obrigado a isso. Tivesse ele se entregado voluntariamente à misericórdia de Deus, a sua vida poderia ter sido poupada, tal como quando David pecou. Campbell escreve: “Em vista do facto de a Lei proibir a execução dos filhos pelos pecados dos pais (Deut. 24:16), assume-se que os filhos de Acan eram cúmplices no crime.” 11
Outro assunto-chave que não deve ser esquecido é a perturbação que isto trouxe aos demais. Deus tomou medidas severas devido às consequências sérias do pecado de Acan sobre outros (foi um exemplo terrível, perderam-se várias vidas, Israel foi derrotado e a honra de Deus posta em causa [confira vs. 25]). O memorial de pedras no vale chamado Acor, que significa “perturbação”, fazia referência a este facto.
Conclusão
Existem neste capítulo três pontos conclusivos que gostaria de focar.
(1) O nosso pecado tem de ser tratado de forma honesta e decisiva.
(2) A escolha de Acan ergueu-se a partir do solo da insatisfação. Como poderia haver insatisfação em vista de tudo o que ele aprendera e vira, enquanto membro do privilegiado povo de Israel? Não sabemos mas, por qualquer razão, Acan estava insatisfeito com a sua sorte na vida, por não a conseguir entregar à providência e bondade de Deus. A sua incapacidade de caminhar na fé levou à procura de satisfação, segurança e significância no mundo material pelo que, cobiçando bens, decidiu pegar em coisas sob anátema. Foi a condição espiritual de insatisfação e existência independente que o levou a resolver o assunto com as próprias mãos, acreditando que, através das suas próprias soluções, iria de encontro às suas necessidades. O nosso fracasso quanto a encontrarmos o nosso contentamento no Salvador e Seu amor e graça é certamente a causa de uma grande parte da miséria criada por nós mesmos e do comportamento pecaminoso. O Senhor realçou este mesmo aspecto em Mateus 6, quando avisou os discípulos contra armazenarem tesouros na terra e contra a preocupação com os detalhes da vida – bebida, comida e vestuário. Entretanto, definiu a procura dos detalhes da vida em detrimento de buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça como uma simples questão de não confiar verdadeiramente na provisão de Deus. O assunto diz respeito a ter pouca fé. Depois de indicar o modo como Deus cuida dos pássaros e veste a erva, Ele disse,
Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? 31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Mateus 6:30-31)
(3) Seria útil notar que, quando Acan pecou e passou a existir pecado no acampamento de Israel, a bênção e força de Deus foram interrompidas e a nação enfrentou disciplina e fracasso. Mas, estando o pecado tratado como o Senhor ordenara, através da Sua graça, a bênção e força de Deus retornaram. Uma vez mais, somos recordados que ter pecado conhecido nas nossas vidas cria uma barreira entre nós e o Senhor, porque mostra o nosso empenho em seguirmos o nosso próprio caminho e em lidarmos com as nossas vidas mediante estratégias próprias.
Texto original de J. Hampton Keathley, III.
Tradução de C. Oliveira.
1 R. Laird Harris, Editor, Gleason L. Archer, Jr., Bruce K. Waltke, Associate Editors, Theological Word Book of the Old Testament, Moody Press, Chicago, Vol. 1, 1980, p. 324.
2 Norman L. Geisler, A Popular Survey of the Old Testament, Baker Book House, Grand Rapids, 1977, p. 100.
3 Frank E. Gaebelein, General Editor, Expositors Bible Commentary, Old Testament, Zondervan, Grand Rapids, 1997, versão electrónica.
4 J. Oswald Sanders, Spiritual Leadership, Moody Press, 1967, p. 159.
5 Sanders, p. 163-164.
6 R. Laird Harris, Editor, Gleason L. Archer, Jr. Bruce K. Waltke, Associate Editors, Theological Word Book of the Old Testament, Moody Press, Chicago, Vol. 1, 1980, p. 26.
7 The New Unger’s Bible Dictionary, versão electrónica.
8 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, Editors, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.
9 Donald K. Campbell, Joshua, Leader Under Fire, Victor Books, 1989, p. 65.
10 Walvoord, Zuck, versão electrónica.
11 Campbell, p. 66.